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ÍNDICE
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De V olt a a o É den
INTRODUÇÃO
De Volta ao Éden
Começamos nesta semana uma nova série de estudos que nos levará
de volta à história do Éden, revelando progressivamente novas camadas de
sentido.
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De V olt a a o É den
mesmo prestando atenção ou se pudesse enteder de fato o que tais letras
querem dizer. A criança pode até dormir com essas canções mas se ela de fato
estivesse entendendo a “mensagem” que a letra transmite, permaneceria
acordada com certeza! Muitas perguntas poderiam surgir em sua mente, tais
como: Quem me deixaria ficar aqui bem em frente à esse boi perigoso? Será
que meus pais estão tentando se livrar de mim? Será que só por eu ter medo
de careta isso seria motivo suficiente para me deixar sozinho em frente à esse
animal furioso?
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De V olt a a o É den
um mundo inteiro de Chazal² e Midrash³ permanecerá eternamente selado
para você.
Eis aqui então o que propomos. A cada ano, os judeus leêm toda a
Torá em seu ciclo de estudos; todavia, com muita freqüência não damos à
primeira parashá4 (que inclui Gên 1-3) a devida importância e atenção
merecidas.
Referências:
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De V olt a a o É den
CAPÍTULO I
Após ter criado o mundo, D-us cria dois seres humanos e os coloca
num paraíso, no Jardim do Éden. Ele lhes concede domínio e livre soberania
sobre todo o território e a criação. Há apenas uma restrição: Uma certa árvore
da qual eles não deveriam comer --- é a “árvore do conhecimento do bem e do
mal”. O fruto dessa árvore não deveria ser comido sob nenhuma circunstância!
Bem, que problemas temos aqui? A história te cai bem ou você sente-
se desconfortável com ela? Se você sente-se desconfortável, será que poderia
justficar e dizer o por quê dessa sensação?
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De V olt a a o É den
Como mencionamos na introdução, todas as histórias têm o seu
“elefante na sala”: uma pergunta óbvia que é tão básica e tão profundamente
perturbadora que até que você ache um meio de lidar com ela não pode
afirmar honestamente que entende o que está lendo. Será que temos aqui em
nosso relato sobre Adão, Eva e a serpente uma pergunta deste tipo ou desta
magnitude?
Por que D-us desejaria que tal conhecimento sobre o bem e o mal
fosse negado às pessoas?
Nós temos uma palavra para definir esse tipo de pessoa. Nós os
chamamos de sociopatas.
Alguém que possua todas as faculdades humanas mas que não saiba
distingüir o certo do errado é alguém que pode assassinar outra pessoa com
uma machadinha da mesa forma que eu e você cortamos a grama. Será que
D-us teria prazer em criar um mundo cheio desse tipo de gente? Certamente
as pessoas estão muito melhor conhecendo e distingüindo o certo do errado.
Então por que será que D-us parece insinuar que tal conhecimento é
indesejável, visto ter proibido o homem de comer do fruto da tal árvore?
Uma saída tentadora para este problema seria por exemplo, sugerir
que tudo não passou de uma “armação”, um mero “teatro”: D-us na verdade
queria que as pessoas pudessem usufruir do conhecimento que a árvore podia
transmitir e ficou feliz com o fato de que os humanos partilharam do seu fruto.
Mas isso pode não ser tão simples assim pois tal abordagem é extremamente
problemática. Pelo que percebemos do relato da Torá (Bíblia), D-us parece
profundamente desapontado com Adão e Eva após terem comido da árvore;
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De V olt a a o É den
Ele chega até a puní-los de forma severa. Como devemos entender tal
desapontamento? Não parece um tanto perverso imaginar o Altíssimo em
segredo deleitando-se com o fato de que ambos comeram finalmente do fruto
para logo em seguida puní-los com rigor exemplar? Será que Ele ocultaria sua
alegria e prazer por trás de uma 'máscara' de decepção e descontentamento?
D-us claramente queria que Adão e Eva evitassem aquela árvore. Mas
isso nos leva à outra questão crucial: Por que desejaria D-us privar o homem
de uma compreensão plena do bem e do mal?
Mas agora nos deparamos com outro dilema, pois se Adão e Eva já
entendiam a distinção entre o certo e o errado, o bem e o mal, então de certa
forma eles já possuíam aquilo que a tal árvore poderia dar-lhes! E isso então
poderia significar que a árvore era algo inútil, que não passava de uma farsa.
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De V olt a a o É den
Tendo sido criado dessa forma, com a imago dei (imagem divina)
impressa em seu ser, é mais do que óbvio esperar que o homem já tivesse
ciência moral e ética antes mesmo de ter comido da árvore do conhecimento
do bem e do mal.
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De V olt a a o É den
“conhecimento do bem e do mal”.
