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Diarreia

Aumento da frequência e diminuição da consistência da


descarga fecal em relação ao padrão normal do indivíduo.
 Aguda, se < 2 semanas
 Crónica, se > 4 semanas
Epidemiologia
 > 1 bilião de indivíduos sofre 1 ou mais episódios de diarreia aguda por ano
 100 milhões de indivíduos nos EUA
- ± 50% tem que restringir actividade
- 10% consulta médica
- 250.000 hospitalizações
- 3000 mortes (idosos)
 uma das principais causas de morte nos países em desenvolvimento, sobretudo crianças
(5-8 milhões de mortes por ano)

 diarreia crónica: prevalência de 2-7% (EUA)

- Países desenvolvidos vs em desenvolvimento


- Lares e creches/infantários
- Origem bacteriana e viral

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Diarreia

Fisiopatologia

Cl- Na+ Muco Na+


HCO3-
Quimo Água Água
K+

Desequilíbrio entre absorção e


secreção de água e electrólitos.
Alterações nas funções
sensora e motora

DIARREIA

Desidratação, diminuição do volume sanguíneo: choque circulatório.


Depleção de potássio e bicarbonato: acidose metabólica.

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Diarreia
Mecanismos fisiopatológicos:
1. Alteração no transporte activo iónico
2. Aumento da osmolaridade luminal
3. Aumento da pressão hidrostática tecidular
4. Alterações na motilidade intestinal

Tipos Etiologia Clínica

1. Secretora Toxinas, hormonas, hipersecreção gástrica, Não alterada pelo jejum; Volume
laxantes, sais biliares, ácidos gordos fecal > 1 L/d; fezes muito aquosas

2. Osmótica Síndromas de malabsorção, intolerância à Pára com o jejum


lactose, hidratos de carbono pouco absorvíveis,
fármacos (iões divalentes)

3. Exsudativa Doença inflamatória intestinal, infecção, Grande volume de fezes; fezes


isquemia, vascular, radiação, tumor com sangue, muco, pús;
sinais/sintomas acompanhados

4. ∆ motilidade Patologias da tiróide, Diabetes, síndroma do Depende da patologia associada


cólon irritável, resecção intestinal, bypass
intestinal, fármacos (metoclopramida)

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Diarreia
Fezes Dor abdominal Estado de hidratação
- Frequência - Duração - Pele
- Consistência - Localização - Saliva
- Volume - Carácter - Pressão arterial
- Cor - Ritmo cardíaco
- Cheiro - Pulso radial
- Relação com refeições - Prostração
Intestino delgado: abundantes, aquosas, Intestino delgado: intermitente, Risco de desidratação: pele seca e
odor forte, com partículas não digeridas, periumbilical ou do quadrante direito escamada, pouca saliva,
geralmente sem sangue. superior, com cãimbras e sons audíveis. hipotensão, taquicardia, pulso radial
fraco, prostração
Cólon: pequeno volume, pastosas, com Intestino grosso: aguda, súbita, região
sangue ou muco. hipogástrica, quadrante inferior esquerdo
ou direito ou região sagrada, com
Intestino grosso: tenesmos e flatulência.
tenesmos.

Sintomas acompanhantes Critérios de gravidade


- Urgência em defecar / Incontinência anal  Febre > 38,5ºC
- Tenesmo  Desidratação
- Dor abdominal  Sangue
 > 48h sem melhorias
- Flatulência
 > 6 dejecções/dia
- Distensão abdominal
 Dor abdominal intensa
- Sintomas gerais: febre, perda de peso, dores articulares…  Indivíduo de risco

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Diarreia aguda
 Início súbito, dejecções muito frequentes e aquosas,
geralmente sem sangue. Normalmente acompanhada
de náuseas, vómitos, dor abdominal, cefaleia, febre,
arrepios, mal-estar geral.
 > 90% causa infecciosa
 transmissão fecal-oral, injestão de água ou comida
contaminadas
 indivíduos de risco: viajantes, consumidores de certos
alimentos (frango, hamburgers, arroz, maionese/creme,
ovos, marisco), indivíduos imunodeficientes, indivíduos
residentes em lares, creches/infantários, doentes
hospitalizados
 pode estar associada a manifestações sistémicas

 10% outras causas


 fármacos (antibióticos, digoxina, antihipertensores,
AINEs, alguns antidepressores, agentes
quimioterapêuticos, broncodilatadores, antiácidos,
laxantes)
 patologias várias (colite isquémica, diverticulite)
 tóxicos

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Diarreia crónica  História de surtos anteriores. Geralmente acompanhada de perda de
peso, anorexia, fadiga crónica.
 Requer avaliação cuidada do doente

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Obstipação

Surge obstipação funcional quando estão presentes 2 ou mais dos


seguintes sintomas: (1) movimentos intestinais infrequentes
(<3/semana), (2) fezes duras, (3) esforço excessivo, (4) sensação
de bloqueio anorectal, (5) uso de manobras durante a evacuação,
(6) sensação de evacuação incompleta após defecação. (Rome III criteria)

 Aguda
 Crónica
Epidemiologia

- Afecta até 40% dos indivíduos com mais de 65 anos


- Idosos, raça negra, mulheres, classe socioeconómica baixa
- Fármacos, dor abdominal, hemorróidas

 prevalência de 3-17% (EUA)

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Obstipação A obstipação não é uma doença mas um sintoma.
Determinar a sua causa é fundamental!

Etiologia e fisiopatologia Aumento do limiar de distensão da ampola rectal


por compromisso da percepção sensitiva?

