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Aculturarte

Magazine de Cultura e Arte WWW.ACULTURARTE.BLOG.COM

ARTES PLÁSTICAS
ARTES DE PALCO
LITERATURA
CINEMA
MÚSICA

Aculturarte - Revista de Cultura e Arte |


ano 1 | número 5 | Agosto 2008
As propostas de publicidade devem ser enviadas para aculturarte@sapo.pt
Editorial
A Aculturarte preserva no ven- Senhor Soares”, uma novela entre o
tre a ideia de que a cultura e a arte romance e a biografia, mais romance
movem moinhos, daí que este seja que biografia, à volta da figura de
um mês rodeado de grandes novi- Bernardo Soares, um dos heteróni-
dades artísticas e culturais. mos de Fernando Pessoa, narrador
Começo por destacar o tema de do Livro do Desassossego.
capa, o espetáculo de Anton Pavlo-
vitch Tchékhov, “Platónov” levado Quanto à secção de cinema indi-
a cena no Teatro Nacional de S. camos a belissima “Colecção Alfred
João sob a direcção de Nuno Car- Hitchcock”, essencial para qualquer
doso. Um espetáculo que reflete o admirador da sétima arte. Esta
que de melhor se faz no teatro por- colecção reúne cinco dos mais fa-
tuguês. Nuno Cardoso que conce- mosos filmes do mestre do suspanse.
deu uma entrevista ao “Manual do
Leitor”(manual cedido no espetácu- A finalizar, na secção de música
lo) que aqui reproduzimos. apresentamos a entrevista dos “The
Ao nível das Artes plásticas, Raveonettes” ao jornalista espan-
destaque para a exposição de hom- hol Aldo Linares. Nesta entrevista
enagem a Manoel de Oliveira que se ficamos a conhecer melhor o intenso
encontra patente em Serralves, e que quarto álbum(“Lust Lust Lust”) des-
peocura consagrar o mestre da sé- ta dupla dinamarquesa.
tima arte de Portugal.
Quanto à literatura, sugirimos o Saudações culturais…
livro de Mário Cláudio “Boa Noite, Ricardo Lemos
Indice

Artes Plásticas
MANOEL DE OLIVEIRA
DAVID GOLDBLATT
TODAS AS HISTÓRIAS
ESCRITOS DE ARTISTAS
CRIATURAS | CAROLE PURNELLE E NUNO
MAYA
Guillaume Leblon
1 + 1 + 1 = 3 Robert MacPherson Man-
fred Pernice
Willem Oorebeek MONOLITH, Once or
Many
Cinema
PHOTOESPAÑA 2008 - Matadero
O Estado Mais Quente
“COM(N)TENS(Ç)ÕES”
Shotgun Stories
Artes de Palco
Colecção Alfred Hitchcock
Platónov
Baile de Outono
o quarto “pé”
WALL.E
UM PROJECTO DE JOÃO GARCIA MIGUEL
Into The Wild
AS CRIADAS DE JEAN GENET
Yo Soy La Juani
“O Inferno”
O piano
“OTÁRIO DOING AGAIN”
Kiss Me Deadly (1955)
SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO
Azuloscurocasinegro
ESTADOS ERÓTICOS IMEDIATOS
Música
Literatura
Foals - Antidotes
Istambul - Memórias de uma Cidade
White Stripes - “Under Blackpool Lights”
A Teoria das nuvens
Topspin
O Homem Lento
Ra Ra Riot
O Pavilhão das Peónias
MADAME GODARD
Boa Noite, Senhor Soares
animal collective
O Inútil da Família
The Astroboy
Uma Janela para o Infinito
The Raveonettes
Os Detectives Selvagens
Minilogue – “Animals”
Caos Calmo
O Existencialismo e a Sabedoria das Na-
ções
o
C al a Aculturarte

r
1- Um programa piloto cujo conteudo

o
Informam-se todos os intressados que seja relevante para a grelha da Acultu-

b es
a Aculturarte está à procura de colabo- rarte rádio, assim como o respeito dos
radores para a sua revista de edição direitos de autor de terceiros.
mensal e para a sua rádio. 2- Uma pequena biografia com cerca
A estas pessoas cabe a responsabili- de 1000 palavras.
dade na elaboração/criação de artigos 3- A assinatura dos termos de respon-
(no caso da revista) para constarem na sabilidade e de cedência dos direitos
edição mensal da Aculturarte Mag# e dos seus textos a Aculturarte Mag#.
a elaboração/criação de programas de 4- o programa deve possuir um rig-
rádio para a Aculturarte rádio. oroso padrão de qualidade sonora.

r
Estamos à procura preferencialmente
de estudantes da área da comunicação,

o
no entanto, e porque sabemos que ex- 1- Os colaboradores comprometem-se

d
istem por aí uns quantos entusiastas a ceder os direitos do seu texto á Acul-
da escrita, como jornalistas amadores, turarte.
escritores frustrados, artistas de circo 2- A Aculturarte comprometem-se a
reformados e lutadores de boxe reti- identificar o autor de cada texto e a ga-
rados, estamos abertos a todo o tipo e rantir tempo de antena a cada colabo-
propostas desde que estejam suspensas rador.
em pilares de qualidade.
TODAS AS PROPOSTAS DEVEM
- Aos pretendentes para a parte escrita SER ENVIADAS PARA aculturarte@
pedimos: sapo.pt
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1- Textos afim de atestar a sua quali- DEM ALOJAR O CONTEÚDO EM
dade de escrita. QUALQUER SITE DE HOSPEDA-
2- Uma pequena biografia com cerca GEM, ENVIANDO UNICAMENTE
de 1000 palavras. O LINK VIA EMAIL.
3- A assinatura dos termos de respon-
sabilidade e de cedência dos direitos http://www.aculturarte.blog.com
dos seus textos a Aculturarte Mag#.
(Agradecíamos que fizessem circular

Aculturarte
- Aos intressados para a rádio Acultu- esta mensagem pelos possiveis intres-
rarte pedimos: sados.)
PLÁ AR
STIC TES
AS
#01

MANOEL DE OLIVEIRA
DAVID GOLDBLATT
TODAS AS HISTÓRIAS
ESCRITOS DE ARTISTAS
CRIATURAS | CAROLE PURNELLE E NUNO
MAYA
Guillaume Leblon
1 + 1 + 1 = 3 Robert MacPherson Manfred
Pernice
Willem Oorebeek MONOLITH, Once or
Many
PHOTOESPAÑA 2008 - Matadero
“COM(N)TENS(Ç)ÕES”
MAN
OEL D
OLIV E
EIRA

MANOEL DE OLIVEIRA roso


12 Jul - 02 Nov 2008 - MUSEU > 05 OUT (Dom), 18h30, por Luís Miguel Cin-
tra
Esta primeira mostra do trabalho do cineasta > 14 OUT (Ter), 18h30, por António Preto
no formato expositivo centrar-se-á no modo
como Manoel de Oliveira reinventou o cin- > Visitas aos Sábados às 17h00 e aos Domingos
ema através de uma linguagem que lhe é única. às 12h00, pela equipa do Serviço Educativo.
Paralelamente está programado um ciclo de > Visitas diárias, mediante marcação prévia.
cinema, onde serão exibidos no Auditório do
Museu de Serralves todos os filmes que Manoel SET-NOV 2008
de Oliveira realizou até ao momento. Ciclo de cinema dedicado a Manoel de Oliveira
(datas a anunciar)
Comissariado: João Bénard da Costa / João
Fernandes Seminário
Produção: Fundação de Serralves MANOEL DE OLIVEIRA: O MODERNO
PARADOXAL
VISITAS GUIADAS 07-10 OUT 2008, 18h30-21h00
> 24 JUL (Qui), 18h30, por João Bénard da
Costa e João Fernandes Simpósio Internacional dedicado à obra de Ma-
> 09 SET (Ter), 18h30, por João Fernandes noel de Oliveira (datas a anunciar)
> 25 SET (Qui), 18h30, por Eduardo Paz Bar-
DAVID GOLDBLATT

DAVID GOLDBLATT: INTERSECÇÕES IN-


TERSECTADAS Conversa com David Goldblatt e Ulrich Loock
26 Jul - 12 Out 2008 - MUSEU (em inglês)
26 JUL 2008 (Sáb), 17h00
Internacionalmente reconhecidas, as fotogra-
fias de David Goldblatt estão profundamente
radicadas na realidade da África do Sul. Até à VISITAS GUIADAS:
abolição do regime do apartheid, em 1994, o
artista confinou-se deliberadamente às imagens >11 SET 2008 (Qui), 18h30, por Ulrich Loock
a preto e branco, escrutinando as condições (em inglês)
de vida da dominante classe branca e as da
restante população, fortemente discriminada. >30 SET 2008 (Ter), 18h30, por Ricardo Nico-
Depois de 1994, Goldblatt aventurou-se no lau
domínio das imagens a cores de paisagens de
grande escala. Que significado tem para um ar- >Aos Sábados das 17h00 às 18h00 e aos Do-
tista uma mudança profunda na realidade a que mingos das 12h00 às 13h00, orientadas pela
estivera ligado anos a fio? equipa do Serviço Educativo.
>Diárias, mediante marcação prévia.
Comissariado: Ulrich Loock
Produção: Fundação de Serralves
TODAS AS HISTÓRIAS
TODAS AS HISTÓRIAS Weiner, e ocupa o primeiro piso do Museu e a
26 Jul - 02 Nov 2008 - MUSEU Casa de Serralves*.

A exposição “Todas as histórias” apresenta Comissariado: Isabel Braga e Sandra


uma selecção de filmes da Colecção da Funda- Guimarães
ção de Serralves, alguns agora exibidos pela Produção: Fundação de Serralves
primeira vez no Museu. As obras abordam,
sob uma variedade de formas, a migração da *A exposição na Casa de Serralves encerra a
linguagem cinematográfica para o campo das 14 de Setembro.
artes plásticas, e reflectem sobre questões im-
plícitas ao género do cinema, tais como a nar- VISITAS GUIADAS
rativa, o tempo, o espaço ou a construção de > 12 SET 2008 (Sex), 18h30, por Isabel Braga
imagens. e Sandra Guimarães
Esta mostra reúne obras de artistas portugueses
e estrangeiros tais como Eleanor Antin, Vasco > Visitas aos Sábados às 17h00 e aos Domin-
Araújo, Christian Boltanski, Marcel Brood- gos às 12h00, pela equipa do Serviço Educa-
thaers, Tacita Dean, Runa Islam, Gordon Mat- tivo.
ta-Clark, João Onofre, Michael Snow, Frances- > Visitas diárias, mediante marcação prévia.
co Vezzoli, John Baldessari, Pedro Costa, Juan
Downey, Ant Farm e T.R. Uthco, Anna Bella
Geiger, Douglas Gordon, Steve McQueen,
Antoni Miralda e Benet Rossel, João Penal-
va, Yvonne Rainer, Pipilotti Rist e Lawrence
ESCRITOS DE
ARTISTAS

ESCRITOS DE ARTISTAS
12 Jul - 19 Out 2008 - BIBLIOTECA

O espaço para exposições da biblioteca será transformado numa grande sala


de leitura, onde o público terá acesso a uma centena de publicações que
reúnem textos teóricos escritos por artistas (Van Gogh, Giacometti, Richard
Long, etc.)

Comissário: Guy Scharenen


Produção: Fundação de Serralves
O M A Y A
E E N U N
U R N E L L
A R O L E P
U R A S | C
CRIAT

“As Criaturas” é uma exposição de artes plásticas e multimédia que passa pelo univer-
so da fotografia, do vídeo, da instalação física e virtual.
De 1 de Julho a 31 de Agosto
De terça-feira a sexta-feira das 10:00 às 13:00 e das 14:00 às 17:00
Sábados, Domingos e Feriados das 11:00 às 13:00 e das 14:00 às 18:00
Encerra à segunda-feira

M/3 ANOS

SALAS do CPA

PREÇOS
1€ visita à exposição
2€ visita à exposição e oficina dias úteis
4€ visita à exposição e oficina fins-de-semana

OFICINAS (sob marcação)


De terça-feira a sexta-feira das 10:00 às 12:00 e das 14:00 às 16:00
Sábados, Domingos e Feriados das 15:00 às 17:00

Nesta exposição, vamo-nos encontrar com criaturas que pertencem a mundos imag-
inários, mas com quem nos podemos cruzar no quotidiano, porque o mundo que nos
rodeia está vivo…Numa viagem pelo mundo fantástico de As Criaturas iremos conhec-
er dois Totem, criaturas do mundo, criaturas de telhado, vestígios de criaturas marin-
has, criaturas luminosas, criaturas de praia e de pedras vivas. A exposição é acompan-
hada de oficinas que levam o público a inventar e a criar outras criaturas através de
plataformas interactivas, que se vão juntar à comunidade que já existe.
Guillaume
Leblon
Aumento & Dispersão

O trabalho de Guillaume Leblon (Lille, 1971) situa-se predominant-


emente nos domínios da escultura e da instalação, embora abarcando
outros media como o filme e o desenho. O artista incorpora frequent-
emente o espaço expositivo no seu trabalho, seja para realizar insta-
lações pensadas e desenvolvidas especificamente para um lugar, seja
para encenar ambientes e atmosferas a partir da relação entre diferentes
peças que podem existir autonomamente. As suas obras, feitas a partir
de materiais e procedimentos construtivos simples, exploram com
enorme subtileza uma relação entre a familiaridade das formas e ima-
gens que as constituem e a estranheza e abertura das narrativas e dos
significados que esboçam. Nelas sobressai igualmente o interesse de
Leblon em questionar o processo de produção artística e em suscitar no
espectador determinados estados perceptivos. Esta exposição coincide
com uma fase de crescente visibilidade internacional do trabalho de
Leblon, desde a sua exposição individual no Kunstverein de Düsseldorf
em 2006. Ela ocorre no seguimento de uma série intensa de exposições
individuais, sucedendo à que realizou, no início deste ano, no Domaine
de Kerguéhennec, em França, e coincidindo com uma outra no Centro
Galego de Arte Contemporánea, em Santiago de Compostela.

