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Moção /04/2010

(Manter a barra da Fuzeta no seu local de origem)

Exmo. Sr. Presidente da Câ mara Municipal de Olhã o

Considerando que:

1. Filipe Rafael Ceian, é um especialista em dinâ mica costeira;

2. Na Revista da Gestã o Costeira Integrada 9(1):57-77 (2009) deu a conhecer o


seu estudo com o título Vulnerabilidade das Ilhas Barreira e Dinâmica da
Ria Formosa na Óptica da Gestão;

3. Escreveu que: o sistema de ilhas barreira da Ria Formosa oferece excelentes


condiçõ es a diversas actividades, das quais se podem salientar as turístico -
balneares. Desde os anos 60 que essas actividades vêm sendo exercidas com
grande intensidade, com a construção de infra-estruturas e cargas
superiores ao limite de capacidade em algumas ilhas. Há , porém, que
atender à instabilidade que caracteriza este sistema, o qual impõ e fortes
condicionamentos à sua ocupaçã o, uma vez que esta tende a localizar-se em
zonas muito vulnerá veis e de grande risco;

4. Como a maioria dos sistemas deste tipo, a Ria Formosa apresenta um cará cter
extremamente dinâmico, tanto na evolução das ilhas como das barras.

5. A ocorrência de temporais e a elevação do nível médio do mar são os


principais factores que conduzem a uma elevada susceptibilidade e a
galgamentos oceânicos, neste sistema;

6. É nas ilhas barreira que ocorrem os maiores problemas de gestã o do sistema.


Com vários grupos de interesse envolvidos torna-se necessário manter
uma gestão eficiente no sistema de ilhas barreira.

7. A intervenção é, actualmente, urgente, correndo-se o risco do sistema se


perder de forma irreversível.

8. Tal intervençã o deverá ser ampla e cautelosa. Para tal, esta terá que ser
suportada e apoiada por uma sólida base de investigação científica, não
menosprezando aspectos de carácter social, económico e ambiental.

9. Podem destacar-se três técnicas de intervençã o a serem adoptadas:


intervenção rígida, intervenção suave e demolição de infra-estruturas.

10.No sistema de ilhas barreira da Ria Formosa, a morfodinâmica é muito


intensa, sendo funçã o do clima de agitaçã o marítima e das correntes de maré..
11.As taxas de crescimento de algumas ilhas sã o verdadeiramente notáveis a
nível mundial. Como consequência desta dinâ mica, o sistema é muito
vulnerável, respondendo de forma rá pida e intensa à construçã o de obras de
engenharia litoral (Dias, 1988).

12.As praias ao longo das ilhas barreira sã o geralmente estreitas e o seu


comportamento varia entre o reflectivo e o intermédio no extremo ocidental
(Martins et al., 1996) e intermédio a dissipativo no extremo oriental (Matias et
al., 1998).

13.As ilhas barreira do sistema da Ria Formosa, à semelhança de grande parte dos
sistemas mundiais deste tipo, estão em activa fase de migração em direcção
ao continente, muito provavelmente como resposta à actual elevaçã o do nível
médio do mar sendo, portanto, um sistema do tipo transgressivo.

14.Os galgamentos oceânicos sã o extremamente importantes neste complexo


processo (Dias, 1988;Pilkey et al., 1989).

15.A evoluçã o das barras é, de modo geral, caracterizada por uma migraçã o para
nascente até atingirem uma posiçã o limite, na qual começam a assorear,
abrindo-se nova barra, aproximadamente no local inicial (Weinholtz,
1978), à excepçã o da Barra da Armona, que se tem mantido aproximadamente
na mesma posiçã o, e à s barras de Faro-Olhã o e de Tavira, que sã o artificiais.

16.Devido à s suas características naturais, o sistema de ilhas barreira da Ria


Formosa constitui uma á rea de usos mú ltiplos, que providenciam benefícios
sócio -económicos e que geram conflitos na afectação dos recursos
existentes, tais como o turismo de massas, o ecoturismo, a aquacultura, a
pesca, a conservação da natureza, as descargas de efluentes, a navegação,
a extracção de sal e de areia, entre outros (Van Den Belt et al., 2000).

17.A nível ambiental assume particular importâ ncia, pelo que lhe foi atribuído o
estatuto de Reserva Natural (decreto-lei 45/78 de 2 de Maio) e mais tarde de
Parque Natural da Ria Formosa (decreto-lei 373/87 de 9 de Dezembro) e de
Rede Natura 2000, procurando-se, assim, efectuar uma exploraçã o dos
recursos racional e sustentá vel.

18.Este sistema é caracterizado pela diversidade faunística e florística,


destacando-se o facto de esta á rea ter, no que respeita à avifauna, uma
importância nacional (como zona de nidificação) internacional (migraçã o
e invernada).

19.É considerada uma zona húmida de interesse mundial, estando protegida


pelas convençõ es internacionais de Ramsar e de Berna.

20.O cordã o litoral que forma as ilhas barreira serve de protecção a uma grande
diversidade de habitats, tais como uma vasta área de sapal, dunas, zonas de
água salobra, zonas intertidais, canais, ilhotes, salinas, pisciculturas e
cursos de água doce com vegetação ribeirinha. Acresce referir que este
sistema de ilhas barreira é único, na Europa, a nível geomorfológico.

21. A Barra da Fuzeta, que separa as ilhas da Armona e de Tavira, tem actualmente
cerca de 250m de largura. Apresenta, normalmente, evoluçã o muito rá pida
(Dias et al., 1997). Entre 1945 e 1996 registou uma taxa de migração média
de cerca de 65m/ano (Vila-Concejo et al., 2006). Nã o sã o conhecidos valores
exactos da extensã o ou duraçã o do ciclo de migraçã o.