 Causas primárias: 3 grupos


 Trânsito normal ou síndroma do cólon irritável
 Trânsito lento  ↓ da frequência de contracções propulsoras;
perda de coordenação entre a actividade
 Disfunção anorectal contráctil no recto e no cólon sigmóide; ↓ do
limiar sensitivo rectal; ∆ na motilidade do
estômago e do jejuno….
 ↓ de células intersticiais de Cajal, gânglios
mioentéricos, nervos que contêm VIP ou NOS
 Causas secundárias (perda de input inibitório ou relaxante), células
gliais e receptores da serotonina…
 Fármacos
 Condições clínicas coexistentes

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Úlcera péptica

Úlcera: perda da integridade da


mucosa/submucosa do estômago/ duodeno
que leva a lesão local por inflamação

História natural ⇒ recorrências

 50-100% em 1 ano com tratamento convencional

 úlcera gástrica Warren & Marshall

 úlcera duodenal (Prémio Nobel da Medicina 2005)

Úlcera péptica
 aguda
- HP+
 crónica
- AINEs
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Úlcera péptica Epidemiologia

 Incidência: 4 milhões de indivíduos (novos casos e recorrências) por ano


 Prevalência: 12% homens, 10% mulheres
 15.000 mortes por ano
 HP+
 prevalência: 80% aos 20 anos nos países em desenvolvimento; 20-50% países desenvolvidos (↓)
 transmissão oral-oral, fecal-oral e iatrogenicamente

 AINEs
 3-4% úlcera, complicada por hemorragia ou perfuração em 1,5% por ano
 20.000 mortes/ano por complicações

 Úlcera duodenal
 6-15% população ocidental

 Úlcera gástrica
 surgem mais tarde (± 60 anos)
 incidência semelhante?

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Úlcera péptica Patologia

 Úlcera duodenal
 95% na primeira porção do duodeno
 geralmente ≤ 1 cm de diâmetro
 são bem demarcadas, por vezes atingem a muscularis propria. A base da úlcera é
frequentemente uma zona de necrose eosinófila com fibrose envolvente.
 Raramente malignas.

 Úlcera gástrica
 Podem ser malignas.
 As benignas são geralmente distais à junção do antro com a mucosa secretora de ácido;
raramente surgem no fundo gástrico. As HP+ são frequentemente associadas a gastrite, ao
contrário das causadas por AINEs.

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Úlcera péptica Etiologia e factores de risco

 HP+
 Quase sempre associada a gastrite crónica activa mas só 10-15% desenvolve úlcera péptica
 70% úlcera gástrica e 90% úlcera duodenal; a irradicação diminui as taxas de recorrência (UG: 59% para 4%,
UD: 67% para 6%)

 AINEs
 15-30% em utilizadores regulares
 Podem desenvolver-se ao fim de 1 semana ou após tratamento prolongado
 Úlcera gástrica mais comum, predominantemente no antro, maior potencial para complicações
 Factores de risco estabelecidos: idade, história de úlcera, glucocorticóides, doses elevadas de AINEs, múltiplos
AINEs, anticoagulantes, doença multisistemas. Factores de risco prováveis: HP+, tabagismo, consumo de álcool.

 Corticosteróides (?). Podem atrasar ou inibir a cicatrização das úlceras causadas pelos AINEs.
 Formas menos comuns de úlcera péptica (cocaína, infecções virais, radiação, quimioterapia)
 Tabagismo
 Factores genéticos
 Stresse psicológico
 Dieta
 Doenças associadas

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Úlcera péptica Fisiopatologia

 HP+
 Factores determinantes de patogenicidade
- Factores de virulência (Cag A, pic B e Vac A) lesam a mucosa
- Urease produz amónia, que lesa as células epiteliais
- Factores de superfície quimiotáticos para neutrófilos e monócitos
- Proteases e fosfolipases reduzem a eficácia da barreira de muco
- Adesinas facilitam a adesão ao epitélio
- Citocinas, espécies reactivas de oxigénio ou azoto, aumento do turnover epitelial, apoptose…
 Úlcera duodenal: metaplasia gástrica no duodeno, aumento da produção ácida no antro?

 AINEs
 Inibição da síntese de PG ↓ a integridade e capacidade de reparação da mucosa
 Ácidos fracos ficam aprisionados nas células epiteliais.
 TNFα pode promover a adesão de neutrófilos ao epitélio vascular, reduzindo o fluxo sanguíneo e estimulando a
produção de radicais livres de oxigénio e proteases
 A inibição da agregação plaquetar pode contribuir para o sangramento.

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Úlcera péptica Fisiopatologia

 Pepsina
 Actividade proteolítica envolvida na formação da úlcera

 Alteração na defesa e cicatrização da mucosa

 Alteração da motilidade gástrica


 ↑ esvaziamento gástrico pode contribuir para ↑ acidez do
início do duodeno
 Refluxo duodeno-gástrico permite o contacto de conteúdo
duodenal (sais biliares) com o estômago
 ↓ esvaziamento gástrico expõe estômago a ácido, pepsina
e componentes do refluxo duodeno-gástrico

 Complicações
 Hemorragia digestiva alta. Causada pela erosão da úlcera a uma artéria. 15% dos doentes com UP. Hemorragia
evidente, melena ou hematemese. >50% UG. 6-10% mortalidade.
 Perforação. 7% UP. Mortalidade mais elevada com UG do que com UD.
 Obstrução. 2% UP. Causada por cicatrizes ou edema.

