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O Grande Problema de Job

Job tinha o seu coração cheio de amargura, conforme já vimos, mas esse não era o seu
único pecado. O problema era ainda mais grave! Continuemos então a analisar a Palavra
do Senhor, que nos mostrará claramente qual era o grande problema de Job que, lembrem-
se, é também o grande problema de Laodiceia. Daí o ser tão importante, para cada
adventista do sétimo dia, compreender correctamente o livro de Job, pois este nos ajudará a
diagnosticar e reconhecer a terrível doença de Laodiceia, doença esta que, se não for tratada
a tempo, e com a devida medicação, irá, sem dúvida alguma, levar todos os que a contraíram
à morte eterna. Analisemos então os sintomas desta terrível doença, conforme se
acham registados no livro de Job.

Após o seu discurso do cap. 3, onde Job começa a deixar transparecer toda a amargura
que lhe ía no coração, os seus três amigos quebram o silêncio e dirigem-lhe a palavra.
O primeiro a falar foi Elifaz, que lhe disse: “Se alguém intentar falar-te, enfadar-te-ás?
Mas quem poderá conter as palavras? Eis que tens ensinado a muitos, E tens
fortalecido as mãos fracas. As tuas palavras têm sustentado aos que estavam caindo, E
tens fortalecido os joelhos trêmulos. Porém agora que se trata de ti, te enfadas: Agora
que és atingido, te perturbas. O teu temor de Deus não é a tua confiança, E a tua
esperança a integridade dos teus caminhos? Lembra-te, pois, quem, sendo inocente,
jamais pereceu? E onde foram os retos exterminados? Conforme tenho visto, os que
cultivam iniquidade, e semeiam aflição, as segam.” Job 4:1-8

Uma Revelação de Deus


Então, Elifaz conta o que ouviu em visão – mais adiante (em Job 33:14-17) veremos
claramente que se tratava de uma revelação de Deus: “Mas a mim se me disse uma
palavra em segredo, E os meus ouvidos perceberam um sussurro dela. No meio dos
pensamentos que nascem das visões noturnas, Quando profundo sono cai sobre os
homens, Sobrevieram-me medo e tremor, Que fizeram estremecer todos os meus
ossos. Então passou um sopro sobre o meu rosto; Arrepiaram-se os cabelos da minha
carne. Alguém, cuja aparência eu não podia discernir, parou; Um vulto estava diante
dos meus olhos: Houve silêncio, e ouvi uma voz: Pode o mortal ser justo diante de Deus?
Pode o varão ser puro diante do seu Criador?” Job 4:12-17

E Elifaz continua a falar a Job, aconselhando-o a buscar a Deus. No seu discurso,


podemos encontrar a seguinte “bem-aventurança”:“Eis que feliz é o homem a quem
Deus reprova, portanto não desprezes a correção do Todo-poderoso. Pois ele faz a ferida, e a
ata; Ele fere, e as suas mãos curam.” Job 5:17,18

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Job Considera-se Sem Pecado:
Na sua resposta a Elifaz, Job afirma: “Há porventura iniquidade na minha língua? Ou não
poderia o meu paladar distinguir coisas iníquas?” Job 6:30. Então ele dirige-se a Deus,
nas seguintes palavras: “Se pequei, que te farei, ó Guarda dos homens? Por que fizeste
de mim um alvo para ti, para que a mim mesmo me seja pesado?” Job 7:20

Agora é a vez de Bildad dar o seu parecer. Entre outras coisas ele disse a Job: "Até
quando falarás tais cousas? E até quando serão as palavras da tua boca como um
vento impetuoso? Perverte Deus o juízo ou perverte o Todo-poderoso a justiça? Eis
que Deus não rejeitará ao homem sincero, Nem sustentará os malfeitores." Job 8:3,20

“Então respondeu Jó: Na verdade sei que assim é: Mas como pode um homem ser
justo para com Deus? Se alguém quisesse contender com ele, de mil cousas não lhe
poderia responder nem sequer uma.” Job 9:1-3

