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CAPA

Fabio Greco

TREZE
>
Ricardo Galésio

> 13THIRTEENJANEIRO2008
Andrea May
E357 Começamos o ano em formato pocket-magazine. Pequeninos depois das férias
de Natal e da euforia passageira da passagem do ano. Tão levezinhos que nos
Elena Curotto podem guardar junto ao peito, junto ao talão da última compra dos saldos que não
foram. É um prenúncio de morte ou uma pronúncia do norte, não sabemos bem
Fabio Greco porque raramente ouvimos as canções do Reininho. Temos a ligeira sensação que
voltaremos no mês que vem, tal e qual fizemos no mês que passou. Amanhã de
Pedro Palrão manhã vamos acordar e ficar a ouvir a rádio no ar e a música a cair.

Pedro Rio
Ou será a chuva?

Sara Toscano
LONDON
PEDRO RIO



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Pela noite fora, dançava, com o grupo de amigos.
Num círculo compacto, entre casais aos beijinhos fala-se do fim da faculdade
enquanto os joelhos, como molas, fazem o corpo desengonçar-se ao ritmo da
música. Pelos bares do bairro, inspira-se o nevoeiro do cigarro, anca espetada
atrás, como na MTV. A coluna, sempre desalinhada, mala só num ombro a castigar
as costas, omoplatas tensas a empinar o peito. Todo o corpo num desarrumo, que
é como se dança com graça o ballet da noite bairrista. E gosta-se.

Da discoteca ao hobby foi um salto, ou melhor, um grand jeté.


O gosto à dança passou a custar-lhe, então, uma mensalidade. Sair da faculdade,
sufocar no trânsito e chegar à escola de dança já de aquecimento feito, de tanta
correria…Sexta à noite apetece é ficar em casa…

Aprender técnica é espetar um alfinete no rabo: faz andar para a frente mas dói.
Evolui-se a custo. Há treino mas não há dança. Lá no bairro cada movimento faz
abrandar o dia, serve bem para descansar. Mas porque relaxar é afrouxar, na aula
tudo é esforço: falta o sorriso desleixado, a mão enfiada nos jeans, a anca descaída,
a noite.

Já depois das 02h da manhã, o corpo amolecido derrete-se de prazer, funde-se


a forma com o fundo. Mais um copo de vinho e até a alma se dissolve… Na aula
pontual das 19h certas (ou está tudo isto errado?) o corpo está activo como um
bicho ao ataque, é cerveja agitada na lata, vaso na esquina vertiginosa da mesa.
Um passo em falso e estilhaça, e a queda faz barulho e embaraça. Já não se vai à
faculdade…

De hobby, passa a profissão, no esquema de part-time porque às bailarinas ninguém


as quer. A vida fica cheia de colcheias: até a música passa a trabalho de casa. E
a técnica é uma constante. Ao subir as escadas no metro treina-se o arabesque.
Apertam-se os atacadores em grand pliê e tiram-se as latas da despensa em
pontas – porque a comida, se há, guarda-se nas prateleiras de cima.

Depois chega o primeiro espectáculo. O corpo polido, já sem arestas: as ancas


alinhadas, cotovelos ao longo do corpo, queixo para dentro. O movimento é
anatómico para proteger a coluna como se fosse aleijada. O cérebro está compacto,
foca a coreografia que registou, a barriga flutua, transtornada: quer sair de um
espirro pela boca… mas não se atreve porque até os nervos são ballet e estão
treinados a controlar-se.

Os aplausos parecem uma parada militar e a audiência tem snipers nos olhos.
Entra-se no campo de batalha, o nervosismo por um fio…

Mas na vida tudo é surpreendente.


Às vezes, o esforço não compensa, mas recompensa…
SARA TOSCANO Pela noite fora, tudo era uma andança. Agora, no palco, DANÇA.