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Úlcera péptica Fisiopatologia

 Tabagismo
 Úlceras mais frequentes em fumadores
 ↓ taxa de cicatrização
 Compromisso da resposta à terapêutica
 ↑ ocorrência de complicações
 Mecanismo por esclarecer: atraso no esvaziamento gástrico de sólidos e líquidos, inibição da secreção
pandreática de bicarbonato, promoção do refluxo duodenogástrico, diminuição da produção de PG da mucosa…

 Predisposição genética (?)


 Parentes em 1º grau têm 3x mais hipóteses de ter úlcera
 Grupo sanguíneo tipo O

 Stresse psicológico (?)

 Dieta (?)

 Doenças crónicas
 Fortemente associadas: mastocitose sistémica, doença pulmonar crónica, insuficiência renal crónica, cirrose,
nefrolitíase, deficiência em α1-antitripsina
 Possivelmente associadas: hiperparatiroidismo, doença coronária, policitemia vera, pancreatite crónica

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Úlcera péptica
Clínica
 Úlcera duodenal

 ↑ secreção ácida basal e nocturna (HP?) por ↑


massa das células parietais, ↑ secreção basal e
pós-pandrial
 Maior rapidez no esvaziamento gástrico de
líquidos (?) • Dor epigástrica 90min a 3h após as refeições
 Diminuição da secreção de bicarbonato (HP?) • Frequentemente nocturna
• Alivia com os alimentos ou antiácidos

 Úlcera gástrica

 Secreção ácida basal e estimulada normal ou


diminuída
 Alterações na pressão do esfíncter pilórico (basal • Dor epigástrica que pode agravar com as refeições
e estimulada) com aumento do refluxo duodenal-
gástrico (?) • Anorexia, perda de peso, náuseas
 Atraso no esvaziamento gástrico de sólidos • Aversão aos alimentos

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Doença de refluxo gastroesofágico

Retrocesso do ácido gástrico e outros conteúdos


gástricos para o esófago devido a compromisso
das barreiras da junção gastroesofágica.

Tratamento

 Medidas não-farmacológicas
 Fármacos antisecretores
 Cirurgia
 Colestiramina, hidróxido de alumínio, sucralfato

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Diarreia aguda
Infantil

Infecciosa Aleitamento materno


Medidas de higiene alimentar,
Prevenção sanitárias, da água e ambiente
Medidas de higiene alimentar,
sanitárias, da água e ambiente Técnicas de isolamento

Técnicas de isolamento Lavar as mãos

Lavar as mãos
 60% países em desenvolvimento
 vómitos, cãimbras abdominais, febre e
diarreia
Por fármacos
 auto-limitada (4d) mas pode evoluir para
Do viajante síndroma do cólon irritável
 80-85% infecciosa

Suspensão / Manutenção ?
Usar exclusivamente água engarrafada
Probióticos
Não consumir vegetais/frutas frescas (com casca)
Probióticos (?)
Antibióticos (?): fluoroquinolonas (doxiciclina, fotossensibilidade),
macrólidos (azitromicina), rifaximina (não absorvido, 3x/d, custo)

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Diarreia aguda

Objectivos do tratamento
 Compensar a perda de água, electrólitos e nutrientes
 Ajuste da dieta
 Evitar a ocorrência de distúrbios metabólicos
 Inactivar o agente causal
 Tratar causas curáveis
 Controlar doenças que sejam causa da diarreia

A diarreia pode ser um mecanismo de defesa!

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Diarreia aguda

Medidas não farmacológicas

 Manutenção do aporte de água e electrólitos


- soluções de rehidratação (glucose, Na+, K+, Cl-, HCO3-) oral ou IV
- bebidas ou sopas ricas em electrólitos

 Restrição dietética (?)


- Jejum se se verificam náuseas e vómitos
- estímulo para defecar vs absorção de solutos ?
- nas crianças, a alimentação acelera a recuperação
- de acordo com o apetite
- evitar refeições pesadas, ricas em gordura, picantes ou estimulantes
- evitar lacticínios

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Diarreia aguda
Infantil

Reposição de água e electrólitos em


Tratamento pequeno volume
Infecciosa
Evitar lacticínios até 24h após a cura
Antibióticos (?)
Reposição de água e electrólitos
Não diminuir o peristaltismo
Antibióticos (?): febre e sangue
Vacinas (?)
Do viajante

Por fármacos Reposição de água e electrólitos


Não diminuir o peristaltismo

Reposição de água e electrólitos Antibióticos(?): febre e sangue

Suspensão / Manutenção ?

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Diarreia aguda Farmacoterapia

 Opiáceos e derivados

- Codeína, difenoxilato, difenoxina, loperamida, fluperamida, racecadotril


- Diminuem a motilidade gástrica, aumentam o tónus no antro e duodeno
- Aumentam as contracções rítmicas não propulsoras e diminuem as propulsoras Acetorfano, hidrolisado em Tiorfano,
que inibe a encefalinase, ↓
- Favorecem a absorção de água e electrólitos e diminuem o volume de fezes hipersecreção de água/electrólitos

Loperamida

 Mais potente  Doença inflamatória intestinal (megacólon tóxico)


 Maior duração de acção  E. coli, Shigella ou Salmonella (desinteria)
 Acção periférica (não atravessa BHE,  Crianças com < 2 anos
extensa metabolização hepática e excreção fecal)

 Menor risco de dependência


 Gravidez
 Obstipação (mais que racecadotril)

