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ESCRITURAS

SANGRADAS
Livro #2
Ave de Arribaçã ou a propósito
de Viena e outros Ondes

Civone Medeiros
Civone Medeiros [c.m] 2009

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civonemedeiros@gmail.com

Allan Talma
Capa
Goulven Jagot
Ilustração
Camila Loureiro
Revisão

Realização Colaborativa

Instituto Cultural e
Audiovisual Potiguar

FICHA CATALOGRÁFICA

Medeiros, Civone, 2009


Escrituras Sangradas – Livro #2 – Ave de Arribaçã ou a
Propósito de Viena e outros Ondes / Civone Medeiros. – 1ª Ed. –
Natal/RN: Coleção POETIGUARES, 2009/10
132 p.

1. Poesia. 2. Literatura Brasileira. 3. Poesia Potiguar.

www.naredecomcivone.blogspot.com
Dedico...
À meu Pai, por sê-lo!

À Bianca Medeiros, minha filha, por me retribuir a vida.

À Nalva Melo, Ceiça Lima, Ana Guimarães, Goulven Jagot, Allan Talma,
Ana Lúcia Fernandes, Edilson Pessoa, Camila Loureiro, Eduardo
Alexandre, Rosane Félix, Lenilton Lima, Glória Góis, Paulo Lima, Sânzia
Pinheiro, Marcelo Veni, Lola Raves, Paulo Augusto, Michele Ferret, Luiz
Gadelha e Múcia Teixeira pela crença, apoio e amor incondicional a mim; a
recíproca é macro-verdadeira – lembrando que a amizade é o amor que
nunca morre.

À Natal, que tanto amo e quiçá um dia aprenda, apreenda-me e se permita


me amar.
Homenagem à...
Otávio Augusto Barbosa (in memoriam) por tudo que foi, que é, e sempre
será em nossas vidas, para além da inspiração. Gratidão e vida eterna à tua
presença criativa e amorosa entre nós.
Intróito

Uma escrita Civônica

O aspecto dessacralizador inscrito no texto de Civone é confessional e,


nisso, coloca-se ao lado do que muito se produziu, nas décadas de 70 e 80,
no descolado âmbito da poesia marginal. Para ela, essa "poesia incontida"
só pode escoar como um desabafo: "Sou uma velha de mais de trinta e
tantos anos/E uma criança de milhões de eras". É a anti-revelação porque
não ambiciona subir aos céus do cânone potiguar ou de qualquer outro céu
das letras universais. É uma sangria da escritura que se dá em jatos,
aluviões, jet-pororocas.

"Tecer com as veias", eis o lema da escritura que não é canônica, que não se
pretende sagrada, uma vez que está misturada a todas as potencialidade
que a linguagem pode oferecer. O texto escrito, sangrado na página,
dialoga com a performance, com o corpo solto no texto das ruas, do
cotidiano, do beco, do mundo.

O caminho buscado pela Escritura Sangrada é o do desvio, pois não imita o


estilo limpo, preciso, o padrão estético consagrado. Trata-se de uma
escritura suja, parida do caos, explodida do eu incontido.

Essa é a linguagem de Civone Medeiros. A expressão de uma amazona


traduzida, de uma fêmea híbrida.

João Batista de Morais Neto


À guisa de um roteiro salteado:

Dedico... > Homenagem à... > Intróito > Proêmio > INTRO »

ARBÍTRIO > PEARL > A D E N T R O > Destino içou velas > Ofertório >
Zugvogel oder Apropos... > Ave de Arribaçã ou a Propósito... >
ad.vertência: > Tão à Toa > ESPREITA > Remoto controle remoto >
Geração Dinamite > Carta à minha Amada > DE VIDA > Canto > Caliente
> InfoMAR > Para tanto... Para > Mix > Cantilena ao Sereno > alívio: >
17.01.2002 (LUTO) > Ave! > Construção (des-troços) > CONFISSÃO >
A’VENTURA > Cantiga Breviária > Carta ao amado > Arte da Esquina do
Brasil > UMA’EU > extrogênia > que Mera > Volatile > Arremedo de
Mundo > Recomendações à posteridade > Cicuta > Extemporânea >
HUMANA AMBIÇÃO > ARREDIA > IDADE da POETA > A VIDA É
UMA FESTA > graxa > LEVEZA > SACADA SACANA... > Atiçada >
d'EU > Indecisão de Cemitério > À risca > LIQUIDEZ > Impar > BATE
BEAT BATICUM > N a t a l d ' I [n] s t a n t e > OCEANOS FLUÍDOS >
Afeita... > Quem? > s E M A N A > NASCIMENTO > Ser > Sem Saída >
DesaGostos > Veneno da Nata > Zeitgeist > Vuco-vuco > Kilogramas >
IVONE > Essa > A n ú n c i o > SI NAL > Amai-Ame-Amem >
BADALADEIRA > Mulher-Peixe > FEMINA > Ecce Femme > A Tal > E c o
s do B e c o > Bamba > Vendaval > CAÇA-PALAVRAS > ODE às
XANANAS > Ascensão pro nosso Amor > PASSADA > h a j a m a r >
Vou-me > Aquela... > É dando que se recebe... > Esboço d'um Poema ~
Ébauche d'un Poème > A felicidade não me inspira > Uma'zinha
(DeCORAÇÃOdeLATÃO) > (minha) Língua > Inferno Astral > DADO
BIOGRÁFICO > Bela Estranhêz > E–X-P-O-S-T-A > Entre-Tempo >
Aliciamento > A’Crítica > ENTERRA/da > GÊNESIS > Amo e sou amada
> Sina de Zila > Ela, a Praça D’alma > E... > O Potengi me Tange >
Vulv’Ars poética > Febril/Cantos Undécimos > Enfant Terrible > |
“BONUS TRACK” » 9 Fragmento do Livro de Theta: AL MARE! >
ANDARILHA > TENTÁCULOS > ESCRITOS PÉTREOS > PARADOXO >
FIXAÇÃO > A CALHAR > IDA > TORNA-VIAGEM. + 5 Xtras-Postais...

Epílogo > Agradeço à...


Intro »
AQUELA
PROMESSA
FLORESCEU

E QUE BUQUÊ!!!
—Laércio Bezerra de Melo,
sobre a poeta das Escrituras Sangradas.
"Eu Preciso
Destas Palavras
Escritas!"
—Artur Bispo do Rosário

>ARBÍTRIO<
Vim aqui ditar uma bíblia

Quem quiser que lembre


Quem quiser que esqueça

Quem quiser leia

Quem quiser ignore


Quem quiser aclame
Quem quiser reclame
Quem quiser odeie

Quem quiser ame


PEARL
Como Janis Joplin...