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COOLISH
THE CHEDI MILAN

O Chedi Milan, com a assinatura do famoso hotelier Adrian Zecha, é o primeiro


hotel da cadeia GHM a abrir na Europa. Traz para o ocidente uma combinação entre
o estilo asiático e o design industrial vanguardista. Os 250 quartos, projectados
pelo designer de interiores Jaya Ibrahim, estão equipados com as mais recentes
tecnologias, como é o caso do enorme écran LCD ou do Ipod Station.
O Chedi Milan dispõe ainda de um magnífico Spa oriental e de um restaurante que,
recorrendo aos sabores asiáticos, apela aos sentidos e ao prazer.
Magnífico!

www.thechedimilan.com

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FABIO GRECO DECADENCE

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A teoria da terra oca , tida como verdadeira por cientistas antigos como Edmund
Halley e Leonhard Euler e alguns adeptos do nazismo, e hoje totalmente
desacreditada pela ciência, nos prediz que o planeta Terra é oco, com o seu interior
habitado por seres vivos, a entrada para esse mundo fica no meio dos pólos Sul e
Norte. (wikipedia.org)

A série Terra Oca faz parte da expo virtual “Dicionário Imagético” by Andrea May:
www.expomay.blogspot.com

TERRA OCA
ANDREA MAY

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“Un dernier verre (pour la route)” *

