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Universidade Estadual de Campinas

Faculdade de Odontologia de Piracicaba


Departamento de Diagnóstico Oral
- Disciplina de Microbiologia e Imunologia -

Roteiro da aula 11 de Imunologia

Imunidade a microrganismos
Marcelo Henrique Napimoga
Prof. Dra. Renata de Oliveira Mattos-Graner

Há uma grande diversidade de microrganismos capazes de promover patogenias no


organismo humano, desde organismos muito simples como os vírus até bactérias
multicelulares como os vermes. Os patógenos humanos pertencem a quatro tipos principais:
vírus, bactérias, fungos e parasitas, sendo os parasitas organismos eucarióticos como, por
exemplo, os protozoários (unicelulares) e vermes multicelulares.
Os patógenos que causam doenças severas normalmente não residem no corpo; a
maioria desses agentes infecta somente espécies relacionadas de hospedeiros sendo
transmitidos de outro indivíduo infectado. Estes diferem em sua estrutura, na forma com
que exploram o corpo humano e no tipo de dano que causam. Para fins de defesa do
hospedeiro, uma distinção fundamental existe nos tipos de mecanismos imunes que podem
ser usados para eliminar os patógenos:
a) patógenos extracelulares (de superfícies epiteliais e espaços intersticiais) acessíveis às
moléculas solúveis do sistema imune (exemplo: complemento e anticorpos);
b) patógenos intracelulares (citoplasmáticos ou vesiculares) não acessíveis às proteínas
solúveis de defesa. São atacados através da destruição das células infectadas para então
expô-los às moléculas solúveis do sistema imune. Patógenos que persistem no interior
de fagossomos devem ser atacados ativando-se os mecanismos antimicrobianos da
célula fagocítica.
Imunidade às bactérias

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- Os mecanismos de reconhecimento de bactérias invasoras depende de moléculas de
superfície bacteriana. As efetividades dos mecanismos de imunidade às bactérias está
relacionada à estrutura da superfície bacteriana (Figura 1).

Figura 1: Estruturas da superfície de bactérias Gram positivas e negativas

- As moléculas de superfície bacteriana são os alvos dos receptores gerais dos fagócitos.
- Anticorpos específicos para as adesinas (presentes em fímbrias ou outros locais da
superfície bacteriana) são importante para bloquear a adesão bacteriana aos tecidos.
- O CAM formado pela ativação do complemento (vide roteiro aula 8) é mais efetivo
contra bactérias Gram negativas, visto que as Gram positivas não apresentam
membrana externa;
- A cápsula de polissacarídeo formada por algumas bactérias pode impedir as funções dos
fagócitos ou do complemento.

Há diferentes mecanismos de patogenicidade por bactérias (Figura 2):


1- mediada pela aderência epitelial e invasão do tecido;
2- mediada por toxinas produzidas (exotoxinas e endotoxinas) exclusivamente;
3- mediada pela invasão tecidual concomitante à produção de toxinas (ocorre na maioria
dos patógenos)

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Figura 2

As linhas de defesa contra as bactérias são


1. barreiras epiteliais físico-químicas;
2. outros componentes do sistema imune inato (ex: fagócitos e complemento);
3. sistema imune adaptativo (vide roteiro aula 5).

Sistemas fagocíticos contra bactérias: uma variedade de moléculas pode promover a


ligação bacteriana aos fagócitos (Figura 3). Há uma Cooperação entre o sistema imune
inato e adaptativo para o reconhecimento de bactérias por patógenos.

Figura 3: diversas moléculas de origem


bacteriana e imunológica medeiam o
reconhecimento por fagócitos.

A fagocitose é ampliada com o auxílio do complemento marcando covalentemente as


bactérias para destruição – C3b – e de anticorpos específicos (Figuras 4 e 5).

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Figura 4: As bactérias revestidas com anticorpo Figura 5: os anticorpos podem neutralizar
a aderência aos fagócitos é bem aumentada. as toxinas bacterianas.

A ação combinada da imunidade inata e da adaptativa é mais efetiva no combate aos


patógenos.
Uma vez que a bactéria é fagocitada, uma série de mecanismos de destruição podem ser
ativados. A destruição das bactérias fagocitadas depende também da ativação de
mecanismos de destruição dos fagócitos por citocinas produzidas por linfócitos Ta1 (vide
roteiro aula 5).
Destruição bacteriana por fagócitos:

1- mecanismos dependentes do oxigênio


- envolve uma enzima na membrana do fagossoma responsável pela redução do oxigênio
para um componente altamente tóxico, o superóxido (•O2);
- Via do óxido nítrico – resulta na formação de óxido nítrico (NO), tóxico para as
bactérias. Esta via depende da ativação do fagócito por citocinas (INFγ e TNF).

2- mecanismos independentes do oxigênio


- ácidos (pH 3,5-4,0)
- enzimas como a lisozima que dissolve a parede celular de bactérias
- peptídeos antimicrobianos (defensinas)
- lactoferrina (liga-se ao ferro e torna-o indisponível para as bactérias).

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Os patógenos são microrganismos que desenvolveram modos de escapar da resposta
imune ou subvertê-la.

Mecanismos de evasão do sistema imune por patógenos:

1. Escape da lesão mediada por complemento (Figura 6)


- utilização de cápsulas externas, que impedem a ativação do complemento;
- superfície externa definida, de modo que os receptores para o complemento nos
fagócitos não tenham acesso ao C3b fixado;
- expressão de estruturas de superfície que desviam a ligação do complexo de ataque à
membrana (complexo lítico);
- degradação enzimática do complemento fixado;
- mambrana externa resistente à inserção do complexo lítico;
- proteínas “despitadoras”.