Referências:
CAPÍTULO II
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De V olt a a o É den
Temos aqui a razão de D-us ter exilado Adão e Eva do Éden. Eles são
expulsos dali para que se assegure que jamais voltariam a comer da árvore da
vida. Mas há algo extremamente estranho nisso tudo. Pois ao lermos a história
percebemos que Adão não recebeu ordem alguma para ficar longe da árvore
da vida. Se D-us achasse uma má idéia que o homem dela comesse, por que
Ele não os instruiu para que a evitassem, como fez com a outra árvore, a do
conhecimento do bem e do mal?
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De V olt a a o É den
Ora, era só questão de tempo para que alguém comesse de seu fruto.
Por que? O que será que há por trás desta curiosa relação entre as
duas árvores? Por que o fruto da árvore da vida pode ser comido antes de se
experimentar do fruto do conhecimento do bem e do mal mas não depois
disso?
AS ÁRVORES SE CONTRADIZEM?
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De V olt a a o É den
originalmente imortais, certo?
A Torá diz que D-us baniu Adão e Eva do jardim para que eles não
mais estendessem a mão e comessem do fruto da árvore da vida, vivendo
assim “para sempre”. Bem, o verso parece muito claro à respeito de uma
coisa: o fruto da árvore da vida confere imortalidade – se você comê-lo, jamais
morrerá. Ora, se a árvore da vida tinha o poder de tornar o homem imortal
isso significaia que ele antes era mortal, ou que mortal fora criado, pois caso
contrário, que lógica haveria em se plantar uma “árvore da vida” cujos frutos
transmitiam a condição de imortalidade se o homem era desde sua criação um
ser imortal?
Eis aqui nossa sugestão para resolver este dilema: As duas árvores
estão corretas e não se contradizem. O ser humano antes de comer das
árvores não era nem mortal, nem imortal. Se comessem do futo da árvore da
vida, tornariam-se imortais. Se por outro lado comessem do fruto da árvore do
conhecimento do bem e do mal, eles se tornariam em seres que
experimentariam a morte. Enquanto não provaram de nenhum desses frutos, o
ser humano estava na chamada “zona crepuscular”, um estado de suspensão,
uma condição precária de realidade, entre a mortalidade e a imortalidade. Sua
natureza era indeterminada.
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De V olt a a o É den
“Vêde que hoje tenho proposto perante vós uma escolha entre a vida
e o bem [por um lado] e a morte e o mal [por outro]... Escolhei pois a vida...”
(Deuteronômio 30:14-19)
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De V olt a a o É den
“Dez Mandamentos”), em resumo, guardavam a Lei Divina, a Torá.
Bem, e agora? Que faremos nós com todas estas informações? Por
que será que a escolha no Éden entre a vida e a morte é mais uma vez
repetida como a escolha entre aceitar ou rejeitar a Lei Divina (a Torá)? Por que
os querubins que antes vigiavam o caminho de volta à árvore da vida desta
vez parecem nos incentivar a que possamos ter acesso àquela segunda “árvore
da vida” que encontrava-se dentro da arca da aliança, à saber, a Sagrada
Torá? O que queremos dizer exatamente quando chamamos a Torá de “árvore
da vida”? Quais são as semelhanças entre a árvore do jardim e esta segunda?
Referências:
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CAPÍTULO III
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De V olt a a o É den
Satan é o promotor celeste que insiste na aplicação da divina justiça com todo
o seu rigor.
Gênesis 3:1 poderá nos ajudar: “Ora a serpente era o mais astuto de
todos os animais do campo que D-us tinha feito”. A questão que podemos
levantar aqui é: Será que a “serpente” era astuta por natureza ou porque
Satan estaria “incorporado” nela? Sabemos que para perguntas óbvias não são
necessárias respostas. A serpente era astuta porque D-us assim a tinha feito e
não porque algum “ser sinistro e maligno” estava no “controle” dela. Aliás,
acreditar que um suposto “diabo” estaria controlando a serpente não passa de
mera conjectura, uma especulação que não pode ser comprovada e pior ainda:
trata-se de uma adição à Palavra Divina.
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De V olt a a o É den
• No primeiro relato, o ser humano (macho e fêmea) são ambos
criados no mesmo momento (1:27). Já no segundo, o homem
(2:7) surge ANTES da mulher (2:22).
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De V olt a a o É den
séculos, milênios depois. As Escrituras judaicas, conhecidas como Antigo
Testamento especificamente no livro de Gênesis demonstram a “evolução” do
ser humano, em linguagem naturalmente simples.
Você deve lembrar que ao criar Adão, D-us soprou-lhe nas narinas o
fôlego de vida (Gênesis 2:7). Será que D-us fez o mesmo ao criar os outros
animais? A resposta é naturalmente NÃO. Isso por si só já coloca o homem, a
humanidade (Adam) num patamar mais elevado do que seus pares do reino
animal. É de se estranhar entretanto que D-us tenha criado todos os outros
seres como casais, macho e fêmea --- e só com o “homem” isso tenha sido
diferente! Bem, talvez tenha sido diferente aqui neste segundo relato sobre a
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De V olt a a o É den
criação do “homem”, mas certamente não foi no primeiro (Gênesis 1:26-28).
