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Belo Horizonte | Casa Fiat de Cultura

de 13 de agosto de 2009
a 13 de outubro de 2009

São Paulo | Masp Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand

de 27 de outubro de 2009
a 13 de dezembro de 2009

“França.Br 2009” – Ano da França no Brasil (de 21 de abril a 15 de novembro) é organizado:


No Brasil: pelo Comissariado Geral Brasileiro, pelo Ministério da Cultura e pelo Ministério das
Relações Exteriores. Na França: pelo Comissariado Geral Francês, pelo Ministério das Relações
Exteriores e Europeias, pelo Ministério da Cultura e da Comunicação e por Culturesfrance.

2
Organização Hélène Pinet Musée Rodin

3
4
14 INTRODUÇÃO

sumário
16 Auguste Rodin
Escultura e fotografia
Dominique Viéville
20 História de uma coleção
Hélène Pinet
26 A emancipação de uma nova
disciplina artística, a fotografia
Sylvester Engbrox

30 DO ATELIÊ AO MUSEU
32 No ateliê
O olho do fotógrafo. O olhar de Rodin
Hélène Pinet
80 “Rodin só vê através dele”
Eugène Druet
Hélène Pinet
120 Uma casa artística de edições fotográficas
Jacques-Ernest Bulloz
Marie Garet

144 A ESCULTURA COMO TEMA DA FOTOGRAFIA


146 Modelar a luz
Carrière, Rodin e os fotógrafos pictorialistas
Cédric Lessec
160 Uma associação efêmera
Stephen Haweis e Henry Coles
Hélène Pinet
182 Em busca da cor
Jean Limet
Hélène Pinet
196 “Suas fotografias farão o mundo
entender o meu Balzac”
Edward Steichen e Rodin
Hélène Pinet

ANEXOS
222 Biografia de Rodin
224 Biografia dos fotógrafos
228 Exposições
230 Autores
231 Bibliografia
233 Fichas técnicas
237 Agradecimentos

5
Em 2005, a França acolheu o Brasil, com Uma França que se inquieta e se questiona,
grande prazer e imenso sucesso, um Brésil- em constante mutação, ao ritmo da evolução
Brésils múltiplo, enraizado no presente e de sua sociedade, que é tão diversa quanto a
na modernidade, sem nada perder de brasileira. Uma França que cria a partir de suas
sua influência sobre o imaginário. inter­rogações, contemplando o mundo.
Em 2009, o Brasil abre generosamente Uma França, sobretudo, que olha para
suas portas à França. Algumas centenas o Brasil com admiração, sabendo também
de eventos estão sendo organizados por todo o que ela ainda pode lhe oferecer. Uma
o país, em todas as áreas, refletindo uma França que, desde Jean de Léry até o rapper
sede de compreendermos, de trabalharmos, MC Solaar, passando por Blaise Cendrars
de criarmos em conjunto. e Claude Lévi-Strauss, se nutre da cultura
Mas qual França o Brasil vai receber? brasileira, multi­pli­cando assim suas
Uma França orgulhosa de sua memória, reflexões e seus impulsos.
evidentemente, uma memória viva, que O nome deste Ano é França.Br 2009.
A França é convidada a percorrer o Brasil e
ela gosta de partilhar muito além de
seu imaginário tão rapidamente quanto nos
suas fronteiras.
possibilitam as navegações na Internet, e assim
O Brasil, aliás, em sua alegre antropofagia,
continuar a construir uma relação forte e ativa,
buscou a França ao longo de toda a sua histó-
permitindo que franceses e brasileiros atuem
ria, assimilando-a e metamor­foseando-a a sua
em conjunto sobre o mundo.
maneira. Desse interesse que os países têm
um pelo outro resulta o desejo de reencontrar
Yves Saint-Geours
as ideias, as imagens e os sabores, para
Presidente do Comissariado Francês
prolongar essa alegria de se conhecerem  
e de se surpreenderem mutuamente. Danilo Santos de Miranda
A ambição do Ano da França no Presidente do Comissariado Brasileiro
Brasil é também a de mostrar imagens e propor-  
Anne Louyot
cionar sensações de uma França diferente, mais
Comissária-Geral do Comissariado Francês
contrastante e aventureira do que poderíamos  
imaginar. Uma França que adora provar outras Embaixador Roberto Soares de Oliveira
culturas, explorar outros territórios. Comissário-Geral do Comissariado Brasileiro
Quando visitei o Museu Rodin, em Paris, no doida coragem e a certeza de que tudo daria
fim de 2008, para verificar a condição real certo, sem um segundo de dúvida, “volver
de trazer para a Casa Fiat de Cultura a exposição a los diecisiete”.
Rodin: do Ateliê ao Museu - fotografias e A cálida acolhida da direção do Museu
esculturas, além de muita esperança, levava Rodin – tanto para nossa visita quanto para
comigo certa emoção, e justificada: a de a intenção de trazer a exposição ao Brasil
saber ser possível fazê-lo. – aumentou ainda mais a emoção. Deixei
A importância da mostra, a grandeza do a França em estado de graça e permaneço
artista, a alegria de apresentá-lo ao público nele até agora.
brasileiro sob a forma dessa exposição tão É essa emoção juvenil que desejo dedicar
especial, única mesmo, tudo isso contrastava a todos que conspiraram por essa realização.
Uma exposição desse grande artista francês,
com a memória recente dos apenas três anos
no Ano da França no Brasil, patrocinada por
de história de nossa Casa Fiat.
uma empresa de orgulhosa gênese italiana,
O começo difícil dessa bem-
faz saber que a Casa Fiat de Cultura é uma
sucedida aventura, marcada pela
casa brasileira, com certeza.
completa e confessa inexperiência,
teve a compensação de uma volta à juventude:
fazer, àquela altura da vida, algo de inteira-
José Eduardo de Lima Pereira
mente novo, encarar o desconhecido com Presidente da Casa Fiat de Cultura
Conhecer os bastidores da criação de um elaboração de uma obra explique seu sentido
artista é tão atraente quanto ver suas obras. interior, último ou primeiro. O segundo
Embora exista nessa prática um toque de merece destaque. O artista não se equivoca
perver­sidade, isso pode ser até mais atraente ao ressaltar algo que lhe interessa em sua
do que ver as obras elas mesmas. obra, ainda mais quando se trata de uma arte
Saber se seu ateliê era sujo ou limpo, se ele que se desdobra nas várias dimensões do
usava seus modelos desse ou daquele modo, espaço-tempo em vez de revelar-se, imóvel,
se fazia ou não correções e quantas e onde: em um único plano real (e dois imaginários),
tudo isso é mate­rial de primeira grandeza como na pintura. Ele sabe ou intui que essa
para o observador. obra sempre será malvista quando exposta.
No caso de Rodin, esse outro lado da criação, Primeiramente, porque os visitantes em um
ao redor da fotografia, é particularmente museu (e também em uma galeria) passam
rele­vante. Rodin e a fotografia surgiram rapidamente por ela: alguns poucos segundos
juntos para a arte. Rodin nasceu em 1840 e pronto. Em segundo lugar, porque mesmo
e a primeira imagem fixada em papel sob a um obser­vador atento – novamente, a come-
ação da luz, em 1839. Para muitos artistas do çar por ele mesmo – pode deixar escapar
período, o aparecimento da fotografia teve aquele que é o centro da obra, aquilo ao redor
importância decisiva, “liberando-os” de do que a obra foi feita e que é apenas seu
encargos da representação que a fotografia contexto, seu entorno. “Apenas” é modo de
podia assumir – a verossimilhança entre eles. dizer. Na grande obra, tudo é necessário. Mesmo
O impressionismo, como o abstracio­ assim, há quase sempre um ponto nodal onde
nismo, seria dificilmente concebível está “o coração da matéria”. E a fotografia
sem a fotografia, e o próprio Rodin dirige o olho para esse ponto. Isso pode viciar
viu-se livre para fazer de sua escultura a percepção. E o olhar contemporâneo,
algo diverso do que havia sido até acostu­mado à fotografia e ao cinema, se
então o espírito dessa arte. banqueteia nesse vício que é seguir o olho do
Mais do que muitos artistas, Rodin outro. Mas, no caso de Rodin – antes de mais
usou a fotografia, senão para ajudá-lo nada porque é o olho dele mesmo que está
na elabo­ração de suas obras, pelo menos com em jogo –, aceitar o convite que ele assim
dois objetivos precisos: documentar seu pro- faz, a partir das obras que o Masp exibe, com
cesso de criação e orientar o olhar do a colaboração da Base7 e o patrocínio da Fiat
observador – a começar pelo próprio – para Automóveis, é uma operação que amplia
algum ponto que julgava fundamental. a esfera de presença de sua obra.
Da importância do primeiro não é preciso falar
– embora se cometa com frequência o erro
Teixeira Coelho
de acreditar que ver o processo material de Curador Coordenador do MASP
12
A exposição Rodin: do ateliê ao museu – retirada do próprio jardim do Musée Rodin,
fotografias e esculturas, que integra o onde se encontra instalada, bem como uma
conjunto de ações comemorativas do Ano versão de L’Éternel printemps [A Eterna
da França no Brasil, possibilita a compreensão primavera] e a escultura Les Bénédictions
da obra do artista pelo cotejamento entre um [As Bênçãos], uma de suas mais bonitas peças
importante conjunto de 22 esculturas e a em mármore, nunca antes expostas fora
seleção de 194 fotografias originais, que retra- do museu parisiense.
tam fases do processo criativo do artista francês A possibilidade de colocar um olhar inovador
em seu ateliê, de 1880 a 1917. sobre a obra de Rodin ao alcance do público
Essas imagens nos permitem outra brasileiro, por meio desta exposição, é motivo
aproximação do fazer artístico do escul- de orgulho e satisfação para a Base7 Projetos
tor, por meio da percepção de diferentes Culturais. Tal tarefa, contudo, não teria sido
momentos de sua criação e seu trabalho, possível sem a colaboração e parceria da equipe
o que, por si só, já se trata de um do Musée Rodin, da Casa Fiat de Cultura e
privilégio. Mas a importância da mostra do Masp Museu de Arte de São Paulo Assis
está também no ineditismo da apresentação de Chateaubriand, a presença decisiva da Fiat
certas esculturas, como a monumental Les Trois Automóveis e o apoio do Banco Itaú e do
ombres [As Três sombras], que está sendo Ministério da Cultura a quem aqui agradecemos.

13
14
Introdução
15
Dominique Viéville O Musée Rodin conserva em seus arquivos passaram a figurar em várias exposições para
Auguste Rodin
Escultura e fotografia

e coleções cerca de 25 mil fotografias. as quais foi solicitada sua participação.


Entre elas, as que foram encomendadas Com a criação do Musée Rodin, em 1919,
ou reunidas por Rodin formam um conjunto esse acervo fotográfico, que tem como tema
de aproximadamente 7 mil imagens. quase exclusivo a escultura de Rodin, perma­
De diferentes maneiras, elas retratam neceu fechado por bastante tempo.
a atividade de seu ateliê, desde 1877, ano das Como lembra Hélène Pinet no ensaio
primeiras fotografias documentadas e conser dedicado à história da coleção, foi preciso
vadas, até a morte do escultor, em 1917. Elas aguardar pelos anos de 1960 e, principalmente,
foram feitas por profissionais hoje esquecidos, pelos de 1970 para que os pesquisadores e a
identificados pelas faturas encontradas nos própria equipe do museu manifestassem um
arquivos do artista, como Gaudenzio Marconi, novo interesse por esses arquivos fotográficos,
Charles Michelez, Charles Bodmer, Victor ao mesmo tempo que se iniciou, significativa-
Pannelier e D. e E. Freuler; por fotógrafos mente, o trabalho sistemático de identificação,
amadores que frequentavam o ateliê, como inventariação e documentação do conjunto
Eugène Druet e Jean Limet, patinador de das obras esculpidas provenientes do ateliê.
bronze, e por um fotógrafo editor, Ernest A partir de então, a maior parte das expo-
Bulloz, que dirigia uma agência especializada sições organizadas pelo Musée Rodin com suas
na reprodução de obras de arte. A partir de principais esculturas fez uso, também, das
1900, jovens fotógrafos pictorialistas norte- fotografias a elas relacionadas. Simul­ta­nea­
americanos, ingleses e alemães, como Edward mente, o museu tomou a iniciativa de realizar
Steichen, Alvin L. Coburn, Stephen Haweis, outras exposições dedicadas especificamente
Henry Coles, Gertrude Käsebier e o barão ao estudo do acervo fotográfico: Les
Adolphe de Meyer, que pediram ao artista Photographes de Rodin (1986), Rodin et ses
licença para fotografar suas esculturas e, modèles. le portrait photographié (1990),
às vezes, para fazer seu retrato, possibilitaram Photographie et sculptures (1991), Le Salon
a Rodin constituir uma coleção de suas obras, de photographie. Les écoles pictorialistes en
que ele conservou com muito zelo. Europe et aux États-Unis vers 1900 (1993).
A partir de 1896, em Genebra, e mais Em 1877, Rodin pediu a Gaudenzio Marconi,
tarde, em 1899, em Bruxelas e nos Países artista-pintor e fotógrafo de Bruxelas, que
Baixos, Rodin fez com que fotografias figuras- fotografasse o gesso de L’Âge d’airain [A Idade
sem nas exposições, ao lado de suas esculturas. do bronze], bem como seu modelo, Auguste
A mostra por ele organizada no pavillon de Neyt, como provas destinadas a se livrar das
l’Alma, em 1900, por ocasião da Exposition acusações de reprodução natural feitas pelo
Universelle [Exposição Universal], reuniu 71 júri do Salon [Salão]. Aqui, Rodin considerou a
fotos, cuja venda contri­buiu para a divulgação fotografia um testemunho visual, tão verídico
de sua obra. Depois de 1900, as fotografias quanto a visão direta que se podia ter das reais
condições de elaboração da obra. Essa concep- No entanto, o escultor não limitou a isso ensejavam intervenções plásticas espontâneas
ção se adapta perfeitamente à maneira pela o emprego da fotografia. Ela não só lhe no momento de sua realização. As imagens
qual a fotografia vinha sendo produzida e permitiu atender à crescente demanda, a resultantes de tais gestos são de uma poesia
concebida desde os anos 1850: uma técnica de partir de 1880, de ilustrações para a imprensa surpreendente, que, pela visão que impõem,
impressão de objetos, desprovida de qualquer artística7 como também, e sobretudo, foi transcende a escultura. Por exemplo,
artifício e aplicada com o auxílio de procedi- utilizada por ele como um meio veloz de ele cobriu com uma folha de papel a cabeça
mentos mecânicos e industriais1. É essa reprodução de suas esculturas e seus dese- do molde de gesso de La Pensée [O Pensa­
capacidade da fotografia de restituir, de modo nhos, de modo a configurar um conjunto de mento] e colocou uma bola de pano sobre
eficaz, informações visuais sobre suas obras2 imagens que ele usaria como documentação o ombro de La Femme accroupie [A Mulher
que Rodin utilizou para diversas finalidades. destinada tanto a traduzir seu trabalho agachada], suficiente para transformá-la
As mesmas fotografias do gesso de L’Âge quanto a ampliar sua circulação. em uma cariátide.
d’airain foram usadas também como modelo A ligação entre escultura, fotografia e Para que as imagens fotográficas atendes-
para os desenhos que ele realizou com base desenho constituiu, para Rodin, uma incitação sem a sua preocupação de divulgação, venda,
nessa escultura. Em algumas dessas fotografias, constante para que suas obras fossem promoção e interpretação da obra, Rodin exigiu
como em outras empregadas com finalidades consi­deradas fontes sujeitas a novas interpreta- que os fotógrafos se submetessem a seu
semelhantes, como as de Saint Jean-Baptiste ções. Com a justaposição ou a colagem de controle. No contrato assinado com um deles,
[São João Batista], o contorno do motivo central fotografias de esculturas, ele realizou novas Ernest Bulloz, ele manteve para si “a direção
é destacado com guache, a fim de isolá-lo, combinações de grupos e figuras ou, ao contrá- artística da reprodução de suas obras no que
procedimento então empregado pelos editores rio, as dissociou. A fotografia passou a ser tange à iluminação e à forma de exposição”.
de fotogra­fias de arte3. Essa prática de definir o então, em suas mãos, um material integrante Segundo outros testemunhos, ele também
contorno visava a facilitar a produção de dese- do processo criativo. Ele a utilizava como uma participava no momento da tomada da
nhos destinados à ilustração pelos gravadores maquete de duas dimensões, com a intenção imagem, interferindo na definição do enqua­
encarregados de sua reprodução, tendo como de experimentar de maneira rápida outras dramento, da iluminação e dos ângulos de
resultado a eliminação de “qualquer outra possibilidades de montagens. visão. Esse interesse, além de se inscrever
referência e fazendo da impressão o único sinal A flexibilidade no uso dessas imagens na continuidade imediata da história da foto-
da imagem”4. Várias vezes, Rodin utilizou foto- lhe permitiu também modificá-las e alterar grafia, a qual, desde a origem, viu na escul-
grafias retocadas em guache das próprias obras seu sentido, completando-as com crayon tura um de seus objetos preferidos, também
como modelo, em especial para os desenhos ou tinta a fim de conferir ao grupo submetido expressa a proximidade existente entre as duas
que realizou de 1887 a 1888, com o objetivo a esse tipo de manipulação um novo ponto artes, cuja similaridade prática, como escrevem
de ilustrar uma edição de As Flores do Mal, de apoio, uma nova base e, consequente- Michel Frizot e Dominique Païni, reside, antes
a pedido de Paul Gallimard5. mente, um novo significado. de tudo, “na produção de uma imagem,
Esses desenhos que Rodin produziu Essas intervenções gráficas aplicadas direta- sempre mais próxima do real, mais indicial
a partir de fotografias de suas esculturas mente nas fotografias foram além de meras do que a pintura jamais chegou a ser”.
fazem desse meio um instrumento que atua indicações que ele podia fazer para seus A esse respeito, os dois autores precisam,
direta­mente no processo estético de criação auxiliares a fim de corrigir um pedestal, por outro lado, que a equivalência entre uma
gráfica. Como destaca K. Varnedoe6, tais modificar detalhes de um mármore ou enfati- e outra se manifesta também “no vocabulário
desenhos não são apenas meras reproduções zar determinado movimento. Elas consti­tuíram (tiragem, multiplicidade, impressão, ampliação,
de uma imagem fotográfica. Seu caráter verdadeiras construções gráficas, que fizeram redução, colagem) [...], chegando a propor
ilusionista e os procedimentos gráficos adota- dessas fotografias obras em si mesmas, teste- conjuntamente, ao escultor e ao fotógrafo,
dos, que os diferenciam dos outros feitos na munhando a vontade de Rodin de apropriar-se uma mesma atitude, a do desejo do ‘ponto
mesma época, reforçam os efeitos de claro- delas por meio de traços e da expressividade. de vista’, a saber: as duas abordagens conver-
escuro ou de intensa luminosidade. Em momentos mais raros, as fotografias gem para a possibilidade ideal de o espectador

17
modificar a forma global da escultura através L’Ombre [A Sombra] ao de La Méditation escapou a Rodin, que, comentando os traba-
da variação do ponto de vista e para a fixação [A Meditação], adquirem, então, as qualida- lhos de Steichen, declarou: “Acredito que
sempre inacabada desse potencial infinito do des de uma visão imaginária de concepção a fotografia pode criar obras de arte, mas,
olhar por meio do registro fotográfico”8. Nos mais pictórica do que plástica9. até o momento, ela tem se mostrado terrivel-
marcos desse relacionamento, várias fotografias Durante os anos 1890-1900, essas caracte­ mente burguesa e balbuciante. Ninguém
tiradas no ateliê de Rodin, sob sua direção, rísticas que a fotografia conferia às obras de imaginava o que poderia vir daí; ainda hoje
expressam a evidente preocupação de proceder Rodin contribuíram para afastá-las, consequen­ não sabemos o que se pode esperar de um
de modo que elas se façam conforme a visão temente, do estigma de que a escultura é uma processo que suscita um sentimento tão
do artista. Aumentando por vezes a quantidade arte cujo realismo seria inerente a sua própria profundo, uma interpre­tação tão completa
de pontos de vista sobre uma mesma obra ou materialidade. Elas corroboraram a imagem do modelo, tal como ocorre a partir das
então exibindo-a por diferentes lados, porém, de Rodin como “um vidente, um escultor mãos de Steichen [...]. Para mim, tanto faz
essas imagens expressam também seu desejo capaz de moldar visões”10. se a fotografia interfere ou não. Não sei
de abranger todo o movimento contido O apreço que Rodin manifestou, desde o qual é o nível de interpretação específico de
na matéria, tal como ele o estabelecera começo do século, pelos trabalhos dos fotó- Steichen e não vejo nenhum mal, tampouco
ao moldá-la a partir de um modelo vivo. grafos pictorialistas que o procuravam para importância, em saber quais meios ele
As possibilidades abertas pela escultura e retratar suas obras reforça esse papel que a utiliza para chegar a esse resultado. O que
pela fotografia de reproduzir obras valendo- imagem fotográfica é chamada a desempenhar me importa é somente o resultado, o qual,
se de recursos mecânicos – uma por meio em sua relação com a escultura. As fotografias de todo modo, tem de ser explicitamente
de moldes, outra por meio de tiragem em de Jean Limet, Stephen Haweis, Henry Coles, uma fotografia. Sendo obra de um artista,
série – deram ensejo a facilidades que foram Alvin L. Coburn e Edward Steichen criaram, será sempre interessante”11.
bem exploradas pelo escultor. a partir de então, a ilusão de um espaço Essa história complexa das relações
As fotografias no ateliê exibem as obras pictórico que desmaterializa os volumes, entre a fotografia e a escultura de Rodin,
em seus mais diversos estágios, de argila, rompe com a conti­­­­­­nuidade das superfícies, assim como a maneira pela qual uma se
gesso, bronze ou mármore, vistas simultânea esbatidas e dissolvidas, a ponto de negar a envolveu no desenvolvimento e na interpre-
e isoladamente, sob a forma de fragmentos, integridade das esculturas em sua massa. Tais tação da outra, constitui o tema deste livro
em versões ampliadas, mármores em pro- imagens, portanto, atuam menos em sua e da exposição organizada pelo Musée Rodin,
cesso de execução ou já concluídos. correspondência com a pintura – como a de sob a curadoria de Hélène Pinet e a assis­
tência de Sylvester Engbrox.
O que essas fotografias mostram, e que Eugène Carrière, tão frequentemente mencio-
Rodin nunca escondeu dos vários visitantes nado a esse respeito – do que como um meio
1
Snyder, 1998, p. 30.
de seu ateliê, é esse caráter de reprodutibili- de questio­namento da existência física da 2
Johnson, 1998, p. 2.
dade de sua obra, como um princípio escultura e de sua percepção. São contemporâ- 3
Snyder, op. cit., p. 30.
4
Frizot, Païni, 1993, p. 60-70.
integrante de sua elaboração, retratado em neas das interrogações modernistas e críticas 5
Pinet, Salamanque, 2002, p. 35-36.
6
Varnedoe, 1982, p. 203-204.
inúmeras imagens fotográficas. Além disso, levantadas à época no que tange à escultura 7
, Salamanque, 2002, p. 22. A partir de 1880, instaurou-se um processo
elas também revelam a capacidade da foto- tradicionalmente definida como uma arte que ia da criação à divul­gação da obra e que obrigou Rodin a recorrer à
fotografia.
grafia – sobretudo as de Eugène Druet – de tridimensional submetida a processos mecâ­ A encomenda, pelo estado, de La Porte de l’enfer [A Porta do inferno] e a
transformar a identidade material das escultu- nicos de reprodução. descoberta do trabalho do escultor por vários críticos ensejou uma significativa
demanda de ilustrações destinadas à publicação em revistas especializadas,
ras em objetos visuais baseados nas relações O fato de as fotografias, que abalam como L’Art ou La Gazette des Beaux-Arts, o que fez Rodin recorrer a fotógrafos
como Charles Bodmer, Michelez, Pannelier e Freuler. Até 1904, as fotografias
formais que algumas dessas imagens estabele- significativamente a integridade visual da produzidas para esse fim eram algo intermediário entre a escultura e a xilogravu-
cem entre a matéria, o volume e a luz ou entre escultura, não mais serem meras reproduções ra, técnica utilizada mais frequentemente pelos impressores para a reprodução.
8
Frizot, Païni, 1993, p. 10.
as próprias obras. As imagens que resultam mecânicas e sim derivarem de uma elabora- 9
Potts, 1994, p. 356.
Chevillot,Catherine. “Réalisme Optique et Progrès Esthétique: la Fin d’un Rêve”,
da mise-en-scène de certas esculturas, como ção técnica complexa, constituindo elas
10

Revue de l’Art, número 104, 1994, p. 22-26.


aquela em que Rodin associou o gesso de mesmas verdadeiras obras de arte, não 11
Pinet, 1985, p. 73.

18
jacques-Ernest Bulloz
Femme accroupie dans le jardin
de la Villa des Brillants à Meudon
[Mulher agachada no jardim da
Villa des Brillants, Meudon]
Tiragem a carvão
Ph. 1297 | Musée Rodin | Paris

19
Hélène Pinet
História de uma coleção

“Uma imagem é mais do que uma o escultor se insere, por sua vez, em uma
imagem e, às vezes, mais do que o história muito mais ampla.
próprio objeto de que é imagem” O discurso que apresentava os artistas
Paul Valéry do século 19 como inimigos encarniçados da
fotografia já não se sustentava. A descoberta
Ao conservar sistematicamente tudo aquilo ou, simplesmente, o estudo de diferentes
que constituía seu universo, tanto quanto a acervos ao longo das últimas duas décadas
própria obra, não há dúvida de que Rodin não tornou possível dimensionar o quão rapida-
pensava no futuro de seu prestígio nem no mente a imagem fotográfica invadiu os ateliês,
efeito secular de seu trabalho. Coleções de ocupando lugar na documentação reunida por
antiguidades greco-romanas, mas também pintores e escultores e desempenhando um
miniaturas persas e estampas japonesas, recor- papel decisivo na divulgação de suas obras.
tes de imprensa, livros, revistas, cartas e Se alguns exprimiram ruidosamente sua hostili-
arquivos fotográficos, foram preenchendo as dade em relação à nova técnica, eram apenas
gavetas, vitrines e estantes de seus ateliês e suas árvores que escondiam a floresta (ils.1 e 2).
moradias ao longo dos anos. Esse amontoado de Os escultores, familiarizados, por dever de
objetos e documentos constitui um aspecto ofício, com as múltiplas metamorfoses de uma
fundamental do universo rodiniano. Escultores obra, nunca viram a fotografia como uma
como Antonio Canova e Bertel Thorwaldsen já concorrente desleal, capaz de colocar em
haviam mostrado, no começo do século 19, essa cheque seu savoir-faire. Da argila ao gesso,
mesma vontade de conservar coleções e papéis do mármore ao bronze, a ronde-bosse1 passa
diversos. Eles foram seguidos, no século 20, por pelas mãos de diversos atores, sem que cada
vários artistas, que levaram essa obsessão a um deles se sinta, por isso, desapropriado de
ponto de transformar seus arquivos em obras sua autoria. Sua representação fotográfica era
de arte. Boîte-en-valise, de Marcel Duchamp, apenas mais uma forma de tradução, agora em
tal como Time capsules, de Andy Warhol, e duas dimensões. Ao longo de toda a sua carreira,
The Atlas, de Gerhardt Richter, são os primei- Rodin estimulou a ampliação da obra em termos
ros exemplos que nos vêm à mente. de quantidade, visão, criação e interpretação.
As fotografias conservadas por Rodin O par fotografia-escultura existe desde o
inserem-se, portanto, em um conjunto com surgimento das primeiras imagens fotográficas.
múltiplas ramificações, e só podem ser A similitude prática e a produção de uma ima-
compreendidas à luz desse conjunto, de tão gem cada vez mais próxima do real encontram
estreitamente ligadas que estão, seja por seu sua expressão em um vocabulário comum. Nas
caráter, seja por sua forma, a seu trabalho duas disciplinas, fala-se em reprodução, amplia-
gráfico e escultural, bem como a sua vida ção, tiragem, provas, placa de metal e de vidro,
mundana e profissional. O uso que delas fez positivo e negativo, profundidade e relevo2.
mas também a gerenciar um ateliê (il. 3)4.
A coleção de fotografias que ele formou ao
longo de sua carreira reflete, ao mesmo tempo,
seu percurso como escultor e as evoluções
técnicas desse suporte, surgido em 1839, um
ano antes de seu nascimento. Rodin utilizava
zelosamente esse conjunto de imagens para
divulgar e vender suas obras de 1880 a 1917,
ano de sua morte. É interessante observar
que suas palavras são frequentemente críticas
em relação à fotografia, mas elogiosas com os
fotógrafos. Ele fez um alerta, por exemplo,
ao diretor do museu de Brême, que manifes-
tou a intenção de adquirir mármores e a
quem enviou algumas fotografias: “Pois a
il. 1 Anônimo il. 2 Duchênes (?)
Atelier de Malvina Hoffman Rodin travaillant d’après
foto­grafia não dá uma ideia de minha escul-
[Ateliê de Malvina Hoffman] un modèle féminin torse nu tura. Faço modelos ronde-bosse e a foto,
c.1913 | Prova em gelatina e prata [Rodin trabalhando a partir portanto, só capta uma quarta parte do
Ph. 1316 | Musée Rodin | Paris de modelo feminino com torso nu]
Malvina Hoffman foi aluna de Rodin. Nessa fotografia c. 1895 | Albúmen objeto, que não pode então ser totalmente
que dedica a seu mestre, veem-se na parede de seu ateliê Ph. 2005 | Musée Rodin | Paris compreendido”. Ele reco­nheceu, porém,
reproduções de obras de Rodin: La Pensée [O Pensamento],
La Danaïde [A Danaide], Madame Vicuña [Senhora Vicuña] o poder da imagem de tornar visível aquilo
que é impalpável ao transmitir seus cumpri-
mentos a Edward Steichen: “Suas fotografias
A história dessa dupla foi, a partir disso, de um objeto que possuísse tanto interpreta- farão o mundo entender meu Balzac”.
escrita do ponto de vista dos fotógrafos ou dos ções quanto pontos de vista. Se, em um primeiro momento, os esculto-
escultores, em um movimento pendular que No fim do século 19, sucedeu-se, em ritmo res transferiram para outros os cuidados na
dava mais destaque para um ou para outro lado. acelerado, uma série de aprimoramentos técni- reprodução de suas obras, com o apoio das
Durante os anos 1840, Daguerre, Fortier cos, facilitando cada vez mais a manipulação novas técnicas, alguns, como Antoine
e Fizeau, os pioneiros da fotografia, e depois de uma mesma imagem, tornando possível Bourdelle, deram um passo a mais, tornando-se,
Henry F. Talbot e Hippolyte Bayard procuraram sua reprodução em papel e sua multiplicação. por sua vez, fotógrafos5. Podemos crer que
a sua volta aquilo que melhor se prestasse Os escultores logo passaram a usufruir todas as esse auxiliar de Rodin, presente em seu ateliê
a seus experimentos. Seus olhares se dirigiram suas vantagens, tornando-se usuários de repro- da rue de l’Université durante vários anos,
para as estatuetas de gesso ou mármore, duções. Carpeaux utilizou esse suporte na venda sensibilizou-se com o problema da reprodu-
réplicas de antiguidades, e também para de suas obras, enquanto Cordier encomendou ção e da divulgação fotográfica. Talvez tenha
outros itens em voga à época e que decoravam a Charles Marville um álbum reunindo 19 aprendido algumas noções técnicas com os
o interior das residências burguesas. A imobi­ fotografias de seus bustos etnográficos3. próprios fotógrafos que trabalharam para
lidade e a alvura dos materiais, que atrai Carrier-Belleuse, um escultor muito em voga Rodin. Com efeito, apesar de às vezes utilizar
a luz, faziam deles os modelos ideais, pois sob o Segundo Império e cujo ateliê empregava o serviço de profis­sionais, Bourdelle racioci-
o tempo de abertura de seus equipamentos vários auxiliares, também tirou partida dessa nava, como muitos outros o fizeram depois,
era bastante longo. O interesse pela escul- forma de divulgação. Rodin, que trabalhou que era melhor ele próprio traduzir direta-
tura, porém, não se limitou à busca de um durante muito tempo a seu lado, aprendeu mente sua obra em duas dimensões, e as
objeto estático e fotogênico, mas também com ele a modelar com rapidez e qualidade, fotografias que ele ofereceu a Rodin –

21
a quem escreveu, em 1902, passar as noites Picasso chegava a se dedicar à fotografia, passagem por Paris, ele provavelmente man-
fotografando6 – evocam as de Druet, fotógrafo mas foi Brassaï que associou seu nome teve contato com dois pesquisadores norte-
titular de Rodin, a partir de 1896. ao de suas esculturas10. americanos, Albert Elsen e Kirk Varnedoe, que
Na mesma época, o escultor italiano Por meios diversos, todos acabaram também preparavam uma retrospectiva sobre
Medardo Rosso, amigo e, depois, concorrente demonstrando como o ateliê, onde se justa- Rodin, exposta na National Gallery, de
de Rodin, desenvolvia teorias inspiradas nos põem figuras inventadas e objetos da vida Washington, em 1981. Por sua envergadura,
impressionistas e no crítico John Ruskin, às cotidiana, está no centro da criação (il. 4). essa exposição, que reava­liava a presença de
quais ele transpôs para sua escultura, demons- Rodin em sua época, marcou uma verdadeira
trando graças à fotografia. Para ele, que visava A redescoberta do acervo virada nos estudos sobre o escultor15. Embora
a fazer com que a matéria fosse esquecida, fotográfico de Rodin não tenham sido os primeiros a levar em conta,
havia uma continuidade entre a escultura em seus estudos e em sua publicação, o inte-
e a atmosfera que a envolvia. Ao contrário As fotografias que Rodin mantinha em resse dessas fotografias, eles souberam valorizá-
de Rodin, que criticava a foto­grafia por não Meudon e que divulgou amplamente em vida las e apresentá-las nas paredes de uma sala de
mostrar mais do que um lado de cada vez, passaram por décadas de esquecimento após exposições16, destacando tanto seu valor esté-
ele saiu à procura de um ponto de vista único. sua morte, em 1917. As pastas para desenhos tico quanto seu valor de uso. Esse trabalho abriu
Nesse aspecto, seguiu as ideias desenvolvidas onde estavam guardadas permaneceram fecha- portas para as pesquisas que nós realizamos
pelo histo­riador da arte Wölfflin, para quem das, algumas delas arma­ze­nadas no buraco de posteriormente.
“há um ponto de vista que predomina, pela uma lareira, na sobreloja do Musée Rodin11. Tal coleção eclética, formada por um homem
beleza e inteligibilidade”7. Essa situação de letargia perdurou até ser cujas motivações haviam fortemente evoluído
Alguns anos mais tarde, Brancusi, em rompida pela curiosidade do fotógrafo Robert entre 1876 e 1917, era apresentada como
oposição ao sistema de divisão de tarefas Decharnes, no fim dos anos de 1960, durante um conjunto, um conjunto em si mesma, mas
dentro do ateliê, engajou-se para uma volta pesquisas para uma publicação que ele prepa- também com as esculturas, os desenhos, as
ao corte direto, a um savoir-faire pessoal. rava sobre Rodin. A obra, produzida juntamente coleções, os arquivos e a biblioteca de Rodin,
Sem encontrar um fotógrafo capaz de tradu- com o escritor François Chabrun, proporciona cada uma dessas áreas lançando luz sobre as
zir no papel sua obra, bem como o clima de ao leitor um belo apanhado da diversidade demais de forma particular. Essa visão, que dava
seu ateliê, ele próprio aprendeu, com Man de imagens reunidas pelo escultor12. Mas foi conta do total das coleções, possibilitou uma
Ray e Edward Steichen, a usar a máquina. preciso aguardar a década de 1970 para que análise dos procedimentos de Rodin, bem
Suas imagens ajudaram a difundir ampla- os pesquisadores pudessem ter acesso aos arqui- como a definição de um fio condutor que
mente a visão de um artista solitário em vos do museu, graças à política de abertura conferia coerência às cerca de 7 mil fotografias
meio a suas obras, senhor da própria imagem instituída por Monique Laurent13. Os efeitos que ele havia reunido.
e, portanto, do próprio destino. “Fotografar foram imediatos, com o surgimento de vários Foi necessário tempo para limpá-las,
era, para ele, uma forma de falar sobre suas e ambiciosos projetos. Em 1979, Claude Keisch organizá-las e fazer sua triagem. À leitura
escul­turas”8. A partir de então, ele passou a inaugurou em Berlim Oriental uma exposição das rubricas então estabelecidas, o longo
se perguntar: “Por que escrever sobre minhas intitulada Rodin. As pesquisas que ele precisou trabalho de classificação que se seguiu parece
esculturas? Por que não mostrar, simples- realizar para isso lhe abriram a possibilidade simples e óbvio: de um lado, Rodin, seus pró-
mente, fotografias delas?”9. de ir a Paris, onde pôde respirar uma atmosfera ximos e amigos; do outro, suas esculturas
Ao longo do século 20, nós nos deparamos de maior liberdade. Desde a morte do escultor, agrupadas por título e, depois, por fotógrafo
com dois tipos de postura: a do fotógrafo que Keisch foi o primeiro a dedicar um artigo, em (as imagens apócrifas foram organizadas
atrela seu nome ao de um escultor – como seu catálogo, à fotografia, e, mais precisa­mente, conforme o estilo e a técnica utilizada). Essa
Brassaï e Picasso – e a do escultor que preserva a um fotógrafo, Eugène Druet, que tem uma simplicidade esconde inúmeras perguntas que
o controle absoluto de sua obra, da criação importante coleção de obras conservada pela tivemos de nos fazer e para as quais ainda
à divulgação – como Didier Veirmeren. Galeria Nacional de Berlim14. Durante sua não encontramos todas as respostas. Elas

22
alimen­taram uma reflexão permanente sobre
o conjunto da coleção. Aprendemos a ler e
até mesmo a decifrar essas imagens à luz da
evolução da carreira de Rodin e da história da
fotografia, ou seja, a voltar nossas atenções
para a imagem representada, mas também para
seu suporte, de tão indissociáveis que se torna-
ram as informações dele extraídas.
O ponto de vista adotado por Albert Elsen
em seu trabalho voltava-se à carreira do escul-
tor, com as fotografias seguindo a ordem
cronológica das esculturas, tornando difícil,
assim, a compre­ensão da evolução fotográfica
em si. Em 1982, publiquei na então recém-
criada revista Photographies um artigo, seguido
de um livro, que restabelecia uma cronologia il. 3 Antoine Bourdelle
fotográfica, mas com um parti pris que hoje Les Combattants
me parece curioso: almejando valorizar o [Os Combatentes]
c. 1901, Bruxelas
trabalho de Eugène Druet, eu mencionava Prova em gelatina e prata
primeiramente o de Bulloz, desrespeitando, Ph. 14924 | Musée Rodin | Paris

assim, a ordem estabelecida.


A chegada de Jacques Vilain à direção
do museu, em setembro de 1987, reafir- Erika Billeter realizou, em 1998, a exposição
mando as grandes linhas definidas por sua Skulptur im Licht der Fotographie.
antecessora, conferiu um espaço ainda mais Com relação às esculturas, foram publi­
1
Em francês, uma escultura em ronde-bosse significa
importante à fotografia, estimulando exposi- cados vários estudos sobre os métodos que ela foi totalmente realizada em três dimensões,
ções temáticas como Couleur du temps e Rodin utilizados por artistas como Bourdelle, Smith, e por isso pode ser observada sob qualquer ângulo.
2
De Rodin para Pauli, 27 de junho de 1905,
et ses modèles. A partir de então, a fotografia Brancusi e Medardo Rosso, para mencionar coleção Kunsthalle Bremen.
3
Steichen, 1963, cap. 4.
tem sido sistematicamente exposta com as apenas alguns exemplos. 4
Hargroue, 1975, p. 157.
esculturas e os desenhos nas mostras que Passados 20 anos desde a primeira 5
Gautherin, 2001.
6
Bourdelle a Rodin, 9 de setembro de 1902,
apresentam a obra do artista no mundo inteiro. publicação de Rodin escultor e os fotógrafos Acervo Musée Rodin.
Inúmeras exposições abordando o tema de seu tempo, as pesquisas realizadas nos
7
Heinrich Wölfflin, citado no catálogo
da exposição Pygmalion Photographe, 1985, p. 127-136.
fotografia/escultura foram realizadas: Rainer acervos e em inúmeros arquivos permi­tiram 8
Pierre Henri Roché, “Souvenirs sur Brancusi”,
L’Oeil, maio de 1957, p. 12-17.
Mason, curador do Cabinet des Estampes enriquecer, mais do que corrigir, esse estudo 9
Monod-Fontaine, Tabard, 1985, p. 25.
de Genebra, abriu o caminho, em 1985, pioneiro e apresentar os diversos agentes 10
Baldassari, 2000; Brassaï, 1964.
11
Que, em 1976, se transformou em uma sala que
com Pygmalion Photographe; Michel Frizot dessa história dentro de um contexto mais rico eu compartilhava com a senhora Prost e, depois,
e Dominique Païni ampliaram o assunto, e complexo, pois o que chega a nós são perso- com Alain Beausire, até 1997.
12
Descharnes e Chabrun, 1967.
em 1991, com um colóquio, “Sculpter/ nalidades, individualidades. Bodmer, Pannelier, 13
Diretora do Musée Rodin entre 1973 e 1987.
14
Catálogo da exposição Rodin, 1979, Berlim;
Photographier”, e uma exposição, Freuler, Druet e Bulloz respondem, cada um a 2005, Berlim.
Photographie/Sculpture; Géraldin Johnson sua maneira, às solicitações de Rodin, enquanto 15
Elsen, 1980; Varnedoe, catálogo da exposição
Rodin Rediscovered, 1981, p. 202-247.
retomou a ideia e organizou, em 1995, Limet, Haweis e Coles, bem como Steichen, 16
Essa exposição aconteceu em Washington,
o colóquio “Sculpture and Photography”; foram verdadeiros intérpretes de sua obra. em 1982, e se intitulava Rodin Rediscovered.

23
il. 4 Eugène Druet
Atelier de Rodin à Meudon
[Ateliê de Rodin em Meudon]
c. 1900 | Albúmen
Montagem de quatro tiragens
Ph. 411 | Musée Rodin | Paris

24
25
Sylvester Engerbox os obturadores de melhor performance,
A emancipação de uma nova
disciplina artística, a fotografia

“O artista deve produzir apenas as atitudes que


melhor expressem o movimento em questão, sem se permitiram a Druet trabalhar com mais
limitar àquelas que, imperceptíveis a nossos olhos, rapidez e, por vezes, dispensar o tripé.
seriam inverossímeis e ofensivas” O fotógrafo observava, fazia uma imagem,
Albert Londe mudava o ângulo da tomada e disparava
novamente o obturador. Ele se colocava
dentro de um processo de criação contínuo,
O advento do instantâneo tão espontâneo quanto o de Rodin ao mol-
dar a argila ou fazer a colagem de seus
O maior desafio dos químicos e físicos gessos. Assistia-se, assim, ao advento
que trabalhavam com fotografia e óptica, no de um elemento que mudaria o destino
século 19, consistia em reduzir a quantidade de da fotografia do século 19: o instantâneo.
luz necessária à exposição da camada fotos-
sensível. A primeira geração de fotógrafos que A encenação
trabalharam para Rodin, nos anos de 1880 a
1890, já dispunha de chapas de vidro fabricadas Rodin gostava de apresentar suas escul-
industrialmente e se satisfazia operando com turas – na maioria das vezes, em processo
um tempo de exposição relativamente curto. de execução – aos visitantes de seu ateliê
Charles Bodmer (nascido em 1854) utilizou os do depósito de mármores. Durante os anos
primeiros papéis de gelatina/prata, diferente- de 1880, os fotógrafos trabalharam acompa­
mente de Victor Pannelier (nascido em 1840), nhando seu ritmo de criação – ao menos
que continuava a ampliar sobre o papel albumi- é o que suas fotografias parecem demons-
nado1. É provável que os negativos de vidro trar. Nas imagens realizadas por Bodmer,
de Bodmer fossem ligeiramente mais sensíveis Pannelier e Freuler, o ateliê servia de fundo.
do que os de seu colega, o que lhe conferia O equipa­m ento registrava o estágio de
uma margem mais elástica quanto ao tempo avanço do trabalho do escultor, mas também
de exposição. os detalhes, as ferramentas e os objetos
Em 1896, Eugène Druet, que até então presentes em sua vida cotidiana.
possuía um equipamento amador, aparelhou-se Eugène Druet recorria pontualmente a um
melhor ao iniciar seus trabalhos com o fundo de tecido, a fim de isolar e destacar as
escultor. A partir disso, o fotógrafo passou esculturas, fazendo experiências, também, com
a adotar os formatos 24 x 30 cm e 30 x 40 cm, o efeito do claro-escuro. Ele trabalhava dentro
utilizando uma câmera em pé, do tipo Folding. da linha de concepção de Rodin, que tinha
Ele operava também com uma câmera mais plena consciência de que o emprego do fundo
recente, pequena e leve, do tipo Touriste, podia sufocar ou, ao contrário, permitir que a
com formato 13 x 18 cm. As novas emulsões, obra respirasse mais livremente2. Os bronzes, por
preparadas com gelatina e prata, assim como exemplo, eram normalmente fotografados sobre
um fundo escuro. Para fazer a tomada do Buste estéticas da máquina registradora, imbricando
de Jules Dalou [Busto de Jules Dalou] (obra 87), a realidade na imagem. Essa simbiose lançou
ele utilizou um mármore como refletor natural. a obra de Rodin ao século 20.
A linha suavizada do perfil sobre esse fundo
claro ganhou, assim, em naturalidade e se O poder da iluminação
contrapôs à parte de trás do busto, em fundo
escuro, o qual, por sua vez, deixou bem claro O controle da luz é um aspecto crucial (il. 3).
que se tratava de uma ronde-bosse 3. Em um grande ateliê localizado no boulevard
Algumas obras, como o Buste de Jean-Paul Vaugirard, 117, que tinha um pé-direito signi­
Laurens [Busto de Jean-Paul Laurens] (il. 1), ficativo, Rodin trabalhou nos Les Bourgeois de
foram fotografadas no mesmo local de suas Calais [Os Cidadãos de Calais], aproveitando
apresentações nos Salons [Salão], com um uma vidraça ampla que se projetava sobre o
cenário já existente. Algumas vezes, o cenário recinto. Essa luz forte e homogênea vinda de
e o busto formavam um todo, constituindo cima pode ser vista nas fotografias de Pannelier.
uma “nova” escultura, que só existe na Se uma boa iluminação facilita o trabalho
fotografia. Druet integrava esses elementos do fotógrafo, as imposições da luz são menos
espontaneamente, às vezes ingenuamente, determinantes para a escolha do ângulo de
como uma criança que descobre as coisas visão de uma escultura do que para um retrato.
ao brincar com elas. Ele chegava a fazer uma Trata-se de fotografar objetos estáticos, em
quantidade significativa de esboços a fim de que o obturador pode permanecer aberto
observar o efeito que esse ou aquele acessório por vários minutos. Para registrar La Fatigue
il. 1 Eugène Druet podia provocar. Na série das Mains sortant [A Fadiga] (obra 12), Bodmer escolheu uma
Buste de Jean-Paul Laurens d’une draperie [Mãos saindo de um tecido] iluminação fraca e suave. D. Freuler, assim
[Busto de Jean-Paul Laurens]
c. 1900 | Prova em gelatina e prata
(obra 69), por exemplo, conhecemos 30 tomadas como E. Freuler, também trabalhava frequente-
Ph. 4823 | Musée Rodin | Paris de imagem de ângulos diferentes. mente com pouca luz, de modo a restituir
Para fotografar Jean d’Aire (obra 97), mais fielmente a aura do ateliê.
Druet também cobriu a janela em forma Eugène Druet controlava o trabalho com
de arco, única fonte de luz, com um lençol iluminação fraca com perfeição, explorada
branco, que serviu para atenuar o impacto da artisticamente por ele. Normalmente, dava à
contraluz do ateliê. Dessa maneira, as barras luz total liberdade: sem artifícios, ela iluminava
da janela ganharam a forma de uma cruz, apenas o ombro e parte do rosto do Buste
evocando a crucificação de Cristo. Se o efeito de madame Fenaille [Busto da senhora
derivou inicialmente do acaso, ao fim ele aca- Fenaille], com o restante da escultura na
bou por integrar a interpretação da obra. Mas penumbra (obra 84).
a realidade específica da fotografia nos aplica No pavillon de l’Alma, Druet empregou
um golpe; a imagem é dupla: ao mesmo tempo uma técnica artificial, provavelmente uma
metáfora e mera representação do real. lâmpada a óleo (ou um refletor) colocada
A surpreendente imagem de Jeunesse no nível do piso, para iluminar La Porte de
triomphante [Juventude triunfante], tendo l’enfer [A Porta do inferno] (il. 2) por baixo.
como pano de fundo o pátio do ateliê do depó­­ Essa instalação não foi suficiente para iluminar
sito de mármores (obra 102), situa a escul­tura corretamente toda a obra de gesso, mas,
em sua época. Druet interpretou o conteúdo em contrapartida, conseguiu apresentá-la
da obra, mas valorizou também as qualidades sob seu aspecto mais inquietante.

27
Por volta de 1912, um estudo com sete impressão por contato6. Ele descobriu,
fotografias representando um leão antigo então, a sequência que hoje chamamos de
da coleção do escultor serviu como objeto editing 7: impressão para uma primeira visão
de estudo para Druet experimentar uma geral, escolha da imagem, enquadramento
ilumi­nação artificial mais sofisticada. A data com um crayon e ampliação. Parte de suas
desses registros, assim como a força da luz, impressões por contato foi conservada, o que
permite supor que ele fez ali o primeiro teste nos permite acompanhar todas as etapas de
com iluminação elétrica. O “fotógrafo ama- seu trabalho. Graças a elas, podemos identifi-
dor”4 se adaptou a sua época e exerceu car o impacto causado no resultado pelo
o ofício de forma cada vez mais atualizada. enquadramento e pela ampliação.
Entre 1903 e 1904, Haweis e Coles A maior parte das placas de vidro traz as
também fizeram suas experiências com assinaturas de dois protagonistas: “A. Rodin”
iluminação artificial. Haweis informou Rodin: e “E. Druet/ph. am.]”, colocadas com o uso
“Iremos aí [...] para lhe mostrar meia dúzia de um carimbo com tinta de substância não
de foto­grafias de La Femme accroupie [A reagente. Graças a esse carimbo, é possível
Mulher agachada], de bronze, de M. Kelly, estabelecer uma relação de ampliação, às
com uma luz artificial que acho muito boa”5. vezes de até 300%, entre a placa de vidro
Eles utilizaram lâmpadas e exposições pro­ e a impressão em papel. A partir de um
longadas para obter efeitos dramatizantes único negativo, Druet gerou três imagens:
(obra 161). A ambientação inquietante que La Porte de l’enfer (obra 85), Le Penseur
se desprendia de algumas imagens deixou [O Pensador] (obra 95) e Les Trois ombres il. 2 Eugène Druet
pressentir-se uma nova estética, inspirada [As Três sombras] (obra 68). Não por acaso, La Porte de l’enfer dans le pavillon de l’Alma
no simbolismo: a do cinema expressionista. esse processo de criação se encontrava em [A Porta do inferno no pavillon de l’Alma]
c. 1900 | Prova em gelatina e prata
Esse se desenvolveu pouco tempo depois perfeita simbiose com o de Rodin, que criou Ph. 1045 | Musée Rodin | Paris
da morte de Rodin, e não poderia ter nas- Les Trois ombres a partir de Adam [Adão],
cido sem tal dispositivo. usando a repetição e a mudança de escala
como ferramentas legítimas.
A ampliação A ampliação foi levada a seu ponto máximo
com o registro do mármore de Les Bénédictions
Ao vermos o trabalho dos primeiros [As Bênçãos]. A imagem foi impressa em três
fotógrafos de Rodin, o que nos choca é rolos de papel fotossensível, medindo 2,10 x
a ausência de enquadramento da imagem 1,80 m. O resultado dava a Rodin, suposta-
depois de realizado o registro. A imagem foi mente, uma ideia de como ficaria a obra quando
impressa por contato: a placa de vidro foi aumentada. Essa façanha técnica, realizada
colocada diretamente sobre o papel fotos­ provavelmente por Druet, foi única. A grande
sensível. O fotógrafo assinou a impressão sem quantidade de tempo de exposição necessária
passá-la por um reenquadramento. Bodmer, a cada prancha, o número de tentativas feitas
Pannelier e Freuler entregavam a Rodin, assim, para defini-la, assim como o contraste adequado,
fotografias em estado bruto. somados ao trabalho cansativo de passar o papel
Druet foi um dos primeiros a utilizar papéis fotossensível em rolo pelo banho com o líquido
com brometo de cloro e reveladores químicos revelador em movimento regular, tudo isso
que tornam possível a ampliação da imagem deve ter desencorajado o fotógrafo a fazer
a partir do negativo, em vez de fazer uma a experiência por uma segunda vez.

