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AS HASTES DO VEADO VAIDOSO

Antnio Torrado
escreveu e Cristina Malaquias ilustrou

E ra uma vez um veado que tinha em grande apreo as


suas hastes recortadas, que lhe davam cabea um ar de majestade. Quando ia dessedentar-se no lago, tanto bebia como se mirava. Que gloriosos chifres os meus! Nenhum animal de cornos os tem to formosos. Em contrapartida, as patas delgadinhas desgostavam-no. Debruado para a gua, comparava-as com a volumosa e artstica cornadura, e dizia: As minhas pernas esto desproporcionadas com os extremos do meu corpo. No fossem elas assim to estreitas e eu seria o mais elegante dos animais. Nisto, o veado ouviu, no longe, o uivo de trompas de caa. Ele sabia o que aquela msica significava. Fugiu. 1
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Caadores a cavalo perseguiram-no. Corriam os cavalos a galope e corria o veado, com quantas pernas tinha. geis, as pernas, no arremesso do medo, saltavam barrancos, venciam precipcios, quase voavam. O veado s pedia que o vigor das pernas no o abandonasse. Mas, num tnel de ramos, os galhos do veado embaraaram-se nos troncos e suspenderam-lhe a corrida. J se aproximavam os cavaleiros. Os belos chifres estavam a deit-lo a perder. Sentindo-se perdido, o veado deu um saco ao corpo e metade de um chifre, que estava preso, partiu-se. Deix-lo. O veado livrou-se. As pernas retomaram a fogosa carreira da salvao e o veado conseguiu escapar dos caadores. J livre de perigo, o veado ps-se a pensar no que lhe sucedera. As pernas, que ele h pouco desprezava, tinham-no salvo. As hastes da sua vaidade por pouco que no o atraioavam. FIM

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