Não me atiro aos porcos

Oferto
Pérolas

Aos poucos...
Epigrama #1
Adentro

Eu não estou à frente de minha poesia,


eu não estou dentro da minha poesia.
A verdade é que eu sou a minha poesia.
“Si desmorono ou si edifico,
si permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei si fico
ou passo.”
— Cecília Meireles, Viagem

Destino içou velas


Desatracada âncora
...O caminho é sempre mais importante que o porto
Correntezas, correntes de ar - atlântico
Corta entre - mares / afluentes
Avoei...
Trem de pouso...
Nem o Danúbio nem o Potengi são azuis
As Veias = os Rios
Rios Grandes
Espaçosos em minha memória
Guardo a imagem de crepúsculo sobre o Potengi
... As valsas de Tonheca Dantas
Céu de âmbar flamejante
Cinza verde lodo Danúbio
Dúbio prazer em vê-lo ora Outonal
...Céu d’azul luzente
...Valsas vienenses
Um porto... Taça de “Sekt”, beijo espumante
Sina, emoções fluentes, cheias de sangue veias, ventos nas costas andejas...
Estratégias de xadrez, pulsação d’amor, dados do gamão jogados...
Respiração, inspiração, transpiração
E a discreta Primavera do lado hemisférico de Natal
...Aportei ora e finco ramas por Österreich, o “Reino do Leste”
Venho com sangue quente, brilho nos olhos, coração ardente, a rima que
me segue...
E a velha inquietude latente...
Ofertório
A o Ca fé Sa lã o
Te ofereço meu café amargo
Pra você distinguir o agridoce de meus beijos cálidos

Te ofereço minha ebriedade


Pra você gozar de minha lúdica lucidez

Te ofereço meu orgasmo silente


Pra você ouvir os gemidos e gritos estridentes de minh’alma

Te ofereço minhas lágrimas de gozo


Pra nosso sexo ser humano, animal, romanesco e prazeroso

Te ofereço do meu vinho um trago


Trago do cigarro

Te ofereço um pouco
Trago um desejo louco
De sorver-te...

Não posso me dar toda


Te ofereço de mim um pouco

Te ofereço um trago do meu corpo


Um trago, um halo

Te ofereço meu olhar venenoso


Pra você descobrir a cura no meu riso solto

Te ofereço minha displicência


Pra te lembrar que nem sempre as boas coisas da vida guardamos

Então, te ofereço uma chance:


Receba o que te ofereço
E de quebra,
Não me esqueça!
Zugvogel oder Apropos...
Die Bahn fährt immer
Hin und zurück
Ich gehe
Immer
Hin und her und zurück und hin...
Ich gehe
Ich bin
Die vier Jahreszeiten sind Ich
Ich bin wie die Bahn
Ich bin wie trockene Blätter
Ich bin wie der Winter
Ich bin wie der Blut
Ich gehe und gehe und fliege und gehe...
Ich lebe
Ich liebe
Ich fliege
Immer
Von mir für die Welt
Ohne Ende...
Ich bin wie das Zink
Ich bin wie das Wasser
Reise um die Welt
Wiener Spielzeit
Ich bin wie der Winter
Ich bin alle Zeit
Ich bin wie das Wetter
Ich gehe in Zickzack
Ich bin eine Gestalt
...und ich fliege und gehe und fliege und gehe immer
"Tem sangue eterno a asa ritmada."
—Cecília Meireles, Viagem

Ave de arribaçã ou a Propósito...


O trem anda sempre
Ida e volta
Eu vou
Sempre
Ida e ida e volta e ida...
Eu vou
Eu sou
As Quatro Estações eu sou
Eu sou como o trem
Eu sou como folhas secas
Eu sou como o vento
Eu sou como o sangue
Eu vou e vou e vôo e vou...
Eu vivo
Eu amo
Eu vôo
Sempre
De mim para o mundo
Sem fim...
Eu sou como o zinco
Eu sou como a água
Volta ao mundo
Vienense temporada
Eu sou como o vento
Eu sou todas as horas
Eu sou como o tempo
Eu vou em ziguezague
Eu sou um vulto
...e eu vôo e vou e vôo e vou sempre
ad.vertência:
Poemas
Soltos

Para
Guardar.

Atente...

Esguarde
-os

Enlace
-os

No tato
Na visão
No faro
No palato
Na audição

Ou seja:

Na alma
Na mente
No coração.
"Muitas palavras que já morreram terão um
segundo nascimento, e cairão muitas das que
agora gozam das honras, se assim o quiser o
uso, em cujas mãos está o arbítrio, o direito e
a lei da fala."
— Horácio, Ars Poetica

Tão à Toa
ando tão à flor das folhas
que outonal já estou a cair dos galhos...
ando tão à toa que esvoaço-me folha
pelas ruas, links, bosques, sites, praças, atalhos...

ando tão virtual e sinto simultaneamente


as européias quatro intensas estações...
converso mouse-a-mouse, poeto em html
consulto minha bússola pessoal...

ando tão on-line que até me esqueço de almoçar


lembro de beijar minha filha amada
rabisco meus web-passos
e e-mails de saudade quase me fazem chorar...
Geração Dinamite
sou estrela
sou forte
sou rocas
sou reis
sou beco
sou quintas
sou meio
sou ribeira
sou mito
sou verdade
sou a bola "da vez"

do Norte o rio grande


Rio Grande sem limite
apesar do elefante sem memória
sou pólvora
sou atrito
sou explosão
sou dinamite

sou a tal
fatal
Natal
Poetiguar
sou a Natal dos artistas
sou a morte do limite
da geração
sou dinamite
Carta à minha Amada
Querida,

Quanta saudade de tua luz à minha volta. Da sensação única de teu entorno, de teu
calor em minha tez e alma, tuas curvas e quinas, teus lábios multicor, teu dialeto
em meus ouvidos, teu brilho em minha retina, teu sorriso de criança, de apenas
quatro séculos, tão menina...
Ah, como amo teu amor! É uma saudade danada. Diluída em lágrimas. Ah, como
você me faz falta! Vivo mutilada sem te ter. Você dentro de mim. Eu dentro de
você.
Sabe? Sinto teu olor em minhas narinas, a tua brisa. Sonho com você a cada noite-
dia...

Minha musa, minha diva.


Você meu ar, você meu fogo, você minha água, você minha terra, você meu amor.
À você minha amada Natal, todo meu ardor, todo meu amor.

Tua amante, ternamente sempre, Civone.


Epigrama #2
BADALADEIRA
Da Baladeira
Atiro Estrelas
Na Ribeira
Badaladeira
Puxo a Toada
Canto Natal
Epigrama #3
NASCIMENTO
Assim nasceu a Vênus de Natal:
Com o coração exposto...
Imenso...
E já mulher adulta...
Das espumas atlânticas abaixo do cálido equador...
Na esquina do Brasil...
Nasceu uma das Vênus de Natal...
Epigrama #4
>DE VIDA<
A poética inspira
A poeta aspira
A poética transpira
A poeta pira!
Epigrama #5
AVENTURA

de Ser...
Demasiada
Humana...
Mundanazinha
e de ser uma...
Extasiada
Onda...
entre tantas...
Pedras!
Canto
Viscerais Entranhas
De mente e coração
Sem canto neste mundo
Me canto imunda
Sideral
Pólibo sem rumo
Pensante nessa terra
Mal-passada
Revelo-me
Desencanto
Desenovelo-me
Por pântanos e Edens
E raro me encontro

Século vinte passantes


Sinto-me sem era e sem surpresas com o devir...
Que venham passadas vidas outras
E m’atentem à incógnita filosofia
Amoral que de mim brota – e que nem tenho ainda!
Caliente
I
Ao pó o que foi pó
À ética o que é étnico
À poética o que é cético e lépido
E, à chuva meu menstruo cálido

II
Ao sol o que é nós
À étnica o que é ético
À poética o que é lépido e trépido
E, à vida meu riso cálido...