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Diarreia aguda Farmacoterapia

 Anticolinérgicos

- Atropina
- Reduzem o peristaltismo intestinal, bloqueiam o tónus vagal e prolongam o tempo do trânsito intestinal
- Eficácia questionável e limitada pelos efeitos secundários

 Outros antisecretores

Octreotida
- Análogo da somatostaina (↓ motilidade intestinal e o transporte de fluídos e electrólitos)
- Situações particulares:
 diarreia refractária
 diarreia aguda induzida por radiação (mais eficaz que difenoxilato e atropina) ou por quimioterapia
 diarreia diabética
 síndroma carcinóide (ataques paroxísticos vasomotores na face e pescoço, diarreia aquosa violenta com cãimbras)
 VIPomas
- Tratamentos prolongados: complicações da vesícula biliar, náuseas, diarreia, dor abdominal
- Doses elevadas: reduz a absorção de gorduras podendo causar esteatorreia

- Eficácia por comprovar


- anti-secretor, anti-inflamatório, anti-bacteriano
Subsalicilato de bismuto
- salicilato ⇒ ataques de gota, anticoagulantes, salicilismo
- bismuto ⇒ interfere com absorção de tetraciclinas e certos exames radiográficos GI

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Diarreia aguda Farmacoterapia

 Adsorventes
- Caulino, atapulgite, pectina, carvão activado, hidróxido de alumínio, colestiramina
- Baixo risco com baixa eficácia.
- Acção inespecífica. Reduzem a biodisponibilidade de outros fármacos.

- Resina de troca iónica , sequestra ácidos biliares


 Antiflatulentos
- O uso prolongado: deficiência em ácido fólico
- Dimeticone
- Eficácia por comprovar

 Vacinas
- Cólera, Shigella (5 doses), Rotavírus (3 doses)

 Antibióticos

 Resistência
 Efeitos secundários (desequilíbrio da flora intestinal)
 Sensibilidade do microorganismo

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Diarreia aguda Farmacoterapia

 Substitutos da flora intestinal - Probióticos

- Requisitos: origem humana, não-patogénico, administração viável, estabilidade ácida e biliar, aderir
ao epitélio-alvo, manter-se no tracto GI, produzir substâncias antimicrobianas, modular os sistema
imune e influenciar actividade metabólica.
- Poucos estudos na comunidade e em países em desenvolvimento limitam as conclusões!
- Eficazes na prevenção da diarreia aguda (redução de pelo menos 21%) sobretudo
 sobretudo da diarreia causada por antibióticos mas também da diarreia do viajante
 mais nas crianças que nos adultos
 sem diferença entre as estirpes (só L acidophilus + L bulgaricus não tem efeito), mas o efeito
é maior com combinação de estirpes
- Diferente composição e requisitos de armazenamento
- Flatulência

 Outros

- agonistas α: lidamidina (análogo da clonidina – hipotensão) próabsorção/antisecretor?


- análogo da encefalina: nifalatide (tonturas, boca seca)
- Zinco. Incluído nas soluções de rehidratação oral, no tratamento/profilaxia da diarreia
aguda da criança.

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Diarreia crónica  História de surtos anteriores. Geralmente acompanhada de perda de
peso, anorexia, fadiga crónica.
 Requer avaliação cuidada do doente
Tratamento
 Reposição de água e electrólitos
 Curativo
 Resecção de cancro colorectal
 Descontinuação de fármaco

 Supressivo
 Eliminação da lactose ou do glúten da dieta
 Corticosteróides ou anti-inflamatório intestinal na DII
 Colestiramina na malabsorção de ácidos biliares
 Inibidores da bomba de protões em carcinomas gástricos hipersecretores
 Octreotida no carcinóide maligno
 Indometacina no carcinoma medular da tiróide
 Suplemento de enzimas pancreáticas na insuficiência pancreática

 Empírico
 Difenoxilato ou loperamida em casos de diarreia aquosa ligeira a moderada
 Codeína ou tintura de ópio em casos de diarreia severa
 Clonidina na diarreia associada à neuropatia diabética
 Octreotida

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Diarreia aguda

Princípios da farmacoterapia

 A diarreia é, na maioria dos casos, auto-limitada e raramente representa uma situação


de risco de vida
 As crianças, os idosos e os doentes imunocomprometidos são grupos de risco para
complicações severas de diarreia aguda.
 A abordagem terapêutica inclui o aporte de água e electrólitos, a dieta, alívio dos
sintomas, tratamento de causas curáveis e controlo de doenças secundárias.
 A base do tratamento é a manutenção do aporte de água e electrólitos, de preferência
por via oral.
 O doente deve ser reencaminhado para o médico se: < 3 anos, grávida, grupo de
risco, depleção de volume moderada a severa (5-10% peso corporal), doença crónica
associada, dor abdominal moderada a severa, fezes com sangue ou muco, diarreia
crónica.
 Os doentes devem ser informados sobre os fármacos antidiarreicos.