Figura 6: Escape da ação do complemento

2. Algumas bactérias tem mecanismos para escapar da destruição no interior de fagócitos:


- a produção de cápsulas pode inibir a ligação ao fagócito e a fixação do complemento;
- produção de fatores que bloqueiam a ativação dos mecanismos de lise, inibindo a fusão
do lisossomo com o fagossomo (Mycobacterium tuberculosis);
- secretam catalase, que rompe o peróxido de hidrogênio;
- Pode haver produção de toxinas que inibem a quimiotaxia.

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3. Variação antigênica: mutações genéticas nas bactérias podem modificar epítopos
reconhecidos anteriormente por anticorpos ou outros componentes do sistema imune
evitando o reconhecimento pelo sistema imune ocorrido em exposições prévias à
mesma bactéria (Figura 7).

Figura 7: Diferentes cepas de Streptococcus pneumoniae tem polissacarídeos capsulares


antigenicamente distintos. Cada tipo requer receptores de anticorpos de especifidade
distintos para o reconhecimento.

4. Superantígenos: Proteínas produzidas por algumas espécies bacterianas que ligam


inespecificamente receptores MHC II das células apresentadoras de antígeno à
receptores de diversas células T.
5. A ativação inespecífica de inúmeros clones de linfócitos T desvia a resposta efetiva ao
antígeno da bactéria agressora.

Imunidade aos parasitas


Os parasitas apresentam ciclos biológicos complexos desenvolvendo diferentes
formas, cada qual expressando antígenos distintos estágio-específicos. Assim os
componentes do sistema imune inato gerados em um determinado estágio (expansão clonal
de células T/B e anticorpos) não vão agir em estágios subsequentes (há uma variação
antigênica estágio-específica).

- O tipo de resposta imune (celular ou humoral) varia conforme o parasita e o estágio da


infecção, e depende também dos tipos de citocinas produzidas. Por exemplo, as células
Ta1 potencializa as respostas celulares protetoras contra protozoários intracelulares
através da produção de citocinas que induzem a destruição dos protozoários parasitas e
pelos macrófagos (INFγ e TNF).

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Mecanismos importantes de destruição e expulsão de vermes são aqueles mediados por
IgE, mastócitos e eosinófilos (semelhante às reações de hipersensibilidade tipo I – vide
roteiro aula 9).

Mecanismos pelos quais os anticorpos podem controlar as infecções parasitárias e seus


efeitos:
1- Anticorpos específicos (IgM e IgG) em complexos imunes ativam a via clássica do
complemento, provocando lesão à membrana do parasita ou funcionando como
opsonina. A própria porção Fc de IgG promove opsonização;
2- bloqueio dos receptores específicos de fixação dos parasitas à superfície da célula
hospedeira: evita a disseminação do parasita durante as fases extracelulares;
3- indução da fixação do complemento (C3b) através da via clássica na superfície
parasitária: opsonina para fagocitose;
4- ativam eosinófilos, neutrófilos, plaquetas e macrófagos através das porções Fc.

Mecanismos de evasão do sistema imune por parasitas:


1- Resistência à destruição/fixação do complemento;
2- escape da destruição no interior de macrófagos;
3- variação antigênica (alteração de antígenos de superfície);
4- Imuno-supressão das respostas celular e humoral através da liberação de antígenos
solúveis.

Imunidade aos vírus


Os vírus são parasitas intracelulares e necessitam da maquinaria
enzimática/bioquímica da célula hospedeira para sua propagação. Os vírus ligam-se às
células hospedeiras através de receptores específicos. A Figura 8 ilustra os principais
eventos da infecção e replicação viral.

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Figura 8: Infecção e replicação viral.

- As principais células do sistema imune inato contra vírus são as células exterminadoras
naturais e macrófagos ativados.
- A infecção viral de linfócitos leva à produção de citocinas antivirais os IFNs, os quais
ativam diversos mecanismos antivirais em células teciduais ainda não infectadas (ex:
inibição da síntese protéica e degradação do RNA/DNA viral) tornando-as resistentes à
infecção.
- As respostas imunes adaptativas (específicas) são ativadas, com o aparecimento de
célula T citotóxicas, células T auxiliares e anticorpos que neutralizam vírus impedindo
re-infecção e disseminação nas fases extracelulares.
- O complemento também exerce atividade nas infecções virais embora seja mais
importante na infecção bacteriana e parasitária.

Mecanismos de evasão do sistema imune pelos vírus:


1. variação antigênica;
2. proteínas que bloqueiam Fc, citocinas e complemento;
3. proteínas que inibem o transporte de MHC I (evitando assim a identificação de células
infectadas);
4. Alguns vírus são difíceis de eliminar, pois entram em um estado quiescente dentro das
células humanas quando não se replicam nem geram peptídeos derivados virais

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suficientes para sinalizar sua presença para as células T citotóxicas. O desenvolvimento
deste estado de dormente, é denominado latência e não causa doença (Figura 9), é uma
estratégia característica do herpes vírus. Os vírus persistem em estágio de latência e
podem entrar em estágios ativos em resposta a diferentes estímulos como o aumento de
citocinas em resposta a infecção.

Figura 9: O vírus herpes penetra nos neurônios


sensoriais, escapando da resposta imune, pois os
neurônios expressam poucas moléculas MHC I.
Vários tipos de estresse podem fazer o vírus sair dos
neurônios e reinfectar o epitélio, reativando a resposta
imune e causando úlceras herpéticas.

Alguns vírus podem infectar leucócitos interferindo diretamente na resposta imune.


Ex. HIV infectam linfócitos Ta (CD4+) prejudicando a resposta imunológica.

Bibiografia

Roitt – Imunologia 5º edição


Parham – O sistema Imune

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