III
Aos nós o que foi só
Ao amor o que é ardor
À poética o que é etílico e lépido
E, às noites meus beijos ávidos e cálidos
InfoMAR
Ah, Professor Bolshaw!

e n t r [ans] e o c e a n o s
que nos separam
és um infoMar
[& Céus]
eu, um peixinho
saltitante - navegante
entre co rr e ntes
&
cabosóticos
por teu Mar
a me esbaldar...

ciclone - ciborgue - civone


[sua aluna à revelia]
Epigrama #6
GRAXA

A chave achava que acharia a chuva pouco encharcada


A chave estava engraxada
A chuva estava mesmo encharcada e ainda achou graxa
A chuva ficou engraxada
A chave engraxada tinha razão do que achava

Era tudo graxa


Epigrama #7
LEVEZA

Quando em sono profundo

Sinto a imensa paz de não ter corpo


ATIÇADA
A lua frecha a janela

A cancela está aberta


A gazela sai e salta brasas
A clareira é que delata

A lua é uma escancarada

[mas a gazela não está mais em casa]


"Avec mes souvenirs
J´ai allumé le feu
Mes chagrins, mes plaisirs
Je n´ai plus besoin d´eux!
Balayés les amours
Et tous/avec leus trémolos
Balayés pour toujours
Je repars à zéro..."
—Edith Piaf, Non, je ne regrette rien

Essa.
A noite. Uma mulher. É uma mulher. Essa. Que deixa d'outro lado o
dia'mante dormente a'cor'dado na cama menino. Tão lindo. E sai por aí. E
cai em si. A noite. Sai pelos bailes, botecos, galerias, bares. Faz alardes.
Sedenta se embriaga de olhares. De olhares e focos disformes. E copos
tragados como corpos. Beija os amigos na boca. A noite. Essa louca. Abraça
como quem parte. Como quem morre. Morde a rosa e o nome das horas.
Presenteadas. Deixa as bagas, as taças rasas, os pratos mornos, os risos
fátuos para a madrugada irmã. Essa. Qual Piaf. Cadela em cio latente. A
pele frisante e os passos rotos em zigue-zague. É a festa. Ou tempestade.
Gozo. Ou lamúria. A noite é ela. Fêmea andrógina. De pêlos nas axilas e
salto encarnado alto. Como não lembrar da Ribeira à beira dessa noite
tanta... Essa que sonha estar nela. E é no remoto aqui que está. Tão longe do
mar. Oceano potiguar. Chuvosa em lépido lamento azul marinho essa noite
hoje chora. Ora ora. Mais que nove horas. Mulher chorosa. Que este choro
tal qual o de Alice se arvore em mar e a trague de volta às margens de casa,
bem na beira. A qual nem disse quando vai tornar. Outra noite será. Mais
alegre, assim contente... E sempre outra é. É uma mulher. Noite qualquer.
Essa.
Indecisão de Cemitério
Não sei se por fim
Vou ao Bom Pastor
Ou à tal Morada da Paz
Ou fico aos pés do Tirol
Ou se vou pro da Saudade

Gostaria mesmo é de arder


Em chamas
E célere tornar ao pó
Poeirar-me
Entre as margens do Potengi

Meu berço etéreo...

...Enquanto vida:

Mistério.
Epigrama #8
LIQUIDEZ

Por vezes olho "as coisas" como se fossem tudo


Virtual e imaginário
E felizmente me sinto líquida e fluídica nestes momentos
Vários
Epigrama #9
A VIDA É UMA FESTA

Quem nem liga


é quem curte

Quem se importa
é quem entorta
Para tanto... Para...
Para olheiras:
Brilho.
Para olhos secos:
Lágrimas.
Para alegria:
Sorriso.
Para o frio:
Agasalhos.
Para dor ou euforia:
Grito.
Para distâncias:
Notícias.
Para desejos:
Encontros.
Para saudade:
Abraços.
Para boca sedenta:
Saliva.
Para seres soltos:
Laços.
Epigrama #10
HUMANA AMBIÇÃO

Não quero uma obra que tenha valor


de mercado.
Quero que tenha valor
de expressão.
Epigrama #11
ARREDIA

A rede
Arredia
Que arremedo
Me arrima
À riba!
Remoto controle remoto
Morangos mofados.
Na corzinha da cozinha.
Cinza inverno jan'ela.
Inventos.
Palavras-frases na mente.
Sementes.
Gotas serenas.
Matar a sede com lágrimas.
Tomar o pulso.
Engolir sal.
Subir pressão.
Escrever por impulso.
À dista o lusco-fusco.
O que não tem luz também ofusca.
À dista o quintal.
O galo.
O povoado.
O mar à vista.
Não-vista.
Maremoto.
Remoto controle remoto.
"Os limites da minha linguagem
denotam os limites do meu mundo"
— Ludwig Wittgenstein

Mix
SAUDA DÁDIVA DOCH DOR DISTANZ
ESPELHO SPIEGEL OUTRO
ANGST ASTUTA ANGÚSTIA
TREMOR DE TEZ, ERSATZ
GUTE GOTA SERENA
ACALENTA LUST
MEU PRANTO BLUT
& ESTA MISCHUNG DE LÍNGUAS
NADA APACENTA NICHTS.
Cantilena ao Sereno
Sereno me acalenta
apascenta o meu pranto
nesta cantilena
serena a saudade do meu canto

Sereno me serena
seiva meu amor
e com teu sumo
me apascenta

Sereno em cantilena
como à flor me acalenta
mesmo ardente de amor
me faz serena...
alívio:
pro
funda
tris
\ teza
Tesa / impotência humana
à tona
in-
feliz de ser /tão
sub e urbana / tão subterrânea
entre
excepcional /medíocre
banal
...estou abaixo /destes
muros
nem meio / nem mensagem
nem eco / nem trunfo / nem nada
página /em branco
câmera /sem filme
pincel /sem tinta
pedra /sem mãos
música / sem acordes / sem som
escrito sem título
crônica sem estória
e-mail sem texto
ensaio sem tesão
prosa sem conversa
história sem função
pessoa sem visão
nem tato / nem faro
sem fato / sem tratos
sem margens / nem imagens
sem sangue / sem transfusão
coração sem convulsão
sem brios / nem ebriedade
sem coro / sem conclusão
demasiada mundana / vadia/ vazia
sem traços / nem passos / nem expansão.
<Ufa! Ah!! Que alívio poder escrever isso!!!>
“Não sabe ninguém
que rio, que rio
de luto circunda
a terra profunda
que piso e que sou"
— Cecília Meireles, Viagem