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Obstipação

Objectivos do tratamento

 Alteração do estilo de vida


 Alívio da obstipação aguda e sintomas associados, a curto prazo
 Alteração da dieta e diminuição do consumo de laxantes, nos doentes com obstipação crónica
 Identificar a causa

Abordagem geral
 Alteração da dieta
 Promover a prática de exercício físico
 Ajuste dos hábitos intestinais
 Controlo da doença causal
 Identificação (eventual suspensão/mudança) do fármaco causal
 Educação do doente

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Obstipação

Abordagem não-farmacológica

 Educação do doente
 criar hábitos de defecação (após refeições, com tempo), não ignorar a necessidade de defecar

 Alterações da dieta
 Aumento do aporte de fibras em indivíduos sensíveis
 Aporte adequado de calorias

 Exercício físico

Cirurgia (tumores malignos, obstrução)

 Terapia de biofeedback
 Correcção da contracção inapropriada dos músculos do pavimento pélvico e do esfíncter anal externo durante a defecação
(defecação dissinérgica).
 Electromiograma ou registos da pressão sobre o esfíncter durante a tentativa de expulsão do sensor.
 Eficácia de cerca de 70%, em doentes com disfunção do pavimento pélvico. Efeitos sustentados por, pelo menos, 2 anos
sem treino adicional.
 Doentes com disfunção do pavimento pélvico
 Crianças com obstipação crónica?
 Actividade física (musculatura abdominal e pélvica)

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Obstipação
1. Laxantes emolientes (Docusatos, Parafina líquida, Glicerina)
 Surfactantes, facilitam a mistura de materiais aquosos/lipídicos no tracto intestinal; ↑ a secreção de água/electrólitos. A Parafina líquida tem
acção lubrificante; pode causar reacção de corpo estranho no tecido linfóide e pneumonia por aspiração).

 Têm interesse quando é necessário evitar o esforço associado à defecação (prevenção)


 Podem ↑ a absorção de certos fármacos, vitaminas e nutrientes
 Devem ser usados por curtos períodos de tempo (< 1 semana, se sem prescrição)

2. Laxantes de contacto (estimulantes)


 Não devem ser usados regularmente; úteis em SOS e na preparação de meios de diagnóstico.
 Podem causar cãimbras severas, distúrbios hidroelectrolíticos e produção excessiva de muco.
 Não devem ser usados quando há suspeita de apendicite (dor abdominal, náuseas e vómitos), na gravidez/aleitamento.

A. Derivados do difenilmetano

 Bisacodil. Estimula o plexo intramural intestinal. A dose eficaz varia muito com o indivíduo. Comprimidos com revestimento
entérico não devem ser mastigados nem tomados com antiácidos ou substâncias alcalinas.

 Fenolftaleína. Mecanismo de acção por esclarecer (inibe a absorção de glucose e sódio?). Sofre recirculação enterohepática (3-
4d). Pode conferir cor rosa à urina.

B. Derivados da antraquinona (Cáscara sagrada, Sene)


 Metabolizados nos compostos activos pela flora intestinal. Mecanismo de acção desconhecido.

 Podem causar melanose coli (acumulação de pigmento escuro principalmente no cego e recto até vários meses
após o uso; reversível até alguns meses após descontinuação)

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Obstipação
3. Laxantes expansores do volume fecal (Metilcelulose, Carboximetilcelulose, preparados do Psilium,
Gomas, Farelo e Bassorina)
 Derivados da celulose e de polissacarídeos naturais e semi-sintéticos hidrofílicos, que se expandem no fluído intestinal aumentando o volume
da massa fecal e estimulando o peristaltismo.

 São praticamente desprovidos de efeitos secundários e os efeitos sistémicos são mínimos. O aumento da posologia não aumenta a
eficácia e pode provocar gases intestinais e agravar a obstipação.
 Risco de obstrução GI se não ingeridos com quantidade suficiente de líquido, na doença inflamatória e na neoplasia
digestiva. É importante que sejam tomados com água ou sumo de fruta em abundância (≥250 mL).
 Podem interferir com a absorção de alguns fármacos. Espaçar a toma de salicilatos, anticoagulantes orais, digitálicos,
ferro, cálcio. Cuidado com os que contém dextrose ou sacarose nos doentes diabéticos.

4. Laxantes osmóticos
 Lactulose. Dissacarídeo (fructose+galactose) metabolizado pela flora colónica em ácidos de baixo peso molecular, resultando um efeito
osmótico em que a água retida no cólon baixa o pH e estimula o peristaltismo. Pode causar flatulência, cãimbras, diarreia e
distúrbios hidroelectrolíticos. É cara e não mais eficaz que o Sorbitol ou o Leite de magnésio. Tem interesse na
encefalopatia hepática e em idosos.

 Sorbitol. Monossacarídeo. Útil em doentes com a função cognitiva intacta. Barato.

 Catárticos salinos. Iões fracamente absorvidos (magnésio, sulfato, fosfato, citrato). Não devem ser usados como rotina.
Úteis na preparação de meios de diagnóstico, casos de envenenamento e em associação com anti-helmínticos. O leite
de magnésio (suspensão de 8% de hidróxido de magnésio) pode eventualmente ser usado em adultos saudáveis.
Risco de desequilíbrio hidroelectrolítico e acumulação de magnésio e sódio na IR, e de sódio na hipertensão, diabetes,
IC, IR, IH.

 PEG. Inerte, não metabolizado pela flora intestinal.

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Obstipação
5. Procinéticos
 Agentes colinérgicos – Betanecol, Neostigmina – não têm mostrado benefício clínico.

 Metoclopramida e Eritromicina têm baixa eficácia.


 Misoprostol – Estimula a secreção de água e electrólitos e acelera o trânsito intestinal. O efeito parece diminuir com o tempo.
 Tegaserod – agonista 5-HT4 – é eficaz em adultos. Foi retirado do mercado em Março de 2007 por se ter constatado
maior risco de ataque cardíaco, AVC e agravamento de dor torácica cardíaca que em doentes tratados com placebo.