28
A questão da escolha da imagem

A partir de 1900, multiplicaram-se em toda


a Europa as solicitações de exposições das obras
de Rodin. A fama do artista se amplificou por
meio de catálogos e trabalhos variados, como
Auguste Rodin: Statuaire, de Léon Maillard, em
1898, e Auguste Rodin: Pris sur la Vie, de Judith
Cladel, em 1903. Como demonstra a pesquisa
realizada por Ursel Berger8, a demanda foi
especialmente forte na Alemanha. Em 1908,
uma monografia sobre Rodin escrita por Otto
Grautoff (1876-1937) e publicada por Verhagen
& Klasing teve grande repercussão naquele país.
Diante dessa concorrência, a nova edição
do Rodin de Rainer Maria Rilke, publicada pela parecem focados em seus aspectos mais il. 3 Edward Steichen
Assemblage dans une coupe antique
Insel-Verlag, procurava algo que a diferenciasse. frágeis, em que a interpretação, infiltrando-se, [Composição em uma taça antiga]
Contrariamente a Grautoff, Anton Kippenberg consegue se propagar mais facilmente”9, c. 1908 | Prova em gelatina e prata
(1874-1950), editor e colecionador de obras escreveu Rilke a Kippenberg. Ph. 538 | Musée Rodin | Paris

de Goethe, separou o texto das imagens, de O escritor queria conservar intacta sua visão
modo a dedicar a essas últimas páginas intei- de Rodin, como um combatente avesso a
ras. As imagens foram reunidas, assim, ao fim qualquer badalação. No momento da reedição,
do livro. Mas a escolha das fotografias trouxe em 1913, o escultor se encontrava, segundo
grande preocupação a Rilke. Kippenberg conse- ele próprio, em meio a uma crise artística e
1
Processo comercializado a partir de 1860.
guiu obter os direitos de reprodução de alguns pessoal. E o que Rilke almejava era que o 2
“Permito-me observar-lhe, mais uma vez, que em todas as suas reproduções
desenhos tirados do caderno Especial Rodin, importante, em seu livro, fosse apenas a obra e há um fundo preto opaco que causa um efeito terrível e de que não consigo
gostar. Faça-me o favor, portanto, caro senhor, de expor minhas obras à luz,
publicado no volume 34/35 da revista Camera não o culto à personagem. Mas, se ele preferia diante de uma cortina colocada claramente de forma oblíqua, de modo a
obter um fundo degradê em que a luz se misture às sombras” (Rodin para Bulloz,
Work, em 1911, mas gostou principalmente o trabalho de Druet10, era também porque o
1908, acervo do Musée Rodin).
do trabalho de Steichen sobre o Balzac. Aos papel desempenhado por esse fotógrafo tinha 3
Em francês, uma escultura em ronde-bosse significa que ela foi totalmente
realizada em três dimensões, e por isso pode ser observada sob qualquer ângulo.
olhos de Rilke, porém, essas fotografias não muito mais afinidade com seu papel como 4
O fotógrafo assinava “E. Druet, fot. am”. Ele usava o termo “amador” no sentido
transmitiam uma visão correta do trabalho escritor. “Falar é uma necessidade, escutar estrito: pessoa que ama uma determinada arte.
5
Haweis e Coles para Rodin, s.d. [1904], acervo do Musée Rodin.
de Rodin. “Voltando a Rodin, não devo escon- é uma arte”11, escreveu Goethe. E Rilke sabia 6
A placa de vidro era colocada em um chassi e iluminada por uma lâmpada a óleo.
der que nem o retrato de Rodin nem as três que, para captar a verdade de uma obra, Graças a um condensador que garantia uma iluminação regular e uma boa óptica
aplanética, a imagem era projetada sem perda de definição sobre um cavalete
imagens do Balzac me agradam; nesse caso, é preciso afastar-se dela. A predominância que ele podia posicionar a vários metros da óptica, sobre os trilhos da câmera.
Esse cavalete recebia primeiramente uma folha de papel em branco para a definição
divirjo até do próprio Rodin, que, várias vezes, das ideias de autor no trabalho de Steichen
do ponto correto. Em seguida, Druet fixava sobre ele o papel de brometo de
e quase às escondidas, me mostrou essas o incomoda na leitura da imagem. As reflexões cloro, normalmente no formato 30 x 40 cm, com alfinetes simples, cuja
marca aparece nas reproduções.
imagens com grande admiração. Com efeito, de Rilke não são outra coisa, na verdade, senão 7
Termo inglês proveniente do jornalismo e que faz alusão ao processo
o estilo de esfumaçamento e de roupagem o início de uma dife­renciação que começava a de preparação de uma imagem com vistas a sua apresentação.
8
BERGER, Ursel. “Ein ganz herrliches Buch” ou “Gefäss für abgestandene
existente nessas fotografias corresponde surgir entre o trabalho fotográfico de autor Texte”, in: Rainer Marie Rilke und die bildende Kunst seiner Zeit. Neuss,
bastante à tendência atual da obra de Rodin; e a foto­grafia de uma obra de arte. Ela se Clemens-Sels-Museum, 1997, p. 119-127.
9
Rilke para Kippenberg, 5 de dezembro de 1913, Briefweschel, tomo I,
por isso elas lhe agradam; os efeitos busca- impôs progressivamente, ao longo do século p. 463, traduzido do alemão para o francês pelo autor.
10
Rilke a Hauptmann, 12 de maio de 1903, Staatsbibliotekh, Berlim, traduzido
dos e obtidos pelo fotógrafo fazem parte, 20, nos museus, na produção editorial e no
do alemão para o francês pelo autor.
se quisermos, dessa grande obra, mas me mercado de arte. 11
GOETHE, Johann Wolfgang Von. Maximen um Reflektionen, 1840.

29
Do ateliê ao museu
“O artista é que é verdadeiro, a fotografia é mentirosa.” Em poucas palavras,
Rodin resumiu tudo aquilo que via de negativo na imagem estagnada: sua
incapacidade de transmitir movimento, seu modo de impor uma visão única,
enquanto ele se esforçava para conferir volume aos corpos que modelava.
Apesar da reticência expressa em suas palavras, o escultor abriu as portas de seu
ateliê para a fotografia. Desde o início dos anos 1880, Bodmer, Pannelier, Freuler
e, alguns anos mais tarde, Druet e Bulloz fotografaram suas obras à medida
que eram criadas. O que suas imagens revelam é um mundo de trabalho
– austero, mas também poético.
“Ao entrar em um ateliê, obtém-se,
O olho do fotógrafo. O olhar de Rodin
No ateliê

Hélène Pinet
em uma única olhadela, a noção geral
do artista que o ocupa.”
Edouard Rod1

“Quanto ao escultor, seja ele quem for,


que lhe disse que eu lhe mostrei algumas
fotografias de sua Porta, está mentindo [...]
Ninguém além do senhor viu, nem mesmo verá,
essas provas, pois elas estão com o senhor.”2
Pode-se ver, nessas palavras, que, se Rodin
gostava de dar fotografias a seus admiradores,
desejava, ao mesmo tempo, manter o controle
de sua divulgação. Nenhuma reprodução
podia ser exibida ou publicada sem seu aval,
especial­mente as de La Porte de l’enfer
[A Porta do inferno]3.
Essa questão remonta a 1880. Contra todas
as expectativas, Rodin, nesse ano, recebeu a
encomenda de uma porta para o futuro Musée
des Arts Décoratifs [Museu de Artes Decorativas]4. il. 1 Gaudenzio Marconi
A escolha, pela Direction des Beaux-Arts L’Âge d’airain, modèle en plâtre
[A Idade do bronze, modelo em gesso]
[Direção das Belas-Artes], de um artista c. fevereiro de 1877 | Albúmen
reconhecido por seus pares mas desconhecido Ph. 269 | Musée Rodin | Paris
do grande público surpreendeu o meio artístico.
Se o desafio era grande para o escultor, era il. 2 Gaudenzio Marconi
Auguste Neyt
também para Léon Turquet, recentemente abril de 1877 | Albúmen
nomeado subsecretário de Estado para as Ph. 270 | Musée Rodin | Paris

Belas-Artes, na esteira de Jules Ferry, que


il. 3 Auguste Rodin
“esperava recuperar o beneplácito do conjunto Página de estudos de criança nua,
em proveito da esquerda republicana”5. entre 1875 e 1877, no verso de uma
fotografia de Gaudenzio Marconi,
Rodin escolheu como tema o “Inferno”
representando um modelo masculino
de Dante, inscrevendo-se em uma linhagem c. 1870
D. 1761 | Musée Rodin | Paris
já longa de artistas como Gustave Doré, Ary
Scheffer e Carpeaux, para mencionar apenas
alguns, que antes já haviam pescado nas
perfeição de uma moldagem realizada a partir
de modelo vivo. Rodin, profundamente cho-
cado com a crítica, procurou se defender por
ocasião da apresentação da escultura no Salon
de la Société Nationale des Beaux-Arts [Salão
da Associação Nacional de Belas Artes], alguns
meses mais tarde, em Paris. Elaborou um
dossiê dirigido aos membros do júri, consti­
tuído de cartas de amigos belgas, às quais
acrescentou moldes feitos diretamente a partir
do corpo de seu modelo, Auguste Neyt, a fim
de demonstrar a diferença que havia entre seu
trabalho de criação e a simples realização de
um molde tirado diretamente de um modelo.
Para tornar a demonstração ainda mais con-
vincente, pediu a Marconi, especializado nos
études d’après nature, para fotografar de
frente, de costas e de perfil, de forma idêntica
– com o mesmo fundo e na mesma escala –,
sua escultura e Auguste Neyt (il. 1 e 2).
águas dos versos do poeta da renascença. o seu trabalho criativo”6, tornou-se a peça Marconi tinha uma loja à rue de Buci, em Paris,
No que se refere à forma, Rodin tomou principal de sua obra, o imenso reservatório não distante da École des Beaux-Arts [Escola
como referência as Portas do batistério, obra de formas do qual extraiu elementos ao longo de Belas-Artes], da qual se apresentava como
de Ghiberti para a Catedral de Florença, sem de toda a carreira.“Ali reside um universo fotógrafo oficial8. Condenado a seis meses de
manter, no entanto, a ordem constituída por inteiro [...] com uma riqueza incrível de gestos, prisão e a 100 francos de multa por atentado
painéis narrativos, preferindo, ao contrário, expressões e movimentos.”7 à moralidade pública e por publicação de
cobrir as duas folhas com múltiplas figuras Deliberadamente, Rodin optou por criar imagens obscenas em 1873, ele deixou a
evocando as personagens que povoam os pequenas figuras, e não mais representações França e se instalou em Bruxelas, terra de asilo,
círculos que conduzem aos infernos descritos em tamanho natural, para evitar qualquer à época, para todos que tivessem contas a
pelo poeta. Acima, sentado no meio de um ambiguidade e o desconforto de responder acertar com a justiça. Suas fotografias de nus
friso que representa a chegada e o julgamento mais uma vez a acusações de moldagem ofereciam um amplo repertório de poses que
das sombras, Dante assiste ao desenrolar de a partir de modelo vivo, como acontecera em faziam referência a esculturas da antigui­dade
sua visão. Les Trois ombres [As Três sombras], 1877, ao apresentar o gesso de L’Âge d’airain clássica. Essas imagens são encontradas na
três figuras idênticas, dominam o conjunto. [A Idade do bronze] no Salon de Bruxelas. Um documentação da maior parte dos artistas
La Porte de l’enfer, “síntese a um só tempo jornalista, diante da beleza do corpo daquele do fim do século 19. Sem nenhuma veleidade
de todo o seu trabalho de pesquisa e de todo atleta de gesso, mencionou haver nele a artística, a encenação precária – poucos

33
acessórios, um pedaço de tecido esticado como mãos a sequência da gênese de suas obras, social e mundana, que constituíam novidade
pano de fundo ou vestimenta, assim como as todas as variações de uma mesma escultura, para ele. Atento à receptividade de sua obra
poses sem ambiguidades dos modelos –, não dá que lhe serviam como referência no dia-a-dia. pelo público, Rodin fez, em 1883, uma assina-
margem a qualquer confusão: eram nus a Conforme seu tamanho, um ampliador tura do Argus de la Presse, serviço criado
serem usados como ferramenta de trabalho, aumentava ou diminuía as dimensões da poucos anos antes e que lhe enviava todos
e não nus suspeitos. Rodin, que nunca trabalhou ronde-bosse. Um artesão fazia sua versão os artigos em que seu nome aparecesse, subli-
a partir de fotografias, possuía alguns deles, em mármore e um fundidor, em bronze, nhado a crayon azul11. Essa era uma prática
nas costas dos quais chegou algumas vezes enquanto o patinador se encarregava de comum. O escultor italiano Medardo Rosso
a desenhar, certamente tendo pego o primeiro encontrar a tonalidade, o efeito buscado pelo demonstrava a mesma preocupação de
papel que se achava ao alcance da mão para artista para a superfície. A esses artesãos, que acompanhar a evolução de sua notoriedade
registrar alguma inspiração momentânea (il. 3). não ficavam simultaneamente no ateliê e que nas colunas dos jornais, do começo ao fim
A encomenda de La Porte de l’enfer repre- nem sempre eram acionados em todos os casos, de sua carreira, da mesma forma que Douanier
sentou o sinal de um reconhecimento oficial acrescentavam-se os modelos, pois Rodin só Rousseau, que assinou o serviço em 1885
de seu talento, e o Estado colocou a sua trabalhava a partir do natural. Para ele, “o nu e reuniu em cadernos os diversos artigos que
disposição um ateliê no depósito de mármores, é como a escala, o alfabeto, os algarismos, se referiam a ele12.
localizado no número 182 da rue de l’Université, uma fonte de infinitas combi­nações”10 – e as Os críticos, que desde os anos 1860
onde ele passou a maior parte do tempo e listas de modelos que preenchiam as páginas se tornaram, juntamente com os marchands,
permaneceu até o fim da vida9 (il. 4). Um dos de seus cadernos confirmam essa sua paixão os novos intermediários entre os artistas
principais problemas, para um escultor, é o pelos corpos. Dentro dessa equipe, o fotó- (em número cada vez maior) e o público
local de trabalho. Os estudos em argila ou grafo aparecia por último, pois seu trabalho, (cada vez mais amplo) começaram a se
em gesso, as bases, os mármores em fase de mais pontual, só podia ser realizado ao fim interessar por Rodin e queriam ilustrar seus
execução invadiam todo o espaço rapidamente. da atividade. O quadro ficaria incompleto sem textos Mas não era apenas para atender às
Pouco depois, Rodin obteve outro ateliê, a menção aos apreciadores que queriam sempre necessidades da imprensa que o escultor apelou
justaposto ao primeiro, mas isso ainda não lhe conhecer antes dos outros as novas obras aos fotógrafos. As comissões, as organizações
era suficiente. Para dar conta adequadamente modeladas ou os que, como Pierre Louÿs, ou mesmo os particulares que encomendavam
dos diversos projetos, em número crescente pediam para assistir às sessões de pose, a um monumento ou um busto solicitavam,
ao longo daquela década, ele manteve o ateliê fim de enriquecer seu imaginário. Para esses às vezes, algumas fotografias, a fim de
que vinha ocupando desde 1877, na rue des casos, Rodin definiu com clareza em seu acom­panhar a produção da obra e poder
Fourneaux, e alugou um quarto espaço, à rue cartão de visita: “Sábado à tarde”. transmitir suas observações.
de Vaugirard, a partir de 1886, para a elabo­ No começo daquela década, apesar das Rodin, por sua vez, utilizava a fotografia
ração do Monument des Bourgeois de Calais dificuldades inerentes ao ofício, tudo parecia ir em seu catálogo de vendas, indicando às vezes,
[Monumento dos cidadãos de Calais], encomen­ bem para Rodin. Pode-se verificar, seja por sua no verso, o preço da obra ali reproduzida.
dado pela municipalidade de Calais em 1884. correspondência, seja por anotações ou faturas Esse variava conforme o material – bronze
O ateliê de um escultor, no fim do século 19, por ele guardadas, o quanto o artista se deba- ou mármore – e o destinatário: um particular
funcionava como uma empresa, onde cada um tia para fazer pagamentos para alguns, receber ou uma instituição. No verso de uma imagem
desempenhava uma função bem determinada. de outros, responder às encomendas sem de Fugit amor em mármore, por exemplo,
Rodin se mostrou, antes de qualquer coisa, um atraso, participar de concursos e produzir ele anotou: “Mármore: de 12 a 15 mil francos/
modelador; seu material preferido era a argila. bustos de seus amigos. Ele levava uma vida bronze: 4 mil francos”.
Um moldador, depois, se encarregava de profissional agitada, uma vida amorosa intensa Por fim, logo começou a enviar fotografias
pro­duzir moldes em gesso de cada etapa e das – acabara de conhecer Camille Claudel –, e de suas obras, autografadas ou com alguma
diferentes versões da escultura. Dessa forma, jornalistas bem intencionados, como Edmond dedicatória, aos amigos e apreciadores.
o artista mantinha ao alcance dos olhos e das Bazire, introduziam-no aos segredos da vida Em 1882, uma pessoa chamada Faiton lhe

34
escreveu: “Permita-me agradecer, do fundo
do coração, as três fotografias com que o
senhor me presenteou”13. Essa observação
é surpreendente, pois, na cabeça de Rodin, a
fotografia ainda exercia uma função sobretudo
documental. Nada se manifestava, em suas
palavras, que pudesse denotar qualquer
intenção de produzir belas imagens para uma
determinação artística consciente; nada do que
se lê em sua correspondência deixa transparecer il. 4 Neurdein Frères
qualquer tendência nesse sentido, nem mesmo Le Dépôt des marbres,
vue panoramique prise
uma reflexão ou alguma avali­ação que traduza de la Tour Eiffel
preocupações de ordem técnica ou utilitária. [O Depósito de mármores,
vista panorâmica
Seria equivocado, porém, tomar essa a partir da Torre Eiffel]
ausência de reação de sua parte como sendo c. 1908 | Albúmen
Ph. 10361 | Musée Rodin | Paris
indiferença ou desprezo. O que se vê, aí, é a
naturalidade com a qual Rodin incorporava
a fotografia a seu trabalho e a seu cotidiano. 1880 do Bottin15. Por razões práticas e e vacas, que complementavam suas coleções
Para ele, tratava-se de uma coisa óbvia. econômicas, Rodin optou por fotógrafos documentais17. Alguns, como Le Gray, Marville
tão desconhecidos quanto ele, profissionais ou Cuvelier, e mais tarde Famin e Quinet,
A escolha dos fotógrafos certamente mais ao alcance de seu bolso tornaram-se referência em seus respectivos
do que as grandes casas já solidificadas. campos de atuação. Se Bodmer não deixou
A reprodução de obras de arte ganhou Bodmer, Pannelier e Freuler não deixaram uma obra digna de menção entre esses nomes,
impulso no fim dos anos 1850 e tornou-se um praticamente nenhum traço na história da que desde então se tornaram conhecidos,
gênero à parte, graças aos avanços introduzi- fotografia além dos trabalhos realizados para ainda assim algumas de suas fotografias
dos por fotógrafos como Robert J. Bingham ele. Cabe acrescentar a essa pequena lista podem ser encontradas nos arquivos dos
e Charles Michelez, que haviam se especiali- outros fotógrafos que atuaram no mesmo pintores Camille Corot e Théophile Chauvel18.
zado nessa área14. Eles atendiam às solicitações período e que permane­ceram anônimos, Para os trabalhos comuns, ele provavelmente
de artistas, colecionadores, arqueó­logos mas cujas imagens são importantes para mantinha um ateliê em Paris; mas só apareceu
e editores. Depois de experimentar um forte acompanhar a trilha traçada pelo escultor. no Bottin a partir de 1898, estabelecido à avenue
crescimento, a atividade atingiu um esgota- Charles Bodmer era o primogênito do d’Orléans, e como fotógrafo especializado em
mento por volta de 1875, diante da inca­pa­ gravador de origem suíça Karl Bodmer, estabe­ animais. Em meio a essa produção bastante
cidade da produção artesanal de fazer frente lecido em Barbizon desde 1849, com quem banal, surgiu como exceção o álbum recente­
à produção industrial das grandes empresas foi confundido durante muito tempo16. mente adquirido pelo Musée Nicéphore Nièpce,
de edição fotográfica. As duas mais importan- O vilarejo contava com uma comunidade de Chalon-sur-Saône. Ali, aparecem 79 foto­
tes entre elas, Maisons Goupil et Cie. e Braun importante de pintores paisagistas, seguida, gra­fias de cenas rurais, numeradas por
et Cie., englobavam as funções de fotógrafo, a partir dos anos 1850, pelos fotógrafos. página e também nos negativos, com uma
impressor e editor. Esses abriram seus estabelecimentos ao lado qualidade que não é encontrada no restante
Paralelamente a essas grandes instituições dos artistas, vendendo-lhes reproduções de de sua produção19.
que ofereciam a possibilidade de uma divul- quadros de grandes mestres e études d’après Truman H. Bartlett, escultor e crítico de
gação internacional de suas imagens, cerca nature [estudos a partir do real], com cenas arte norte-americano, instalara-se na França
de 350 fotógrafos figuravam na edição de rurais, pequenos ofícios, paisagens, árvores desde o começo dos anos 1880.

35
Em 1887, ele fez uma longa entrevista Se a número 1 mostra L’Homme au nez cassé base de uma determinada escultura para
com Rodin, com a intenção de publicar um [O Homem de nariz quebrado] – a primeira que o fotógrafo pegue esse ou aquele
artigo referente a sua carreira, ilustrado com obra que Rodin apresentou, no Salon de 1864 ângulo, usando essa ou aquela luminosidade
gravuras produzidas a partir de fotografias –, a obra seguinte, Le Buste de Dalou [O Busto mais apropriada. A chave do ateliê ainda está
realizadas no ateliê. Foi o único a fazer alguma de Dalou], data de 1883. É preciso, portanto, sobre a mesa (obra 25), o pincel para desem-
alusão a Bodmer em sua correspondência, deixar de lado a sedutora ideia de que se trata poeirar a maquete de La Porte de l’enfer não
e isso em termos não muito lisonjeiros: “Ele de um trabalho que acompanhava dia a dia a foi retirado (obra 4), assim como as ferra­
mendiga (?) como um lobo, é um ingrato, um produção da obra de Rodin. Um simples raciocí- mentas ao pé de L’Âge d’airain, ou os potes,
preguiçoso. Sua reputação aqui [em Barbizon] nio de ordem prática já sugere que Bodmer, pincéis e raspadeiras perfilados sobre a base
é muito ruim”20. cujos aparelhos eram pesados e volumosos, de Orphée et Eurydice [Orfeu e Eurídice]
A colaboração de Bodmer com Rodin se devia ter comparecido ao ateliê apenas algu- (obra 59). Em outro dia, a porta do ateliê,
iniciou no começo da década de 1880. A ela mas vezes durante aquela década, fazendo a atrás da qual guardaram o entulho de gessos,
se somou, em 1886, a de Victor Pannelier. cada oportunidade uma série de reproduções foi deixada aberta para permitir a entrada da
Nascido em 1940, em Fluquières (Aisne), de esculturas escolhidas por Rodin. Uma carta luz para fazer a fotografia do gesso de Saint
Pannelier participou, entre 1863 e 1867, datada de 1882, em que o artista avisava sua Jean-Baptiste [São João Batista] (obra 10).
da Guerra do México. Em seu retorno à França, companheira, Rose Beuret, da vinda de um Feitas as tomadas das imagens, cada um
em 1873, abriu uma oficina de fotógrafos a fotógrafo – certamente Bodmer – que devia retoma seu trabalho.
poucos passos do ateliê de Rodin, no número 82 trabalhar em várias esculturas, parece confir- Em um primeiro momento, Rodin modelava
da Chaussée du Maine. Paralelamente, a partir mar essa hipótese22. inúmeras figuras que não necessariamente
dos anos 1890, Pannelier desenvolveu uma O trabalho de Pannelier era mais pontual, encontravam lugar, todas elas na La Porte
carreira política bastante ativa na subprefei- resumindo-se às reproduções do Penseur de l’enfer, ainda apenas uma construção em
tura do 13o distrito. [O Pensador] e de grandes argilas dos Bourgeois madeira, um gabarito em que ele experi­men­
tava diferentes combinações e que teve nas
Freuler é, até hoje, o mais enigmático de Calais já vestidos, enquanto o de Freuler,
fotografias seu único resquício. O artista colo-
dos três. À parte seu trabalho realizado para assim como o de Bodmer, a quem ele
cava, por exemplo, Le Penseur sobre uma viga
Rodin, entre 1889 e 1897, e o fato de seu parecia ter sucedido junto ao escultor, se
de madeira no alto, acima da moldura, exata-
nome aparecer no Bottin entre 1884 e 1924, espalhavam ao longo dos anos, entre 1889
mente no lugar onde a fixou mais tarde. A
conhecem-se dele apenas duas ampliações e 1897. Curiosamente, ele produziu impres-
fotografia tirada de baixo permite uma visão
conservadas pela biblioteca de Fels e outras sões em papel salinizado, técnica que estivera
da obra depois de montada (obra 6). Da mesma
seis sobre a coleção dos Goncourt, perten- no auge em 1850 e que teve um ressurgi-
forma, Rodin movimentou o gesso de Fugit
cente à Fondation Custodia21. mento na virada do século. Sua qualidade
amor durante a tomada da foto para encontrar
e sua tonalidade quente – de um violeta
o ângulo em que ele o encaixaria em uma das
Leitura das fotografias escuro – proporcionavam imagens batentes, e criou um pedestal mais alto para
bastante peculiares. Ugolin et ses fils [Ugolino e seus filhos], a fim
O trabalho de Bodmer apresenta-se sob de definir sua futura localização (obras 8 e 25).
a forma de fotografias em papel de gelatina e Elaboração de uma visão Nesse mesmo espírito, Freuler fotografou um
prata coladas em papel cartão, numeradas Étude de main [Estudo de Mão] pendurado em
e assinadas no negativo. Aproximemo-nos. Estamos no centro da um suporte, tal como a obra ficou na termina-
Quarenta e seis imagens de esculturas em criação. O local está deserto e em silêncio. Em ção de um braço.
argila e em gesso nos permitem acompanhar nenhum momento, o escultor ou seus auxilia- Os fotógrafos trabalhavam sob encomenda
a elaboração da obra de Rodin. res aparecem na imagem, pois suspen­deram e captavam as diferentes etapas de elaboração
A numeração obedece à ordem crono­ o trabalho durante a tomada. Imaginemos de uma determinada obra. Adotando um
lógica das tomadas, não das esculturas. Rodin, afastado, dando voltas em torno da procedimento clássico, Rodin primeiramente

36
modelava os corpos, para só depois vesti-los. que serviu de modelo para Rodin conceber o a escultura e a gravura, que era preferida
As fotografias de Bodmer revelam os corpos robe de chambre, que depois cobriu o corpo de pelas publicações por possibilitar a impressão,
nus de Jean d’Aire e de Pierre de Wissant seu Balzac (obra 49), ou o Monument à Victor em uma mesma página, do texto e da ilustração,
(obras 15 e 17), enquanto Pannelier, que Hugo [Monumento a Victor Hugo], que Freuler pelo menos até 1885. “Para facilitar e tornar
trabalhou no ateliê mais tarde, apresenta-nos registrou de um ângulo tão peculiar que fica mais rápida a transposição do desenho para
um Eustache de Saint-Pierre já coberto com difícil reconhecê-lo, expondo a estrutura de o cobre, vários gravadores de reproduções
sua casula (obra 23). madeira necessária para sustentar as figuras passam a utilizar uma prova fotográfica, pois,
É a obra inteira de Rodin que desfila por existentes em torno do poeta. para o jornal, sem formação nem erudição,
essas fotografias, e, embora elas tenham sido há necessidade de uma quantidade infinita
tiradas com um objetivo puramente docu- O desejo de mostrar de imagens a um preço bastante acessível”,
mental, não há como ficar insensível diante explicou Léon Rosenthal24. Tomemos como
de sua beleza e de sua estranheza. Com efeito, Somente aqueles que visitavam Rodin exemplo a gravura de um dos Bourgeois
Bodmer e Freuler utilizavam a seu favor as durante esses anos de intensa atividade de Calais, Eustache de Saint-Pierre, que foi
restrições inerentes ao local (o ateliê), a falta puderam descobrir a mesma coisa. E, ainda encomendada a Auguste Léveillé, gravador
de iluminação e também, talvez, o simples assim, com uma visão pontual. Temos sobre de interpretação que trabalhou bastante para
fato de que Rodin lhes pedia para não mexer eles a vantagem de acompanhar pelas imagens Rodin desde 1888, com o objetivo de ser
em nada e apenas registrar aquilo que viam. a elaboração do conjunto do trabalho realizado editada ao mesmo tempo no livro de Léon
A base sobre a qual eram colocadas as peque- entre 1880 e 1897: Le Penseur, Le Baiser Maillard, Auguste Rodin statuaire (de 1899)
nas esculturas, frequentemente deslocadas em [O Beijo], L’Éternel printemps [A Eterna e em uma edição da Revue illustrée do mesmo
seu ângulo, trazia sempre o mesmo cenário: um primavera], Ugolin et ses fils, Les Bourgeois ano, ao lado de um artigo de Gabriel Mourey
aquecedor, uma porta ou uma parede coberta de Calais, La Méditation [A Meditação], (obras 23 e 21). Léveillé usou como modelo
com um tecido tosco. Mesmo com esses Le Monument à Victor Hugo, Le Buste de a fotografia de Pannelier em que a escultura
poucos elementos, Bodmer foi várias vezes, Rochefort [O Busto de Rochefort], Claude em argila estava em curso de produção – falta-
provavel­mente sem saber, além de uma Lorrain, Le Monument à Balzac [O Monumento vam-lhe os dedos da mão esquerda –, feita no
simples reprodução. La Tête de Saint Jean- a Balzac]. Essa visita fotográfica consiste em ateliê da rue de Vaugirard. O gravador reprodu-
Baptiste [A Cabeça de são João Batista], por um privilégio do qual os contemporâneos ziu exatamente a obra em construção, mas
exemplo, colocada na beirada da base, quase do escultor foram privados, já que a publicação é preciso observar que, depois de gravada, a
caindo, é surpreendente, assim como La de tais imagens ocorreu de modo bas­tante escultura – já não sabemos tratar-se de uma
Fatigue [O Cansaço], envolta em um halo raro e elas nunca chegaram a ser expostas argila, um gesso ou um mármore – ficava
luminoso que lhe dá vida, ou ainda La Femme com o artista vivo. isolada de todo contexto. Os detalhes especí­
accroupie [A Mulher agachada], cuja argila Voltemos no tempo. Até 1893, “o domínio ficos e o entorno do artista que nos atraem
parece pulsar. As impressões de Freuler em da reprodução e da ilustração era exclusividade agora, retrospectivamente, desapareceram.
papel salinizado são igualmente atraentes: das artes do desenho. O crayon, o pincel e A escultura se encontrava em um universo
ele não retirou o pano que cobria parte da o buril reinavam soberanos nas publicações”23. neutro, museográfico. É interessante observar
cabeça de La Pensée [O Pensamento] para A partir daquele ano, a fotografia foi aos que, ao suprimir os panos de fundo visíveis na
proteger a obra do pó produzido no próprio poucos substituindo as gravuras nas revistas fotografia, o gravador preservou alguns deta-
ateliê e sob o qual o rosto de Camille Claudel, ilustradas. Um triunfo progressivo, já que foi lhes, como as manchas de gesso sobre um
que lhe servira de modelo, parecia se esconder. preciso esperar até 1904, sempre por motivos pedestal ou as sombras projetadas na escul-
Se Bodmer nos mostrou as esculturas em técnicos – especialmente a lentidão do processo tura, o que permite associar, sem nenhuma
argila, Freuler nos revelou mais o trabalho –, para que ela fosse publicada também nos dúvida, uma gravura a uma foto­gra­fia.
em gesso, material preferido por Rodin. jornais diários. Durante muitos anos, a foto­ A gravura de Pierre de Wissant publicada
Por exemplo, o sobretudo coberto com gesso grafia serviu apenas como intermediária entre na obra de Léon Maillard, realizada a partir

37
da fotografia de Bodmer, constitui um bom
exemplo (obras 16 e 18). Poderíamos pensar
que o fotógrafo e o escultor, sabendo o
quanto a imagem ainda seria retrabalhada
até tornar-se pública, ficavam despreocupados
no momento de fazer a tomada, convencidos
de que o resultado imediato nunca seria visto
por uma terceira pessoa. Mas, considerando
as poucas fotografias publicadas no mesmo
período – principalmente as que foram feitas
a partir de 1896 por Eugène Druet e Jacques-
Ernest Bulloz –, percebe-se que o artista
divulgou deliberadamente imagens de suas
1- Anônimo 2- Auguste Rodin
esculturas tiradas no contexto do ateliê. Masque de Balzac sur une colonne Figure volante ou Baudelaire
[Máscara de Balzac sobre uma coluna] [Figura voadora ou Baudelaire]
c. 1900 | Aristótipo entre 1880 e 1888 | Lápis grafite
Intervenções e ajustes
Intervenção e anotação à tinta preta: e aguada cinza sobre papel creme
étude pour Balzac Conducteur de Tours D. 2002 | Musée Rodin | Paris
A fotografia permitiu a Rodin certo recuo Ph. 1211 | Musée Rodin | Paris

em relação à obra, e ele se utilizou disso.


O olhar distanciado o levou a fazer algumas intervenções no pedestal em 45 fotografias e tinta marrom que fecha o poema Le Poison
correções, alguns ajustes nas reproduções tiradas por Freuler (obras 55 e 56). Essa busca [O Veneno]. Ao lado de Dante, Baudelaire foi
fotográficas de suas esculturas (obra 5). Essas formal ultrapassou amplamente aquela a principal fonte de inspiração de Rodin nos
anotações, esses traços a crayon, cujo sentido realizada para o próprio Claude Lorrain. anos 1880. A ele o escultor se voltava sem
nem sempre conseguimos captar, não tiveram Ele preencheu folhas e cadernos inteiros com parar, como demonstra um desenho e, depois,
nenhuma repercussão na escultura em si, desenhos de molduras feitos à tinta. uma fotografia de Pompeia, em que anotou
parecendo terem sido feitos apenas à guisa Às vezes, isolada em meio a uma nuvem “Baudelaire” (il. 5 e obra 3).
de registro. Foi dessa forma que ele marcou de guache, a escultura aparecia como se Essas imagens funcionam como um curso
rapidamente na fotografia intitulada Maquette fosse vista através de um buraco de fecha- de escultura. É apaixonante ter contato, por
de La Porte de l’enfer [Maquete de A Porta do dura (obra 46). Essa simples intervenção, meio delas, com as diferentes etapas da cria-
inferno] um enquadra­mento que lhe deu mais que imaginamos ser realizada diretamente ção, cujos rastros foram preservados apenas
amplitude (obra 4). Outro exemplo da mesma por Rodin, conferia às imagens uma força pela fotografia. Essas imagens revelam,
época é o pequeno topete desenhado na poética pela qual o escultor não deixou de se sobretudo, as práticas mais inovadoras de
cabeça do Penseur, evocando o gorro de Dante. sensibilizar, pois elas, mais tarde, estiveram Rodin: a fusão de figuras de grupos diversos,
Esses traços exprimiam, às vezes, uma busca na origem de vários desenhos concebidos de modo a formar uma nova obra; a liberdade
formal pela qual o artista estava obcecado. para ilustrar Les Fleurs du Mal [As Flores com a qual uma mesma obra pode ser apre-
Assim, por ocasião da encomenda do Monument do Mal], de Baudelaire, a pedido de Paul sentada em diferentes posições; e o que mais
à Claude Lorrain [Monumento a Claude Lorrain], Gallimard, em 1887 (ver obra 45 e ilustração chocou o público da época: a apresentação de
em 1889, Rodin colocou a figura do pintor em à página 56). As sombras que sublinham fragmentos como sendo obras acabadas.
um pedestal, do qual surgiam os cavalos do sol. a modelagem do gesso da Mort d’Adonis Cabe registrar que, nas foto­grafias de Bodmer,
Esse efeito desagradou ao autor da encomenda, [A Morte de Adônis] são encontradas, figuram essencialmente argilas, ao passo
e Rodin, em vez de alterar a própria obra, fez quase idênticas, no desenho a bico-de-pena que o gesso predomina nas de Freuler.

38
3- Giorgio Sommer registrando, dessa maneira, que, na ausência 1
Rod, 1898, p. 419.
Casa de M. Lucratius 2
Arsène Alexandre para Rodin, 1889, arquivo do Musée Rodin.
Pompei | Albúmen do modelo vivo (Balzac falecera em 1850), 3
Na mente de Rodin, essa obra nunca se encerrou, e as fotografias publicadas
Anotação à tinta: Baudelaire enquanto ele vivia mostram apenas partes ou figuras que a compõem.
o artista solicitou que posasse para ele um 4
Porta que Paris planejava instalar no local destinado à Cour des Comptes [Tribu-
Ph. 6940 | Musée Rodin | Paris
condutor de Tours cujo rosto, em sua visão, nal de Contas], incendiada em 1871, onde se encontra atualmente o Musée d’Orsay.
5
Le Normand-romain, 1999, p. 5.
evocava o do escritor (obra 1). 6
Rod, 1898, p. 421.
7
Ibid., p. 426.
É muito difícil encontrar fotografias tiradas 8
Le Pelley Fonteny, 2005, p. 161.
Uma obra híbrida a partir de 1900 que tragam intervenções 9
O depósito de mármores deu lugar, posteriormente, ao Conseil d´État [Conselho
de Estado] e ao Musée du Quai Branly.
feitas por Rodin, como se esse costume se 10
Rodin, citado por Camille Mauclair em “Albert Bartholomé”, L’Art décoratif,
Rodin, que sentia prazer em multiplicar restringisse a um momento determinado número 50, novembro de 1902.
11
Em 1879, Alfred Chérié criou o primeiro serviço de recortes de imprensa voltado a
suas esculturas indefinidamente, as traduziu, de sua vida. A imagem realizada por Eugène atender às celebridades, o Correspondance universelle, que em 1884 passou a se
chamar Argus de la Presse
graças à fotografia, em uma linguagem Druet propor­ciona uma nova interpretação (ver www.argus-presse.fr).
artística nova e diferente. Ele submeteu a do mármore intitulado La Jeune fille et le 12
Bacci, 2004, p. 59; agradeço a Jordi Visuá pela informação.
13
Faiton a Rodin, 25 de junho de 1882, arquivo do Musée Rodin.
tiragem à própria imaginação, obtendo daí fantôme [A Jovem e o fantasma]. Colocada 14
Boyer, 2004, p. 74; Robert J. Bingham (c. 1800-1870); Charles Michelez (1817-ap.
uma obra híbrida, meio foto, meio desenho. na vertical, a fotografia inspirou fortemente 1880).
15
Catálogo anual de profissionais
Com essa prática, transformou e enriqueceu o artista, que, com alguns poucos traços 16
Charles Bodmer (1854-1934?).
17
Marbot, 1991, p. 10.
a interpretação inicial da escultura. Por meio de crayon, transformou o casal em cariátide 18
Camille Corot (1796-1875); Théophile Chauvel (1831-1909) instalou-se em
dessas inscrições, palavras ou desenhos, (obras 61 e 62). Marlotte, na Floresta de Fontaine­bleau, em 1849, e se dedicou à gravura
(reproduzindo as obras de Millet, Rousseau, Corot
perfilam-se as referências literárias do artista Tudo aquilo que Rodin formulou depois e Diaz), a partir de 1859.
19
Trata-se de um álbum de referência para os artistas, que dele podiam extrair
– a obra precisa suscitar uma reação, um título. a respeito de sua arte, em obras como L’Art,
cenas como a de uma moça pegando água do poço, de lenhadores, de carvoeiros,
As fontes dessa inspiração devem ser buscadas de Gsell, Entretiens, de Dujardin-Beaumetz, de domadores de ursos, de camponeses etc.
20
Bartlett a Rodin, dezembro de 1889, arquivo do Musée Rodin. Em 16 de fevereiro
na mitologia greco-romana e na poesia de ou por intermédio de Rilke, encontra-se já de 1889, Bartlett convidou Rodin para ir a Barbizon. Paralelamente a seu artigo
Dante e de Baudelaire. ilustrado por essas imagens: a importância sobre o artista, ele preparou um estudo sobre Millet, de quem copiou 500
cartas. Seu artigo foi aceito
À primeira vista, a cabeleira traçada sobre do modelado, da luz, da escolha de um ponto para publicação apenas pela revista American architect and buildings news.
21
Bibliothèque de Fels, Institut Catholique de Paris – Fondation Custodia, Paris.
a cabeça de Balzac lembra uma boutade de vista e da atmosfera. Elas revelam não 22
Rodin a Rose Beuret, 19 de junho de 1882, arquivo do Musée Rodin. Segundo
qualquer; ela evoca, no entanto, aquilo que apenas uma série de momentos fugidios, mas o escultor, ele fotografou “o Busto da República, A Mulher agachada, modelo
[Bastien Lepage] e o estudo da Criação na rue des Fourneaux; e também
foi o rosto do escritor no monumento também as etapas transitórias da criação que O Pensador, o grupo de Francesca, o esboço de Ugolino, o Homem virado [...],
a Mulher de braço cruzado na rue de l’Université”.
definitivo. Na imagem, Rodin escreveu: foram destruídas à medida que a obra ganhava 23
Marbot, 1992, p. 13.
“Estudo para Balzac condutor de Tours”, forma, estabelecendo, assim, sua continuidade. 24
Rosenthal, 1909, p. 401.

39
4. Anônimo
Maquette de La Porte de l’enfer en plâtre
[Maquete de A Porta do inferno em gesso]
c. 1881 | Albúmen
Intervenção e anotação a lápis grafite
por Rodin para a ampliação das molduras
de La Porte de l’enfer
20 x 10,7 cm
Ph. 284 | Musée Rodin | Paris

Se gostava de receber visitas em seu ateliê, Rodin


mostrava-se, no entanto, muito cauteloso no que
se referia à divulgação das fotografias de suas escul-
turas, especialmente as de La Porte de l’enfer
[A Porta do inferno], que ele mesmo guardou duran-
te muito tempo. Somente em 1888 foi publicada na
revista L’Art français uma imagem da parte superior
de La Porte de l’enfer, juntamente com Le Penseur
[O Pensador] e Les Trois ombres [As Três sombras].
Em 1889, o crítico Arsène Alexandre se viu obriga-
do a dar explicações ao artista, que suspeitava que
ele havia mostrado algumas tiragens: “Quanto ao
escultor, seja ele quem for, que disse ao senhor que
eu lhe mostrei algumas fotografias de sua porta, ele
mentiu. O senhor sabe que ninguém mais do que
eu deseja evitar irritá-lo com uma bobagem como
essa; ninguém a não ser o senhor viu, nem verá,
essas provas, pois é com o senhor que elas estão”
(Alexandre a Rodin, 1889, arquivo do Musée Rodin).
Rodin tinha alguns motivos para desconfiar. O crítico
norte-americano T.H. Bartlett o alertara contra seu
fotógrafo: “Bodmer tem o hábito de se vangloriar
dos trabalhos que dão para ele e de mostrá-los para
todo mundo” (Bartlett a Rodin, dezembro de 1889,
arquivo do Musée Rodin). Curiosamente, La Porte de
l’enfer, na qual Rodin trabalhou durante toda a vida,
só foi fotografada, com ele ainda vivo, ao que sabe-
mos, uma única vez, por Druet, em torno de 1900.
Essa fotografia nunca foi publicada. H.P.

40
5. Victor Pannelier 6. Anônimo As fotografias realizadas no ateliê no começo dos
Le Penseur devant le bâti Le Penseur sur un échafaudage placé anos 1880 revelam os primeiros itens moldados por
de La Porte de l’enfer devant le bâti de La Porte de l’enfer Rodin para sua Porte de l’enfer, que naquele momen-
[O Pensador diante da [O Pensador sobre uma ripa colocada à
to não passava de uma estrutura de pranchas que
armação de A Porta do inferno] frente da armação de A Porta do inferno]
julho de 1882 | Albúmen c. 1882 | Albúmen pode ser vista atrás de Le Penseur [O Pensador].
24 x 11,5 cm Ateliê do depósito de mármores O escultor posicionou a obra à frente da estrutura
Ph. 288 | Musée Rodin | Paris 14,1 x 10,3 cm de madeira, no lugar em que pensava afixá-la definiti-
Ph. 586 | Musée Rodin | Paris vamente. A fotografia lhe possibilitava avaliar melhor
As intervenções que Rodin fazia o efeito obtido antes de tomar a decisão, bem como
nas fotografias não implicavam uma preservar um dos passos realizados para chegar
correção na escultura em si. H.P. à instalação definitiva. H.P.

41
7. E. Freuler
Étude du Torse d’Ugolin
[Estudo do Torso de Ugolino]
c. 1881 | Albúmen
Intervenção à tinta marrom
17 x 12,9 cm
Ph. 273 | Musée Rodin | Paris

42
Rodin colocou a argila de Ugolin et ses enfants
8. Anônimo 9. E. Freuler
Ugolin en terre sobre uma caixa de madeira, apoiada, por sua Étude du Torse d’Ugolin
[Ugolino em argila] vez, em uma banqueta. Esse empilhamento [Estudo do Torso de Ugolino]
c. 1881 | Albúmen provisório foi feito para a tomada da fotografia. c. 1881 | Albúmen
Ateliê do depósito de mármores O grupo está colocado na frente de La Porte de Intervenção e anotação a bico-de-pena
Intervenção a lápis grafite l’enfer, cuja estrutura de pranchas pode ser vista e tinta marrom: sera le pied de la porte
23,8 x 12,5 cm ao fundo, no ponto em que ele o encaixou no 14,5 x 10 cm
Ph. 293 | Musée Rodin | Paris monumento. H.P. Ph. 274 | Musée Rodin | Paris

43
10. Anônimo
Saint Jean-Baptiste, en arrière plan –
L’Homme au nez cassé et Diderot
[São João Batista, ao fundo –
O Homem de nariz quebrado e Diderot]
c. 1884 | Albúmen
Quadriculado a lápis grafite
14,2 x 11 cm
Ph. 277 | Musée Rodin | Paris

A fotografia foi quadriculada para facilitar sua


reprodução. Curiosamente, o traçado não incomo-
da a visão; ao contrário, incita um detalhamento
da imagem. Estamos em um ateliê tradicional, em
meio a uma cena íntima, onde as esculturas atuam
como personagens: Saint Jean-Baptiste parece se
dirigir para a porta aberta a fim de permitir a entrada
de luz necessária para a tomada da fotografia, e
também, talvez, um pouco do calor do sol. O busto
de L’Homme au nez cassé, colocado sobre uma
prateleira, assiste à cena indiferente, enquanto
Diderot, encimando um armário, domina o conjunto.
No chão, pequenos montes de entulhos que remetem
a observações feitas por visitantes que estiveram no
ateliê naquele período: “Entrava-se ali com muita
dificuldade. Havia estátuas viradas para a parede cujas
formas eram impossíveis de discernir, e Rodin, quando
questionado a esse respeito, fazia o gesto de um cria-
dor que não tem como cuidar de todas as coisas que
ele mesmo está a gerar” (Coquiot, 1913). H.P.

44
Auguste Rodin
Saint Jean-Baptiste
[São João Batista]
1880 | Bronze
50,8 x 22,5 x 27,5 cm
S. 639 | Musée Rodin | Paris

45
11. Charles Bodmer 12. Charles Bodmer
Éternel printemps La Fatigue
[Eterna primavera] [O Cansaço]
c. 1884 | Gelatina e prata c. 1884 | Gelatina e prata
Ateliê do depósito de mármores Na prova e no negativo:
Na prova e no negativo: no 35 no 8/C. Bodmer Phot.
19 x 24,3 cm 11,9 x 16,8 cm
Ph. 958 | Musée Rodin | Paris Ph. 2390 | Musée Rodin | Paris

46
13. Charles Bodmer
Faunesse à genoux 14. Charles Bodmer
[Fauna de joelhos] Femme accroupie
c. 1887 | Gelatina e prata [Mulher agachada]
No verso, com lápis grafite: c. 1881 | Gelatina e prata
La Faunesse à genoux Na prova e no negativo:
Na prova e no negativo: no 22 no 9/ C. Bodmer phot.
16,7 x 11,8 cm 16,6 x 12 cm
Ph. 4230 | Musée Rodin | Paris Ph. 402 | Musée Rodin | Paris

47
15. Charles Bodmer
Jean d’Aire nu dans l’atelier et copie
de la Bethsabée de Rembrandt à gauche
[Jean d’Aire nu no ateliê e cópia da
Betsabá de Rembrandt à esquerda]
c. 1886 | Gelatina e prata
Ateliê do boulevard de Vaugirard, 117
Na prova e no negativo: no 39
25 x 19 cm
Ph. 323 | Musée Rodin | Paris

Em 17 de abril de 1886, acompanhado de Félix


Bracquemond, Edmond de Goncourt fez uma visita
a Rodin: “Encontro-o em seu ateliê do boulevard
de Vaugirard, o ateliê simples do escultor, com suas
paredes salpicadas de gesso, seu pobre aquecedor
de ferro fundido, a fria umidade exalada por todas
aquelas coisas enormes de argila molhada, envolvidas
em trapos e com pedaços de cabeças, braços, pernas,
em meio aos quais dois gatos mirrados desenham
efígies de grifos fabulosos. E ali, um modelo de torso
nu com aspecto de estivador. Rodin faz girar sobre
suas bases as argilas em tamanho natural de seus seis
Otages de Calais [Reféns de Calais], esculpidos com
uma poderosa orientação realista e aquelas belas
cavidades na carne humana que Barrye introduzia no
flanco de seus animais [...] é um verdadeiro mestre da
carne” (Goncourt, Journal, 17 de abril de 1886). H.P.

48
16. Charles Bodmer 17. Charles Bodmer
Pierre de Wissant nu Pierre de Wissant nu
Maquette des Bourgeois de Calais Maquette des Bourgeois
et Buste de Becque en arrière-plan de Calais en arrière-plan
[Pierre de Wissant nu [Pierre de Wissant nu
Maquete dos Cidadãos de Calais Maquete dos Cidadãos
com Busto de Becque ao fundo] de Calais ao fundo]
c. 1886 | Gelatina e prata c. 1886 | Gelatina e prata
Ateliê do boulevard de Vaugirard, 117 Ateliê do boulevard de Vaugirard, 117
Na prova e no negativo: No verso, com lápis grafite:
no 41/ C. Bodmer Phot. 15 de H silhouette
25 x 18,5 cm 25,3 x 21,5 cm
Ph. 937 | Musée Rodin | Paris Ph. 322 | Musée Rodin | Paris

49
20. Charles Bodmer
Tête de Saint Jean-Baptiste 21. Auguste Léveillé
sur une sellette Eustache de Saint-Pierre en terre
[Cabeça de São João Batista [Eustache de Saint-Pierre em argila]
sobre uma banqueta] c. 1896 | Gravura a partir de uma fotografia
c. 1886 | Gelatina e prata de Victor Pannelier (obra 23),
Na prova e no negativo: impressa por Draeger e Lesieur
no 20/C. Bodmer phot. Assinatura na prova, embaixo: A. Léveillé.
16 x 11,6 cm 34,5 x 23,2 cm; 23,4 x 11,4 cm
Ph. 2507 | Musée Rodin | Paris G. 8269 | Musée Rodin | Paris

50
23. Victor Pannelier
Eustache de Saint-Pierre en terre
[Eustache de Saint-Pierre em argila]
22. Victor Pannelier c. 1886 | Albúmen
Eustache de Saint-Pierre Ateliê do boulevard de Vaugirard, 117
c. 1886 | Albúmen Intervenção com bico-de-pena e tinta preta;
Ateliê do boulevard de Vaugirard, 117 anotação com lápis grafite: plein
39,2 x 18 cm 37,7 x 16,7 cm
Ph. 320 | Musée Rodin | Paris Ph. 317 | Musée Rodin | Paris

51
AUGUSTE RODIN
Fugit amor
1884 | Bronze
38 x 48 x 20 cm
S. 598 | Musée Rodin | Paris

52
24. Auguste Rodin
À la beauté, viens-tu?
[À beleza, você vem?] 25. Anônimo
Lápis grafite, bico-de-pena Fugit amor
e tinta marrom em papel filigranado 1881 | Albúmen
desenhado a partir da figura ao lado Ateliê do depósito de mármores
15,5 x 10 cm 17 x 12,2 cm
D. 5302 | Musée Rodin | Paris Ph. 298 | Musée Rodin | Paris

53
27. Anônimo
Buste de Victor Hugo en terre
[Busto de Victor Hugo em argila]
1884 | Albúmen
Varanda da casa de Victor Hugo
Intervenção com lápis grafite
13,8 x 10,5 cm
Ph. 351 | Musée Rodin | Paris

Em 1884, Victor Hugo recusou-se a posar para Rodin.


Para fazer seu busto, o artista instalou uma banqueta
na varanda da casa do escritor, que se pode vislumbrar
ao fundo na fotografia. Os retoques que ele introduziu em
uma série de fotografias evocam o croqui do rosto e da cabeça
de Hugo que ele realizava às pressas durante as refeições,
nas quais sua presença era não mais do que tolerada. H.P.

26. Anônimo
Je suis belle en plâtre
[Sou bela em gesso]
1882 | Albúmen
Ateliê do depósito de mármores
Intervenção com bico-de-pena
e tinta marrom e com guache
16,6 x 11,9 cm
Ph. 296 | Musée Rodin | Paris

54
28. Anônimo A fotografia permitiu a Rodin rever o significado de sua escultura
Vulcain como em um desenho. Os poucos traços à tinta que ele imprimiu
[Vulcano] lhe inspiraram um novo título. Seu gosto evoluiu, avançando
c. 1889 | Albúmen para as Métamorphoses d’Ovide [Metamorfoses
Acréscimo de uma rede de Ovídio]: a mitologia sucede o mundo infernal de Dante.
a bico-de-pena e tinta marrom
Os títulos também eram sugeridos por amigos em visita ao
Embaixo, a lápis grafite:
Vulcain ayant fait un filet escultor e atribuídos, por vezes, muito tempo depois da con-
y trouve Mars et Vénus clusão das esculturas e dos desenhos. Uma mesma obra podia
10 x 15,4 cm receber sucessivamente vários títulos. Le Penseur [O Pensador]
Ph. 1040 | Musée Rodin | Paris chamou-se, inicialmente, Dante ou Le Poète [O Poeta]. H.P.