17.01.2002 (LUTO)
Ao telefone, minha mãe me chama de casa no longe e, ofegante e
espaçada fala:
- E-u--p-r-e-c-i-s-o--d-i-z-e-r--a-l-g-u-m-a--c-o-i-s-a-?
Atônita e só, sem chão nem pai nem mãe, respondo em pranto e horror e
grito:
- N-Ã-O-!
Quebro na parede o telefone, a ligação. Reluto! Luto enérgica contra a voz
que ecoa sem cessação.
As paredes e elos da casa inteira comprimem-me, me desterram, moem-
me como rolo-compressor e eu asfalto sem vão... Luto e reluto contra a
constatação inexata da má comunicação.
A destempo. Desterrada. Estilhaça em mim metade de minha imagem e
semelhança...
Oh! Patri-amado!
"Devo-te o modelo justo:
sonho, dor, vitória e graça."
Passamento, Passamento... Pensamento vai e não.
Ele não sai nem em passamento do meu coração. E eu luto desterrada e
revolta luto sem findação.
De súbito e mais ávida vêm-me a filopatridomania - que fui entender no
Houaiss -, mais abrupta inda. Inicio meu retorno e revolta aos poucos ao
meu entorno Natal, meu chão. Revolta. Reluto.
"São dois rios os meus olhos”
)LUTO(
Ave!
Avia!
Havia
Arriba
Sã...
Abatida
Na bacia
Agonia
Caça insana
Predatória
Nos açudes de Açu, cercanias Seridó e alhures...
Pena nada
Depe nad a
À venda
Em cada esquina
Entre vermelho-roxo
Salgada como o mar
Como banhada em lágrimas

Cessado voar
...E, inspirada em Frida Khalo:

Nunca escrevi meus sonhos.


Escrevo minha própria realidade!

Construção (des-troços)
Ress_urgir
Re_lançar-se
De_senlaçar-se nó
Dançar-se tonta pronta na afronta
De_cantar-se em catarse
Jogar-se ao terreiro mundano
Se re-fazer do tombo
Re_criar-se das cinzas
Dos restos que simulei
não me pertencer/nem me ser
Adornar-me de meus sonhos e visões
Desembaçar as lentes, meus olhos e os desejos

Re_maquiar minha face e meu corpo


Re_textar meu contexto
E me desfazer de pretextos de escape
Encarar minhas vísceras
E jorrar-me em gozos por todas as angulações
e formas
De expressões que se dá como arte.
(...minha pretensão = meu alívio!)
Epigrama #12
[CONFISSÃO]

C o n f e s s o

que

r e n a s c i!
Cantiga Breviária
I
Pétala cai
Açucena acena
Urge outono

II
Brota do cacto
Equinócio tal qual cio
Lilácea flor

III
Grão qual lágrima
O sêmem que orvalha
Aí cai êxtase
Carta ao amado
Faltam palavras / Sobram para criar. O que existe, o que há. O olhar sobre a tez.
O ocre que mancha cores. Agridoce suave abrupto sabor saliva a boca. Fel
lágrimas / Secreção vulvar. Nuvem esparsa sobre denso mar. Verde íris me faz
saudade toda. Relva orvalhada, travesseiro d'alma. Lusco-fusco o piscar do tempo
moroso avançado. O extremo espaço sideral quilométrico mundano, geográfico
gráfico que ilha terras nem tão próximas, nem tão distas tanto... Ósculos
escaldantes apimentados. Ardor em entranhas e aura. Latina crueza escaldada
romanesca. Essa minha linguagem parda. Quente verve de escavar, cavucar,
rasgar e abrir o quase sempre ou por vezes mesmo árido coração maroto, fértil,
absorto... A busca do possível impossível possível de ser perpétuo, terno e eterno
esse milenar, extemporâneo amor. Amor d'almas par? Destino esse que revolve,
espinha, envolve, afaga, ata e separa? E ata, afaga, envolve, espinha, revolve qual
esse destino? Que esse desígnio desejo destino destile em desvelo certo encontro,
cerrado, concreto, corpóreo, etéreo, emancipado, aventurado, unido, aprazível,
inteiro, luminar...
Ah! Amor, incondicional amor! Tudo conspira a favor. A barrancos e trancos não
estanco nem me estilhaço... Este destino sim, já disse a que veio... Me faz amar.
Arte da Esquina do Brasil
De quina
No Brasil
A esquina ferve
Ninho tórrido do sol
Manto noturno ao léu da brisa, ah! Mar...
O sangue dos artistas
Da esquina ardem
Os nervos dos artistas na esquina
Queimam
Os artistas explodem
Da esquina
Naturalmente
Viram luz!
Iluminam
E ampliam horizontes
Jamais serão artistas apenas
Da esquina.
Raios de farol
De alcance longo

Terras tantas
Vastos palcos
Galerias dos humanos
O destino
É
O mundo!
“como pode re i dize r s enão timidam ente as sim:
a vida se me é . A vida s e me é , e eu não entendo
o que digo. E então adoro. - - - - - - -“
—Clarice Lispector

<ESPREITA>
poética a gosto se arrasta embora
embora
o verão que já ensaia o adeus
o até nem tão logo
meses a fio / cio da terra / ciclos a fio
setembrios
inda é encanto
outubroutono
frutos colho
invernal
hiberno ao frio
espreito mesmo é a bela e lépida primavera
floresço
…Toutes les Femmes, c'est moi!

FEMINA
Fé menina
Menina fel
Céu menina
Menina véu

Femina Humana Germina

Menina mama
Mina menina
Menina sol
Sal menina

Humana Germina Femina

Mar menina
Menina amor
Lida menina
Menina sina

Germina Femina Humana

Menina dádiva
Dor menina
Menina cálida
Lépida menina
Ecce Femme
Tecer com as veias
Pintar com sangue e saliva
Lavar com lágrimas e seivas orgásmicas
Traçar as trilhas com olhos e língua
Volver as vísceras artísticas
E ser-me outra a cada dia
Fragmentária
Contínua

¿ Pronta jamais
¿ Satisfeita nunca
¿ Realizada jamais
¿ Terminada nunca

Incontida poesia

Tecer com sangue e saliva


Pintar com lágrimas e seivas orgásmicas
Lavar com olhos e língua
Traçar as trilhas com as veias
Volver outra a cada dia
E ser-me Contínua
Fragmentária as vísceras artísticas

Pronta quem ¿
Satisfeita quando ¿
Realizada onde ¿
Terminada porquê ¿

Poesia incontida
Kilogramas
Sento com meu caderno de poemas
nas ruas, nas praças, nas gramas...

E me vêm quilos de palavras!


IVONE,
Fêmea que me deu nome
Parceria com Cícero, meu pai querido
Mãe amada gentil
Traços étnicos ricos
Beleza em templo nobre
Em Picuí nasceu
Cresceu entre Parelhas e Caicó

Entre o oriente e o ocidente Seridó


E em Natal deu à luz
Genitora de crias ramas imãs
Sertaneja
O bordado nas veias
Acordes no sangue
E a poética nas letras
Materno e fraterno amor transbordante...

Tu sim és mãe gentil!