Curadoria:
Miguel Wandschneider
1+1+1=3
Robert MacPherson
Manfred Pernice
.DWHLQDÂHGž
Este é o primeiro de uma série de projectos que, ao longo dos próximos anos, irão
enriquecer a programação da Culturgest com uma multiplicação de pontos de vista
curatoriais construídos a partir de uma mesma premissa: a realização simultânea de
três exposições individuais que dialogam entre si e, em última instância, perfazem
uma exposição colectiva. A este desafio respondeu Trevor Smith com a escolha de três
artistas de diferentes gerações, cuja prática está profundamente enraizada no contexto
cultural e social das cidades onde vivem e trabalham: Robert MacPherson (Brisbane,
Austrália, 1937), Manfred Pernice (Hildesheim, Alemanha, 1963) e Kateřina Šedá
(Líšeň, República Checa, 1977).
A partir de experiências de vida, preocupações e abordagens muito diferentes, todos
eles activam objectos modestos, materiais simples e processos criativos que emergem
fora da arena santificada da arte contemporânea como meio para explorar aspectos da
cultura que foram marginalizados ou estão a desaparecer sob o impacto das mudanças
sociais e económicas avassaladoras das sociedades contemporâneas.

Curadoria · Curator:
Trevor Smith
a n y
n c e or M
TH , O
NO L I
M O A prática artística de Willem Oorebeek (Pernis, Holanda, 1953) distingue-se,

eek
desde logo, pela utilização persistente de um medium tradicional cada vez mais

Oo r e b em desuso, e em grande medida desvalorizado, na arte contemporânea: a li-


tografia. Nos últimos dez anos, a sua produção incidiu quase exclusivamente

i l l e m numa série de obras (BLACKOUT) em que se apropria de materiais impres-

W
sos que circulam no universo torrencial da comunicação de massas, cobrindo
essas imagens com uma camada de tinta negra que, mais do que reduzir a sua
visibilidade, as transfigura por completo. A par destes trabalhos, que operam
um idiossincrático e desviante cruzamento entre arte pop e arte conceptual, a
exposição apresenta muitos outros, realizados desde o final da década de 1980,
desvendando assim a complexidade de uma trajectória artística marcada pela
exploração das possibilidades do processo material de impressão litográfica e
por uma abordagem crítica dos usos e significados da imagem e do texto im-
pressos na sociedade contemporânea. A exposição envolve ainda a participação
de outros artistas com obras que, na sua maioria, resultam de uma colaboração
com o artista: Koenraad Dedobbeleer, Christoph Fink, Rita McBride, Asier
Mendizabal, Imogen Stidworthy e Joëlle Tuerlinckx.

Curadoria · Curator:
Miguel Wandschneider
PHOTOESPAÑA 2008 - Matadero
João Maria Gusmão / Pedro Paiva
HORIZONTE DE ACONTECIMENTOS

Comissariada por Natxo Checa, João Maria Gusmão e Pedro Paiva propõem para PHotoEspaña 2008 na
sala Abierto por Obras de Matadero Madrid, uma exposição fundamentada na hipótese da existência de
um corpo celeste situado num lugar de uma órbita interplanetária.
A mostra, destinada a perfilar uma metafísica de lugar, reúne uma série de trabalhos recentes formulan-
do possibilidades para a compreensão de um suposto planeta que se revela pela sua sombra.

Matadero Madrid - Paseo de la Chopera 14 | 28045 Madrid

De 6 de Junho a 28 de Agosto. De Segunda a sábado das 11h às 21 horas. Domingos das 10h às 15 hor-
as. Entrada Livre.
Exposição de fotografia de Raul
Costa

“COM(N)TENS(Ç)ÕES”

Vai estar patente na Galeria de Exposições do Posto de Turismo Mu-


nicipal, na Moita, a partir de dia 19 de Julho, a exposição fotográfica de
Raul Costa: “COM(N)TENS(Ç)ÕES”. Esta exibição pode ser visitada até ao
próximo dia 2 de Agosto.

Raul Costa, aliás “aliusvetus”, 53 anos, natural de Peniche, informático


de profissão, residente em Alhos Vedros desde 1996, assume-se como
autodidacta e convictamente amador. Deu os primeiros passos ainda
muito jovem no filme p/b de médio formato e posteriormente o
de 35mm. Actualmente, encontra-se totalmente rendido à fotogra-
fia digital, a qual, segundo ele próprio, lhe abriu portas para um mundo
deslumbrante e “febril” de criatividade e recursos técnicos.

Tendo sido membro de várias comunidades fotográficas na Internet,


tem a sua actual galeria on-line no endereço www.pbase.com/aliusve-
tus.

A Galeria de Exposições, no Posto de Turismo Municipal, pode ser visita-


da, nos dias úteis, das 9:00h às 12:30h e das 14:00h às 18:00h e aos sába-
dos das 10:00h às 13:00h e das 15:00h às 18:00h.
DE A R
PAL TES
CO
#02

Platónov
o quarto “pé”
UM PROJECTO DE JOÃO GARCIA MI-
GUEL AS CRIADAS DE JEAN GENET
«O Inferno»
“OTÁRIO DOING AGAIN”
SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO
ESTADOS ERÓTICOS IMEDIATOS
o quarto “pé”
Entrevista com Nuno Cardoso. Por Alexandra Moreira da Silva

Alexandra Moreira da Silva Nas entrevistas que trei e continuo a encontrar em Tchékhov, que é uma
deu nestes últimos dois, três anos, o Nuno evoca partilha de olhares sobre a sociedade, mas a uma
com alguma frequência Tchékhov, como um dos visão sobre aquilo que nós, as pessoas do teatro,
autores que gostaria de encenar, e refere o dese- fazemos. E sim, já tive uma vontade brutal de a
jo de abordar, num futuro próximo, uma obra encenar, mas a oportunidade de fazer Platónov sur-
concreta: A Gaivota. Eu começaria por lhe per- giu primeiro. Eu, à semelhança do João Garcia, que
guntar as razões que o levaram a fazer aquilo quer escalar todas as grandes montanhas do mun-
que me pareceu ser um desvio no seu projecto do, quero encenar a totalidade da obra dramática de
tchekhoviano inicial, abandonando A Gaivota, Tchékhov. Gostava de ter a sorte de o fazer.
e a encenar aquela que é a obra inaugural de
Tchékhov. Essa vontade é extensível a outros autores, ou
está circunscrita a Tchékhov?
Nuno Cardoso Não se trata de um desvio, porque Há obras de outros autores que eu quero muito
a vontade de encenar Platónov existia antes de A fazer, como por exemplo O Inimigo do Povo, de
Gaivota. Eu comecei por descobrir Platónov com Ibsen, Hamlet e Henrique IV, de Shakespeare, esta
Point Blank, dos STAN [espectáculo que se estreou última porque quero trabalhar a personagem de
em Agosto de 1998, no Festival Citemor, Monte- Falstaff. Gostava de fazer Racine, quero voltar a
mor-o-Velho], que era uma versão muito trendy, Ésquilo, tenho uma vontade imensa de regressar
muito blasé de Platónov. E fiquei desde logo muito aos textos da Antiguidade Clássica, porque quero
fascinado pela personagem. Andei muito tempo trabalhar com Frederico Lourenço, que é uma pes-
até descobrir uma tradução e quando finalmente a soa que admiro muito como tradutor. Resumindo
encontrei e li, o meu entusiasmo arrefeceu um bo- e concluindo, tenho planos de trabalho até à idade
cadinho: não compreendi muito bem a tradução e da reforma. [Risos.] Quero fazer muita coisa, pos-
achei a obra dispersa. Mas Point Blank levou-me a so até falar-lhe de um programa, mas da maneira
ler toda a obra dramática de Tchékhov, e fui desco- como evoluiu o contexto cultural português, no-
brindo ligações precisas entre o universo que ele meadamente na área das artes performativas, é im-
evoca e o meu próprio universo. Isto porque não possível a um encenador novo, que surge e cresce
me considero uma pessoa muito citadina, apesar neste contexto, desenvolver um programa. Quando
de as minhas encenações evocarem esse lado de muito, pode concretizar projectos, o que resulta
vivência urbana. Eu sou um rural, se quisermos, numa inversão importante e digna de reflexão por
nasci e cresci na província. Todo o meu imaginário quem de direito, já que é completamente antitética
está ligado a uma sociedade rural: estratificada, em relação aos princípios do teatro português con-
fechada, logo, clinicamente observável. E como temporâneo, sustentado no trabalho de companhias
só trabalho coisas que têm que ver com as minhas fundamentadas por programas que as definem e
ressonâncias, tudo isso me ligou muito a Platónov. têm mais ou menos norteado e caucionado o seu
A Gaivota surge não tanto ligada àquilo que encon- percurso e projectos.
Podemos então dizer que, neste momento, o fantásticos, têm trabalhado muito.
Nuno vai concretizando projectos do seu pro-
grama? Também a partir das entrevistas que foi dando,
Exactamente o contrário. Eu vou fazendo projectos parece-me poder concluir que a decisão de en-
e, volta e meia, olho para trás e penso que talvez cenar uma determinada peça depende bastante
tenha um programa. Não sei. Platónov, tendo em da relação que pode estabelecer entre o texto e
conta as suas características – uma obra de juven- algumas das preocupações que a contempora-
tude, inacabada, problemática, muitas vezes con- neidade lhe suscita. Isso também se aplica no
siderada “falhada” e irrepresentável –, tem dado caso de Platónov? Ou seja, Platónov é para si,
origem a inúmeras versões cénicas. Quais as difer- como aliás é dito na peça, “o melhor exemplo da
enças fundamentais entre o texto integral traduzido moderna indefinição”?
por António Pescada e a versão cénica? E, já ago- Quando olhamos para uma mulher bonita pensa-
ra, aproveito para lhe perguntar se a versão cénica mos imediatamente em agarrá-la. Acontece exacta-
também foi trabalhada com o António Pescada. mente o mesmo com um texto dramático. O texto
Em termos de estrutura, a versão cénica segue que me apetece fazer tem de se parecer com uma
muito de perto a versão integral. Fiz alguns cortes,mulher muito bonita. [Risos.] Agora mais a sério:
sobretudo nos momentos em que a obra me parece um texto desperta a minha curiosidade quando me
excessivamente digressiva e descritiva – palavrosa, leva a questionar a minha conduta como cidadão,
se quisermos. Eliminei coisas que me pareceram como artista. No caso concreto desta peça, aquilo sedução e o arrependimento valem por si mesmos, gia do rei, porque era anão, feio, não fazia parte
dispensáveis, como um determinado número de que desde logo me agarrou foi a personagem de e tudo acaba muito subitamente. A cidade do Porto da realidade. Era-lhe permitida a crítica, mas essa
convenções que estão plasmadas no texto e que, a Platónov. Ele é o retrato fiel, ou se quisermos, uma é uma boa amostra deste estado de coisas, porque crítica não tinha uma consequência imediata na
meu ver, não são necessárias no teatro actual. caricatura, uma alegoria do homem contemporâ- é uma cidade sem memória. Não há memória sociedade. Platónov assume esse papel no primeiro
neo. Ontem, em casa, estava a pensar que vivemos das companhias teatrais da década de 90, não há acto, bem com o papel do sedutor, o Don Juan, o
Mas que são, também, características da obra tão esmagados pela globalização, tão angustiados memória do mito fundador que foi António Pedro, Hamlet. Aliás, Hamlet escolhe a loucura, põe-se
de Tchékhov, “complicada como um romance”, por essa completa facilidade de sabermos tudo o e por aí fora. É uma cidade que está sempre no fora da realidade para dizer a verdade.
diz o autor, a propósito de As Três Irmãs, que se passa, a todo o momento, em todo o lado, mesmo sítio, que está sempre a começar do zero.
numa carta à actriz Kommissarjevskaia… O vivemos tão absorvidos pelo aquecimento global, A sociedade de Platónov é vampiresca, também As alusões a Hamlet são, aliás, bastante evident-
abandono do drama às perversões do romance pelas guerras, que de repente nos desresponsabi- nunca sai do mesmo sítio, nunca. Quando Anna es, Tchékhov não esconde a importância dessa
parece-me bastante evidente em Platónov… lizamos completamente da nossa individualidade, Petrovna lhe diz qualquer coisa como “você andou referência…
Sim, é uma obra quase eufórica no sentido da das nossas vivências no nosso pequeno burgo, no a seduzir outra vez e, como no ano passado, anda Aquilo que lhe despertou o interesse pelo teatro foi
descoberta da escrita teatral, ainda contaminada nosso bairro, na nossa família. A peça começou sempre bêbado”, ficamos com a sensação de que precisamente uma representação de Hamlet que ele
por pedaços de narrativa que não pertencem, diga- por chamar‑se Órfão de Pai, e a sociedade portu- Platónov está a rever o filme da temporada ante- viu muito jovem em Taganrog, a sua cidade natal.
mos, ao dizer e ao fazer teatrais. Os cortes foram guesa continua a dizer às pessoas da minha gera- rior: ele hiberna durante seis meses e depois, semDon Juan também é outra personagem fora da re-
feitos por mim, com a completa anuência do ção que não somos propriamente órfãos de pais, memória, volta a fazer a mesma coisa, nunca sai alidade. Todos elas são inconsequentes, como aliás
António Pescada. Mas devo confessar que fiquei mas antes que não somos bem vistos pelos nossos do mesmo sítio. Tem o seu momento de sedução, o presidente da Assembleia Geral da ONU é abso-
um bocadinho insatisfeito com eles, porque obede- pais, e vice-versa. Há uma imensa fenda de inco- de dor, de catarse, etc., e depois regressa à toca.
lutamente inconsequente quando confrontado com
ceram a uma estratégia muito racionalizada, obvia- municabilidade. Estamos órfãos de referências. a realpolitik. As pessoas que têm consequências
mente com um fundo prático: ao fazê-los eu estava Esta sociedade produz muitos falhados… E tudo isso redunda na ligeireza dos propósi- reais são aquelas que produzem efectivamente mu-
a imaginar a cena, mas não foram experimentados. tos e das conversas, que é indispensável àquela danças. Na peça, os seres reais são Vengueróvitch,
Começaram a ser feitos antes e foram finalizados Como Platónov? “tribo” para de certa forma esconder a verdade Pétrin e Bugrov. Trilétski, que é uma espécie de
nos primeiros ensaios. Exactamente. Corremos o risco de sermos uns fal- das relações, que são efectivamente mais compl- negativo de Platónov, também diz as verdades e di-
hados tonitruantes, com estilo, uns putativos artis- exas do que aparentam, nomeadamente quando las a ele, acontece que Platónov não as quer ouvir.
Foi a falta de tempo que determinou essa op- tas de gaveta, que pululam cada vez mais por aí. envolvem questões relacionadas com a proprie- Eles funcionam quase como uma só personagem.
ção? Vivemos numa sociedade em que as relações de dade, o dinheiro, o amor. E, no entanto, a única Anna Petrovna também tem momentos de verdade,
Obviamente, porque nos falta sempre tempo. Cada sedução são predominantes, em que é glorificado personagem que vai dizendo algumas verdades de tensão. Há pouco falou em ligeireza, mas eu
vez mais sinto vontade de experimentar, sem a na televisão o estilo, o bronzeado, em que se fala é Platónov… preferiria falar em vitalidade. Aqui, a vitalidade é
necessidade de chegar a um resultado. Poderíamos mau português nas séries juvenis, e aqui falar mal Sim e não. Pétrin também diz muitas verdades, usada como estratégia de morte, e isto é curioso
chamar a estes dois meses e meio de ensaios um não é falar com sotaque, mas falar mal gramati- mas é muito unívoco, ele só pensa no dinheiro e porque Tchékhov era médico: algumas horas antes
sprint final com vista a um resultado. Mas fiquei calmente – e isso é valorizado. É uma sociedade vai dizendo o que pensa realmente disso. Platónov de morrer, qualquer ser vivo tem uma injecção de
triste por não ter conseguido encontrar, no meu sem responsabilidade, sem memória, ou melhor, é, no fundo, um enfant terrible, e como todos os vitalidade, são as chamadas “melhoras da morte”.
processo criativo, uma possibilidade para os ex- que renega a sua memória. Mas a memória viva enfants terribles diz as verdades como se fossem A estratégia desta peça passa muito por essa noção
perimentar, para os testar com os actores. Mas os também renega aquilo que gerou, estamos um bo- mentiras, mas sem consequências. É como um de vitalidade da morte, e quando ela aparece é uma
cortes estão a funcionar bem, e os actores têm sido cadinho neste reino de possibilidades, em que a bobo. Ao bobo era-lhe permitida fazer a escatolo surpresa.
O Platónov do seu espectáculo é “cínico e blasé se: ela pede constantemente ao espectador que se …mas que o risco de descarrilamento é iminen- de palavras, de movimentações, que acabam por
”? instale e interprete. te… nos conduzir a uma ideia de grupo, de calor, de
Um bocadinho. Acho que é um Platónov um bo- Sim. província…
cadinho contemporâneo, um bocadinho fútil, se O que acaba de dizer faz-me pensar numa en- …de tribo.
quiser. Podia ser um bocadinho mais incisivo, trevista que o encenador italiano Romeo Cas- Exactamente. De maneira que a dada altura não sa-
talvez. Mas não encontro em mim, nem na socie- tellucci deu recentemente, onde ele afirma que bia o que fazer com a música. A primeira ideia foi
dade que me rodeia, mais profundidade do que “a missão do artista não consiste tanto em dar convidar um músico de rua para vir tocar connos-
isso. a sua visão ou em transmitir a sua mensagem, co: ao mesmo tempo que trabalhávamos nas im-
mas muito mais em suscitar o poder de criação provisações, ele ia tocando e a coisa ia-se fazendo.
Como é que procurou traduzir em termos céni- do espectador”. Concorda com esta afirmação? Abordei duas ou três vezes um músico de rua, per-
cos essa actualidade, ou se preferir, essa atem- Completamente de acordo. Aliás, tenho vindo a guntei-lhe se queria vir tocar no espectáculo, disse-
poralidade que tem vindo a referir? aprender uma coisa: aquilo que eu penso interessa lhe que pagava, obviamente, mas ele fugiu de mim
Eu prefiro falar em atemporalidade. No teatro que muito pouco nas minhas encenações. Interessa no como o diabo foge da cruz. Ou não acreditou em
tenho visto ultimamente, encontro muitas coi- sentido em que me dá o impulso inicial e a von- mim ou, então, achou que o dinheiro que eu lhe
sas construídas a partir de trabalhos conceptuais tade constante de as trabalhar. Se pensar demais, oferecia era muito pouco. Comecei então por co-
dos anos 60, que são importados das artes plásti- começo a fazer legendas, e isso não interessa a locar instrumentos musicais na sala de ensaios, e
cas e transpostos para o palco. As dramaturgias, ninguém. Há alguns criadores fantásticos que a música foi ganhando aquele ar absolutamente
encenações e cenografias, ou a reunião de todas conseguem uma síntese elegante entre aquilo que caótico e aleatório, que eu não quero disciplinar. E
elas, pegam num conceito, voltam a sintetizá-lo, pensam e aquilo que as outras pessoas podem vir a este gesto de não interferência significa um grande
montam-no e inscrevem‑no no quotidiano contem- pensar das suas criações. Mas isso é muito difícil passo em frente para mim. Pela primeira vez,
porâneo, com um toque conceptual. O que torna de fazer.A nossa tentação inicial é cair numa lógica deixo um elemento por trabalhar num espectáculo.
os espectáculos imediatamente reconhecíveis para de efeito que produz ondas de choque, que produz Acho que esse aspecto lhe dá uma vitalidade in-
o espectador. Na minha opinião, são falsamente resultados, e isso é uma lógica publicitária. crível. É sempre a mesma música, a canção “Bés-
actuais, são meros fenómenos de moda. Esse tipo ame Mucho”. Acho que foi uma escolha muito
de encenações rouba tempo às pessoas, porque a Voltando à questão do espaço e do tempo nos acertada, e acho até que ela tem qualquer coisa de
identificação é tão imediata que depois toda a es- seus espectáculos, em Ricardo II, de Shake- pirandelliano, não sei explicar bem porquê, como
tratégia de montagem da peça se faz em termos speare, que o Nuno encenou o ano passado no aliás esta peça tem algo de pirandelliano – em ter-
de efeitos-choque. E porquê? Porque isso fere de Teatro Nacional D. Maria II, o espaço cénico mos coreográficos, são dezasseis personagens à
morte a condição essencial para a fruição da arte, era muito concreto, de uma grande actualidade: procura não de um autor, mas de um desenlace. E
que é a existência de tempo para o pensamento. um campo de futebol. O que é que acontece em esse ambiente começou a desenvolver-se à semel-
Não é o caso da boa arte conceptual, que é aquela relação a Platónov? Essa actualidade funciona hança de uma jam session jazzística, com muita
que concede ao espectador tempo de interpretação. também em função da escolha do espaço onde Aquilo que pude ver nos ensaios a que assisti improvisação à mistura. Todos os actores, feliz-
Nesse sentido, ideologicamente, as peças estão situa a acção? permitiu-me perceber que o trabalho do Nuno mente, sabem cantar e tocar, e é fantástico para um
inscritas na sociedade que criticam, porque se tor- Funciona, mas não funciona com as mesmas regras assenta bastante numa dimensão coreográfica, encenador ter actores assim, porque permite-nos
nam instrumentos de sedução, roubando ao espe- de Ricardo II, onde arrisquei muito, onde estive muito determinada por uma espécie de partitu- brincar ainda mais.
ctador tempo de reflexão, convencendo-o de que pouco preocupado com aquilo que as pessoas iam ra múltipla – corporal, rítmica e musical. Pare-
aquele objecto faz parte da sua vida, enviando-o pensar. Foi um trabalho intuitivo, nesse sentido. ceu-me que, neste caso, a música teria como Mesmo quando dá uma atenção muito particu-
satisfeito para o seu quotidiano, também ele um Era uma metáfora do jogo e um campo de fute- principal função organizar a materialidade dos lar a outras linguagens, o texto e a palavra são
quotidiano alicerçado na ausência de tempo. Tudo bol é uma referência básica. Pois é, e depois? A corpos no espaço. Foi neste sentido que pro- os elementos primordiais dos seus espectáculos?
isto é glorificado e potenciado pelas estruturas de questão é conseguir ou não jogar com ela. O es- curou rentabilizar os conhecimentos dos actores É na palavra que eu me referencio, mas vejo-a
programação europeias, isto porque também elas paço cénico de Platónov é igualmente metafórico, neste domínio? como acção. A palavra, no teatro, precisa de ser
não têmtempo, têm de responder a mecanismos transporta‑nos para um lugar que não é real. Os lu- As minhas peças de ensemble têm sempre uma corpo, e precisa de ser imperfeita. Para existir, a
económico-financeiros: aquilo que lhes é pedido é gares de acção em Platónov não são complexos: a dimensão coreográfica e tendencialmente escolho palavra não precisa de ser perfeita. É por isso mes-
o sucesso imediato. sala de estar, a escola e a floresta. Eu e o cenógrafo textos que à partida me parecem partituras mu- mo que eu adoro actores com pronúncia, acho que
F. Ribeiro trabalhámos a partir da ideia de “fim do sicais. Olho para Platónov como uma sinfonia as palavras ganham uma outra vida.
Como é que o Nuno contraria essa tendência e, caminho”. Queríamos que toda aquela movimen- de vozes. Mas cada vez menos me interessa tra-
ao mesmo tempo, inscreve essa atemporalidade tação acontecesse num espaço desconfortável, que balhar com música, e esse movimento começou
nos seus espectáculos? fosse a um tempo contextualizado e descontextual- com Boneca [a partir de Uma Casa de Bonecas, de
Eu procuro colocar-me num lugar que não é nem izado. Daí as linhas, os carris do comboio. Henrik Ibsen, 2007], onde cortei muitos minutos
o passado nem o futuro – é o teatro. São aqueles à banda sonora. Isto porque me pareceu um pleo-
jogos, aquele tempo em que tudo é feito em cima Simbolicamente, significa que todas as persona- nasmo: a peça já é música, o texto já é música.
da percepção do espectador. Nesta peça, o princi- gens estão… Em Platónov, e isso é notório no primeiro acto, é o
pal actor é o espectador, sem ele aquilo desmonta- …em trânsito, para o futuro… conjunto de actores que vai criando uma polifonia
O p i n i ã o Não, minha querida
Jacinto Lucas Pires*