Nessa passagem vemos D-us criando o ser humano, macho e fêmea.
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De V olt a a o É den
Sabemos que a intenção da serpente era fazer com que Eva comesse
do fruto daquela árvore proibida, então se talvez usarmos de nosso poder de
dedução, poderíamos afirmar que a serpente queria dizer:
“Por que D-us sabe que no dia em que dele comerdes, vossos olhos
se abrirão e sereis como D-us conhecedores do bem e do mal”
Será que D-us é tão “territorial” assim ao ponto de temer que meros
humanos, por virtude de ingerir algum tipo de fruto com propriedades
“mágicas” se tornassem como Ele e se infiltrassem em seus domínos? Por
favor! A serpente deve estar mentindo.
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De V olt a a o É den
agora ele deve ser banido, exilado do Éden. E eis aqui a razão:
Peça para que as pessoas definam D-us para você. Você vai
provavelmente ouvir dizer que D-us é onisciente, que é todo poderoso, que é
um, que é nosso Criador, etc. Mas, será que alguém vai dizer que ser D-us é
conhecer o bem e o mal? Mas é exatamente dessa forma que D-us descreve o
que é ser D-us.
A serpente aquele ser que falava, que andava e que era astuto (como
nós) estava certa. O próprio D-us confirma suas palavras. Ser como D-us
significa “conhecer o bem e o mal”. Agora compete a nós entender o que tudo
isto quer dizer. Pense nisso e até o próximo capítulo.
Referências:
1. Texto aberto = Diz respeito à leitura natural, literal e óbvia das Escrituras, em contraste
com o chamado “texto oculto”, uma camada de sentido mais profunda do texto sagrado,
interpretada ou deduzida por meio das regras da hermenêutica judaica.
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CAPÍTULO IV
A Verdade Nua
Uma das formas mais comuns aparentes no texto bíblico para que se
transmita verdades mais profundas é através das “camadas de sentido” que
encontram-se “embutidas” no chamado texto aberto.
Vinte e cinco versos podem não parecer muita coisa, mas certamente
torna-se abundante em sentido se os mesmos estiverem “codificados”. A
tradição judaica ensina que a Torá emprega várias técnicas para “codificar” o
texto a fim de transmitir outros “níveis” da mesma verdade. Uma dessas
técnicas é a da “palavra- chave”.
Bem, quer queira você tenha achado ou não, lá vai: nossa palavra é
“nu” ou, a idéia de “nudez”.
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De V olt a a o É den
A ESTRANHA PROEMINÊNCIA DA NUDEZ
Mas, espere aí. Nada disso! Nenhuma das alternativas acima. Nada
disso parece ter preocupado Adão e Eva. Após terem comido do fruto proibido,
a reação imediata foi perceber que estavam nus. Mas, que coisa esquisita! Por
que conhecer o bem e o mal afeta nossa percepção de nudez? E há “nudez”
também tanto no início quanto no final de nossa história, não esqueça.
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De V olt a a o É den
Retomando nosso tema, vamos nos perguntar agora sobre a razão de
Adão para ter se escondido. Leia a passagem e tente entender o motivo pelo
qual ele achou melhor esconder-se de D-us quando ouviu Sua voz no jardim.
Curiosamente, Adão não diz que estava envergonhado pelo que fez,
isto é, pela desobediência e pelo fato de ter comido do fruto proibido. A razão
que ele dá para se esconder é outra, bem diferente da que esperaríamos:
Por que a nudez é tão importante nesta história? Por que será que a
percepção de nudez da humanidade é a conseqüência natural de comer do
fruto da árvore do conhecimento? E por que esta percepção de nudez é tão
perturbadora ao ponto de ser a única justificativa oferecida pelo homem ao
fato de ter se escondido da face do seu Criador?
Muito bem. Ao ler estes versos, você percebe claramente que tanto
Adão quanto Eva são descritos como que estando sem roupas. Mas, no verso
seguinte, há alguém que também é descrito da mesma forma. Não percebeu?
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Bem, uma pequena “aula” de hebraico bíblico.
Assim, logo após descrever Adão e Eva como estando nus, a Torá não
por acaso ou mera coincidência, usa o mesmíssimo termo hebraico para
descrever a serpente!
Mas, o que será que tudo isso quer dizer? Bem, no sentido óbvio do
texto, a Torá nos informa que a serpente era “astuta', enganosa, perspicaz;
este é certamente o pshat (sentido evidente) da passagem. Mas, não parece
ser coincidência o fato da Torá ter usado esta palavra em particular para
descrever as intenções duvidosas da serpente. A Torá parece sair do seu
contexto ao tomar esta palavra em particular (arum) e aplicá-la também
àquele réptil “astuto”.
