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Fechou a escola em Grij

ao Frederico Amaral Neves


I
Dantes ouviam-se as crianas a caminho da escola
e eram como pssaros de som nas manhs de Grij.
No eram muitas, mas as vozes joviais
davam sinal de ue a aldeia resistia,
continha ! dist"ncia o deserto ue a ronda
como a alcateia ronda uma r#s tresmalhada.
$%ora as crianas, todas as manhs,
so acondicionadas como mercadorias
numa viatura com vocao de &ur%oneta.
'em(ram judeus amontoados
em va%)es jota a caminho de al%ures.
*o aprender em terra estranha o ue os seus pais
e os pais dos seus pais aprenderam em Grij.
II
+ se voltam a ouvir ao &im da tarde
uando a viatura as despeja no lar%o da aldeia
como arti%os ue &icaram por vender.
,as ouvem-se pouco, porue v#m cansadas.
-uvem-se pouco e triste porue o seu dia
&oi deportado para outra terra onde
no se lhe &irmam ra.zes.
- senhor ministro das Finanas est contente,
porue poupa meia d/zia de euros
com a violenta tras&e%a da in&"ncia.
,as est triste Grij, porue j no ouve
as suas aves da manh a caminho da escola
0 e por isso pode dizer-se ue a aldeia encolheu,
&icaram uns metros mais perto
as dunas de amanh.
III
1aladas as vozes ta%arelas das crianas,
nos dias de Grij poucas mais vozes se ouvem
do ue as de al%uns velhos ue antecipam
em palavras raras, con&ormadas,
o dia em ue o sil#ncio co(rir com estrondo
o 2des3povoado de&initivamente.
- senhor ministro das Finanas ter poupado
mais al%uns euros com a instaurao
deste opressivo sil#ncio &inal,
e &icar contente.
Grij no.
A.M. PIRES CABRAL,
Gaveta do Fundo

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