Não, minha querida, receio que ele não seja he¬rói sério para o caso. O charme extravagante, diga-
nenhum. Nem vilão, nem vítima, nem se¬quer o mos, de alguém que só sabe pecar por omissão.
tal estatístico, enigmático “homem comum” pelo Platónov? Um galã acidental, uma persona gem
qual tanta gente se mostra inte¬ressada. Não, gerúndia, um homem objecto, deixando¬ se ir,
Platónov é talvez um pouco dis so tudo e, ao mes- deixando se levar, e aborrecendo se com a facil-
mo tempo, outra coisa comple¬tamente diferente. idade e o absurdo de tudo. Alguém que não se
Uma invenção russa, mas também uma persona- redime por algum género de idealismo, nem pelo
gem reconhecível em qualquer palco do mundo; humor sequer, e que, apesar disso, também não
um produto do seu tempo lugar, mas também um cai convictamente no desespero, nem nos força a
homem estu-pidamente moderno na sua descon- qualquer espécie de piedade ou como¬ção. Pro-
tinuidade. Uma contradição, enfim, mas de um vocará apenas um certo susto, talvez, e com certe-
tipo dife¬rente do habitual. Uma contradição za muita gargalhada interna. O génio do teatro de
vaga, uma contradição mole, este “professor não Tchékhov parte, brilhan-temente, de um famoso
coloca¬do”: sem conflito aparente, sem real ten- diamante minúscu¬lo: a pequena grande equação
são en¬tre o que tem e o que deseja, entre o que humana que diz: Comédia = Tragédia/Tragédia
é e o que quer ser. Platónov: nos fins do século = Comédia. E também nesta peça – um texto ao
XIX, o es¬cândalo de um protagonista passivo! E mesmo tem¬po póstumo e primeiro – impressio-
chamar lhe protagonista talvez até já seja um ex- na a clareza de tal achado. Mesmo com todo o
cesso. Um homem, apenas, entre outros, um ser excesso, mes¬mo com tanto “barulho” à volta de
ou não ser que nem parece inquietar¬ se muito cada figura. É espantoso como também aqui se dá
com a questão. Uma personagem que não é nen- a ver o ri¬dículo do humano sem a distância “pro-
hum “cromo”, nenhum “tipo”, que não “repre- tectora” da risada crua – a da comédia simples,
senta” nenhuma classe, que não “simboliza” nen- que acre¬dita estar só a rir dos outros, nunca dela
huma grande ideia. Uma per¬sonagem que até mesma. Aqui, o risível surge atravessado por uma
parece hesitar, por vezes, em “representar se” a si quase ternura ou, não sei, uma melancolia subtil,
mesma. Uma espécie de de¬sempregado da alma, que nomes para isto? Espantoso, espantoso como
como que um bêbado de tédio – e, perdoem me se consegue assim juntar – e não apenas alter¬nar –
o platonovismo, “o bêbado não tem direita nem ironia e desgraça, graça e peso, anedota e verdade.
esquerda”… Na província, entre “propriedades” Mas, peço perdão, já me perdi. Quanto à sua per-
e dívidas, salas de estar com piano e expressões gunta, Anna Petrovna: a minha resposta é… terá
elegantes em francês, Platónov segue sem pro- de ser… bem… não. De facto, não, Platónov não
grama, sem um plano, chocando, por assim diz- é um herói, receio que não se possa ir tão longe.
er, contra os móveis. Uma vida desinvestida, de E, no entanto, minha querida, quem dis-cordará
quem não prevê mudanças e só espera tornar se que, apesar de tudo, tem de haver algu¬ma coisa
“gordo e negligente”. Claro que o homem é um de, digamos, heróico, minimamente heróico, no
sedu¬tor. Mas, lá está, um sedutor que não pre- modo como esse homem oblíquo se larga na cor-
cisa de fazer nada para seduzir. Mais: um sedu- rente… Que estranha estirpe de coragem é essa
tor que até parece ter aí, nessa passividade, nesse de quem, sofrendo as normais confusões de senti-
“não precisar de”, o truque do seu jeito, o cen- mentos, se deixa ir nas águas sem bater os braços,
tro do seu “carisma”, se o termo não é demasiado sem se agarrar a nada, sem medo de se afogar? •
UM PROJECTO DE João Garcia Miguel encena “As Criadas”, peça
emblemática do escritor francês Jean Genet acol-
hida com muita polémica na sua estreia em 1947. JOÃO GARCIA MIGUEL

JOÃO GARCIA
13, 15, 18 e 20 Set 2008 - 21:00
14 Set 2008 - 17:00
PEQUENO AUDITÓRIO Direcção e Encenação JOÃO GARCIA MIGUEL

MIGUEL
Tradução e Adaptação do texto JOÃO GARCIA
PREÇO 15€ MIGUEL, A PARTIR DE LES BONNES DE
Descontos habituais para bilhetes adquiridos no JEAN GENET
CCB Interpretação ANTON SKRZYPICIEL |

AS CRIADAS DE “A ironia profunda e contraditória do texto, que


MIGUEL BORGES | JOÃO GARCIA MIGUEL
Cenografia e Figurinos ANA LUENA
Produção Executiva MARTA VIEIRA

JEAN GENET
oscila entre a comédia e o sacrifício, o excesso Direcção Técnica LUÍS BOMBICO
e a contradição, a subtileza e a brutalidade in- Música RUI LIMA | SÉRGIO MARTINS
fluenciará as iniciativas da encenação. Há imen- Registo Documental RAQUEL FREIRE
sas motivações entrançadas num apelo à fuga, Residência Artística CONVENTO DA SAUDA-
à ilusão, à mentira, à submissão, à subversão, à ÇÃO EM MONTEMOR-O-NOVO
vida e à morte, a partir das quais tomaremos a Estrutura Financiada por MINISTÉRIO DA CUL-
iniciativa de desenvolver um processo activo de TURA | DIRECÇÃO-GERAL DAS ARTES |
criação. Procuraremos desvendar o esqueleto da FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN
peça. Jean Genet afirmou a certa altura que ‘como
tudo se passa demasiado depressa e demasiado João Garcia Miguel é uma estrutura apoiada por
explicitamente, sugiro aos eventuais encenadores Ministério da Cultura/
que substituam as expressões demasiado preci- Direcção-Geral das Artes e Fundação Calouste
sas, as que tornem a situação demasiado explicita, Gulbenkian.
por outras mais ambíguas. Que as comediantes
representem, excessivamente’. É essa a linha de CO-PRODUÇÃO
excesso sobre o excesso que nos guiará, e é com CCB/JOÃO GARCIA MIGUEL
base nesse artifício que proponho a substituição
das comediantes por três homens.”
"O Inferno"
O Teatro Experimental de Cascais estreia a peça O INFERNO de
Bernardo Santareno, no dia 17 de Julho. Este espectáculo envolve
32 finalistas da Escola Profissional de Teatro de Cascais e constitui
uma homenagem àquele extraordinário dramaturgo.

