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(1886-1968)
Vou-me embora pra
Vou-me embora pra Pasárgada Pasárgada Em Pasárgada tem tudo
Lá sou amigo do rei É outra civilização
Lá tenho a mulher que eu quero Tem um processo seguro
E como farei ginástica
Na cama que escolherei De impedir a concepção
Andarei de bicicleta
Vou-me embora pra Pasárgada Montarei em burro brabo Tem telefone automático
Subirei no pau-de-sebo Tem alcalóide à vontade
Tomarei banhos de mar!
Vou-me embora pro Pasárgada Tem prostitutas bonitas
E quando estiver cansado
Aqui eu não sou feliz Deito na beira do rio Para a gente namorar
Lá a existência é uma aventura Mando chamar a mãe-d'água
De tal modo inconsequente Pra me contar as histórias E quando eu estiver mais triste
Que no tempo de eu menino
Que Joana a louca de Espanha Rosa vinha me contar Mas triste de não ter jeito
Rainha e falsa demente Vou-me embora pra Pasárgada Quando de noite me der
Vem a ser contraparente Vontade de me matar
Da nora que nunca tive -Lá sou amigo do rei -
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Consoada
Quando a Indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável), Vocabulário:
Consoada: 1) pequena refeição
Talvez eu tenha medo. noturna, em dia de jejum; 2) ceia da
noite de Natal; 3) já em desuso em
Talvez sorria, ou diga: Portugal: presente no dia do Natal.
Caroável: meiga, afetuosa,
– Alô, iniludível! carinhosa.
O meu dia foi bom, pode a noite descer. Iniludível: que não deixa dúvida;
que não se pode iludir.
(A noite com os seus sortilégios.) Sortilégios: maquinação, trama.
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.
Quando o enterro passou
Os homens que se achavam no café
Tiraram o chapéu maquinalmente Momento num café
Saudavam o morto distraídos
Estavam todos voltados para a vida
Absortos na vida
Confiantes na vida.