6. Activador de canal de cloro (tipo 2) - Lubiprostone


 Aumenta a secreção de fluídos para o lúmen intestinal e a motilidade. Pode causar náuseas severas (administrar às refeições)

A evidência existente não permite concluir sobre diferenças entre os grupos


 O Psilium é eficaz em tratamentos de curta duração
 A evidência é insuficiente para recomendar docusato ou a parafina líquida
 Existe alguma evidência que suporta o uso do leite de magnésio (não na insuficiência renal)
 PEG diário é eficaz em tratamentos de 8-24 semanas por normalizar a frequência intestinal e melhorar a
consistência das fezes
 PEG diário facilita a descontinuação de outros laxantes
Lactulose melhora a frequência intestinal e a consistência das fezes
Existe alguma evidência que suporta o uso do sene e do picossulfato de sódio em tratamentos de curta duração;
não existe evidência para tratamento prolongado

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Obstipação

Alteração de estilo de dieta e


estilo de vida

Interromper fármacos obstipantes

Laxante expansor do volume fecal

Laxante osmótico

Biofeedback

Laxante de contacto Enema Procinético


World Gastroenterology Organization practice guideline

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Obstipação Situações específicas
World Gastroenterology Organization practice guideline

1. Idoso
 Mobilidade reduzida e polimedicação ⇒ ênfase na alteração da dieta e do estilo de vida
 Em casos de imobilidade, laxantes osmóticos ou de contacto são melhor opção do que laxantes expansores
do volume fecal
 Tentar suspender fármacos potencialmente obstipantes

2. Gravidez e aleitamento
 Aumento do aporte de fibra e fluídos na dieta, exercício físico
 Laxantes expansores do volume parecem ser mais seguros que laxantes estimulantes. O sene é considerado
seguro em doses normais mas é necessário cuidado no final da gravidez e em gravidez de risco
 Laxantes expansores do volume fecal e a lactulose não são excretados no leite materno, ao contrário do
sene (doses elevadas)

3. Criança
 Aumento do aporte de fibra e fluídos na dieta. Evitar consumo excessivo de leite.
 Não há evidência da classe de laxante com eficácia superior. O tratamento precoce é importante. A
prescrição de um laxante emoliente é frequente para prevenir situações de impacto fecal. O uso regular é
importante, uma vez que o uso intermitente está associado a recaídas.

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Obstipação Situações específicas
World Gastroenterology Organization practice guideline

4. Diabetes
 Laxantes expansores do volume fecal são seguros e úteis em doentes que não devem ou não querem
aumentar o aporte de fibra da dieta.
 Lactulose e sorbitol devem ser evitados porque os seus metabolitos podem influenciar os níveis sanguíneos
de glucose

5. Cuidados terminais
 A prevenção é essencial; podem usar-se laxantes profiláticos.
 Fezes duras ⇒ laxantes estimulantes ou emolientes. Fezes moles ⇒ laxantes estimulantes.

6. Viajante
 Sobretudo mulheres.
 Alteração da dieta. Laxantes osmóticos.

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Obstipação Aconselhamento

 Devem implementar-se medidas não-farmacológicas de regularização da actividade intestinal


 A administração de laxantes deve ser temporária; uma vez recuperada a motilidade intestinal,
deve ser suspensa
 Após uma dejecção determinada por um laxante podem decorrer vários dias sem nova dejecção
por se ter verificado um esvaziamento maciço do cólon

 Se ao fim de uma semana não se tiver observado eficácia do laxante, o doente deve ser
reencaminhado para o médico
 Laxantes contendo Na+, K+ ou Mg2+ não devem ser usados em doentes com IR
 Laxantes salinos não podem ser usados diariamente, nem em crianças com menos de 6 anos
(via oral) ou em crianças com menos de 2 anos (via rectal)
 Óleos minerais não podem ser administrados a crianças com menos de 6 anos.
 Enemas e supositórios para serem eficazes requerem uma aplicação correcta
 Se existir dor abdominal, náuseas, vómitos, inflamação, cãimbras ou outro fenómono não devem
ser administrados laxantes
 Os laxantes com fenolftaleína ou ruibarbo podem mudar a cor da urina; os primeiros podem
também alterar a cor das fezes

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Obstipação

Síndroma de abuso de laxantes

 Ideias preconcebidas sobre os padrões normais de actividade intestinal + acção dos laxantes
 Manutenção da actividade intestinal diária, controlo/perda de peso
 Após uma dejecção determinada por um laxante podem decorrer vários dias sem nova
dejecção por se ter verificado um esvaziamento maciço do cólon
 O indivíduo que abusa de laxantes pode apresentar-se com diarreia e perda de peso, vómitos,
dor abdominal, letargia, fraqueza, sede, edema, dor óssea (osteomalácia), distúrbios
hidroelectrolíticos, gastroenteropatia com hipoalbuminemia, síndromas tipo colite.
 Predomina nas mulheres de meia-idade e em casos de distúrbios alimentares.
 A abordagem deve incluir avaliação psiquiátrica, modificações da dieta, mudança para laxantes
expansores do volume fecal e medidas de combate ao uso de laxantes estimulantes.

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Obstipação

Princípios da farmacoterapia

 É importante identificar fármacos que possam ser responsáveis pela obstipação e


promover a sua substituição, se existir alternativa.
 A base do tratamento deve ser aumentar o aporte de fibras na dieta e, eventualmente,
usar laxantes expansores do volume fecal.
 Devem ser identificadas causas da obstipação e corrigi-las, se possível.
 O abuso de laxantes é comum. Frequentemente é negado pelos indivíduos, que
podem apresentar-se com obstipação ou diarreia.