Bem, eu não sei quanto a vocês, mas para mim não me parece muito
“astuto” estar “nu”... À primeira vista, eu não consigo perceber ligação entre os
sentidos do termo. Mas, espere. Vamos interpor os dois sentidos: nu e astuto;
astuto e nu...de alguma forma, os dois sentidos parecem ter alguma coisa em
comum, pois numa segunda reflexão eles são opostos um ao outro.
Eu explico.
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De V olt a a o É den
Agora isto faz com que nossa pergunta tome uma outra dimensão:
Por que a Torá tomaria a mesma palavra que usa várias vezes para expressar
“nudez” e então ao descrever a serpente inverte seu sentido para nos
transmitir uma idéia incrivelmente oposta, para descrever a serpente como
“astuta”?
UM ENGANO “INOCENTE”
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CAPÍTULO V
Os Motivos da Serpente
Você já pôde perceber que toda a nossa história não deve ser tomada
literalmente, “ao pé-da-letra”. Já discutimos isso no capítulo III, “O Lado
Escuro do Paraíso”. O que propomos agora é que nos aprofundemos na
simbologia da serpente e dos demais personagens, até que de alguma forma
possamos entender cabalmente a que tudo isso se refere.
Serpentes não falam, não andam e tão pouco são inteligentes ou tão
astutas assim. O texto da Torá deve estar dizendo alguma outra coisa. Por
outro lado, a serpente do Éden não é astuta porque algum ser do mal está no
controle dela: a Torá deixa claro que ela é astuta porque D-us assim a fez!
Logo, não existe um “diabo” por trás da serpente. A Torá deve estar dizendo
outra coisa aqui também.
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sabemos disso?
“D-us pode ter dito para que vocês evitassem a árvore. Mas, a grande
questão é: Você quer comer dela? Você a deseja? E digamos que você deseja
comer dessa árvore; de onde você acredita que tal desejo vem? Qual a sua
origem? Quem colocou esse desejo em você? Não foi o próprio D-us? Não foi
Ele por acaso quem te criou?”
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experimente-o.
Assim sendo, qual das duas vozes divinas você irá ouvir? A voz de D-
us que vem para você em forma de palavras ou aquela voz divina interior, que
pulsa em você e que anima todo o seu ser? Qual das duas vozes divinas é a
primária, a mais importante?
A SERPENTE 'NUA'
Conside isso: De que forma D-us faz com que Sua vontade seja
conhecida das serpentes? Como será que a vontade divina se mostra e se faz
conhecida para qualquer animal? Naturalmente o Altíssimo não instrui os
animais intelectualmente. Ele não fala para eles por meio de palavras. Não há
Bíblia ou Torá revelada sobre um monte para serpentes, pássaros, lagartos
etc! Mas o fato das serpentes, pássaros e lagartos não possuírem um livro de
leis não significa que eles não possuem “lei” alguma. Muito pelo contrário: os
animais seguem a Lei Divina de modo muito fiel. A “voz” de D-us pulsa
intensamente dentro deles, pois o Ser Divino “fala” aos animais através de
seus instintos, paixões e desejos.
Toda vez que um urso pesca salmões num dos rios do Alasca, toda
vez que as abelhas operárias retiram o néctar das flores – toda vez que um
animal age “naturalmente” obedecendo a voz do seu instinto dentro dele, ele
está nada mais nada menos do que “ouvindo a voz” do seu Criador que palpita
em seu ser.
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existência, é aquela voz que palpita dentro de nós”. De acordo com a serpente,
é essa voz que devemos atender.
Como D-us “fala” com você? Qual das duas vozes divinas que
apresentamos é a primária, a mais importante para você?
Se D-us tem expectativas a seu respeito, para que você aja além dos
seus instintos, além dos desejos e paixões, se Ele dirige-se à sua mente e
consciência pedindo que você se eleve acima de seus desejos e que canalize-os
construtivamente – bem, então você é “humano”.
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a ser enganoso e astuto, que é o outro sentido da palavra hebraica arum.
O que é certo para a serpente não é de forma alguma certo para nós.
A serpente alegórica do Éden fala, anda e é inteligente --- mas nós somos
diferentes dela. Nós ouvimos uma voz que não é relevante para ela, dentro da
sua realidade. No fim das contas, não somos “serpentes”, mas sim, humanos.
A BELA E A FERA
“E a muher viu que a árvore era boa para se comer, e que era um
deleite para os olhos, e que a árvore era desejável para dar conhecimento”
(Gênesis 3:6)
Preste bem atenção à segunda frase. Que tipo de coisa pode ser um
“deleite para os olhos”? De que forma esta frase se ajusta às outras duas?
Será que as três proposições estão relacionadas?