55
29. Anônimo
Métamorphoses d’Ovide en plâtre A escultura foi colocada em posição vertical durante a tomada
[Metamorfoses de Ovídio em gesso]
da imagem com um objetivo preciso e certamente como parte
Albúmen
de buscas de ordem gráfica que se iniciam na própria fotografia:
Intervenção e anotação
a lápis sobre a montagem,
a forma da base é integrada em um arco do zodíaco que encon-
à esquerda: le désir, tramos em alguns de seus desenhos. Rodin atribuiu ao conjunto
e à direita: zodiaque um novo título: Le Désir [O Desejo]. Essa justaposição da palavra
14,5 x 10,2 cm e do desenho remete à expressão usada por Rilke a respeito
Ph. 669 | Musée Rodin | Paris do trabalho de Rodin: “dedos que sonham”. H.P.

56
Rodin moveu sua escultura para expô-la na vertical
e em seguida cobriu a personagem masculina com
uma longa cabeleira desenhada a lápis. Talvez pensasse
no verso de Baudelaire: “Tes cheveux contiennent
32. Anônimo tout un rêve” (“Un hémisphère dans une chevelure”,
Psyché-Printemps-Mercure in: Le Spleen de Paris, Œuvres complètes, I. Paris:
apportant Pandore Gallimard/La Pléiade, 1975) [“Teus cabelos encerram
31. Anônimo [Psiquê-Primavera-Mercúrio todo um sonho”, em “Um hemisfério numa
Psyché-Printemps présentée trazendo Pandora] cabeleira”, Pequenos poemas em prosa – O Spleen
à la verticale c. 1889 | Albúmen
de Paris, tradução de Aurélio Buarque de Holanda
[Psiquê-Primavera apresentada A lápis grafite e a bico-de-pena
Ferreira, em Charles Baudelaire poesia e prosa, volume
na vertical] e tinta marrom, à esquerda:
Albúmen fresque/Hau/mercure apportant pandore
único. Rio de Janeiro: editora Nova Aguilar, 1995].
Intervenção a lápis grafite Anotação no verso, ao centro, Suas invenções caminhavam muitas vezes em pares:
e a bico-de-pena e tinta marrom a lápis grafite: Faune + nymphe na segunda tiragem, ele precisava em qual sentido
Na prova e no negativo: 30 Na prova e no negativo: 30 a imagem devia ser vista e lhe atribuiu um novo
14,1 x 10,6 cm 14,4 x 10,2 cm título, que foi utilizado em várias ocasiões: Mercure
Ph. 1058 | Musée Rodin | Paris Ph. 1286 | Musée Rodin | Paris apportant Pandore. H.P.

57
33. Charles Bodmer 34. Charles Bodmer
Le Poète et la sirene en plâtre Le Poète et la sirène
[O Poeta e a sereia em gesso] [O Poeta e a sereia]
c. 1889 | Albúmen c. 1889 | Gelatina e prata
Intervenção a bico-de-pena e tinta marrom; Intervenção a guache e anotação
anotação no verso com tinta marrom, no verso: Le jeune homme entraîné
no alto, à esquerda: perdition, e a lápis grafite, par Ondine/353/H 70c/bronze 8000
embaixo, à esquerda, de forma inclinada: = Le poète et la Sirène
Poète + sirène. Na tiragem e no negativo: no 25
14,4 x 10,3 cm 17,7 x 11,9 cm
Ph. 1073 | Musée Rodin | Paris Ph. 1074 | Musée Rodin | Paris

58
36. Anônimo
Naissance de Vénus sortant de l’onde
[Nascimento de Vênus surgindo da onda]
antes de 1889 | Albúmen
Contornada a guache e com intervenção a lápis grafite;
anotação a bico-de-pena e tinta marrom, à direita:
Naissance de Vénus sortant de l’onde
10 x 14,2 cm
Ph. 1053 | Musée Rodin | Paris

Rodin explorava ao máximo a arte da assemblage,


reunindo entre si inúmeras figuras que ele modelou
para La Porte de l’enfer [A Porta do inferno].
Às vezes, os corpos se misturam de tal maneira que
se torna difícil identificá-los. A onda é constituída por
duas esculturas de Polyphème e pelo corpo feminino
pertencente ao grupo da Tentation de Saint Antoine.
Vénus, um pequeno torso ao qual Rodin acrescentou
à tinta a cabeça, os braços e as pernas, em cima o
conjunto. H.P.

59
Foi provavelmente a partir de 1895, ano em que se instalou em
Meudon, que Rodin passou a realizar suas assemblages. Essa parte
muito importante do trabalho do escultor foi descoberta apenas
recentemente. Ele procedia, assim, a um verdadeiro jogo de
reconstrução. Decompunha e recompunha ininterruptamente,
misturando torsos, membros e figuras umas com as outras.
AUGUSTE RODIN Sua única preocupação continuava a ser o arranjo das formas no
Assemblage: toilette espaço. Nesse grupo, Rodin reuniu a figura de Andromède, sentada
de Vénus et Andromède sobre um rochedo quase dobrada ao meio, e a Toilette de Vénus.
[Composição: banho
de Vênus e Andrômeda] Sutil variação do Réveil [O Despertar], destacada no cartaz da
c. 1910 | Bronze exposição de 1900, La Toillete de Vénus apresenta uma linha
50,3 x 58,4 x 40,5 cm de corpo sinuosa e uma cabeleira tratada de modo naturalista,
S. 4017 | Musée Rodin | Paris o que confere à obra um aspecto bastante art nouveau.

60
AUGUSTE RODIN
Assemblage: torse
de La Centauresse
et Adolescent désespéré
[Composição: torso de
A Centaura e Adolescente
desesperado]
c.1910 | Bronze
31,2 x 24 x 13 cm
S. 6132 | Musée Rodin | Paris

61
37. Anônimo 38. Auguste Léveillé
L’Aurore, contrepartie L’Ange de la prière (d’après
du Crépuscule um dessin de Rodin)
[Aurora, a contrapartida [Anjo da oração (a partir
do Crepúsculo] de um desenho de Rodin)]
c. 1889 | Albúmen c. 1898 | Gravura
Intervenção a bico-de-pena, 32 x 24,8 cm
tinta marrom e guache; anotação G. 8278 | Musée Rodin | Paris
a lápis grafite, na parte superior: Rodin fez um desenho a partir da fotografia
L’aurore contrepartie du Crépuscule intitulada L’Aurore, contrepartie du Crépuscule
10,5 x 14,2 cm (obra 42). Esse desenho serviu de modelo
Ph. 349 | Musée Rodin | Paris para o gravador Auguste Léveillé. H.P.

62
Para Rodin, não existia o lado avesso nem o lado
39. Anônimo certo. Ele não hesitava em fazer diferentes composi-
Dans la mer ções a partir de figuras idênticas ou em mostrar um
[No mar] mesmo grupo às vezes na horizontal, às vezes de
c. 1889 | Albúmen
cabeça para baixo. Gostava desse tipo de jogo, que
Intervenção a bico-de-pena,
dava origem a uma infinidade de grupos em gesso,
tinta marrom e guache; anotação
a lápis grafite na parte inferior,
como a série em que L’Enfant prodigue [O Filho
à esquerda: Dans la mer pródigo] agarra-se ora à cintura, ora ao joelho de
10 x 14,4 cm uma estatueta feminina e que só existiu durante
Ph. 350 | Musée Rodin | Paris o tempo de tomada da imagem. H.P.

63
40. Anônimo 42. Anônimo
Mercure L’Aurore
[Mercúrio] [A Aurora]
c. 1889 | Albúmen c. 1889 | Albúmen
Intervenção Intervenção a lápis grafite
a bico-de-pena Na prova e no negativo: 21
e tinta violeta 10,6 x 13,5 cm
10,5 x 13,6 cm Ph. 1056 | Musée Rodin | Paris
Ph. 1049 | Musée Rodin | Paris

43. Anônimo
Le Crépuscule
[O Crepúsculo]
c. 1889 | Albúmen
Contornada a guache
10,5 x 14,3 cm
Ph. 1047 | Musée Rodin | Paris

64
44. Anônimo
La Douleur
[A Dor]
c. 1889 | Albúmen
Intervenção com aguada
de tinta marrom e guache
10,3 x 6,4 cm
Ph. 2977 | Musée Rodin | Paris

45. Anônimo
La Mort d’Adonis
[A Morte de Adonis]
c. 1889 | Albúmen
Contornada com aguada
de tinta marrom e guache
10,5 x 8,1 cm
Ph. 522 | Musée Rodin | Paris

La Mort d’Adonis e La Douleur foram


fotografadas juntas, mas a imagem, por
uma necessidade imposta pela repro-
dução, foi cortada. A impressão tornou
possível reuni-las novamente. H.P.

La Mort d’Adonis, desenho de Rodin


46. Anônimo 47. Anônimo
a partir da fotografia acima (obra 44) La Douleur en plâtre Ugolin
para o poema La Poison [O Veneno], [A Dor em gesso] [Ugolino]
faz parte de Vingt-sept poèmes des c. 1889 | Albúmen c. 1889 | Albúmen
Fleurs du Mal [27 poemas das Flores do Contornada com aguada Contornada com aguada
Mal], de Charles Baudelaire, ilustrado de tinta marrom e guache de tinta marrom e guache
por Rodin, entre outubro de 1887 e 10,1 x 5,1 cm 10,4 x 8,6 cm
janeiro de 1888, para Paul Gallimard. Ph. 2979 | Musée Rodin | Paris Ph. 1077 | Musée Rodin | Paris

65
Auguste Rodin
Torse masculin du Baiser
[Torso masculino do Beijo]
após 1882 | Bronze
51 x 41,8 x 34 cm
S. 5843 | Musée Rodin | Paris

66
Auguste Rodin
Grande main crispée
et figure implorante
[Grande mão crispada
e figura implorante]
1906 (?) | Bronze
44,5 x 33 x 27 cm
S. 791 | Musée Rodin | Paris

67
48. D. Freuler
Mains gauches de Bourgeois
de Calais suspendues à un support
[Mãos esquerdas dos Cidadãos de
Calais penduradas em um suporte]
Papéis salinizados
11,4 x 8,5 cm
11,5 x 7,9 cm
Ph. 2167 | Ph. 262 | Musée Rodin | Paris

68
49. D. Freuler
La Robe de chambre de Balzac
en cours de moulage
[O Robe de chambre de Balzac
em processo de moldagem]
1897 | Papel salinizado
Ateliê do depósito de mármores
20,3 x 12,9 cm
Ph. 1209 | Musée Rodin | Paris

69
51. D. Freuler
50. D. Freuler La Pensée en marbre
Monument à Octave Mirbeau recouverte d’une toile
[Monumento a Octave Mirbeau] [O Pensamento em mármore
c. 1894 | Papel salinizado coberto por um pano]
Numeração na prova e no negativo: IIII c. 1895 | Papel salinizado
25,6 x 19,9 cm 24,2 x 17,6 cm
Ph. 4912 | Musée Rodin | Paris Ph. 1305 | Musée Rodin | Paris

70
54. D. Freuler
Les Bénédictions en plâtre fixées
sur un vase grec posé sur une boîte
[As Bênçãos em gesso afixadas a um
vaso grego colocado sobre uma caixa]
c. 1897 | Papel salinizado
52. D. Freuler Ao fundo: La Porte de l’enfer
La Méditation Ateliê do depósito de mármores
[A Meditação] Intervenção a bico-de-pena e tinta marrom;
c. 1896 | Papel salinizado anotação no verso em tinta marrom:
Ateliê do depósito de mármores bénédiction/marbre/8000
24,1 x 18 cm 22,7 x 12,8 cm
Ph. 304 | Musée Rodin | Paris Ph. 2083 | Musée Rodin | Paris

71
55. Anônimo 56. D. Freuler
La Base du Monument Monument à Claude Lorrain
à Claude Lorrain [Monumento a Claude Lorrain]
[A Base do Monumento 1891-1892 | Albúmen
a Claude Lorrain] Intervenção à tinta
c. 1891, Galpão instalado nos 25,9 x 17 cm
jardins da Pépinière, em Nancy Ph. 1840 | Musée Rodin | Paris
Albúmen
Intervenção a bico-de-pena O Monument à Claude Lorrain [Monumento a Claude
e tinta marrom Lorrain], encomendado em 1889 a Rodin para ornamentar
17 x 12,6 cm os jardins da Pépinière, em Nancy, foi bastante polêmico:
Ph. 2668 | Musée Rodin | Paris a desproporção entre a figura do pintor e o pedestal
e a representação da personagem nua deflagraram
controvérsias que explicam o empenho de Rodin em corrigir
o monumento em um grande número de fotografias. Essa
imagem é datada, conforme uma carta de Louis Français
a Lucien Adam, de 26 de maio de 1891: “Vi, 15 dias atrás,
o monumento a Claude Lorrain em um local ao ar livre para
onde Rodin o transportou a fim de concluí-lo. Nesse lugar,
onde havia bastante espaço, ele o melhorou sensivelmente”
(arquivos municipais de Nancy).

72
Auguste Rodin
Claude Lorrain, esquisse
pour le monument
[Claude Lorrain, esboço
para o monumento]
c. 1887-1888 | Bronze
35,4 x 14 x 15,5 cm
S. 267 | Musée Rodin | Paris

73
Auguste Rodin
Claude Lorrain, tête
[Claude Lorrain, cabeça]
1890-1891 | Bronze
40 x 35 x 31,5 cm
S. 5846 | Musée Rodin | Paris

74
58. D. Freuler
Monument à
Claude Lorrain en plâtre
[Monumento a
Claude Lorrain em gesso]
c. 1891, Nancy
Papel salinizado
9,5 x 18 cm
16,3 x 18 cm
Ph. 4761 | Ph. 2189 | Musée Rodin | Paris

75
60. D. Freuler
59. D. Freuler Le Monument à Victor Hugo
Orphée et Eurydice [O Monumento a Victor Hugo]
[Orfeu e Eurídice] c. 1897 | Papel salinizado
c. 1893 | Papel salinizado Vista da parte de trás, que possibilita
Ateliê do depósito de mármores visualizar a armação de metal
No verso, a lápis grafite: no 7 que sustenta a Muse tragique [Musa trágica]
25,4 x 16,9 cm 26 x 19,7 cm
Ph. 399 | Musée Rodin | Paris Ph. 1669 | Musée Rodin | Paris

76
61. Eugène Druet
Jeune fille embrassée
par un fantôme en marbre
[Jovem abraçada por um
fantasma de mármore]
c. 1898 | Gelatina e prata
Intervenção a bico-de-pena e tinta marrom
20 x 26 cm
Ph. 347 | Musée Rodin | Paris

É muito raro encontrar fotografias retocadas por Rodin


62. Eugène Druet
a partir de 1900, como se essa atividade fosse restrita Jeune fille embrassée par
a um determinado período de sua vida. Essas duas un fantôme en marbre
imagens, tomadas de um mesmo ângulo por Eugène [Jovem abraçada por
Druet, oferecem uma nova interpretação. A fotografia um fantasma de mármore]
c. 1898 | Gelatina e prata
colocada na vertical foi particularmente inspiradora
Intervenção a bico-de-pena e tinta marrom
para o artista: a jovem e o fantasma foram transforma- 26 x 20 cm
dos em cariátides. H.P. Ph. 348 | Musée Rodin | Paris

77
64. Dornac No texto de uma conferência proferida pela primeira momento, ele mantém um olhar atento e concen-
Rodin assis devant le vez em outubro de 1905, Rilke descreveu a atmos- trado que vai e vem como a luz de um farol, mas
Monument à Victor Hugo fera singular de uma tarde de sábado, dia em que com tamanha energia que, mesmo distante, em
[Rodin sentado diante do o escultor recebeu visitas, no ateliê do depósito de nossas costas, ainda sentimos a reverberação
Monumento a Victor Hugo]
mármores: “Em meio a obras já concluídas ou ainda de seu furor” (Rilke. Œuvres en prose, récits et
1898 | Albúmen
pela metade, [os visitantes de passagem] encontram essais. Paris: Gallimard/La Pléiade, 1993). As foto-
Ateliê do depósito de mármores
Série Nos contemporains chez eux o mestre. As pessoas se sentem tranquilas desde o grafias guardadas por Rodin revelam um ateliê sem
[Nossos contemporâneos em casa] primeiro momento, envolvidas por sua polidez, mas seus ocupantes. É muito raro ver ou mesmo notar,
20,7 x 26 cm também quase aterrorizadas diante da intensidade como ocorre no caso acima, a presença de algum
Ph. 179 | Musée Rodin | Paris de seu interesse quando ele se volta para elas. Nesse dos auxiliares de Rodin. C.L.

78
65. Dornac
Rodin devant le Monument
à Sarmiento, les mains dans les
poches, outils posés sur une planche
Dornac foi o autor de uma série de retratos
[Rodin diante do Monumento
fotográficos intitulada Nos contemporains chez
a Sarmiento, mãos nos bolsos,
ferramentas dispostas sobre
eux [Nossos contemporâneos em casa] e realizada
uma prancha] no fim do século 19 e início do 20, publicada em
1898 | Albúmen revistas como L’Art et les Artistes. O retrato, nor-
Ateliê do depósito de mármores malmente, é convencional: assim como o escritor
Série Nos contemporains chez eux que posa com sua pena ou o arquiteto com sua
[Nossos contemporâneos em casa] planta, o escultor, cercado por cinzéis, formões
12,5 x 18 cm e alguma peça, é rapidamente identificado pelo
Ph. 185 | Musée Rodin | Paris público que coleciona esses cartões. C.L.

79
A travessia da ponte
“Rodin só vê através dele”
Eugène Druet

Hélène Pinet

O encontro de Rodin com Druet é


il. 1 Cabeçalho
a história de uma associação improvável e de do papel de cartas
uma ascensão social digna de um folhetim do de Eugène Druet.
Arquivos do Museé Rodin | Paris
século 19. Eugène Druet (1867-1916) tinha 26
anos de idade quando, em 1893, assumiu,
com a esposa, Lucie, o controle do Yacht o nome de seu ilustre visitante totalmente
Club Français, café da família que lhe coube por acaso (il. 2). Sentindo-se orgulhoso e
de herança (il. 1). Faltava a ele vocação para querendo provar que não era uma pessoa
isso e suas preferências pessoais o levavam, totalmente desprovida de sensibilidade,
às vezes, para bem longe de seu balcão. resolveu lhe mostrar suas fotografias.
Ele apaixonou-se especialmente pela fotografia, As vistas de Paris e as paisagens que se
que lhe fora apresentada por um amigo revelaram a Rodin seduziram-no a tal ponto
engenheiro, responsável por iniciá-lo na arte. que, em um belo dia, em 1896, ele atravessou
Ela se tornou seu hobby1. de volta a ponte sobre o Sena na companhia
O estabelecimento dos Druet, situado de Druet, que se tornou seu fotógrafo
na place de l’Alma, 3, não servia refeições, preferido. O dono do café deu, assim, seus
mas Rodin, cujo ateliê ficava do outro lado da primeiros passos em um universo que o
ponte, perguntou aos proprietários se eles não fascinava e que nunca mais abandonou,
aceitariam dividir com ele as refeições particu- chegando a abrir uma galeria de arte, em
lares que faziam no fundo do café. Chegam a 1903, na rue du Faubourg Saint-Honoré.
um acordo, e ele, “de camisa simples, feito um O cenário estava montado e a bela história
trabalhador de uma pedreira”2, passou então que nele se desenrolou foi contada ao longo de
a saborear as omeletes de Lucie Druet, cujo vários anos e diversas publicações, de maneira
pai era cozinheiro. O Yacht Club se tornou um simples e sem grandes variações. A vida de
ponto de encontro: “Até amanhã, no Druet, Druet parece limitar-se a essas poucas linhas,
ao meio-dia”, escreveu Charles Morice3; Eva mas elas são suficientes, deve-se dizer, para
de Basily-Callimaki chegou a se surpreender tecer o quadro de uma trajetória nada comum.
quando não o encontrou no local: “Telefonei
ontem a Druet para pegar algumas informa- “Finalmente ele encontrou
ções com você, mas, assim como hoje, você um homem apaixonado por fotografias.”
não estava lá; o que aconteceu? Onde tem
almoçado todos esses dias?”4. O êxito da exposição organizada pelo
Neto de agricultor, filho do dono de pintor Baud-Bovy em Genebra, em 1896,
um café, Druet não tinha qualquer relação abriu novas perspectivas: nela, pela primeira
com o mundo artístico e só ficou sabendo vez, Rodin expôs fotografias juntamente com
firmar um nome, na esteira do artista. Em De qualquer maneira, vai aqui minha autori­zação
suma, os dois, com suas personalidades bem para que reproduza as esculturas em foto”.
distintas e estabelecidas, compartilhavam um O escultor inglês John Tweed lhe agradeceu
interesse em sua bizarra associação. pelas seis fotografias que recebeu: “Elas
As informações de que dispomos sobre os constituirão uma recordação eterna de sua
acordos estabelecidos e seu modo de traba- benevolência para comigo e, ao mesmo tempo,
lhar em conjunto ao longo dos quatro anos um guia que indica o caminho a seguir”14.
seguintes, durante os quais Druet realizou a Os admiradores incondicionais de Rodin
il. 2 Anônimo maior parte das fotografias que conhecemos forçosamente se tornavam, e também devido
Retrato de Eugène Druet da obra de Rodin, provêm essencialmente à capacidade de persuasão do escultor, admi­
Saint-Germain-en-Laye, Musée Départemental
de testemunhos do escultor e de seus conhe- radores incondicionais de Druet.
Maurice Denis – Le Prieuré
doação de senhor e senhora Bourcier cidos. “O senhor já me afirmou várias vezes O advogado e crítico Henri Duhem pediu
que estava satisfeito”9, escreveu Druet um ao escultor o favor de assinar, à tinta, as
suas esculturas. Os dois tipos de criação pouco mais tarde. Rodin não escondia isso. provas de Druet, que ele reuniu em um
se complementaram tão bem que, dali em Ao contrário: apresentou o fotógrafo a seu álbum: “Uma verdadeira obra de arte, uma
diante, a imagem passou, frequentemente, círculo mais íntimo e, sistematicamente, forma notável e maravilhosa de compreen-
a acompanhar as peças tridimensionais nas impôs o uso de suas fotografias à imprensa são de sua obra”15.
mostras que ele organizava. As ampliações e às editoras10. Os críticos, por seu lado, Diante dessas imagens, que, passado
em papel salinizado ou albuminado, em for­ repro­duziam como um leitmotiv as palavras um século, ainda parecem tão estranhas
matos pequenos, que haviam sido úteis do escultor, apresentando Druet como e até mesmo perturbadoras, ficamos, acima
para uso pessoal, não se adaptavam mais seu pupilo: “Estimulado, aconselhado por de tudo, desconcertados, pois absolutamente
ao lugar que Rodin queria dar à fotografia. Rodin”, podemos ler no primeiro artigo nada faz lembrar as reproduções comuns
Cabe lembrar que, a essa altura, ele já se escrito sobre o fotógrafo amador11. “Guiado de obras de arte: seja o fundo, seja o ângulo
tornara uma celebridade bastante requisitada. pelo mestre”, repetiu André Fontainas12. de visão, seja o enquadramento, muito menos
Abundavam os artigos e os jornalistas Rodin não hesitava em ser elogioso, escre­ a iluminação, nada disso encontra eco na
solicitavam ilustrações em maior quantidade vendo, por exemplo, ao crítico de arte Roger edição fotográfica tradicional. E elas ainda
e mais variadas, à medida que ele avança em Marx, que buscava reproduções de La Porte adquirem um sabor adicional quando lemos
sua obra6. O escultor podia utilizar-se de uma de l’enfer [A Porta do inferno], o seguinte: as críticas feitas por Druet.
das diversas editoras especializadas na repro­ “Tenho um fotógrafo que trabalha muito bem,
dução de obras de arte existentes, como mas que não pode ser apressado... Ele me “Curvei-me a todas as suas exigências.”
Giraudon, Braun ou Bulloz, mas “ele não passou ontem fotografias maravilhosas que
costuma seguir por caminhos já traçados ou merecem ser vistas e admiradas”13. Estava Alguns anos mais tarde, em 1901, uma
ir atrás da multidão”7, e, além disso, àquela tão encantado com o resultado que enviava carta do fotógrafo registrou sua versão dos
altura, Rodin esperava mais da fotografia algumas delas, com prazer, a quem lhe fatos referentes a uma séria divergência
do que uma mera reprodução destinada à pedisse: amigos, colecionadores, alunos. surgida entre os dois: “Quando o conheci
publicação pela imprensa. O que ele bus- A propósito de reproduções para ilustrar e o senhor pediu para fotografar suas obras,
cava não era um técnico capaz de aplicar um artigo sobre sua exposição em Haia, ele curvei-me a todas as exigências, aceitei seus
seus conhecimentos sem nenhuma reflexão escreveu a Philippe Zilcken: “O senhor me conselhos e sua orientação, conformando-me
a mais, e sim um colaborador. “Finalmente deixa muito feliz com sua intenção de repro­ estritamente com seus desejos”, lembrou Druet,
ele encontrou um homem apaixonado por duzir algumas esculturas. Tenho fotografias e continuou: “Não negligenciei nada, a fim de
fotografias”8. Druet, por sua vez, queria apro- iguais às que estão expostas, mas até hoje agradá-lo. Destruí sem queixas as imagens que
veitar a oportunidade para entrar em um ninguém quis reproduzi-las, por considerarem o senhor não considerava apropriadas”. Isso
meio que o atraía e no qual imaginava poder não muito precisas. Eu gosto delas assim... quanto ao lado estético. Do ponto de vista

81
financeiro, Rodin também não pareceu muito aventura. Druet, que dedicou bastante tempo preciso distribuir os papéis, fazer personalidades
prestativo: “Não preciso fazê-lo lembrar o às fotografias e doou muitas delas para diferen- diversas e profissionais de diferentes especialida-
custo de realização dessas fotografias; o tes publicações, viu aí uma oportunidade para des conviverem adequadamente, administrando,
senhor sabe que todas as despesas foram apresentar seu trabalho, recuperar os gastos ao mesmo tempo, os interesses de cada um.
pagas por mim e que nada recebi do senhor. e até mesmo se ocupar das vendas, habituado Foi Druet quem acabou assumindo a dianteira.
Sabe também quanto tempo isso me ocupou... que era a lidar com o comércio. Joanny Peytel, Um contrato bastante detalhado, assinado
Quando desejou ver provas, coloquei-as a sua que investiu financeiramente no evento, com em fevereiro de 1900, atribuiu-lhe um papel
disposição gratuitamente. Dei-lhe quantas outros dois banqueiros18, queria manter o predominante. O escultor passou a descarregar
reproduções lhe pareceram úteis para publi­ controle de tudo. O editor Manzi, sucessor de tudo sobre ele, que fez as vezes, ao mesmo
cação em jornais, revistas, livros etc.16 O senhor Goupil, propôs-se a publicar o catálogo19. Julien tempo, de homem-orquestra e guardião do
quis até mesmo que eu fizesse acordo com o Leclerq, que em 1898 tivera vontade de organi- templo. A escolha desagradou Joanny Peytel,
senhor Giraudon, à rue Bonaparte, para a venda zar em Estocolmo uma exposição de esculturas que via Druet e Leclerq como limitados e
de minhas provas, sob condições one­rosas para e desenhos de Rodin acompanhada de fotos criticava Rodin por tê-los “escolhido um tanto
mim; eu me submeti a isso, colocando acima de de Druet, estava à procura de um cargo honorí- precipitadamente”.
meus interesses pessoais o desejo de divulgar fico: “Gostaria de fazer em Paris meu teste De acordo com o contrato, Druet era
sua arte na região da École des Beaux-Arts como secretário da organização de uma exposi- responsável geral, incluindo a guarda e a
[Escola de Belas-Artes]. O senhor me disse ção importante”, pediu ele, sem subterfúgios20. supervisão, “por todos os objetos expostos,
que haveria nisso um ganho artístico para o Léon Maillard teve então a ideia de constituir integralmente, sem exceção”. Ele “deverá estar
senhor, e eu não hesitei”. uma empresa comercial, por meio da qual ele sempre presente nas salas de exposição”, sendo
A juventude e o orgulho de trabalhar para teria, é claro, a exclusividade “para a explora- substituído, em uma eventual ausência, por
Rodin, assim como a afeição pelo escultor17, ção e reprodução de todas as obras esculturais Julien Leclerq, sob suas ordens e remuneração,
não bastaram para explicar essa boa vontade. de Rodin”21. Felizmente, Joanny Pleytel mos- “todos os dias, desde a hora de abertura até
Druet pegara gosto por sua nova atividade e trou-se atento e tratou de esfriar um pouco os a de encerramento. O pessoal de serviço estará
não queria abandoná-la. Rodin lhe possibilitava ânimos: “Estive com o senhor Maillard e, em sob sua supervisão e respon­sabilidade”: dois
uma oportunidade suplementar. defesa dos interesses do senhor, não achei que vigias diurnos, um noturno, uma pessoa para
tivesse de aprovar seu projeto”. a chapelaria e outra para o balcão de venda.
Organização e tensão na place de l’Alma O maravilhoso espaço atiçava ideias até O pessoal era “contratado pelo senhor Rodin,
mesmo entre os artistas. O escultor italiano que terá o direito permanente de trocá-lo, redu­
Antes do relacionamento se deteriorar, Medardo Rosso não se acanhou e foi direto zi-lo ou ampliá-lo... Os vencimentos do pessoal
Rodin e Druet se encontravam com bastante ao ponto: “Tenho uma peça de três metros por de serviço, assim como os custos com material
frequência, na margem direita do Sena, no dois. Será que não poderia expô-la em seu e limpeza, ficam a cargo do escultor”.
Yacht Club, ou na margem esquerda, no depósito pavilhão?”22, enquanto o pintor Rafaëlli, menos Druet e Leclerq ficaram explicitamente
de mármores. Por conta disso, o fotógrafo convicto, mostrou-se também menos convin- encarregados “de fornecer informações ao
acompanhou dia a dia as negociações reali­zadas cente: “Por mim, é a contragosto que exponho público, bem como da venda das obras expostas
pelo escultor para instalar seu pavilhão e apre- na Exposition Universelle, por isso, se lhe for e suas reproduções, conforme os preços
sentar suas obras em paralelo à Exposition conveniente me reservar um lugar dentro de definidos por Rodin”.
Universelle [Exposição universal] (il. 3). Certa­ seu pavilhão, escreva-me, que então irei visitá-lo O escultor, ao contrário do que achava seu
mente não foi sem sua participação a escolha para nos entendermos a respeito”23. patrocinador, não fez uma escolha ruim: os dois
do quarteirão da place de l’Alma como local Esse pequeno mundo se agitava todo, homens complementavam muito bem um ao
para a construção do edifício, a dois passos e Rodin, que até então deixara aos cuidados outro. Leclerq, que falava inglês, alemão e as
de seu estabelecimento. de terceiros a organização de suas exposições, línguas escandinavas, conhecia perfeitamente
O projeto aguçava os mais diversos apetites. deu-se conta da complexidade do empreendi- o discurso a ser feito e se movia com desenvol-
Diversas pessoas queriam participar da mento. Como em qualquer espetáculo, era tura, sentindo-se totalmente à vontade no

82
de cada dia uma pessoa especialmente designada – as quais ele talvez tivesse utilizado como
para esse fim pelo senhor Rodin encarregar-se-á balão de ensaio para a de 1900. A repetição
de transportar para o Crédit Algérien o valor da da experiência lhe ocorreu, portanto, de
receita do período: produtos de mostruário, forma bastante natural, como o próprio Druet
vendas de catálogos, de obras expostas ou reprodu- confirmou: “Vejo uma expressão de seu
ções etc., à exceção da venda de fotografias, que contentamento no fato de ter feito questão
será dirigida ao senhor Druet”. que minhas fotografias figurassem em sua
O que Druet aceitou, portanto, foi exposição na place de l’Alma”30.
um emprego de jornada integral durante Setenta e uma fotografias, assim como
quatro meses, deixando a cargo da esposa seus desenhos, são expostos nas paredes de
a direção do café. duas pequenas salas, à entrada do pavilhão31.
il. 3 Tudo parecia começar bem. No entanto, A seleção, feita provavelmente de comum
MM. Rodin, Brisson et Druet as rivalidades, as incompatibilidades de gênio acordo, era curiosa: repetições, sequências,
à la descente de bateau omnibus
e as tensões, sem dúvida muito fortes antes muita presença de obras menores e uma quase
[Senhores Rodin, Brisson e Druet
na descida do barco-ônibus] mesmo da inauguração do pavilhão, acabaram total ausência de obras importantes (il. 4). Na
Ilustração do artigo “Promenades et visites explodindo em 10 de março: Druet rompeu e se verdade, elas formavam um conjunto único,
à l’exposition. Chez le cabaretier d’Auguste
Rodin”, Le Temps, 7 de junho de 1900 recusou a ter qualquer participação na exposi- que não devia ser desmembrado e que só fazia
ção e no catálogo26. Mais uma vez imprevisível, sentido à luz das esculturas e dos desenhos com
mas nunca curto de ideias, Rodin apelou para os quais estavam misturadas. Emolduradas por
universo cosmopolita que reunia curiosos, outro fotógrafo amador, Jean-François Limet, uma ripa de madeira preta de ponta a ponta,
colecionadores e curadores de museus. Fez, patinador de bronze, para ilustrar o catálogo, coladas umas às outras, às vezes em três
aliás, sugestões ponderadas, como a de se que precisava estar pronto até 1o de maio... fileiras, a forma de sua apresentação não
fundirem em bronze algumas esculturas, pois, Arsène Alexandre, que coordenava a publica- obteve unanimidade. Fagus não gostou. “Mais
“em geral, o amante de arte gosta de comprar ção, não poupou esforços. Se o catálogo saiu uma vez... Enfim... As fotografias e as aquare-
apenas os exemplares já disponíveis. É raro com 28 imagens de Limet, realizadas em menos las, colocadas de forma rigidamente justaposta,
convencê-lo a encomendar que se faça em de 15 dias no ateliê de Meudon e em seu isso parecia prejudicá-las, tirava-lhes a força:
bronze uma obra exposta em gesso”24. jardim, os seis números especiais dedicados como uma coleção no Musée d´Histoire Naturelle:
Druet cuidava da contabilidade e dirigia a Rodin pela revista de arte La Plume eram na vitrine de baixo, o xisto, na de cima, o
o pessoal como se estivesse em seu café. ilustrados com fotografias de Eugène Druet27. quartzo... Só faltavam as etiquetas... O senhor me
Quanto ao restante, ele aprendeu muita coisa Com um estilo mais tradicional, as fotografias perdoa? Com meu mais profundo respeito.”32
nos quatro anos passados ao lado do mestre. de Limet eram, sem dúvida, mais fáceis de O jorna­lista Achille Segard também desaprovou:
E via, finalmente, uma oportunidade de por em imprimir do que as de Druet. Já em 1899, Rodin “Mas sou um entusiasta tão grande, meu caro
prática seus conhecimentos. se queixava: “Tenho fotografias que são como mestre, que eis aqui uma fotografia que com-
No que se referia à remuneração, Rodin as que estão expostas e que, até agora, ninguém prei de seus vendedores de catálogos, quatro
concedeu a Druet “o direito exclusivo de venda, quis reproduzir, por achá-las pouco nítidas. palavrinhas suas no alto ou embaixo seriam
até 31 de outubro de 1900, das fotografias Gosto delas assim”28. para mim uma honra! Ela não é bela, mas
de suas obras sem qualquer encargo em As coisas já estavam avançadas demais guardarei pelo menos um registro dessa
relação a ele. Todas as despesas com a produ- para que Druet pudesse realmente recuar. exposição”33. Não se pode negar, a esses,
ção das fotografias e sua venda correrão por Apesar de sua carta de ruptura, ele estava o mérito da franqueza. As opiniões se dividiam
sua conta [...] Rodin terá o direito de vetar a presente no dia da abertura e assumiu suas e as fotografias nunca deixavam ninguém
venda de fotografias que não lhe parecerem tarefas até 31 de outubro. indiferente: “Druet conseguiu ver o que é
suficientemente artísticas”25. Em 1899, Rodin já havia apresentado as Rodin; aliás, foi o próprio mestre que o ensinou
A confiança não é irrestrita, pois “ao término fotografias de Druet em diversas exposições29 a fazê-lo, de forma simplesmente genial.

83
pessoais de seu trabalho, alimentando as
relações que a exposição de l´Alma permitiu-lhe
estabelecer. Estava certamente menos dispo­
nível e Rodin, em 15 de abril de 1903, assinou
um contrato de exclusividade com Bulloz,
il. 4 Bauche editor de arte estabelecido à rue Bonaparte,
Pavillon de l’Alma en 1900 ao lado da École des Beaux-Arts, não muito
Aristótipo
Ph. 1931 | Musée Rodin | Paris
distante da empresa de Giraudon, a quem Druet
tinha dado antes suas imagens. Em 7 de julho,
ele anunciou a Rodin: “Preciso conversar longa­
Não devemos ter medo de dizer algo que pode atitude; quando me abandonou um tanto mente. Haverá uma mudança em nossa vida.
até parecer uma barbaridade, ou seja, que bruscamente um mês atrás, cheguei a imaginar Minha mulher, cansada, força-me a deixar o café
somente com essas fotos é que apren­demos que, refletindo melhor, o senhor compreende- de l´Alma e assumir uma vida mais tranquila.
a conhecer, em toda a sua grandeza, a sobe- ria como foi injusta sua conduta e que, consi- Gostaria de colocá-lo a par dessa mudança”38.
rana distribuição do espaço em Rodin”, derando tudo aquilo que fiz pelo senhor, Embora a apresente como súbita, o mais
escreveu, com entusiasmo, Meier-Graefe34. voltaria atrás em seu movimento, fruto de um provável é que Druet tenha preparado essa
Henri Duhem foi o único a evocar o papel mau humor. Hoje, dou-me conta de que devo reviravolta com bastante antecedência.
educativo desempenhado pelas fotografias de assumir minha defesa, e, posto que agora o que Com efeito, em 24 de novembro, ele inau­
Druet: “Seria desejável que nossas escolas locais temos em comum são apenas contas a acertar, gurou uma galeria de arte no número 114 da
de desenho obtivessem algumas dessas séries dirijo-me ao senhor para fazermos um acordo rue du Faubourg Saint-Honoré39. Assumiu
de reproduções, de preciosa valia para seu amigável antes de ter de apelar à justiça. a defesa de diferentes tendências artísticas,
ensino”35. A observação do jornalista pode O senhor me deve, conforme nossas contas, apesar da forte concorrência existente entre
parecer curiosa, já que o conjunto dessas pela Exposição, um saldo de 4.502 francos: os marchands da época, dos quais Paul Durand-
imagens se prestava mais a uma interpretação peço que me envie essa soma. Sei muito bem Ruel, Georges Petit, Bernheim-Jeune e Ambroise
poética do que a um estudo estilístico das que essa ideia não é sua; como eu, o senhor Vollard eram os nomes mais conhecidos.
formas. Mas a origem da ideia deve ser sabe o nome da pessoa que o empurrou nessa Apaixonou-se pelas obras dos artistas nabis40,
buscada na noção de visão geral da obra de direção. Mas o senhor sabe também que essa os quais, expondo a partir de dezembro de 1903,
Rodin, proporcionada por aquelas paredes pretensão não é nem justa nem fundamen- obtiveram um impacto considerável. Uma pro-
cobertas de fotografias. Uma espécie de corpus tada; permita-me recordar-lhe em algumas funda amizade passou a ligá-lo, a partir de então,
fotográfico que possibilitaria reunir, sobre poucas palavras tudo o que aconteceu...”36. a Maurice Denis. O marchand devia muito a esse
uma mesa ou um cimácio, todas as obras do Ele descrevia, então, as condi­ções de trabalho pintor no que se referia ao mercado da arte e
artista; assim, mais acessíveis, elas ficariam mais mencionadas acima. Ao fim, Rodin pagou a a sua cultura artística e literária. Tudo avançava
fáceis de ser estudadas. dívida, 4.500 francos, quantia que significava muito rapidamente. Em 16 de janeiro de 1904,
Encerrada a exposição, as relações conti­ para ele um pouco mais do que o preço de ele registrou sua marca; no fim de fevereiro,
nuaram tensas, apesar das negociações um busto em bronze37. a oficina de reprodução de obras de arte criada
conduzidas pela senhora Druet, que aprovei- Encerrava-se a troca de cartas, reto­ por ele paralelamente à galeria estava pronta
tou as ausências do marido para manter mavam-se os trabalhos e Lucie Druet para entrar em operação41.
encontros clandestinos com Rodin. Passaram-se continuava a se encontrar com Rodin, O fotógrafo retratava sistematicamente
setembro, outubro, novembro. De forma inábil, provavelmente por ocasião das sessões todas as obras dos artistas que expunham em
Rodin apelou a Peytel para que tentasse de pose para seu busto (il. 5). sua galeria42. E complementava esse acervo
resolver seus desentendimentos. Druet explodiu Eugène Druet voltou para trás de seu comparecendo a seus ateliês. Em concordância
e, em uma carta de duas páginas, expôs suas balcão, mantendo uma colaboração mais com os artistas, ele lhes enviava um exemplar
queixas: “Confesso estar surpreso com sua contida com Rodin, e organizava exposições de cada foto e recebia em troca os direitos

84
melhores condições possíveis – vale dizer, com o envio de 40% do preço
marcado” (H. Floury a Rodin, 23 de abril de 1900, arquivo do Musée Rodin).
de reprodução de todos os quadros fotogra­ 20
Em 9 de fevereiro de 1899, ele pedira o apoio de Rodin a sua tentativa
de substituir Durand-Tahier, falecido, na presidência da Société nationale
fados43. A qualidade dessas imagens não des Beaux-Arts [Sociedade Nacional de Belas-Artes].
deixava de ser observada pelos profissionais:
21
Léon Maillard a Rodin, 7 de janeiro de 1899, arquivo do Musée Rodin:
“A sociedade a ser constituída terá como objetos principais: a venda, seja
“Ao contrário de um grande número de fotó­ por encomenda, seja por aquisição direta, das obras originais do senhor Rodin,
mantendo sempre o direito de preferência para a aquisição de obras
grafos que se contentam com pouco, sem se futuras; exposições das referidas obras, seja na França, seja no exterior; e a
preocupar com a precisão dos elementos, título de exclusividade, sem exceção nem restrição, o direito de reprodução
das obras realizadas e a serem realizadas, em todos os processos plásticos e
o senhor Druet sempre se ocupou com o orto­ gráficos e derivados da fotografia – em uma palavra, em qualquer forma
cro­matismo, atingindo assim uma fidelidade de reprodução que seja, e a edição dessas reproduções...”.
22
Medardo Rosso a Rodin, [1899], arquivo do Musée Rodin.
nos detalhes que é indispensável em matéria 23
Jean-François Raffaëlli (1850-1924) a Rodin, 18 de junho de 1899, arquivo
de reprodução de obras de arte”44. Em suas do Musée Rodin.
24
Julien Leclerq a Rodin, julho de 1900, arquivo do Musée Rodin.
memórias, o pintor Jacques-Émile Blanche 25
Contrat Rodin-Druet, texto datilografado, fevereiro (?), arquivo do Musée
Rodin: “Além disso, o senhor Druet receberá mensalmente 10% [12%,
relatou que o fotógrafo inventou um método corrigido com crayon] sobre o montante das vendas de catálogos e apresenta-
il. 5 Auguste Rodin
que lhe permitia “retratar uma obra bem de ções e sobre o montante das vendas, realizadas a seus cuidados ou
Buste de Lucie Druet do senhor Leclerq, de obras expostas ou reproduções. Por fim, 1,5%
perto, preservando ao mesmo tempo o valor [Busto de Lucie Druet] [2%, corrigido com crayon] do montante dos ingressos vendidos”. A cópia
relativo de cada um dos planos do modelado”. Argila do contrato, conservada pelo Musée Rodin, traz correções feitas a crayon
S. 2004 | Musée Rodin | Paris com uma letra cuja autoria não foi possível identificar.
Druet contratou alguns assistentes e não 26
Druet a Rodin, 10 de março de 1900, arquivo do Musée Rodin: “Com base em
mais esteve, a partir daí, por trás da objetiva. nossa conversa do domingo, 4, eis o que lhe peço: 1. Não colocar nenhuma
de minhas ampliações em seu pavillon de la place de l’Alma ou em outras expo-
O trabalho que realizou para Rodin permanece sições que o senhor poderá fazer depois; 2. Não fazer nenhuma reprodução delas; 3.
TÍTULO
Gustave Coquiot a Ferroud, 8 de maio de 1912, arquivo do Musée Rodin. Não publicá-las em nenhum jornal, revista etc. Mantenho, aliás, todos os direitos
como uma obra excepcional, da mesma forma 1
Crochet, 1971. de propriedade!”.
que a relação que mantiveram (obra 106). As 2
Bergerat, 1912, p. 232. 27
Druet a Rodin, 21 de janeiro de 1901, arquivo do Musée Rodin: “O senhor quis
3
Charles Morice a Rodin, [7] de julho de 1898, arquivo do Musée Rodin. passar para La Plume uma série de fotografias para a produção dos volumes, eu
cartas trocadas entre o crítico de arte Gustave 4
Eva de Basily-Callimaki a Rodin, 15 de julho de 1900 (?), arquivo do Musée Rodin. o aceitei sem qualquer remuneração”. No terceiro fascículo dedicado a
Coquiot e seu editor Ferroud, em 1912, são uma 5
Anet, 1901. Rodin, um encarte registra: “Devemos corrigir aqui um grave esqueci-
6
Uma carta de Giraudon permite mesurar o quanto era significativa a demanda mento. Se pudemos reproduzir, nestes fascículos, a obra de Rodin em
demonstração disso: “O senhor sabe que Druet em relação a isso: “Nossa clientela nos pede frequentemente fotografias de condições de uma beleza ainda hoje inigualada, isso se deve à gentileza do
continua sendo o fotógrafo oficial das obras de suas obras e, afora aquilo que o Musée du Luxembourg possui do senhor, não senhor Druet, que colocou a nossa disposição suas admiráveis fotografias.
há fotografias de outras obras; será que o senhor não poderia me fazer o favor Nós lhe agradecemos enormemente” ( La Plume , terceiro fascículo,
Rodin; que só ele possui todas as suas fotos; e, de permitir que seja fotografado aquilo que tem no ateliê, a fim de atender os no 268, 15 de junho de 1900).
pedidos que nos são feitos por seus vários admiradores?” (Giraudon a Rodin, Rodin a Hélène Villa, 21 de julho de 1899, arquivo do Musée Rodin.
acima de tudo, que só ele conseguiu fotografar
28

28 de julho de 1899, arquivo do Musée Rodin). Nesse período, Druet ainda não 29
Bruxelas, Roterdã, Amsterdã e Haia, em 1899.
de modo a deixar Rodin totalmente satisfeito. comercializava suas séries e Rodin pediu que ele as mandasse para Giraudon. 30
Druet a Rodin, 6 de janeiro de 1901, arquivo do Musée Rodin.
7
Anet, Claude. “La Photographie de l’œuvre de Rodin”, in: La Revue blanche, 31
Cabe observar que até hoje são apresentados, nas exposições
Além disso, todas as obras (ou quase todas) 1o de junho de 1901. realizadas em outros países, tanto fotografias quanto desenhos.
de Rodin estão em Meudon; ora, ali o mestre 8
Ibid. 32
Félicien Fagus (Georges Fayet) a Rodin, 1900, arquivo do Musée Rodin.
9
Eugène Druet a Rodin, 6 de janeiro de 1901, arquivo do Musée Rodin. 33
Achille Segard a Rodin, 9 de agosto de 1900, arquivo do Musée Rodin.
não aceita receber nenhum fotógrafo, à exceção 10
Quando a jornalista inglesa Clara Quin solicitou ilustrações para uma 34
Meier-Graefe, 1904.
de Druet. Os dois são ligados por uma amizade série de artigos a ser publicada em The Art journal, ele lhe passou o nome 35
Henri Duhem, “L’Art à l’Exposition universelle, l’Exposition Rodin” [A Arte
de Druet. Uma primeira foto foi publicada em The Magazine of art, em na Exposição universal, a Exposição Rodin], L’Indépendant, 19 de junho de 1900.
de mais de 15 anos. Contratei Lémery, o fotó- outubro de 1897. 36
Druet a Rodin, 6 de janeiro de 1901, arquivo do Musée Rodin.
grafo da rue N.D. de Lorette, por razões econô- Fagus, 1899. Na exposição de l´Alma, Rodin pedia 4 mil francos pelo busto de
11 37

12
Fontainas, 1901. Rochefort em bronze e 8 mil francos pelo de Victor Hugo em mármore.
micas, só isso. Mas Druet faz fotografias muito 13
Rodin a Philippe Zilcken, 21 de julho de 1899, coleção Kunsthalle Bremen. 38
Druet a Rodin, 7 de julho de 1903, arquivo do Musée Rodin.
14
John Tweed (1853-1927) a Rodin, 28 de setembro de 1898, arquivo 39
Em 1908, a galeria muda para a rue Royale, 20.
mais belas; e, repito, Rodin só vê através dele”. do Musée Rodin. 40
Ele expôs quadros de Van Rysselberghe, Maximilien Luce, Cross, Signac,
Ao fim, confiante no talento do fotógrafo, 15
Henri Duhem a Rodin, agosto de 1899, arquivo do Musée Rodin. Bonnard, Maurice Denis, Sérusier etc.
O álbum nunca foi encontrado. 41
A oficina de reprodução localizava-se no número 51 da rue Lafontaine,
Coquiot afirmou: “Acredite, as fotografias de 16
Ele detalhou: “Se quisesse estimar seu total, ele chegaria hoje a vários no 16o distrito de Paris, mudando-se
Druet, se bem escolhidas pelo senhor, consti­ milhares” (Druet a Rodin, 21 de janeiro de 1901, arquivo do Musée Rodin). depois para a avenue Boudin, em Auteuil. Druet manteve também uma
17
Druet a Rodin, 21 de janeiro de 1901, arquivo do Musée Rodin: “Já lhe fábrica de placas de vidro no número 18 da route de Cherbourg, em Nanterre,
tuirão uma admirável atração para o livro; e, disse e repito que não me arrependo de nada, tamanha era a admiração entre 1904 e cerca de 1916. Cf. Annuaires et registres du commerce.
se forem bem reproduzidas, farão um grande que eu tinha pelo senhor”. 42
Desde 1893, Durand-Ruel fotografava sistematicamente seu
18
Louis Dorizon e Albert Kahn (cf. catálogo da exposição Rodin en 1900, estoque de quadros.
sucesso; pois nunca ninguém conseguiu 2001, p. 52-59). 43
Crochet, 1971, p. 18.
19
O editor Floury também procurou Rodin: “Com muita satisfação, entregarei na 44
Blanche, Jacques-Émile. La Pêche aux souvenirs. Paris, 1949, p. 187.
satisfazer Rodin nesse aspecto. E o livro se
ocasião à pessoa que o senhor encarregará de sua venda as várias publica- 45
Gustave Coquiot a Ferroud, 8 de maio de 1912, arquivo do Musée Rodin.
venderá a mancheias”45. ções que tive a honra de editar a respeito de sua obra, sob as Coquiot planejava, na ocasião, publicar um livro sobre o escultor.

85
86
Em 1900, Rodin apresentou, em exposição na place de l’Alma, o conjunto de sua
obra, em escultura e desenho, acompanhado de 71 fotografias de Eugène Druet.
Os quadros com molduras pretas estavam afixados uns ao lado dos outros, nas
paredes de duas pequenas salas. A escolha, feita provavelmente por Rodin e Druet, era
curiosa: repetições, sequências, obras menores muito presentes e outras maiores quase
ausentes. É essa montagem surpreendente que procuramos reproduzir aqui. H.P.

87
Auguste Rodin
Le Jongleur
[O Malabarista]
1892-1895 (?) | Bronze
29 x 14 x 11 cm
S. 597 | Musée Rodin | Paris

88
66. Eugène Druet
Deux sirènes
[Duas sereias]
c. 1898 | Gelatina e prata
Na ampliação e no negativo: Aug. Rodin
No verso, com estêncil e guache: A. Rodin,
photographie, cadre no 364
29,9 x 40,1 cm
Ph. 5781 | Musée Rodin | Paris

67. Eugène Druet


L’Acrobate
[O Acrobata] 68. Eugène Druet
c. 1898 | Gelatina e prata Les Trois ombres de la Porte de l’enfer
Na ampliação e no negativo: [As Três sombras da Porta do inferno]
Aug. Rodin et E. Druet/ph. am c. 1898 | Gelatina e prata
No verso: no 297 Ateliê do depósito de mármores
40,4 x 30,1 cm 78,3 x 49 cm
Ph. 3027 | Musée Rodin | Paris Ph. 5186 | Musée Rodin | Paris

89
70. Eugène Druet
Main crispée
[Mão crispada]
c. 1898 | Gelatina e prata
Na prova e no negativo: Aug. Rodin
No verso, com estêncil e guache:
A. Rodin, photographie, cadre no 358
40,4 x 30 cm
69. Eugène Druet Ph. 940 | Musée Rodin | Paris
Main crispée
[Mão crispada]
c. 1898 | Gelatina e prata 71. Eugène Druet
No verso, com estêncil e guache: Main crispée
A. Rodin, photographie, cadre no 312 [Mão crispada]
30 x 40 cm c. 1898 | Gelatina e prata
Ph. 1325 | Musée Rodin | Paris Na prova e no negativo: Aug. Rodin
No verso, com estêncil e guache:
A. Rodin, photographie, cadre no 358
“Há, na obra de Rodin, mãos, pequenas mãos
40,4 x 30 cm
autônomas, que, mesmo não fazendo parte de
Ph. 942 | Musée Rodin | Paris
nenhum corpo, são plenamente vivas. Mãos que
se erguem, irritadas e agressivas, mãos cujos cinco
dedos eriçados parecem latir como as cinco bocarras À luz do que escreveu Rilke sobre a série Main
de um cão infernal. Mãos que caminham, mãos que crispée [Mão crispada], essas obras de Druet
dormem e mãos que despertam; mãos criminosas, adquirem outra dimensão. O que a câmera re-
mãos com uma hereditariedade carregada, e outras gistrou não foi apenas a imagem da escultura,
que estão cansadas, que já não querem mais nada, mas sim a representação fotográfica extraída
que adormeceram em algum canto como animais da encenação realizada: as dobras da manta,
doentes que sabem que ninguém poderá socorrê- o escrínio delicado do bronze, são como man-
los” (Rilke. Œuvres en prose, récits et essais. Paris: gas puxadas sobre as mãos, com as quais se
Gallimard/La Pléiade, 1993). choca uma luz violenta que lhes dá vida. C.L.