- “Je t’aime!” – tu m’as dit…baixinho por debaixo do uivo do vento, naquela noite nos as forças para nos termos mais tempo. Perdurar no que estava já a terminar
fria nas ruas da tua cidade (da qual eu oportunamente aos poucos me apropriava iria macular o que sentíamos e mancharia as memórias que ainda íamos a tempo
também). A brisa gelada e as palavras juntaram-se em uníssono para me de guardar…de cada um de nós, dos dois…do que havíamos sido até aí. O tempo
arrepiarem e desenharem um sorriso nos meus lábios… urgia para que voltássemos a pousar os pés no chão, para que regressássemos
…Como está longe essa noite de hoje…quão longe sinto o teu perfume agora, e o ao que sabíamos que nos aguardava…para que voltássemos a aninhar-nos nas
roçagar dos teus lábios no meu pescoço mal tapado pelo cachecol… nossas raízes…Novos voos pressupunham novas forças que não encontraríamos
- “Je t’aime aussi…” – respondi-te sem hesitar no tremor de voz que me saía da juntos, porque as consumíamos todas em nós dois.
garganta…o arranhão provocado pelo frio que me intercalava as palavras não era Nesse momento fugiu-me o chão debaixo dos pés, mas senti-me flutuar contigo
suficientemente profundo para me impedir de to dizer…vezes e vezes sem conta… a meu lado. Vi-nos a aterrar de forma ligeira, calmamente, sem arrependimentos
aquilo que estava cravado no coração, e percorria as veias todas…latejava-me nas a forçarem-nos para o chão, sem desgostos pesados puxando-nos violentamente.
têmporas e impedia-me de desviar o olhar de ti, do teu rosto emoldurado pelas Sinto que ainda hoje as lágrimas que choro por ti brilham de forma diferente…
luzes da cidade que se reflectiam no rio lá em baixo… gosto de as saborear porque te avivam na minha memória com o sabor carregado
…Como uma fotografia a imagem dos dois pára no tempo, e fica em suspenso de que estão imbuídas. Sinto que trazem reflectidos nelas os momentos que
na minha mente que vagueia, e voa para a tua cidade, e para aquele momento partilhámos, o teu rosto, as nossas mãos entrelaçadas em arranjos complexos
e para tudo quanto éramos…Como dói o golpe da nostalgia no peito, que como de dedos (que mais ninguém a não ser nós conseguia desfazer, ainda que com
ferida aberta arde alastrando para o corpo todo, como se fosse os teus dedos a alguma dificuldade).
percorrerem-me a pele arrepiada…(por mais que eu tentasse tinha sempre frio e - “C’est vrai? Tu entends ce que je veux te dire?” – perguntaste ainda a medo.
contava apenas contigo para me aqueceres durante aquelas noites). - “Oui...Je sens le même…On a qu’arreter…on est prés de finir” – tínhamos de
- “Je vais jamais t’oublier…tu seras dans ma memoire et mon coeur pour toujours…” voltar a nós próprios por mais que nos quiséssemos manter assim. Sabia-lo tu e
– je vais rappeler ces mots pendant toute ma vie…o doce de cada palavra que eu. Decidi tomar um último passo…quase como as últimas gotas de tinta na nossa
vertias entre baforadas da tua cigarrilha deixava-me extasiado e o fumo que estória. – “On y va?”
eu, inevitavelmente, inspirava por te agarrar demasiado perto, adocicava-me a - “Oú veux-tu aller?” – perguntaste-me ainda fungando, extinguindo as últimas
garganta e os pulmões. A névoa leitosa sobrevoava na frente dos teus olhos… lágrimas que te ardiam nos olhos brilhantes.
Ah…tes yeux…comme j’adorais tes yeux…Por mais que tente creio que nunca vou - “On va prendre un dernier verre…” – confortei-te esfregando os braços nos
conseguir recordar-me deles com exactidão, de tanta perfeição neles reconhecer… teus para afugentar o frio da brisa que emanava do rio. Ensaiei o braço para que
mesmo com o teu piscar de olhos descoordenado conseguia ver neles aquilo que pudesses encaixar o teu. Assim o fizeste e caminhámos ponte fora.
eu sempre buscara, e que ainda hoje não consigo precisar por palavras… Que saudades dos passeios à beira-rio…da luz da cidade…do cheiro a ti…de tudo que
- “Amo-te tanto que me dói quando me apercebo que não te vou ter eternamente…” me faz lembrar de nós os dois…e do que vivi por terras estrangeiras…Engraçado
– não entendias uma única palavra de português, mas a lágrima que brilhou no como tanta coisa pode ver-se esquecida em favor de uma só pessoa…tu.
canto do teu olho esquerdo denunciou que as minhas palavras se tinham traduzido - “Un dernier verre pour la route?” – perguntaste-me timidamente, de queixo caído
instantaneamente e que lhes havias captado o significado…ainda que as não em vergonha da tristeza dos teus olhos.
reconhecesses no teu vocabulário. - “Oui ma chére…un dernier verre pour la route.” – sorri-te e ergui-te o rosto com
- “Je veux que tu sais que…” – engasgavas-te com o embaraço que te surgia na os dedos para encontrar os teus lábios com os meus. No silêncio do nosso beijo
garganta, e o embargo da voz fazia-te recolher o rosto como se envergonhada pela despedi-me contendo as lágrimas que sentia escondidas…
fragilidade que cada palavra, cada pausa…cada suspiro teu exalava contra a tua E ainda hoje te lembro…e ainda hoje choro lágrimas das que guardei nessa
vontade… altura…
Adorava quando te fazias de forte. Movias montanhas para conseguires arrancar
do teu âmago uma lasca de coragem…mesmo que não passasse apenas de uma Pedro Palrão
pequena migalha, um pequeno vestígio do que algum dia serias capaz (sentia * baseado na música do mesmo nome dos Beirut
sempre que só o conseguirias deveras assim que eu deixasse de estar contigo.
Eras daquelas pessoas que necessitavam de alguém, mas a existência desse
alguém a quem te entregares bebia-te a energia que deverias reter para ti.)
- “Tu n’as rien à dire…je l’ai compris.” – esperava-o porque to queria dizer também.
A primeira vez que o lera nos teus olhos tremera por dentro, sentira tombar sobre
mim o peso do Mundo. Mas, aos poucos, o Mundo aliviou, e senti o quão irreversível
se tornara tudo, o quão efémero fora tudo desde o início. Havíamos cravado em
nós sentimentos um pelo outro que para sempre carregaríamos, mas faltavam- 45
HOLGA
ELENA CUROTTO

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©2005-2007 E357
Info + Contact: www.e357.hu

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