Explicando:
Um doce pode ser “bom para se comer” - até uma criança de dois
anos sabe disso e aprecia a guloseima. Mas, a beleza de uma rosa é algo que
exige algo mais; tal beleza só pode ser realmente apreciada bem mais tarde,
com mais anos de vida. A beleza é um “deleite para os olhos”, não para o
paladar. E o que dizer daquilo que é “desjável para dar conhecimento”? Esse é
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o tipo de coisa que não apela para os sentidos mas sim para a mente. É um
nível de desejo ou de beleza que afeta o mais íntimo de nosso ser. Os poemas
de Emily Dickenson, as sinfonias de Beethoven, um debate elegante e bem
articulado --- tudo isso são coisas que apelam para nossa mente, mas não
necessariamente porque elas são verdadeiras mas porque são belas. De fato,
um belo poema pode ou não expressar verdades, um brilhante discurso feito
por um grande orador pode conter muitas mentiras mas isso é irrelevante. A
mente aprecia tais coisas – e as deseja.
Mas o que você poderia dizer, isso tudo tem a ver com o
conhecimento do bem e do mal? Vejamos isso no próximo capítulo.
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CAPÍTULO VI
Mas, o que isso pode ter a ver com o conhecimento do bem e do mal?
- Você poderá perguntar. Por que travaríamos uma batalha sobre o papel
adequado do desejo na psiquê humana em relação à uma “árvore” que teria o
poder de nos fazer conhecer o “bem e o mal”?
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O homem por sua vez, atinge daat em relação à sua muher unindo-se
à ela, experimentando-a, mesmo que não consiga expressar por meio de
palavras sua essência misteriosa. A humanidade nesse mesmo proncípio,
atinge daat do bem e do mal não intelectualizando conceitos de moralidade e
do que ela se compõe, mas sim, ao experimentar o bem e o mal cruamente de
uma forma direta e objetiva.
Mas o que tudo isso quer dizer? Isto soa tão abstrato! O que
queremos dizer com “conhecer o bem e o mal” de uma forma crua,
experimental?
Mas o que será que o Rambam queria dizer com isso? À primeria
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vista parece bizarro. A palavra “falso” parece ser bem melhor para descrever
que 2+2=5 do que para descrever o ato de se roubar um banco!
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crucial no perfil da psiquê humana. Ele está sempre presente, nos “bastidores”,
sempre uma força com a qual temos que lutar. O desejo passou a ser uma
forma de “lente” pela qual vemos as coisas. Eu não vejo mais um mundo claro
de “verdadeiro” e “falso”; eu vejo um mundo novo do “bem” e do “mal”.
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trata-se isso sim da minha própria vontade!
3. Carlos é meu melhor amigo e precisa trabalhar para ajudar sua mãe
doente. Ontem percebi que ele estava “colando” no teste que fez em
minha empresa. Devo omitir aquilo que vi ao meu chefe?
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CAPÍTULO VII
3. Carlos é meu melhor amigo e precisa trabalhar para ajudar sua mãe
doente. Ontem percebi que ele estava “colando” no teste que fez em
minha empresa. Devo omitir aquilo que vi ao meu chefe?
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Agora, vamos pensar sobre o último caso. Está escuro e a noite muito
chuvosa; ninguém está me vendo e eu fico pensando se devo ou não deixar
um bilhete com meu número para que mais tarde o proprietário do carro
luxuoso possa me contactar a fim de que eu pague pelo conserto --- afinal de
contas, eu fui o “autor' daquela façanha! Vamos tentar identificar os dois ideais
que competem aqui. Bem, em primeiro lugar, há a questão da honestidade. A
honestidade pede que eu deixe o recado com meu número. Ok, mas e quanto
ao contra-argumento? Pense cuidadosamente...
Mas, as coisas não são tão simples quanto parecem. Há sim um outro
“boxeador” no ringue, mas não trata-se de um ideal --- o nome desse
“boxeador” é desejo.
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UMA LUTA CONTRA O IRREAL
É claro que não é bem assim que o seu cérebro apresenta diante de
você essas questões. Vamos ouvir o nosso “diálogo interior” enquanto você
examina o pára-choques amassado do carro importado, lutando para tomar a
decisão:
“Sabe, eu até entendo que eu tenho que deixar aquele recado, mas...
espere! Será que fui eu mesmo que fiz este estrago? Quer dizer, eu ouvi
mesmo um barulho ao dar a ré, mas talvez eu tenha passado por cima de uma
lata de refrigerante junto ao meio-fio, ou sei lá. E para dizer a verdade eu mau
toquei nesse carrão... será que isso seria suficiente para que eu deixasse um
recado com meu número de telefone para depois pagar o conserto? E além
disso, o que esse sujeito estaria fazendo bem aqui a essa hora com o seu
brinquedinho caro estacionado logo atrás do meu carro? Sinceramente eu
acredito que me sentiria um perfeito idiota se o para-choques já estivesse
amassado e sem saber disso, eu deixasse o recado. E ainda que eu tivesse
feito este estrago, não significa que o dono deste carrão perderia dinheiro,
afinal, é para isso que existe o seguro: a poderosa companhia de seguros pode
muito bem arcar com o prejuízo”.