90
72. Eugène Druet
Le Poète et la sirène
[O Poeta e a sereia]
c. 1898 | Gelatina e prata
Na prova e no negativo:
Aug. Rodin et E. Druet/ph. am
29,8 x 39,9 cm
Ph. 2376 | Musée Rodin | Paris

Tomadas de vários ângulos foram necessárias para


que Druet pudesse traduzir a atitude das duas per-
sonagens que compõem o grupo do Le Poète et la
sirène. Essa série, apresentada parcialmente nas pare-
des da exposição de Rodin em 1900, evoca a técnica
de perfis que permitia a Rodin trabalhar a argila sem
recorrer a desenhos preparatórios. Ele trabalhava dire-
tamente no bloco de argila, girando constantemente
a base para modelar todos os planos ao mesmo
tempo – sucessivas silhuetas, que acumulava de modo
sumário até conseguir chegar ao busto ou à figura.
Essa maneira de modelar, perfil a perfil, faz lembrar,
ao menos em teoria, a técnica da fotoescultura, que
conheceu seus anos de glória na década de 1860.
Hélène Pinet

73. Eugène Druet


Le Poète et la sirène
[O Poeta e a sereia]
c. 1898 | Gelatina e prata
Na prova e no negativo:
Aug. Rodin et E. Druet/ph. am
Anotado com bico-de-pena e
tinta marrom: marteau de Porte
No verso, com estêncil e guache:
A. Rodin, photographie, cadre no 110
40,2 x 30,2 cm
Ph. 572 | Musée Rodin | Paris

91
74. Eugène Druet 75. Eugène Druet
Le Poète et la sirène Le Poète et la sirène
[O Poeta e a sereia] [O Poeta e a sereia]
c. 1898 | Gelatina e prata c. 1898 | Gelatina e prata
Na prova e no negativo: Na prova e no negativo:
Aug. Rodin et E. Druet/ph. am Aug. Rodin et E. Druet/ph. am
No verso, com estêncil e guache: No verso, com estêncil e guache:
A. Rodin, photographie, cadre no 111 A. Rodin, photographie, cadre no 109
40,5 x 30,5 cm 29,5 x 40 cm
Ph. 568 | Musée Rodin | Paris Ph. 571 | Musée Rodin | Paris

76. Eugène Druet 77. Eugène Druet


Le Poète et la sirène Le Poète et la sirène
[O Poeta e a sereia] [O Poeta e a sereia]
c. 1898 | Gelatina e prata c. 1898 | Gelatina e prata
Na prova e no negativo: Na prova e no negativo:
Aug. Rodin et E. Druet/ph. am Aug. Rodin et E. Druet/ph. am
No verso, com estêncil e guache: No verso, com estêncil e guache:
A. Rodin, photographie, cadre no 108 A. Rodin, photographie, cadre no 112
30,5 x 40 cm 40,2 x 30,8 cm
Ph. 570 | Musée Rodin | Paris Ph. 569 | Musée Rodin | Paris

92
78. Eugène Druet
Le Poète et la sirène
[O Poeta e a sereia]
c. 1898 | Gelatina e prata
Na prova e no negativo:
Aug. Rodin et E. Druet/ph. am
38,8 x 29 cm
Ph. 573 | Musée Rodin | Paris

93
Esse bronze é uma variação do grupo Le Poète et la
sirène [O Poeta e a sereia], de argila, que Bodmer havia
79. Eugène Druet
Le Poète et la sirène fotografado no ateliê de Rodin alguns anos antes. Foi
[O Poeta e a sereia] sem dúvida a pedido de Rodin que Druet realizou essa
c. 1898 | Gelatina e prata série, em que a obra, vista de dois lados diferentes, se
Na prova e no negativo: apruma e depois se vira para nós. Essas imagens, até
Aug. Rodin et E. Druet/ph. am hoje bastante curiosas, demonstram mais uma vez que
30 x 40 cm as esculturas do mestre possibilitavam uma infinidade
Ph. 549 | Musée Rodin | Paris de pontos de vista. H.P.

94
80. Eugène Druet
Le Poète et la sirène
[O Poeta e a sereia]
c. 1898 | Gelatina e prata
Na prova e no negativo:
Aug. Rodin et E. Druet/ph. am
30 x 40 cm
Ph. 552 | Musée Rodin | Paris

81. Eugène Druet


Le Poète et la sirène
[O Poeta e a sereia]
c. 1898 | Gelatina e prata
No verso, com estêncil e guache:
A. Rodin, photographie, cadre no 313
Etiqueta colada no verso:
Moirinat/184 Fg. St. Honoré – Paris
30,8 x 40,8 cm
Ph. 574 | Musée Rodin | Paris

95
82. Eugène Druet
Celle qui fut La Belle Heaulmière
[Aquela que foi La Belle Heaulmière]
c. 1898 | Gelatina e prata
Na ampliação e no negativo: Aug. Rodin
39,7 x 30 cm 83. Eugène Druet
Ph. 315 | Musée Rodin | Paris Buste de Falguière
[Busto de Falguière]
As fotografias de Druet são às vezes verdadeiras encenações, com cada uma nar- Gelatina e prata
rando um ato diferente. O corpo descarnado de Celle qui fut La Belle Heaulmière No verso, com estêncil e guache:
[Aquela que foi La Belle Heaulmière] se aninha, segundo um secretário de Rodin, A. Rodin, photographie, cadre no 113
numa reentrância das dobras de um cobertor de flanela branco, que é utilizado 40 x 30 cm
várias vezes pelo fotógrafo como tela ou pano de fundo das esculturas. H.P. Ph. 4265 | Musée Rodin | Paris

96
85. Eugène Druet
La Porte de l’enfer
[A Porta do inferno]
c. 1898 | Gelatina e prata
Ateliê do depósito de mármores
Na ampliação e no negativo:
Aug. Rodin
No verso: no 310
40 x 30 cm
Ph. 396 | Musée Rodin | Paris

97
84. Eugène Druet
Buste de madame Fenaille
[Busto da senhora Fenaille]
1898-1899 | Gelatina e prata
No verso, com estêncil e guache:
A. Rodin, photographie,
cadre no 114
40 x 30,2 cm
Ph. 1412 | Musée Rodin | Paris

98
Auguste Rodin
Madame Fenaille
[Senhora Fenaille]
1898-1900 | Bronze
162,5 x 51 x 36,5 cm
S. 6680 | Musée Rodin | Paris

99
86. Eugène Druet
Buste de Puvis de Chavannes
[Busto de Puvis de Chavannes]
c. 1898 | Gelatina e prata
No verso, com estêncil e guache:
A. Rodin, photographie, cadre no 300
Etiqueta colada no verso:
Moirinat/184 Fg. St. Honoré – Paris
40 x 30 cm
Ph. 1654 | Musée Rodin | Paris

87. Eugène Druet


Buste de Dalou avec Le Baiser
en marbre en arrière-plan
[Busto de Dalou com O Beijo
em mármore ao fundo]
c. 1898 | Gelatina e prata
Ateliê do depósito de mármores
Na ampliação e no negativo: A. 38
40 x 29,8 cm
Ph. 3851 | Musée Rodin | Paris

88. Eugène Druet


Petite tête au nez retroussé
[Pequena cabeça com
nariz arrebitado]
Gelatina e prata
38,5 x 28,5 cm
Ph. 5840 | Musée Rodin | Paris

89. Eugène Druet


Âge d’airain
[Idade do bronze]
c. 1898, Sala de jantar na
villa des Brillants, Meudon
Gelatina e prata
39,6 x 29,9 cm
Ph. 1875 | Musée Rodin | Paris

Ao longo dos anos 1890, Rodin, então mais


tranquilo em termos financeiros, deu início a
uma coleção de antiguidades da qual fazem
parte os dois mosaicos romanos que podemos
visualizar parcialmente ao fundo. H.P.

100
90. Eugène Druet
Ève
[Eva]
c. 1898 | Gelatina e prata
Ateliê do depósito de mármores
Na ampliação e no negativo: Aug.
Rodin et E. Druet/ph. am
No verso, com estêncil e guache:
A. Rodin, photographie, cadre no 351.
Etiqueta colada no verso: Moirinat/184
Fg. St. Honoré – Paris
39,8 x 30 cm
Ph. 946 | Musée Rodin | Paris

101
Auguste Rodin
Le Baiser
[O Beijo]
c. 1881-1882 | Bronze
85,5 x 51 x 54,5 cm
S. 472 | Musée Rodin | Paris

Originado da Porte de l’enfer, esse grupo


representa Paolo de Malatesta e Francesca
da Rimini, protagonistas da Divina comé-
dia. Dante narra o episódio em que eles
foram surpreendidos beijando-se pelo
marido de Francesca e condenados então
a errar no inferno. A obra manteve-se de
forma autônoma a partir de 1887, ano
em que foi exposta pela primeira vez.
O sucesso foi imediato: o público soube
apreciar sua composição dinâmica e
o modelado liso e sensual da carne.
Nenhum detalhe episódico havia que
evocasse a identidade dos dois amantes;
o público batizou-a, então, de Le Baiser,
um título abstrato que traduz com felici-
dade seu caráter universal.

102
91. Eugène Druet
Le Baiser
[O Beijo]
c. 1898 | Gelatina e prata
Ateliê do depósito de mármores
No verso, com estêncil e guache:
A. Rodin, photographie, cadre no 354
39,3 x 30 cm
Ph. 373 | Musée Rodin | Paris

103
93. Eugène Druet
Étude de nu pour
le Monument à Balzac
[Estudo de nu para
o Monumento a Balzac]
92. Eugène Druet c. 1897 | Gelatina e prata
Le Désespoir Ateliê da Folie Payen
[O Desespero] Na ampliação e no negativo:
c. 1898 | Gelatina e prata Aug. Rodin
39,5 x 29 cm 38,2 x 25,3 cm
Ph. 359 | Musée Rodin | Paris Ph. 376 | Musée Rodin | Paris

104
94. Eugène Druet
Monument à Victor Hugo avec
La Muse tragique et La Méditation
[Monumento a Victor Hugo com
A Musa trágica e A Meditação]
abril-junho de 1897 | Gelatina e prata
Salon de la Société Nationale
des Beaux-Arts, no Champs-de-Mars
29,9 x 39,9 cm
Ph. 1950 | Musée Rodin | Paris

105
95. Eugène Druet
Le Penseur de la Porte de l’enfer
[O Pensador da Porta do inferno]
c. 1898 | Gelatina e prata
No verso, com estêncil e guache: 96. Eugène Druet
A. Rodin, photographie, cadre no 315 La Muse tragique
Etiqueta colada no verso: [A Musa trágica]
Moirinat/184 Fg. St. Honoré – Paris c. 1898 | Gelatina e prata
40,2 x 30 cm 29,8 x 39,8 cm
Ph. 5177 | Musée Rodin | Paris Ph. 4919 | Musée Rodin | Paris

106
97. Eugène Druet
Jean d’Aire devant une fenêtre
voilée par un drap blanc
[Jean d’Aire à frente de uma janela
coberta com um lençol branco]
posterior a 1902, Meudon
Gelatina e prata
Pavillon de l’Alma
39,5 x 29,7 cm
Ph. 1292 | Musée Rodin | Paris

107
98. Eugène Druet
Buste de Victor Hugo
[Busto de Victor Hugo]
c. 1898 | Gelatina e prata 99. Eugène Druet
Na ampliação e no negativo: Torse de la Martyre
Aug. Rodin et E. Druet/ph. am e número 6 A [Torso da Mártir]
No verso, com estêncil e guache: c. 1898 | Gelatina e prata
A. Rodin, photographie, cadre no 303 [306?] Ateliê do depósito de mármores
Etiqueta colada no verso: No verso, com estêncil e guache:
Moirinat/184 Fg. St. Honoré – Paris A. Rodin, photographie, cadre no 301
40 x 30,1 cm 40,3 x 29,8 cm
Ph. 4623 | Musée Rodin | Paris Ph. 491 | Musée Rodin | Paris

108
100. Eugène Druet
La Méditation
[A Meditação]
c. 1898 | Gelatina e prata
Ateliê do depósito de mármores
Na ampliação e no negativo: Aug.
Rodin et E. Druet/ph. am
No verso, com estêncil e guache:
A. Rodin photographie, cadre no 362
Etiqueta colada no verso: Moirinat
184 Faubourg Saint Honoré Paris
40 x 30 cm
Ph. 943 | Musée Rodin | Paris

109
101. Eugène Druet
La Pensée avec la Porte
de l’enfer en arrière-plan
[O Pensamento com a
Porta do inferno ao fundo]
c. 1898 | Gelatina e prata
Ateliê do depósito de mármores
Na ampliação e no negativo:
Aug. Rodin et E. Druet/ph. am
No verso, com estêncil e guache:
A. Rodin photographie, cadre no 305
30 x 40 cm
Ph. 638 | Musée Rodin | Paris

110
102. Eugène Druet
Jeunesse triomphante
[Juventude triunfante]
c. 1898 | Gelatina e prata
Pátio do ateliê do depósito
de mármores
36,8 x 29,7 cm
Ph. 316 | Musée Rodin | Paris

111
103. Eugène Druet
Monument des Bourgeois de Calais
[Monumento dos Cidadãos de Calais]
c. 1897 | Gelatina e prata
Ateliê da Folie Payen
26,4 x 37,5 cm
Ph. 1363 | Musée Rodin | Paris

Druet foi o único fotógrafo que trabalhou no ateliê


de Rodin na Folie Payen, onde várias esculturas fica-
vam armazenadas. Os gessos dos Bourgeois de Calais
[Cidadãos de Calais], dos quais vemos apenas as
cabeças, foram fotografados a meio-corpo, alinhados
em duas fileiras, como haviam sido apresentados
em Bruxelas, em 1899, e não da forma como foram
dispostos no monumento. H.P.

112
104. Eugène Druet
Monument à Balzac
[Monumento a Balzac]
c. 1897 | Gelatina e prata
Ateliê do depósito de mármores
29,6 x 39 cm
Ph. 379 | Musée Rodin | Paris

113
105. Eugène Druet
La Terre
[A Terra]
c. 1898 | Gelatina e prata
Ateliê do depósito de mármores
30 x 39,7 cm
Ph. 1342 | Musée Rodin | Paris

Auguste Rodin
La Terre, petit modèle
[A Terra, pequeno modelo]
Bronze
26 x 48,1 x 14 cm
S. 769 | Musée Rodin | Paris

114
106. Eugène Druet
Rodin au milieu de ses plâtres
[Rodin entre seus gessos]
Gelatina e prata
25,5 x 25 cm
Ph. 203 | Musée Rodin | Paris

115
107. Eugène Druet
Rodin accoudé à une cheminée
[Rodin apoiado numa lareira]
1900 | Gelatina e prata
Ateliê da Folie Payen
Na ampliação e no negativo:
Aug. Rodin et E. Druet/ph. am
60 x 47,4 cm
Ph. 5187 | Musée Rodin | Paris

116
108. Eugène Druet
Rodin emmitouflé
dans un long manteau
à la Balzac
[Rodin agasalhado com
um longo sobretudo
à moda de Balzac]
fevereiro de 1914, Meudon
Gelatina e prata
Produzida especialmente para
a revista L’Art et les Artistes, 1914
27,4 x 16,5 cm
Ph. 881 | Musée Rodin | Paris

117
109. Auguste Rodin
Les Bénédictions
[As Bênçãos]
1896(?)-1911 | Mármore
75 x 63 x 95 cm
S. 428 | Musée Rodin | Paris

Mencionado pela primeira vez em 1894,


esse grupo, em sua versão em gesso, foi
exposto em Genebra em 1896 sob o título
Les Gloires [As Glórias]. Em 1898-1899,
uma reprodução do pequeno modelo foi
colocada no topo de La Tour du travail
[A Torre do trabalho].
Existem três mármores das Bénédictions:
Lisboa, Copenhague e Paris. Nesse exemplar
parisiense, duas figuras aladas entrelaçadas
parecem emergir das nuvens. O olhar do
espectador é atraído pelo refinamento do
tratamento das asas e pelo movimento
geral, extremamente gracioso.
Encomendada em 1911 por Maurice
Fenaille, grande industrial, amigo e
cliente de Rodin, foi-lhe entregue após a
morte do artista, em novembro de 1917.

118
Cinco grandes imagens permaneceram fechadas embora não se tenha encontrado nenhuma confir-
durante muitos anos numa caixa, até que sua mação a esse respeito nos arquivos de Rodin.
restauração fosse realizada. Foram necessárias várias O escultor, que estava bastante interessado na
semanas para a restauradora, Giulia Cucinella, renovação que a mudança de escala poderia trazer
110. Eugène Druet desenrolá-las e para que pudéssemos descobrir o que para a escultura, havia imaginado uma versão em
Les Bénédictions en marbre representavam: Les Bénédictions [As Bênçãos] em mármore bem maior das Bénédictions para um
[As Bênçãos em mármore] mármore, em três rolos de 65 centímetros de largura colecionador dinamarquês, Carl Jacobsen.
c. 1908 | Gelatina e prata por 2,10 metros de altura (o maior deles). Os outros Foi provavelmente nessa ocasião que ele pediu
210 x 180 cm dois rolos eram tentativas “fracassadas”. O estilo ao fotógrafo uma ampliação da obra, antes de se
(114 x 52 cm, 206,5 x 59 cm, 205 x 60,6 cm) das imagens e o papel utilizado tornaram possível entregar totalmente ao projeto, que não chegou
Ph. 15889 | Ph. 15890 | Ph. 15891 | Musée Rodin | Paris levantar a hipótese da atribuição de autoria a Druet, a ser concluído. H.P.

119
Jacques-Ernest Bulloz
Uma casa artística de edições fotográficas

Marie Garet “Durante quinze anos, lidei continuamente


com Rodin, que me fazia fotografar todas as suas
obras seguindo indicações bastante precisas.”1
J.-E. Bulloz

O meio familiar: um cadinho inspirador

Na primavera de 1880, Jacques-Ernest Bulloz


decidiu seguir os passos do tio de Passy,
Louis Pierson (1822-1913), fotógrafo renomado
e “chefe incontestável da família”2, em vez
de assumir a mercearia que seus pais, Catherine
Pierson e Étienne Bulloz3, haviam feito prosperar
no centro da capital (il. 1). O nome, À la récolte il. 1 Mayer e Pierson
Louis Pierson
du Moka, tornara-se bastante conhecido
c. 1856 | Albúmen
sob Napoleão III, do qual era um dos fornece­ coleção particular | Sœuvres
dores preferidos.
Filho único, de saúde frágil, Bulloz crescera
em meio adulto. Convivendo com a clientela passagem por Lorraine. Ali, formou-se sozinho,
endinheirada e culta que frequentava a aprendendo com o próprio trabalho. Conseguiu
empresa familiar, tinha como preceptor construir a própria máquina fotográfica,
Joseph-Henri Dauverd, filho de um fidalgo da ajudado, no que se refere à lente objetiva,
Chambre des Princes de Condé, que se encar- por Michel Chevalier, um óptico que simpatizou
regou de sua educação entre 1870 e 1875. com aquele jovem perspicaz e audacioso6.
Esse velho amigo da família, que lhe narrava Em 1844, abriu um laboratório especializado
contos intermináveis com noções de história, em retratos em daguerreótipo7.
geografia e ciências variadas, teve influência Para auxiliá-lo, levou também a Paris a irmã,
determinante em sua formação4. Embora Catherine, que mais tarde se casou com
Bulloz tenha registrado, nas memórias que Étienne Bulloz. A fim de desenvolver esse ramo
escreveu bem mais tarde para seus filhos, específico de seus negócios, associou-se,
os relatos fantásticos contados pela avó, em 1855, aos irmãos Mayer, com as duas
Marguerite Pierson, de suas visitas a Lorraine, partes mantendo, ao mesmo tempo, as próprias
foi a história de Louis Pierson, que “começa atividades. Reconhecida pelos retratos retoca-
como um romance”5, que certamente despertou dos que produzia, a casa Mayer et Pierson,
sua vocação (il. 2). Aos 14 anos de idade, Pierson que encontrou seus dias de glória entre 1855
foi a Paris com um de seus tios que estavam de e 1862, atraía uma clientela endinheirada e
conseguiu se impor diante de uma concorrên-
cia já bem consolidada ou que se estabeleceu
ao longo da mesma década: Nadar, Disdéri,
Braun, Goupil, Pierre Petit, Adam-Salomon etc.
O meio-irmão de Louis, François Pierson
(1818-1892), também mantinha um ateliê
fotográfico, no número 41 da rue Taitbout,
onde costumava receber pessoas influentes.
Se a prosperidade do ateliê foi tanta que ele
pôde depois ser assumido por seu filho Étienne
e mais tarde pelos netos, o que mais marcou
Bulloz foram os traços de sua personalidade.
Aquele homem, “de uma fertilidade de espírito
inimaginável”, formou uma rede de amigos
impressionante, mas, “um tanto boêmio”,
il. 2
“deixou de acumular uma grande fortuna Mémoires
por causa de sua displicência e seu gosto por [Memórias]
manuscrito de J.-E. Bulloz
mudanças”8. Bulloz herdou o espírito de socia­ 1925
bilidade do tio, mas sempre viu com coleção particular | Paris

desconfiança seu lado “boêmio”. Por fim,


graças aos casamentos de suas primas, Marie
e Ernestine, filhas de Louis Pierson, ele virou essas associações e acordos acabaram por criar as perdas de pó de carvão – difícil de ser fixado,
parente de Léon Clément e de Gaston Braun9. uma ampla rede, na qual se encaixou Bulloz. ele proporciona o contraste às imagens13. Com
O pai desse, Adolphe Braun, iniciara sua carreira esse contato e seus resultados, Bulloz conseguiu
como desenhista de motivos para impressão em Os primeiros passos obter para o tio o selo de garantia excepcional
tecidos. Em 1853, ao publicar estudos de flores na Braun et Cie. (1880-1897) das imagens14. Durante quatro ou cinco anos,
dirigidos para artistas, ele chegou à fotografia. Jacques-Ernest passou parte do ano viajando
Com a ajuda do pai, Charles, e do filho, “A loja foi vendida em 1o de maio de 1880 para o interior e para outros países, a fim de
Gaston, fez avançar sua empresa, localizada em e, no mesmo dia, eu entrei na casa Braun et divulgar o trabalho da empresa. Enviaram-no à
Dornach, orientando-a para a fabricação de Compagnie, na avenue de l´Opéra. Ali perma- Inglaterra, Holanda, Espanha, Itália e a cidades
reproduções de obras de arte – sobretudo neci por 17 anos.”11 Contratado como contato onde Braun acabou abrindo filiais, como Leipzig
pinturas e desenhos conservados em museus –, comercial, Bulloz se familiarizou com o meca­ e São Petersburgo15.
destinadas a uma clientela de colecionadores e nismo de funcionamento de uma editora em Dada sua facilidade de comunicação,
historiadores da arte e ao público em geral. Em plena efervescência, reputada pela qualidade Léon Clément e Gaston Braun o encarrega-
1868, ele abriu um depósito em Paris. Em 1876, de suas impressões. Com efeito, Adolphe Braun ram de negociar contratos com museus,
instalou-se no número 23 da rue Louis-le- adotou, em 1866, o processo com carvão12; organizar exposições, além de lhe confiar as
Grand, sob o nome Braun Fils, successeur de extremamente trabalhoso do ponto de vista reproduções das obras dos artistas modernos
Pierson [Braun Filho, sucessor de Pierson], com técnico, ele permitia a obtenção de reprodu- e dos quadros expostos no Salon [Salão] a
cuja filha Gaston havia se casado. Com a morte ções com uma estabilidade “inalterável”. cada ano16. Por isso ele escreveu depois que,
de Adolphe, a razão social mudou para Braun Procurando aprimorar essa técnica, Louis “até 1897, mantive contato permanente com
(Ad.) et Cie. Gaston Braun, seu cunhado Léon Pierson encarregou seu sobrinho de procurar quase todos os pintores famosos daquela
Clément e Louis Pierson dividiam, então, René Berthelot, um químico renomado, a fim geração” 17, de Meissonier a Baudry, pas-
a direção da sociedade10. Todos esses laços, de encontrar uma forma de evitar, na tiragem, sando por Cabanel e Moreau.

121
A emancipação de um jovem editor

Graças a essas experiências, Bulloz começou a


pensar em alçar voo por conta própria. Com o
apadrinhamento de Léon Vidal e Gaston Braun, seu
ingresso na Chambre syndicale de la photo­graphie
[Câmara Sindical da Fotografia], em 1890, abriu
para ele outras perspectivas. Com efeito, desde
sua criação, em 1862, esse sindicato vinha
defendendo os interesses da fotografia comercial,
procurando obter para ela as mesmas garantias de
que gozavam as artes gráficas18. Durante quase
40 anos, Bulloz criou em seu interior inúmeras
comissões de luta pelo reconhecimento da foto-
grafia como arte. Ao longo de praticamente 15
anos, ele participou dos congressos sobre os il. 3 Adolphe Braun il. 4 Anônimo
direitos de propriedade artística e literária, nos Jacques-Ernest Bulloz e sua La Maison Bulloz
mulher no dia de seu casamento 21, rue Bonaparte
quais seu setor reivindicava a aplicação da conven- 15 de junho de 1887 | Albúmen c. 1900
ção de Berna de 1866, que protegia os direitos coleção particular | Paris coleção particular | Paris

autorais19. O assunto certamente não era novo


para Bulloz, pois provavelmente teria ouvido falar
bastante sobre ele em reuniões familiares na casa publicando, em sua volta, um relatório inti­tu­ desvantajosa para Bulloz, que mantinha um
de Louis Pierson, em Passy. Já em 1862, a casa lado La Photographie dans les musées et relacionamento estreito com eles. “Aquele fim
Mayer et Pierson entrara com uma série de ações collèges des États-Unis [A Fotografia nos de 1897 [...] marcava para mim um momento
na justiça em defesa de suas imagens, surrupiadas museus e nas escolas dos Estados Unidos]22. decisivo, uma mudança de direção ditada pelo
por fotógrafos inescrupulosos que delas faziam futuro de meus filhos, a separação da casa
cópias em negativos. Sua defesa baseava-se no Jacques-Ernest Bulloz: Braun e a instalação de uma loja de edições
reconhe­cimento do estatuto de arte para a fotogra- casa artística de edições fotográficas fotográficas na mesma rue Bonaparte, para
fia20. Bulloz assumiu para si as preocupações de e de divulgação pela imagem (1897) onde retornava depois de 30 anos, a poucos
Mayer et Pierson e defendeu, durante toda a vida, passos da casa onde nasci e onde passaria a
o estatuto do ofício e sua produção. Casado desde 1887 com Lucienne Merlet conhecer um novo mundo”26.
Dois anos depois, uma missão da qual foi (il. 3), filha de um padeiro que conheceu em Jacques-Ernest Bulloz instalou-se no número
encarregado pelo Ministério da Instrução Asnières, pai de sete filhos23, Bulloz decidiu, 21 da rue Bonaparte, no 6o distrito pari-
Pública e das Belas-Artes permitiu a Bulloz em 1897, criar a própria empresa. Graças a siense27 (il. 4). A escolha da localização foi
emancipar-se um pouco mais de seu clã: ele foi uma herança familiar24, ele podia pensar em criteriosa: a loja se situava a poucos passos
enviado para o outro lado do Atlântico, a fim alugar um ateliê em Paris. Depois de infindáveis da École des Beaux-Arts [Escola de Belas-
de preparar a participação dos fotógrafos negociações com a casa Braun, os dois parceiros Artes], que, desde 1864, abriu uma bibli­ot­ eca
franceses na Exposição Internacional de Chicago, chegaram a um acordo: o novo editor se voltada para a organização de uma rica
em 189221. Nessa missão aos Estados Unidos e comprometia a não “roubar” a clientela da documentação iconográfica classificada por
ao Canadá, Bulloz acabou por tomar conheci- empresa familiar e a não tratar com os “artistas temas, com todas as técnicas incluídas, a fim
mento das possibilidades pedagógicas vivos”, inclusive, é claro, aqueles que expunham de colocá-la à disposição de alunos, artistas
oferecidas pela fotografia e pelas projeções, nos Salon25. Essa última cláusula era bastante e admiradores, constituindo-se, portanto,

122
em importante consumidor de documentos. reticências expressas em relação à fotografia, principais fotógrafos das coleções dos museus
Outros editores já haviam tido essa ideia permite a Braun integrar-se no meio artístico e da capital francesa.
antes dele. Adolphe Giraudon, por exemplo, administrativo parisiense.”33 Bulloz retomou esse Diante do sucesso da empreitada, a admi­
instalara-se no número 15 da mesma rua, estratagema, submetendo um primeiro projeto nistração municipal de Montauban voltou atrás
cerca de dez anos antes. a Henry Lapauze (1867-1925), jornalista do e finalmente autorizou a reprodução dos
Durante toda a sua existência, a casa Bulloz Gaulois, a quem era bastante ligado: uma publi- desenhos de Ingres38. Para anunciar o aconteci-
ocupou esse mesmo espaçoso local, onde se cação sobre Ingres34. Ideia engenhosa, já que a mento, Bulloz organizou uma exposição à rue
reuniam todas as suas atividades: uma sala de obra gráfica do pintor nunca havia sido objeto Bonaparte. Graças ao engajamento de
recepção e exposição com “dois ou três arquivis- de nenhuma mono­grafia. Além disso, estando Lapauze, três ministros compareceram à aber-
tas para ajudar os clientes em suas pesquisas na ele morto havia 30 anos, não fazia parte dos tura, contribuindo assim, de modo bastante
fototeca”28, além dos escritórios. O ateliê, desti- artistas reservados para Braun. Nascido na eficaz, para tornar o editor muito conhecido.
nado à tomada de imagens, e o laboratório para mesma cidade que o pintor, Henry Lapauze Com essas duas publicações de estreia, Bulloz
as ampliações, realizadas por um assistente contatou a administração do Musée des Beaux- conquistou a confiança de artistas e instituições.
“de laboratório”29, ficavam na parte de trás. Por Arts [Museu de Belas-Artes] de Montauban,
ocasião de sua instalação, Bulloz já possuía todo onde estavam preservados os desenhos do A escolha dos temas
o equipamento de que se serviu ao longo da mestre. Apesar da negativa da municipalidade
carreira30. “Na época de meu avô, as imagens eram em ceder os direitos de reprodução, Bulloz Diferentemente de Giraudon, que reunia
feitas com câmeras de madeira com um fole, em manteve seu projeto, voltando-se, então, milhares de fotografias de seus correspondentes
formato de 24/30 ou 30/40 centímetros”31, para a obra de Quentin de La Tour. Ao ouvir europeus, como Alinari, Bruckmann, Brogi e
lembrava-se Pierre Bulloz. A maioria das obras foi esse nome, Lapauze teria exclamado: “La Tour! Laurent, Bulloz só editava as tomadas que ele
fotografada nesses dois formatos. Mas o editor Quem é esse sujeito?”35. Esse importante próprio realizava. Atraído pelos impressionistas,
também oferecia “grandes formatos” (40 x 50 pastelista do século 18 não era muito ele precisava antes pedir autorização para Braun.
cm) e “formatos extragrandes” (50 x 60 cm)32. conhecido na época, a não ser por um pequeno Mas, “como eu esperava, as respostas me davam
Ele catalogava suas fotografias com rigor e, sobre­ círculo de admiradores. Ao contrário de total liberdade, já que aqueles artistas não eram
tudo, detalhava com exatidão a proveniência das Montauban, a cidade de Saint-Quentin interessantes”39, escreveu ele em suas Mémoires
obras de arte, uma prática pouco comum na outorgou-lhe liberdade total para reproduzir [Memórias]. Por meio delas, pudemos reconsti-
época. Sua reputação era construída com base as obras do artista. Enquanto Bulloz trabalhava tuir os marcos do relacionamento caloroso que
na seriedade de seu trabalho, impondo-se como no labora­tório para realizar as primeiras amplia- ele mantinha com pintores e escultores. “Não
uma referência de qualidade. ções, Lapauze anunciou a futura publicação terminaria nunca se fosse listar todos os artistas
na crônica que escrevia regularmente no que pude frequentar ao longo de mais de 60
Começo promissor Gaulois. Por essa ajuda, contou Bulloz, “ele anos. Com Degas, minhas relações foram breves,
receberia uma alta porcentagem da venda porém inesquecíveis.”40 Bulloz ouvira falar muitas
Para se tornar conhecido, Bulloz precisava e das subscrições”36. vezes da maneira como o pintor colocava seus
não apenas formar um acervo de imagens Tal iniciativa, coroada de êxito, impulsionou visitantes porta afora. Conta-se que, certa vez,
– nessa época, a casa Braun possuía 30 mil ao mesmo tempo a carreira de editor de Bulloz extremamente irado, ele rasgou todas as repro­
negativos –, mas também propor novos temas à e a de crítico de arte de Lapauze, que se tornou duções dos desenhos que o marchand René
clientela. A esse propósito, ele talvez recorresse então um qualificado especialista em La Tour37. Valadon (1848-1921) viera submeter a sua
a suas lembranças do papel determinante desem- Reconhecido por seu saber, ele foi nomeado, aprovação41. Bulloz decidiu tentar a sorte. Depois
penhado a partir de 1867 pelo crítico Paul de em 1902, curador do Palais des Beaux-Arts que ele lhe expôs seus projetos, o pintor, exaspe-
Saint-Victor junto à família Braun na escolha de la Ville de Paris [Palácio de Belas-Artes rado, deu-lhe uma resposta profética: “Querem
das obras e das coleções a serem fotografadas. da Cidade de Paris]. E foi graças a essa ami­­­­­zade por a arte em todos os lugares, o governo quer
“Esse apoio inesperado, dadas as inúmeras que Bulloz se transformou em um dos empanturrar o povo, colocam-na em cartazes,

123
caixas de fósforo, amanhã colocarão a Gioconda
em papel higiênico para o povo ter um contato
mais íntimo com a arte!”42. Persistente, mesmo
assim Bulloz conseguiu se fazer ouvir e obteve
autorização total para reproduzir suas obras.
Outro resultado positivo foi obtido com
Monet, que Bulloz encontrou em Giverny,
cidade em que costumava passar o verão com
a família43. “Uma manhã [...], quando ele
voltava em seu barco, onde se empilhavam
umas dez telas esboçadas desde os primeiros
raios de luz da madrugada”, os dois estabele­
ceram um primeiro contato, muito breve, pois
Monet não queria perder seus preciosos il. 5 il. 6
momentos de solidão. Mas, diante da discrição Catalogue L’Œuvre de Rodin L’Œuvre de Rodin
[Catálogo A Obra de Rodin] portfólio da Maison J.-E. Bulloz
de Bulloz, o pintor ficava mais sociável. “Em uma Editado por Bulloz. c. 1903 c. 1904. Doação de Pierre Bulloz
segunda conversa, ele me deixa subir em seu Arquivos do Musée Rodin | Paris Musée Rodin | Paris

barco para pescar cadózes e me convida a lhe


fazer uma visita levando as fotografias de umas
vinte obras suas que eu havia feito da coleção solicitado pela imprensa e por autores de textos moderna e os preços definidos por sua carta
Durand-Ruel e para escolher outras, se eu sobre sua obra, Rodin procurou um profissional para a execução das imagens estão muito
quisesse. [...] Tive a oportunidade de vê-lo várias para substituí-lo. Dirigiu-se então a vários distantes de nossas condições...”47. Bulloz, que
vezes, fotografamos novas telas, fizemos seu editores, inclusive à casa Braun, para a qual também havia sido procurado, já respondera
retrato à beira do tanque de ninfeias...”44 escreveu: “Caro senhor, tenho a intenção de a Rodin em 19 de março, fazendo-lhe uma
Paralelamente a esses vários contatos com mandar fazer certa quantidade de imagens proposta por escrito.
artistas, Bulloz manteve sua atividade sindical. Em fotográficas de minhas obras e quero saber se Modelo de rigor e de gestão, tecnicamente
1899, ele foi nomeado vice-presidente da Câmara o senhor poderia encarregar-se desse trabalho perfeito, preocupado em reproduzir com a maior
Sindical, juntamente com Paul Nadar, e entrou dentro das condições que eu gostaria. Seria fidelidade possível as obras que a ele confiavam,
com diversos processos contra “reprodutores”, preciso que as imagens com cerca de 30 centí- Bulloz era o homem certo para aquele momento.
a fim de estabelecer uma jurisprudência45. metros não ultrapassassem o valor de 10 a 12 Ele conquistou imediatamente a confiança do
francos e que, se for necessário fazer algumas artista e conseguiu um contrato de exclusividade
Rodin e Bulloz: o encontro em tamanho maior, que o preço fosse nessa pouco tempo depois de se conhecerem48. Em 5
entre dois profissionais mesma proporção. Além disso, por ocasião da de maio de 1903, ficou acertado que “o senhor
venda, o resultado seria dividido entre mim e Rodin se compro­mete, a partir de agora, a não
Embora a escultura figurasse pouco em o senhor em condições por mim determinadas. dar autorização para a edição das referidas obras
suas coleções, à semelhança de todos os outros Agradeço a gentileza de responder o mais dessa série publicadas pelo senhor Bulloz, por
editores fotográficos, por ser bem menos rapidamente possível se concorda, pois há meios fotográficos. [...] O senhor Bulloz se
rentável do que a pintura, Bulloz agarrou pressa na execução desse trabalho. Queira compromete a garantir ao senhor Rodin um
a oportunidade que se abriu para ele quando aceitar, caro senhor, a certeza de minha mais rendimento anual mínimo de 200 francos”.
o fotógrafo preferido de Rodin, Eugène Druet, perfeita consideração. Auguste Rodin, escul- O contrato detalhava com clareza suas inten-
decidiu, em 1903, fechar seu café na place de tor”46. A resposta chegou alguns dias depois: ções: “Para facilitar o controle do artista, todas
l’Alma para abrir uma galeria de arte. Muito “Nossas publicações não incluem a escultura as vendas de reproduções assim publicadas

124
serão registradas à medida que se realizam em reproduções de obras de arte. Com efeito, Bulloz edição são, de modo geral, reproduzidas a
um livro especial por ele rubricado. Ele terá a assumiu toda a gestão administrativa da divulga- partir das fotografias da importante edição
prerrogativa de marcar as provas do modo que ção das fotografias de esculturas, com grande L’Œuvre de Rodin [A Obra de Rodin], atual-
bem determinar”. A divisão das receitas benefi- satisfação por parte do artista. mente em fase de finalização sob a supervisão
ciava o escultor, que também mantinha controle Foi ele que passou a responder às inúmeras do mestre; Jacques-Ernest Bulloz, Edit. Paris”55.
integral do ponto de vista estético: “O senhor solicitações provenientes do mundo todo. Em Efetiva­mente, a biografia foi lançada em
Rodin reserva para si a direção artística da reprodu- 1904, Bulloz informou a Rodin a respeito da 1906, ilustrada com mais de 70 fotografias,
ção de suas obras no que se refere à iluminação e intenção dos editores Neurdein de “reproduzir oriundas, em grande parte, como registrado
a sua disposição visual [...], todo o ganho obtido e publicar, em formato de cartão-postal, (Le no início da obra, da rue Bonaparte.
entre o preço de revenda e o preço de venda Penseur [O Pensador]) exposto no Salão da
caberá a ele, em uma proporção de 2/3”. Sociedade Nacional de Belas-Artes”52. Uma Um contrato devidamente cumprido
Por fim, prudentemente, Rodin se reservava carta de 8 de agosto de 1907 se refere, por
o direito de interromper a qualquer momento sua vez, a editores alemães: “Com relação à As cartas de Bulloz iniciavam-se com um
a colaboração: “Caso a reprodução das obras Neue Photographische Gesellschaft de Berlim, “Meu caro mestre”, que expressava o respeito
do senhor Rodin não corresponda ao desiderato pediram-me autorização para reproduzir duas com que o editor se dirigia ao artista. Sempre às
do artista, o presente contrato será passível de pranchas em sua publicação. Como as duas ordens, como ele mesmo dizia em sua corres-
cancelamento à mercê do senhor Rodin, sem estão sob domínio público, L’Âge d’airan pondência, Bulloz editou, já no primeiro ano de
qualquer indenização”49. [A Idade do bronze] e Le Baiser [O Beijo], dei-lhes sua colaboração, “uma primeira coleção de cem
Uma vez estabelecidas claramente essas a autorização nas mesmas condições dos reproduções”56, em uma pasta de tecido em
regras, a colaboração entre os dois só se demais jornais alemães (vinte marcos), mas formato 24/30 ou 30/40, conforme a importân-
encerrou com a morte do escultor, em 1917. não quis lhes dar um documento que me cia do tema (il. 6). Novidade: nessas tiragens a
Dessa forma, “durante 15 anos, mantive um pediam. Eles têm, portanto, uma autorização carvão, Bulloz utilizou diversos pigmentos – sépia,
relacionamento contínuo com Rodin, que me simples, mas nenhum direito, como fizemos no azul, verde, laranja –, o que lhe possibilitava
fazia fotografar todas as suas obras, com caso de todos os outros”. Bulloz demons­trava fornecer fotografias coloridas avant la lettre57.
indicações bastante precisas. Encontrava com a mais extrema vigilância, para não contrariar Essas reproduções renderam 676,50 francos
ele, portanto, quase toda semana, fosse em o artista: “Recebi um pedido de 22 provas ao artista e 225,50 francos ao editor, conforme
Meudon, fosse em seu ateliê no depósito de da senhorita Cladel para a casa Van Oest, o acordo estabelecido inicialmente. Diante do
mármores, fosse, ao fim de sua vida, no antigo de Bruxelas. Estou bastante confuso nesse resultado, Rodin ficou encantado e o autorizou
convento da rue de Varenne [o hôtel Biron]”50. caso, sem saber quais são suas intenções no a divulgar sua obra sob duas formas: as proje-
Para não romper o acordo, Bulloz era que se refere a essas provas e sua reprodução, ções luminosas e as fotografias “a carvão”.
levado, às vezes, a atuar contra seus interesses, por isso agradeceria se o senhor pudesse me Aquela coleção servia, ao mesmo tempo, como
como quando teve de assumir as imagens passar instruções a respeito. Queira me um guia para os admiradores
de esculturas de Rodin realizadas por dois jovens desculpar pelo temor de dar algum encami- e como catálogo de venda para o artista.
britânicos, Haweis e Coles. O “acordo ‘Haweis nhamento equivocado”53. Dobrando-se diante de qualquer exigência do
e Coles’ estipula que: ‘Todas as provas colocadas Como bom comerciante que era, ele também artista, Bulloz era obrigado, às vezes, a refazer
à venda devem trazer o timbre do senhor Bulloz, sabia aproveitar as oportunidades que surgiam suas ampliações até que elas pare­cessem ade-
encarregado pelo senhor Rodin de realizar essa para divulgar seu trabalho. Quando Frederick quadas ao mestre. Assim, em uma carta de 17
marcação [...] [Os senhores Haweis e Coles] se Lawton utilizou sua intermediação para de setembro de 1907, o fotógrafo escreveu ao
comprometem a entregar as referidas provas solicitar autorização para editar um trabalho escultor que não estava conseguindo fazer uma
ao senhor Bulloz ao preço de 5 francos líquidos, sobre Rodin54, Bulloz pediu-lhe para nele imagem apropriada do Baiser, porque o ateliê
para venda ao público’”51. A colaboração do inserir um anúncio sobre a própria futura parecia cheio demais. Preferiu aguardar que a
editor ultrapassava a mera execução de publicação (il. 5): “As publicações desta escultura fosse dali retirada para alguma

125
exposição, para só então fotografá-la do lado
de fora e “fazê-la completa” (il. 7).
A luz natural continuava sendo, aos olhos
do escultor, a mais propícia para destacar os
diferentes volumes. Ele tinha o hábito de deixar
gessos em seu jardim ou no pátio do ateliê
durante várias semanas, às vezes meses, sem
se preocupar com os efeitos da intempérie,
simplesmente para saborear as diferentes
luminosidades. Apesar de tudo isso, frequen­
temente Bulloz era obrigado a se limitar à
iluminação do ateliê, que tinha uma presença
forte em muitas de suas foto­grafias, mesmo
quando ele instalava um pano de fundo ao
acaso para isolar uma escultura (il. 8).
Rodin não negligenciava nada. Não se limitava
a impor o ângulo de visão, a luz e o fundo. Queria
saber também do enquadramento. Bulloz o infor- 111. Jacques-Ernest Bulloz
um pedaço de Praxíteles retirado do granito Le Monument des Bourgeois de Calais
mava sobre tudo, indicando-lhe que o “simples
[O Monumento dos Cidadãos de Calais]
porta-retratos guarnecido funciona conforme suas de um menir do Carnac”59. Tiragem a carvão sobre papel folheado a cobre
instruções, e muito bem”58. Bulloz chegou a ter uma visão divertida Moldura original. Adquirido em 2005.
38 x 43,9 cm
Se Bulloz reproduzia as esculturas com a das reações de Rodin: “Todos conhecem, Ph. 16416 | Musée Rodin | Paris
maior fidelidade possível, para fins comerciais no musée du Luxembourg, essa obra-prima
e documentais, gerando às vezes vários pontos da escultura contemporânea chamada La mas, sabe, não todo o conjunto, a cabeça
de vista de uma mesma obra, suas Memórias Pensée [O Pensamento], a admirável cabeça sozinha, sem aquele enorme cubo de pedra
revelam profunda compreensão a respeito da de uma jovem sobre um bloco quadrado de que ninguém entende muito bem’... e
personalidade do artista. Ele registrou: “Um mármore branco. É um retrato muito fiel de depois, abaixando a voz, como se falasse
ponto sobre o qual me parece não haver uma aluna de Rodin, a senhorita Claudel, para si próprio, ‘eu mesmo nunca o
nenhuma dúvida é a semelhança existente obra iniciada com entusiasmo, mas abando- entendi!’ [sic]. Aliás, ele era indiferente às
entre o homem e sua obra. A personalidade nada no meio do caminho, por causa de uma dissertações filosóficas e literárias relativas
do primeiro era uma curiosa mistura de imagi­ ruptura entre as duas personagens. Até que a suas obras, assim como aos títulos dados
nação criadora em um talhador de pedra um visitante [...], ao vê-la por acaso em um a elas. Muitas vezes, falando sobre uma
genial, tendo ao lado toda uma base primitiva, canto do ateliê, entrou em êxtase. ‘Que ideia nova escultura a ser catalogada: ‘Deem vocês
muito terra-a-terra e de sofisticação campo- genial: o pensa­mento surgindo da matéria!’. mesmos o nome que quiserem!’, e quando,
nesa, embora sem qualquer desconfiança em Essa definição é então aceita por todo mundo, em seguida, cada um dizia um nome, a
relação às bajulações interessadas. Em contra- até mesmo pelo próprio Rodin. Mas eis que, mesma cabeça de mulher se chamava Princesse
posição, havia em sua obra um esboço apenas um dia, quando íamos fazer um trabalho byzantine [Princesa bizantina], St. Georges,
desbastado em bloco de mármore ou de para ele no Luxembourg, o mestre me diz: Jeanne d’Arc e, por fim, La France [...] Une
pedra, a constituir uma figura, no entanto, ‘Ah! Já que vocês estarão ali, fotografe Petite sirène méchante – Ondine – Mystère
cheia de flexibilidade e de graça, algo como então La Pensée de frente e de perfil, des sources”60.

126
Entre a prefeitura e a fotografia (1914-1942)

O interesse que Bulloz dirigia a seus contem­


porâneos se expressava também em seu
engajamento na política municipal. Tudo
começou em 1914: “Seguindo um conselho
do presidente Léon Bourgeois, desde 2 de
agosto, dia da declaração da guerra, fui oferecer
serviços como voluntário à prefeitura e ao
prefeito, doutor Herbet, que me encarregou
de representá-lo em novas ações que se
instituíam todos os dias: sopas populares,
cantinas-refúgio etc. E desse dia até julho de
1917, quando fui nomeado prefeito adjunto
do 6o [distrito], compareci diariamente às
il. 7 Jacques-Ernest Bulloz il. 8 Jacques-Ernest Bulloz
10 horas da manhã para prestar contas ao Le Baiser en marbre dans la cour Naissance de Vénus en marbre
doutor Herbet de minhas visitas da véspera”. de l’atelier de la rue Falguière [Nascimento de Vênus em mármore]
Dispensado do serviço militar por causa da [O Beijo em mármore no pátio c. 1904 | Tiragem a carvão
do ateliê da rue Falguière] Ph. 6743 | Musée Rodin | Paris
idade – ele acabara de completar 56 anos –, setembro de 1904 | Tiragem a carvão
Bulloz dedicou-se integralmente a essa tarefa, Ph. 1399 | Musée Rodin | Paris

dividindo sua vida em “dois tipos de trabalho


bastante distintos”61: a fotografia e a prefeitura. administração das Belas-Artes63. Até a Segunda eram os únicos editores parisienses a ainda
Em 1919, com a retomada das atividades Guerra Mundial, ele continuou fazendo parte figurar no Annuaire [anuário].
normais, tudo mudou. Após a morte de Rodin de comissões criadas para a regulamentação Jacques Bulloz seguiu o caminho traçado
(ocorrida em novembro de 1917), ele abriu um das relações com os museus, adiando a pelo pai, sem introduzir mudanças signifi­
museu para conservar sua obra62. O contrato de insti­tuição de um serviço fotográfico dos cativas na empresa. Comprou o imóvel da
exclusividade que ligava Bulloz ao escultor não museus nacionais64. rue Bonaparte e continuou a editar catálogos
foi renovado. O editor foi levado então a lidar Essas inúmeras atividades não o impediram de grandes exposições. Seu filho, Pierre, apren-
com a concorrência de outros fotógrafos, como de se tornar prefeito do 6o distrito, a partir deu o ofício com ele, até assumir a sociedade,
Pierre Choumoff, o último retratista do escul- de 193665, e de retomar suas atividades em 195168. E manteve a maneira de agir de
tor, Berthelomier, Bernès e Marouteau. de voluntário em 1939, organizando “pedidos seus antecessores. Mesmo continuando a
Essa não era, porém, a única dificuldade. para fornecimento de comida aos que [haviam] dar atenção à defesa dos interesses do setor,
Com efeito, o serviço fotográfico do exército ficado em Paris sem recursos”66. ele organizou várias exposições: Puvis de
passara a trabalhar também para o Ministère Ele não procurou fazer sua empresa crescer Chavannes, Le Paysage anglais, Le Baroque
de l´Instruction Publique et des Beaux-Arts desmedidamente, preferindo voltar seu talento provençal e Le Musée de São Paulo. Diante
[Ministério da Instrução Pública e das Belas- para as obras de caridade. Bulloz morreu em da demanda existente, passou a oferecer
Artes], concor­rendo diretamente com os 1942, à rue Garancière. A retomada, em também reproduções em cores, e não
editores fotográficos. Diante do perigo que pleno conflito mundial, foi difícil para seu apenas em preto-e-branco.
isso representava, Bulloz se tornou presidente, herdeiro, Jacques, assim como no pós-guerra, que Depois de comemorar seu centenário,
durante vários anos, do novo Syndicat des não se mostrou um período propício para isso. a empresa, localizada no número 21 da rue
Éditeurs Photographes [Sindicato dos Editores A atividade editorial se recuperava muito Bonaparte, fechou definitivamente as portas.
Fotográficos] e elaborou um contrato com a lentamente67. Em 1946, Bulloz e Giraudon Era 17 de novembro de 200069.