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Obstipação Falsas questões

F Movimentos intestinais diários são fundamentais para eliminar toxinas do organismo.

F A obstipação é frequentemente resultado de uma dieta pobre em fibras, baixo aporte de


líquidos e/ou sedentarismo.
 Suplementos de fibras devem ser usados de acordo com resultados individuais
 Não existe evidência que suporte o aumento de aporte de líquidos ou o exercício físico

F Os laxantes estimulantes não são clinicamente eficazes.


 Existem dados suficientes para suportar o uso de laxantes osmóticos. Os dados relativos aos laxantes estimulantes não
têm a mesma qualidade. Os laxantes estimulantes são eficazes em alguns indivíduos com obstipação.

F O uso crónico de laxantes estimulantes causa lesão do cólon.


 Os laxantes expansores do volume fecal e os osmóticos estão associados a relativamente poucos efeitos secundários,
se usados adequadamente (geralmente 1x/d). Os laxantes estimulantes são relativamente seguros mesmo em tratamentos
prolongados.

F Os laxantes estimulantes induzem habituação, tolerância ou dependência física e psíquica.


 Existe alguma evidência de que os laxantes estimulantes induzem tolerância em alguns indivíduos com obstipação.
Como a maioria dos laxantes não são absorvidos nem passam a BHE, não existe fundamento farmacológico para a
existência de dependência (≠ desordem psiquiátrica).

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Úlcera péptica Tratamento

Objectivos

 Aliviar a dor
 Erradicar HP
 Cicatrizar a úlcera
 Prevenir lesão induzida por AINEs
 Prevenir recorrências
 Controlar a secreção ácida
 Reduzir as complicações

 Medidas não-farmacológicas
 ↓/∅ stresse psicológico
 ↓/∅ tabaco
 ↓/∅ alimentos ou bebidas que agravem os sintomas
 cirurgia (vagotomia, complicações)
Abordagem geral
 HP+

 AINEs

 Manutenção

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Úlcera péptica

Antiácidos
H+ H+ H+
H+ H+ Inibidores da
ATPase H+/K+
Sucralfato
Antagonistas H2

H2

M1
Prostaglandinas

Anticolinérgicos

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Úlcera péptica Helicobacter pylori+

Ausência do microorganismo pelo menos 4 semanas


Pesquisa e erradicação após término do tratamento de erradicação

 Úlcera péptica
- doença activa (IBP só durante erradicação) Testes invasivos: histológico, serológico e da
urease. Testes não invasivos: urease, pesquisa
- história pessoal de antigénio nas fezes, DNA na saliva.

 Gastroduodenopatia associada a AINEs


- novos utilizadores ⇒ erradicação prévia
- utilizadores crónicos (IBP manutenção) - factores de risco GI:
 idade > 60 anos
 história de úlcera péptica ou complicações
 patologia associada ou grave
 AINEs mais agressivos
 doses elevadas de AINE ou AINEs em simultâneo
 medicação simultâneo com anticoagulante
 medicação simultânea com corticosteróide

 Antiagregantes plaquetares (AAS, clopidogrel): doentes com factores de risco GI

 Carcinoma gástrico: familiares directos, doentes com carcinoma inicial ressecado endoscopicamente

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Úlcera péptica Helicobacter pylori+

Terapêutica de 1ª linha (7 dias):


 IBP 2x/d + claritromicina 500mg 2x/d + amoxicilina 1g 2x/d Eficácia 70-95%
 IBP 2x/d + claritromicina 500mg 2x/d + metronidazol 500mg 2x/d

Terapêutica alternativa (14 dias):


 IBP 2x/d + bismuto 120mg 4x/d + metronidazol 500mg 3x/d + tetraciclina 500mg 4x/d
 IBP + metronidazol + amoxiciclina SPG2007

7-14 dias

resistência
Custos, efeitos secundários, complexidade
posológica, interacções, adesão
Polimorfismos do gene CYP2C19
determinam eficácia do IBP

Recorrências de 2-3%, 12-14%. Manutenção com IBP em doentes com complicações.

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Úlcera péptica AINEs

Grupo Estratégia
Baixo risco AINEs de menor risco para o tubo
sem factores de risco digestivo na mais baixa dose

Risco intermédio  AINEs + IBP ou misoprostol


1 ou 2 factores de risco  Inibidor COX-2

Risco elevado Inibidor COX-2 + IBP


> 3 factores de risco e AINEs / varfarina

Risco muito elevado  Evitar AINEs


história recente de complicações ulcerosas  Inibidor COX-2 + IBP

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Úlcera péptica Inibidores da bomba de protões (IBP)

• Inibem irreversivelmente a ATPase H+/K+ das células parietais


• Rápido início de acção e acção prolongada (T½ ≈18h; acumulação nas células parietais)
Interacções Administração

Esomeprazole • Não interfere com fenitoína ou varfarina • 1h antes da refeição


• Pode acelerar a metabolização dos
contraceptivos orais
Lansoprazole • Pode acelerar a metabolização dos • Antes da refeição
contraceptivos orais
Omeprazole • Aumenta os níveis de: diazepam, • Antes da refeição
carbamazepina, metotrexato, nifedipina,
fenitoína, varfarina, digoxina
Pantoprazole • Independente da Refeição