Com imenso amor, tua filha... cIVONE...
Palimpsestos
...d’Asas de Papillon
Casulo
Cedo
Cede
Ao Mundo Seco

E
Umedece a Sede
Sátiras
Bóreas
Trama Cetim
Seda Tez
Drama Carmim
Cedo o Vôo
Tarde o Fim
Epigrama #13
UMA’EU

PRAXDA A_RAINHA É GUE(IXA)RRE.IRA

PER SPELHO D’oUTR ‘EU IN REMOTEMPO ei


CarNA_DA Spiral al PerpéTUo Fátuo D ser

Uma eU (que) EnTE Q nem sEI DE OnDe sai


extrogênia
Nas Escrituras, a minha poesia
Não é / nem é só feminina

Nós temos muita testosterona

Ilimitada de gêneros
Temos muitos hormônios

Somos um píton no corpo d'uma pomba


Somos um pavão no corpo d’uma fêmea dragão
que Mera
Nesta vida mera de escrivã... Meses Vem. Meses Vãos. A Gosto para
tanto. Pulsiva criatura. Impulsiva escritura. Pura escrição. Janeiros sins e
nãos. Fevereiros bissextos. Bissextos sentidos. Signos repetidos. Arvora
reticente palarva. Ciclos em aberto e outros sãos. Quimera sim. Lume
clarão. Julho féria à fera ócio. À vera. Úmidos cílios e cios dóceis. À feira
fraseia pela esquerda mão. Essa besta bela escriva verve. Por Pulsão
</in/> Trans Fusão. Dias sins. Anos sóis. Luas cheias e as nada novas...
Nova que oculta face. Minha-Nossa. Silentes em transparente caos-lual.
Meses sins menstruação. Vis papéis vãos. Esboço d'esforço creação. Na
boca do poço vão. Povo vão. Imprópria Orígenes. Idioleto em dilatação.
Passa o Hades e torna-viagem... Hipocampo. Transborda à bombordo a
saudade. Minha Ítaca-Natal. Esse imenso amor tão. Vis à Vis. Reflexo
chão. E mares e olhos e poros. Espalho-me espantalha desta plantação.
Frangalho sensação. Sentição faisão. Estilhaços e desvãos di visão -
devisão. Misteria caminhos rotos e quimeras. Desta mera escrivã. Escrivã
de novidade nada. Nem alguma nem dua. Agulha afiada da vontade de
não ser sã. Neste mundo tão. Enfiada na cor coração. Encarnada. Sagra de
cor e salteado. Zambê Reisado. Mulher maracatu. Mulher bailado. Essa
ruma de rima que arriba cerebral. Por esta mão esquiva a risca arisca.
Cerebelo bélico. Esquerda esquina. Esquema tece no terreiro e cisca.
Terreiro de palimpsestos. Incesto d'amor próprio. Esborra do cesto
esbórnea. O celeiro transborda culturação. No terreiro de palimpsestos
toscos que suportam impressões-inscrições... Tão tão tão desta Civone
escrivã.
Arremedo de Mundo
A rede é minha teia
Minha ilha, minha vida
Arremedo de Mundo
A poesia é a minha linha
Minha veia, minha trilha
Minha língua, meus punhos
Varando noites, varando dias, varandas vias...
Dessa rede não arredo
Armador que se agüente
Na rede da poética
Desnudo inventos pessoais
Devaneios e planos e utopias
Balanços d'um lado ao outro
ziguezague
Sementes à mente
Calma à alma
Porto ao corpo
Sono e sonhos e sons de balanços
A poesia é a minha rede
Até titubeio sobre muros retos
Sigo imaginadas vias
Num grão de areia tropeço
Me agarro em minha língua
A poesia
E dessa rede não arredo
É minha!
“Recomendações à posteridade ou a simples ausência;
à imortalidade”
...Que a morte ou minha ausência sirva para bá-fá-fás picantes,
controvérsias estéticas, étnicas, éticas...
Que deflagre conspirações...
No caso d'um funeral, que estimule a dança, o sexo e a bebedeira...
[como gosto disso tudo!]
Que apareçam as dívidas e se escancarem as dúvidas
Que faça rir em vez de lamúria
E que sejam enumerados:
- meus delitos e escritos
- meus porres e vôos rasantes
- meus amantes e minhas fomes
- meus escândalos
- meus cactos e os abortos
- meus cabelos e as máscaras
- meus portos, selos e sufocos
- minhas menstruações e as secas flores
- meus esmaltes e saltos
- minhas echarpes e beijos dados
- meus cigarros e baseados
- meus gritos e os sussurros
- meus gestos e trejeitos
- minhas carreiras, trajetos e projéteis
- meus anéis
- meus anelos e os desafetos
- meus tambores e mulheres
- meus filhos, filhas e ilhas
- minhas cicatrizes e tatuagens
- meus diamantes e homens
- minhas nuvens e sonhos
- minha arte, arteirices e artimanhas

E finalmente, que enumerem minhas últimas mortes.


ANÚNCIO
Estou grávida.

Chego a pensar que tenho vários úteros...

Com a barriga pela boca...


E a alma fluída entre meu coração e meu ventre.
A mente solta pelo mundo...

A luz é para várias crias...


Umas quadrigêmeas ou mais...
De sexos vários e cheias de dedos, poros, olhos...

Os escritos são outras crias.


São hinos que me embalam...
Enquanto estou prenhe d'outras crias.

Chego a sentir que tenho vários úteros...

Estou grávida.
VENDAVAL
Não tenho palavras
Apenas para dizer
Que não
as tenho
E
quem as tem?

Palavras encharcadas
Levas de lavas
Me escapam

tal qual lágrima


tal qual rio
tal qual parto
tal qual volta
tal qual vinho
tal qual cio

Tenho palavras
para dizer
não
tenho
E
quem?

Palavreia pulsa im/pulsa


Latejante saudade
Lajedo Soledade

Hipocampo avança
Atiça a teia e tece
Palavravulsa veia a veia
Amor qual vendaval
Meu amor Vênus, Natal

Amor, me aquece!
“Eu sei dizer sem pudor que o escuro me ilumina.
É um paradoxo que ajuda a poesia e que eu falo sem pudor."
—Manoel de Barros

Volatile <Ser/Estar>
Pouso
No casulo
No ninho
De meu eu mais claro'bscuro
Tendo pensamentos por muros
} Obscuridade > Potencializa < Luz {
E sensações de futuro - espelho
Meus olhos nos olhos a luz
Esmerilhando-me
Depenando-me
Desmembrando-me
Descabelando-me
Desmanchando-me
Inteira
E renova
Pronta para {+} um emergir {+1}
Evoé Voar
Resguardada {&}
Recreada
Forças
Para o suporte
Quando
Novamente estiver
{Quando}
Fora de mim
Mundana como {1} qualquer uma
E tão frágil
E tão volátil
E tão arisca
E tão alheia
E tão Phoenix
Neste mundo sem fronteiras
De dentro {&}
De fora
De mim
Fiat Lux!
Vuco-Vuco
...Luiz tinha uma banca no Vuco-Vuco. Vendia de um tudo e simpatia era
de graça.
Eu tinha quatorze anos; estudava lá perto e o visitava toda tarde em mil
novecentos e oitenta e seis no Grande Ponto. A praça Gentil, a Ferreira era
um labirinto estimulante no Alecrim. Um grande bazar de tudo-tudo sem
fim.

– A diversidade diverte –

Luiz é sorridente, um brejeiro urbano com a eterna alma do campo. Assim


como Cícero.

O Vuco-Vuco mudou de canto; foi lá para a Avenida Quatro e sem


encantos Luiz o largou.