127
1
Bulloz, 1925-1942, t. II, p. 43. espera encontrá-la o quanto antes e lhe pede que acredite não haver nenhum
casa Braun contava com mais de 180 trabalhadores em laboratório.
2
Ibid., coleção particular. Esse texto deve muito às recor­dações que Jacques-Ernest desagrado de sua parte, pois está de pleno acordo com o senhor” (René Cheruy a
30
Segundo Marie-Thérèse Souverbie, sua neta, J.-E. Bulloz já dispunha de todo o
Bulloz escreveu a pedido de seus filhos; ele as interrompeu durante a Primeira Bulloz, 8 de maio de 1903, coleção particular).
material necessário quando ainda trabalhava na casa Braun (entrevista realizada
Guerra Mundial, retomando-as em 1927. 50
Bulloz, 1925-1942, t. II, p. 43.
em março de 2007).
3
J.-E. Bulloz nasceu em Paris, em 20 de abril de 1858, na esquina da rue de 51
Rascunho do acordo com Haweis e Coles, arquivo do Musée Rodin.
31
Cf. nota 27.
Buci e da rue Bourbon-le-Château, no 6o distrito. Em 1866, a família se mudou 52
Bulloz a Rodin, 26 de maio de 1904, arquivo do Musée Rodin.
32
Esses formatos são relativamente simples, se comparados aos utilizados por
para o número 77 da avenue du Roi-de-Rome (atual avenue Kleber), antes de se 53
Bulloz a Rodin, 24 de junho de 1907, arquivo do Musée Rodin. Judith Cladel
Braun: formato excepcional (placas de 80 x 105 cm) e maior (100 x 140 cm),
instalar no número 11 da rue du Bel-Respiro (atual Arsène Houssaye). Catherine havia organizado várias exposições das obras de Rodin. Judith Cladel, 1908.
Catálogo Établissements Braun et Compagnie: un siècle de techniques, Paris,
Pierson (1826-1887) e Étienne Bulloz (1820-1886) provinham, respectivamente, 54
Lawton, 1906.
cerca de 1940.
de uma família de agricultores da Lorraine e de vinicultores de Franche-Comté. 55
Bulloz a Rodin, 2 de agosto de 1904, arquivo do Musée Rodin.
33
Boyer, 2004, p. 115.
4
Ibid., p. 7. Aos 18 anos de idade, Bulloz se engajou no 130o regimento de 56
Contrato de exclusividade, 5 de maio de 1903, arquivo do Musée Rodin.
34
J.-A.D. Ingres, 1780-1867 (Bulloz, 1925-1942, t. II, p. 15).
infantaria em Saint-Lô (na Mancha), onde obteve o grau de cabo. Voltou a Paris 57
Braun comprara um acréscimo à licença de Swan, em 1869, para a preparação
em 7 de novembro de 1877. Vivendo com os pais, concluiu sozinho os estudos,
35
Ibid., p. 16.
desses pigmentos, que diversificou: sépia, marrom, amarelo, azul e vermelho,
antes de começar a trabalhar.
36
Ibid., p. 17.
retomados por Bulloz quando ele se estabeleceu por conta própria (cf. Boyer,
5
Ibid., p. 108-119. 37
Les Pastels de Maurice Quentin de La Tour à Saint-Quentin (prefácio de Lapauze e
2004, p. 113).
6
Ibid. Larroumet, Paris, Bulloz): “Obra luxuosa, contendo 82 pranchas e um texto do 58
Bulloz a Rodin, 20 de fevereiro de 1904, arquivo do Musée Rodin.
7
No número 86 da rue de Richelieu, e depois à rue Louis-Le-Grand. senhor Henry Lapauze”. Lapauze, Henry. La Tour et son œuvre. Paris, Manzi/Goupil, 59
Bulloz, 1925-1944, t. II, p. 44.
8
Ibid. p. 109. 1905. Lapauze editou, entre 1905 e 1928, quatro catálogos dedicados a La Tour. 60
Ibid. As fotografias de Bulloz na Médiathèque de l’Architecture et du Patrimoine
9
Marie Pierson se casou com Léon Clément em 1875; Ernestine, sua irmã 38
Lapauze, H. Catalogue de dessins de Jean-Auguste Dominique Ingres. Paris, (arquivos fotográficos – Fort de Saint-Cyr) mostram uma tomada do conjunto da
caçula, casou-se em 1873, com Gaston Braun, 1845-1928 (Ibid., p. 108, 119). escultura: será que ele não seguiu as instruções do artista? Ou seriam elas fruto
Bulloz, 1901. Lapauze, H. Les Portraits dessinés d’Ingres. Paris, Bulloz, 1903.
10
Em 1892, a sociedade passou a se chamar Braun, Clément et Cie. (Le Pelley de outro trabalho?
Caperan, prefeito de Montauban, reconheceu a qualidade de seu trabalho e o
Fonteny, 2005, p. 86). 61
Bulloz, 1925-1942, t. II, p. 78.
11
De 1880 a 1897 (Bulloz, 1925-1942, t. I, p. 118). nomeou “cidadão honorário de Montauban”.
62
O Musée Rodin abriu suas portas ao público em 4 de agosto de 1919. O
12
Alphonse Poitevin inventou, em 1855, o “processo a carvão”, que foi aprimora-
39
Os artistas impressionistas integravam o campo restrito exigido por Braun, pois
historiador de arte Léonce Bénédite, diretor do Musée du Luxembourg,
do pelo inglês Joseph W. Swan (1828-1914), obtendo uma imagem de grande estavam ainda vivos (Bulloz, 1925-1942, t. I, p. 28).
tornou-se seu primeiro diretor.
qualidade estética. Braun adquiriu o processo Swan em 15 de abril de 1866, por 40
Bulloz, 1925-1942, t. II, p. 32. 63
Bulletin mensuel de La Chambre Syndicale de la Photographie, número 153,
25 mil francos (Boyer, 2004, p. 112-113). 41
Da firma Boussoud, Valadon et Cie. (1884-1919), sucessora da casa Goupil et Cie. março de 1920, p. 100.
13
Bulloz, 1925-1942, t. I, p. 152. (1850-1884). Cf. Vignau, Sabine. “Biographies”, in: État des lieux, no 1. Bordeaux, 64
Le Pelley Fonteny, 2005, p. 59.
14
A referência “reprodução a carvão” estava sempre presente nos carimbos do editor. Musée Goupil, 1994, p. 153. 65
Vice-prefeito em 1917, ele se tornou prefeito 19 anos depois.
15
Bulloz viajou, dessa forma, durante oito dias, em todos os verões, acompanhado 66
Bulloz, 1925-1942, t. II, p. 105.
42
Bulloz, 1925-1942, t. II, p. 33.
de intelectuais, artistas e, sobretudo, jovens advogados. Mais tarde, suspendeu a 67
Le Pelley Fonteny, 2005, p. 49.
43
Segundo Marie-Thérèse Souverbie, Bulloz alugou, durante 20 anos, uma casa em
prática a contragosto, por falta de tempo. 68
Informação transmitida por Marie-Thérèse Souverbie, em março de 2007.
Giverny para passar o verão.
16
Os artistas do Salon constituíam a clientela principal da casa Braun. Ela tinha 69
Data da aposentadoria de Pierre Bulloz, após passar cerca de 40 anos à frente da
também o privilégio invejável de conseguir um contrato de exclusividade com o
44
Duas ampliações a carvão são atualmente preservadas pela Médiathèque de
sociedade. A Réunion des Musées Nationaux assumiu o acervo iconográfico por
musée du Louvre, em dezembro de 1883, que entrou em vigor em 1885, por 30 l’Architecture et du Patrimoine (arquivos fotográficos – Fort de Saint-Cyr).
ela divulgado. As placas de projeção, as tiragens em preto-e-branco e seus
anos (Le Pelley Fonteny, 2005, p. 14). Certamente a pedido do artista, Bulloz fez também uma fotografia das ninfeias
negativos foram postos aos cuidados da Médiathèque de l’Architecture et du
17
Bulloz, 1925-1942, t. I, p. 119. no jardim de Monet. Patrimoine.
18
Para o histórico da Chambre Syndicale de la Photographie, cf. Le Pelley Fonteny, 45
Sinais disso podem ser encontrados na leitura do Bulletin de la Chambre
2005, p. 52-59. Syndicale de la Photographie et de ses Applications, dedicado principalmente “às
19
Ibid., p. 52.
questões de interesse profissional geral, como a propriedade de obras
20
Ela publicou um verdadeiro manifesto que o fez ganhar o processo após recurso:
fotográficas, o ensino e a regulamentação de expo­sições”. Moniteur de la
Mayer e Pierson. La Photographie considerée comme un art et comme une
photographie, no 5, 1o de março de 1899, 2a série, t. VI, p. 65 e seguintes.
industrie: histoire de sa découverte, ses procès, ses applications, son avenir [A
Fotografia vista como arte e como indústria: história de sua descoberta, seus
46
Rodin a Braun, 23 de março de 1903, Centre de la Culture Scientifique, Technique
processos, suas aplicações, seu futuro]. Paris, Hachette, 1862. et Industrielle de Mulhouse, cota de 16 a 84.
21
Cf. Nelly Kuntzmann. 47
Braun e Clément a Rodin, 25 de março de 1903, arquivo do Musée Rodin.
22
Bulloz, 1896, p. 5-7. 48
Apesar desse contrato, Druet, que criou um serviço de reprodução fotográfica
23
Jeanne, nascida em 1888; Marguerite, nascida em 1890; Madeleine e Geneviève, paralelamente a sua galeria de arte, continuou a comercializar as imagens que
nascidas em 1891; Pierre, 1893-1915; Jacques, 1895-1957; Jean, nascido em realizou das obras de Rodin, chegando até mesmo a fazer trabalhos pontuais
1899. Bulloz, 1925-1942, t. I, p. 162. para o escultor.
24
Falecidos entre 1886 e 1887, Étienne e Catherine Bulloz deixaram para o filho 49
Trecho do contrato de exclusividade assinado entre Rodin e Bulloz, 1903, arquivo
único todo o capital acumulado durante uma vida inteira de trabalho.
do Musée Rodin. Cabe observar que as duas cópias, uma de Rodin e outra de
25
Bulloz, 1925-1942, t. II, p. 5.
26
Ibid., p. 9. Bulloz, são preservadas pelo museu e trazem apenas uma assinatura, a de Bulloz.
27
Bulloz mudou-se do número 22 da rue Pigalle para o número 1 da rue “Senhor Bulloz, o senhor Rodin me pede para lhe dizer que, se ainda não lhe
Garancière, nas proximidades de seu novo ateliê. enviou sua cópia do acordo assinado, não terá sido por má vontade de sua parte.
28
Segundo Pierre Bulloz, seu neto (informações transmitidas em março 2007). Eis o motivo do atraso: o senhor Rodin recebeu sua carta quando estava com
29
Termos que apareciam constantemente na correspondência trocada com Rodin. A muitas visitas; guardou a carta no bolso e não sabe onde a colocou depois. Ele

128
Auguste Rodin
Les Trois ombres
[As Três sombras]
1902-1904 | Bronze
191,5 x 191,8 x 115 cm
S. 6411 | Musée Rodin | Paris

Em 1880, Rodin recebeu uma enco-


menda oficial para fazer a porta de um
futuro museu de artes decorativas.
Provavelmente por sugestão do próprio
artista, o tema escolhido foi a Divina
comédia, de Dante. Fascinado pelo
aspecto tenebroso do poema, Rodin se
concentrou no “Inferno”, deixando
de lado o “Purgatório” e o “Paraíso”.
Obra de uma vida inteira, La Porte
[A Porta] constitui a matriz a partir da qual
emerge todo o universo rodiniano:
assemblages, reduções, ampliações
e repetições de figuras.
Esse trio que em cima La Porte de
l’enfer [A Porta do inferno] foi realizado
a partir da reprodução de uma mesma
personagem: uma variação de Adam
[Adão], que, juntamente com Ève [Eva],
emoldura a Porte. Originalmente, as
três figuras carregavam uma bandeirola
com a frase de Dante: “Lasciate ogni
speranza voi ch’entrate” [“Deixai toda
esperança, vós que entrais”], que
Rodin decidiu retirar, juntamente com
as mãos. É evidente, aqui, a influência
exercida sobre ele pelas obras de
Michelangelo, que Rodin teve a
oportunidade de apreciar durante
sua passagem pela Itália, em 1876.

129
112. Jacques-Ernest Bulloz
Grande ombre
[Grande sombra]
após 1903, Jardim de Meudon
Tiragem a carvão
35,2 x 25 cm
Ph. 2399 | Musée Rodin | Paris

130
113. Jacques-Ernest Bulloz
Grande ombre
[Grande sombra]
1903-1904, Pavillon de l’Alma, Meudon
Gelatina e prata
35 x 26,3 cm
Ph. 1291 | Musée Rodin | Paris

131
114. Jacques-Ernest Bulloz
La Tour du travail et La Muse tragique
dans l’atelier de Rodin à Meudon
[A Torre do trabalho e A Musa trágica
no ateliê de Rodin em Meudon]
1904-1905 | Gelatina e prata
36,5 x 26,5 cm
Ph. 404 | Musée Rodin | Paris

132
115. Jacques-Ernest Bulloz
Vue d’ensemble de l’atelier de Meudon
[Vista de conjunto do ateliê de Meudon]
1904-1905 | Gelatina e prata
27,5 x 37 cm
Ph. 966 | Musée Rodin | Paris

Rodin reuniu no pavilhão de sua exposição


de 1900 – reproduzida em 1901, em seu jardim
de Meudon – grande parte de seus gessos.
As visões de conjunto realizadas por Bulloz dão
uma ideia daquilo que se revelava aos visitantes,
em grande número a partir de 1900. C.L.

133
116. Jacques-Ernest Bulloz
Buste de madame Simpson
[Busto da senhora Simpson]
1903-1904 | Tiragem a carvão
Dedicatória de Kate Simpson em bico-de-
pena e tinta marrom: à monsieur Rodin/
mon sculpteur/Paris le 20/septembre 1904
35 x 26,8 cm
Ph. 971 | Musée Rodin | Paris

134
Em 7 de janeiro de 1908, Rodin escreveu a Bulloz: “Permito-me
mais uma vez observar que há, em todas as suas reproduções,
um fundo preto opaco que tem um efeito terrível e de que
não consigo gostar. Faça-me, portanto, caro senhor, o grande
117. Jacques-Ernest Bulloz favor de expor minhas obras à luz de frente para uma cortina
Petite fée des eaux colocada de forma nitidamente oblíqua, de modo a obter um
[Pequena fada das águas] fundo dégradé, onde a luz passeie entre as sombras” (coleção
1903-1904 | Tiragem a carvão particular). A fotografia de La Petite fée des eaux demonstra
25 x 34,4 cm o papel essencial da iluminação para valorizar uma escultura
Ph. 1303 | Musée Rodin | Paris branca sobre um fundo escuro. H.P.

135
AUGUSTE RODIN Realizada em meados dos anos 1880, durante anteriormente por Rodin e reproduzido várias vezes
L’Éternel printemps o intenso período de criação de La Porte de l’enfer em bronze e em mármore. A elegância das formas
[A Eterna primavera] [A Porta do inferno], L’Éternel printemps foi exposta e a delicadeza do enlace o tornam particularmente
número 1, tamanho original, em 1897 no Salão, sob o título de Amour et Psyché apreciado pelo público. Frequentemente comparada
modelo principal [Amor e Psiquê]. Esse grupo, de composição bas­tante ao Baiser [O Beijo], essa obra não fez parte da Porte
1898 | Bronze complexa, constituída em torno de um X, evoca a de l’enfer; a felicidade desses dois jovens amantes
66,5 x 81 x 39,9 cm escultura do século 18. A personagem feminina foi certamente considerada algo alegre demais para
S. 2808 | Musée Rodin | Paris deriva do Torse d’Adèle [Torso de Adele], criado integrar o universo infernal de Dante.

136
Em carta datada de 21 de dezembro de 1907,
Bulloz demonstrou preocupação com o estado
do negativo em placa de vidro da Éternel
printemps, fotografia que já então tinha
118. Jacques-Ernest Bulloz grande sucesso: “Gostaria de lhe perguntar se
Éternel printemps a Printemps em mármore não estaria em Paris,
[Eterna primavera] pois a imagem já está desgastada, por ser
1903-1904 | Tiragem a carvão a mais utilizada, e seria, portanto, prudente
35 x 45,5 cm fazer mais uma ou duas cópias” (arquivo do
Ph. 975 | Musée Rodin | Paris Musée Rodin). Cédric Lessec

137
119. Jacques-Ernest Bulloz
Les Mauvais génies
[Os Maus gênios]
1903-1904 | Tiragem a carvão
35,5 x 25 cm
Ph. 976 | Musée Rodin | Paris

138
Auguste Rodin
Femmes damnées
[Mulheres condenadas]
antes de 1890 | Bronze
19,5 x 28,3 x 12 cm
S. 489 | Musée Rodin | Paris

139
120. Jacques-Ernest Bulloz 121. Jacques-Ernest Bulloz
Buste d’Hélène de Nostitz La Douleur
[Busto de Hélène de Nostitz] [A Dor]
1907 | Tiragem a carvão 1903-1904 | Tiragem a carvão
26,2 x 20 cm 33,3 x 26 cm
Ph. 1648 | Musée Rodin | Paris Ph. 978 | Musée Rodin | Paris

140
122. Jacques-Ernest Bulloz
Ève
[Eva]
1903-1904 | Tiragem a carvão
Pavillon de l’Alma, Meudon
36 x 25,6 cm
Ph. 1252 | Musée Rodin | Paris

As fotografias de Bulloz frequentemente


mostravam as obras em produção e o uni-
verso do ateliê. Mas, certamente a pedido
de Rodin, ele apresentava também escultu-
ras isoladas de seu contexto. Colocava-se,
então, o problema do fundo. Em junho de
1903, ele escreveu: “Há cerca de 25 objetos
prontos, mas 10 devem ser refeitos para
melhorar ou para terem o fundo que
o senhor preferir”. A questão voltava à
tona recorrentemente na correspondência
por ele dirigida a Rodin: “Quanto ao fundo,
lamento que ele tenha ficado novamente
escuro demais, mas, se o senhor se recor-
da, ele era quase branco, um cinza bem
clarinho; apesar disso, com os mármores
brancos de reflexo forte, ele acabou sendo
empurrado para o preto. Da próxima vez,
usarei um branco que talvez seja suficiente.
Aliás, no caso do bronze feito do lado de
fora, não coloquei nenhum fundo, deixan-
do apenas levemente desfocado” (Bulloz
a Rodin, 12 de janeiro de 1908). C.L.

141
Algumas mãos foram reutilizadas e ajuntadas por Rodin
segundo uma lógica puramente plástica. Les Mains
d’amants foi realizada a partir de dois pequenos gessos
123. Jacques-Ernest Bulloz tirados de suas gavetas de restos, que constituíam
Mains d’amants verdadeiros reservatórios de formas e ideias para o
[Mãos de amantes] escultor. Foi certamente por ter exposto esse mármore
1903-1904 | Tiragem a carvão em sua galeria da rue Bonaparte que Bulloz cuidou
26,5 x 35 cm de modo especial de sua reprodução fotográfica,
Ph. 1397 | Musée Rodin | Paris emoldurando-a com um filete dourado.

142
124. Jacques-Ernest Bulloz
Muse pour le Monument à Whistler et
Monument à Victor Hugo en arrière-plan
[Musa para o Monumento a Whistler com
o Monumento a Victor Hugo ao fundo]
junho de 1908 | Tiragem a carvão
Ateliê do depósito de mármores
36,5 x 26,5 cm
Ph. 1568 | Musée Rodin | Paris

143
144
tema da fotografia
A escultura como
Se Rodin sempre se mostrou muito assertivo com os fotógrafos que
trabalhavam oficialmente para ele, permitiu, no entanto, liberdade absoluta
aos pictorialistas que se sucederam, a partir de 1900, na rue de
l’Université. Na opinião de Edward Steichen, Stephen Haweis e Henry Coles,
Jean Limet e alguns outros, a escultura de Rodin é tema para
interpretação e não para reprodução. O que nos seduz é
sua visão da escultura, não mais a obra em si.

145
“Alguma coisa nessas imagens tão coloridas, ou correspondência mantida entre o pintor e o
Cédric Lesec
Modelar a luz
Carrière, Rodin e os fotógrafos pictorialistas

mesmo em sua nebulosidade e delicadeza, remeteria escultor, de 1888 a 1906. São raros os teste-
quase à arte harmoniosa munhos dos segredos de ofício que os dois
e profunda de Eugène Carrière.”
amigos compartilharam em seu dia-a-dia5.
André Fontainas1
A cumpli­cidade intelectual e o estímulo
recíproco revelaram-se aí. Tratava-se também
de sinais, às vezes com vários anos de inter-
“Já posso morrer. Trabalhei e amei”2:
valo, que Rodin e Carrière transmitiam um
essas poucas palavras rabiscadas a lápis
ao outro. Em junho de 1890, o pintor escreveu
e transmitidas pelo crítico Louis Vauxcelles
a ele: “O senhor é, ao mesmo tempo, um
certamente rondaram a mente das pessoas
grande artista e um amigo bastante agradável.
próximas a Eugène Carrière, que formaram
Fico muito feliz com sua maravilhosa lem-
o longo cortejo envolvendo seu caixão, desde
brança. Ela me permitirá conversar frequen­
sua residência parisiense até o cemitério de
temente com o senhor e me alegrará a alma
Montparnasse, naquela manhã de 30 de
nos momentos esquecidos. Suas obras são
março de 1906.
amigos consoladores e reconfortantes”6.
O pintor morrera alguns dias antes,
vítima de um câncer na garganta. Hemi­ No outono de 1905, quando Carrière já se
plégico e impossibilitado de falar desde sabia desenganado, Rodin, muito sensibilizado,
novembro de 19053, ele adquiriu o hábito consolava o amigo: “Sinto necessidade de
de trocar pequenos bilhetes com os amigos, lhe dizer o quanto me encantam suas obras
nos quais registrou, com sua mão trêmula, de grande mestre e de lhe dizer o quanto o
pensamentos e consi­de­rações. Essas palavras vejo com força. Ouvi dizer que o senhor está
circularam de mão em mão e fizeram sua doente; enrijeça-se contra esses absurdos e
entourage refletir. defenda corajosamente a si mesmo”7.
Até o último minuto, Eugène Carrière O que constituía a particularidade
manteve uma interlocução com Auguste da relação de amizade que aproximava os
Rodin. Prova disso são os bilhetes guardados dois artistas era a cumplicidade que uniu suas
pelo escultor, que testemunham a profundi- buscas no interior de um movimento mais
dade e a delicadeza de sua amizade: “Um amplo – o do simbolismo. Falando de Carrière,
homem com um ideal muito elevado e que o crítico de arte Paul Gsell confidenciou a
faz bem para todos. [...] Eis por que acredito Rodin: “Ele era, talvez, o único pintor contem­
que a admiração é a forma superior do reco­ porâneo que não fazia pintura, e sim criava
nhe­cimento e esse é o sentido de minha vida. As obras dos outros são telas carregadas
admiração pelo senhor, meu caro Grande de cores; as suas são a realidade se revelando
Rodin”4. Essas palavras formavam, na maior e sua alma se exprimindo. Ele modelava sua
parte das vezes, verdadeiras máximas e pintura como o senhor faz com a argila. Era
ecoavam as cartas que constituíam a um pintor-escultor”8.
de nós, os contrastes mais fluidos tendem
a produzir coisas mais belas do que os contrastes
mais definidos. [...] Trabalhamos buscando a
harmonia, a harmonia das cores, das tonali­
dades, da composição. Carrière, um dos
maiores pintores da arte moderna francesa,
embute em todos os seus quadros esse toque
sutil, de lusco-fusco, nunca utilizando o
preto nem o branco puro; suavizando essas
tonalidades, ele obtém uma atmosfera de
il. 1 Eugène Carrière refinada sensibilidade, envolta por um senti­
Cartaz da exposição
de Rodin de 1900 mento agradável. Logicamente, não podemos
Arquivos do Musée Rodin | Paris afirmar que tudo isso só existe por causa
desse toque; no entanto, ele se aproxima
de nossas aspirações”12.
Foram muitas as influências recíprocas de tom das tiragens produzem uma sobrepo- Stephen Haweis, que, como Steichen,
exercidas entre as obras dos dois artistas9. sição de cores que a crítica chegou a comparar foi pintor antes de se tornar fotógrafo,
Um mesmo repertório de formas e uma mesma com a obra de Carrière11. apresentou-se tardiamente como aluno de
ideia confluíam, às vezes, para trabalhos Não parece absurdo supor que essa Carrière13. Ambos foram, em nosso conheci-
comuns. Essas experimentações formais aproxi­mação entre as fotografias de Eugène mento, os únicos a reivindicar essa filiação14.
e semelhanças não se deviam ao acaso. Druet e os quadros de Carrière tenha sido Animados com os avanços técnicos da
A colabo­ração que se construía entre Rodin sugerida pelo próprio Rodin, a fim de impor fotografia, os amadores traçaram, na virada
e Carrière se explicitou em 1900, quando as tiragens do fotógrafo amador a uma do século, uma nova via assumidamente
estava para se realizar em Paris a Exposition imprensa então reticente. estética e emancipada da realidade, cuja
universelle [Exposição universal]. O escultor A relação entre fotografia, pintura reprodução excessivamente minuciosa era
convidou Carrière a criar o cartaz de sua e escultura tornou-se ainda mais evidente buscada de modo obsessivo pela velha geração.
mostra, e ele o fez exibindo o amigo em com a atividade dos integrantes da escola No limbo da inspiração, a suavidade da fatura
pleno trabalho, modelando uma figura que pictorialista, que trabalharam no ateliê de e a atmosfera esfumada fixada no papel
se assemelhava ao Réveil [Despertar] (il. 1). Rodin a partir de 1902. Eles próprios, nesse traduziam a recordação distante da criação,
Como demonstração da apreciação mútua caso Steichen e Haweis – provavelmente mais do que o registro meramente mecânico
que os ligava, essa litografia foi reproduzida influenciados pelo escultor –, reivindicaram da câmera15. O uso da goma bicromatada,
na capa do catálogo10. o parentesco com o pintor. Em janeiro de dos processos de tiragem a carvão e das
Por ocasião da exposição, várias provas 1901, Edward Steichen declarou: “Se guarda- intervenções com pincel de Edward Steichen,
fotográficas de Eugène Druet acompanharam mos na mente aquilo que vemos na natureza, Haweis e Coles, Limet e outros evocavam,
as esculturas do artista. Nelas, os corpos constatamos que não existe o preto total nem na mesma época, as gradações cromáticas
emergem das sombras; seu contorno esfumado, o branco total, e a ideia desses contrastes, tão singulares de Eugène Carrière e seu
obtido graças às ampliações, e as variações então, desaparece na fotografia. Para alguns gosto pela sugestão (il. 2, obras 145 e 188).

147
A pintura de Carrière como herança

Outros fotógrafos da escola pictorialista,


orientados por Steichen, sucederam-se no
ateliê de Rodin a partir de 1905. Adolph de
Meyer, Gertrude Käsebier e Alvin L. Coburn
lidaram, um de cada vez, com a genialidade
do escultor, que se tornou tema de interpre­
tação e motivo de criação.
Figura emblemática do amador que se
dedica à fotografia, Adolph de Meyer não
escapou da influência de Alfred Stieglitz e
dos princípios da Photo-Secession. O barão
de Meyer manteve com Rodin relações mais
mundanas do que artísticas. O retrato que fez
il. 2 Eugène Carrière
dele, sem ser excepcional, não se mostrou Femme nue de dos se coiffant
menos surpreendente. O escultor parecia dar [Mulher nua de costas se penteando]
c. 1889 | Óleo sobre tela
uma última olhadela no espelho antes de partir, P. 7275 | Musée Rodin | Paris
vestindo um sobretudo e usando luvas, à seme­
lhança de um simpático dândi (obra 126).
Alguns meses mais tarde, ele mandou
uma carta a Rodin para lhe anunciar a visita ambicioso projeto: fotografar os escritores espectador, perdido, não saber diferenciar
de Gertrude Käsebier, a quem comparou com e artistas mais falados. Apresentado ao escul- quem era mais imóvel, o artista ou a escultura
Steichen, cujo nome era, por si só, capaz de tor por George B. Shaw, que na ocasião (obra 203). Para esses fotógrafos, bem como
abrir as portas do escultor. A fotógrafa soube posava para Rodin, o jovem norte-americano para Constant Puyo, “em matéria de arte,
desmontar as poses tradicionais de seu modelo. foto­grafou o artista e reproduziu técnicas o objeto não é nada e a interpretação é tudo”18.
Por achar seu paletó em desacordo com a que seus compatriotas da Photo-Secession Essa afirmação radical visava a acentuar as
imagem que tinha de um artista, ela ocultou-o haviam utilizado antes dele. Após sua qualidades de interpretação do artista, sem,
sob um avental de trabalho, produzindo assim partida, Rodin se queixou a Shaw que ele no entanto, minimizar a importância do
uma alegoria perturbadora do gênio criador fez retratos demais, e o tom convencional objeto representado.
(obra 128). Ao contrário de Steichen e de da carta que mandou ao fotógrafo recendeu A correspondência entre a pintura
Coburn, Käsebier se voltou naturalmente a pouco entusiasmo: “Elas são de uma de Carrière e a fotografia pictorialista era
para o jardim de Meudon, banhado, a seus concepção totalmente nova, e transmito-lhe apenas um exemplo da fusão entre diferen-
olhos, por uma suave melancolia (obra 133). meus mais sinceros cumprimentos. A exce- tes artes, tão cara à corrente simbolista.
“Àqueles que se mostram espantados diante lente recordação que guardei de sua O jogo da admiração recíproca fez sua obra
de seus retratos marcados pela tranquilidade agradável visita a Meudon confere um duplo e a pintura de Carrière entrarem com força
e pela serenidade, ela responde: ‘É Rodin na valor a essas provas, e, em testemunho de na modernidade, vindo a confirmar a profe-
presença de uma mulher’.”16 meu reconhecimento, pretendo enviar-lhe cia de seu maior amigo: “Não, ele não está
Em abril de 1906, a Villa des Brillants se em breve alguns desenhos meus”17. A figura conforme o espírito do tempo, mas o que
tornou palco de um novo encontro. Ali, Rodin de Rodin aparecia como que envolta por isso importa, se as gerações – necessária e
recebeu Alvin. L. Coburn, cuja viagem pela uma auréola luminosa que fazia vibrar a irresistivelmente – se conformarão, elas sim,
Europa devia possibilitar a realização de um matéria – viva, petrificada, a ponto de o ao espírito de Carrière?”19.

148
1
Fontainas, Le Mercure de France, julho de 1901.
2
Vauxcelles, “Eugène Carrière”, Le Gil Blas, 28 de março de
1906.
3
Devido a uma traqueotomia.
4
Carrière a Rodin, começo de 1906, arquivo do Musée Rodin.
5
Oya e Héran, catálogo da exposição Auguste Rodin. Eugène
Carrière, 2006, p. 17.
6
Carrière a Rodin, 24 de junho de 1890, arquivo do Musée
Rodin.
7
Rodin a Carrière, outono de 1905, em Carrière, 1966, p. 175.
8
Gsell, Journal d’Alsace-Lorraine, 2 de abril de 1907.
9
Le Normand-Romain, catálogo da exposição Auguste Rodin.
Eugène Carrière, 2006, p. 32-51.
10
A litografia havia sido encomendada em 1897, para o lançamen-
to do jornal L’Aurore.
11
O jornalista Félicien Fagus foi o primeiro, antes mesmo da aber-
tura da exposição, a observá-lo. Fagus, “Les Collaborateurs de
Rodin”, in: La Revue des beaux-arts et des lettres, 1o de janeiro
de 1899, p. 13.
12
Tradução (do inglês) feita pelo autor. Steichen. “The American Scholl”, in:
The Photogram, janeiro de 1901, p. 4-9.
13
No catálogo da exposição de suas pinturas, realizada em
Nova York, em 1915, ele esboçou sua biografia, sem, no
entanto, demonstrar muita precisão: “Tive o privilégio de
realizar alguns trabalhos fotográficos para Rodin, que me
apresentou a Eugène Carrière, de que me tornei aluno nos
últimos anos de sua vida”. Coisa duvidosa, pois a doença
de que Carrière foi acometido o deixou imobilizado desde
o fim de 1905, esgotando-o. No prefácio desse mesmo
catálogo, Haweis afirmou igualmente ter sido o mestre maceiro
do ateliê de Alphonse Mucha, em Paris. Cf. Haweis, Stephen.
Pictures painted by Stephen Haweis in the South Sea Islands,
Melanesia, Polynesia and the sea gardens of Nassau in the
Bahamas, 1915.
14
Por sua parte, Carrière não era indiferente à fotografia. Robert
Demachy o encontrou entre os visitantes de uma de suas
exposições individuais, organizada em seu ateliê: “He was very
encouraging”. Carta de Demachy a Stieglitz, datada de 1904,
Yale University, Beinecke Rare Book and Manuscript Library,
Alfred Stieglitz Archiv, YCAL Mss 85 Box Folder Demachy 293-294.
15
Cf. catálogo da exposição La Photographie pictorialiste en Europe:
1888-1918, 2005.
16
“That is Rodin in the presence of a woman”, nota em dactilos-
crito de G. Käsebier em Gertrude Käsebier papers, University
of Delaware, p. 76. Cf. Poivert, catálogo da exposição Le Salon de
photographie, 1993, p. 17.
17
Rodin a Coburn, 3 de julho de 1906, coleção George Eastman
House, Rochester.
18
Puyo citado por Poivert, 1992, p. 19.
19
Palavras de Rodin extraídas de “Glanes du matin”,
in: Gazette de France, março de 1908.

125. Gertrude Käsebier


Rodin devant La Porte de l’enfer
[Rodin diante da Porta do inferno]
1905 | Tiragem em goma bicromatada
Carimbo da fotógrafa embaixo, à esquerda
22 x 16 cm
Ph. 241 | Musée Rodin | Paris

149
127. Gertrude Käsebier
Baron Adolph de Meyer
[Barão Adolph de Meyer]
126. Baron Adolph de Meyer 1903, Newport
Portrait de Rodin portant des gants Tiragem em goma bicromatada
[Retrato de Rodin usando luvas] Na frente, a lápis grafite:
c. 1905 | Platinotipo (?) Gertrude Käsebier, MCMIII
24 x 17,4 cm 24,5 x 20,5 cm
Ph. 239 | Musée Rodin | Paris Ph. 211 | Musée Rodin | Paris

150
128. Gertrude Käsebier
Rodin devant La Porte de
l’enfer, la main gauche sur
la tête en bronze du baron
d’Estournelles de Constant
[Rodin diante da Porta do
inferno com a mão esquerda
sobre a cabeça em bronze
do barão d’Estournelles
de Constant]
1905 | Platinotipo
22,2 x 16,2 cm
Ph. 247 | Musée Rodin | Paris

151
129. Gertrude Käsebier
Rodin devant La Porte de
l’enfer, la main gauche sur
la tête en bronze du baron
d’Estournelles de Constant
[Rodin diante da Porta do
inferno com a mão esquer-
da sobre a cabeça em bron-
ze do barão d’Estournelles
de Constant]
1905 | Tiragem em goma
bicromatada
Assinatura a lápis grafite
embaixo, à direita
33 x 25 cm
Ph. 249 | Musée Rodin | Paris

152
130. Gertrude Käsebier
Portrait de Rodin
[Retrato de Rodin]
1905, Pavillon de l’Alma,
Meudon | Platinotipo
Intervenção com lápis grafite
Assinatura a lápis grafite
no suporte embaixo, à direita
20,8 x 16 cm
Ph. 252 | Musée Rodin | Paris

Em 1913, Gertrude Käsebier recebeu em


Nova York um pequeno bronze enviado
por Rodin como sinal de amizade e agra-
decimento. Maravilhada, ela escreveu ao
escultor: “Meu caro senhor Rodin, hoje a
alfândega norte-americana liberou o tão
lindo e honroso presente que o senhor me
enviou: estou totalmente inebriada de feli-
cidade. É como um sonho de que temo des-
pertar. Não entendo nem procuro entender
como isso é possível. Sei apenas que é meu,
meu, meu” (23 de janeiro de 1913, arquivo
do Musée Rodin). C.L.

153
Em outubro de 1906, nos marcos de uma sessão que
131. Gertrude Käsebier 132. Gertrude Käsebier
ela dedicou desde seu início ao lado íntimo da criação,
The Bat Trois cygnes sous un bouleau
a revista L’Art et les artistes fez uma visita a Rodin,
[O Morcego] [Três cisnes sob uma bétula]
1902 | Tiragem a carvão (?) 1905 | Platinotipo
na Villa des Brillants. A matéria, fartamente ilustrada
Montagem a partir de três papéis diferentes Jardim da Villa des Brillants, Meudon com fotografias, permitiu ao leitor descobrir o jardim
A lápis grafite, no primeiro suporte: Montagem a partir de quatro papéis diferentes existente em torno da casa e a fonte de inspiração que
Gertrude Käsebier, e à tinta marrom Assinatura a lápis grafite embaixo, à direita ele constituía para o escultor. Fazendo com que seu
no terceiro suporte: Gertrude Käsebier no suporte: Gertrude Käsebier olhar circulasse pelas aleias do parque, Käsebier captou
20,5 x 15,5 cm 23,5 x 14,5 cm toda a intensidade dessa relação com a natureza e os
Ph. 212 | Musée Rodin | Paris Ph. 214 | Musée Rodin | Paris momentos agradáveis que Rodin tanto apreciava. CL.

154
Após o encontro com Rodin, frustrada por não
conseguir se comunicar com ele e estimulada por
133. Gertrude Käsebier
sua proposta de se alojar em uma pequena casa
Canards dans le bassin
separada, mas colada ao ateliê em Meudon, Ger-
[Patos no tanque]
1905, Jardim da Villa des Brillants, Meudon
trude Käsebier decidiu estudar francês. Esse esforço
Goma sobre platinotipo não foi coroado de êxito, pois em 1908 ela admitiu:
Dedicatória a lápis grafite, na frente: “Lamento muito só poder lhe falar por meio de
Pour Madame Rodin uma fotografia”. O uso da luz era, assim, a única
Assinatura a lápis grafite, embaixo, à direita linguagem comum entre os dois artistas. Em troca
Montagem a partir de quatro papéis diferentes das fotografias que lhe oferecia, ela recebia alguns
Ph. 213 | Musée Rodin | Paris desenhos e uma estatueta de Rodin. H.P.

155
134. Alvin Langdon Coburn
Le Penseur (George
Bernard Shaw posant nu)
[O Pensador (George
Bernard Shaw posando nu)]
abril de 1906 | Carvão sobre platinotipo
A lápis grafite, embaixo, à direita:
To M. Rodin from Alvin Langdon
Coburn Septembre 15th 1906
29,2 x 23 cm
Ph. 1214 | Musée Rodin | Paris

Típica brincadeira refinada dos jovens de


antigamente, essa fotografia testemunha a
cumplicidade existente entre Shaw e Coburn.
Com efeito, foi G.B. Shaw que, posando para
seu busto no ateliê de Rodin, apresentou o
fotógrafo ao escultor. Em 21 de abril de 1906,
os dois presenciaram a inauguração do Penseur
em frente ao Panthéon. No caminho de volta
ao ateliê, Shaw propôs a Coburn que ele po-
sasse nu fazendo o mesmo gesto da escultura,
argumentando que nenhum retrato de Wagner
ou de Dickens, entre as centenas existentes,
mostrava outra coisa que não fosse um rosto
emergindo de uma vestimenta. Coburn acabou
por mandar uma cópia da fotografia ao escul-
tor, acompanhada de uma carta: “Envio-lhe,
pedindo que a aceite, uma fotografia que
chamo de Le Penseur. Acredito que o senhor
irá reconhecer o modelo que posou para a
imagem! A fotografia foi feita em Paris, depois
de presenciarmos a inauguração de sua obra-
prima” (setembro de 1906, arquivo do Musée
Rodin). A imagem só foi exposta após a morte
do escritor, suscitando inúmeros comentários
na imprensa: todos se perguntavam quem seria
aquele audacioso modelo... C.L.

156
desse hábito, e sua coleção, guardada em Meudon,
135. Alvin Langdon Coburn
constituía, para ele, fonte permanente de inspiração:
La Collection d’antiques
“Sobre os móveis, sobre as mesas, sobre as cômo-
de Rodin à Meudon
[A Coleção de antiguidades das, só havia esboços, pequenas indicações, grupos
de Rodin em Meudon] mais nitidamente formulados [...] e, aqui e ali, uma
abril de 1906 | Platinotipo cabeça antiga, um pedaço esculpido da Idade Média,
27,3 x 21,4 cm uma urna grega [...] um gavião, obra-prima egípcia,
Ph. 2115 | Musée Rodin | Paris numa matéria desconhecida, que pode ser madeira,
pedra ou uma combinação de cerâmica qualquer, um 136. Alvin Langdon Coburn
O ateliê do escultor aparecia frequentemente, sob gavião que Rodin segurava entre as mãos e que pos- L’Adieu
a pena do escritor do século 19, como um verda- suía uma forma tão maravilhosa, uma composição [O Adeus]
deiro cafarnaum. Amontoavam-se nas prateleiras, tão harmoniosa que parecia ainda tremer ao toque abril de 1906 | Platinotipo
ao lado das obras, objetos que o artista apreciava e de seus dedos” (Maillard. Auguste Rodin: Statuaire. 28,6 x 22,7 cm
colecionava apaixonadamente. Rodin não abria mão Paris: H. Floury, 1899). C.L. Ph. 6880 | Musée Rodin | Paris

157
138. Alvin Langdon Coburn
Portrait de Rodin
[Retrato de Rodin]
abril de 1906 | Platinotipo
Monograma do fotógrafo
28,8 x 22,5 cm
Ph. 537 | Musée Rodin | Paris

Depois de voltar para os Estados Unidos, Coburn


enviou valiosas imagens por ele realizadas na seção
que Rodin lhe concedera em Meudon. Entusiasmado,
137. Alvin Langdon Coburn ele declarou ao escultor em uma carta: “Finalmente
Paolo et Francesca sur les nuages envio-lhe alguns clichês que fiz em Meudon; espero
[Paolo e Francesca nas nuvens] que eles lhe proporcionem tanto prazer quanto eu tive
abril de 1906 | Platinotipo ao fazê-los. Agradeço-lhe pela honra que me concedeu
27,2 x 21,2 cm ao permitir-me fazer seu retrato, assim como por seu
Ph. 6879 | Musée Rodin | Paris cordial interesse” (arquivo do Musée Rodin). C.L.

158
139. Alvin Langdon Coburn
Portrait de Rodin coiffé
d’une toque noire
[Retrato de Rodin
com um gorro preto]
abril de 1906 | Platinotipo
28,5 x 22 cm
Ph. 882 | Musée Rodin | Paris

159
Hélène Pinet
Stephen Haweis e Henry Coles
Uma associação efêmera

No começo do século 20, a visita ao ateliê continuou os estudos no Peterhouse College,


do depósito de mármores, onde Rodin traba­ onde provavelmente conheceu Henry Coles,
lhava desde 1880, tornara-se obrigatória para matriculado, então, no Trinity College. Ambos
os estrangeiros da alta sociedade que esti­vessem deixaram Cambridge sem terem obtido o
de passagem por Paris. Ter o nome associado diploma. Haweis enveredou pelo caminho
ao de Rodin era, então, uma garantia de reco­ artístico, completando sua formação na aca­de­
nhecimento buscada por muitos artistas. mia Colarossi, em Paris. Seu comporta­mento
Em junho de 1903, Emilia Cimino, que extravagante impressionou fortemente uma
atuava ocasionalmente como tradutora de jovem estudante de temperamento fogoso e
Rodin, apresentou ao escultor dois jovens beleza excepcional, Mina Loy, que se tornou sua
ingleses, Stephen Haweis e Henry Coles, que esposa em 19035. De 1904 a 1910, ele expôs
ambicionavam fotografar suas obras e usufruir regularmente na Société Nationale des Beaux-
a aura de sua celebridade1. O escultor, que Arts (Sociedade Nacional de Belas-Artes) e no
acabara de assinar um contrato outorgando Salon d´automne (Salão de outono), além de ter
a exclusividade da reprodução de suas escul- sido convidado por Octave Maus a participar do
turas a Jacques-Ernest Bulloz, aceitou sem Salon de la libre esthétique (Salão da livre esté-
hesitar2. A juventude – Haweis tinha então 25 tica) de 1906, em Bruxelas. Suas paisagens e
anos e Coles, 28 –, a exaltação, a tenacidade cenas de costumes ganharam menções em
e, sobretudo, o conhecimento técnico desses textos sobre o Salon: “Sempre Whistler! É nele
jovens eram suficientes para explicar o entu- que pensava a senhorita Katherine Kimball [...];
siasmo de Rodin. As fotografias que os dois a ele o senhor Stephen Haweis poderia dedicar
mostraram ao escultor evocavam de imediato suas pequenas composições, um tanto misterio-
a pintura monocromática de Eugène Carrière, sas e perversas, em que Baudelaire tem sua parte
de que ele gostava e sobre a qual havia dito em termos de invenção, ou pelo menos Oscar
que “modelava a pintura como nós fazemos Wilde ou Swindburne”6. O gosto pela foto­grafia
com a argila – era um pintor escultor”4. talvez tivesse sido a ele transmitido pelo irmão
Quem eram eles? Haweis estampava a mais velho, Lionel, que abrira um estúdio em
segurança das pessoas bem-nascidas. Era filho Vancouver no começo do século 20. Essa ativi-
de duas personalidades da cena londrina: dade, de todo modo, constituía uma prática
o reverendo Hugh R. Haweis, conhecido por comum na família Haweis, pois sua jovem irmã,
seus sermões, e Mary Eliza Joy, autora de livros Hugolin, também fazia fotografia, mesmo sendo
sobre decoração de interiores e de obras para humorista, cantora e escritora7.
crianças. A família morava na Cheyne Walk, Em sentido oposto, o percurso de Coles
em uma casa antes pertencente ao pintor Dante parece, ainda hoje, um enigma. Em um dos
Gabriel Rossetti. Depois de passar alguns anos raros artigos dedicados a sua associação,
na Westminster School de Londres, Haweis ficamos sabendo que ele, químico de formação,
distinguia entre gravuras e desenhos. Para
evitar esse tipo de confusão, Haweis pediu
que Rodin colocasse seus dois nomes, bem
como a palavra “fotografia”, sob as imagens
il. 1 Stephen Haweis
e Henry Coles que eles deviam expor em Berlim, “pois
Rodin et ses chiens à Meudon parece que não se fica sabendo que se trata
[Rodin e seus cães em Meudon]
c. 1904 | Prova em gelatina e prata de foto­grafias”12. Se algumas lembram ver-
Ph. 1225 | Musée Rodin | Paris sões fotográficas dos quadros de Eugène
Carrière13, a tendência dos dois fotógrafos
de privilegiar o efeito gráfico ou de deixar
era o braço técnico da dupla8. As inúmeras como seu fotógrafo [...] Eu não fazia a menor que a linha determinasse a composição
pesquisas realizadas em busca de seus rastros ideia de que Haweis fosse tão apressado assim da figura vinculava-os tanto à art nouveau
mostraram-se infrutíferas. Somente a fotogra- em tirar vantagens materiais com as fotogra- quanto ao simbolismo. A ideia de fotografar
fia assinada, datada de 1908, de uma escul- fias. Achava que o êxito de que ele gozava uma escultura, frequentemente de pequenas
tura de Marie Bernières-Henraux, Détresse em termos de estima o satisfizesse”10. dimensões, com um fundo neutro ou um
[Aflição], prova que ele manteve sua atividade Rodin deixara claro em seu primeiro pano decorativo (obras 161 e 162) conferia-
de fotógrafo depois da separação, em 19049. encontro: eles não podiam vender suas lhe uma feição inusual, que modifica nosso
Como veremos, a associação entre Haweis provas, apenas doá-las e expô-las11. olhar. A máquina fotográfica alterava o
e Coles foi de curta duração. Viver à sombra do grande mestre não tamanho da figura, intensificando seu
Com esses fotógrafos, Rodin restabelecia bastava, porém, para saciar a ambição dos aspecto monumental.
o mesmo tipo de relacionamento, amistoso jovens e garantir seu dia-a-dia. Em janeiro Haweis e Coles experimentaram diferentes
e profissional, que havia mantido com Eugène de 1904, Haweis explicou claramente a Rodin técnicas, que explicavam a Rodin em um francês
Druet entre 1896 e 1900, assim como encon- o impasse financeiro em que os dois se encon­ às vezes mal-articulado: “Iremos [...] para
trava semelhantes dificuldades, só que em ritmo travam: haviam realizado para ele, em 18 meses, lhe mostrar uma meia dúzia de fotografias
acelerado: a primeira carta de Haweis a Rodin mais de 300 imagens, que lhes eram pagas de La Femme accroupie [A Mulher agachada]
data de 13 de julho de 1903; em 7 de novem- a 90 centavos cada uma, quando um “especia- em bronze do senhor Kelly, com uma luz
bro de 1904, Henry Coles anunciou sua sepa­ lista no assunto calcula em 20 francos cada artificial que acho muito boa. [...] Adquirimos
ração, após 18 meses de atividade conjunta, prova inicial aprovada” por Rodin. Sem exigir uma lâmpada à base de acetileno adaptada
durante os quais eles realizaram mais uma quantia como essa e “considerando o de forma a produzir apenas um raio de luz ou
de 200 fotografias para o escultor. prazer e a notoriedade” que encontravam na uma grande luminosidade, com a qual podere-
Desde as primeiras semanas, as relações execução desses trabalhos, ele pedia ao escul- mos chegar a resultados interessantes”14. Mas,
entre Rodin e os dois fotógrafos foram tor que propusesse um arranjo. As difi­cul­dades mais frequentemente, eles se punham à
tumul­tuosas. Emilia Cimino, que os apresen- encontradas pelos fotógrafos provinham do espreita, à espera de alguma bela luz natural,
tara, atuava como mediadora, mostrando-se contrato que ligava Rodin ao editor e fotó- propícia para suas tomadas: “É quase inútil,
espan­tada, e m suas cartas, com a ambição grafo Jacques-Ernest Bulloz, pois a cláusula para nós, ir de manhã ou à tarde; só à noite
desses últimos: “Soube que o senhor Haweis, que garantia a esse último a exclusividade os resultados são bons”15. Georg Treu contou
sempre muito seguro de si, como filho de um nas reproduções fotográficas impedia Haweis em um artigo as condições nas quais certas
homem conhecido que é, não aguentava e Coles de venderem suas tiragens. imagens foram realizadas em Meudon: “Eles
esperar e fazia ao senhor propostas de negó- Rodin, porém, tinha um gosto especial por fazem as fotografias no jardim de Rodin, na
cios [...] O senhor Coles é mais humilde, mas aquelas fotografias montadas em papel hora em que as trilhas já estão mais escuras e
natural­mente espera que o senhor o tome Canson cinza, que o público às vezes não as figuras se destacam contra o céu abrasado

161
pelo sol poente”. E acrescentou: “Não surpre-
ende que Rodin exerça grande influência sobre
seus amigos fotógrafos. Pois ele mesmo é que
trabalha com o auxílio da luz”16. Rodin, de
seu lado, procurava encontrar uma solução
redigindo um novo contrato, segundo o qual
a casa Bulloz devia, dali em diante, comercia­
lizar suas fotografias17. Mas o editor da rue
Bonaparte, o que é fácil de entender, não
empregou muita energia na tarefa e Coles se
queixou ao escultor: “O senhor Bulloz expôs
algumas [tiragens] na vitrine por uns dias,
depois as recolheu e não se interessa mais por
elas [...] E como parece não gostar pesso­al­
mente delas, provavelmente não as apresenta.
Nesse caso, sua gentil autorização não nos
adianta para nada [...] Em nossa opinião, essas
fotografias não atrapalham em nada a venda
das de Bulloz”18.
Rodin não podia fazer mais nada. Prag­má­tica,
sua atitude era ditada, antes de tudo, por interes-
ses comerciais. Ele não queria impor sacrifícios ao
estabelecimento de Bulloz, que constituía uma
estrutura eficaz e indispensável para a divulgação
de sua obra, por causa das ambições de Haweis
e Coles. Irritado com as exigências dos fotógra-
fos, ele proibiu René Cheruy, seu secretário, de
continuar com o curso de inglês que Haweis lhe
dava em seu ateliê da rue Campagne-Première19.
Apesar dessas dificuldades, os dois fotógrafos
procu­raram diversificar suas atividades relaciona-
das ao escultor. O mais curioso desses projetos
foi a ilustração de uma coletânea de poemas
de Aleister Crowley, escritor, mago cosmopolita,
poeta nas horas vagas. Foi provavelmente no
ateliê do pintor Gerald Kelly, localizado à rue
140. Stephen Haweis Campagne-Première, que Haweis e Coles
e Henry Coles
L’Homme qui marche
conhe­ceram esse homem esquisito, que havia
[Homem andando] composto em um inglês pomposo textos sobre
1903-1904 | Tiragem a carvão as esculturas de Rodin; ilustrados com algumas
22,3 x 16,3 cm
Ph. 2490 | Musée Rodin | Paris tiragens, eles foram apresentados ao público

162
durante uma exposição poética e fotográfica, Sua casa estava uma bagunça, cheia de
que os dois artistas queriam perpetuar por operários, mas eles puseram tudo em ordem
meio de uma publicação. Infelizmente, o livro para nos oferecer um jantar delicioso. Haweis
não foi publicado com fotografias, mas com e Mina foram dos primeiros a se interessar
desenhos do escultor20. Teria sido interes­sante pela obra de Gertrude Stein. Haweis ficara fasci-
ver quais imagens acompanhariam aqueles nado por aquilo que havia lido no manuscrito
poemas esotéricos, traduzidos em parte por de The Making of americans, embora tenha
Marcel Schwob21, a pedido de Rodin, que lhe feito todo um discurso em defesa das vírgulas.
deu em troca dois desenhos. Gertrude Stein respondeu que as vírgulas eram
Essas divergências não influenciavam em inúteis, que o sentido deveria ser intrínseco
nada a apreciação de Rodin, que posou para ao texto e não depender de vírgulas [...].
os dois artistas com seus cães no jardim de No entanto, como ela gostava profundamente
Meudon e continuou a estimular seu trabalho de Haweis e como ele lhe havia presenteado
(il. 1). Com prazer, ele emprestava suas tiragens Emilia Cimino a Rodin [junho de 1903], arquivo do Musée Rodin.
1
com um belo quadro composto em um leque, 2
Contrato manuscrito entre Rodin e Bulloz, 5 de maio de 1903, arquivo do
para apreciadores, mas, preocupado em concedeu-lhe duas vírgulas. Cabe acrescentar, Musée Rodin.
3
Stephen H. Haweis (1878-1969); Henry Arthur V. Coles (nascido em 1875).
preservar a coleção, não hesitava em pedi-las no entanto, que, ao reler o manuscrito, 4
Gsell, Paul. Journal d’Alsace-Lorraine, 2 de abril de 1907.
de volta quando eles davam a intenção de ficar Gertrude excluiu as vírgulas. Já Mina Loy,
5
Mina Gertrude Lowy, dita Mina Loy (1882-1966), e Hugh Haweis casaram-se em 31
de dezembro de 1903, em Paris.
com elas, como mostra a carta por ele enviada que nutria o mesmo interesse pela obra da 6
Pératé, André. “Les Salons de 1907 – gravure et art décoratif”, in: Gazette
ao escultor sueco Carl Milles: “Quanto às escritora, era capaz de compreender tudo, des beaux-arts, 1907, t. II, p. 66.
7
Haweis Family Fonds, Columbia University, City of New York, RLIN ID: NYCR88-
fotografias, nada melhor para mim do que lhe mesmo sem as vírgulas. Ela sempre foi capaz A11.
8
“Both gentlemen are artists. Haweis being a follower of the school of Mucha and
dar todas, e o faria com muito gosto; mas, de compreender tudo”24. Eugène Carrière, and Coles a technician with a deep knowledge of scientific side
infelizmente, não tenho mais como substituir A relação entre os dois artistas se deterio- of photograph art” (Comtesse de Brémond, “The Rodin picture by S. Haweis and H.
Coles”, in: American register, 23 de abril de 1904).
as dos senhores Haweis e Coles, e agradeceria rava. Haweis deixou Mina Loy, deu uma volta ao 9
Henry Coles. Détresse de Bérnières-Henraux, 1908, Paris, Musée Rodin, Ph. 13154.
se pudesse mandá-las de volta, caso não haja Emilia Cimino a Rodin [outono de 1903], arquivo do Musée Rodin.
10
mundo, passando pela Ilhas Fiji, Taiti, Austrália e 11
Haweis a Rodin, 11 de julho de 1903, arquivo do Musée Rodin.
nenhum inconveniente”22. Estados Unidos, para depois se fixar em Mount 12
Haweis a Rodin, n.d., arquivo do Musée Rodin. Os dois fotógrafos escreveram na
montagem: Haweis et Coles Fec., como os gravadores.
Perdidas todas as esperanças de verem suas Joy, na Ilha da Dominica, por volta de 1929. 13
Nas notas dos catálogos dos Salons (Salon National des Beaux-Arts – Salon
fotografias comercializadas, os dois ingleses se Suas pinturas, ao mesmo tempo muito gráficas d’automne), Stephen Haweis se apre­sentou como aluno do pintor.
14
Stephen Haweis a Rodin (1903-1904), arquivo do Musée Rodin.
separaram no fim de 1904. e carregadas de cores, representando fundos 15
Stephen Haweis a Rodin, 1903, arquivo do Musée Rodin.
O percurso muito singular de Haweis Treu, Georg. “Chez Rodin”, in: L’Art et les artistes. Paris, outubro de 1904. Georg
16

marinhos, estão no extremo oposto das fotogra- Treu, diretor do Albertinum, de Dresde.
merece ser registrado, ainda que brevemente. fias em preto-e-branco que havia realizado com 17
Contrato manuscrito entre Rodin e Haweis e Coles, 16 de junho de 1904, arquivo do
Musée Rodin.
Ele abandonou a fotografia para se dedicar à Coles. Mina conseguiu o divórcio em 1916 e se 18
Henry Coles a Rodin, 30 de maio de 1904, arquivo do Musée Rodin.
pintura, enquanto sua mulher, Mina Loy, após consolou, entre outros, nos braços do boxeador
19
Anotação manuscrita de René Cheruy, n.d., arquivo do Musée Rodin.
20
Crowley, 1907.
o nascimento de seus dois filhos23, largou a e poeta Arthur Cravan, até que ele desapareceu 21
Marcel Schwob a Rodin, 11 de março de 1903, arquivo do Musée Rodin.
pintura para abraçar a poesia. O casal mudou Auguste Rodin a Carl Milles (1875-1955), 20 de dezembro de 1906, coleção Carl
22

sem deixar rastros, em 1917, quando devia Milles Museum, Estocolmo.


de Paris para Florença, onde frequentava o encontrá-la na Argentina. Os primeiros poemas
23
Oda Janet (1903-1904) e Joella Synara (nascida em 1907), que se casou com Julien
Levy em 1927. Mina Loy foi a representante em Paris da galeria nova-iorquina
pequeno mundo artístico anglo-saxão que de Mina Loy foram publicados na prestigiosa de Julien Levy (1930-1936), seguida de John Giles (1909-1923) e, mais tarde, de Jemima
gravitava em torno de Mabel Dodge, morador revista de Alfred Stieglitz, Camera Work25. Fabienne Cravan (nascida em 1919).
24
Luhan, Dodge, 1935, p. 337-343; Stein, 1980, p. 141.
da Villa Curonia. Em uma passagem pela Itália, Quanto a Coles, ele encarregou-se de 25
Loy, “Aphorism on futurism”, in: Camera Work, no 45, 1914, p. 13. Cf. também Loy,
Gertrude Stein conheceu o casal: “Haweis e acertar as últimas pendências com Rodin,
1982. Roger L. Conover publicou diversos trabalhos sobre Mina Loy e Arthur
Cravan e realizou várias pesquisas sobre Stephen Haweis. O encontro com ele, em
sua mulher, que mais tarde se tornaria Mina que foi o único a tirar proveito dessa associa- 1991, após intensa troca de cartas, constitui uma de minhas melhores recordações
como pesquisadora, tendo nossas buscas paralelas sobre o fotógrafo criado uma
Loy, também se encontravam em Florença. ção, perfeita no plano artístico. espécie de genealogia comum.