O espectáculo estará em cena de 17 a 31 de Julho, todos os dias, às


21h00.

Sinopse:

« CHESTER, 6-5-66 – Ian Brady e Myra Hindley, os amantes di-


abólicos, foram condenados a prisão perpétua, findo o seu julga-
mento, iniciado a
19 de Abril, no tribunal de Chester. Acusados de terem assassinado
Edward Evans, de 17 anos, Lesley Ann Downey, de 10, e John
Kilbride, de 12, sempre negaram a sua culpabilidade. O júri recon-
heceu Brady culpado dos três crimes e Myra Hindley culpada dos
dois primeiros e cúmplice do terceiro...

O Juiz, ao ler a sentença, aceitou ter sido este um dos processos


mais atrozes da história e que os dois acusados tinham sido re-
conhecidos como culpados das mortes cruéis executadas a sangue
frio...»

«Diário de Notícias, 7-5-66


I N ”
O I N G AGA
Á R I O D
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SINOPSE
Autoria, Cenários e Figurinos - Filipe Crawford
Na sua última aventura, Otário Doing, famoso e Filipe Abranches
detective inglês e árbitro nas horas vagas, via- Encenação - Filipe Crawford
jou até Portugal onde resolveu o caso do Apito Música Original – Fernando Mota
Dourado e prendeu o vilão Keiéstu Ómeu. Du- Máscaras – Renzo Antonello
rante esta aventura Otário conheceu Catarina, Desenho de Luz – Filipe Crawford e João
uma bela jovem portuguesa, e apaixonou-se por Marques
ela ficando a viver em Portugal. Operação de Luz – João Marques
Operação de Som – Carlos Oliveira
Passaram entretanto dois anos e Otário e Catar- Produção – FC Produções Teatrais
ina casaram e tiveram um bebé, Otáriozinho. Interpretação: João Paulo Silva e Pedro Diogo
Vivem os três num apartamento em Lisboa e são
muito felizes. Mas a felicidade desta família vai Teatro da Casa da Comédia
ser perturbada, pois Keiéstu Ómeu prepara-se
para fugir da prisão e quer vingar-se de Otário. 23 de Julho a 9 de Agosto | 5ªs e 6ªs feiras às
22h00 e sábados e domingos às 17h00
Otáriozinho e Catarina correm perigo... que no- M/6 anos | Duração: 70 min.
vas peripécias terá Otário que enfrentar para Preço: 10€ | Descontos: 6€ para crianças até 12
proteger a sua família? É o que iremos ver anos e 7,5€ para jovens até 25 anos, c/ Cartão
neste novo espectáculo que se destina a todas as Jovem ou idosos.
idades e junta as linguagens do Teatro de Más-
caras, da Mímica e da Banda Desenhada.

FICHA ARTÍSTICA/TÉCNICA
SONHO DE UMA
NOITE DE VERÃO
SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO Demétrio e a fuga para o bosque oferece-se aos
PALÁCIO DA INDEPENDÊNCIA amantes como única solução possível para um
9 Julho a 16 Agosto final feliz.
3ª a Sáb. 22H00 No bosque, porém, habitam estranhas criaturas.
Uma das mais belas comédias de Shakespeare, Oberón, rei dos duendes, quer recuperar o amor
“Sonho de uma Noite de Verão”, é de
apresentada ao ar livre, no Palácio da Inde- Titânia, rainha das fadas, e pede a Puck que lhe
pendência, localizado perto do Rossio. Um arranje uma flor mágica que, esfregada nos olhos
lugar que onde a peça de Shakespeare – que nos de
conta três belas histórias de amor – alguém, faz com que se apaixone pela primeira
pode brilhar em todo o seu esplendor, revelando criatura que lhe aparecer à frente. Infelizmente,
uma magia que, quatro séculos Puck põe
depois de ter sido escrita, continua a fascinar o extracto da flor nos olhos errados e desenca-
audiências. deia uma sucessão de enganos que tornará esta
Teseu, Duque de Atenas, vai casar-se com Hipól- numa
ita, Rainha das Amazonas, e lança um concurso noite inesquecível.
de Mais de trinta canções originais – interpretadas
teatro para animar a boda. Ao concurso, con- ao vivo – contarão esta divertida história e ilus-
corre um divertido grupo artesãos que, com mais trarão os
vontade do sentimentos das personagens.
que talento, se dirige ao bosque para ensaiar a a partir de WILLIAM SHAKESPEARE
tragédia de Píramo e Tisbe. versão e encenação CLAUDIO HOCHMAN
Hérmia e Lisandro, dois jovens atenienses, estão musica original e tradução de letras ALFREDO
apaixonados, mas o pai da jovem quer casá-la MOURA
com
ESTADOS ERÓTICOS
IMEDIATOS
DE SÖREN KIERKEGAARD

PRÓXIMO ESPECTÁCULO vestidas de D. João. Talvez não se represente


nunca, talvez um dia. O nosso entendimento é
perfeito; não vive de projectos de casamento. É,
ESTADOS ERÓTICOS IMEDIATOS como a música de Mozart, algo de tão imediato
que não chega a ser sentimento, mas arte puro.
DE SÖREN KIERKEGAARD Sob a direcção de Roberto Merino, brevemente
começarão os ensaios desta obra de Agustina
Dramatização de AGUSTINA BESSA LUÍS Bessa Luís, com a participação dos actores: Ana-
bela Nóbrega, Carolina Sousa, Clara Nogueira,
Este arranjo para teatro, é resultado da leitura Cláudia Abreu, Hugo Sousa, Isabel Nunes, Jorge
habilidosa e grave dos textos de Kierkegaard; o Loureiro, Lizete Pinto, Miguel Rosas, Paulo Ca-
que dá o título à peça “ESTADOS ERÓTICOS latré, Vânia Mendes e Vera Pitrez.
IMEDIATOS”, e o “DIÁRIO DE UM SEDU- Os cenários vão ser concebidos por Acácio Car-
TOR”, além de outras reflexões, pensamentos, valho e os figurinos serão da autoria de Manuela
memórias e entendimento da sua vida e drama. Bronze.
Por aqui se entende quanto Kierkegaard, foi
homem extraordinário, sofrendo do mal de “ter Agustina Bessa Luís
sido um génio numa cidade de província”.
As cóleras que ateou, sopradas pela inveja e pela
ordem estabelecida, só foram comparáveis ao Sören Kierkegaard
prazer de as desafiar. No mês de Agosto, encerramos para férias mas,
Os amores com Regina Olsen, a admiração tur- em Julho, estivemos já a trabalhar nos ESTA-
bulenta pelo pai, patriarca terrível adaptado à DOS ERÓTICOS IMEDIATOS DE SÖREN
imagem bíblica, funcionaram como febres em KIERKEGAARD.
que se descobre a vitalidade e se enfrenta a Como sempre, na análise dramaturgica, a bara-
morte com a vocação maior do homem que é a funda do costume, escalpelizando a vida e obra
da mesma morte. do filósofo, com montes de livros, workshops,
Nobre alma, mau cidadão, eficaz no erro e na debates, documentários, etc...
verdade, esta é uma homenagem a Sören Ki-
erkegaard. O pano de cena lhe seja leve e as
tábuas do palco não ranjam com as suas ossadas
LITE
RA
TUR
#03A

Istambul - Memórias de uma Cidade


A Teoria das nuvens
O Homem Lento
O Pavilhão das Peónias
Boa Noite, Senhor Soares
O Inútil da Família
Uma Janela para o Infinito
Os Detectives Selvagens
Caos Calmo
O Existencialismo e a Sabedoria das Nações
Istambul - Memórias de
uma Cidade
Orhan Pamuk

Istambul – Memórias de uma Cidade (2008)

Sinopse
O Prémio Nobel da Literatura 2006 traça um
retrato magistral da cidade onde habita. De uma
forma intimista e ao mesmo tempo muito vi-
sual, o autor recria um engenhoso modo de evo-
car a sua cidade de eleição. Neste livro, Orhan
Pamuk fala sobre as primeiras impressões de
melancolia que invadem os habitantes de Istam-
bul e os unem nas memórias colectivas de um
povo: o de viverem sobre as ruínas das glórias
imperiais num país a tentar modernizar-se e per-
manentemente a receber influências do cruza-
mento entre este e oeste. Esta elegia a Istambul
é-nos revelada pelas personagens criadas por
Pamuk, escritores e pintores, artistas na gener-
alidade que através dos olhos do criador vêem
e descrevem a cidade. E é também a partir da
sua própria história de vida, desde menino até
à fase adulta que o nobelizado nos transmite os
seus pensamentos, crenças e ideologias sempre
com Istambul como pano de fundo. Ao combi-
nar memórias e fotografias com reflexões sobre
arte, história e a civilização em geral deixa ao
leitor um legado único sobre aquela que é a sua
cidade.
A Teoria das nuvens

A Teoria das nuvens (2008)

Sinopse
Akira Kumo é um costureiro japonês que colecciona livros consagrados as nuvens. Para classificar
a sua biblioteca, contrata Virginie Latour, uma jovem a quem conta histórias de caçadores de nu-
vens. A de Lucke Howard, que lhes inventou os nomes, a de Richard Abercombie, que deu a volta
ao mundo para ver se as nuvens eram idênticas em toda a parte, e outras tão surpreendentes como o
próprio jogo das nuvens.

«Uma ficção ciclónica iluminada por flashes de génio.»


Elle

«Um primeiro romance Proustiano, climático, ambicioso e esplêndido.»


Politis
O Homem Lento

O Homem Lento é o mais recente título tra- um papel de conselheira de Paul Raymond, insti-
duzido para português do Nobel sul-africano da gando-o a deixar a atitude passiva que adoptou
Literatura, J. M. Coetzee. Neste romance, o pro- na sua nova realidade.
tagonista, o fotógrafo Paul Raymod, um homem
de 60 anos, sofre um acidente de bicicleta que o Brilhantemente desapiedado dos seus leitores –
transforma fisicamente e o faz equacionar toda aliás, uma das notas da escrita do autor de Des-
a vida. Com uma perna amputada e recusando graça –, o escritor lança aqui uma reflexão sobre
qualquer prótese, sai do hospital para sua casa o envelhecimento, as suas limitações e possi-
e para uma existência dependente de terceiros. bilidades, num ensaio ficcional à volta de uma
Ele, alguém que se habituara à solidão, está con- fase da vida em que toda a vida é questionada.
denado a conviver de perto com outras existên- Mas, mais do que isso, O Homem Lento é um
cias, no caso, uma enfermeira, imigrante croata, livro sobre o que é isto de ser humano. Não se
cuja função é cuidar dele e pela qual Raymond esperem respostas, mas aguardem-se umas ex-
irá apaixonar-se. traordinárias e surpreendentes pistas para a in-
quietação. É o que distingue a grande literatura.
Na trama, J. M. Coetzee recupera uma persona-
gem de um romance anterior, a enigmática es- Maria Reis Alves
critora Elizabeth Costello, espécie de alter-ego
feminino do próprio Coetzee, que desempenhará terça-feira, 17 de Junho de 2008
O Pavilhão
das Peónias
O Pavilhão das Peónias (2008)
Enraizado nas tradições e na história da China
Sinopse do século XVII, quando os Manchu haviam aca-
Para a jovem Peónia, prometida a um noivo que bado de tomar o poder esmagando a dinastia
nunca conheceu, os textos de O Pavilhão das Ming, este poderoso romance de Lisa See trans-
Peónias reflectem os seus sentimentos. Como a porta-nos para outra época e para paragens exóti-
heroína desse drama épico, Peónia é uma jovem cas. Uma obra notável na qual a autora aborda
enclausurada, filha de uma família abastada e, de forma fascinante as diversas manifestações do
ainda que educada na obediência, tem os seus amor, a amizade, o poder da palavra e o desejo
sonhos e anseios muito próprios. Assistindo no ancestral das mulheres de se fazerem ouvir.
jardim de sua casa à representação da ópera, por
entre o cheiro do gengibre e do jasmim, Peónia Excerto da obra
depara-se com um belo jovem de cabelo negro «Finalmente compreendo o que escreveram os
e deixa-se arrastar pela paixão. Começa assim poetas. Na Primavera, movida pela paixão; no
a sua inesquecível jornada de amor e assim se Outono, apenas tristeza.»
traça o seu destino e o seu desgosto.
Boa Noite, Senhor
Soares
Boa Noite, Senhor Soares figura de Bernardo Soares, um dos heterónimos
de Fernando Pessoa, narrador do Livro do De-
sassossego.
Mário Cláudio
Dom Quixote 10€ Neste livro aprendemos esta figura, a figura de
Soares, através dos olhos de António. António é
António é um rapaz da aldeia. Chegou à cidade o protagonista e este é um livro sobre uma certa
à procura de uma vida melhor no tempo em que adolescência. Um livro de costumes, mas acima
os heterónimos de Pessoa e o próprio Pessoa de tudo um livro interior, onde nos apercebe-
andavam pelas ruas da Baixa. António arranjou mos da existência de um rapaz de sonhos que se
trabalho numa mercearia e instalou-se em casa transforma num homem banal, anti-herói de uma
da irmã e do brutamontes do cunhado, uma casa ficção que reconstitui uma certa Lisboa, com as
a Campolide, onde havia hortas. suas falas, a gente, as ruas, as coisas que se perd-
eram e outras que permanecem, imutáveis, como
António foi depois caixeiro, empregado no es- o destino que se quer e a vida que se acaba por
critório onde trabalhava o Sr. Soares, um tradu-ter. Quase sempre anódina, anónima, salvo ex-
tor entre livros de contas e de contabilidade, cepções. E sempre a sombra de Pessoa. Um livro
homem estranho a quem chamavam poeta, que curto de leitura imparável. Um excelente exem-
se sabia ser poeta, mas de quem António não plo da escrita depurada de Mário Cláudio.
conhecia a poesia, apenas admirava a estranheza
da figura e o respeito tutelar que ela lhe impun- Isabel Lucas
ha. Boa Noite, Senhor Soares é o último livro de
Mário Cláudio, uma novela entre o romance e a segunda-feira, 9 de Junho de 2008
biografia, mais romance que biografia, à volta da
O Inútil da Família
Jorge Edwards