Mas todo esse raciocínio que você desenvolve não passa de falácia. É
você mesmo que cria esses “boxeadores” para que lutem contra a honestidade
– eles de fato não existem, nunca estiveram lá. Trata-se de uma luta contra o
irreal, os “boxeadores” são todos eles, meros “fantasmas”.
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De V olt a a o É den
contidas ali somente são reveladas àqueles de espírito aberto que ousam olhar
sob o manto da narrativa a fim de entender a mensagem e o ponto abordado
pelos sábios.
OS PRINCÍPIOS DO DESEJO
“Qual das vozes divinas devo ouvir? A voz do desejo que está em
mim (cujo autor é o próprio D-us) ou a voz que me deu a ordem por meio de
palavras?” Esta parece ser uma questão bastante razoável. Havia boas razões
para que se comesse daquela árvore; havia boas razões para pensar que seria
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certo, bom e louvável fazer com que o desejo desempenhasse um papel mais
ativo em nossas vidas do que ocorria antes. Afinal de contas, a serpente não
estava de todo errada quando sugeriu que o instinto e o desejo constituem-se
numa das muitas formas e maneiras pelas quais D-us “fala”. As paixões vêm
realmente de D-us e experimentá-las parece ser parte essencial do que nos
torna humanos. O que seria por exemplo, acordar pela manhã sem o menor
senso de ambição, ou olhar para uma grande obra de arte sem ter o desejo
pelo que é belo, o que seria de nós se o romance fosse insípido e
desinteressante, ou se a poesia não pudesse nos tocar a alma? Poderíamos até
nos perguntar se valeria a pena viver a vida sem desejo. De alguma forma e
até certo ponto, o desejo parece ser o motor de nossa própria existência.
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CAPÍTULO VIII
E D-us fez surgir da terra todo tipo de árvore boa para se contemplar
e boa para se comer e a árvore da vida no meio do jardim e a árvore
do conhecimento do bem e do mal. (2:10)
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• Tocar no fruto era contra as regras? Eva diz para a serpente que a
proibição incluía não tocar no fruto da árvore do conhecimento. Na
ordem original, só comer do fruto era proibido.
• Fruto vs. árvore. D-us fala sobre uma árvore proibida. Eva menciona
um fruto proibido. Na prática talvez é tudo a mesma coisa. Mas a ênfase
é certamente diferente.
• A morte é uma certeza? D-us diz que se eles comessem da árvore eles
certamente morreriam. Eva sugere que seria melhor que ela e Adão não
comessem da árvore, “para que não” morressem. D-us afirma que eles
certamente morreriam. Eva sugere não uma certeza, mas uma
probabilidade, uma possibilidade.
HÁ UM MODELO AQUI?
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deliberadamente distorceu a ordem de D-us ou que talvez ela a tenha
entendido mal. Eu não posso desprovar conclusivamente essas teorias. Mas há
na minha opinião uma terceira possibilidade, e essa me parece mais plausível:
As distorções que Eva fez ao relatar a ordem divina não foram deliberadas de
forma alguma. Pelo contrário, pega “desarmada” pela serpente e no calor do
momento, tudo o que ela disse era na essência como as coisas lhe pareciam.
Era de fato a forma como ela queria vê-las.
Pense nisso: quando nós queremos algo que nós não podemo ster ou
não devemos ter – mas queremos mesmo assim – quais são as coisas que
dizemos para nós mesmos? Como exatamente o desejo começa a
desempenhar sua “mágica”? O que nós dizemos a fim de convencermos a nós
mesmos que é certo ter aquilo que desejamos?
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que eu eventualmente pudesse morrer?
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trabalho penoso e a multiplicação das dores de parto.
D-us pergunta onde Adão está. Um minuto! Você está querendo dizer
que o Eterno D-us não podia encontrar Adão? Por que o D-us onisciente
estaria fazendo uma pergunta para qual Ele já conhecia a resposta?
Adão responde que ele se escondeu porque teve medo por estar nu.
Leia o texto novamente e veja se você teria essa mesma reação se
estivesse no lugar dele. Bem, em primeiro lugar, é deveras estranho que
Adão afirme que se escondeu pelo fato de ter “medo” porque estava nu.
Se estivéssemos no lugar dele, nós provavelmente diríamos que
estávamos com vergonha pelo fato de termos desobedecido a ordem de
D-us. Mas, por alguma razão, na mente do homem esse sentimento de
vergonha é obliterado, obscurecido por algo ainda mais aterrorizante: a
consciência de sua própria nudez. Mais uma vez, retomamos o tema da
nudez: Por que isso o afeta de forma tão crucial? Mas a questão é um
tanto mais profunda: Coloque-se de novo no lugar de Adão. Se você
tivesse que se esconder por estar nu, qual a razão que você daria por
estar escondido? Eu não sei quanto a vocês, mas eu me esconderia por
vergonha de estar naqula situação. Mas, estranhamente Adão aponta um
outro motivo, inimaginável numa situação dessas. Ele se escondeu por
ter medo e não vergonha necessariamente. Por que então na mente do
homem o fato de estar nu inspira medo e não vergonha?