– O movimento é fraco!

Dizia Luiz sem ânimo. O lusco-fusco do Alecrim dia-e-noite lhe era


melhor. Ele, Luiz. O irmão de Cícero, meu pai. Meu tio Luiz tinha uma
banca no Vuco-Vuco...
Zeitgeist
Oh, espírito do tempo
Que fazes ao me dar como vista um vale de nuvens e picos e rochas
Dolomíticas?

Oh, espírito do tempo


Que fazes de mim Outsider
Contra-Mola
Biela
Acelerador
Embreagem
Madeira Torta
Vias Curvas
Contra-Corrente
Arame Farpado
...de Porcelana só alguns Dentes

Oh, espírito do tempo


Que me fazes tão ninguém como tão bem sou!
Que faço-me ícone do meu signo peixes para eu própria não me esquecer
contigo
Oh, afã...

Oh, espírito do tempo


Que me venta alhures e fazes de mim forasteira em minha própria
morada
Que me fazes alheia ao pouco que quase me pertence
Que me fazes ranger com tu mesmo que passa e sempre e sempre
Oh, tempo que passa...

Oh, café frio que embebo, com sua "ína" que me atina a sair...
Em carreira, a ser beijada pela chuva choro celeste que escorre do
despenhadeiro saudade
De Tu... Do que passa...

Saudade essa dos minutos de bem poucos segundos atrás


Oh, tempo!
Oh, Zeitgeist!
Mulher-Peixe
Quartos
Salas
Solos
Batentes
Soleiras
Saladas
Embriões
Taperas
Palacetes

Sozinha
Cozinha
Placentas
Sopa de Veias e Vísceras

Baleia / Gréia
Arraia / Cerra / Enguia
Atum / Tubarão

Guelras
Antenas
Mulher peixe de Atlan

Atenta
Por oceanos
Rios
Contracorrente
Mediterrâneos
Opostos pólos
Oriente e tal
Glacial
Equador
Eco d'amor
Dessa mulher peixe
Salmão e avoador
A Tal
ÉS Q U I N A T AL

Que me fascina
És a tal!

Natal
Cidade menina.
SI NAL.
Amar Elo.
Amare lo d’Es pera.
A mar e lo Lou ro. Louc o.
Amar elo Am bar. Pês sego.
Amarel o So l.
Am ar elo Gir as so l.
Ama re l o d’Ate n ç ão.
A ma relo d’Ou ro.
A m are l o Gem a. Ma nga. Caj ú. Ca já.
A mar el o Out ro. Ou so.
A m ar e lo Lin guaj ar.
Ama r elo Sol uçã o.
A marel o Lar anjal. Citro n al.
Amare lo Ser tã o. So lid ão.
Am arel o Saud ade. A sina la. Car t ã o
A mar elo Nó/s. A nel o/s.
Amar e l o Só/s. Elo Ama relo.
Am ar el o So rris o.
A m a r e l o Pis ca. SIN AL.
Amai-Ame-Amem
Amemo-nos
Umas aos Outros
Outros aos Outros
Umas as Umas
Outros as Umas
Umas às Outras

Amemo-nos

Uns às Outras
Outras as Outras
Uns aos Uns
Outras aos Uns
Uns aos Outros

Amem!
<cicuta>
Minha saliva
É minha cicuta...

Minha língua
Meus gens
Meu veneno

...Não mata
A mim
Mesma
EXTEMPORÂNEA
Não tenho compromisso com o tempo
Nem suas marcações
Principalmente religiosas e artísticas

Meu compromisso é com a vida

Precisamente a fluência da minha e meus envoltos entes


Reais e imaginários...

Futuro-Presente-Passado
Epigrama #14
IDADE da POETA

Sou uma velha de mais de trinta e tantos anos.


E uma criança de milhões de eras.
Epigrama #15
D'EU

Escrevo torto por linhas certas


Escrevo aberto por linhas rotas
Escrevo roto por linhas abertas
Escrevo certo por linhas tortas
Delírios Afins
Sexo verbal faz meu estilo
Lírico e erótico
Como um lírio
Destilo
Todo meu Text-Appel
Orgasmo e salivo
Delírio
À RISCA
...Quando eu era pequena
ouvia de minha avó e minha mãe
uma imperiosa recomendação
Elas diziam assim: "menina, tenha estilos!"

[Fui ao dicionário descobrir o que enfim elas queriam dizer, e gostei!]

Aí, o tempo passou


e ao poucos cresci
Hoje sou uma mulher assim
à risca, cheia de estilos
IMPAR
...sou esta
mulher par
tida ao meio
ex
/
es
face.
.
.lada
ladra ~ lava ~ larva ~ lavra
mil faces
e
nós

...é nos olhos


que guardo os ases
os laços...
e é nós!
BATE BEAT BATICUM
"As vezes parece um tambor
mas não é tambor nem nada,
é o coração"

—Djavan

TRUE REAL WIRKLICH


TRAUM SONHO DREAM
SÓ ALONE ALEIN
BATIDA SCHLAG DRUMM
HERZ CORAÇÃO HEART

BATE BEAT BATICUM

PALAVRAS SOLTAS NUM CADERNO


REPETECOS, TELECOS-TECOS...
À TONA NA TÔNICA ATÔNITA

D'UMA NOITE TAMANHA


COMO TODAS AS EMOÇÕES IN/
POSSÍVEIS TONS SONS CORES

CARAS PERSONAS SERES PESSOAS


AMORES LIEBE LOVE
DONS...

E APÔIS?
SER DOIS É DOM!

MEIN HERZ SÓ BATE EM MIM!


BATICUM!
BATICUM!
BATICUM!
N a t a l d ' I [n] s t a n t e
escuras-noites-em-claro
olhos-ilhas-pares
ilhas de lágrimas
desejo dispara
olhos d'água salgada
saudade não pára
olhos em chamas
fogo-fátuo-farto
ventania de pestanas
areias-meteoros-ciscos
na apara das sobrancelhas
desarmadas
mentar amada cidade
ama mentar crias d'amor
e lacrimar de ardente saudade
feito orvalho em flor
em f lor de ar dor
de am or
de ar do r
torpor
de sol
am or s em dor
or va lh o em f lor
Epigrama #16
OCEANOS FLUÍDOS

Rios afluentes em
Veias fluentes de
Mares influentes

Fruições...
Afeita...
Tenho
Afeição
Pela
Beleza
da
Imperfeição
Quem?
Quando estava germinando
Saí do chão
E fui-me
Me replantei em terra alheia
E tão distante do solo
Potiguar

Estou brotando...

Não são maduros nem tão doces


Mas quem quer provar
Meus frutos?
Minhas flores?
sEMANA
Sexta-Feira da Paixão
Sábado d'Aleluia
Domingo de Ramos

Segunda de Graças
Terça de Carnaval
Quarta-Feira de Cinzas
Quinta-Feira de Fênix

Vendaval da carne
Carnação com aval
Amém

Arre!
SER
Não sou uma artista especialista
Sou uma mulher par
Não sou uma artista impar

Não sou uma mulher singular

Quer saber?