Não obstante esta resposta Job continua, como já vimos antes, a insinuar que Deus é
opressivo, parcial e injusto (v. 17-19,22,23,32-34). Ele continua a achar que está sem
pecado, dizendo para Deus: “Bem sabes tu que eu não sou ímpio”. Job 10:7

Desta vez é Zofar (ou Sofar) quem fala: “Porventura as tuas jactâncias farão calar as
gentes? Quando zombares, ninguém te fará envergonhar? Pois dizes: A minha doutrina
é pura, E limpo sou aos teus olhos. Porém oxalá que Deus falasse, E abrisse os seus
lábios contra ti; (…) Poderás descobrir as cousas profundas de Deus? Poderás descobrir
perfeitamente o Todo-poderoso?” Job 11:3-5,7

O Orgulho do Conhecimento
E Job responde-lhe ironicamente, dizendo: “Na verdade vós sois o povo, e a sabedoria
morrerá convosco.” – e continua orgulhosamente – “Mas eu tenho entendimento como
vós, eu não vos sou inferior. Quem não sabe tais cousas como essas?” Job 12:2,3.

“Mas pergunta agora às bestas da terra, e elas te ensinarão; E às aves do céu, e elas te
farão saber. Ou fala com a terra, e ela te ensinará; E os peixes do mar to declararão.
Quem não aprendeu de todos estes que a mão de Jeová faz isto?” (v. 7-9)

Agora Job quer mostrar que também sabe tudo isso: “Com Deus está a sabedoria e a
força, Ele tem conselho e entendimento. Eis que derriba, e não se pode reedificar;
Lança na prisão, e não se pode abrir. Retém as águas, e elas secam; Solta-as, e elas
transtornam a terra.” (v. 13-15) E ele continua, até ao final do cap. 12 a demonstrar a
sua “grande” sabedoria. E depois diz:

“Eis que tudo isto viram os meus olhos, e os meus ouvidos o ouviram e entenderam. Como
vós o sabeis, também eu o sei; não vos sou inferior. Mas eu falarei ao Todo-Poderoso, e
quero defender-me perante Deus. (…) Ouvi agora a minha defesa, e escutai os

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argumentos dos meus lábios. (…) Ainda que ele me mate, nele esperarei; contudo os
meus caminhos defenderei diante dele. Também ele será a minha salvação; porém o
hipócrita não virá perante ele. Ouvi com atenção as minhas palavras, e com os vossos
ouvidos a minha declaração. [e agora dirige-se a Deus:] Eis que já tenho ordenado a
minha causa, e sei que serei achado justo. (…) Quantas culpas e pecados tenho eu?
Notifica-me a minha transgressão e o meu pecado.” Job 13:3,6,15-18,23.

Elifaz responde-lhe: “ a tua boca declara a tua iniquidade… A tua boca te condena, e
não eu, e os teus lábios testificam contra ti. És tu porventura o primeiro homem que
nasceu? Ou foste formado antes dos outeiros? Ou ouviste o secreto conselho de Deus
e a ti só limitaste a sabedoria? (…) Por que te arrebata o teu coração, e por que piscam
os teus olhos? Para virares contra Deus o teu espírito, e deixares sair tais palavras da
tua boca? Que é o homem, para que seja puro? E o que nasce da mulher, para ser
justo?” Job 15:5-8, 12-14

Job defende-se, declarando ser pura a sua oração: “O meu rosto está todo
avermelhado de chorar, e sobre as minhas pálpebras está a sombra da morte: Apesar
de não haver violência nas minhas mãos, e de ser pura a minha oração.” Job 16:16,17

Mais à frente Job diz: “ele *Deus+ sabe o meu caminho; provando-me ele, sairei como o
ouro. Nas suas pisadas os meus pés se afirmaram; guardei o seu caminho, e não me
desviei dele. Do preceito de seus lábios nunca me apartei, e as palavras da sua boca
guardei mais do que a minha porção.” Job 23:10-12