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moleza, pois você terá que trabalhar duro para semear e colher da terra.
Eva? Ok, você é que gera filhos... então, vamos tornar isso tudo um
pouco mais difícil para você. E a serpente? Você vai rastejar sobre seu
ventre e deverá comer pó, e haverá eterno ódio entre a sua
descendência e aquela de Eva. Bem, e no mais, morte para todo mundo;
ninguém poderá mais viver para sempre. E só mais uma coisinha: Exílio.
Todo mundo para for a da piscina!”
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CAPÍTULO IX
“Mesmo que D-us tenha dito para que você não coma da árvore... e
daí?” ---- Assim, segundo a serpente edênica, os mandamentos de D-us, sejam
eles quais forem, não são primários. A voz verdadeira do Divino sussurra para
você de dentro para fora, através dos desejos e das paixões que o próprio D-us
instilou em nosso ser. Se esses mesmos desejos foram de fato colocados em
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nós pelo nosso Criador por que então não honrá-Lo fazendo com que eles
sejam efetivos?
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הקב"ה אמר להם לישראל בני בראתי יצר הרע ובראתי לו תורה תבלין ואם אתם עוסקים
בתורה אין אתם נמסרים בידו
A tradução:
“O Santo e Bendito Seja disse para eles (para Israel): Meu filho, eu
criei a inclinação para o mal e criei para ela a Torá como antidoto.
Se vos ocupardes da Torá, vós não sereis entregues na sua mão.”
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grande desafio para a nossa correta compreensão. Como normalmente
traduzida, a expressão parece ser um conceito extremamente passível de ser
mau compreendido.
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compêndio de sabedoria, o temível poder das paixões e dos desejos não deve
ser suprimido – não precisamos tirar o motor do carro, não precisamos
renunciar a “carne” e morrer de fome. Não – a Torá não tem como objetivo
extingüir as nossas paixões, nossos desejos, nosso poder criativo. A função da
Lei Divina é por outro lado de complementá-los e orientar a correta vazão de
todos esses aspectos de nosso ser; A função da Torá é basicamente prover
“sabor” aos nossos desejos, temperá-los, direcioná-los aos fins produtivos,
guiá-los em direção à objetivos válidos e sagrados. Alimente seus desejos, sua
ambição, sua sexualidade, sua criatividade ---- e não os destrua, é o que nos
diz a Torá. Mas direcione essas inclinações para este objetivo e não para
aquele outro. Oriente-os e não se deixe orientar por eles – esta é a regra.
O ADVENTO DO DESEQUILÍBRIO
UM MEDO RECÉM-DESCOBERTO
Agora, leiamos nossa história pela última vez, atentando para o que
acontece logo após Adão e Eva terem comido da árvore proibida. Pouco depois
de ter comido do fruto proibido, Adão ouve “a voz de D-us que caminhava pelo
jardim” e ele se esconde, agora ciente de que estava nu. É interessante notar
que foi o simples ato de ouvir a voz de D-us – não algo que D-us tenha dito
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De V olt a a o É den
em particular – mas sim, a consciência de ter ouvido Sua voz pelo jardim que
fez com que Adão ficasse ansioso.
O PREÇO DO PODER
Depois que Adão e Eva comeram do fruto proibido, D-us lhes impõe o
que parece ser uma série de punições aleatórias. Morte, dores de parto,
trabalho penoso, a serpente passaria a rastejar e comer pó. Mas será que
todas essas punições são tão aleatórias quanto parecem? Será que elas não
seguem uma lógica ou não apresentam nenhuma coerência?
Vamos começar com a serpente. Adão e Eva forma iludidos por uma
serpente que falava, que andava. Bem, serpentes não falam e provavelmente
jamais falaram; serpentes não andam e provavelmente jamais andaram ---
sempre rastejaram.
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De V olt a a o É den
Logo, do que falamos aqui? De qual “serpente” falamos aqui?
Diversas referências bíblicas comparam as atitudes do ímpio com as atitudes
de uma serpente:
Indo ainda mais adiante, vemos que Adão “ouve a voz de D-us” no
jardim, e se esconde (apesar de mencionar ambos, o verbo hebraico aparece
no singular – vide Cap. IV “A verdade nua”, subtítulo: “A estranha
proeminência da nudez”). Ao ser interrogado por D-us, Adão responde (no
singular): “Tive medo porque estava nu e me escondi”. Somente o nosso eu
racional pode “ouvir a voz de D-us” e dar-se conta do estado em que nos
encontramos; logo, Adão é o modelo perfeito da consciência, do racional.