Editor: Assírio & Alvim história deste seu tio avô. Joaquín, o tio Joaquín,
416 páginas conheceu os palacetes da América e da Europa
mas cedo desceu ao fundo da noite: aos bares
Quando Jorge Edwards começou a escrever, e tabernas de má sorte, aos prostíbulos e aos
em plena adolescência, num mundo que estava albergues clandestinos. Viveu uma vida aci-
muito longe de o destinar à literatura, teve con- dentada entre Madrid, Paris, Valparaíso e San-
hecimento de um parente próximo que ninguém tiago. Porém, descobrindo semelhanças e conti-
referia na família, um fantasma, um marginal, guidades, tanto de origem como de biografia, o
um maldito da sua época: Joaquín Edwards Bel- livro acaba por construir uma teia de múltiplas
lo. Joaquín recebeu o Prémio Nacional de Lit- relações em que as duas vidas — e as duas obras
eratura de Chile em 1943 mas a sua vida aciden- — se fundem e entrelaçam.
tada e aventureira, a sua paixão pelo jogo, o seu
inconformismo e rebeldia social, naqueles anos O Inútil da Família é um extraordinário desfile
escandalosa, já o tinham convertido numa lenda de personagens, uma caixa de surpresas que nos
viva. transporta a mundos extremos e nos leva a assis-
tir, por dentro, a um destino fora do comum, belo
Jorge Edwards seguiu apaixonadamente a mas pleno de riscos e, sem dúvida, trágico.

Uma Janela para o Infinito
Denis Guedj

Editor: Bizâncio
Pág.: 256 Matthias Dutour um jovem soldado francês,
Número: 40 maquinista dos caminhos-de-ferro, libertário e
ISBN: 978-972-53-0379 «herói contra a sua vontade» será o novo com-
panheiro de Herr Singer.
Alemanha, 1917. No final da sua vida, Hans
Singer (inspirado na figura do matemático Pouco a pouco, esses dois homens que nada
alemão Georg Cantor) é admitido num hospi- parecem ter em comum irão aprender a conhec-
tal psiquiátrico. O director da instituição acolhe er-se e a construir uma amizade – tão improváv-
com grande deferência esse homem mundial- el quanto indefectível.
mente reconhecido entre a comunidade cientí-
fica pelos seus trabalhos sobre o Infinito e pai da Numa estrutura narrativa muito original e ha-
Teoria dos Conjuntos. É-lhe atribuído um peque- bilmente tecida, Denis Guedj aborda, de forma
no quarto particular mas desde logo o previnem singular e comovente, a temática da loucura e
que, dadas as dificuldades dos tempos de guerra, transmite-nos a mensagem de que a Matemáti-
talvez tenha de partilhar o seu quarto com outro ca, como a Política, devem estar ao serviço do
doente. homem.
Os Detectives Selvagens
Robert Bolaño

Os Detectives Selvagens e Continentes num romance onde há de tudo:


Robert Bolaño amores e mortes, assassinatos e fugas turísticas,
manicómios e universidades, desaparições e
O melhor livro publicado em 2007 – New York aparições.
Times Os seus cenários são o México, a Nicarágua, os
Estados Unidos, a França, a Espanha, a Áus-
Prémio Herralde de Novela tria, Israel, África, acompanhando sempre os
Prémio Rómulo Gallegos detectives selvagens – poetas «desperados», tra-
ficantes ocasionais –, Arturo Belano e Ulisses
Um dos cinco melhores livros publicados nos Lima, os enigmáticos protagonistas deste livro
Estados Unidos em 2007- The New York Times que pode ler-se como um refinadíssimo thriller
wellesiano, atravessado por um humor icono-
“O tipo de romance que Borges aceitaria escrev- clasta e feroz. Entre os personagens, destaca-
er…um livro original e formosíssimo, divertido, se um fotógrafo espanhol no último degrau do
comovedor, importante”- EL PAÍS desespero, um neonazi borderline, um toureiro
mexicano reformado que vive no deserto, uma
Arturo Belano e Ulisses Lima, os detectives sel- estudante francesa leitora de Sade, uma prosti-
vagens, procuram a pista de Cesária Tinajero, tuta adolescente em fuga constante, uma prócere
a misteriosa escritora desaparecida no México uruguaia no 68 latino-americano, um advogado
nos anos imediatamente a seguir à Revolução, e galego ferido pela poesia, um editor mexicano
essa busca – a viagem e as suas consequências – perseguido por pistoleiros profissionais.
prolonga-se durante vinte anos, desde 1976 até Um romance extraordinário em todos os sen-
1996, o tempo canónico de qualquer errância, tidos, que confirma a deslumbrante qualidade
bifurcando-se através de múltiplos personagens literária de Roberto Bolaño.
Caos Calmo
Sandro Veronesi

Caos Calmo
Sandro Veronesi

Um filme protagonizado por Nanni Moretti com estreia Prevista para 26 de Junho

Com uma variedade de registos que vão desde a troca de e-mails até ao diálogo vivo entre gerações,
passando pelo monólogo e a prosa erótica, Sandro Veronesi espelha neste romance o caos das nos-
sas cidades estéreis, das nossas famílias em crise e de uma economia baseada já não no valor do
trabalho mas na mais feroz ganância.

Sandro Veronesi nasceu em Florença, Itália, em 1959. Considerado como um dos melhores escri-
tores italianos da sua geração, publicou o seu primeiro romance em 1988. Em 2000, alcança um
grande sucesso com La forza del passato, vencendo os prémios Campiello e Viareggio, com o livro
a ser adaptado para o cinema. Caos Calmo foi galardoado com o Prémio Strega em 2006, a mais
importante distinção literária em Itália, e, em 2008, com o Prémio Méditerranée para o melhor ro-
mance estrangeiro publicado em França.
O Existencialismo e a Sabedoria
das Nações
Simone de Beauvoir

O Existencialismo e a Sabedoria das Nações tudo muito bonito”, “Não andamos cá para nos
Simone de Beauvoir divertirmos”…
Estes lugares comuns, estes dados adquiri-
Nunca antes publicados em língua portuguesa, dos que constituem a sabedoria das nações,
os textos que esta antologia recupera, “total- exprimem uma visão do mundo incoerente, cíni-
mente empenhados e totalmente livres”, foram ca e omnipresente, que é preciso pôr em causa.
originalmente dados à estampa em Les Temps É em nome deles, com efeito, que se censura ao
Modernes, revista que Jean-Paul Sartre e Simone existencialismo oferecer ao homem uma imagem
de Beauvoir fundaram em 1945. de si próprio e da sua condição, determinada a
desesperá-lo. Contudo, e bem pelo contrário,
“O homem procura sempre o seu próprio in- esta filosofia quer convencê-lo a recusar as con-
teresse”, “A natureza humana nunca mudará”, solações da mentira e da resignação: confia no
“Longe da vista, longe do coração”, “Ninguém homem.
dá nada a ninguém”, “Enquanto se é novo, é
CIN
EM
#04A

O Estado Mais Quente


Shotgun Stories
Colecção Alfred Hitchcock
Baile de Outono
WALL.E
Into The Wild
Yo Soy La Juani
O piano
Kiss Me Deadly (1955)
Azuloscurocasinegro
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Alguns dias antes de completar 21 anos, William, um jovem actor, conhece e apaixona-se rápida e
perdidamente por Sara (Catalina Sendeno Moreno), uma sedutora e instável cantora. O filme, que
é baseado no livro com o mesmo nome, escrito pelo próprio Ethan Hawke, segue a jornada de Wil-
liam, numa viagem pela descoberta dos extremos da paixão, da raiva e da carência. Ao procurar
alguém que possa amar e que o ame, William vê-se enredado numa teia em que o passado o obriga
a tomar decisões e a fazer escolhas. Uma abordagem sensível ao mundo dos afectos, das carências e
da necessidade que assola todos os seres humanos: amar e ser amado.
Shotgun Stories
Shotgun Stories segue um conflito que irrompe entre dois grupos de meio-irmãos a seguir à morte
do pai. Com os campos de algodão e as estradas pequenas do Sudeste do Arkansas como pano de
fundo, estes irmãos descobrem até onde estão dispostos a percorrer para proteger a sua família.
DV
D

Colecção Alfred Hitchcock


ALFRED HITCHCOCK

Colecção Alfred Hitchcock agora é chantageada. Em Os 39 Degraus (1935)


ALFRED HITCHCOCK um homem inocente vê-se arrastado para as con-
spirações de uma rede de espiões. Em Jovem e
Esta colecção reúne cinco dos mais famosos Inocente (1937) o tema recorrente do falso cul-
filmes ingleses do mestre do suspense Alfred pado é abordado quando uma jovem ajuda um
Hitchcock. Em O Inquilino Sinistro (1926) uma homem injustamente acusado de um crime a
família julga ter como inquilino um jovem que descobrir o verdadeiro culpado. A Desaparecida
pode ser o famoso assassino Jack o Estripador. À (1938) leva-nos uma vez mais a uma intriga de
1 e 45 (1929) conta-nos a história de uma jovem espionagem desencadeada pelo desaparecimento
que matou o homem que a tentou violar e que de uma pacata velhota a bordo de um comboio.
Baile de
Outono
É Outono. Vemos um enorme bloco de torres depois, começa-se a afeiçoar por uma miudinha
de habitação tentaculares da era soviética - o quando volta para casa. A mãe da miúda, Laura,
bairro chamado Lasnamae. Ao anoitecer quando vê muita televisão e recusa todas as abordagens
o céu escurece, as janelas são iluminadas pelo de homens. O arquitecto Maurer está satisfeito
brilho azul das televisões. Mati, um jovem es- com a sua vida em Lasnamae, vê o estilo de vida
critor, vive sozinho no apartamento depois da como uma coisa que inevitavelmente acompanha
sua mulher o deixar pelo seu amigo. O barbeiro o progresso. A sua mulher ao invés aliena-se e
August Klask é um solteiro mais velho com uma encontra conforto em Theo, o segurança, um au-
vida monótona. Ele corta cabelo, varre o chão todidacta de forte personalidade.
WALL.E WALL.E
E se a humanidade tivesse que abandonar a Ter-
ra, e alguém se tivesse esquecido de desligar o
corre de volta ao espaço para contar as suas
descobertas aos humanos (que têm estado an-
siosamente a aguardar por notícias que digam
último robot? que é finalmente seguro voltar para casa).

O realizador-argumentista galardoado pela Entretanto, WALL•E persegue EVE pela galáxia


Academia®, Andrew Stanton («À Procura de numa das mais divertidas e criativas comédias
Nemo») e os criativos contadores de histórias e de aventura alguma vez criadas para o grande
génios técnicos da Pixar («The Incredibles – Os ecrã.
Super heróis», «Carros» e «Ratatui») transpor-
tam os amantes do cinema até uma galáxia não Junto a WALL•E na sua fantástica jornada, por
muito distante para uma cósmica e animada um universo futurista nunca antes imaginado,
comédia computorizada sobre um determinado está um conjunto de personagens hilariantes que
robô chamado WALL•E. inclui uma barata de estimação e uma equipa de
robôs avariados e inadaptados.
Após centenas de anos sozinho a fazer o que foi
programado para fazer, WALL•E. (abreviatura Cheio de surpresas, acção, humor, sensibilidade
para Waste Allocation Load Lifter Earth-Class) e emoção, «WALL•E» foi escrito e realizado por
descobre um sentido na sua existência (para Andrew Stanton, produzido por Jim Morris e
além de recolher desperdícios) quando conhece co-produzido por Lindsey Collins contendo uma
uma atraente robô chamada EVE. inovadora mistura de som do galardoado pela
Academia, Ben Burtt («Guerra das Estrelas»,
EVE apercebe-se que WALL•E tropeçou, sem «Indiana Jones» e «E.T. O Extraterrestre»).
saber, na resolução para o futuro da Terra, e
Into The Wild http://cinemasete.blogspot.com/