Bildad responde-lhe: “Como, pois, seria justo o homem para com Deus, e como seria
puro aquele que nasce de mulher?” Job 25:4

À Minha Justiça Me Apegarei


Mais adiante Job afirma: “Enquanto em mim houver alento, e o sopro de Deus nas
minhas narinas, não falarão os meus lábios iniquidade, nem a minha língua
pronunciará engano. … até que eu expire, nunca apartarei de mim a minha integridade.”
Ele chega mesmo a dizer: “À minha justiça me apegarei e não a largarei; não me
reprovará o meu coração em toda a minha vida.” Job 27:3,4,6

E, no cap. 29, Job passa a apresentar um relatório das suas boas obras, mostrando
assim estar cheio de justiça própria – que aos olhos de Deus é como trapos de
imundície (Is. 64:6) – e não da justiça de Cristo: “Ouvindo-me algum ouvido, me tinha
por bem-aventurado; vendo-me algum olho, dava testemunho de mim; Porque EU
livrava o miserável, que clamava, como também o órfão que não tinha quem o
socorresse. A bênção do que ia perecendo vinha sobre mim, e EU fazia que rejubilasse
o coração da viúva. Vestia-me da justiça, e ela me servia de vestimenta; como manto e

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diadema era a minha justiça. EU me fazia de olhos para o cego, e de pés para o coxo.”
Job 29:12,13-15. Eu, eu, eu! Faz lembrar a resposta do jovem rico a Jesus, quando Ele
lhe disse para guardar os mandamentos: “Tudo isso tenho guardado desde a minha
mocidade”. Mat. 19:20

No entanto, por maior que possa ser a lista de boas obras de alguém, a Bíblia afirma: “por
obras da lei nenhum homem será justificado diante dele, pois, pela lei vem o pleno
conhecimento do pecado [e não a justificação]. Mas agora sem lei tem-se manifestado a
justiça de Deus, atestada pela Lei e pelos profetas, a saber, a justiça de Deus mediante a fé
em Jesus Cristo para com todos os que crêem. Pois não há distinção; porque todos pecaram
e necessitam da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente pela sua graça mediante a
redenção que há em Cristo Jesus”. Rom. 3:20-24. Ninguém pode tornar-se justo através
da guarda da Lei. Até porque, ao ser humano apartado de Cristo, seria impossível fazê-
lo. “Pois a mente da carne é inimizade contra Deus; visto que não é sujeita à lei de Deus,
nem o pode ser”. Rom. 8:7. A justificação é um dom de Cristo, que se aceita pela fé,
exercendo a nossa vontade, sem nenhum esforço adicional da nossa parte. “Pois, que
diz a Escritura? Creu Abraão em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça. Ora, àquele
que faz qualquer obra não lhe é imputado o galardão segundo a graça, mas segundo a
dívida. Mas, àquele que não pratica, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe
é imputada como justiça.” Rom. 4:3-5.

Declaração de Integridade
Mas Job ainda não tinha entendido isso. Desta forma, e ao longo de todo o cap. 31, ele
continua a declarar a sua integridade:

“Fiz aliança com os meus olhos; como, pois, os fixaria numa virgem? (…) Se andei com
falsidade, e se o meu pé se apressou para o engano (Pese-me em balanças fiéis, e
saberá Deus a minha sinceridade), se os meus passos se desviaram do caminho, e se o
meu coração segue os meus olhos, e se às minhas mãos se apegou qualquer coisa
[referência ao roubo], então semeie eu e outro coma, e seja a minha descendência
arrancada até à raiz. Se o meu coração se deixou seduzir por uma mulher, ou se eu
armei traições à porta do meu próximo, então moa minha mulher para outro, e outros
se encurvem sobre ela, porque é uma infâmia, e é delito pertencente aos juízes. (…) Se
desprezei o direito do meu servo ou da minha serva, quando eles contendiam comigo;
(…) se retive o que os pobres desejavam, ou fiz desfalecer os olhos da viúva, ou se,
sozinho comi o meu bocado, e o órfão não comeu dele (porque desde a minha
mocidade cresceu comigo como com seu pai, e fui o guia da viúva desde o ventre de
minha mãe), Se alguém vi perecer por falta de roupa, e ao necessitado por não ter
coberta, Se os seus lombos não me abençoaram, se ele não se aquentava com as peles
dos meus cordeiros, Se eu levantei a minha mão contra o órfão, porquanto na porta

