Este poema descreve a queda de poderosos reinos e impérios ao longo da história e como Portugal foi elevado por heróis como os Duques de Bragança. Também reflete sobre a mudança e a mortalidade da vida.
Este poema descreve a queda de poderosos reinos e impérios ao longo da história e como Portugal foi elevado por heróis como os Duques de Bragança. Também reflete sobre a mudança e a mortalidade da vida.
Este poema descreve a queda de poderosos reinos e impérios ao longo da história e como Portugal foi elevado por heróis como os Duques de Bragança. Também reflete sobre a mudança e a mortalidade da vida.
Que em grandeza no mundo mais cresceram, Ou por valor de esforo floresceram, Ou por vares nas letras espantosos. Teve Grcia Temstocles; famosos, Os Cipies a Roma engrandeceram; Doze Pares a Frana glria deram; Cides a Espanha, e Laras belicosos. Ao nosso Portugal, que agora vemos To diferente de seu ser primeiro, Os vossos deram honra e liberdade. E em vs, gro sucessor e novo herdeiro Do Bragano estado, h mil extremos Iguais ao sangue e mores que a idade.
XXII
De vs me parto, vida, e em tal mudana
Sinto vivo da morte o sentimento. No sei para que ter contentamento, Se mais h-de perder quem mais alcana! Mas dou-vos esta firme segurana: Que, posto que me mate o meu tormento, Pelas guas do eterno esquecimento Segura passar minha lembrana. Antes sem vs meus olhos se entristeam, Que com cousa outra alguma se contentem: Antes os esqueais, que vos esqueam. Antes nesta lembrana se atormentem, Que com esquecimento desmeream A glria que em sofrer tal pena sentem.
XXIII
Cara minha inimiga, em cuja mo
Ps meus contentamentos a ventura, Faltou-te a ti na terra sepultura, Por que me falte a mim consolao. Eternamente as guas lograro A tua peregrina formosura: Mas enquanto me a mim a vida dura, Sempre viva em minha alma te acharo.
E, se meus rudos versos podem tanto,
Que possam prometer-te longa histria Daquele amor to puro e verdadeiro, Celebrada sers sempre em meu canto: Porque, enquanto no mundo houver memria, Ser a minha escritura o teu letreiro.
XXIV
Aquela triste e leda madrugada,
Cheia toda de mgoa e de piedade, Enquanto houver no mundo saudade, Quero que seja sempre celebrada. Ela s, quando amena e marchetada Saa, dando terra claridade, Viu apartar-se de uma outra vontade, Que nunca poder ver-se apartada. Ela s viu as lgrimas em fio, Que de uns e de outros olhos derivadas, Juntando-se, formaram largo rio. Ela ouviu as palavras magoadas Que puderam tornar o fogo frio E dar descanso s almas condenadas.
XXV
Se quando vos perdi, minha esperana,
A memria perdera juntamente Do doce bem passado e mal presente, Pouco sentira a dor de tal mudana. Mas Amor, em quem tinha confiana, Me representa mui miudamente Quantas vezes me vi ledo e contente, Por me tirar a vida esta lembrana. De cousas de que apenas um sinal Havia, porque as dei ao esquecimento, Me vejo com memrias perseguido. Ah dura estrela minha! Ah gro tormento! Que mal pode ser mor, que no meu mal Ter lembranas do bem que j passado?
XXVI
Em formosa Leteia se confia,
Por onde vaidade tanta alcana, Que, tornada em soberba e confiana, Com os deuses celestes competia. Por que no fosse avante esta ousadia, (Que nascem muitos erros da tardana) Em efeito puseram a vingana Que tamanha doudice merecia. Mas Oleno, perdido por Leteia, No lhe sofrendo Amor que suportasse Duro castigo em tanta formosura, Quis a pena tomar da culpa alheia. Mas, por que a morte Amor no apartasse, Ambos tornados so em pedra dura.
XXVII
Males, que contra mim vos conjurastes,
Quanto h-de durar to duro intento? Se dura, por que dure meu tormento, Baste-vos quanto j me atormentastes. Mas se assim porfiais, porque cuidastes Derribar o meu alto pensamento, Mais pode a causa dele, em que o sustento, Que vs, que dela mesma o ser tomastes. E pois vossa teno com minha morte de acabar o mal destes amores, Dai j fim a tormento to comprido. Assim de ambos contente ser a sorte: Em vs por acabar-me, vencedores, Em mim porque acabei de vs vencido.
XXVIII
Est-se a Primavera trasladando
Em vossa vista deleitosa e honesta; Nas belas faces, e na boca e testa, Cecns, rosas, e cravos debuxando. De sorte, vosso gesto matizando, Natura quanto pode manifesta, Que o monte, o campo, o rio, e a floresta, Se esto de vs, Senhora, namorando.
Se agora no quereis que quem vos ama
Possa colher o fruto destas flores, Perdero toda a graa os vossos olhos. Porque pouco aproveita, linda Dama, Que semeasse o Amor em vs amores, Se vossa condio produz abrolhos.
XXIX
Sete anos de pastor Jacob servia
Labo, pai de Raquel, serrana bela; Mas no servia ao pai, servia a ela, Que a ela s por prmio pretendia. Os dias na esperana de um s dia Passava, contentando-se com v-la; Porm o pai, usando de cautela, Em lugar de Raquel lhe deu Lia. Vendo o triste pastor que com enganos Assim lhe era negada a sua pastora, Como se a no tivera merecida; Comeou a servir outros sete anos, Dizendo: Mais servira, seno fora Para to longo amor to curta a vida.
XXX
Est o lascivo e doce passarinho
Com o biquinho as penas ordenando, O verso sem medida, alegre e brando, Despedindo no rstico raminho. O cruel caador, que do caminho Se vem calado e manso desviando, Com pronta vista a seta endireitando, Lhe d no Estgio Lago eterno ninho. Desta arte o corao, que livre andava, (Posto que j de longe destinado) Onde menos temia, foi ferido. Porque o Frecheiro cego me esperava, Para que me tomasse descuidado, Em vossos claros olhos escondido.