Sou um ser assim: plural!


desagostos
I
desenho do desejo do desgosto. desdesenho des-desdenho. desgostar a desdizer o
amor. dissimular o gosto e o prazer de se ser. desamor mor. decifrar a alma de me
ser assim. despertar a ser-me mim sem ninguém. nem você. agosto triste. alegre e
feliz pode ser. mas cadê eu mesma? cadê minha vida? cadê a música? cadê a luz?
cadê o gosto do mar? cadê meu rosto? o teu? cadê você? ah! esse desagosto.
desassossego. desassossego do meu coração. sei que é lá. lá onde não está você.
onde não está teu rosto. onde está o gosto do mar. onde está a luz. onde a música
está. onde está minha vida. mas onde? será mesmo que tão longe? será que não
aqui? bem perto e dentro de mim? onde está eu mesma. onde?
II
um gosto assim / sem sal / sem sol / sem luz / sem lua / sem pimenta / nem
azedo / sem açúcar / sem tempero /

foge de mim / escapa-me sem triz / desassossega-me / desacelera-me / dilacera-


me / destempera-me / esfacela-me / assim... assim.
III
acabou. é o fim. acabou de mesmo. sei que é o fim. o fim ao fim. enfim? sei que não é
isso que quero escrever. nem dizer. nem viver. mas é assim. e que de nada adianta
desgastar palavras tantas. sei que sou uma anta. sei que quero ser santa. meu
coração é só dor. e que eu nem devia escrever uma carta assim querendo que seja de
amor. e escrever carta assim, sei que não sei. perdi você e assim mesmo, me perdi
um pouco de mim. isso está errado. não posso me perder de mim assim. repercebi
que o amor é que é maior e, quando ele existe é maior sim. eu me desapercebi no
erro em errar com tal amor de mim à fora. sei também que sequer vai ler ou ouvir
isso aqui. e se acaso ler ou ouvir, nada compreenderia. afinal nunca falamos a
mesma língua, não é? e que nada nem apascenta nem suplanta. não é hora essa
hora. a esboçar uma carta de amor. ora, ora. não traz nem leva a nada a essa hora.
nonada, no tempo em que o amor é desamor e não ardor. não mais temos tempo.
nosso tempo já era. nem há mais fulgor. d’amor. pois é... acabou.
Sem Saída
Não
Não há
Não há luz
Não há luz no
Não há luz no fim
Não há luz no fim do
Não há luz no fim do túnel

Sim há luz no fim do túnel


Sim há luz no fim do
Sim há luz no fim
Sim há luz no
Sim há luz
Sim há
Sim

Fosfórea... Fiat Lux!


Veneno da Nata
O soro
A santa
Qualhada

O azedo
A doce
Picada

O soro
O amargo
A cura

Poros envenenados
contém a cura também
Se já não és puro
- Que tal inalar meus poros?

É da nata
É picante
É salgado

Trago na boca, nos dentes, na língua e nos grandes lábios


a saliva e a seiva com veneno e soro
- O que queres?
- A cura?
E C O S do B E C O
...Pelo curto tempo em que você sumiu...
Tenho meia hora, meio agora, meio fio, meio rio
Tenho meia vida, meia linha, meio segundo, meio mundo
Pra pegar o beco, pra re’voltar estar em Natal, a minha cidade–sina, essa
dos meus olhos, menina
Ouço ecos do Beco e da Ribeira e é bem isso qu’almejo, esse balacobeco
Baco, bacante potyguara qual soul, bacanas ribeirinhas bacantes que somos
Quero o sentimento vivo, semente vida, de re-conhecimento. Do mundo?
Não! Dele quase nada sei! Mas do uni’verso que é Natal, meu berço
Canto em terços essa ladainha, d’amor e acalanto, e em imagens fantásticas,
no tapete da minha vida, a teço e canto
E insisto: não careço ser conhecida, não quero fama, me basta a lama e a
boniteza de quem ama, e o que eu quero é fazer versos e estar, por dentro e
por perto... De Natal, da Ribeira e do Beco da Lama
Bamba
Q u e b a m b a, m e u c or a ç ão n a c or d a b am b a. . .
A lua e o asfalto e as nuvens passantes no alto, cheia lua maré cheia e cá
em baixo os fios e os fios e os rios, fio do asfalto e eu no meio fio
Tudo minha alma nada, qual bamba, que bamba, meu coração na corda
bamba... Bem bam-bam-bam faz meu coração quando te sente, quando
você passa, quando eu chego e você chega e me abraça, bem assim meu
bem: sem bamba e bambo você me encontra no bambo...
Você assim sem mango nem samba, no mangueiral, solto as mangas, sou
tua, sou tua manga, sei que somos bambas, que bamba, meu coração só
quer saber de samba... Meu coração na corda bamba... Quando você
samba, quando você aponta, na rua na minha direção do seu coração, na
minha onda...
Ah, quando você apronta, eu fico é tonta e pronto, também apronto!
Quando o que eu quero mesmo é que você se deixe, cale a boca e me
beije... E faça nosso chão rodar... E que o sol, as estrelas e a lua se deleitem
e me faça brilhar, feito um feixe e tu a brilhar como um feixe...
Ah! Esse nosso coração radar... Seres bamba, se você não está pronto eu
fico na corda bamba, vem cá benzinho, vem cá pro meu samba!
Meio fio de razão pro nosso rio d’emoção... Fios tantos que se ligam... Se
liga! Vamos fazer uma liga? Deixa a lua beijar o mar, o asfalto, o mato, o
que há... O devir. Que virá...
Que bamba, meu coração na corda bamba... Vem cá com seu bamba All
Star e eu de chinelas Havanas, vem cá meu bamba, vêm! Vamos fazer uns
sambas!
CAÇA-PALAVRAS
ESTOU DE SACO CHEIO / DESSAS PALAVRAS / QUE NÃO AS TENHO / E
QUE SÃO MINHAS / E À VERA / SÃO SÓ PALAVRAS / EMPRESTADAS /
IMPRESTÁVEIS PALAVRAS / USADAS // TOU ME LIXANDO PRA SER
BOAZINHA / SER AGRADÁVEL OU SER AGRADADA // JÁ ATIREI NO
ESMERIL / A MINHA ALMA // SOU CAÇADORA / E A MINHA CAÇA /
DILETA / É A PALAVRA // LEVANTE / PALAVRAS EM LETRAS DE OURO
OU DE FOGO / EM LETRAS DE SANGUE // LEVADA PALAVRA LAVADA
/ LEVADIÇA / LEVIDADE / LEVITADA / PERVERSA / LEVE E DENSA /
EMPENADA E TENSA / PERDIDA / DESMANTELADA / INDECISA // EM
BUSCA DA PALAVRA LEVIANA / EXCESSIVA / HONESTA / DESLAVADA
// PALAVRA LUXÚRIA / DILETANTE / CANALHA // LETAL / INJÚRIA /
FATAL / AMBÍGUA / CAOS / DESFOCADA / ESCASSA / ESCROTA /
PIEGAS - UM DITO LIBELO // PALAVRA MALANDRA / ARDIL /
PEDREGULHO / SABOTAGEM / LIBIDINAGEM / SUFOCO / ANCORAGEM
// PALAVRA COVARDIA // CAVIDADE DA PALAVRA / ILÍCITA / CÍNICA
/ SÓRDIDA / POSSESSA // LIGA / LIGEIRA / FAJUTA / LUZIDIA //
PALAVRA LIMA / AZEDA E CERTEIRA / CORROSIVA E ESMERADA //
FULEIRA // PALAVRA DE PALAVRA // PALAVRA VADIA /
PROVOCAÇÃO / ABUSADA // PALAVRA VAZIA // MASSA-BRUTA /
AMÁLGAMA // BUSCO UMA ESCRITA QUE SEJA INSCRITÍVEL / E SEU
CONDÃO // SANTAS PALAVRAS / ENTRECRUZADAS // EMPENHADA
PALAVRA / PEDIDA / PEGADA / GRITANTE / CALADA / PENSADA /
GALANTE / MOLHADA / CORTADA // TRAUMA // LUTO // PALAVRA-
CHAVE / DE CADEIA // CADELA / ZUADA / TOANTE / ENRASCADA –
UM "MOTE JUSTE" / PR'ESSAS ESCRITAS SACRADAS // PROCURO LETRAS
/ FONEMAS / VOCÁBULOS / MIGALHAS DE RADICAIS / LIVRES / NAS
METRALHAS / NA LAMA / NAS CALÇADAS / NAS ALMAS / BUEIROS /
ESCAPES / RUAS / JANELAS / OLHARES / BURACOS / BECOS / BARES /
LARES / PARABÉM // PALAVRA SUOR / LEXEMA / TININDO /
TOCANDO EM CARBURETO // CONTA-GOTAS / DE LETRAS /
DILACERADAS / A GOTA SERENA / ENVENENADA / REMEDIADA /
NONADA // BARRA PESADA / LIMÍTROFE E SÔFREGA / ZONZA /
EMBRIONÁRIA E ESTÉRIL / FOSCA / ESTETA / EXÍGUA / BÊ-A-BÁ / BEAT
E BEATA / GONZA / BÊBEDAAA / DE SENTIDOS: QUE NÃO HÁ
PALAVRA / QUE MANIFESTE / EXPRIMA / SIGNIFIQUE.
ODE às XANANAS
Xananas são exóticas, xananas são albinas, xananas são comuns. Xananas
são radiantes, são lenhosas, são bacanas. Xananas são belas e são banais.
Xananas são singelas, são sugestas, são factuais. Xananas são fuleiras, são
lascivas, são esplêndidas, são substantivas e são substanciais. Xananas são
xamãs, xananas são alheias, xananas são danadas, são estóicas, são
turneráceas. Xananas são ulmifolias, são estanques, são sacanas, são
solares. Xananas são daninhas, são suntuosas, são extemporâneas, são
bucólicas, são vulgares. Xananas são tinhosas, são luzentes, são
capsulares. Xananas são sagradas, são urbanas, são extáticas, são
solitárias. Xananas são pentâmeras, são reiêiras, são rebeldes. Xananas são
poéticas, são ornamentais, são descuidadas, são malditas, são tribais.
Xananas são emocionais, são malandras, são selvagens, são medicinais.
Xananas são Chananas e mais que tais.
Ascensão pro nosso Amor
Ao ascender
Me apago
Pra te acender
Incendeio
Ao ver você brilhar
A trilhar o caminho do amor
Até a mim
E de nós dois, sermos um,
Um sentimento raro e comum
E nosso desejo incendiar
Pro nosso amor crescer
E ascendermos juntos
E sermos uns...
PASSADA
...nasci atrasada
Sou para esquecer
Sou pra não ter
Nasci para não ser