Rabeprazole • Não interfere com fenitoína, varfarina, teofilina • Independente da Refeição


e diazepam;
• Absorção do cetoconazol
• ↑ concentrações plasmáticas de digoxina

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Úlcera péptica Antagonistas H2

• Inibição semelhante da secreção de ácido


• Taxa de cicatrização semelhante
• Administrados ao deitar (+/- pequeno-almoço)

Cimetidina Famotidina Nizatidina Ranitidina


(800 mg) (40 mg) (300 mg) (300 mg)

 Efeitos antiandrogénicos (ginecomastia e impotência reversíveis)


 Inibição do cit.P450
 Confusão mental, agitação e coma em insuficientes renais
 ↑ aminotransferases, ↑ creatinina, ↑ prolactina
 Interacção com anticoagulantes orais, diazepam, fenitoína, teofilina, propranolol

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Úlcera péptica Sucralfato

• Sal complexo de sacarose, Al(OH)3 e Al2 (SO4)3


• No estômago e no duodeno forma uma pasta viscosa que reveste a úlcera
• Mecanismos de acção: barreira físico-química e efeito trófico.
• Eficaz no tratamento da UD (1 h antes de cada refeição e ao deitar: 4x/dia)
• A obstipação é o efeito secundário mais frequente.
• Na insuficiência renal há risco de neurotoxicidade pelo alumínio
• Pode interferir com a absorção de anticoagulantes orais, cimetidina, difenilhidantoína, digoxina,
tetraciclinas.

• Não associar antiácidos na meia-hora que antecede e na que segue a toma

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Úlcera péptica Misoprostol

• Efeito antisecretor + prevenção de lesões erosivas induzidas por AINEs: ↑ fluxo sanguíneo, ↑
secreção de muco e bicarbonato

• A diarreia é o efeito secundário mais frequente


• Induzem hemorragias e contracções uterinas
• 200 µg (UP ⇒ 4 x/dia; AINEs ⇒ 2-4 x/dia)

Anticolinérgicos

• Interesse limitado pelos efeitos secundários (secura dos olhos e da boca, visão enevoada, retenção
urinária)

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Úlcera péptica Antiácidos

• Nunca são 1ª escolha terapêutica


• Usados para alívio dos sintomas da dispepsia (dor).
• Neutralizam o ácido e inactivam a pepsina (pH=7-8)
• 1h a 3h após as refeições e ao deitar, ou de acordo com os sintomas
• Preparações líquidas ou em pó são mais eficazes que os comprimidos (mastigáveis)

CaCO3 NaHCO3 Al(OH)3 + Mg(OH)2


Síndroma lactoalcalina Alcalose sistémica Obstipação + Diarreia
Neurotoxicidade + hipermagnesemia,
 Ricochete da acidez na insuficiência renal
 Podem agravar ou desencadear litíase renal
 Hipercalcemia (↑ gastrina ↑ ácido)
 Na+ pode agravar insuficiência renal, insuficiência cardíaca congestiva, hipertensão
 ↓ absorção de fósforo (OH-) pode induzir osteomalácia
 Adsorção (Ca2+, Mg2+, Al3+) de tetraciclinas, anticolinérgicos, cloropromazina

Ácido acetilsalicílico (!!!) + ácido cítrico + bicarbonato de sódio

Síndroma lactoalcalina: cefaleias, anorexia, náuseas e vómitos, astenia, dores abdominais, obstipação, sede, poliúria.

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Úlcera péptica

Princípios da farmacoterapia

 Os doentes devem reduzir o stresse psicológico, o tabaco, o uso de AINEs e devem


evitar alimentos e bebidas que agravem os sintomas.
 A erradicação está indicada em todos os doentes HP+ com úlcera activa, história
prévia pessoal de úlcera péptica ou complicações, doentes que tomem AINEs em
tratamentos prolongados/crónicos, que tomem antiagregantes plaquetares com factores
de risco GI e em doentes com carcinoma gástrico ressecado endoscopicamentes.
 A selecção do regime de erradicação do HP deve ser individualizado. Deve começar
por um regime de terapêutica tripla que inclua um IBP. Se for necessário um 2º regime,
os antibióticos devem ser diferentes.
 O tratamento com um regime convencional em doentes HP+ é desaconselhado pelas
elevadas taxas de recorrência e complicações. Associações de fármacos aumentam o
custo do tratamento e não aumentam a eficácia.
 O tratamento de manutenção com um antagonista H2 em dose baixa ou com um IBP
está indicado para doentes em que não é possível a erradicação, doentes com
complicações severas ou doentes HP-.

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Úlcera péptica

Princípios da farmacoterapia (cont.)

 A terapêutica profilática é indicada para doentes em risco de desenvolver


úlcera/complicações causadas por AINE. Os antagonistas H2 (doses elevadas no caso de úlcera
gástrica) ou os IBP (eficácia semelhante à do misoprostol) devem ser usados para alívio dos
sintomas.
 É importante educar os doentes sobre a doença e o tratamento, sobretudo no caso de
terapêutica de erradicação de HP ou com misoprostol.
 Doentes com sintomas de recorrência ou sinais/sintomas de complicação devem ser
reencaminhados para avaliação médica. Devem ser avaliadas possíveis causas de falha
terapêutica, incluindo a não-adesão, resistência a antibiótico, fortes hábitos tabágicos,
toma de AINEs, necessidade de erradicação em doentes sujeitos a terapêutica
convencional.
 É necessário ter presente que o custo geral do tratamento deve ser ponderado em
relação ao seu sucesso.

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