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espiritual, mas que vez ou outra, acabaram sendo feridas no calcanhar pela
serpente (Abraão, Davi, Ezequias etc). O Salmo 91 afirma entretanto que
aquele que habita no esconderijo do Altíssimo poderá finalmente e em
definitivo calcar aos pés a serpente [v. 13], isto é, subjugará suas paixões e
desejos orientando-os em conformidade com a vontade do seu Criador.
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Agora, quando um tsunami avança silenciosamente em direção à praia, é o
mundo animal que sente por instinto que algo estranho está para acontecer, e
assim, os animais buscam abrigo em lugares mais altos. O homem por outro
lado, permanece enclausurado no seu próprio mundo, de férias na praia –
alienado do resto da Criação, alheio ao sutil clamor do mundo natural ao seu
redor.
Até lá.
Referências:
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CAPÍTULO X
“Onde estás?” - D-us chama Adão após ter ele comido do fruto
proibido. Nós perguntamos no começo por que D-us faria tal pergunta sendo
que Ele naturalmente já sabia a resposta. Está na hora de revermos esta
questão. Primeiramente, é bom saber que há duas palavras que significam
“onde” no hebraico bíblico. A mais comum delas é eifo - mas, essa não é a
palavra que D-us usa ao chamar o homem. Em vez disso, o Eterno usa a
palavra menos comum, ayeh.
a.Hagidah na li eifo hem ro'im - “Dizei-me por favor onde eles estão
apascentando... チ” (José, em relação ao paradeiro de seus irmãos), em Gênesis
37:16).
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b.Eifo likatit hayom? - "Onde colhestes hoje?” (Naomi para Rute) em Rute
2:19).
c.Eifo Shmuel ve-David? - "Onde estão Samuel e David?” (Rei Saul buscando a
David) em I Samuel 19:22.
a.Vayigva adam ve-ayeh? - "O homem rende o espírito e onde está?” (Jó
14:10).
c.Ayeh na Eloheihem? - "Onde estão seus deuses?" (Em referência aos ídolos)
no Salmo 115:2).
d.Le'imotam yomru ayeh dagan ve-yayin? - “Para suas mães (os filhos
famintos) dirão: Onde está o cereal e o vinho?” (Lamentações 2:12).
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nenhum cordeiro para ser achado! Deveria haver um cordeiro ali para o
holocausto, mas não há. Pelo fato de que a palavra ayeh tem esse sentido
único, a expressão usada pelo patriarca nos passa um vasto espectro
emocional: É nesse momento que Isaac passa a perceber que já que não havia
nenhum cordeiro ali, ele talvez fosse o objeto do sacrifício!
Ayeh é o tipo de pergunta que você pode fazer mesmo quando sabe a
localização das coisas ou das pessoas. É uma palavra muito mais triste e
melancólica do que eifo. Numa estranha coincidência, a forma de ayeh
(“onde”) usada por D-us em Gênesis 3:9 [ayekah] escreve-se da mesma forma
que a palavra que expressa toda a dor e o lamento de Jeremias ao contemplar
Jersualém desolada. O profeta usa a palavra eichah.
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Eu trouxe Adão ao Jardim do Éden e dei-lhe ordens, as quais foram
desobedecidas. Eu então decretei exílio para ele e ao partir, Eu
lamentei “ayekah” []איכה. E assim foi com os seus filhos. Eu os
trouxe para a Terra de Israel e dei-lhes ordens, as quais eles
desobedeceram. E então decretei exílio para eles e ao partirem, Eu
lamentei “eichah” [] איכה
DONS GÊMEOS
2) Após expulsar Adão e Eva do Jardim do Éden a fim de que eles não
comessem da árvore da vida, D-us posiciona anjos querubins com
espadas flamejantes para guardar o caminho de volta àquela árvore.
Mas nós nos tornamos apenas “semelhantes” a D-us, o que não quer
dizer que sejamos Ele! Ser verdadeiramente divino significa não ser apenas
passional, ser imbuído de desejo como D-us é. Isto significa não apenas criar
como D-us cria, mas sim, manejar sabiamente a temível força que tal ato
encerra; Significa controlar plenamente as forças e tendências de nossa
natureza e não sermos controlados por elas; Significa também manter o
equilíbrio das paixões, significa perceber que há tempo determinado para se
criar e tempo de parar de criar.
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daquela árvore e como resultado eles foram banidos do Éden, devendo morrer
em solo estranho. Moisés por sua vez, também desapontou o Altíssimo ao ferir
a rocha e como resultado ele não pôde entrar na Terra Prometida, devendo
morrer às suas portas, em pleno deserto. Em ambas os exemplos, o homem
escolheu fazer sua própria vontade e não a do seu Criador. E como resultado
de ambos os eventos, o homem deixou para trás o mundo ideal que D-us
tinha-lhes preparado, trocando esse mundo por outro, de solo desconhecido.
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