163
141. Stephen Haweis e Henry Coles
Portrait de Rodin coiffé
d’une toque 142. Stephen Haweis e Henry Coles
[Retrato de Le Penseur
Rodin com gorro] [O Pensador]
1903-1904 | Platinotipo 1903-1904 | Tiragem a carvão
22,2 x 15,5 cm 21 x 17 cm
Ph. 2056 | Musée Rodin | Paris Ph. 583 | Musée Rodin | Paris

164
144. Stephen Haweis e Henry Coles
La Mort du poète
[A Morte do poeta]
1903-1904 | Tiragem em
goma bicromatada
14,7 x 20 cm
Ph. 1298 | Musée Rodin | Paris

165
145. Stephen Haweis e Henry Coles
La Toilette de Vénus
[O Banho de Vênus] 146. Stephen Haweis e Henry Coles
1903-1904, Jardim da Villa La Toilette de Vénus sur un socle
des Brillants, Meudon [O Banho de Vênus sobre um pedestal]
Tiragem a carvão 1903-1904 | Tiragem a carvão
22,5 x 16,5 cm 22,5 x 16,5 cm
Ph. 1304 | Musée Rodin | Paris Ph. 1520 | Musée Rodin | Paris

166
147. Stephen Haweis e Henry Coles
Ariane
[Ariadne]
1903-1904, Jardim da Villa
des Brillants, Meudon
Tiragem a carvão
15 x 22,8 cm
Ph. 2926 | Musée Rodin | Paris

167
148. Stephen Haweis e Henry Coles 149. Stephen Haweis e Henry Coles
La Méditation La Méditation
[A Meditação] [A Meditação]
1903-1904, Jardim da Villa 1903-1904, Jardim da Villa
des Brillants, Meudon des Brillants, Meudon
Tiragem a carvão Tiragem em goma bicromatada
22,5 x 16,5 cm 22,5 x 16,5 cm
Ph. 1295 | Musée Rodin | Paris Ph. 961 | Musée Rodin | Paris

168
151. Stephen Haweis e Henry Coles
Ève
[Eva]
150. Stephen Haweis e Henry Coles 1903-1904, Jardim da Villa
La Méditation des Brillants, Meudon
[A Meditação] Tiragem a carvão
1903-1904 | Tiragem a carvão Imagem invertida
22,5 x 16,8 cm 22,9 x 17 cm
Ph. 962 | Musée Rodin | Paris Ph. 2695 | Musée Rodin | Paris

169
152. Stephen Haweis e Henry Coles
Buste de Victor Hugo
et deux Méditations
[Busto de Victor Hugo
com duas Meditações]
1903-1904, Pavillon de l’Alma, Meudon
Tiragem a carvão
22 x 16 cm
Ph. 965 | Musée Rodin | Paris

170
AUGUSTE RODIN
La Méditation sans bras
ou La Voix intérieure
[A Meditação sem braço
ou A Voz interior]
1896 | Bronze
146 x 75,5 x 55 cm
S. 792 | Musée Rodin | Paris

Inspirada em uma pequena Damnée


[Condenada] da Porte de l’enfer, essa
figura aparece no Monument à Victor
Hugo, de 1894. Para encaixá-la ali, Rodin
teve de extrair a face externa da perna
direita, o joelho esquerdo e os braços,
para depois também reduzir seu tamanho.
La Méditation tornou-se depois uma figura
autônoma, exposta isoladamente em 1897,
sem que Rodin jamais tenha alterado seu
contraposto, que ecoa características da
obra de Michelangelo. Concentrada na
escuta de si mesma, essa figura de essência
simbolista foi, no entanto, mal assimilada
pelo público, devido a sua aparência
de obra inacabada. Rodin deve ter se
ressentido disso, pois gostava particular-
mente dessa obra, como mostram suas
fotografias realizadas por Druet, Freuler
e Haweis e Coles.

171
154. Stephen Haweis e Henry Coles
L’Homme qui marche
[Homem andando]
153. Stephen Haweis e Henry Coles 1903-1904, Jardim da Villa
L’Homme qui marche des Brillants, Meudon
[Homem andando] Tiragem a carvão
1903-1904 | Tiragem a carvão Imagem invertida
23,5 x 17 cm 21,9 x 16,2 cm
Ph. 392 | Musée Rodin | Paris Ph. 4454 | Musée Rodin | Paris

172
155. Stephen Haweis e Henry Coles 156. Stephen Haweis e Henry Coles
Femme accroupie Femme accroupie
[Mulher agachada] [Mulher agachada]
1903-1904 | Tiragem a carvão 1903-1904 | Tiragem a carvão
22,1 x 17 cm 23 x 15,6 cm
Ph. 297 | Musée Rodin | Paris Ph. 2688 | Musée Rodin | Paris

173
157. Stephen Haweis e Henry Coles 158. Stephen Haweis e Henry Coles
Étude pour Pierre de Wissant Étude pour Pierre de Wissant
[Estudo para Pierre de Wissant] [Estudo para Pierre de Wissant]
1903-1904, Jardim da Villa 1903-1904, Jardim da Villa
des Brillants, Meudon des Brillants, Meudon
Tiragem a carvão Tiragem a carvão
22,8 x 16,5 cm 22,7 x 16,8 cm
Ph. 2770 | Musée Rodin | Paris Ph. 2778 | Musée Rodin | Paris

174
159. Stephen Haweis e Henry Coles
Étude pour Pierre de Wissant
[Estudo para Pierre de Wissant]
1903-1904, Jardim da Villa des Brillants, Meudon
Tiragem a carvão
24,5 x 16,4 cm
Ph. 1336 | Musée Rodin | Paris

175
160. Stephen Haweis e Henry Coles
Pierre de Wissant
1903-1904 | Tiragem
em goma bicromatada
21,5 x 17 cm
Ph. 960 | Musée Rodin | Paris

176
161. Stephen Haweis e Henry Coles
Pierre de Wissant
1903-1904 | Tiragem a carvão
22,6 x 16,9 cm
Ph. 2777 | Musée Rodin | Paris

177
Auguste Rodin
Pierre de Wissant,
nu monumental avec tête et bras
[Pierre de Wissant,
nu monumental com cabeça e braços]
1886 | Bronze
196 x 113 x 95 cm
S. 626 | Musée Rodin | Paris

Esse nu monumental é um estudo para o grupo


dos Bourgeois de Calais [Cidadãos de Calais],
obra comemorativa e de caráter histórico.
A cidade de Calais chamou Rodin, em 1885,
com a finalidade de fazer uma homenagem
ao heroísmo de seus cidadãos. Em 1347,
durante a Guerra dos 100 Anos, entre França
e Inglaterra, eles se tornaram ilustres ao aceita-
rem sacrificar a vida. Aqui, Rodin construiu o
notável Pierre de Wissant em atitude volunta-
riosa. Na versão definitiva, porém, trajando a
camisola dos condenados, ele exibe um rosto
que reflete grande sofrimento.

178
162. Stephen Haweis e Henry Coles
Tête de La Martyre 163. Stephen Haweis e Henry Coles
[Cabeça de A Mártir] Tetê de La Douleur sur une colonne
1903-1904 | Tiragem a carvão [Cabeça de A Dor sobre uma coluna]
Imagem invertida 1903-1904 | Tiragem a carvão
22,2 x 16,7 cm 22,5 x 16,7 cm
Ph. 2696 | Musée Rodin | Paris Ph. 1290 | Musée Rodin | Paris

179
164. Stephen Haweis e Henry Coles
Le Désespoir, Portrait de Rodin
par Gaillepand dans un médaillon
[O Desespero, Retrato de Rodin
por Gaillepand em um medalhão]
1903-1904 | Tiragem a carvão
22,1 x 16,4 cm
Ph. 1638 | Musée Rodin | Paris

180
Auguste Rodin
Iris messagère des Dieux
[Íris, mensageira dos deuses]
c. 1891 (?) | Bronze
48 x 23 x 39 cm
S. 970 | Musée Rodin | Paris

Dotada de uma força plástica


impressionante, essa figura voadora
ressalta o trabalho de Rodin com o
movimento, particularmente o das
dançarinas. Originalmente, Íris, mensageira
dos deuses na mitologia grega, era provida
de asas, e Rodin a integrou ao segundo
Monumento a Victor Hugo, de 1897.

O artista não hesitou em desmembrar


a obra, tirando-lhe a cabeça e um dos
braços. O corpo foi reduzido, assim, ao
essencial de sua feminilidade: os seios
e o sexo amplamente aberto. Por isso,
não escapa ao espectador a referência
ao célebre quadro de Courbet L’Origine
du monde [A Origem do mundo].

181
Após a realização da Exposição Universal
Em busca da cor
Jean Limet

Hélène Pinet
de 18781, vários materiais do Pavilhão da
Alimentação foram reaproveitados para
construir alojamentos-ateliês para os artistas,
em um terreno vazio do boulevard Arago.
Totalmente isolado, com exceção da cadeia de il. 1
Autoportrait de Jean Limet
La Santé, construída alguns anos antes, o local [Autorretrato de Jean Limet]
era “um verdadeiro claustro de alegria”2. Foi em c. 1900 | Aristótipo
Ph. 15593 | Musée Rodin | Paris
um de seus 29 ateliês que o pintor paisagista
Jean Limet se instalou, em janeiro de 18813.
Tinha como vizinhos o desenhista Grasset, pouco combativa de seu filho: “Faltei com o
o escultor Soudbinine e vários outros, mas foi senhor ontem, quando fui visitar Jean, a quem
com os ceramistas Jeanneney e, sobretudo, encontrei abatido e nada feliz! Gostaríamos,
Jean Carriès, cujo ateliê ficava colado ao seu, eu e Louis, de tirá-lo de lá. Mas será possível?
que ele estabeleceu uma sólida amizade. Não é ficando em seu buraco, sem ver ninguém,
Sem conseguir impor-se como pintor que ele se tornará conhecido e conseguirá
e precisando atender às necessidades de sua produzir com êxito – uma pena, pois acho que
família – a mulher e os dois filhos, Pierre e Jean ele tinha talento para dar certo, mas precisaria
–, Limet se tornou patinador de bronze4. Talvez de um pouco de fé e da solidez que constituem
tenha sido encorajado a seguir nessa direção por a energia que o senhor possui”8.
Carriès, que ficara conhecido nos anos 1880 Limet e Rodin tinham tantos conhecidos
pelos complexos experimentos realizados com em comum que é difícil saber quem apresentou
pátina e que nutria verdadeira paixão por tudo um ao outro: Jeanneney, que transpôs para a
que se referisse a questões de superfície. A cerâmica várias obras do escultor, no fim dos
descoberta da cerâmica japonesa, na Exposição anos 1890? Soudbinine? Carriès, que também
Universal de 1878, fizera Carriès passar da trabalhou para Rodin? Ou, mais provavelmente,
escultura para a argila esmaltada. Foi Limet que o o crítico de arte Arsène Alexandre, amigo de
levou para conhecer os ateliês de ceramistas e as todos eles?9 Se o primeiro testemunho de seu
ricas terras do Nivernais, propícias a essa técnica6. encontro remonta ao começo do século 20,
O artista decidiu, então, estabelecer-se naquela é verossímil supor que já se conheciam antes.
região. Para facilitar sua instalação, Limet colo- Os votos que o patinador dirigiu ao escultor e
cou à disposição os utensílios que podiam lhe ser a sua companheira, Rose, em janeiro de 1900,
úteis na usina metalúrgica que seu pai, Pierre em que evocou a divergência que opôs Rodin,
Hippolyte, dirigia em Cosne-sur-Loire7. Os dois se a vida inteira, ao Institut de France, provam que
tornaram muito próximos, a ponto de o próprio eles haviam estabelecido relações bem antes de
pai de Limet se queixar a Carriès da natureza trabalharem juntos de forma regular10.
177. Jean Limet
Le Penseur
[O Pensador]
1904 | Tiragem em
goma bicromatada
38,2 x 27,5 cm
Ph. 5159 | Musée Rodin | Paris

183
Personalidade cativante, discreto e muito
competente, o patinador de bronze logo
conquistou a confiança do artista (il. 1). Entre os
dois não havia necessidade de grandes discursos.
Poucas palavras bastavam para que se enten­
dessem, como demonstra a correspondência
guardada nos arquivos de Rodin. Encontrava-se
ali, também, a relação dos bronzes que passaram
pelas mãos do patinador, e seu tamanho basta
para demonstrar a importância de seu papel
junto ao escultor.
A pátina é essencial para o aspecto final do
bronze: muito escura, faz desaparecer o mode-
lado da escultura; uniforme demais, aplaca seu
relevo. Tratava-se de uma escolha delicada, e il. 2 Jean Limet il. 3 Jean Limet
Rodin foi sempre muito atento a essa última Saint Jean-Baptiste dans l’atelier Esculturas no ateliê de Rodin
de Limet boulevard Arago em Meudon, antes de partirem
transformação sofrida pela escultura11. Em [São João Batista no ateliê para uma exposição
1911, aos 71 anos de idade, ele ainda rogava: de Limet, boulevard Arago] em Praga, em 1902
c. 1904 | Aristótipo Aristótipo
“Coloque, eu lhe peço, um pouco de variação
Ph. 1268 | Musée Rodin | Paris Ph. 1795 | Musée Rodin | Paris
na pátina”12. Preocupado em satisfazê-lo, Limet
respondeu: “Em uma das últimas cartas, eu lhe
perguntava qual pátina utilizar para o busto na mesma época, recordou: “Antes de mais invenções em nome de sua fábrica19, Limet
de Geffroy e se ele faria parte de sua exposição nada, ele limpava o bronze com White Spirit, era uma personagem de curiosidade aguçada.
de bustos, para evitar, tanto quanto possível, para tirar a gordura. Depois, pincelava-o com Suas várias pesquisas referentes às cores não
usar a mesma pátina em todos eles. O senhor uma solução de ácido de cobre e o bronze se limitavam à superfície da escultura. Elas
recebeu minha carta?”13. Os retornos eram adquiria um tom esverdeado. Em seguida, com encontravam eco em todas as atividades: na
diretos: “A pátina vermelha da mão em bronze a ajuda de um maçarico, ele esquentava, para pintura e, sobretudo, na gravura e na fotogra-
está admirável... As pátinas verdes não estão fixar esse tom esverdeado. Na sequência, Limet fia. Por ocasião de suas prolongadas passagens
bonitas”14. Frequentemente, Limet encontrava dava à escultura um matiz lilás-escuro e aquecia pela Baía de Somme, em Cayeux-sur-Mer, Limet
dificuldade para obter o efeito desejado: novamente o bronze”17. fotografava cenas da vida cotidiana, da beira
“Mandarei levar para o senhor, à rue de Varenne, Em que pesassem todos os esforços de do mar e das ruas do vilarejo.
a cabeça dos Bourgeois de Calais [Os Cidadãos Limet, é difícil identificar, ao primeiro olhar, Na primavera de 1900, depois de se atritar
de Calais]. Não pude fazê-la preta, ficava sempre as pátinas que ele produziu. Somente quatro com Eugène Druet por questões de direitos,
com aspecto de um negro, seja porque o preto bronzes – L’Homme qui marche [O Homem Rodin apelou emergencialmente a Limet para
não é muito variado, seja porque o metal não se andando], Le Penseur [O Pensador], L’Âge fotografar as obras que deveriam constar no
presta a essa cor. Enviarei verde e dourado, se não d’airain [A Idade do bronze] e um Étude pour catálogo de uma exposição cuja abertura estava
lhe convier”15. Às vezes, cansado de esperar La France [Estudo para A França] –, realizados prevista para dali a poucas semanas20. Foi,
orientações precisas, ele se adiantava: “Le Torse por Kate Simpson, esposa de um abastado provavelmente, Arsène Alexandre, inspirador
de femme [O Torso de mulher], estou a concluí-lo colecionador norte-americano, apresentam, da publicação, que, conhecendo os múltiplos
como o do Estado, ou seja, em verde, se for para sob uma superfície escura, um fundo muito talentos de Limet, propôs essa solução impro­
fazer de outro modo peço que me avise”16. particular, verde e até mesmo, em alguns visada. Ele instalou então sua máquina no ateliê
Jacques Nicoladze, um auxiliar de origem pontos, turquesa18. da Villa des Brillants, em Meudon, onde Rodin
caucasiana que trabalhava no ateliê de Rodin À semelhança do pai, que registrou várias vivia com sua companheira, Rose Beuret,

184
movimento, “trata-se daquele que gera os
resultados mais artísticos. A bela matéria
pastosa e a massa saborosa da impressão
transmitem à imagem um charme todo particu-
lar. É o que mais margem propor­ciona a uma
intervenção pessoal e a alterações significativas
da imagem”23. Diz-se, então, que o fotógrafo
depura a imagem e sacrifica tudo aquilo que é
inútil. Ao realismo pictórico sucedeu-se a visão
impressionista. O trabalho realizado por Limet
sobre a imagem, assim como o de Steichen e
de Haweis e Coles, ilustra as novas teorias
avançadas da escola “intervencionista”, que
dominou todas as correntes do movimento
il. 4 il. 5 pictorialista24. A escultura de Rodin tornou-se,
Cartaz da exposição Teste de cor de Jean Limet para ele, assim como para Steichen e Haweis
de Rodin em Estrasburgo, em 1907 no verso de uma fatura do
Arquivos do Musée Rodin | Paris Bon Marché, 1903
e Coles, um objeto de interpretação.
Arquivos do Musée Rodin | Paris Em 1903, ele escreveu a Rodin, que parecia
ver com apreço o lado experimental de suas
imagens: “Deixei para o senhor, com o zelador,
provas de fotos de uma execução terrível, mas
desde 1893. O recinto, iluminado por uma com os pictorialistas, com quem se encontrava o senhor havia dito que queria ver todas elas e
ampla vidraça que dava para o jardim, no ateliê da rue de l’Université, ele se lançou espero mostrar-lhe outras que o deixarão muito
era ideal para fotografar os 28 gessos. nas pesquisas técnicas e estéticas que agitavam satisfeito...”25. Em outra ocasião, ele informou:
Satisfeito com o resultado, Rodin percebeu o meio da fotografia naquele início do século “Aproveitei para fazer outras provas do Penseur.
de imediato a vantagem que teria em manter 20. Talvez tenha trocado algumas palavras Mando-lhe as medianas e as ruins. Queira rasgar
junto a si um patinador dublê de fotógrafo. com Steichen, que frequentava Rodin a partir essas últimas”26. Rodin guardou todas elas. Para
De acordo com as necessidades do momento, de 1901, ou, mais provavelmente, com Haweis ele, não existiam tentativas fracassadas, tudo
ele contratava a colaboração de Limet para e Coles, quando eles eram presença assídua ao era interessante – o bom e o “menos bom”.
fotografar suas esculturas antes de partirem lado do escultor, entre 1903 e 1904. A partir O escultor se sentia atraído pelos efeitos de
para alguma exposição no exterior21 ou quando desse momento, Limet passou a executar mais matizes dessas fotografias, que encontravam
se encontravam em seu ateliê do boulevard do que simples reproduções impressas em eco nas superfícies irregulares das cerâmicas
Arago (il. 2 e 3). Quando o escultor pediu, em pequenos formatos sobre papel preparado com modeladas à mão de Carriès e de Jeanneney.
1909: “Queria fotografar o Monument de cloreto de prata e gelatina. As tiragens de 30 x A arte de utilizar o acidental, que os ceramistas
Chavannes [Monumento de Chavannes]. Esteja 40 cm em goma bicromatada, que ele apresen- haviam colocado em seu mais alto nível, aquela
amanhã em Meudon. Precisamos de provas para tou a Rodin, têm uma natureza totalmente forma tão singular de explorar o imprevisto,
o comitê e os jornais”22, imagina-se que tinha o diversa. A utilização desse recurso, resgatado da qual ele sempre soube tirar proveito, Limet
costume de solicitar seus serviços em casos de pelo movimento pictorialista, permitiu-lhe descobriu toda essa riqueza nas tiragens
urgência ou quando não considerava necessá- esbater os contornos, fazer desaparecer um fotográficas que fazia. Rodin mandou seu
rio dirigir-se a Bulloz, seu fotógrafo oficial. detalhe ou faces inteiras da imagem, realçar ou, secretário, René Cheruy, responder: “Sua carta
Limet não limitou sua atividade fotográfica ao contrário, atenuar certas luzes (obras 166 e chegou, assim como as fotografias. O senhor
às meras reproduções, úteis para Rodin. 168). “Entre os processos conhecidos”, escreveu Rodin me pede para lhe dizer que as variações
Certamente, a partir do contato que mantinha René Le Bègue, membro importante do sobre o Penseur são muito bonitas”27. Evidência

185
de sua apreciação, o escultor expôs e publicou
algumas de suas tiragens em goma bicromatada
(obra 177) – por exemplo, em 1907, em uma
exposição em Estrasburgo. Inicialmente,
o cartaz devia trazer uma fotografia de Bulloz,
mas Rodin, repensando sua escolha, acabou
impondo uma das imagens do Penseur feitas
por Limet (il. 4), de que tanto havia gostado28.
Limet, como o conjunto dos fotógrafos
pictorialistas, fundou sua arte sobre uma
estética monocromática, mas, ao contrário
de Steichen ou de Haweis e Coles, que se expri-
miam em tons de cinza, marrom e verde-
escuro, esforçou-se para variar as cores das
tiragens, para valorizá-las utilizando papéis
coloridos em suas montagens, não hesitando
em fazer combinações com as quais estamos
pouco acostumados (il. 5). Um extraordinário
il. 6 Jean Limet
álbum de 76 fotografias, guardado pela L’Âge d’airain
Fondation Nationale des Arts Graphiques [A Idade do bronze]
et Plastiques [Fundação Nacional das Artes Páginas de um álbum de 76 foto-
grafias representando esculturas
Gráficas e Plásticas] e recentemente desco- de Rodin (p. 20, 21, 22, 23)
berto por seu diretor, Gérard Allaux, tornou Coleção Fondation Nationale des
Arts Graphiques et Plastiques | Paris
possível reconstituir a forma como ele proce-
dia29. O álbum foi apresentado como uma
sucessão de ensaios de tiragens em papel de
prata, como se o fotógrafo tivesse desejado
reunir, nas 19 pranchas, uma amostra de todo Alguns, como o acetato de chumbo para o De seu lado, Steichen, igualmente muito
o seu conhe­cimento técnico (il. 6). vermelho e o marrom ou o cloreto de sódio interessado em obter imagens em cores, seguiu
Intrigada com esse material – único, ao que para o verde-claro e o azul-esverdeado, são outra via. Ele estava em Paris, por ocasião da
sabemos –, Giulia Cuccinella, restauradora de comuns às duas técnicas. apresentação das chapas autocromo pelos
fotografias, quis ir além. Em sua pesquisa, ela Será que Limet almejava chegar a tons irmãos Lumière, em 1904, e desempenhou um
tomou como ponto de partida as notas de idênticos nos bronzes e nas fotografias? papel central na divulgação e na utilização desse
despesas que Limet enviava a Rodin, mais Será que as fotografias, uma vez banhadas, lhe processo – que só foi comercializado a partir de
precisamente aquelas que traziam o cabeçalho permitiam sentir antecipadamente como ficaria 1907 –, no interior do movimento pictorialista,
da sociedade Poulenc30. Essa empresa, estabele- a cor da pátina? Ou ele simplesmente achava graças à iniciação de seus amigos: Stieglitz,
cida então no boulevard Saint-Germain, não melhor usar um mesmo produto em atividades Eugène, Coburn, De Meyer e Kühn.
distante da faculdade de medicina, abastecia diferentes? São perguntas ainda difíceis de Guardadas todas as proporções, parece-
com materiais de qualidade cientistas, artistas responder. É interessante registrar que, na nos mais correto traçar um paralelo entre as
e fotógrafos31. O estudo das listas de produtos mesma época, o escultor italiano Menardo múltiplas pesquisas de Limet e a busca obsessiva
mencionados nas faturas da casa Poulenc tornou Rosso – que antes ganhava a vida como patina- de Carriès, que falava em 330 ensaios de cores33
possível detectar uma correspondência entre dor de bronze – fazia, por sua vez, experimen- para sua Porte monumentale [Porta monu­
os compostos utilizados para as pátinas e aqueles tações de cores para suas fotografias mental], nos quais utilizou 120 espécies de
usados nos banhos em laboratório fotográfico. utilizando diversos pigmentos32. terra diferentes34.

186
1
Em 1970, quando uma associação de artistas lutou contra o projeto imobiliário que
previa a demolição dos ateliês, o pintor Henri Cadiou deu ao lugar o nome de
Cidade Florida. O Estado readquiriu o local em 1983.
2
Alexandre, 1895, p. 119.
3
Limet, ateliê número 16; Soudbinine, número 15; Carriès, número 17. Cf. cópia de
uma relação manuscrita dos ateliês com o nome de cada um de seus ocupantes
em ordem cronológica, produzida por Pierrette Limet (1919-2003), filha de
Jean Elie Limet e de Marie Pradie (1887-1938), arquivo do Musée Rodin.
4
Jean François Germain Limet (1855-1941) casou-se com Marie Raveau
(1864-1923) em 21 de junho de 1898. Eles tiveram dois filhos: Jean Elie Limet
(1887-1965) e Pierre Limet (1895-1915).
5
Papet, 2004, p. 73.
6
Alexandre, 1895, p. 123-124.
7
Pierre Hyppolite Limet (1817-1896) teve dois filhos: Louis (nascido em 1853) e
Jean (1855-1941).
8
P.H. Limet a Carriès, arquivos departamentais de La Nièvre, fundo Carriès,
correspondência Limet, 73J4.
9
Arsène Alexandre escreveu, em 1895, a primeira biografia de Carriès.
10
“Meu caro mestre e amigo [...] Esperemos que neste ano o senhor tenha um pouco
menos de preocupações do que no fim do século passado [...] no aguardo da
Epidemia benfazeja que deve acabar com o Institut de France e que acredito que
não chegaremos a ver” (Limet a Rodin, janeiro de 1900, arquivo do Musée Rodin).
11
Bartlett, 27 de abril de 1889.
12
Rodin a Limet, 19 de junho de 1911, arquivo do Musée Rodin.
13
Limet a Rodin, 2 de outubro de 1905, arquivo do Musée Rodin.
14
Rodin a Limet, agosto de 1911, arquivo do Musée Rodin.
15
Limet a Rodin, 18 de janeiro de 1910, arquivo do Musée Rodin.
16
Limet a Rodin, 11 de março de 1912, arquivo do Musée Rodin.
17
Jacques Nicoladze, anotação manuscrita, arquivo do Musée Rodin.
18
Em 1942, a senhora Simpson doou seus bronzes à National Gallery de Washington, cf.
Le Normand-Romain, 2007, p. 31.
19
Para a lapidação de metais e a fabricação de limas. Bouthier, 2007, p. 17-26.
20
Cf. catálogo da exposição Rodin, 1900. Quand Rodin exposait, 1988,
p. 157-207; Rodin en 1900, 2001.
21
Especialmente os gessos que foram enviados a Praga, em 1902.
22
Rodin a Limet, [1903], arquivo do Musée Rodin, inv. L. 1575. Em 22 de junho de
1909, o senhor Agache, tesoureiro do Comitê do Monumento a Puvis de Chavannes,
pediu a Rodin uma fotografia do monumento.
23
René Le Bègue, “Sur la vérité en photographie”, in: Photo-revue, 6 de março de
1904; cf. Poivert, 1992, p. 15.
24
Morand, catálogo da exposição Le Salon de la photographie, les écoles
pictorialistes en Europe et aux États-Unis vers 1900, 1993, p. 29-34.
25
Limet a Rodin, 24 de fevereiro de 1903, arquivo do Musée Rodin.
26
Limet a Rodin, [1906], arquivo do Musée Rodin.
27
René Cheruy a Limet, 29 de março de 1904, arquivo do Musée Rodin, L. 1587.
28
Exposition d’art français contemporain, de 2 de março a 7 de abril de 1907,
organizada pela Société des Amis des Arts de Estrasburgo, então cidade alemã.
29
Descoberto por ocasião de um inventário, esse álbum foi, provavelmente, legado ao
Estado com sua propriedade de Nogent-sur-Marne, por Madeleine Smith-Champion
e sua irmã, Jeanne Smith, em 1945. A primeira praticava pintura e foi aluna de
Jean-Jacques Henner; a segunda era fotógrafa.
30
Cucinella Briant, 2003.
31
Poulenc havia aberto uma seção especializada para os fotógrafos e publicou, ele
próprio, um livro sobre a importância de utilizar somente produtos químicos
puros; cf. Poulenc, Camille. Les Produits chimiques purs. Paris, Charles Mendel,
1908. 165. Jean Limet
32
Bacci, 2004, p. 59-61. Cariatide à la pierre
33
Carriès a Aline Ménard-Dorian, 2 de fevereiro de 1889, carta citada por Arsène [Cariátide em pedra]
Alexandre; Alexandre, 1895, p. 151. c. 1904 | Tiragem em goma
34
A. Hurtault, um dos operários de Carriès, cf. Amélie Simier, “Peut-on bicromatada
reconstituer La Porte monumentale de Carriès?”, in: La Revue des musées de 29,5 x 23,3 cm
France, abril de 2007, número 2, p. 55-63. Ph. 301 | Musée Rodin | Paris

187
Auguste Rodin
Eustache de Saint Pierre,
réduction
[Eustache de Saint Pierre,
tamanho reduzido]
1902-1903 | Bronze
47 x 25 x 15 cm
S. 420 | Musée Rodin | Paris

188
167. Jean Limet
166. Jean Limet Saint Jean-Baptiste prêchant
Saint Jean-Baptiste prêchant [São João Batista pregando]
[São João Batista pregando] c. 1904, Ateliê de Limet
c. 1904 | Tiragem em goma bicromatada Tiragem em goma bicromatada
30,3 x 23,5 cm 30,7 x 24 cm
Ph. 1584 | Musée Rodin | Paris Ph. 5640 | Musée Rodin | Paris

189
168. Jean Limet
Monument des Bourgeois de Calais
[Monumento dos Cidadãos de Calais]
c. 1904 | Tiragem em goma bicromatada
28,5 x 39,1 cm
Ph. 7006 | Musée Rodin | Paris

169. Jean Limet


Monument des Bourgeois de Calais
[Monumento dos Cidadãos de Calais]
c. 1904 | Tiragem em goma bicromatada
38,3 x 28,3 cm
Ph. 2765 | Musée Rodin | Paris

190
170. Jean Limet
Monument des Bourgeois de Calais
[Monumento dos Cidadãos de Calais]
c. 1904 | Tiragem em goma bicromatada
37,5 x 26 cm
Ph. 984 | Musée Rodin | Paris

191
171. Jean Limet
L’Âge d’airain
[A Idade do bronze]
c. 1904 | Tiragem em goma bicromatada
29,5 x 23 cm
Ph. 2781 | Musée Rodin | Paris

192
172. Jean Limet
L’Âge d’airain
[A Idade do bronze]
c. 1904 | Tiragem em goma bicromatada
29,2 x 22,8 cm
Ph. 2782 | Musée Rodin | Paris

193
173. Jean Limet 174. Jean Limet
Ombre Ombre
[Sombra] [Sombra]
c. 1904 | Tiragem c. 1904 | Tiragem em
em goma bicromatada goma bicromatada
36,7 x 26,1 cm 38 x 23,2 cm
Ph. 5079 | Musée Rodin | Paris Ph. 5082 | Musée Rodin | Paris

194
175. Jean Limet
Grande ombre
[Grande sombra]
c. 1904 | Tiragem em
goma bicromatada
39 x 25,6 cm
Ph. 1585 | Musée Rodin | Paris

195
Tudo teve início com uma fotografia, em
Edward Steichen e Rodin
“Suas fotografias farão o mundo entender meu Balzac”

Hélène Pinet
1898. Foi nas páginas do jornal de Milwaukee
– responsável, junto à imprensa europeia, por
repercutir a polêmica criada entre Rodin e
a Société des Gens de Lettres – que Edward
Steichen, um simples assistente de litógrafo,
descobriu o objeto de todo aquele escân- il. 1 Edward Steichen
Cartão de visitas endereçado a Rodin
dalo1. A fotografia do Balzac causou-lhe um Tinta sobre papel
choque; parecia-lhe a obra mais extraordiná- D. 7608 | Musée Rodin | Paris
ria que já vira: “Não era apenas a estátua de
um homem, mas a verdadeira encarnação viram surgir o primeiro movimento estético
de uma homenagem ao gênio. Dir-se-ia uma na história da fotografia – o pictorialismo, que,
montanha adquirindo vida. Ela despertou em com sua forma de explorar diversas técnicas
mim a vontade de ir a Paris, onde artistas da para retrabalhar a imagem no momento da
estatura de Rodin viviam e trabalhavam”2, revelação, impôs a fotografia como uma arte
ele escreveu mais tarde. em todas as suas dimensões. Várias associa-
O encontro foi decisivo; a partir dele, ções se formaram: Linked Ring, na Inglaterra;
Steichen percorreu a passos largos o caminho Die Photographische Rundschau, na Ale­ma­
que o levou do anonimato à celebridade. Em nha; Photo-Club de Paris, na França; e
1908, a ele Rodin se dirigiu quando, depois Photo-Secession, nos Estados Unidos.
de seis anos de silêncio, decidiu realizar uma Se eram mobilizadas por um mesmo obje-
grande campanha fotográfica em torno do tivo, também se dividiam com base em duas
Balzac. O resultado superou, e muito, um concepções. Para alguns, a arte da fotografia
mero trabalho sob encomenda. Rodin consi­ residia na própria especificidade do suporte;
derava o Balzac o coroamento de toda a sua para outros, ao contrário, na exploração plás­
vida, o centro de sua estética3. Com sua tica da imagem. Fotógrafos passaram a se
excepcional interpretação da obra, Steichen organizar em toda parte, como já haviam feito,
atingiu o ápice da fotografia pictorialista antes deles, os pintores e os escultores; e,
e ligou definitivamente os três nomes. em 1898, o primeiro Salão de arte fotográfica
Voltemos a 1898, em Milwaukee. O jo­vem, da Filadélfia acolheu os pictorialistas norte-
depois de quatro anos de aprendizado, acabava americanos mais avançados. Fotografias de
de ingressar na vida profissional. Paralelamente Alfred Stieglitz apareceram lado a lado com
a seu trabalho como litógrafo, ele pintava, as de Clarence H. White, Gertrude Käsebier,
fotografava e devorava tudo que dizia respeito Fred Holland Day. Tratava-se de 259 imagens.
à arte na biblioteca municipal4. Apaixonou-se, Steichen, que trabalhava como amador em
particularmente, pelas revistas de fotografia, um laboratório instalado na empresa da famí-
em que encontrava um eco das próprias inquie- lia, viu nessa mostra uma possibilidade de
tações artísticas. Com efeito, os anos de 1890 apresentar seus experimentos. As tiragens
que ele exibiu no ano seguinte foram selecio- as técnicas. “Tenho na cabeça algo que ainda O crítico de arte alemão Otto Grautoff foi o
nadas pelo júri, juntamente com as de artistas preciso formular, com sua ajuda: algumas primeiro a captar, de imediato, o que, naque-
já anteriormente confirmados. reflexões sobre o pintor e o fotógrafo”, escre- las fotografias, agradava a Rodin: “Seu olho
Reconfortado com esse sucesso e levado, veu a Stieglitz6. A partir de 1901, Steichen é sensível ao mesmo encanto que sensibilizava
desde a descoberta do Balzac, pelo desejo de apresentou regularmente seus quadros no seu amigo Eugène Carrière, por cuja arte ele
cruzar o Atlântico, ele abandonou uma situa- Salon de la Société Nationale des Beaux-Arts tem a máxima veneração. Seu jovem amigo,
ção que se tornara financeiramente confortável [Salão da Associação Nacional de Belas-Artes], o pintor e fotógrafo amador E. Steichen,
para realizar seu sonho. Uma breve passagem depois também no Salon d’Automne [Salão entendeu isso muito bem”11 (il. 1).
por Nova York antes de embarcar permitiu-lhe do Outono], bem como suas fotografias no
encontrar Alfred Stieglitz, líder do movimento Salão de Chicago, na Royal Photographic Paris–Nova York–Paris
pictorialista, e mostrar-lhe suas fotografias Society de Londres e na galeria 291 de Nova
e pinturas. Esse, seduzido pelo entusiasmo York; chegou até mesmo a expor fotografias Em 1902, Steichen voltou a Nova York,
e pelo trabalho do jovem, como todos que o e pinturas simultaneamente7. Privilegiando onde abriu um estúdio de retratos que lhe
conheciam, encorajou-o vivamente. Tal apoio uma ou outra conforme os interesses do garantiu a sobrevivência. Ali, encontrou tempo
não era fortuito: Stieglitz, com seu tempera- momento, essa dupla atividade foi mantida também para ajudar Stieglitz na galeria 291,
mento militante, não deixava de considerar até o começo dos anos 1920. onde tinha a intenção de acolher todas as
que o pictorialismo precisava angariar o aval Foi nesse período que Steichen realizou
formas de arte, não apenas a fotografia. Em
de artistas capazes de se expressar naquela a série de retratos que o tornou famoso.
1906, ele retornou à França, dessa vez com
dupla linguagem – a fotografia e a pintura. Até o momento, ele vivia com suas modestas
a esposa e uma filha12. “Estou cada vez mais
economias e a ideia de fotografar algumas
ligado a Paris. Aqui há mais recursos, apesar
“Pintar ou fotografar, eis a questão”5 celebridades no dia em que o dinheiro lhe
de seus habitantes, do que em qualquer outra
faltasse. Retomou, então, uma receita que
parte.”13 A partir de então, e até 1914, Steichen
O primeiro passeio de Steichen por Paris já havia sido provada antes. Fora com esse
viveu com um pé em cada continente. Ia todos
foi para ver a exposição de Rodin na place mesmo espírito que Rodin fizera os bustos
os anos a Nova York para vender, expor e
de l’Alma, onde descobriu aquilo que o de Victor Hugo e Rochefort. Em 1903,
organizar manifestações na galeria 291, onde
atraíra até ali como um ímã: o Balzac em o fotógrafo inglês Stephen Haweis escreveu
queria apresentar os desenhos de Rodin, por
gesso, que acolhia os visitantes no meio ao escultor: “Considerando o prazer e a noto-
quem sua admiração não diminuíra em nada:
da alameda central do pavilhão. O escultor riedade que encontramos com a execução de
estava presente, em um canto da sala, mas seus trabalhos”8, o que expressava clara- “Garanto-lhe que ele consegue exprimir suas
ele não se atreveu a abordá-lo. O jovem mente o lado calculista que também existia ideias em palavras tão bem quanto por meio
impaciente também sabia aguardar o no desejo de trabalhar junto a um homem da argila”14, afirmou a Stieglitz. A esposa de
momento apropriado. célebre. Steichen, a crer pelo escrito de 1901, um colecionador norte-americano, Kate
Uma vez instalado no número 83 do tinha consciência, desde o início da carreira, Simpson, cujo busto Rodin realizou em 1902,
boulevard du Montparnasse, ele levou adiante de sua qualidade artística: “Sei perfeitamente confirmou essa ligação com o escultor: “Ele
uma carreira de pintor e de fotógrafo, simboli- que o que essas pessoas fotografadas querem tem pelo senhor (como muitas outras pessoas)
zada pelo Autoportrait avec brosse et palette é me explorar. Acontece o tempo todo”9. uma verdadeira idolatria”15. Os dois artistas se
[Autorretrato com pincel e palheta] (obra 183), Naquele ano, ele conheceu Rodin por inter- encontravam regularmente e, quando nasceu
que se tratava de uma citação fotográfica, médio do pintor norueguês Fritz Thaulow, a segunda filha de Steichen, Kate Rodina, Rodin
não só admitida como proposital, do Homem que gostara de sua pintura10. O escultor, por se tornou naturalmente o padrinho e Kate
de luvas, de Ticiano. Os dois meios são formas sua vez, sentiu-se atraído pelo talento e pela Simpson, a madrinha16.
complementares de expressão, e ele chegou vitalidade do jovem norte-americano e acei- No outono de 1908, Steichen recebeu um
a pintar e a fotografar um mesmo objeto. tou acolhê-lo durante quase um ano em seu bilhete do escultor, ou de seu secretário, avi-
Adquiriu, assim, uma posição única, que lhe ateliê, onde o fotógrafo realizou vários retra- sando que o Balzac havia sido colocado do lado
possibilitou analisar as relações entre ambas tos (obras 201 e 203). de fora e que ele, portanto, podia fotografá-lo.

197
Balzac maquete em gesso do monumento ao museu,
concedeu uma longa entrevista ao Le Matin,
Como já vimos, Rodin, que desde o come- em que defendeu mais uma vez seu trabalho19.
ço dos anos de 1880 costumava mandar foto- Como em todos os anos, ele participou
grafar suas obras em andamento ou já do Salon de la Société Nationale des Beaux-
concluídas, não fez do Balzac uma exceção. Arts. Os três gessos ali expostos – Orphée
A fotografia começava por enriquecer a [Orfeu], Triton et Néreide [Tristão e Nereida]
documentação que ele reunia sobre o escritor: e La Muse Whistler [A Musa Whistler] –
as reproduções de retratos pintados ou grava- receberam críticas violentas na imprensa.
dos eram feitas por profissionais mantidos Steichen, visivelmente cheio de admiração,
anônimos. Com as tiragens de Freuler, tinha- contou a Stieglitz: “Rodin tem no Salon
se a sensação de penetrar de súbito no ateliê alguns gessos grandes que são chocantes!
e poder caminhar em torno do robe de cham- Verdadeiros Rodin, e a imprensa reagiu tão
bre de Balzac coberto de gesso (obra 49). Já violentamente quanto dez anos atrás”20.
com Druet, as fotografias realizadas no depó- É provável que essa agitação tenha levado
sito de mármores e no Salon [Salão] de 1898 Camille Lefèvre a propor ao escultor que
exprimiam toda a energia do homem de letras apresentasse no Salon, em 1909, não apenas il. 2 J.-E. Bulloz
(obra 104). A partir dessa data, porém, parecia o Monument à Balzac [Monumento a Balzac], Balzac à Meudon
[Balzac em Meudon]
que Balzac deixava de ser uma prioridade, para mas todas as etapas de sua realização21, pro- 1908 | Tiragem a carvão
o desespero de jornalistas e historiadores que posta à qual não foi dada continuidade. Ph. 1507 | Musée Rodin | Paris
desejavam ilustrar seus textos. Bulloz, que Não se deve subestimar outro motivo:
substituiu Druet a partir de 1903, por exemplo, durante anos, os jornais, as revistas e até
editou em 1904 um portfólio de provas tiradas mesmo os livros estiveram condenados a obra de arte escandalosa constituiu uma
a carvão inalterável intitulado L’Œuvre de publicar sempre as mesmas fotografias, já que espécie de desafio que cada um deles encarou
Rodin en 100 photographies [A Obra de Rodin Rodin não renovava a iconografia referente a sua maneira.
em 100 fotografias], em que o monumento ao Balzac. Os autores franceses e estrangeiros À luz de diferentes testemunhos, tudo
era representado apenas por uma Tête de – Riciotto Canudo, Rainer Maria Rilke, Vittorio indica que o Balzac em gesso não ficava
Balzac [Cabeça de Balzac]. Pica, Paul Clemens, Otto Grautoff, para men- permanentemente do lado de fora, e que,
cionar apenas alguns –, que, desde o fim dos quando isso ocorria, tratava-se de um acon­
Por que uma campanha anos de 1890, publicaram um grande número tecimento: “Em um dia de verão claro e
fotográfica em 1908? de artigos ou de livros, todos bastante ilustra- agradável, eu subia a encosta de Meudon
dos, sobre o escultor, estavam todos em busca e me vi, de repente, em meio a uma agitação
Em 1908, a lembrança do caso parecia ter de imagens diferentes22. Chegaram até mesmo generalizada. Rodin estava tirando a impo-
“apenas amortecido”17 na cabeça de Rodin. a se queixar de não encontrarem fotografias nente estátua de Balzac do ateliê de Meudon
O que ocorreu então, que o levou a deflagrar, inéditas e, sobretudo, reproduções do monu- para que ela fosse fotografada por seu amigo,
após dez anos de uma relação constante, mento em seu conjunto23. o pintor Edward Steichen. Depois de colocada
porém distante com sua obra, uma grande na beirada da colina, pareceu-me que a
campanha fotográfica do monumento? Bulloz – Limet – Steichen estátua fazia um conjunto com o chão ao
A inauguração do Musée Balzac, em 16 redor. Ela permaneceu ali, envolvida por
de maio de 190818, deu início a uma série de Por essas diversas razões, Rodin convidou aquela atmosfera agradável, inundada de luz,
eventos que certamente contribuiu para essa alternadamente três fotógrafos: um artista já como o monumento encarnado do gênio
retomada de interesse. Na ocasião, vários reconhecido, Steichen; um profissional de poderoso e produtivo”24.
artigos foram publicados, tanto sobre o escri- reprodução de obras de arte, Bulloz; e um Não era a primeira vez que Rodin pedia
tor quanto sobre a representação que dele amador, o patinador de bronze Limet. Aplicar a fotógrafos seus que trabalhassem do lado
fizera o escultor. Rodin, que doou uma todo o seu savoir-faire no embate com uma de fora. Jacques-Ernest Bulloz reproduzira

198
resultados são bons”27. Em outra ocasião, chega- com a estranheza de sua obra”31 à noite,
ram a sugerir, com seu francês mal arti­culado, perguntou-lhe se não seria possível retratá-la
que, já que os resultados são melhores no à luz noturna. O fotógrafo sabia de experiên-
pôr-do-sol, preferimos trabalhar nessa hora”28. cias feitas nesse sentido, mas admitia nunca
Quanto à forma de atuar de Jean Limet, ter tido oportunidade de realizá-las. A ideia
não encontramos nenhum sinal na correspon- o seduziu, ainda mais por combinar com suas
dência com Rodin nem em registros de pesquisas pictóricas. Os nomes de seus qua-
arquivo. O patinador de bronze, que trabalhou dros expressam, a rigor, uma verdadeira
para o mestre a partir de 1900, produziu uma obsessão: Autumn night [Noite de outono],
série de tiragens em tonalidades quentes de Night clouds [Nuvens noturnas], The Moon’s
marrom sobre papel granulado, semelhantes tinge [A Tonalidade da lua], Yellow moon
às que já havia feito no caso dos Bourgeois [Lua amarela] etc. Em 1901, ele já havia
de Calais [Os Cidadãos de Calais] (il. 3). escrito: “Que hora maravilhosa é o crepúsculo,
quando as coisas desaparecem e parecem
“Do pôr-do-sol à aurora” misturar-se umas com as outras”32. A crítica,
aliás, estabelece aproximações entre sua
il. 3 Jean Limet
Balzac à Meudon Steichen contou várias vezes, com algu- produção fotográfica e as pinturas, obser-
[Balzac em Meudon] mas variações, este episódio decisivo para sua vando que o tema da luz noturna se ajusta
1908 | Tiragem em goma bicromatada
Ph. 982 | Musée Rodin | Paris
carreira: desde que se estabeleceu na França, perfeitamente às duas técnicas.
em 1906, como já se disse acertadamente, No dia marcado, Rose, companheira do
ele se tornou os olhos e os ouvidos de escultor, preparou-lhe uma deliciosa refeição
Le Baiser [O Beijo] em frente ao ateliê do Stieglitz na Europa. Os dois escreviam um e insistiu para que Rodin abrisse uma garrafa
depósito de mármores e Haweis e Coles para o outro regularmente, e as cartas que de champanhe. É de se imaginar os dois
haviam realizado uma série magnífica de Steichen redigiu, muitas vezes no calor dos homens, Steichen com 29 anos de idade,
La Méditation [A Meditação] na alameda de contecimentos, são ricas em informações Rodin com 68, ambos igualmente excitados,
castanheiras que levava à Villa des Brillants25. sobre suas atividades, seus encontros e proje- aguardando a escuridão chegar e a lua subir
Bulloz, certamente depois de Steichen, tos. Pouco tempo depois de ter trabalhado ao céu. O fotógrafo executou uma verdadeira
realizou uma série de tomadas em torno em Meudon, ele escreveu, como sempre, dança em torno da escultura para encontrar
do Balzac e as revelou em diversas cores, cheio de entusiasmo: “Fotografei e pintei o ângulo correto, com o escultor seguindo-o
entre elas o verde, que já utilizara para outras o Balzac de Rodin, que ele colocou a céu a cada passo33. Preocupado com os tempos
obras de Rodin, mas que, no caso do Balzac, aberto, e fiz tudo isso sob a luz do luar – muito longos de exposição previstos pelo
evocou de imediato o trabalho do fotógrafo passando duas noites inteiras, do pôr-do-sol fotógrafo – entre meia e duas horas –, Rodin,
norte-americano (il. 2). A menção encontrada à aurora; foi fabuloso. Trata-se de uma enco- cansado, acabou se retirando para dormir.
em uma agenda de Rodin, na data de 24 menda feita por ele”29. Essa foi a única vez Steichen ficou sozinho, face a face com a
de outubro de 1908, registra-o claramente: em que ele mencionou as duas noites e o escultura. A realização de tomadas à noite
“Bulloz foto. Enviar prova Balzac à luz do luar fato de ter realizado também pinturas. requer certo conhecimento técnico, e é difícil
para Lawton em Passy”26. É difícil, observando Complementando a carta de estilo telegrá- imaginar que ele tenha se lançado nessa
apenas as imagens, saber se o fotógrafo da fico com outros dois textos escritos bem mais aventura com sua máquina 6 x 8 sem ter feito
rue Bonaparte trabalhou à noite ou ao fim tarde – a autobiografia e três páginas sobre o alguns ensaios antes. A menção às duas noites
do dia, como Haweis e Coles já haviam Balzac, que, ao que parece, ele ditou a Grace de trabalho teria, então, uma explicação:
experimentado. Esses dois artistas, também Mayer30 –, pudemos obter de modo bastante a primeira serviria para medir os tempos de
pertencentes ao universo do pictorialismo, preciso todo o desenrolar das operações. exposição necessários e a segunda, para fazer
disseram a Rodin: “Para nós, é quase inútil Em um primeiro momento, ele fotografou o as fotografias; mais tarde, somente essa última
ir de manhã ou à tarde; só à noite é que os Balzac de dia. Mas Rodin, que ficava “surpreso foi considerada digna de menção.