Título Original: Into The Wild crítico de muitos aspectos da política e da socie- tureza, os animais, o universo. Queima o dinheiro, para a tolice que é ir para o Alasca. Destes contac-
dade. É notória a paixão com que filma Chris, o parte os cartões de crédito e não dá justificações a tos alguns são bem conseguidos, com momentos
Realização: Sean Penn fascínio que a história lhe provoca. E como é tudo ninguém sobre o seu destino. Nem mesmo à irmã, de grande qualidade - como os proporcionados por
real e não tem cá de se fingir nada, sai natural. com quem mantinha um bom relacionamento. O Vince Vaughn. Noutras alturas, parece que estamos
Ano: 2007 Num filme longo e irregular, a vitalidade e paixão que quer que a nossa consciência nos diga sobre se enterrados em pieguices e sentimentalismos até ao
Um belo dia pegamos nas nossas trochas, metemos com que Sean Penn filma é mesmo o seu ponto a atitude de Chris foi a mais correcta ou não, isso pescoço.
a mochila às costas, apanhamos um autocarro ou mais forte. vai influenciar a forma como vemos o filme. Sean
um comboio e vamos sozinhos e sem compromis- Penn falha em relacionar-nos com as razões da Se por um lado Sean Penn não se preocupa muito
sos, à descoberta do mundo, sem prazo para regr- No início, conhecemos Chris antes de encetar a fuga de Chris, que é retratado como um miúdo mi- em ter um olhar distanciado para a experiência
essar. O vento, a liberdade, a natureza. Quem é que viagem. Acabado de se graduar com uma excelente mado que considera que tudo está mal e só ele pos- de Chris, mostrando-nos o fascínio da liberdade,
nunca teve vontade de fazer essa viagem sedutora, média, tem um futuro promissor pela frente, com sui a chave para a pureza e para a verdade. Todos é quando entra no territorio de procurar a tristeza
principalmente entre os jovens? A diferença é que grandes possiblidades de entrar na universidade passamos por estas fases, mas a maior parte limita- num jovem perdido, sem rumo, e magoado com os
enquanto uns sonham, Chris McCandless (Emile de Harvard. Mas nem tudo vai bem na cabeça de se a inscrever-se num partido maoista qualquer, até pais que resulta melhor. Infelizmente, essa é uma
Hirsch), no verão de 1990, fez-se à estrada. Into Chris. Idealista por natureza, não lhe interessa a a coisa passar. parte pouco explorada e que, sempre que prometia
The Wild, baseado no livro homónimo de Jon carreira, o dinheiro ou os bens materiais, e tudo chegar mais longe, era cortada por uma lamechice
Krakauer, conta a história verídica de um jovem o que consegue ver pela frente é a hipocrisia das Isto não quer dizer que não nos relacionemos com ou um cliché qualquer.
americano de classe média que, desencantado com pessoas e a artificialidade da sociedade. Só nos a personagem. Apesar de podermos não com-
a sociedade, abandona a família, os bens, o din- livros e nos autores famosos consegue encontrar preender o que o leva a tomar algumas atitudes, Com um trabalho de fotografia fantástico e alguns
heiro e a própria identidade para partir com destino algum conforto ou sentido na sua existência. Tor- Emile Hirsch, com uma interpretação brilhante, momentos que não lhe ficam atrás, Into The Wild
ao Alasca. Durante dois anos, Chris percorre os na-se um alienado, por escolha própria. A relação faz com que seja impossível não gostarmos de consegue, a espaços, ser um bom retrato de como
Estados Unidos e encontra-se com várias pessoas com os pais, presos num casamento de fachada, é Chris. No decorrer da viagem, encontra-se com a vida pode ser gratificante no contacto com out-
pelo caminho até chegar ao Alasca, onde sem man- extremamente conflituosa. Chris não os entende personagens como Rainey e Jan (Brian Dieker and ras pessoas, e de como a procura de um lugar no
timentos nem auxílio acaba por morrer de fome nem o porquê de continuaram juntos, e nem ele Catherine Keener), um casal de hippies parados mundo pode ser dura. No entanto, alonga-se por
e de envenenamento provocado por plantas não nem a irmã saíram psicologicamente impunes às anos 70, Wayne (Vince Vaughn), um lavrador de uns duros 148 minutos, muitos deles dispensáveis.
comestíveis. inúmeras discussões que ocorriam em casa. terras, e Ron (Hal Holbrook), um homem de idade Fosse mais equilibrado e tínhamos um filme para
‘ avançado que perdeu a mulher e o filho durante a não esquecer tão cedo. Sean Penn promete, espere-
Sean Penn, mais habituado a trabalhar à frente das Numa decisão que parecia já tomada há muito juventude e nunca mais conseguiu refazer a sua mos que da proxima cumpra.
câmaras do que na realização, é também famoso tempo, Chris parte com destino final ao Alasca, vida. Todos eles são, de uma forma ou outra, toca-
por ser um espírito livre, avesso à celebridade e simbolo da verdadeira vivência solitária com a na- dos pela presença de Chris, e todos eles o avisam Classificação: 6/10
Yo Soy La Juani *
http://cinerama.blogs.sapo.pt

Yo Soy La Juani * plados na banda sonora. Desenhou superficial-


mente todas as personagens e enfiou-as dentro
Realização: Bigas Luna. Elenco: Jim Verónica de estereótipos bem estanques. O exagero com
Echegui, Dani Martín, Laya Martí, Gorka La- que o fez não poderia ter outra consequência que
saosa, José Chaves, Mercedes Hoyos, Ferran o ridículo, impossibilitando qualquer identifica-
Madico. Nacionalidade: Espanha, 2006. ção com a protagonista.

Se “Yo Soy La Juani” pretende ser um retrato A interpretação de Verónica Echegui (por vezes
realista da juventude espanhola, só posso dar numa parecença assustadora com Natalie Port-
graças por duas coisas: (1) não ser espanhola, (2) man) limita-se a uma saliência visual, só se
já não encaixar nessa classe “juventude”. E cha- destacando porque a contracena é ainda mais
mem-me preconceituosa, mas este fascínio pelo fraca, como é o caso do vocalista do grupo ‘El
tunning sempre me soou a escape para muitos Canto del Loco’, Dani Martín.
recalcamentos...
Mas o problema de fundo do argumento de Bi-
Juani (Verónica Echegui) é uma jovem frustrada gas Luna (“Jamón, Jamón”) é simples: o con-
dos subúrbios, filha de pais frustrados, uma mãe teúdo. Que não existe Como retrato de um ritual
(Mercedes Hoyos) que gostaria de ter sido can- de passagem para a idade adulta é, no mínimo,
tora e um pai (José Chaves) alcoólicoque está deprimente. Tal como o ambiente sem futuro
prestes a perder a casa em que vivem. Juani quer onde Juani vive, tal como a Madrid onde pensa
se actriz, mas trabalha como caixa num super- encontrá-lo. Tal como esse sonho de fama (vazio
mercado para juntar dinheiro para o namorado de vocação ou de trabalho) que parece marcar a
Jonah (Dani Martín) poder fazer todas as alter- gerações mais novas.
ações possíveis no seu carro, incluindo aumentar
em muito os decibéis do sistema de som. Depois No país vizinho, “Yo Soy La Juani” esteve ro-
de uma traição de Jonah, Juani decide ir para deado de uma máquina publicitária bem oleada,
Madrid com a sua amiga Vane (Laya Martí) e que incluiu um mediático casting, de onde saiu
tentar a sua sorte. Verónica Echegui. Só posso imaginar que a frus-
tração teria sido muito maior num contexto de
Bigas Luna optou por modernizar o filme com expectativas elevadas. Mas talvez a juventude
recurso a impressões no ecrã dos sms trocados seja isso mesmo: só fogo de vista. Espero que
entre as personagens e transformando os sonhos não.
de Juani em videoclips para os artistas contem-
O Piano
http://cine7.blogspot.com/

Título Original: Piano” foi o terceiro filme da realizadora Jane


“The Piano” (1993) Campion. Bem aceite pela crítica, o filme recol-
heu nomeações e prémios, como por exemplo o
Realização: Óscar de Melhor Argumento Original para Jane
Jane Campion Campion, o Óscar de Melhor Actriz Principal
para Holly Hunter e o Óscar de Melhor Actriz
Argumento: Secundária para Anna Paquinn, na altura apenas
Jane Campion uma criança, foi uma das mais jovens actrizes
a receber um prémio de tamanha importância
Actores: (pelo menos para Hollywood) na sétima arte.
Holly Hunter - Ada McGrath
Harvey Keitel - George Baines É pena que Holly Hunter tenha andado meio
Sam Neill - Alisdair Stewart desaparecida ao longo destes anos, após a in-
Anna Paquin - Flora McGrath terpretação brilhante em “O Piano” de uma
personagem muda que fez com que a actriz de-
senvolvesse uma grande expressividade no seu
Século XIX, Ada McGrath, uma mulher que não papel, há cenas em que percebemos sentimentos
fala desde os seis anos de idade, deixa a Escócia e reacções, sem uma única palavra. Mais pena
juntamente com a sua filha Flora, para ir viver me faz Anna Paquin, mulher feita, que o melhor
para a recém colonizada Nova Zelândia, onde que conseguiu foi o papel de Vampira (Rogue)
oficializará um casamento arranjado. O encon- na trilogia “X-Men”. É o exemplo perfeito de
tro com o marido, Alisdair Stewart, o qual ela que ganhar um Óscar nem sempre é sinónimo de
não conhecia, corre mal devido à recusa dele sorte ou de carreira segura como actriz de cin-
em transportar o piano que é a grande paixão de ema.
Ada e a sua melhor forma de se exprimir. Ter de
abandonar o seu adorado piano no meio da praia “O Piano” conta com uma inesquecível banda
faz com que Ada desde logo antipatize com Alis- sonora da responsabilidade de Michael Nyman.
dair. Entre os homens deste, está George Baines, Em algumas cenas a própria Holly Hunter tocou
que se sente atraído por Ada. Aproveitando-se músicas de Nymam no piano. Uma das cenas
da situação, Baines leva o piano para a sua casa que este filme nos deixa na memória é quando
e promete devolvê-lo a Ada caso esta o ensine Ada toca no piano que está no meio da praia,
a tocar. Com o tempo as aulas vão-se transfor- enquanto a filha dança ao som da música à beira-
mando em encontros de grande erotismo, nos mar. Uma comunhão perfeita entre a natureza e a
quais Baines e Ada se descobrem um ao outro e música.
se apaixonam.
® Isabel Fernandes
Realizado no princípio dos anos noventa, “O
Kiss Me Deadly (1955)
de Robert Aldrich
http://cinedrio.blogspot.com

“Kiss Me Deadly” é um film noir muito especial. espaços, esse autêntico mergulho no abismo que
Percebemos isso logo nos primeiros minutos, é “Nightmare Alley”, filme maldito de Edmund
em que vemos uma mulher semi-nua a correr Goulding), a forma como paulatinamente vai
desesperada, ao longo de uma estrada. Os car- perdendo o contacto com a realidade, deixando
ros passam, ignorando-a... até que esta decide que a paranóia se apodere da história como um
colocar-se à frente do carro daquele que irá ser vírus.
o protagonista do filme: Mike Hammer (Ralph
Meeker). Os minutos seguintes são decisivos: Perto do fim, “Kiss Me Deadly” desliza para
“remember me”, diz a mulher a Hammer, se- uma espécie de vertigem horrífica, só comparáv-
gundos antes desta morrer e ele ficar ferido, e el a um David Lynch, mais concretamente, ao
amnésico, na sequência de um desastre de viação seu noir revisionista, “Mulholland Drive” - o que
com muito pouco de acidental... esconde a caixa misteriosa a que todos querem
deitar mão?
A partir daqui, é noir puro: Hammer inicia uma
investigação particular, começa a ligar variadís- Aldrich filma este noir febril e demencial,
simos nomes (o enredo é difícil de seguir, como seguindo um objectivo claro: a cada plano, uma
um “The Big Sleep” ou “Murder, My Sweet”) obra de arte. Com a câmara em posições inaudi-
e, entrementes, seduz várias mulheres, algumas tas, a sublinhar permanentemente a estranheza
loiras (venenosas?) e uma morena (aquela que da história-pesadelo de Hammer, Aldrich con-
verdadeiramente ama). O mais especial nesta strói uma teia de imagens plasticamente notáveis
obra-prima de Robert Aldrich é, para além da e engenhosas. Singular..
sua extrema negridão e violência (a lembrar, a
Azuloscurocasinegro
http://cinerama.blogs.sapo.pt/

Azuloscurocasinegro *** ização de Daniel Sánchez Arévalo, argumentista


há 15 anos. O seu grande mérito é conseguir um
Realização: Daniel Sánchez Arévalo. Elenco: filme de grupo que consegue equilibrar a atenção
Quim Gutiérrez, Marta Etura, Antonio de la dedicada a cada personagem, com origem num
Torre, Héctor Colomé, Raúl Arévalo, Eva Pal- argumento generoso e coeso. Imagens de câ-
larés. Nacionalidade: Espanha, 2006. maras de vigilância, e close ups aproximam-nos
ainda mais.
Jorge (Quim Gutiérrez), na casa dos 20, está a
tentar sair da alçada do pai Andrés (Héctor Colo- Debruçando-se sobre a temática do crescimento
mé), porteiro no prédio onde moram, rebelando- sexual, Arévalo evita os chavões, e consegue
se por um futuro que quer como seu. Dois anos absorver-nos num universo pessoal e numa
depois, Jorge é porteiro desse mesmo prédio, ao história sem consequência para o mundo. Esta-
mesmo tempo que toma conta do seu pai inváli- mos perante personagens perdidas, com vidas
do. O seu sonho é ter uma carreira no mundo de claustrofóbicas, que se debatem entre fugir ou
negócios, para o que estudou à noite. O regresso mentir para amenizar a sua realidade. A fotogra-
da sua ex-namorada e vizinha Natalia (Eva Pal- fia de Juan Carlos Gómez só começa a ter mais
larés) vem evidenciar o impasse (e a rejeição) luz quando elas caminham para a reinvenção.
que marca também a sua vida amorosa.
Entre o humor e a seriedade, “Azuloscurocasine-
O seu tempo livre é passado no terraço do prédio gro” aborda questões morais sobre o amor e os
em discussões inconsequentes com o seu melhor seus limites. As opções estilísticas de repetição
amigo Israel (Raúl Arévalo), a braços com os que poderiam prejudicar no filme, acabam por
seus próprios problemas pessoais, que incluem funcionar como reforço da ideia de reflexo no
as constantes visitas do seu pai à casa de um outro e da procura de nós mesmos através da
massagista. O irmão de Jorge, Antonio (Anto- forma como os outros nos vêem.
nio de la Torre, “Volver”) conhece a mulher dos
seus sonhos no grupo de teatro da prisão. Paula A cor do fato que Jorge cobiça numa montra –
(Marta Etura, “Para Que No Me Olvides”) está azul escuro quase preto –, simboliza um ideal de
decidida a engravidar para que a transfiram para liberdade. Um ideal que, ironicamente, o prende,
a enfermaria da prisão, onde estará a salvo das sublinhando a sua resignação e o seu ressenti-
represálias de outras detidas. mento. Romper com as expectativas parece ser
o único caminho, porque esperar não vai fazer
“Azuloscurocasinegro” marca a estreia na real- com que a vida aconteça.