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via a minha ajuda, então caia do ombro a minha espádua, e separe-se o meu braço do
osso. (…) Se no ouro pus a minha esperança, ou disse ao ouro fino: Tu és a minha
confiança; Se me alegrei de que era muita a minha riqueza, e de que a minha mão
tinha alcançado muito; se olhei para o sol, quando resplandecia, ou para a lua,
caminhando gloriosa, E o meu coração se deixou enganar em oculto, e a minha boca
beijou a minha mão [referência à idolatria, adoração ao sol, lua e estrelas], também
isto seria delito à punição de juízes; pois assim negaria a Deus que está lá em cima. Se
me alegrei da desgraça do que me tem ódio, e se exultei quando o mal o atingiu
(também não deixei pecar a minha boca, desejando a sua morte com maldição); (…) O
estrangeiro não passava a noite na rua; as minhas portas abria ao viandante. (…) Ah!
quem me dera um que me ouvisse! Eis que o meu desejo é que o Todo-Poderoso me
responda, e que o meu adversário escreva um livro. (…) Se a minha terra clamar contra
mim, e se os seus sulcos juntamente chorarem, se comi os seus frutos sem dinheiro
[referência a comer da novidade da terra, como dizem algumas versões, ou seja, das
primícias que pertenciam ao Senhor. O equivalente, nos nossos dias, à retenção de
dízimos], e sufoquei a alma dos seus donos, por trigo me produza cardos, e por cevada
joio. Acabaram-se as palavras de Jó.” Job 31:1,5-11,13,16-22,24-30,32,35,38-40.

Era Justo aos Seus Próprios Olhos


“Então aqueles três homens cessaram de responder a Jó; porque era justo aos seus
próprios olhos.” Job 32:1

Ele mesmo tinha pronunciado a sua culpa. Pior ainda, parecia estar satisfeito com isso: “À
minha justiça me apegarei e não a largarei”. Job 27:6. Conhecem melhor retrato de
Laodiceia? “Visto que dizes: Rico sou e estou enriquecido e de nada tenho falta, e não
sabes que tu és o coitado, miserável, e pobre, e cego e nu” Ap 3:17. Job é um símbolo
perfeito de um laodiceano dos nossos dias, pois como Job, este se julga justo, sábio, rico e
auto-suficiente, não percebendo, por sua terrível cegueira espiritual, que não passa de um
“coitado, miserável, e pobre, e cego e nu”. Mas Deus amava Job. E ele permitiu que lhe
sobreviessem terríveis provações, a fim de que ele manifestasse o que ía no seu
íntimo, e desta forma pudesse aperceber-se do seu problema. Pois só tomando
consciência da sua enfermidade espiritual é que ele poderia buscar o Médico Celestial
a fim de ser sarado. Mas ainda assim, com todas aquelas calamidades, Job não
entendeu. A sua cegueira era grande… Mas Deus, na Sua misericórdia, utilizou um
mensageiro: Eliú, um quarto homem que entra em diálogo com Job. Da mesma forma
Deus ama Laodiceia e Ele também tem os Seus mensageiros, hoje, para fazer ver à Sua
igreja o seu pecado, para que possa buscar a cura que só Ele pode dar.

Nos próximos artigos sobre o livro de Job, iremos analisar o discurso de Eliú e o final da
história, com as respectivas lições para Laodiceia. Veremos também quem são os
mensageiros de Deus, hoje.

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