199
Ele trabalhou a noite toda, deslocando negativos foram revelados, Steichen lhe enviou fotografias farão o mundo compreender meu
sua máquina conforme a trajetória empreen- um telegrama lacônico para tranquilizá-lo: Balzac”41. Bela homenagem do escultor ao
dida pela lua. Por fim, à chegada dos primeiros “Tudo certo”37. As tiragens se mostraram mais fotógrafo. Steichen escreveu a Stieglitz: “Nunca
lampejos do amanhecer, a estátua se recor- difíceis de ser obtidas, e quase duas semanas vi um homem, a não ser você, tão impressio-
tava “como uma silhueta diante da lua se fizeram necessárias para encontrar o pig- nado com alguma coisa quanto ele estava com
decliante”34. Foi a última tomada, e, curiosa- mento apropriado. Steichen era conhecido as tiragens do Balzac”42.
mente, a mais longa. por utilizar, às vezes, duas técnicas diferentes Alguns dias depois, a título de agradeci-
Como um cientista que registra a inter­va­los em uma mesma tiragem: platina e goma mento, Rodin lhe enviou um belo L’Homme
fixos as reações ocorridas ao longo de uma bicromatada, por exemplo, como parece ser qui marche [O Homem caminhando] em
experiência, Steichen anotou os momentos o caso das provas que deu ao escultor38. bronze, que se tornou, para o jovem norte-
das tomadas: elas se sucederam de hora em Quando ele escreveu, alguns anos mais tarde, americano, o símbolo de um homem indo
hora, das 23 às 4 horas. A proeza era tanta que “queria introduzir a luz noturna nessas sempre em frente43.
que ele incorporou essa precisão aos títulos tiragens”39, afirmou implicitamente que tal Stieglitz, tão entusiasmado quanto Rodin,
dados às três tiragens, mais comumente efeito não podia ser obtido simplesmente a decidiu publicar essas fotografias na prestigiosa
reproduzidas: The Open sky, 11 p.m. [Céu partir da tomada e que teve de explorar todas revista Camera Work (página 200), cuja capa
aberto, 23h] (obra 178), Towards the light, as possibilidades abertas pelos processos de fora criada por Steichen, e expô-las nas Little
Midnight [Na direção da luz, Meia-noite] (obra revelação. Foi somente dessa forma que Galleries da Photo-Secession, na primavera de
179) e The Silhouette, 4 a.m. [A Silhueta, 4h] conseguiu produzir a sensação de fotografias 1909. Rodin também pediu outras tiragens para
(obra 180). Na relação que enviou a Stieglitz, tiradas à luz do luar. Traços de pincel seco uma exposição, tratando-se, provavelmente, da
a fim de evitar confusões, Steichen indicou a são visíveis, particularmente, na prova intitu- mostra organizada na galeria Devambez, onde
posição da escultura (“Profile”, “De frente”) lada The Silhouette, 4 a.m., talvez para apresentou duas esculturas, 140 desenhos
e o horário da tomada, acrescentando, às acentuar o aspecto fantasmagórico da escul- e quatro fotografias grandes do Balzac44.
vezes, um pequeno croqui na margem35 (il. 4). tura, descrito por Judith Cladel: “Nas noites Steichen teve de realizar dois jogos de amplia-
Apesar disso tudo, não é fácil determinar a de luar, surgindo, branco e como que fosfo- ções. As manipulações exigidas para isso eram
hora das demais tiragens. Ainda de acordo rescente, do lago escuro que se espalha pelo sensíveis às variações climáticas: “Tentarei fazer
com essa relação, a tomada da 1 hora traz o chão, ele erguia na zona de claridade sua as tiragens dos Balzac para o senhor na semana
Balzac em frente às árvores, a das 2 horas foi máscara de pássaro noturno, como um ser que vem, mas o tempo está horrível e ainda
realizada com a ajuda de um flash e, na das vindo de um mundo oculto para o qual não tive oportunidade para isso”, escreveu ele
3 horas, Balzac aparece de frente. depois retornaria. Parecia ser o duplo astral, a Stieglitz para justificar seu atraso45.
tornado perceptível aos olhos profanos do É preciso registrar que as fotografias eram
“É o Cristo caminhando no deserto” imortal escritor. Transmitia à alma aqueles de formatos diferentes e com técnicas dife-
calafrios provocados pelo espectro do pai de rentes, conforme seu uso: se fossem vendidas
Depois dessa noite em claro, Steichen Hamlet quando surge sobre o penhasco ou dadas, se o destinatário fosse um amigo
dormiu até as 11 horas em um pavilhão colado de Elseneur”40. Não conseguimos deixar de ou um simples conhecido, se elas fossem
ao ateliê, onde lhe haviam preparado uma considerar que a primeira biógrafa de Rodin para exposição ou não.
cama. Ao acordar, deparou-se com mil francos tenha redigido essas linhas olhando as foto- Em 1911, três fotografias foram publica-
deixados por Rodin, que já havia saído, junto grafias de Steichen, e não a escultura em das no número 34 da Camera Work,
ao guardanapo do café da manhã, como si, de tanto que traduzem a atmosfera que acompanhadas de um artigo de Charles H.
pagamento por sua encomenda, antes mesmo emana dessas imagens. Caffin46. Rodin se entusiasmou tanto que
de ver os resultados. À época, Steichen vendia Rodin, de sua parte, não conseguiu conter mandou seu secretário, o helenista Mario
suas fotografias por 100 dólares e Rodin, um a emoção ao finalmente descobrir a série, Meunier, pedir 30 exemplares47. Apenas um
busto em bronze por 2.500 francos36. exposta a seus pés: “É o Cristo caminhando no deles ainda pode ser visto nas coleções do
Rodin esperava muito desse trabalho deserto”, disse ele em um primeiro momento, museu. O restante foi distribuído, apesar de,
e certamente se mostrava ansioso para ver para depois acrescentar, após um longo silên- segundo Judith Cladel, ele “mostrá-las aos
as imagens o quanto antes, pois, assim que os cio, envolvendo Steichen pelos ombros: “Suas amigos com uma alegria de avarento”48.

200
“Um curioso Balzac”

Não nos resta, infelizmente, nenhum qua-


dro pintado naquelas famosas noites em
Meudon. Apenas uma tela de 1905, intitulada
Shrouded figure in moonlight [Figura envolvida
na luz do luar], nos dá uma ideia49. É preciso
admitir que o sucesso de Steichen como pintor,
entre 1900 e 1910, foi modesto. Se esses –
ou esse – quadros não tivessem sido mencio­
nados por alguns críticos, poderíamos quase
duvidar de sua existência. Felizmente, em 1911,
Apollinaire fez o relato de uma exposição
“muito agradável de visitar, organizada por um
grupo de artistas norte-americanos” na galeria
Devambez, e observou que “o senhor Edward
Steichen pinta quadros simbólicos em que
vemos o Balzac de Rodin aureolado pela luz
do luar”50. Henri Franz também não se esten-
deu muito: “O senhor Edward Steichen, que
tem algumas flores que se destacam por uma
grande pureza de tom, expõe um curioso
Balzac, de Rodin, à luz do luar”51. Nada além il. 4 Edward Steichen il. 5 Lotte Jacobi
disso foi encontrado a respeito deles. Cartão enviado a Rodin Edward Steichen diante do Balzac de Rodin, no
do transatlântico Adriatic pátio do Museum of Modern Art de Nova York
Em 1920, quando retornou a Voulangis, c. 1907 c. 1960 | Prova em gelatina e prata
onde costumava passar os dias de tempo bom Arquivos do Musée Rodin | Paris Ph. 13156 | Musée Rodin | Paris
com a família desde 1908, Steichen encontrou
suas placas de vidro destruídas pela umidade.
Uma página, então, foi virada. Seu trabalho
como fotógrafo das Forças Armadas52 durante
a Primeira Guerra Mundial modificou sua visão
de mundo, fazendo-o optar definitivamente
pela fotografia – em um gesto simbólico, ele
queimou todos os seus quadros. Trata-se de de Nova York. Em 1955, ele realizou uma
uma fotografia que não terá mais nada em pequena reportagem fotográfica por oca-
comum com o pictorialismo53. sião da instalação do Balzac nos jardins
daquele museu. Se essas imagens possuem
“Volta a Rodin – Steichen retoma o encanto da instantaneidade – é sempre
uma velha missão”54 divertido assistir à instalação de uma escul-
tura –, não deixam de nos decepcionar,
Esse é o título de uma matéria da revista de tão desprovidas de alma que parecem
Life, publicada em 1955. Após anos de ser. Quando Lotte Jacobi captou com sua
sucesso como fotógrafo de moda, Steichen câmera o “Rodin da fotografia”, ao pé do
foi nomeado, em 1947, diretor das coleções Balzac, pareceu flagrar um “face-a-face”
fotográficas do Museum of Modern Art entre dois desconhecidos 55 (il. 5).

201
Notas 22 Grautoff a Rodin (8 de agosto de 1907, arquivo do Musée Rodin): “Já comprei 39 “I wanted the prints to look like moonlight” (Steichen, cf. nota 36).
Título. Steichen, 1963, n.p., cap. 4. 90 fotografias do senhor Druet e conversei com o senhor Steichen, que acaba de 40 Cladel, 1936, p. 222.
1 O fotógrafo escreveu seu nome como Eduard e, a partir de 1914, como Edward, partir. Em duas semanas, ele estará de volta e então iremos ver juntos, pois eu 41 “It is the Christ in the wilderness” “Your photographs will enable the world to
quando prestou o serviço militar e se naturalizou. gostaria que o senhor Steichen fizesse mais 20 ou 30 imagens”. Outro exemplo: understand my Balzac” (Steichen, cf. nota 36).
2 “It was not just a statue of a man; it was the very embodiment of a tribute Paul Clemens havia dedicado dois números da revista Die Kunst für Alle a Rodin 42 “I never saw a man excepting yourself so hit by a thing as he was by the Balzac
to genius. It looked like a mountain come to life. It stirred up my interest em 1905 e pretendia publicar um terceiro em 1908, acompanhado de um texto proofs” (Steichen a Stieglitz, novembro de 1908; Yale, Beinecke Library, ASA, box
in going to Paris, where artists of Rodin’s stature lived and worked” de Rilke, a quem o escultor prometera 30 fotografias inéditas; Rodin a Rainer 46, fold. 1094).
(Steichen, 1963, n.p., cap. 2). Maria Rilke, 19 de setembro de 1908 (arquivo do Musée Rodin, L. 427). 43 “Rodin gave me a beautiful cast the first impression of his ‘l’homme qui marche’
3 Entrevista com Rodin, Le Matin, 13 de julho de 1908 (cf. Cladel, 1936, p. 223). 23 Gazette de Voss, Berlim, 8 de julho de 1908: “Anexa a esse primeiro tomo da about 3 feet high. It’s a wonder – and he said that was to be a symbol for me
4 Bowditch, 1994, p. 188-195. Comédie humaine [A Comédia humana] está uma fotografia do monumento de and to keep on marching” (Steichen a Stieglitz, 1908; Yale, Beinecke Library,
5 “To paint or to photograph that is the question” (Hartmann, Sadakichi. “A monolo- Rodin que os escritores franceses, como comitentes decepcionados, repudiaram. ASA, box 46, fold. 1094). Em 1963, Steichen emprestou sua escultura para uma
gue”, in: Camera Work, número 6, abril de 1904). Infelizmente, vê-se aqui apenas sua parte superior, que não permite compreender exposição organizada no Museum of Modern Art de Nova York. Atualmente parte
6 “I think I have something in mind that I might put in words if you would care for it a grandiosa concepção relacionada ao conjunto”. da coleção Myron Weiner, ela está destinada ao acervo do Museum of Modern
some thoughts on the Painter and the photographer” (Eduard Steichen a Alfred 24 Otto Grautoff, “La Sculpture em plein air”, Worwärts, Berlim, 11 de agosto de Art de Nova York.
Stieglitz, 19 de outubro de 1900; Yale, Beinecke Library, ASA, box 46, fold. 1901). 1909; recorte de imprensa traduzido por um secretário de Rodin, arquivo do 44 Exposição de 1o a 16 de outubro de 1909, galeria Devambez, Paris.
7 Exposição na Galeria Montross de Nova York, janeiro-abril de 1910, de que Musée Rodin. 45 “I’ll try and get Balzacs off to you next week but the weather is hell and not
Steichen participa com 30 quadros e 30 fotografias. 25 Stephen Haweis e Henry Coles trabalharam para Rodin em 1903-1904. having good luck” (Steichen a Stieglitz, fevereiro de 1909; Yale, Beinecke Library,
8 Haweis a Rodin, 9 de janeiro de 1904, arquivo do Musée Rodin. 26 Agenda de Rodin, entre 11 de junho de 1908 e 1o de julho de 1909, arquivo do ASA, box 46, fold. 1095). A série dos Balzac foi exposta na galeria 291 de Nova
9 “I know perfectly well that all they want is to use me these photographic people. I Musée Rodin. Frederick Lawton foi secretário e tradutor de Rodin em 1905 e York, entre 21 de abril e 7 de maio de 1909. Em Paris, Steichen exibiu uma
am use to it” (Steichen a Stieglitz, 1901; Yale, Beinecke Library, ASA, box 46, fold. escreveu um livro sobre o escultor (cf. Lawton, 1906). tiragem no Photo-Club, no Cercle Volney, em maio de 1909.
1091). Ele fez o retrato de Maurice Maeterlinck, Franz von Lenbach, John Pierpont 27 Haweis a Rodin, 1903, arquivo do Musée Rodin. 46 Caffin, Charles H., 1909, p. 484-486.
Morgan (1837-1913) e George F. Watts. 28 Ibid. 47 Mario Meunier a Stieglitz, julho de 1911; Yale, Beinecke Library, ASA,
10 Steichen a Stieglitz, 1901; Yale, Beinecke Library, ASA, box 46, fold. 1091. 29 “Been photographing & painting Rodins ‘Balzac’ he moved it out in the open box 46, fold. 89.
11 Grautoff, Otto. “Auguste Rodin”, in: Monatshefte. Berlim, novembro de 1911. air and I have been doing it by moonlight – spent two whole nights from sunset 48 Cladel, 1936, p. 222. Por exemplo: “As reproduções na Camera Work estão mara-
12 Steichen se casou com Clara Smith em outubro de 1903, e em 1o de julho de to sunrise – it was great. It is a commission from himself” (Steichen a Stieglitz, vilhosas” (Marshall a Rodin, 22 de março de 1915, arquivo do Musée Rodin).
1904 nasceu sua filha Mary. setembro-outubro de 1908; Yale, Beinecke Library, ASA, box 45, fold. 1094). 49 Agradeço aqui, in memoriam, a Paolo Constantini, falecido em 1997, que me
13 “I’m getting more and more fond and appreciative of Paris. It certainely has more 30 Grace Meyer (1901-1996) tornou-se assistente pessoal de Edward Steichen assinalou a existência desse quadro por ocasião de suas pesquisas sobre
resources in spite of its natives that we can find any where else” (Steichen a em 1959, quando ele era o diretor de fotografia no MoMA, em Nova York. Ela o o ocultismo; cf. Okkultismus und Avantgarde, Frankfurt, Tertium, 1995.
Stieglitz, 3 de janeiro de 1908; Yale, Beinecke Library, ASA, box 46, fold. 1094). sucedeu em 1962, tornando-se mais tarde, em 1968, responsável pelos arquivos 50 Apollinaire, 1981, p. 191. O fotógrafo havia pintado também vários quadros
no jardim de Meudon e no ateliê de Rodin.
14 “I tell you he has got his ideas down to words as well as in Clay” (Steichen a Steichen.
51 Henri Frantz, Excelsior, 19 de fevereiro de 1911.
Stieglitz, 3 de janeiro de 1908; Yale, Beinecke Library, ASA, box 46, fold. 1094). 31 Cladel, 1936, p. 222.
52 Steichen compareceu ao funeral de Rodin em uniforme militar e como
15 Kate Simpson a Rodin, 2 de fevereiro de 1910, arquivo do Musée Rodin. Steichen 32 “What a beautiful hour of the day is that of twilight when things disappear
representante oficial.
havia vendido dois quadros para os Simpson em 1903 (cf. Niven, 1997, p. 170). and seem to melt into each other” (Steichen. “The American School”, in: The
53 “Photography was to be my medium” (Steichen, 1963, n.p., cap. 5).
16 Kate Rodina Steichen a Grace Mayer, 29 de abril de 1971; Nova York, Photogram. Londres, janeiro de 1901, número 85, p. 22-24).
54 “Return to a Rodin – Steichen takes up an old assignement”, Nova York,
The Museum of Modern Art, ESA, Box Steichen. 33 “I danced all around the figure to find the best spot” (Yale, Beinecke Library, ASA,
Life, 9 de maio de 1955.
17 Cladel, 1936, p. 222. box 46, fold. 1095). Depois de ter encontrado Steichen pela primeira vez, Rodin
55 Homer, William I. “Eduard Steichen: the painter as photographer, the
18 A abertura se tornou possível graças a Louis Baudier de Royaumont, que criou, comentou com Fritz Thaulow: “O entusiasmo não morreu”. E Steichen escreveu
photographer as painter, 1897-1910”, in: The American art journal,
em 1909, a Société des Amis de Balzac [Sociedade dos Amigos de Balzac], com o a Stieglitz em 1910: “I saw Rodin on his 70Th birthday he was wildly enthusiastic
2 de novembro de 1974.
objetivo de arrecadar os fundos necessários para a manutenção e, eventualmente, of over something he learned the day before!” (ibid.).
a aquisição da casa de Passy. A inauguração oficial aconteceu em 16 de julho 34 “The statue was silhouetted against the setting moon and with the longer
de 1910. exposure came the first hint of dawn” (Steichen, texto ditado a Grace Mayer;
19 Le Matin, 13 de julho de 1908 (cf. Cladel, Judith, 1936, p. 223). Nova York, Museu de Arte Moderna, ESA, box Steichen).
20 “Rodin has some corking big plaster at the Salon! – real Rodins and the press 35 Steichen a Stieglitz, março de 1909; Yale, Beinecke Library, ASA, box 46, fold.
has gone up in the air again just as it did 10 years ago” (Steichen a Stieglitz, 1095.
maio de 1908; Yale, Beinecke Library, ASA, box 46, fold. 1094). 36 “The biggest prices I have received has been one hundred dollars” (Steichen
21 Camille Lefèvre acabava de ser nomeada membro da comissão de seleção da a Stieglitz, 1901-1902; Yale, Beinecke Library, ASA, box 46, fold. 1091).
seção de escultura do Salon de 1909, juntamente com Bourdelle, Despiau, Halou 37 Steichen, 1963, n.p., cap. 4.
e Gaston Schnegg, enquanto Rodin ocupava a presidência (cf. Lefèvre a Rodin, 17 38 No verso das tiragens dadas a Rodin, ele indicou não os horários das tomadas,
de agosto de 1908, arquivo do Musée Rodin). mas a coloração que buscava: “grey blue”.

202
Auguste Rodin
Balzac, avant-dernière
étude pour le monument
[Balzac, penúltimo estudo
para o monumento]
Bronze
110,5 x 49,5 x 43,5 cm
S. 1072 | Musée Rodin | Paris

Encomendado pela Société des Gens de Lettres em


1891, esse monumento público mobilizou todas as
energias de Rodin ao longo de vários anos. Como
dar corpo à genialidade do autor da Comédie
humaine [A Comédia humana]? Essa foi a questão
com a qual se defrontou o escultor. Deixando de
lado a ideia de simplesmente fazer um retrato
de imediato reconhecível de Balzac, ele optou
por expressar a energia criadora do escritor. Para
isso, construiu-o com uma cabeça proeminente e
coberto com um robe de chambre, sua vestimenta
de trabalho.

Obra fundamental em sua carreira, Rodin a via


como “o próprio pivô de minha estética”. A versão
definitiva do Balzac, porém, não agradou àqueles
que haviam encomendado a obra, e a crítica
voltou-se em peso contra a escultura, qualificada
então de “feto colossal”.

203
178. Edward Steichen
The Open Sky, 11 p.m.
[Céu aberto, 23h]
1908 | Tiragem a carvão
No verso, a lápis grafite: grey blue
25,2 x 22 cm
Ph. 235 | Musée Rodin | Paris

204
Curiosamente, 1909 reaparece em vários momentos, Em uma carta de 5 de julho de 1909, Baud, que aca-
179. Edward Steichen como se Steichen tivesse feito novas tomadas ou bava de ser dispensado por Rodin, escreveu: “Deixei
Towards the light – Midnight novos quadros naquele ano. Em um texto datilogra- sobre a mesa as cartas ao senhor Steichen (Balzac);
[Na direção da luz – Meia-noite]
fado conservado nos arquivos Steichen do Museum ”trata-se, eviden­­temente, da carta anteriormente
1908 | Tiragem a carvão e platinotipo
of Modern Art de Nova York, a data 1909 foi riscada mencionada. Observa-se, além disso, em uma agenda
No verso, a lápis grafite: grey blue
19,3 x 21,2 cm
e substituída por 1908 por Grace Mayer. de Rodin, em 18 de agosto de 1909, a menção a
Ph. 226 | Musée Rodin | Paris O secretário de Rodin, Maurice Baud, escreveu a uma correspondência do escultor a Steichen, “para
Steichen em 1909: “O senhor A. Rodin envia-lhe os lhe pedir que faça fotografias do Balzac...”; e, em
Não há nenhuma dúvida de que as fotografias cumprimentos e pede que lhe diga que, se o senhor 20 de setembro, a menção: “Pneumático para lhe
foram realizadas em 1908. Em sua autobiografia quiser fotografar o Balzac, ele está no momento do dizer que Rodin voltou e com bom tempo se ele qui-
(cf. Steichen, 1963, cap. IV), Steichen falou em outono lado de fora, no gramado, a sua disposição” ser fazer alguma coisa” (Correspondance de Rodin,
de 1908; as fotografias são assinadas e datadas (Maurice Baud a Steichen, 4 de julho de 1909, 1987, t. III, p. 80-81). H.P.
com 1908 e foram expostas na primavera de 1909. rascunho de carta, arquivo do Musée Rodin L. 435).

205
180. Edward Steichen
The Silhouette, 4 a.m
[A Silhueta, 4h] 181. Edward Steichen
1908 | Tiragem a carvão e platinotipo Midnight
No verso, em lápis de grafite: [Meia-noite]
green blue 1908 | Tiragem a carvão
16,8 x 22 cm 26 x 21,5 cm
Ph. 224 | Musée Rodin | Paris Ph. 227 | Musée Rodin | Paris

206
182. Edward Steichen
The Open Sky, 11 p.m.
[Céu aberto, 23h]
1908, Jardim de Meudon
Goma sobre platinotipo (?)
49 x 36 cm
Ph. 233 | Musée Rodin | Paris

207
Camera Work no 34-35
1911
Arquivos do Musée Rodin | Paris

Em 1903, foi criada a revista Camera Work, iniciativa de Alfred


Stieglitz, com o objetivo de difundir o movimento pictorialista
183. Edward Steichen
Autoportrait avec brosse et palette
nos Estados Unidos, bem como a atividade de sua galeria,
[Autorretrato com pincel e palheta] chamada The Little Galleries of the Photo-Secession, depois
1902 (negativo de 1901) | Tiragem em goma bicromatada 291. O cuidado com as provas, reproduzidas, em sua maior
20,5 x 16 cm parte, em heliogravura, e a diagramação de ótima qualidade
Ph. 220 | Musée Rodin | Paris garantiram o sucesso da revista durante 13 anos. Já o papel
de Edward Steichen como inspirador e criador é menos conhe-
Steichen oscilou durante muito tempo entre a cido pelo público. Ele criou a capa da publicação, simples e
pintura e a fotografia. Em janeiro de 1901, ele es- elegante, e abriu suas páginas a artistas como Rodin, Matisse
creveu a Stieglitz: “I am doing more painting than e Picasso. Rodin, em especial, gostou muito das edições da
photography” (YCAL, Mss 85, Box 46, fold 1091). revista em que suas obras estavam reproduzidas; em 1911,
Somente após a Segunda Guerra Mundial foi que por exemplo, solicitou, por intermédio de seu secretário, Mario
ele deixou de vez a pintura. H.P. Meunier, 30 exemplares do número 34-35. C.L.

208
184. Edward Steichen 185. Edward Steichen
The Pool-evening Le Parthénon, Athènes
[O Lago ao anoitecer] [O Partenon, Atenas]
1899 | Platinotipo 1921 | Gelatina e prata com viragem
20 x 15,5 cm Doação de Léonce Bénédicte (?)
Ph. 218 | Musée Rodin | Paris 60 x 48 cm
Ph. 234 | Musée Rodin | Paris
“Caro mestre, permita-me oferecer-lhe algu-
mas de minhas imagens fotográficas, entre as
quais aquelas que o senhor honrou com sua
atenção outra noite, quando tive a glória de
ser apresentado ao senhor pelo casal Thau-
low. Fiquei muito sensibilizado com
o estímulo que me transmitiu e o valorizo
tanto mais por vir do senhor, pois professo
há muito tempo a mais alta admiração pelo
senhor, o maior mestre de nosso tempo.
Seria indiscrição de minha parte pedir-lhe
o favor de permitir-me fazer alguns retratos
fotográficos do senhor em seu ateliê? Seria
uma honra, que me deixaria muito feliz”
(Steichen a Rodin, 1901, arquivo do Musée
Rodin). H.P.

209
Auguste Rodin
Cybèle, petit modèle
[Cybèle, pequeno modelo]
antes de 1895 | Bronze
51 x 30 x 24 cm
S. 481 | Musée Rodin | Paris

210
186. Edward Steichen
L’Éveil
[O Despertar]
1901 | Platinotipo
25 x 20 cm
Ph. 684 | Musée Rodin | Paris

211
188. Edward Steichen
187. Edward Steichen Le Penseur
Le Penseur [O Pensador]
[O Pensador] 1901 | Goma sobre platinotipo
1901 | Goma sobre platinotipo A lápis grafite no segundo suporte:
A lápis grafite no segundo suporte: Rodin sculpt./STEICHEN/MDCCCCI
Rodin/STEICHEN/MDCCCCI Intervenção com guache
18,5 x 9,5 cm 18,8 x 15 cm
Ph. 228 | Musée Rodin | Paris Ph. 229 | Musée Rodin | Paris

212
190. Edward Steichen
Buste de Clémenceau
[Busto de Clémenceau]
Platinotipo com camada de goma
31,3 x 24,2 cm
Ph. 1039 | Musée Rodin | Paris

189. Edward Steichen


Buste d’Edward H.
Harriman devant un miroir
ou une fenêtre
[Busto de Edward H. Harriman
à frente de um espelho
ou uma janela]
Tiragem a carvão
23,8 x 17,5 cm
Ph. 432 | Musée Rodin | Paris

192. Edward Steichen


191. Edward Steichen Masque de Rose Beuret
Buste de Thomas Ryan [Máscara de Rose Beuret]
[Busto de Thomas Ryan] Goma sobre platinotipo
Platinotipo Marcas de pincel
24,9 x 20,1 cm 21 x 14 cm
Ph. 681 | Musée Rodin | Paris Ph. 679 | Musée Rodin | Paris

213
193. Edward Steichen
Pierre de Wissant
Goma sobre platinotipo
Assinado a lápis grafite: S.
20,5 x 13,2 cm
Ph. 425 | Musée Rodin | Paris

214
194. Edward Steichen
Masque d’Hanako 195. Edward Steichen
[Máscara de Hanako] Masque d’Hanako
Platinotipo [Máscara de Hanako]
Ateliê do depósito de mármores Platinotipo
31,3 x 24,2 cm 24 x 20 cm
Ph. 1022 | Musée Rodin | Paris Ph. 673 | Musée Rodin | Paris

215
196. Edward Steichen rápida, com foco relativamente longo. Se tivesse
Rodin – Le Penseur uma grande-angular, certamente conseguiria fazer
[Rodin – O Pensador] o conjunto numa única tomada. Não conhecia
1902 | Tiragem em goma bicromatada suficientemente a técnica de reunir duas imagens
Assinado: STEICHEN / MDCCCCII numa só, e, num primeiro momento, ampliei o
26 x 32,2 cm negativo de Rodin ao lado do Victor Hugo. Mais
Ph. 217 | Musée Rodin | Paris tarde, desenvolvi uma técnica que permitiu reunir
os dois negativos numa única imagem...” (Steichen,
1963, n.p., cap. 3). Steichen realizou então a am-
pliação de Rodin e do Monument à Victor Hugo
Durante um ano, Steichen compareceu todos invertido, julgando provavelmente que a monta-
os sábados, dia em que Rodin recebia visitas, gem ficaria mais harmoniosa dessa forma. Quando
à rue de l’Université. Antes de realizar o retrato mostrou o resultado a Rodin, Judith Cladel, a
do mestre, teve tempo suficiente para observá- primeira biógrafa do escultor, que estava presente,
lo circulando por seu ateliê. Por fim, surgiu uma disse ao mestre: “‘É o senhor entre Deus e o dia-
bela ideia: “Pedi a Rodin que posasse perto do bo’. Ele respondeu simplesmente: ‘É isso mesmo’,
Monument à Victor Hugo e de frente para Le e caiu na gargalhada. Orgulhava-se dessa foto-
Penseur”, contou mais tarde na autobiografia. grafia e a mostrava para todo mundo”. Steichen,
“Mas, como o ateliê estava cheio de blocos de talvez em reconhecimento pelas palavras elogiosas
mármore esculpidos, gessos, bronzes e argilas em da escritora, ofereceu-lhe também uma ampliação
processo de produção, não havia espaço para que da mesma imagem.
eu pudesse encaixar Rodin, o Victor Hugo
e Le Penseur numa mesma placa fotográfica. Fiz A revista Camera Work, porta-voz do movimento
então um retrato reunindo Victor Hugo e Rodin. pictorialista nos Estados Unidos, publicou em
Em seguida, desloquei o aparelho e fotografei Le 1903 a primeira imagem, Rodin et le Monument
Penseur separadamente, explicando a Rodin que à Victor Hugo, e depois a montagem Rodin, le
depois os reuniria em uma única imagem. Nessa Monument à Victor Hugo et Le Penseur, em 1905,
época, eu tinha apenas uma objetiva retilínea e novamente em 1906. H.P.

216
217
198. Edward Steichen
Portrait de Rodin
[Retrato de Rodin]
1901 | Tiragem em goma bicromatada
Monograma sobre a ampliação a lápis
grafite: MDCCCCI
21,5 x 16,5 cm
Ph. 240 | Musée Rodin | Paris

218
199. Edward Steichen
Rodin, la main droite
dans la barbe
[Rodin com a mão
direita na barba]
1907 | Platinotipo
Na parte frontal, a bico-de-pena
e tinta marrom: À ma grande amie
Judith Cladel/Les bords du papier doit
[sic] être compris dans la reproduction
Assinado e datado a lápis grafite:
STEICHEN/MDCCCCVII
Imagem invertida
38,5 x 28 cm
Ph. 232 | Musée Rodin | Paris

219
200. Edward Steichen 201. Edward Steichen
Rodin sculptant un Rodin, la main gauche
buste de femme dans la barbe
[Rodin esculpindo [Rodin com a mão
um busto feminino] esquerda na barba]
c. 1907 | Gelatina e prata 1902 | Processo a óleo (?)
28,4 x 22 cm 20,3 x 15,5 cm
Ph. 254 | Musée Rodin | Paris Ph. 243 | Musée Rodin | Paris

220
203. Edward Steichen
Portrait de Rodin assis sur
202. Edward Steichen une chaise devant le marbre
Rodin, le visage incliné de La Main de Dieu
[Rodin com o rosto inclinado] [Rodin sentado numa cadeira
1901 | Platinotipo à frente do mármore de
A lápis grafite sobre A Mão de Deus]
o suporte: MDCCCCI 1901 | Goma sobre platinotipo
19 x 15,5 cm 20,5 x 16 cm
Ph. 246 | Musée Rodin | Paris Ph. 253 | Musée Rodin | Paris

221
AUGUSTE RODIN
Biografia

1840-1917

“Ainda muito jovem, desde quando


consigo me lembrar, eu desenhava…
Acredito que, antes de desenhar no gesso,
é necessário começar a desenhar no papel.
Fui desenhista antes de ser escultor.”
Auguste Rodin
1840 1881 1900 
Nascimento de Auguste Rodin em Paris, Criação de Ève [Eva], Le Penseur [O Pensador], Rodin expõe esculturas, desenhos e fotografias
em 12 de novembro. Le Baiser [O Beijo] e Ugolin [Ugolino]. em um pavilhão construído sob sua encomenda
na Place de l’Alma, ao lado da Exposição
1850  1882
Universal. O sucesso é considerável. O Pavillon
Ele começa a desenhar. Primeiro encontro entre Camille Claudel
de l’Alma é desmontado no ano seguinte e
e Rodin.
1854  reconstruído em Meudon, no terreno da Villa
Entra para a escola imperial especializada 1885 des Brillants, para tornar-se um ateliê-museu.
em desenho e matemática, La Petite École A prefeitura de Calais encomenda um monu­
1904
[A Pequena Escola]. Assiste mento comemorativo em homenagem a
A obra monumental Le Penseur em gesso
ao curso de Lecoq de Boisbaudran. Eustache de Saint-Pierre, que viria a ser Les
é exposta na Associação Internacional de Londres
Bourgeois de Calais [Os Cidadãos de Calais].
1855  e, posteriormente, no Salon de la Société
Rodin descobre a escultura. 1888 Nationale des Beaux-Arts [Salão da Associação
O governo encomenda Le Baiser em mármore, Nacional de Belas-Artes], em Paris.
1857-1859 para a Exposition universelle [Exposição
Por três vezes consecutivas, falha no concurso 1906
universal] de 1889.
para a entrada na École des Beaux-Arts Primeira exibição da obra Le Penseur.
Le Grand penseur [O Grande pensador],
[Escola de Belas-Artes]. em bronze, oferecido por subscrição
1893 nacional ao povo de Paris, é instalado em frente
1858 Rodin contrata Antoine Bourdelle ao Panthéon. Encontro com as dançarinas
Trabalha com diversos como assistente. do balé real do Camboja.
decoradores e ornamentistas.
1895 1907
1860  Inauguração do monumento Les Bourgeois L’Homme qui marche [O Homem andando]
Rodin executa a primeira obra de Calais. é exposto no Salon de la Société Nationale
que foi preservada: o busto de seu pai. Rodin compra a Villa des Brillants, em Meudon. des Beaux-Arts.

1864 1898  1908 


O artista ingressa no ateliê O artista expõe a obra Le Baiser em mármore. Graças a Rilke, Rodin descobre o Hôtel Biron.
de Carrier-Belleuse. O gesso monumental do Balzac é recusado
Realiza a máscara de L’Homme au nez cassé pela Société des Gens de Lettres [Associação 1916
[O Homem de nariz quebrado]. dos Escritores] e provoca escândalo no Salon A Assembleia Nacional aceita a doação
de la Société des Beaux-Arts de suas coleções, feita pelo artista.
1880 [Salão da Associação de Belas-Artes].
O governo francês compra 1917
sua obra L’Age d’airain 1899 Rodin morre em 17 de novembro. É sepultado
[A Idade do bronze] e encomenda Primeira exposição monográfica em Bruxelas, em Meudon, e um bronze monumental
La Porte de l’enfer [A Porta do inferno]. Amsterdã, Roterdã e Haia. do Penseur é colocado sobre seu túmulo.

223
Bodmer, Karl-Henri ele escreveu: “É a pessoa mais irritante da Instrução Pública permitiu que ele
Biografias dos fotógrafos conhecido como Charles (sic) que eu já conheci. Ele não fará nada conhecesse a América. Nessa ocasião,
(Barbizon, 1854 – ?, 1934) em Paris. É dissimulado como um lobo, Bulloz tomou consciência do interesse
Endereço: Forêt de Fontainebleau ingrato e preguiçoso. Enganou a todos, pedagógico da fotografia. De volta à
(Seine-et-Marne) a você e a mim também”. França, ele organizou conferências
Seguindo a carreira de fotógrafo, itinerantes com projeções foto­gráficas.
Bodmer foi o primeiro dos três filhos Bodmer especializou-se em retratos Em 1897, decidiu finalmente,
do pintor e litógrafo suíço Karl Bodmer de animais. Duas fotografias de bovinos com o respaldo de sua experiência,
(1809-1893), que se instalou em assinadas de próprio punho foram abandonar o estúdio Braun e abrir o
Barbizon, em 1849. Charles, a versão premiadas no Concours Général Agricole próprio ateliê, na rue Bonaparte. Seu bom
francesa de seu nome, fez com que, por (Concurso Geral Agrícola) de 1933. relacionamento com os artistas permitiu
muito tempo, os pesquisadores o Bodmer morreu no ano seguinte e foi que ele oferecesse uma ampla variedade
confundissem com seu pai. sepultado no cemitério de Barbizon. de obras de Degas, Monet, Puvis de
Nascido em um ambiente propício D.B. Chavannes ou mesmo de Moreau.
ao desenvolvimento de suas inclinações A partida de Druet abriu as portas
artísticas, é possível que sua iniciação Musée Rodin, arquivos: uma carta de do ateliê de Rodin a Bulloz. Em 5 de maio
na fotografia tenha ocorrido ao lado Bodmer a Rodin (1889). de 1903, o fotógrafo assinou com o
dos fotógrafos que realizavam imagens Coleção: 221 provas. escultor um contrato de exclusividade que,
a partir da natureza destinadas aos Bibl.: Billy, 1947, p. 57. excelente técnico e hábil diplomata,
pintores paisagistas que frequentavam Jacobson, 1996, p. 170-171. conseguiu prorrogar até a morte do
a Floresta de Fontainebleau. Segundo Pinet, 1985, p. VIII-IX. Varnedoe, 1981, p. mestre. No início da década de 1920, ele
André Billy, foi ele o autor da fotografia 210-213. Vente Amable, Argenteuil, 3 voltou-se para a política e, em 1936, foi
do ateliê de Millet, tirada em 1875, por de junho de 1994, lotes 24, 25, 26. eleito prefeito do 6o distrito. Morreu em
ocasião da morte do pintor e mantida Catálogo Bernard Dudoignon, primavera Paris, em 1942, e deixou seu estúdio para
no museu consagrado a esse artista. de 1996, lote 22. o filho Jacques (1895-1978). Ele
Seu pai, falecido em 1893, deixou de
e o estúdio dos Giraudon foram os únicos
expor no Salon de Paris em 1878;
Bulloz, Jacques-Ernest a sobreviver ao trauma da guerra. Em
Bodmer, por sua vez, desenvolveu sua
carreira a partir da década de 1880, (Paris, 1858 – 1942) 1951, Pierre, o filho de Jacques (nascido em
produzindo estudos a partir da natureza Endereços sucessivos: 16, 1927), assumiu os negócios. Em dezembro
e cenas da vida rural para artistas, como rue Louis-le-Grand; 21, rue Bonaparte de 1999, a Réunion des Musées Nationaux
o pintor e decorador Amable Petit e o (União dos Museus Nacionais) adquiriu o
paisagista Théophile Chauvel. O Musée Sobrinho de dois fotógrafos, Louis acervo e o estúdio Bulloz fechou suas
Nicéphore Nièpce, de Chalon-sur-Saône, e François Pierson, Bulloz abandonou portas em novembro de 2000.
adquiriu recentemente um álbum com 79 a mercearia da família para dedicar-se D.B.
fotografias de cenas rurais, numeradas
à fotografia. A partir de 1880, logo após
em cada página e nos negativos,
que apresentam uma qualidade superior o serviço militar, envolveu-se com o Musée Rodin, arquivos: 95 cartas,
à encontrada no restante da produção de estúdio mantido por Gaston Braun, seu faturas e contratos (1903-1909).
Bodmer. primo por afinidade. Nesse estúdio, Coleção: 1.028 provas.
Ele trabalhou para Rodin ao longo durante 17 anos, adquiriu grande Bibl.: Bulloz, 1904. Garet, 2007. Pinet, 1995,
da década de 1880, realizando imagens competência na técnica de tiragem a p. 1-28. Varnedoe, 1981, p. 224-229. Le Pelley
das esculturas em processo de elabora- carvão, que, por ser inalterável, garantia Fonteny, 2005, p. 53.
ção nos ateliês do artista, mas não se a qualidade das fotografias Braun.
sabe quem os colocou em contato. As Graças a seu talento como orador, Choumoff, Pierre
gravuras que Auguste Léveillé fez com também defendeu a empresa em toda (Grodno, Bielo-Rússia, 1872 –
base em algumas de suas foto­grafias a Europa, criando vínculos com os artistas Lodz, Polônia, 1935)
ilustraram, em 1899, a obra Auguste contemporâneos. Em 1890, entrou para Endereço: 5, rue du
Rodin, statuaire, de Léon Maillard. a Chambre Syndicale de la Photographie Faubourg-Saint-Jacques, Paris
Segundo o crítico norte-americano (Câmara Sindical da Fotografia), de onde
Théodore H. Bartlett, Bodmer partilhou conduziu com vigor o combate pelo Vindo de uma família de altos
com seus irmãos – em especial, Frédéric- reconhecimento dos direitos e do funcionários da Rússia czarista, Choumoff
Rodolphe – a reputação de boêmio. Em estatuto artístico da fotografia. revelou interesse pelas questões sociais
uma carta de 1889, endereçada a Rodin, Em 1892, uma missão do Ministério desde muito jovem, e seu engajamento

224
progressista, da época de estudante de Coburn, Alvin Langdon que retratavam os ateliês dos artistas. Druet, Eugène
engenharia, resultou muitas vezes em (Boston, 1882 – Calwyn Bay, 1966) Empre­e n­d edor experiente e consciente (Paris, 1867-1916)
prisão. Em 1906, diante da ameaça de do sucesso de retratos fotográficos no Endereços: galeria: 20, rue Royale; estúdio de
deportação para a Sibéria, ele decidiu Filho de um rico industrial, Coburn formato conhecido como carte-de- reproduções de arte: 108, rue du Faubourg-
fugir da Rússia em direção à França. Em descobriu a fotografia com seu primo visite , dedicou-se à edição dessas Saint-Honoré; ateliê de reproduções: 31,
Paris, reencontrou um camarada polonês, Frédéric H. Day. Amigo de Edward reproduções, que constituíam uma rue Lafontaine
Jan Strozecki, que passara a trabalhar com Steichen, Alfred Stieglitz e Robert verdadeira galeria de retratos das
fotografia e o iniciou nessa técnica. Graças Demachy, foi um dos representantes mais celebridades artísticas da época. Foi Filho de um comerciante de bebidas,
a seu carisma, o emigrante russo caiu originais do pictorialismo, compondo uma certamente seu trabalho para a série Druet recebeu em 1893, aos 26 anos,
rapidamente no gosto do mundo artístico obra moderna. Parte de sua inspiração Les Contemporains chez eux que o por se casar com Lucie Canet, o Yacht
e literário parisiense, do qual se tornou já não vinha dos Salons (Salões): Coburn levou até Rodin. Embora pura­m ente Club Français, um café instalado no
um retratista muito admirado. Em 1911, se abriu para uma cidade esfumaçada, comercial, o vínculo estabelecido entre número 3 da place de l’Alma. Nesse local,
instalou-se em local próprio, à rue du suas pontes, seus imóveis e sua população o fotógrafo e o escultor se estendeu Rodin costumava fazer suas refeições,
Faubourg Saint-Jacques, e aumentou sua operária. Viajava frequentemente pela desde o início do século 20 até o com os proprietários, em uma sala nos
produção fotografando escritores como Europa, alimentando a ambição de desaparecimento do artista, em 1917. fundos. Em meio a conversas informais,
Anatole France, artistas como Bourdelle e fotografar todas as sumidades artísticas. Por meio da correspondência entre Druet mencionou sua paixão pela
políticos como Blum. Cada imagem Seu encontro com Bernard Shaw, eles, pode-se entender a relação que o fotografia, que praticava como amador.
manifestava sua fina percepção da também fotógrafo, em 1904, lhe deu fotógrafo mantinha com o mestre. Em Rodin propôs, então, em 1896, que ele
psicologia e do caráter do objeto em acesso ao ateliê de Rodin dois anos uma carta de 27 de julho de 1898, trabalhasse para ajudar a suprir a
questão. Ele realizou intervenções com depois, em abril de 1906. Foi observado nota-se que, devido à insatisfação de demanda sempre crescente dos jorna­
o objetivo de fundir os detalhes em uma com reservas pelo escultor, que se Rodin com relação a alguns retratos listas por fotografias de seus trabalhos.
visão sintética da personalidade. Ele tirou surpreendeu e se impacientou com os realizados por Dornac, o fotógrafo Durante os quatro anos seguintes,
inúmeros retratos de artistas em seus atrasos na criação e na ampliação de seus atendeu ao pedido do escultor e Druet fotografou o conjunto das obras
ateliês, cercados por suas obras. Conheceu retratos. Suas composições foram destruiu as placas de vidro, garantindo de Rodin, sem, contudo, deixar de
Rodin em 1911, certamente por intermé- publi­cadas principalmente na revista que “nada mais permanece. Utilizarei administrar seu café. Tratava-se de uma
dio do pintor ceramista Séraphin Camera Work, durante a década de 1910. apenas [os retratos] com os quais o das colaborações mais estimulantes
Soudbinine, e encantou o escultor com as Instalado no País de Gales, Coburn senhor estiver de acordo”. entre Rodin e um fotógrafo. O relaciona-
fotografias não estritamente documentais dedicou-se cada vez mais, a partir dos Dornac elogiou, mas sem esquecer mento deteriorou-se em 1900, por ocasião
que fez dele. Em dezembro de 1915, anos de 1920, à franco-maçonaria, onde os próprios interesses. Recusou-se, por da exposição no pavillon de l´Alma, que
enviou-lhe uma série representando suas expressou sua profunda cultura e suas exemplo, a divulgar uma fotografia tinha em Druet um dos principais pilares.
obras. No entanto, foi com Léonce aspirações espirituais. Vestígios desse cujas dimensões, aos olhos de sua Após ter descoberto o meio artístico
Bénédite, primeiro curador do Musée envolvimento podem ser observados no clientela, podiam desvalorizar a produ- graças ao escultor, ele abandonou seu
Rodin, que ele trabalhou regularmente. simbolismo de suas fotografias. ção de formato reduzido. Da obra em café e abriu uma galeria, em 1903, na rue
Choumoff foi o último retratista de Rodin D.B. questão, o fotógrafo forneceu apenas du Faubourg-Saint-Honoré. A partir desse
e imortalizou o artista por ocasião de seu algumas provas, a serem publicadas momento, dedicou-se integralmente à
casamento, em 29 de janeiro de 1917, e Musée Rodin, arquivos: nos jornais com os quais ele “mantinha divulgação da obra de artistas, criando
depois, em seu leito de morte, bem como quatro cartas (1906). contato”. Seu trabalho consistia em reproduções em seu ateliê e envolvendo
na cerimônia de seu velório, em Meudon, Coleção: dez provas. fornecer represen­tações fotográficas que operadores. Lá, o fotógrafo defendeu a
em 24 de novembro de 1917. O ateliê não Bibl.: Coburn, 1966. Cat. exp. Alvin Langdon podiam ser distribuídas por Rodin a obra dos Nabis e nutria grande amizade
resistiu à crise de 1929 e ele abandonou o Coburn: symbolist photographer 1882- amigos e conhecidos em seus encon- por Maurice Denis.
ofício de fotógrafo em 1933. No ano 1966, 1996. Newhall, 1962. tros. A utilização de suas fotografias em Druet morreu um ano antes do
seguinte, partiu para instalar-se em Lodz, revistas como L’Art et les Artistes, para mestre, em 1916. A partir de então, sua
junto a sua família. ilustrar artigos sobre Lhermitte, Rodin, mulher passou a cuidar da galeria,
Dornac (conhecido como) Fritz Thaulow, Henri Martin ou Jules administrando-a até sua morte, em 1938.
Musée Rodin, cinco arquivos: cinco Pol Marsan, (? – ?, 1941) Breton, era testemunha de seu bom Em 1939, François Vizzavona, que havia
documentos (1913-1917). relacionamento com a imprensa. criado sua editora em 1898, adquiriu a
Coleção: 644 provas. Endereços sucessivos: 63, rue des Saints- Dornac morreu em 1941. totalidade dos arquivos, formados por 30
Bibl.: Choumoff, P.S. Un Parisien Russe: Pères; 10, rue Adam-Mickiewicz; 34, rue D.B. mil placas de vidro. Em 1957, a Réunion
Photographies de Pierre Choumoff. Gassendi Pol Marsan, que assinava des Musées Nationaux comprou o acervo,
Moscou: Roussky Pout, 2000. Dornac, deixou poucos rastros do Musée Rodin, arquivos: quatro cartas visando a criar a base para seu primeiro
Glutron, V. Pierre Choumoff: Études início de sua carreira como fotógrafo. (1898-1917). serviço fotográfico, cujo diretor foi François
Réalisées pour le Musée Rodin. Paris: Acredita-se que, a partir de 1890, Coleção: oito provas. Vizzavona. Após diversas mudanças, a
Musée Rodin, 1997. ele tenha se especializado em imagens Bibl.: Lesec, 2006. Mallard, 1999. partir de 2001, o acervo passou a ser

