Reflexão: “O que você faz na vida... ecoa na eternidade...!” (Trecho do filme: “O Gladiador”)
DIREITO PROCESSUAL CONSTITUCIONAL
1) Noções – Todo direito processual, como ramo do direito público, tem suas linhas fundamentais traçadas pelo direito constitucional, que fixa a estrutura dos órgãos jurisdicionais, que garante a distribuição da justiça e a efetividade do direito objetivo, que estabelece alguns princípios processuais; e o direito processual penal chega a ser apontado como direito constitucional aplicado às relações entre autoridade e liberdade. 2) Conceito - A condensação metodológica e sistemática dos princípios constitucionais do processo toma o nome de direito processual constitucional. O direito processual constitucional abrange, de um lado, a) a tutela constitucional dos princípios fundamentais da organização judiciária e do processo; b) de outro, a jurisdição constitucional. A tutela constitucional dos princípios fundamentais da organização judiciária corresponde às normas constitucionais sobre os órgãos da jurisdição, sua competência e suas garantias. A jurisdição constitucional compreende, por sua vez, o controle judiciário da constitucionalidade das leis - e dos atos da Administração, bem como a denominada jurisdição constitucional das liberdades, com o uso dos remédios constitucionais processuais – habeas corpus, mandado de segurança, mandado de injunção, hábeas data e ação popular. A tutela constitucional do processo é matéria atinente à teoria geral do processo, pelo que passamos à examiná-la em sua dúplice configuração: a) direito de acesso à justiça (ou direito de ação e de defesa); b) direito ao processo (ou garantias do devido processo legal). 3) Tutela Constitucional do Processo – o antecedente histórico das garantias constitucionais da ação e do processo é o art. 39 da Magna Carta, outorgada em 1215 por João Sem-Terra a seus barões, vejamos: “nenhum homem livre será preso ou privado de sua propriedade, ou de seus hábitos, declarado fora da lei ou exilado ou de qualquer forma destruído, nem o castigaremos nem mandaremos forças contra ele, salvo julgamento legal feito por seus pares ou pela lei do país”. Cláusula semelhante, já empregando a expressão due process of law, foi jurada por Eduardo III; do direito Inglês passou para o norte-americano, chegando à Constituição como v emenda. O direito de ação, com o correlato acesso à justiça, é ainda sublinhado pela previsão constitucional dos juizados para pequenas causas, civis e penais, agora obrigatórios e todos informados pela conciliação e pelos princípios da oralidade e concentração (art. 98, inc. I). E mesmo fora dos juizados, a Constituição valoriza a função conciliatória extrajudicial, pela ampliação dos poderes do juiz de paz (art. 98, inc. II). 4) Acesso à justiça (ou garantias da ação e da defesa) – o direito de ação, tradicionalmente reconhecido no Brasil como direito de acesso à justiça para a defesa de direitos individuais violados, foi ampliado, pela Constituição de 1988, à via preventiva, para englobar a ameaça, tendo o novo texto suprimido a referência a direitos individuais. É a seguinte a redação do inc. XXXV do art. 5º: “A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.” Exceção: essa garantia não é infringida pela Lei de Arbitragem, que não mais submete o laudo arbitral à homologação pelo Poder Judiciário, produzindo ele os mesmos efeitos da sentença judicial. Para a efetivação da garantia, a Constituição não apenas se preocupou com a assistência judiciária aos que comprovarem insuficiência de recursos, mas a estendeu à assistência jurídica pré-processual. Ambas consideradas dever do Estado, este agora fica obrigado a organizar a carreira jurídica dos defensores públicos, cercada de muitas das garantias reconhecidas ao Ministério Público (art. 5º, inc. LXXXIV, c/c art. 134, §2º, red. EC nº 45/04). 5) As garantias do devido processo legal – O conteúdo da fórmula vem a seguir desdobrado em um rico leque de garantias específicas, a saber: a) antes de mais nada na dúplice garantia do juiz natural, não mais restrito à proibição de bills of attainder e juízos ou tribunais de exceção, mas abrangendo a dimensão do juiz competente (art. 5º, incisos XXXVII e LIII); e b) ainda em uma série de garantias, estendidas agora expressamente ao processo civil, ou até mesmo novas para o ordenamento constitucional. Assim o contraditório e ampla defesa vêm assegurados em todos os processos, inclusive administrativos, desde que neles haja litigantes ou acusado (art. 5º, inc, LV). A investigação administrativa realizada pela polícia judiciária e denominada inquérito policial não está abrangida pela garantia do contraditório e da defesa, mesmo perante o novo texto constitucional, pois nela ainda não há acusado, mas mero indiciado. Permanece de pé a distinção do CPP, que trata do inquérito nos arts. 4º e 23, e da instrução processual nos arts. 394 e 405. Outra garantia é a igualdade processual que decorre do princípio da isonomia, inscrito no inc. I do art. 5. Também como novas garantias, a publicidade e o dever de informar as decisões judiciárias são elevadas a nível constitucional (arts. 5º, inc. LX, e 93, inc. IX). As provas obtidas por meios ilícitos são consideradas inadmissíveis e, portanto, inutilizáveis no processo. (art. 5º, inc. LVI).
FONTE BIBLIOGRÁFICA UTILIZADA NA APOSTILA:
CINTRA, Antônio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco. Teoria geral do Processo. São Paulo, Malheiros, 2008.