SIC
#05A

Foals - Antidotes
White Stripes - “Under Blackpool Lights”
Topspin
Ra Ra Riot
MADAME GODARD
animal collective
The Astroboy
The Raveonettes
Minilogue – “Animals”
Foals - Antidotes (2008)
http://www.blogdoputo.blogspot.com/

Foals - Antidotes (2008) distantes da alternância verso-coro. As guitarras


conduzidas por Yannis e Jimmy Smith são quase
sempre rápidas, dedilhadas (talvez isto explique
Quando, em meados do ano passado, vi e ouvi porque as empunham junto ao peito), entrecru-
o videoclip de “Hummer”, os Foals pareceram- zadas, sequenciadas de forma atípica, sujeitas
me mais uma banda que ia beber à quase es- a gradientes de densidade e sintonizadas em
gotada fonte do pós-punk, ainda para mais com harmónicos invulgares. Cria-se então um certo
uma pose aparentemente altiva do seu vocalista. nervosismo instrumental e vocal, catalizado pela
No entanto, o ritmo e a forma como usavam as bateria musculada de Jack Bevan, desenvolvido
guitarras deixou-me uma agradável impressão e condensado em composições mais curtas do
na memória. Passados meses, o álbum de es- que seria expectável. A esta abordagem técnica e
treia começou a ser abordado antecipadamente experimental acresce o apelo rítmico e a beleza
em blogs e na imprensa, pelo que a curiosidade de alguns momentos mais ambientais, pincela-
aguçou-se. dos por sopros (membros dos Antibalas, con-
Formaram-se das cinzas de uma banda de math vidados por Andrew Andrew Sitek, o produtor
rock, corrente underground do rock caracter- original), coros (Katrina Ford dá uma ajuda em
izada por estruturas rítmicas irregulares e uma “Red Socks Pugie”) e electrónicas, conferindo
certa dissonância e angularidade nas melodias ao disco uma coesão espantosa, apesar da dis-
(não será de todo inocente que tenham bap- paridade de influências que se possam descorti-
tizado um single de “Mathletics”). No disco de nar.
estreia há reminiscência desse período, apesar A cada audição o álbum cresce, entrenha-se,
dos Foals lhe darem uma roupagem mais aces- revela-se e entusiasma. Muito bom começo para
sível, como que a piscar o olho à pop. De facto, este britânicos de vinte e poucos anos.
conseguem bons momentos pop, mas sempre Sítio oficial dos Foals
dirigidos por uma não linearidade pouco comum Foals no MySpace
em bandas com algum sucesso. O vocalista Yan- Videoclip de “Balloons”
nis Philippakis consegue tirar bom partido das Videoclip de “Cassius”
suas limitações vocais para envolver os temas Videoclip de “Red Socks Pugie”
em harmonias cativantes mas frequentemente
DV
D

White Stripes - “Under Esqueçam todas as opiniões e ideias que se pos- tocam ao vivo onde eles desabrocham mais ener-

Blackpool Lights” (2004 XL)


sam fazer sobre a importância dos White Stripes, gia e paixão, e todo o fundamento das raízes da
e do facto de terem ou não revolucionado o “ga- sua música.
rage-rock-blues”. Aqui somente nos vamos cen- A forma de Jack White tocar guitarra é hipno-
trar neste concerto. tizadora, como se estive possuído, chegando a
Filmado nos formatos Super 8 e 16mm, com as relembrar Jimi Hendrix. E Meg White toca bat-
suas imperfeitas imagens cheias de grãos, e para eria descalça, com o seu ar infantil, mas gerando
assim reforçar o objectivo de proporcionar uma um louco e trovejante barulho, numa forma sim-
magnifica perspectiva intemporal de se capturar plesmente única de tocar a mesma.
a emoção e sentimento (para além das quali- Quando Jack White grita o tema de Leadbelly,
dades anti-tecnológicas, evidentes na edição do “Take a Whiff On Me, Death Letter”, temos a
próprio concerto) de ver uma das melhores ban- melhor descrição desta actuação arrebatado-
das contemporâneas ao vivo. ramente entre o absoluto caos e o sublime. E
É um documento em bruto, despojado e ex- conseguem atingir o brilhantismo nas terríveis
tremamente genuíno dos White Stripes ao vivo, interpretações de “Black Math”, “Truth Doesn’t
e que demonstra que não existe mais nada a afir- Make A Noise”, “Hotel Yorba” e “Seven Nation
mar, somente a sua idiossincrasia e esplendor. Army”.
Pois nesta fria noite de Janeiro, na soturna ci- O facto de incluir muitas canções dos primeiros
dade costeira do noroeste de Inglaterra, re- discos, e não se focaram excessivamente em “El-
alizaram uma fantástica e electrizante perfor- ephant” (na altura o seu ultimo disco), torna-se
mance minimalista, demonstrando que é quando ainda mais atractivo.
http://www.ouve-se.com/