22.Contudo, de acordo com Vila-Concejo et al. (2002), o ciclo completo dura pelo
menos 50 anos e a barra migra no total mais de 3500m. Esta migraçã o pode
ser progressiva ou intermitente (Dias et al., 1997).

23.À semelhança da Barra do Ancã o, procedeu-se à abertura artificial de uma nova

24.Barra da Fuzeta, em Julho de 1999. Porém, devido aos condicionamentos


impostos pelas casas existentes frente à povoaçã o da Fuzeta, foi aberta apenas
a cerca de 800m a ocidente da posiçã o que ocupava em 1996. Parte do
sedimento dragado foi utilizada para fechar artificialmente a antiga barra. No
entanto, esta intervenção não obteve muito sucesso, devido ao aumento
de sinuosidade do canal após a abertura.

25.Considerando Também que Portugal aprovou A CARTA DAS CIDADES


EUROPEIAS PARA A SUSTENTABILIDADE (aprovada pelos participantes na
Conferência Europeia sobre Cidades Sustentá veis, realizada em Aalborg,
Dinamarca, a 27 de Maio de 1994)

26.Que nessa carta diz : Nó s cidades estamos convencidas que uma vida humana
sustentá vel na terra, nã o pode existir sem comunidades locais também elas
sustentáveis.

27.Devem-se integrar os princípios da sustentabilidade em todas as políticas fazer


das especificidades de cada cidade a base das estratégias locais adequadas.

28. Através deste processo, a cidade e os cidadãos podem fazer escolhas


reflectidas.

29. Este é o princípio da negociação aberta, cuja implementaçã o dará a cada


cidade uma maior liberdade na escolha do tipo de actividades a estabelecer.

30. Nó s, cidades, estamos conscientes que as populações pobres sã o as mais


afectadas pelos problemas ambientais.

31. Nó s pretendemos integrar na protecçã o ambiental as necessidades sociais


bá sicas das populaçõ es.
32. Tentaremos criar empregos que favoreçam a sustentabilidade das
comunidades, no sentido de reduzir o desemprego.

32. Nó s, cidades, comprometemo-nos, de acordo com o mandato conferido pela


Agenda 21, o documento chave aprovado na Cimeira da Terra, no Rio de
Janeiro, a colaborar com todos os parceiros das nossas comunidades –
cidadãos, empresários, grupos de interesses – no desenvolvimento dos
Planos Locais da Agenda 21.

33. Estamos também conscientes do apelo contido no Quinto Programa de Acçã o


Ambiental da Comissã o Europeia, “Rumo à Sustentabilidade”, incitando a
partilha de responsabilidades entre todos os sectores das comunidades
locais. Logo, apoiaremos os nossos esforços na cooperação entre todos os
actores concertados, uma vez que desejamos assegurar a todos os cidadãos
e grupos de interesse, o acesso à informação, bem como a oportunidade de
participarem nos processos de decisão local.

34. Devemos tirar proveito dos instrumentos existentes, incluindo os que estã o
relacionados com a recolha e processamento de dados ambientais;
regulamentos, instrumentos econó micos e de comunicaçã o e também dos
mecanismos de incremento da consciencialização, em geral, incluindo a
participação do público.

35. Procuraremos estabelecer novos sistemas orçamentais ambientais que


disponibilizem meios para a gestã o dos recursos naturais, em moldes
aná logos aos que se aplicam a outros tipos de recursos, nomeadamente
financeiros.

36. Sabemos que as nossas decisões e políticas de controlo, nomeadamente a


vigilâ ncia do ambiente, avaliação de impactos, contabilidade, balanços e
relató rios parciais ou globais, devem ser baseadas em diferentes tipos de
indicadores, tais como, os de qualidade ambiental, fluxos urbanos, e, acima de
tudo, indicadores de sustentabilidade dos sistemas urbanos.

37. Neste processo todos somos chamados a desenvolver e a aplicar estratégias


próprias, bem como a partilharmos a experiência adquiridas.

38. Assim considerando que a referida Agenda 21 referida nesta carta das cidades
refere que é necessário um Estado que promova a cidadania participativa
e garanta condiçõ es de igualdade de oportunidades e liberdade dos indivíduos
e dos grupos, apoiando a integraçã o e intervindo contra os obstá culos que os
impedem de exercer os seus deveres e direitos em plenitude;

39. Considerando que a Barra da Fuzeta abriu naturalmente no seu lugar de


origem, conforme previsto pelo estudo de Filipe Rafael Ceian;

40. Considerando os milhões de euros que com a manutençã o da Barra neste


local se vã o poupar numa época de crise.
41. Que segundo a sabedoria dos pescadores mais velhos reforçando os estudos
dos técnicos a Barra onde se encontra agora é mais benéfica para a sua
actividade;

42.Considerando que os pescadores da Fuzeta há muito reivindicavam o


desassoreamento da barra que lhes impedia de ganhar o seu ganha-pã o.

43. Considerando que com isso se perderam muitos postos de trabalho.

44. Considerando que é uma ambição dos cidadãos da Fuzeta em geral e


particularmente dos comerciantes e pescadores;

O vereador eleito pelo Bloco de Esquerda ao abrigo das alíneas a)


do nº 2 e d) do nº 7 do art.º 64º da Lei 169/99, de 18 de
Setembro, com a redacção dada pela Lei 5-A/2002, de 11 de
Janeiro, propor que na próxima reunião pública de dia 28 de
Abril delibere a manutenção da Barra da Fuzeta onde ela abriu
naturalmente e onde ela se encontrava nos anos cinquenta.

Olhão 19 de Abril de 2010,

O vereador do Bloco de Esquerda

João Pereira

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