225
mantido no Fort de Saint-Cyr, sob encarnou, em seu desvanecimento, e apesar da entrega de alguns retratos, retratos em Nova York. Em 1902, ao
os cuidados da Médiathèque de a enorme efervescência de vidas, a colaboração entre eles se encerrou lado de Alfred Stieglitz, ela parti­cipou
l´Architecture et du Patrimoine (Midiateca de ateliês, de colaborações que em meados de 1904. da fundação da Photo-Sécession.
da Arquitetura e do Patrimônio). constituía o mundo dos pequenos Haweis seguiu sua carreira artística No outono de 1905, durante sua
D.B. fotógrafos na Paris desse fim de século. e viajou pelos mares do sul, que se segunda estada na França, Gertrude
Musée Rodin, arquivos: 65 cartas D.B. tornaram inspiração para sua pintura. encontrou-se com Rodin por intermédio
e faturas (1899-1916). A crise de 1929 o arruinou, e ele se do fotógrafo Adolph de Meyer. O escultor
Coleção: 1.267 provas. Musée Rodin, arquivos: cinco cartas instalou na Dominica, onde escreveu não se revelou um modelo fácil, mas ela
Bibl.: Le Pelley Fonteny, 2005, p. 102. e faturas (1893-1897). e trabalhou até sua morte. Quanto a soube evitar suas poses conven­cionais.
Pinet, 1985, p. 33-39. Schlesser, 2004. Coleção: 191 provas. Coles, é impossível rastrear sua carreira Seu francês impreciso não permitiu a
Varnedoe, 1981, p. 215-224. Bibl.: Launay, 1991. Dominique Pety, Les a partir do fim da colaboração com comunicação com Rodin, que, de certa
Goncourt et la collection: de l’objet Haweis. forma, a admirava. Como forma de
d’art à l’art d’écrire, Genève, Droz, 2003, C.L. agradecimento pelas fotografias que
Freuler, D. (ou E.) p. 39. Pinet, 1985, p. VII-XX. Gertrude lhe oferecera, ele enviou um
(em atividade na década de 1880 – Musée Rodin, arquivos: 20 cartas pequeno bronze e quatro desenhos a sua
depois de 1909) Haweis, Stephen e faturas (1903-1914). casa em Nova York, onde ele voltou a viver.
Endereços sucessivos: 8, rue Barouillère; (Londres, 1878 – Dominica, 1969) Coleção: 336 provas. A partir de 1910, após a exposição
169 e 195, rue de Vaugirard Arquivos: Columbia University, Nova foto­gráfica de Búfalo e a morte de seu
Coles, Henry York, Rare Book & Manuscript Library, marido, Gertrude passou a se dedicar
Os primeiros vestígios do trabalho (Tinbridge Well, 30 de dezembro “Stephen Haweis Papers, 1860-1969”; exclusivamente à fotografia.
desse fotógrafo são imagens de peças em de 1875 – ?) University of British Columbia, Vancouver, C.L.
cerâmica de um fabricante de Budapeste, “Haweis family Fonds, 1788-1957”.
exibidas no pavilhão austro-húngaro da Após breves estudos na Universidade Yale University, Beinecke Rare Book and Musée Rodin, arquivos: 13 cartas
Exposition Universelle (Exposição de Cambridge, Haweis dedicou-se à Manuscript Library, “Mabel Dodge Luhan (1906-1915).
Universal) de 1889. No ano seguinte, seu pintura e instalou-se em Paris, em 1895. Papers”, YCAL Mss. 196. Coleções: 15 provas.
nome, erroneamente grafado Frauler, foi Em 1903, casou-se com Mina Loy, que Bibl.: Defries, A., “Stephen Haweis Arquivos: New York Public Library.
inserido no catálogo de serviços Bottin, conhecera na academia Colarossi alguns as a civic artist”, in: The American magazine University of Delaware, Library, Manuscript
sob a rubrica “Fotógrafos (artistas)”, meses antes. No mesmo ano, Stephen of art, abril de 1982, p. 13-18. Haweis, and Archival Collections, “Gertrude
com endereço em 8, rue Barouillère. Haweis e um compatriota – Henry Coles, 1915. Pinet, 1985, p. 73-80. Varnedoe, Käsebier Papers”.
Em 1890, Freuler mudou-se para 169, nascido em 1875 – foram apresentados ao 1981, p. 239-242. Bibl.: Michaels, 1992. Cat. exp. Le Salon
rue de Vaugirard, e, em 1891, para o Mestre por Emilia Cimino, fervorosa de photographie, 1993. Cat. exp.
número 195 da mesma rua, sob o admiradora italiana do escultor. A pictorial heritage, 1979. Tucker, 1973.
nome D. Freuler. Acredita-se que tenha Poucos testemunhos trazem informa- Käsebier, Gertrude
permanecido nesse endereço pelo resto ções sobre a breve colaboração entre os (Forte des Moines, 1852 – Nova York, 1934)
de sua carreira. fotógrafos e o escultor. Coles garantia a Limet, Jean
São conhecidas seis fotografias de qualidade técnica do enfoque, enquanto Nascida em uma família de (Joinville-le-Pont, 1855 – Paris, 1941)
sua autoria, que mostram o interior da a formação artística de Haweis lhe permitia quacres, Gertrude instalou-se em Nova
casa de Edmond de Goncourt, tiradas conceber toda a mise-en-scène das cerca York, onde, em 1874, casou-se com Pintor de paisagens e gravurista,
em 1890 e mantidas em um álbum na de 200 fotografias das obras de Rodin, Eduard Käsebier, origi­nário da Limet ocupou, a partir de 1881, no
Fondation Custodia, em Paris. realizadas em menos de dois anos. Em Alemanha, que fez fortuna com boulevard Arago, um dos ateliês-aloja-
A Bibliothèque de Fels (Institut Catholique dezembro de 1903, The Daily messenger a importação de goma-laca proveniente mentos da Cité Fleurie, construída após
de Paris) possui duas provas, uma chamou a atenção de seus leitores para da Ásia. Nem a vida burguesa nem a Exposition universelle de 1878.
representando a igreja du Sacré-Coeur uma exposição de retratos de esculturas a educação de seus três filhos a impedi- Em meio à vegetação, o local seduziu
e outra, a basílica de Notre-Dame-de- de Rodin na Galerie de La Charité, em ram de desenvolver seu talento diversos artistas, que lá constituíram
Fourvières, em Lyon. Paris. Acreditando, no entanto, que nas artes plásticas. uma verdadeira comunidade. Embora os
Pouco se sabe de seu trabalho com podiam vender suas imagens, os dois Ela praticava a fotografia como primeiros indícios de seu encontro com
Rodin: algumas faturas dispersas, entre fotógrafos foram surpre­endidos pelo amadora, inicialmente no Brooklin e Rodin datem da primavera de 1900,
1892 e 1897, ano em que Freuler informou contrato de exclusividade que Rodin havia em seguida na França, durante os dois é bastante provável que os dois já se
ao escultor que uma angina o obrigava a assinado com Bulloz, no mesmo ano. verões que passou no ateliê do pintor de conhecessem desde muito antes disso.
adiar uma sessão de fotografias. A partir Em uma carta de 9 de janeiro de 1904 paisagens norte-americano Franck Limet ganhou rapidamente a con-
desse momento, Druet assumiu seu lugar e endereçada a Rodin, Haweis e Coles Dumond, instalado em Crécy-en-Brie. fiança do escultor, realizando para ele as
junto ao mestre. exigiram uma compensação financeira Após uma breve passagem por Paris, pátinas de seus bronzes. Paralelamente,
Fotógrafo misterioso, sobre o qual pelo trabalho e reclamaram das privações aperfei­çoou sua técnica e, em 1897, dedicou-se à pintura, à gravura e à
ainda se realizam pesquisas, Freuler que enfrentavam. Diante da dificuldade, abriu com sucesso o próprio estúdio de fotografia. Quando a organização da

226
Exposition universelle de 1900 levou ao em sua residência de Londres – 14o distrito. Esse integrante da franco- sua chegada, curioso com o escândalo
rompimento entre Rodin e seu fotógrafo aparentava ser um respeitável dândi maçonaria (em 5 de maio de 1875, do Balzac divulgado pela imprensa
Eugène Druet, o escultor pediu a Limet em suas fotografias. Pannelier ingressou na loja dos Coeurs norte-americana, Steichen fez sua
que fotografasse suas obras. O escultor e De Meyer compartilha- Indivisibles e foi nomeado presidente primeira visita à exposição que Rodin
Sem dúvida, foram os pictorialistas vam a admiração pelo balé russo, que da Grande Loge de France, de 1887 a organizara ao lado da Exposition
Haweis e Coles, que trabalharam no provocou um escândalo em 1912, com 1901) e chevalier de la Légion universelle. Precisou, no entanto,
ateliê do artista em 1903, os responsá- A Tarde de um fauno. De Meyer realizou d´Honneur dedicava-se ainda à esperar aproximadamente um ano
veis pelo aperfeiçoamento das técnicas uma série de imagens desse balé e Rodin Chambre Syndicale de la Photographie, até ser apresentado ao escultor em
de Limet, tornando-o capaz de retraba- defendeu a obra na imprensa. Por fim, da qual foi secretário e, a partir de Meudon, pelo pintor norue­guês Fritz
lhar as imagens durante sua revelação. foi na moda que o olhar de De Meyer 1895, presidente. Thaulow. Rodin foi imediatamente
Rodin apreciava, em especial, as conseguiu explorar o melhor de sua Suas relações com Rodin, no entanto, seduzido pela personalidade entu-
tiragens à goma bicromatada que Limet elegância afetada, a partir dos anos eram mais antigas, visto que a maioria siasta e pelos trabalhos do jovem,
lhe apresentou a partir de 1904. de 1910 até o fim da década seguinte, das faturas preservadas data de 1882- que tinha 22 anos à época. Dessa
É importante notar que suas pesqui- quando parece ter caído no 1883 – curiosamente, o escultor fez um forma, durante aproximadamente um
sas estéticas no campo da fotografia esquecimento. novo pedido de fotografias em 1904. L. ano, Steichen foi semanalmente ao
tiveram como único objeto a escultura D.B. Régis adquiriu o estúdio Pannelier entre ateliê da rue de l’Université, onde
de Rodin. Vale lembrar também que, após 1905 e 1906. A partir de 1887, Pannelier realizou diversas séries de retratos, que
terem perma­necido por muito tempo Musée Rodin, arquivos: 16 cartas estabeleceu relações de “boa vizinhança” fizeram grande sucesso. Como prova
anônimas, essas impressões puderam ser (1906-1907). e de “apoio mútuo” com o pintor de seu reconhecimento, e assim como
atribuídas a Limet graças à doação de placas Coleções: três provas. Le Douanier-Rousseau, que morava fez por outros, o escultor lhe ofereceu
de vidro que sua neta Pierrette ofereceu ao Bibl.: Cat. exp. Le Salon de photographie, a poucos passos de distância de diversos desenhos e um pequeno
Musée Rodin, em 1989. 1993, p. 16. seu ateliê, no número 18 bis bronze de L’Homme qui marche.
Limet seguiu trabalhando para a casa da avenue du Maine. De volta a Nova York, Steichen abriu
de fundição Rudier após a morte de Rodin, D.B. o próprio estúdio e participou, com
em 1917. Pannelier, Victor Alfred Stieglitz, da criação da revista
C.L. (Fluquières, 1840 – ?, posterior a 1907) Musée Rodin, arquivos: 19 cartas e Camera Work e da abertura da Galeria
Endereços sucessivos: 82, Chaussée du faturas (1904-1905). 291 – a mesma em que, graças a seus
Musée Rodin, arquivos: Maine (1873-1878); 212, avenue du Maine, Coleção: 31 provas. esforços, quadros e esculturas da van-
129 cartas e faturas (1900-1915). 212 (1879-1880); 76, avenue du Maine Arquivos: Registre matricule de la troupe, guarda europeia foram expostos pela
Coleção: 519 provas. (1882-1904) 6e vol., 19 de fevereiro de 1861-17 de primeira vez nos Estados Unidos.
Bibl.: Simier, 2007. Varnedoe, 1981, p. novembro de 1864, Archives du Service Durante a Primeira Guerra Mundial, ele
242-245. Cat. exp. Jean Carriès Órfão desde muito jovem, Pannelier Historique de l’Armée (Vincennes); Archives dirigiu os serviços fotográficos da Força
(1855-1894) ou la terre viscérale, precisou conciliar seus estudos e peque- de la Chambre Syndicale de la Aérea. Como fotógrafo de moda,
2007, p. 17-26. nos trabalhos. Em 1860, trabalhava Photographie. trabalhou entre as duas guerras para a
como comerciante de bebidas, quando foi Vogue e, de 1947 a 1967, assumiu o
convocado para o Exército. Serviu seu país, departamento de fotografia do Museu
Meyer, Adolph de em especial durante as campa­nhas Steichen, Edward de Arte Moderna de Nova York, onde
(Paris ou Dresden, 1868 – Hollywood, 1946) do México, em que se destacou pela (Luxemburgo, 1879 – West Redding, 1973) organizou a exposição Family of man,
coragem. Pannelier fundou seu estúdio um estrondoso sucesso.
Proveniente de uma família culta de de fotografia em 1871. Em 1882, Três anos após seu nascimento, Steichen morreu em 1973.
Dresden, De Meyer casou-se, em 1897, juntamente com Altishoffer, assumiu a Sté em Luxem­b urgo, a família de Steichen C.L.
com a afilhada do futuro rei Eduardo VII, Parion et Cie. No verso de uma fotografia, emigrou para os Estados Unidos,
Olga Caracciolo, que o introduziu no era ainda mencionado como sócio de instalando-se em Hancock (Michigan). Musée Rodin, arquivos:
ambiente social da gentry, onde ele certo Noiret, no número 52 da rue Aos 16 anos, quando trabalhava como 19 cartas (1901-1916).
desenvolveu o gosto por relações munda- Daguerre. aprendiz de litógrafo em Milwaukee, Coleções: 93 provas.
nas. De Mayer formou-se em fotografia Mais tarde, apoiou a Terceira ele decidiu comprar uma das primei- Bib.: Niven, 1997. Smith, 1999.
como amador e tornou-se um dos República no grupo radical socialista, ras máquinas fotográficas feitas para Steichen, 2000.
retratistas de pessoas importantes que o levou do comitê departamental o “grande público”, uma Daylight
desse meio. republicano do Sena, em 1885, à Kodak. Aprendeu a manejá-la e
Suas fotografias revelavam toda a presidência do comitê radical socia­lista continuou paralelamente seus estudos
sutileza aristocrática das personalidades de sua circunscrição. Simultaneamente, de pintura.
notáveis que o cercavam. Até mesmo ocupou o cargo de prefeito adjunto Em 1900, com seu amigo Carl
Rodin – que conhecera em 1905 e que e, posteri­ormente, de conselheiro Björncrantz, decidiu atravessar o
convidava com frequência para reuniões municipal na subprefeitura do Atlântico para ir a Paris. Logo após

227
Exposições Folhear as páginas de um álbum ou expostas e publicadas (cf. contribuição comparando-os. Colocava fotografias ou
um livro é uma experiência diferente de de Hélène Pinet a este trabalho). esculturas de demais artistas perto das
ver as fotografias montadas, emolduradas, Em 1900, Rodin construiu em Paris, próprias obras. Em um ato expressivo
isoladas de seu contexto, expostas em na place de l’Alma, um pavilhão locali- da riva­li­dade que nutria em relação a
uma galeria ou um museu. Durante a zado ao lado da Exposition universelle Rodin, pediu a um amigo que fotografasse
mostra organizada em Genebra, em [Exposição universal] – como haviam esculturas suas ao lado de imagens das
1896, a fotografia deixou feito Manet e Courbet antes dele, em obras de Rodin, para mostrar o quanto
o ambiente restrito do ateliê e das páginas 1867. Druet, seu fotógrafo oficial, a arte do rival se assemelhava à dele.
de revistas para ocupar discretamente as trabalhou como uma espécie de curador Para Rosso, essa era uma maneira de
paredes dos museus. Não se sabe se foi de do evento, supervisionando a equipe de provar o próprio talento.
Baud-Bovy, o organizador da exposição, administração e a venda de ingressos,
ou de Rodin a ideia de apresentar as esculturas e desenhos. Além disso,
fotografias simultaneamente às expôs as próprias fotografias – 71 Exposições conhecidas
esculturas, mas o conceito encantou o provas, uma ao lado da outra, em de esculturas de Rodin acompanhadas
artista, que repetiu a associação em suas diversas colunas ou às vezes misturadas de fotografias – 1896-1917
principais exposições. O escultor com desenhos em duas saletas que
encontrou nessa combinação uma forma ficavam à entrada da sala (arquivos 1896
de guiar o olhar dos visitantes, apresentar do Musée Rodin, Paris, Ph. 1931). 2-13 de fevereiro
obras ausentes na mostra e expor uma Por fim, a exposição de Leipzig, em Genebra, Museu Rath
interpretação de sua arte. Tratava-se de um 1904, surgiu como antítese da anterior: 25 fotografias expostas, de 124 a 149
campo no qual ainda havia muito a algumas fotografias foram simplesmente do catálogo: Fotografias de esculturas:
descobrir, pois os nomes dos fotógrafos colocadas na base dos pedestais (arquivos 124 – Le Buste de Hugo [O Busto de
ou simplesmente o número de fotogra- do Musée Rodin, Paris, Ph. 1676-1677). Hugo], Bodmer
fias expostas raramente eram Em um primeiro momento, imaginou-se 125 – Étude [Estudo], Bodmer
mencionados nos catálogos, sendo que se tratava de uma imagem feita 126 – Pleureuse [Carpideira]
ainda menos comum a referência dessas durante a instalação da mostra. Porém, 127-128 – Montant de la Porte de
informações na imprensa. Algumas imagens uma série de fotografias de Krone l’enfer [Estrutura da Porta do inferno]
do conjunto das salas possibilitavam a tendo como fundo as salas do Museu 129-130 – Frise (de la Porte de l’enfer)
descoberta de três modos de apresenta- de Dresden, por volta de 1890, demons- [Friso (da Porta do inferno)], Bodmer
ção muito distintos. No entanto, é difícil tra que a ideia de associar a imagem da 131 – Le Baiser [O Beijo], Bodmer
precisar se as fotos foram feitas antes, escultura à própria escultura, fixando a 132-133 – Ugolin [Ugolino], Bodmer
durante ou depois da exposição. reprodução ao pedestal, correspondia de ou Freuler
Em Roterdã, em 1899, os desenhos fato a uma intenção pedagógica de ter a 134-135 – Orphée et Eurydice [Orfeu
foram reunidos em duas paredes da sala, fotografia representando a escultura e Eurídice], Bodmer ou Freuler
alinhados em duas fileiras. Na parede da exposta, mas em versão mais completa. 136-142 – La Statue de Claude Le
direita, isolada em sua moldura branca, Esse mesmo parti pris era encontrado em Lorrain [A Estátua de Claude Le Lorrain]
estava uma fotografia feita por Druet, Leipzig, onde as fotografias de Pierre de (sete detalhes), Freuler
mostrando o Balzac au Salon [Balzac no Wissant vêtu [Pierre de Wissant vestido] e 143 – La Statue de Claude Le Lorrain
Salão], de 1898. Embora não estejam do Monument des Bourgeois de Calais (conjunto)
aparentes, é possível inferir a presença [Monumento dos Cidadãos de Calais] 144 – Le Buste de femme du Musée
de duas outras molduras com fotografias. foram colocadas ao pé de um Étude en du Luxembourg (Mme. Vicuña) [Busto
Vale lembrar que o Monument à Balzac plâtre de Pierre de Wissant [Estudo em de mulher do Museu do Luxemburgo
[Monumento a Balzac] havia sido enco- gesso de Pierre de Wissant], mostrando (sra. Vicuña)], Michelez
mendado a Rodin em 1892 pela Société ao público alemão, por um lado, a 145 – Le Buste de femme du Musée
des Gens de Lettres [Associação dos personagem em sua versão definitiva, du Luxembourg (outro aspecto) (Mme.
Escritores], que o recusou em 1898, no e, por outro, o monumento para o qual Vicuña), Michelez
momento em que a obra foi apresentada ela fora concebida. Dessa maneira, o 146 – Les Bourgeois de Calais [Os Cidadãos
no Salon de la Société Nationale des escultor cumpria dois objetivos a um só de Calais] (visto de frente)
Beaux-Arts [Salão da Associação Nacional tempo: mostrar diferentes etapas de 147-148 – Les Bourgeois de Calais (outro
de Belas-Artes]. Rodin foi obrigado a um projeto e demonstrar que cada uma aspecto)
recolher a escultura e reembolsar delas constituía uma obra à parte. 149 – Les Bourgeois de Calais (tomada
os valores pagos pela Société. No Salon d’Automne [Salão de feita no momento da cerimônia de
Profundamente humilhado, passou perto de Outono] de 1904, que abrigava uma inauguração)
uma década sem expor essa obra nem seção de fotografia, Medardo Rosso “E eu gostaria de lembrar também que
permitir que fosse fotografada. Ao apresentou algumas de suas esculturas. você prometeu trazer-me uma bela coleção
longo desse período, apenas as imagens O artista italiano gostava de confrontar de desenhos e de fotografias” (Mathias
feitas por Druet antes do escândalo foram seu trabalho com o de outros criadores, Morhardt para Rodin).

228
1899 1901 abril 14 de maio-15 de novembro
8 de maio-5 de junho 8 de maio-25 de maio Paris, Galerie J.-E. Bulloz, rue Bruxelas, Palais du Cinquantenaire
Bruxelas, Maison d’Art Paris, Galerie des Artistes Modernes, Bonaparte Catálogo da Exposition universelle de
13, rue Caumartin Alguns mármores de Rodin e Bruxelas, 1910
29 de junho-30 de julho L’Œuvre de Rodin [A Obra de Rodin] foi fotografias de obras. (seção francesa de fotografias presidida
Roterdã, Kunstkring reproduzida em 320 tiragens fotográficas por Alphonse Pinard, p. 57).
pelo método de Druet (Lucie Druet para 15 de outubro-15 de novembro Druet expôs fotografias de quadros e
15 de agosto-setembro Rodin, 6 de maio de 1901, arquivo do Paris de esculturas, algumas das quais de obras
Amsterdã, Cercle Arti & Amicitiae Musée Rodin). Salon d’automne de Rodin, como o Balzac.
14 fotografias sem título de Haweis e
9 de outubro-novembro 1902 Coles. Stephen Haweis expôs seis quadros
Haia, Kunstkring (estrutura particular) 10 de maio-novembro na mostra. “Haweis et Coles, nés en 1911
Exposição itinerante nos quatro locais. Torino, Pavilhão Especial para Angleterre – chez M. Paul Foinet, rue janeiro
A numeração varia de um catálogo a Fotografia Artística Bréa, 21. 2063 – quatorze photographies” Paris, Galerie Druet
para outro. As fotografias, cujo total (Haweis e Coles, nascidos na Inglaterra Fotos.
é indeterminado, foram agrupadas sob 1903 – na casa de Paul Foinet, 21, rue Bréa.
o número 67 (ou 68), com a menção: 7 de maio-17 de maio 2063 – 14 fotografias).
“Photographies d’œuvres de Rodin” 1912
Nova York, National Arts Club
(Fotografias de obras de Rodin). Total de 12 fotografias de Eugène Druet, fevereiro
Exposição da coleção da dançarina
A imprensa raramente mencionava três das quais de esculturas de Rodin: Tóquio, Salão da Condessa d’Almeyda
americana Loïe Fuller com obras de Rodin
a presença das reproduções: “As Druet (Eugène), né à Paris – rue du (esposa do embaixador da Espanha)
acompanhadas de quadros de Haweis
fotografias e os croquis rápidos pendura- Faubourg-Saint-Honoré, 114 [Druet Fotografias de obras expostas sem detalhes.
e de fotografias de Steichen.
dos na parede, tão mal iluminados que (Eugène), nascido em Paris – 114,
quase não podemos vê-los, possivelmente dezembro-início de 1904 rue du Faubourg-Saint-Honoré]. início de fevereiro
constituem o que há de mais interessante Berlim, VIII Secessão 2050 – Homme au nez cassé [Homem São Petersburgo
nessa confusão hete­ró­clita: muito mais do com nariz quebrado] Exposição centenária da arte francesa
Desenhos, aquarelas, fotografias.
que os gessos duros, eles nos oferecem 2051 – Le Désespoir [O Desespero] Catálogo No 860 à 864. Lithographies
o verdadeiro Rodin, espontâneo, 2052 – Balzac (coll. Druet).
1904 Certamente, há confusão com as fotogra-
exatamente como ele é na concepção 2053 – Sirènes [Sereias]
janeiro fias (?).
de seu espírito inquieto e pesquisador” 2054 – Le Goûter [O Lanche]
Paris, Galerie Druet, 114, rue
(anônimo, Le Soir, abril de 1899, 2055 – L’Escalier [A Escada]
du Faubourg-Saint-Honoré 23 de abril-31 de outubro
Bruxelas, arquivo do Musée Rodin). 2056 – Deux jeunes femmes
Exposição Duhem et sculptures cariatide Veneza
[Duas jovens mulheres]
à la pierre. Cf. Le Blond, Maurice. “Petites 10a exposição internacional de arte
2057 – Procession [Procissão]
expositions à la Galerie Druet”, in: L’Aurore, A sociedade Chenue mencionou duas
1900 2058 – Académie [Academia]
15 de janeiro de 1914. fotografias em uma fatura do trans-
maio 2059 – Paysage [Paisagem]
Maison Giraudon 2060 – Arles porte das obras dessa exposição
“Pudemos ver expostas na vitrine do senhor 6 de julho-15 de agosto (Sté Chenue para Rodin, 22 de outubro
2061 – Le Parlement [O Parlamento]
Giraudon, na rue Bonaparte, fotogra- Weimar, Museum Für Kunst & de 1912, arquivo do Musée Rodin).
fias estranhamente cativantes e Kunstgewerbe
expressivas. Elas são atribuídas a Catálogo De 50 a 100: 51 fotografias 1907 1o de maio-?
Druet, um amador hábil e apaixonado, de Druet. 2 de março-7 de abril Marselha
que as executou seguindo os conselhos 26 de novembro-? Estrasburgo, Société des Premier salon de mai
e a direção do senhor Rodin” (anônimo, Amis des Arts Fotografias de As fotografias do catálogo ficaram
Leipzig, Musée de Leipzig
Le Mercure de France, maio de 1900). obras (sem detalhes). a cargo de Druet.
Catálogo De 50 a 100: 51 fotografias
1o de junho-novembro de Druet.
1909
Paris, Pavillon de l’Alma 1o de maio-antes de 26 de novembro
1o -16 de outubro
No total, 71 fotografias de Druet foram Dresden, Albertinum Museum Paris, Galerie Devambez
expostas, sem qualquer menção no Quatro grandes fotografias do Balzac.
Uma série de fotografias, entre elas um
catálogo, certamente devido à desa-
retrato de Rodin feito por Steichen e tiragens
vença passageira entre o escultor e
de Haweis e Coles.
o fotógrafo durante a preparação 1910
da exposição. O catálogo, realizado 1o de maio-23 de outubro
31 de março-18 de abril
graças à ajuda do jornalista Arsène Düsseldorf Nova York, Photo-Secession
Alexandre, foi ilustrado com 28 Exposição internacional de belas-artes Exposição de desenhos de Rodin com
fotografias de Limet. Fotografias de Bulloz. algumas fotografias de Steichen.

229
Damien Bril [D.B.] Cédric Lesec [C.L.] Dominique Viéville

Autores
Ex-aluno da École du Louvre, onde Formado pela École du Louvre, Curador geral do patrimônio
se formou em história da arte prepara atualmente sua tese de e diretor do Musée Rodin.
e antropologia, continua seus doutorado em história da arte É especialista em arte monu-
estudos cursando mestrado em contemporânea, sob a orienta- mental e na escultura da
história. Atualmente, é assis- ção de Ségolène Le Men e de segunda metade do século 19
tente de pesquisa na Fondation Victor Stoichita, tendo como e do século 20, assim como em
Alberto et Annette Giacometti, tema a imagem do artista no história da arte contemporânea
onde trabalha com o acervo de ateliê no século 19. Interessa-se na França a partir de 1945.
selos, visando à elaboração do também pela arte sacra do Escreveu artigos, catálogos
catálogo raisonné. século 20 e, mais especifica- e publicações tratando essencial-
mente, pelas relações entre esse mente de Auguste Rodin, Puvis
Sylvester Engbrox tipo de arte e a fotografia, de Chavannes e da escultura
Formado pela École Nationale aspecto sobre o qual discorreu francesa do fim do século 19. Em
Supérieure de la Photographie em um artigo da Revue de l’art seus trabalhos e em sua ativi-
(Escola Nacional Superior de de setembro de 2007, intitulado dade profissional, tem interesse
Fotografia), trabalhou na foto- “Zodiaque est une grande especial pela história dos
teca do Musée de l’Homme chose maintenant…”. museus em conexão com sua
(Museu do Homem) antes arquitetura e sua decoração.
de ingressar no Musée Rodin, Hélène Pinet [H.P.] Foi responsável pela curadoria
onde cuida da coleção de Responsável pela pesquisa, de diversas expo­sições de arte
fotografias. Participou de pelos arquivos, pela biblioteca contemporânea dedicadas
diversas exposições na França e pela documentação do Musée a Jean Dubuffet, Christian
e no exterior e contribuiu de Rodin, é autora de diversas Boltanski, Wolf Vostell, Joseph
maneira notável para a elabo- publicações sobre escultura e Beuys, Victor Burgin, Tom
ração do catálogo Rodin en fotografia – por exemplo, Rodin Philips, Annette Messager.
1900 . Leciona na École de sculpteur et ses photographes
l’Image des Gobelins. Desde (Ed. Sers, 1985), Rodin: les
1996, atua na concepção mains du génie (col.
e na realização do site do Découvertes, Gallimard, 1988),
Musée Rodin. Camille Claudel: le génie est
comme un miroir (col.
Marie Garet Découvertes, Gallimard, 2003).
Com formação de nível superior Foi curadora e curadora asso-
pela École du Louvre, onde ciada das exposições: La
desenvolveu um trabalho na Photographie pictorialiste
área de museologia sobre o editor (Musée Rodin, 1993), Le
de foto­grafia Jacques-Ernest Photographe et son modèle
Bulloz, tem graduação em (Bibliothèque nationale de
história da arte. France, 1997), Eros, Rodin
et Picasso (Bâle, Fondation
Beyeler, 2006).

230
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Princeton/Nova York: Princeton University Press/
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Doubleday & Company, 1963.
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ciclo da École du Louvre, sob direção de Françoise Terre Viscétale. Auxerre: Les Musées d’Art et Stein, G. Autobiographie d’Alice Toklas. Paris:
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segundo ciclo da École du Louvre, sob direção de Conservation-Restauration. Paris: Université de Bajou, V. Eugène Carrière: Portrait Intimiste.
Nathalie Volle). Paris I – Panthéon-Sorbonne, 2005 (MST conser- Lausanne: Sylvio Acatos, 1998.
vação e restauração de bens culturais, sob direção
Renonciat, A. Images Lumineuses: Tableaux sur de Claude Larroque). Carrière, J.-R. De la Vie d’Eugène Carrière:
Verre pour Lanternes Magiques, et Vues sur Papier Souvenirs, Lettres, Pensées, Documents. Toulouse:
pour Appareils de Projection. Rouen: Institut de la _____. “Identification des Virages et des Teintures Édouard Privat Éditeur, 1966

232
CATÁLOGOS DE EXPOSIÇÕES 1991 2001

1979 Centre National de la Photographie, Paris Musée Bourdelle, Paris

Staatliche Museen, Berlim Photographie: Sculpture. Paris: Centre National de L’Oeil et la Main, Bourdelle et la
Rodin, dir. Claude Keisch, 1979. la Photographie, 1991. Photographie. Paris: Paris Musées/
Ed. Eric Heoller, 2001.
12 Duke Street Gallery, Londres 1993
Brancusi: The Sculptor as Photographer. Musée du Luxembourg, Paris
Musée Rodin, Paris
D. Grob, 1979.
Rodin en 1900: L’Exposition de l’Alma.
Le Salon de Photographie: Les Écoles Pictoria- Paris: RMN/Éditions du Musée Rodin, 2001.
Delawere Art Museum, Wilmington
listes en Europe et aux États-Unis vers 1900. Paris:
A Pictorial Heritage: The Photographs of Éditions du Musée Rodin, 1993. 2002
Gertrude Käsebier, Wilmington: University of
1994 Musée Rodin, Paris
Delawere/Delawere
Georg-Kolbe Museum, Berlim Victor Hugo Vu par Rodin. Paris: Somogy
Art Museum, 1979.
Éditions d’Art, Ville de Besançon, 2002.
Licht und Schatten. Rodin: Photographien von
1981
Eugène Druet. Berlim: Georg-Kolbe Museum, 1994. Museo de la Universidad, Salamanque
National Gallery of Art, Washington
Musée Picasso, Paris Los Arrepentimientos de Rodin. Barcelona:
Rodin Rediscovered, dir. Albert Elsen. Washington: Fundación “La Caixa”, 2002.
Picasso Photographe: 1901-1916. Paris: RMN,
National Gallery of Art, Editors Office, 1981
1994. 2003
1985
1996 Palais des Beaux-Arts, Lille
Musée d’Art et d’Histoire, Genebra
Museum Vila Stuck, München Musée des Augustins, Toulouse
Pygmalion Photographe: La Sculpture devant
Rainer Maria Rilke und die bildende Kunst Carolus-Duran: 1837-1917. Paris: RMN, 2003.
la Caméra – 1844-1936. Genebra: Musée
seiner Zeit. München/Nova York: Prestel, 1996.
d’Art et d’Histoire, 1985. 2005
Aperture Foundation, Nova York
1986 Musée des Beaux-Arts, Rennes
Alvin Langdon Coburn: Symbolist Photographer
Musée Rodin, Paris La Photographie Pictorialiste en Europe:
– 1882-1966. Nova York: Aperture Foundation,
1996. 1888-1918. Paris: Le Point du Jour Éditeur/Musée
Les Photographes de Rodin: Jacques-Ernest
des Beaux-Arts de Rennes, 2005.
Bulloz, Eugène Druet, Stephen Haweis et Henry
Museum Villa Stuck, Munique
Coles, Jean-François Limet, Edward Steichen. Paris: 2006
Éditions du Musée Rodin, 1986. Rainer Maria Rilke und die bildende Kunst
seiner Zeit. Munique/Nova York: Prestel, 1996. Musée d’Orsay, Paris
1987
1998 Auguste Rodin: Eugène Carrière, dir. Mina Oya
Musée Rodin, Paris e Emmanuelle Héran. Paris: Flammarion/Musée
Wilhelm Lehmbruck Museum, Duisburg d’Orsay, 2006.
Ornement de la Durée: Loïe Fuller, Isadora
Duncan, Ruth St. Denis, Adorée Villany. Paris: Éditions Musée d’Art et d’Histoire, Friburgo 2007
du Musée Rodin, 1987.
Museum Moderner Kunst Stiftung Ludwig, Viena Musées d’Art et d’Histoire, Auxerre
Musée des Beaux-Arts, Calais
Skulptur im Licht der Fotographie von Bayard Jean Carriès (1855-1894) ou la Terre
Le Monument des Bourgeois de Calais bis Mappelthorpe, dir. Erika Billeter. Berna: Viscérale. Auxerre: Les Musées d’Auxerre, 2007.
et ses Photographes. Calais: Musée des Bentali Verlag, 1998.
Beaux-Arts de Calais, 1987.
Musée Rodin
Musée Rodin, Paris
1898: Le Balzac de Rodin. Paris: Éditions
Couleurs du Temps: Photographies en Relief du Musée Rodin, 1998.
d’Etienne Clémentel, 1915. Paris: Éditions du
Musée Rodin, 1987. 2000

1990 Museum of Art, Dallas

Musée Rodin, Paris The Artist and the Camera. New Haven/
Londres: Yale University Press, 2000.
Rodin et ses Modèles: Le Portrait Photographié.
Paris: Éditions du Musée Rodin, 1990.

233
realização produção montagem Educadores
Exposição Belo Horizonte

Casa Fiat de Cultura Marta Masiero OPA! Cenografia e Montagem Ana Luiza Avellar Antoni
Base7 Projetos Culturais Bartolomeo Gelpi Ane Elise Fernandes dos Santos
Instalação de Obras
Arnaldo Spindel assistência de produção Coordenação
Ângelo Celso Rocha Carvalho
Maria Eugênia Saturni Jacy Has Rafael Soares Bruna Finelli Duarte
Ricardo Ribenboim Isabela Gatti Pereira Rodrigues Clarissa Spigiorin Campomizzi
Henrique Tadeu da Silva Montagem Daniel de Melo Araújo
organização e produção
Nina Standerski Alessandro Lima Elaine Belomo Galetti
Musée Rodin, Paris Carlos Pedrosa Fabiana de Castro Oliveira
Base7 Projetos Culturais produção belo horizonte Lilian Medeiros Fernanda Cardoso de Albuquerque
curadoria geral Zoka Vassalo Costa Sérgio Arruda Frederico Alves Pinho
Dominique Viéville Fátima Guerra Raquel Isidoro Frederico Sá de Lino Silva
Cláudia Vassalo Costa Inácio Luis de Oliveira Abranches
curadoria equipe técnica de conservação
Hélène Pinet projeto de expografia João Paulo Andrade
Espaço
Josias Marinho de Jesus Gomes
concepção Laboratório de Ciência
assistencia de curadoria
Marta Bogéa e Kátia Magalhães Silva
Maéva Abillard da Conservação – Lacicor
Metrópole Arquitetos Margarida Maria M. R.Miranda
Centro de Conservação e Mário Alves de Oliveira Júnior
coordenação de produção
assistência Restauração de Bens Culturais
Paris Julia Pinheiro Móveis – Cecor, Escola de
Musée Rodin Juliana Barros Belas-Artes transporte
Noëlle Chabert Marcus Vinicius Santos
Amélie Lavin Coordenação Geral Millenium Transportes e Logística
Maressa Bronsztein
Base7 Prof. Luiz A.C. Souza
Rafael Formigoni seguro
Élise Jasmin Coordenação Executiva J.M.S. Administrações
projeto de iluminação
São Paulo Prof. Willi de Barros Gonçalves e Corretagem de Seguros
Guilherme Bonfanti
Elena Grosbaum Prof. Alessandra Rosado Liberty Seguros
Assistência
produção executiva obras assessoria de imprensa
Grissel Piguillem
Fernanda Engler Grupo Oficina de Restauro Ltda. REDE Comunicação de Resultado
Waleria Alexandrino Dias concepção | produção gráfica Rosangela Reis Costa Flávia Rios
Via Impressa Edições de Arte Maria Regina Reis Ramos Renata Monteiro
produção internacional Adriano Reis Ramos
Carlos Magno Bomfim Polliane Eliziário
Paris Poliane Brandão
Assistência
Élise Jasmin direção de arte
Paulo Otávio Mauro do Espírito Santo de Souza ECCO Escritório de Consultoria
São Paulo e Comunicação
projeto educativo
Natasha Barzaghi Geenen editoração Silvania Dal Bosco
Denis Zucherato Rachel Vianna
Marcela Brandão
Emerson Brito Ação Educacional
Ana Paula Ruiz
Claiton Policarpo Coordenação
William Ferreira Mailine Bahia atendimento grupo Ink
Marcos Magno Rodrigo Villarinho
Supervisão
revisão Técnica
Bruna Aparecida Mendes de Sá
Ricardo Mendes Paola Andrezza Bessa Cunha
agendamento
Maria Emília Abreu Carneiro
estagiários
Caio Cardoso Correa
Fernanda Faria Rodrigues
Radharani Lenine Costa Campos
Este catálogo foi originalmente publicado fotografias digitalização e tratamento

Catálogo
em francês pelas Éditions Gallimard, tendo Coleção particular, Paris: de imagens
sido revisto e alterado na presente edição. pp. 120; 121; 122a; 122b Motivo Processamento,
Fondation Nationale des Arts Graphiques Imagem e Criação
et Plastiques, Paris: p. 186 Ricardo Irineu de Sousa
edição e produção do
catálogo no brasil Musée Départemental Maurice-Denis - Le concepção | produção gráfica
Base7 Projetos Culturais Prieuré, Saint-Germain-en-Laye: pp. 80b Via Impressa Edições de Arte
Arnaldo Spindel Carlos Magno Bomfim
Musée Rodin, Paris: pp. 19; 21a; 21b; 23;
Maria Eugênia Saturni 24; 27; 28; 29; 32; 33a; 35; 38a; 38b; 39; direção de arte
Ricardo Ribenboim 40; 41a; 41b; 42; 43a; 43b; 44; 46a; 46b; Paulo Otávio
coordenação editorial 47a; 47b; 48; 49a; 49b; 50a; 50b; 51a; 51b;
editoração
Élise Jasmin 53b; 54a; 54b; 55; 56; 57a; 57b; 58a; 58b;
Denis Zucherato
Renata Viellas Rödel 59; 62a; 62b; 63; 64a; 64b; 64c; 65a; 65b;
Emerson Brito
Tatiana Sampaio Ferraz 65c; 65d; 68; 69; 70a; 70b; 71a; 71b; 72a;
Claiton Policarpo
72b; 75; 76a; 76b; 77a; 77b; 78; 79; 80a;
coordenação de Produção William Ferreira
84; 89a; 89b; 89c; 90a; 90b; 90c; 91a; 91b;
Elena Grosbaum Marcos Magno
92a; 92b; 92c; 92d; 93; 94; 95a; 95b; 96a;
produção 96b; 97; 98; 100a; 100b; 100c; 100d; 101; revisão técnica
Marta Masiero 103; 104a: 104b; 105; 106a; 106b; 107; Ricardo Mendes
Waleria Alexandrino Dias 108a; 108b; 109; 110; 111; 112; 113; 114a; Impressão
115; 116; 117; 119; 124a; 124b; 127a; Ipsis Gráfica e Editora
assistência de produção 127b; 130; 131; 132; 133; 134; 135; 137;
Henrique Tadeu da Silva 138; 140a; 140b; 141; 142; 143; 149; 150a;
Isabela Gatti Pereira Rodrigues 150b; 151; 152; 153; 154a; 154b; 155; 156;
Nina Standerski 157a; 157b; 158a; 158b; 159; 162; 163; Salvo menção contrária, as obras
tradução de textos e legendas 164a; 164b; 165; 166a; 166b; 167; 168a;
apresentadas fazem parte de uma
e comentários de obras 168b; 169a; 169b; 170; 172a; 172b; 173a;
doação de Rodin ao governo francês
Bernardo Ajzenberg 173b; 174a; 174b; 175; 176; 177; 179a;
179b; 180; 182; 183; 184; 185a; 185c; 187; em 1916 e são conservadas
tradução de anexos e legendas no Musée Rodin, em Paris, França.
189a; 189b; 190a; 190b; 191; 192; 193;
das ilustrações
194a; 194b; 195; 198; 199; 201a; 201b;
B&C Revisão de Textos
204; 205; 206a; 206b; 207; 208a; 209a;
revisão de língua francesa 209b; 211; 212a; 212b; 213a; 213b; 213c;
Elise Jasmin 213d; 214; 215a; 215b; 217; 218; 219;
Renata Viellas Rödel 220a; 220b; 221a; 221b
Tatiana Sampaio Ferraz Musée Rodin, Paris (foto Adam Rzepka):
revisão de língua portuguesa pp. 73; 76; 88; 102; 136; 188; 185b;
Marca-Texto Editorial Musée Rodin, Paris (foto Béatrice Hatala):
pp. 33b; 203
Musée Rodin, Paris (foto Christian Baraja):
pp. 45; 66; 67; 85; 114b; 129; 139; 210
Musée Rodin, Paris (foto Erik Hesmerg):
p. 181
Musée Rodin, Paris (foto Jean de Calan): pp.
53a; 56; 60; 61; 83; 99; 121; 126; 147; 148;
178; 196; 122a; 122b; 208b
Musée Rodin, Paris et © foto Adam Rzepka/
adagp*: pp. 52; 118; 171
University of British Columbia Archives,
Vancouver: p. 160
Conselho Deliberativo CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DEPARTAMENTO DE DESENVOLVIMENTO
Cledorvino Belini presidente coordenação
Valentino Rizzioli Yves de Chaisemartin Noëlle Chabert, conservadora-chefe do patrimônio
Pablo Di Si
Marcelo Arantes DIRETORIA coordenação do
setor cultural
Carlos Antonio Dutra Garrido diretor
Francesco Pastore Dominique Viéville, conservador geral do patrimônio Isabelle Bissiere
secretário geral Coordenação de exposições
Diretoria
Philippe André-Bernavon e arte contemporânea
diretor-Presidente Amélie Lavin, conservadora do patrimônio
José Eduardo de Lima Pereira coordenadora da secretaria
Patricia Hoeppe comunicação
diretor-Vice-Presidente Clémence Goldberger
Marco Antônio Lage assessoria
Marie-Pierre Delclaux Desenvolvimento de mecenato
diretor Administrativo e Financeiro Marie-Lorraine Meurer-Revillon
Hugues Herpin
Gilson de Oliveira Carvalho
DEPARTAMENTO DE COLEÇÕES setor de filmagens, tomadas
diretor de Relações Institucionais fotográficas e parceria
coordenação
Marco Piquini Solène Vandangeon
Aline Magnien, conservadora-chefe do patrimônio
Gestão Executiva DEPARTAMENTO COMERCIAL E EDITORIAL
assistência
gestora de Cultura
François Blanchetiere, conservador do patrimônio Coordenação
Ana Vilela Edwige Ridel
coordenação da coleção
supervisora administrativa de desenhos, gravuras e pinturas edições
e financeira Jean-Baptiste Chantoiseau
Nadine Lehni, conservadora-chefe do patrimônio
Mariana Lima
gestão e documentação das coleções assistência comercial
Estagiária Hadrien Tagu
Bénédicte Garnier
Paula Loureiro Hélène Marraud tesouraria
Empresas Mantenedoras Marie-Laure Yoro
assistência à coordenação de conservação
Banco Fidis de Investimento Maéva Abillard
CNH Latin America DEPARTAMENTOS ADMINISTRATIVO,
FINANCEIRO, JURÍDICO E DE TECNOLOGIA
Comau do Brasil gestão das coleções
Fiat Automóveis Diane Tytgat adjuntos do secretário geral
Fiat do Brasil Laurent Bernard
DEPARTAMENTO DE PESQUISA, DOCUMENTAÇÃO,
Fiat Finanças ARQUIVOS E BIBLIOTECA
Elisabeth Saillant
Fiat Services coordenação serviços internos
FIDES Corretagem de Seguros Hélène Pinet Dominique de Coninck
FPT Powertrain Technologies
Iveco Latin America assistência à coordenação CONTABILIDADE
Magneti Marelli Véronique Mattiussi contador
Teksid do Brasil coordenação da base dos bronzes
Christian Fournand
Françoise Gaborit, conservadora do patrimônio Contador-assistente

biblioteca
Marie-José Rouzic-Ribes
Cécile Geoffroy Gestora de receitas

arquivos
Nathalie Christine
Sandra Boujot DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO,
RECEPÇÃO E SEGURANÇA
DEPARTAMENTO DE FOTOGRAFIA
coordenação
coordenação
Pierre Hurbain
Jérôme Manoukian
assistência
assistência à coordenação
Brigitte Thebault
Anne-Marie Chabot
Diretoria
Arnaldo Spindel DIRETORIA Plínio Antonio Lion Salles Souto
Maria Eugênia Saturni diretor-Presidente Renato Tavares de Magalhães Gouvêa
Ricardo Ribenboim João da Cruz Vicente de Azevedo Sabine Lovatelli
Salomão Schvartzmann
Gerência de planejamento diretor-Vice-Presidente
Silvio Tini de Araújo
Carmen Maria de Sousa Beatriz Mendes G. Pimenta Camargo
Therezinha Maluf Chamma
gerência de projetos diretor-Secretário Geral
CONSELHO FISCAL
Renata Viellas Rödel Luiz Pereira Barretto
efetivos
gerência de produção diretor-Tesoureiro Ângela Zechinelli Alonso
Elena Grosbaum Alberto Emmanuel Whitaker Ayrton Francisco Ribeiro
Coordenação administrativa diretor da Biblioteca Benedito Dario Ferraz
Thais Coturri Rodolfo Oswaldo Konder suplentes

coordenação de Pesquisa diretores José Roberto de Mattos Curan


Tatiana Sampaio Ferraz Antonio Carlos Lima Noronha Julio Linuesa Perez
Carlos Roberto de Abreu Sodré Luiz Arthur Pacheco de Castro
Produção
José Roberto Pimentel de Mello EQUIPE TÉCNICA
Fernanda Engler Luiz de Camargo Aranha Neto
Marta Masiero Pedro Antonio Galvão Cury
superintendente
Natasha Barzagui Geenen administrativo e financeiro
Sandra Pandeló CONSELHO DELIBERATIVO Fernando Pinho
Waleria Alexandrino Dias presidente curador coordenador
Assistência
Adib Jatene José Teixeira Coelho
Fabíola Antônio vice-Presidente curador-conservador chefe
Gustavo Seraphim Martins de Almeida Aluízio Rebello de Araújo Luiz Sadaki Hossaka
Renato Souza Cordeiro
secretário administrador
Estagiários Paulo Donizete Martinez Celso Vieira
Henrique Tadeu da Silva
membros coordenadora do acervo
Hosana Cristina Chaves
Alexandre José Periscinoto e desenvolvimento cultural
Isabela Gatti Pereira Rodrigues
Antonio Beltran Martinez Eunice Moraes Sophia
Nina Standerski
Augusto César P. de Azambuja Filho
coordenadora de biblioteca
Informática e Produção Danilo Santos de Miranda
Ivani di Grazia Costa
de Materiais Multimídia Gilda Figueiredo Ferraz de Andrade
Base7.Info Projetos de Informática Aplicada Graziela Matarazzo L. di Santo Janni coordenadora da escola do MASP
Luís Henrique Moraes João Brasil Vita Silvia Meira
Bruno Favaretto João Dória Jr. coordenadora de espetáculos e eventos
Edson Tadeu de Almeida José Ermírio de Moraes Neto Débora Lauand
Gilson Lemos do Nascimento José Gregori
Ricardo Irineu de Souza Jovelino Carvalho Mineiro Filho coordenadora de intercâmbio
Julio José Franco Neves Eugênia Gorini Esmeraldo
Assessoria de Imprensa Luiz Marcos Suplicy Hafers coordenador do serviço educativo
Manoel Francisco Pires da Costa Paulo Portella Filho
ECCO Escritório de Consultoria e Comunicação Maria Lúcia Alexandrino Segall
Newton Gagioti coordenadora de conservação e restauro

A Base7 é uma empresa do grupo Ink, um dos principais Nizan Mansur de C. Guanaes Gomes Karen Cristine Barbosa
grupos de produção audiovisual e cultural do país, em Paulo José da Costa Júnior supervisora de produção de exposições
atuação há dez anos e composto de Margarida Flores, Paulo Saad Jafet Marcela Tokiwa Obata dos Santos
Colméia Produção de Conteúdo Digital, Ipanema Pedro Franco Piva
Entretenimentos, Cia das Licenças e Academia de Cultura.
Agradecimentos
Esta exposição contou com a colaboração de inúmeras pessoas, às quais queremos agradecer:

por terem generosamente compartilhado seus arquivos e respondido pacientemente a nossas perguntas,

Marie-Thérèse Souverbie-Bulloz, Jeanne-Marie Pubellier, Pierre Bulloz, descendentes de Jacques-Ernest Bulloz, e Françoise Masson-
Bergerot, cujo avô foi companheiro de armas de Victor Pannelier no México;
por seus conselhos sempre sábios, seu conhecimento e sua amizade,

Arsène e Anne Bonafous-Murat, Catherine Mathon, Dominique de Fontréaux, Françoise Heilbrun, Hélène Lafont-Couturier,
Hélène Rouvier, Joëlle Bolloch, Marc Durand, Marie-Sophie Corcy, Martine d’Astier, Monique Le Pelley Fonteny, Quentin Bajac,
Sylviane de Decker, Sylvie Aubenas e Yves Lebrec;
pelas informações que nos transmitiram,

Alain Barbier Sainte Marie, Amélie Simier, Anne de Mondenard, Francesca Bacci, Geneviève Lacambre, Jean-Claude Gelineau,
Jean-Daniel Pariset, Jordi Viusà, Marie-José Lecoeur, Monique Moulène, Pascale Lesec, Philippe Mariot, Roger C. Conover,
Stijn Alsteens e Valérie Sueur;
por sua ajuda preciosa durante a preparação da exposição,

Cédric Lesec e Damien Bril;


pela restauração das obras expostas,

Giulia Cucinella;
queremos agradecer também, por seu envolvimento, a toda a equipe do musée rodin:

Aline Magnien, curadora-chefe do patrimônio; Nadine Lehni, curadora-chefe do patrimônio; François Blanchetière, conservador
do patrimônio; Hélène Marraud, Diane Tytgat e Bénédicte Garnier, documentalistas, departamento de coleções; Françoise Gaborit,
curadora do patrimônio; Véronique Mattiussi, documentalista, departamento de arquivos; Sandra Boujot, arquivista; Cécile
Geoffroy, bibliotecária; Annie-Claude Demagny, responsável pelos seminários; Jérôme Manoukian e Anne-Marie Chabot, depar-
tamento fotográfico; Edwige Ridel e Jean-Baptiste Chantoiseau, departamento editorial; Philippe Bijon, Brigitte Monnier e Thierry
Forbice, departamento comercial e editorial; Philippe André-Bernavon, secretário geral e administrador civil; Laurent Bernard,
responsável pelo departamento cultural; e Elisabeth Saillant, advogada.

Somos gratos também à colaboração de Alexandre François, Ana Brant, Ana Luísa Veloso, Associação Pro-Cultura Palácio das
Artes - APPA, Carolina Arantes, Cassiana Rejane de Souza, Comissariados do Ano da França no Brasil, nas pessoas de seus
Presidentes Danilo Santos de Miranda e Yves Saint-Geours, além de Anne Loyout, Aurea Leszczynski V. Gonçalves e Moema
Salgado, Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais, Damião Rocha Moreira, Deiglesson Cirilo da Silva, Eduardo Vasconcelos,
Eliana Oliveira, Elisa Leite, Empresa de Transporte e Trânsito de Belo Horizonte - BH Trans, Escola Guignard, Gladyston Souza
Marques, Iveco Latin America, Joana Braga Reis, José Aliano, Júlia Agostini Guimarães, Luciana Maluf, Marcelo Alencar, Márcio
França Baptista de Oliveira, Márcio Jannuzzi, Márcio de Lima Leite, Matthieu Rödel, Ministério da Cultura, Nadine Hermand, Pedro
Henrique Rubião do Val Maciel, Pinacoteca do Estado de São Paulo, por intermédio de seu diretor, Marcelo Mattos Araujo,
On Projeções, Petterson Guerra, Polícia Militar de Minas Gerais, Prefeitura de Belo Horizonte, Prefeitura de Nova Lima, Rafaela Possa
Stanigher, Roberto Baraldi, Sérgio Burgi, Shirley Campos, Suvinil, Thiago Somavilla, Thierry Arnoult, Valmir Elias e Yuri Lauar.
Este catálogo foi composto
em fonte Frutiger e Felix Titling.
Miolo em
Couché Matte 150 g/m2
fabricado pela Cia. Suzano de Papel e Celulose
Capa em
Supremo Duo Design 350 g/m2
fabricado pela Cia. Suzano de Papel e Celulose

São Paulo SP Brasil 2009.

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