É Topspin mas lê-se hype ing mas de tecnologia pura e dura. Por exemplo, gostar de música e perceber de código (estamos a software, meu. É algo que, mal aproveitado, serve
foi dos servidores da Topspin (via Remixtures, há falar de desenvolvimento de software e afins). de muito pouco (quando não prejudica). Por isso é
por Filipe Marques umas semaninhas) que a maior parte das pessoas que, se se quer sucesso (seja a nível comercial ou
fez o download das últimas edições dos Nine Inch É isto que não compreendo. Bem sei que é mais de notoriedade), ter uma estratégia é fundamental.
TopspinSou um céptico e acho que isso me traz Nails. Sei pouco mais do que isto a nível prático, um sound bite do que outra coisa qualquer mas… É uma regra básica: definem-se objectivos, depois
vantagens. Sobretudo se tivermos em conta que, até porque a Topspin ainda está a operar somente o facto de alguém gostar muito de música e de estratégias para os atingir e depois acções especí-
profissionalmente, uma parte importante do que com um grupo restrito de artistas, editoras e agen- saber codificar não a torna imediatamente sensível ficas. Depois vêm as ferramentas. Fazem parte…
faço envolve estar atento aos novos projectos que tes (então não era suposto apoiarem o faça-você- às questões que normalmente estão associadas ao mas não as sobrevalorizem.
vão aparecendo (numa base diária, diga-se) na área mesmo?). O Josh Rouse, por exemplo, tem um marketing. E não falo das ferramentas não raras
dos media sociais e da Web 2.0 (aquelas coisas sistema de subscrição pago no site mas, sem mais vezes obsoletas e pouco eficazes utilizadas pelos De repente, começámos a falar de ferramentas de
todas com os nomes esquisitos e poucas vogais). O nada, isto é apenas uma solução de recurso, uma departamentos de marketing das principais edito- auto-promoção como se toda a indústria da música
cepticismo não me deixa entrar em ondas por cada maneira de ganhar uns cobres. Falta definir um ras internacionais. Antes, refiro-me ao estudo do dependesse delas. As ferramentas por si só têm
serviço novo que aparece por aí, o que me permite caminho. E a Topspin dá uma ajuda ao nível das mercado, peça central no puzzle e agregador de ciclos de vida muito curtos. Veja-se, de resto, algu-
filtrar melhor as novidades, parece-me. ferramentas… mas tem um contributo estratégico quase todos os conceitos da disciplina. Sem este mas das que são actualmente utilizadas pela indús-
muito marginal. tipo de conhecimentos, o marketing é o fruto de tria. Por exemplo, quem é que ainda liga a cartazes
Isto para dizer que não consigo ver (e acreditem conversa fiada e ferramentas de execução de sabe- colados em taipais de chapa? Fazem falta con-
que já tentei!) o motivo da excitação toda que por O Bob Lefsetz, que é um tipo com anos e anos se lá o quê. ceitos e caminhos novos. Deixemos as ferramentas
aí anda com a Topspin. Para quem não sabe, a de experiência na arte de dizer o que pensa da in- para depois.
Topspin pretende ser uma alavanca na web para dústria da música, anda muito entusiasmado com Parece-me que o Bob Lefsetz demonstra demasia-
artistas independentes, não numa lógica de market- o facto de, resumidamente, o pessoal da Topspin do entusiasmo para algo tão pouco interessante. É
qua
qua
quase
Qua Qua Quase agradável mas que não vai muito além do espera- canção é irresistível. novidade do álbum. Na sequência final, a surpresa
Marcadores: Indie-Pop , Por César M. | postado do. O motor do álbum é abastecido pelos grandes Dying Is Fine impressiona, não só pelo poder do fica por conta da bela recriação de Suspended In
por César M. às 00:58 | Edit This momentos do EP, que terminava com Ghost Un- seu refrão: o compositor John Pike, baterista do Gaffa, da gafanhota Kate Bush, carinhosamente
der Rocks, a canção que abre “The Rhumb Line” Ra Ra Riot, achou mesmo que morrer era tran- imitada pelo vocalista Wesley Miles.
Ficou encantado com o EP, lançado no ano pas- (Barsuk, 2008). E assim, nós nos sentimos livres quilinho e... morreu! (Nota: Cameron Wisch fez o Os acontecimentos trágicos do último ano pare-
sado, da banda nova iorquina Ra Ra Riot? Pra não pra dizer logo no início: “Olha, eles se parecem trabalho de Pike nas gravações e um novo baterista cem não ter desviado o caminho do Ra Ra Riot. É
te desapontar, esses universitários de Syracuse muito com o Arcade Fire!”. Soa preguiçoso, mas é irá acompanhar a banda no palco). A canção teve uma banda pronta, com todos os prós e contras que
resolveram não mexer em muita coisa e lançaram inevitável. Logo depois surge Each Year, uma jóia pouco mais de 2 dos seus 6 minutos enxugados e a expressão carrega. Por isso, na tentativa de ser
um primeiro long play bem parecido com o mate- indie pop, alguma coisa parecida com Headlights se tornou um single de muito potencial. Can You memorável, o álbum ficou no quase. Quase formu-
rial de 2007. Looks Like Diamonds (do Arcade Fire) como base Tell, a última remanescente do EP e com algumas laico. Quase brilhante.
Quatro das dez canções são velhas conhecidas e de uma melodia vocal do-do-do-dah-dah-dah do mudanças (letra e arranjos), parece ainda mais
aparecem em duplas, intercaladas pela bobagem Sting. A construção mental dessa descrição pode atraente. A faixa seguinte, Too Too Fast, parte de
Winter ‘05 e St. Peter’s Day Festival, uma canção resultar num monstro horripilante, mas acredite, a um argumento new-wave pra se tornar a maior http://indienation.blogspot.com/
ritmos sul americanos, a pop e o rock de sessenta
com o funk de setenta, a confusão concertada da
música de leste com a lógica desconcertada das
bandas sonoras de Tarantino.
Depois de terem entusiasmado o público e acríti-
ca com a sua actuação no festival de Paredes de
Coura e de terem sido considerados pelo Blitz
uma das grandes promessas da música portugue-
sa para 2000, os Madame Godard iniciaram uma
longa tournée que os levou a actuar dentro e fora
do país, partilhando paços com vários ícones do
rock, tais como Iggy Pop, Sonic Youth e dEUS.
http://portugalrebelde.blogspot.com O percurso dos Madame Godard não levaria, no
entanto, o sentido comum.Apostando na difer-
ença como base da sua obra e sem nunca ter tido
pressa de agradar tendencialmente, o grupo pro-
MADAME GODARD curou consolidar ideias, em busca de uma con-
Os Madame Godard revelaram desde o início um stante superação.
grande ecletismo, assumindo um vasto e variado A maturidade sonora surge agora, fruto de uma
leque de influências musicais. musicalidade contemplativa, para dar lugar a um
As tonalidades sonoras da banda pintadas por trabalho ao mesmo tempo delicado e colorido,
trompetes, violinos e teclados vintage transpor- despojado e complexo.
tam-nos para cenários singulares. Actualmente em estúdio a gravar o primeiro dis-
Com a experiência e liberdade criativa como co, os Madame Godard regressam agora aos pal-
denominador comum do seu trabalho, os Ma- cos para revelarem alguns dos temas que farão
dame Godard cruzam a chanson française com parte do seu aguardado álbum de estreia.
animal
collective
Animal Collective tos, assim sendo temos:
“Water Curses” com toda a personalidade de
4 Músicos, 4 Temas Avey Tare (David Portner); “Street Flash” é puro
Panda Bear (Noah Lennox) coros intensos e tor-
A paranóia colectiva, a destruição de tabus, o rentes de ecos; “Cobwebs” mostra a minúcia de
constrói-destroi dos Animal Collective é uma Geologist (Brian Weitz) ao comando de todos
delicia. É óptimo quando uma banda rompe o os botões e parafernálias electrónicas; por fim
star-sistem e faz o que lhe vai na alma, não li- “Seal Eyeing” mostra Deakin (Josh Dibb) talvez
gando patavina às regras, às normas vigentes. a parte mas serena, a zona mais tranquila de Ani-
Fazem assim porque gostam, fazem assim por mal Collective.
são assim. O EP Water Curses é isto tudo, é Ani- O EP Water Curses mostra que tudo vai no bom
mal Collective na sua perfeição, continuam o seu caminho, que índole paranóica da musica dos
passeio imunes a tudo e a todos, delineiam um Animal Collective continua em forma, que tudo
caminho e com passos exactos pintam numa tela persiste, que tudo segue a rota anteriormente
todas as cores disponíveis e é nela que estampam projectada.
a sua pop psicótica, encharcada de micro sons e
constantes revoluções sonoras. Momento Mágico: Street Flash
Este EP é a forma ideal para conhecer, o que é,
quem são, os Animal Collective. Ao longo de 4
temas expõem toda a sua potencialidade e todo Animal Collective – Water Curses [EP] (2008) -
seu (mau) génio. 4 músicos, 4 temas, não sei se Paradise Recordings
foi intencional, mas consigo separar 4 perfeitos
universos neste Water Curses, como se cada por Antonio Antunes
tema fosse a face de cada um dos seus elemen-
http://phono.com.sapo.pt com os projectos nos quais tocava, e que sempre o Homem e a Máquina (David Bowman de “2010 Saint Saens que “onde um artista vê uma bela
quis fazer algo melhor e mais adequado aos meus – Segunda Odisseia”, enquanto futuro arquétipo forma, as pessoas grosseiras só vêem nudez”. Fer-
Apartando-se das habituais dificuldades inerentes gostos pessoais”. do Homem digital), The Astroboy é a ruptura, o nandes interpela o ouvinte com a ética de que este
a uma estreia, Luís Fernandes (aka The Astroboy) Surge então o pseudónimo The Astroboy. O mundo conflito e a paranóia que assolam a espécie desde necessita, para que possa apreciar a obra de uma
editou no passado mês de Fevereiro, aquele que é, em redor parecia em tudo igual ao que era dantes. a invenção da máquina a vapor. Está portanto bem forma premeditada. A Derrota da Engrenagem é
até à data, um dos mais interessantes registos da No entanto, naquele último andar, algo mudava. mais perto de “Eu, Robot”, naquilo que poderia ser sobretudo experimental a este nível: será possível a
nova música electrónica nacional, a saber, A Der- Achavam-se agora pelo chão, objectos que indi- uma nova banda sonora pós-Alan Parsons Project, uma obra sair do conceito a que está associada, ou,
rota da Engrenagem. ciavam uma grande actividade: cabos, restos de do clássico de Isaac Asimov. pelo contrário, estará esta presa a uma ideia que,
refeições, discos avulsos e outras páginas meias De resto, o conceptualismo d’A Derrota da Engre- em última instância, a limita? Luís Fernandes ex-
Braga. Ouvem-se diferentes sonâncias por toda a lidas. Todos eles pareciam confluir em redor de um nagem surge exactamente da mesma forma que plica: “Sinceramente não me preocupei muito com
cidade: o ruído sólido da porta do táxi, o chiar aba- velho computador. No écran, não existiam mui- surgia no Alan Parsons Project: depois da obra possíveis falhas, já que inicialmente nem pensava
fado da porta do edifício antigo, a vibração aguda tas cores; apenas caracteres verdes sob um fundo terminada, procuravam-se pontos de contacto entre em editar este trabalho. Eram apenas experiências
da campainha, a cedência regular dos nossos pas- negro – os mesmos que espreitávamos no Banco os vários temas; atribuíam-se designações a con- que desenvolvi no sentido de aprender um pouco
sos sobre os degraus, e depois, o arrastar de uma quando éramos miúdos (e que agora são amarelos dizer (nem de propósito, diriam alguns), tiravam- mais”. A “coincidência” desaparece. Um álbum
porta que se abre para a verdadeira música que e cinzentos, sob um fundo azul). se umas fotos alusivas e, não fossem os tiros ao de estreia capaz de gerar uma pergunta tão impor-
vem lá de dentro: uma música moída por um velho Existiam sons presos naquela sala; ouviam-se os lado, o objecto lá passava como um todo indivi- tante, não pode ter sido gerado ao acaso. Junte-se
computador, uma caixa de ritmos a condizer, uma minutos a passar enquanto Astroboy tentava novas sível e extremamente cerebral. a pertinência da questão ao perfeito doseamento de
guitarra e um sintetizador. abordagens, outros efeitos, diferentes cronometra- Mas eis que Luís Fernandes desmistifica todo o timbres e dinâmicas, e não estaremos muito longe
É este o mundo de Luís Fernandes. É ali, no cen- gens… “O projecto The Astroboy é apenas uma processo: “O facto de ser o primeiro trabalho a ser da verdade quando afirmamos que estamos perante
tro dos três Sacro-Montes, que o artesão vai dando faceta da minha identidade enquanto músico, pois desenvolvido unicamente por mim, fazia-me sentir um dos mais interessantes projectos da música
corpo a vários trabalhos de pura filigrana sonora, há outros percursos e áreas que quero explorar. que este projecto tinha de ser algo conceptual, no electrónica portuguesa.
qual Doutor Pesavento que se fecha ao mundo ex- Para mim o mais importante deste projecto foi ter- qual a fórmula estaria previamente determinada. A O “acaso” é agora uma ideia remota: “Ainda não
terior, para lentamente poder construir a sua ausên- me dado a entender que eu sou capaz de fazer algo conceptualização foi essencialmente ao nível dos pensei se este projecto é para continuar. A minha
cia. sozinho e nesse sentido, desbravou um caminho elementos que queria usar para a construção dos intenção era gravar o álbum e fazer alguns con-
Os resultados aparecem agora de uma forma mais que agora quero percorrer. Para este álbum, o mét- temas. Queria explorar drones, coisa que nunca certos por isso os objectivos foram atingidos. Só
esporádica; o passado fez-se a partir de experiên- odo utilizado para compor foi muito similar em to- tinha feito, e aprender um pouco sobre esta maté- lançarei outro álbum de The Astroboy se conseguir
cias, actos mais ou menos reflectidos que fo- dos os temas. Em primeiro lugar ia construindo os ria. O resultado foi uma sonoridade muito densa acrescentar alguma coisa ao que já fiz... Neste mo-
mentaram a edificação a solo, de um monumento drones a partir de várias camadas de sintetizadores,
e sci-fi, o que motivou a adopção da temática dos mento planeio fazer mais alguns concertos durante
musical graniticamente sólido. Para trás ficaram que depois funcionavam como base para as con- nomes dos temas e álbum. O universo a que os este ano e depois dedicar-me a outros projectos.
muitas tardes de sábado e outras tantas queixas struções seguintes. Mais tarde elaborei a parte rít-
títulos remetem apenas chegou depois dos temas Tenho uma série de ideias em mente para outro
dos vizinhos: “Passei a minha adolescência a tocar mica – quis que esta fosse sonoramente degradada terem sido gravados. Acho que a partir de agora projecto a solo e também sinto saudades de tocar
em bandas. Destas, o único projecto com alguma e repetitiva. As guitarras vieram por último lugar vou ter muita mais dificuldade em criar música em banda. Para além disso ainda tenho de ocupar
projecção foram os Frequency, que lançaram um e foram a componente mais natural de todo o pro- sem ser de uma forma previamente pensada. Nesse tempo com os Jazz Iguanas [projecto que Luís
EP, e tiveram algum destaque na imprensa devido cesso, já que foram praticamente todas compostas aspecto foi um passo em frente para a minha matu- Fernandes mantém juntamente com Miguel Pedro
a terem ganho concursos e serem finalistas do Ter- directamente nas sessões de gravação (limitei-me ridade enquanto músico.” dos Mão Morta] e gostava de começar a gravar/
mómetro Unplugged. Tive oportunidade de tocar a eliminar algumas e editar ligeiramente a duração O conceptualismo é então uma feliz “coincidên- produzir algumas coisas de outras pessoas.”
muitas vezes ao vivo, conhecer muitas pessoas e das mesmas).” cia” que se faz valer das imagens induzidas no
ter experiências variadas enquanto membro dessas ouvinte pelo músico. Cria-se um estado de fantasia © 2007 SP
bandas, o que em muito contribuiu para a minha O conceptualismo por detrás d’A Derrota da En- (sem propósito) no qual se relaciona tudo aquilo
evolução enquanto músico. No entanto devo dizer grenagem é evidente. Explora-se o fantasma dos que se conhece para depois ser trabalhado pela
que, felizmente, nunca me identifiquei totalmente tempos futuros; se os Kraftwerk eram a união entre imaginação (já com um propósito). Diria Camille
entrevista
| The Raveonettes |
| The Raveonettes | Para mim este disco realmente capturou a essência Nova Iorque e eu em Los Angeles. Não fizemos
Tipo a constante comparação ao Jesus and Mary do The Raveonettes. Entre o barulho, as texturas isso de modo premeditado, simplesmente surgiu da
Por: Aldo Linares (Muzikalia, Espanha, março de Chain, não? Parece que quase toda a imprensa fala melódicas e as letras, encontramos o equilíbrio fusão do que somos e do que encontramos lá.
2008) disto, embora na verdade seja algo que vai mais ideal para percebermos continuamos sendo os
Tradução: Luciano Ferreira além, pois a sonoridade deles, assim como a de mesmos que fizeram canções como “Attack of the Há pouco falávamos da turnê. Independente do
vocês, tem muito dos cinquenta e sessenta. ghost riders” ou “Beat City”. Acho que esse bal- fato de poder viajar, desfrutar e, claro, ser pago,
The Raveonettes Sim, fico feliz com o que você disse, porque é isso anço fez com que criássemos um disco em que se também há o fato de ter seu repertório posto a pro-
mesmo. O Jesus and Mary Chain não é uma in- pode notar uma certa sensação de escuridão e in- va constantemente.
“O Jesus and Mary Chain não é uma influência fluência para nós. Acontece que provavelmente te- timidade. Contamos com isso. Nós mesmos somos pos-
para nós” mos referências muito parecidas. O que buscamos tos à prova. Não é fácil estar em uma banda, mas
é fazer canções pop boas e sensíveis, da maneira A mistura de escuridão e letras sentimentais parece as turnês são experiências alentadoras se souber
Em uma manhã de domingo que se imaginava uma que se fazia nos anos cinquenta. Assim como o Je- funcionar bem na música de vocês. como conduzi-las. Fizemos um acordo de a cada
chuva intensa sobre Madri, a tranquila recepção sus and Mary Chain, nós juntamos ao barulho sen- Sim, mas acho que isso é algo sempre esteve noite podermos mudar o nosso repertório ao nosso
do hotel serviu de abrigo para uma entrevista com sibilidade pop e belas melodias. Tampouco quere- relacionado com o bom pop, letras tristes ou modo. Temos feito muitos shows, tocamos numa
os dinamarqueses que aqui estavam para apresen- mos nos repetir. Não descobrimos nada de novo na melancólicas com música alegre ou algo assim. festa de um evento de Julian Schnabel e correu
tar seu quarto álbum, o intenso “Lust Lust Lust”. música, mas queremos fazer o que amamos e isso Fazemos canções que podem ter certa doçura nos tudo bem, embora tenha sido muito desgastante.
Após alguma espera, chega Sharin Foo sem Sune tem muito a ver com o pop e o rock clássico. Mas vocais apesar de estarmos falando de prostituição, Para nós esta turnê é uma experiência em que po-
Rose Wagner, que estava com uma afonia comple- não somos totalmente nostálgicos, há músicas que por exemplo. A mistura de duas coisas opostas em demos ir mudando coisas e descobrindo que algu-
ta, requerendo ajuda médica e repouso para poder gostamos e tem proximidade com a nossa e outras uma canção provoca uma tensão muito interes- mas canções podem render mais do que pensáva-
encarar o concerto de logo mais. Com vestido e que nem tanto. sante. Isso é perceptível nas canções das Ronettes mos.
botas negras que ressaltam a sua figura, Foo torce e Shangri-las. Neste álbum misturamos a sensação
para que seu companheiro esteja melhor para o Por exemplo? urbana de viver em uma grande cidade com o fato Isso vocês podem captar do público.
concerto de logo mais, ou teriam que enfrentar Deixe-me ver... Glasvegas, Liars ou LCD Sound- de ter que ocultar os sentimentos, como se fosse Por sorte. Não sabe quão estranho e bonito que
uma situação inédita em sua carreira, ela teria que system. Jekyll e Hyde. é receber e-mail’s ou conversar com alguém dos
ser a voz do Raveonettes. lugares mais loucos e
Deve ser muito complicado distantes do mundo. Por
“Não consigo controlar o nervosismo, nunca nos fazer canções pop. isso nós gostamos de
aconteceu isso e espero que os médicos nos aju- É verdade, mas por isso falar com os fãs depois
dem. Estivemos em turnê por várias semanas e somos um grupo. Não te- dos concertos. Poder falar
isso provocou esse problema de garganta de Sune, mos uma fórmula em que com alguém da Argen-
mas tocaremos de qualquer maneira, talvez seja a nos apoiamos. Quando tina, México, Japão que
primeira vez que cante sozinha. Mas eu farei.” começamos, trabalháva- te diz o que acha de nossa
mos em cima de uma nota música é algo realmente
Como vai a turnê? à qual íamos acrescentando surpreendente.
Muito bem, apesar de começarmos a nos sentir detalhes e uma melodia que
cansados, mas isso faz parte da nossa vontade de refletisse o que queríamos Eles transformam sua
fazer boas apresentações e de tocar em lugares que dizer. Hoje sabemos que música em algo que faz
não conhecemos. O mal é que às vezes nos sobra queremos fazer canções parte de suas vidas. Mas
muito pouco tempo para conhecer esses lugares. que nos agradem e que pos- a sua música é uma ex-
Fazemos entrevistas, passamos o som, tocamos, samos lembrar com orgul- tensão direta da vida de
nos divertimos e voltamos a viajar. Estar em turnê ho. vocês?
é como estar em parte alguma. Definitivamente sim
Ainda trabalham dessa ma- Porquê negar? Fazemos
Estar em parte alguma, mas às vezes é uma espécie neira? canções que tem a ver
de lugar comum, já que as perguntas das entrevis- Bem, basicamente sim. com anseios e sonhos. So-
tas e a rotina são as mesmas? Este álbum é o mais mini- mos um grupo de pessoas
Sim, é algo que converso com Sune. Acho que malista que já fizemos com sentimentos e gos-
essa rotina é parte do mecanismo da música, ape- em se tratando do uso de tos comuns. O único mal
sar de preferirmos fazer as coisas ao nosso modo instrumentos e é interessante sentir que ao vivo é que às vezes The Raveonettes parece um nome
para não nos aborrecermos. Também é verdade tudo ganha uma dimensão maior. Também é mais Essa sensação urbana pode surgir do fato de morar difícil de lembrar ou pronunciar (risos).
que quase sempre as perguntas da imprensa são as perceptível a ajuda da eletrônica nas canções, os em um páís como os Estados Unidos?
mesmas, suas comparações e suas associações, ás ritmos também são mais minimalistas e dá a im- Absolutamente, não poderia ser de outra maneira.
vezes é tudo muito circular. pressão que as canções tem muitos espaços vazios. Somos dinamarqueses, mas agora Sune mora em
Minilogue – “Animals”
(2008 Cocoon)
http://baixafidelidade.blogspot.com/

Um surpresa que chega de Malmo na Suécia. seus vigorosos padrões rítmicos.


Marcus Henriksson e Sebastian Mullaert apre- O segundo disco deveria funcionar como uma
sentam-nos um duplo CD (belíssimo “digipack”) suposta peça de música ambiental contínua, que
– 26 faixas, 154 minutos de música. E apesar de deambula livremente, pois cada estrutura sonora
que o título ou a duração do disco, me fizessem cuidadosamente construída encaixa na próxima,
pensar nos Pink Floyd ou no rock progressivo mas que poderiam ter sido realizadas cada por
dos anos 70, felizmente estamos muito longe. uma diferente banda. Mas aqui o titulo “ambi-
O disco divide-se em duas partes deliberada- ente” é enganador pois quem esperar “ambient
mente diferentes, a primeira repleta de vaci- pop” ao estilo de Brian Eno ficará desapon-
lantes “bleeps” e “beats”, é uma viagem pelos tado, pois para todas as longas espirais de sin-
caminhos do “minimal techno”, reminiscente tetizadores ou delicados dedilhados de guitarra
da segunda geração de Detroit, mas apimentada acústica, existem complexas melodias que se
com temas que desobedecem a esse padrão mu- misturam intimamente com oscilantes “beats”
sical, de uma forma ameaçadoramente inventiva reminiscentes dos Boards of Canada ou dos
e que fazem com que o disco circule por outros Global Communication.
caminhos. Assim temos ecos de “jazz” e “funky- Um disco corajoso e aventureiro, sem medo em
house” em “Loud”, vibrantes ritmos “dub tech- avançar para novos terrenos, e que será difícil de
no” em “Hitchhiker’s Choice” e “electro” em esquecer.
“Giant, Hairy Spiders”. E que chegam a atingir a
perfeição no brilhante “33.000 Honeybees” e os
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Aculturarte - Revista de Cultura e Arte | ano 1 | número 5 | Agosto 2008

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