Não miro nada


Tudo me acerta
Não vejo além
Do umbigo
Da minh'alma
Desdentada
Da minha venta
Desgrenhada

Não tenho nada


Não sou nada
Pr'além disso:
Sonho em ter
Uma boa alma
Dormir calada
E em outra era
Ter sido uma bruxa
E não uma fada

Eu não digo: nada


Tudo me cala
Tudo me fala
Quando meu grito
É faca

Não cheguei a tempo


Sou atrasada
Nessas aulas / Levei falta
Eu nasci pra ontem
E / Para / Cada / Hoje...
Cheguei...

P-A-S-S-A-D-A!
"Por onde anda? No abismo. Dada ao vento..."
—Cecília Meireles, Viagem

hajamar
Dentro de mim a terra acaba
E o mar me começa sem fim
Em mim o mar deságua
Arde dentro de mim o fogo das torrentes
Maré cheia, cheia lua
Mulher cheia de ondas, marolas, água-com-areia...
Praia passeia
Mulher praieira, os meus amores...
Encandeia o farol do de-dentro de mim, a fora, à forra
O mar começa em mim e me descerra
E o que te peço é que não me meça
Vê se não tropeça
mar-a-mar
Eu não tenho fim
M'entreteço em teus veios
Me começa mares sem-fins
Mar-de-dentro
Ondulações, sacramentos, alusões
mar-em-moto-contínuo
mente-corpo-coração
Mulher forjada nas espumas
d'águas do mar e areias salgadas
O mar me arrebenta
Benze-me mar
Alma sagrada
Em sacrofício de pertencer a seres marinhos
Mergulhos, nadadas...
Mulher-peixe-sereia-golfinho
Vou-me
V ou me desf a zer de mim
A o s p e d a ço s
P r a r e cr i a r - m e i n t e i r a
A os laç os

V ou me despe dir d e m im
A o s p e r ca l ç o s

P r a r e e n co nt r a r - m e i n t e i r a
A os p as sos

E s p e l h o
C o m p a s s o

V ou me desl umbra r de mi m
Eu vou
Eu p as so
] t e m p o [ e s p a ço
E u v o u m e d e s l u m b ra r
Eu busc o
Eu ac h o
E s p a ç o ] te m p o [

A d e u s à m i m
A b r a ç o s

V ou me desprov i de mim
A o s e s t i l h a ço s

Pr a esb ar r ar - me in t eir a
A o s t ra ço s

V ou me desc r iar de mim


A os laç os

P r a r e f a z e r -m e i n te i ra
A o s p e d a ço s
Aquela...
A qu e gos ta
D e b e b i d a s F o r t e s E x ta s i a n te s
D e em oç ões
A r re b a t a d a s E n t r e g u e s E n c a n ta d a s
D e ca fé a m a r g o
M e m ó r i a q u e é A cr e e d o c e E t e n ra
D e pens a me nt os
E x t á t i c o s Co m p l e x o s E n l e v a d o s
D o d evi r
E x t ra o r d i n á ri o I n e s p e r a v e l m e n t e A p r a z í v e l
D e des ej a da
Ten t aç ão O u o v ic e- ver sa
D a p o e si a
V i v i d a A r d e n te C o m e n ca n to s
D e vívida
P r á x i s M a r a v i l h a d a De s l u m b ra n te
D os s ent i m ent os
M a i s f o r t e s E né rg i co s T o r p e s
D e ca l o r
A p t o a i nt e n s a r I n t e nt o s t a n t o s A m o r o s o s
P o is é
S o u Ci v o n e E d e s d e s e r A q u e l a .. .
S o u e st a
Ê x t a s e I n t e ns a E x tr a
E u s o u só
V e e m e nt e M e n t e O rd i ná r i a
Só, só
E x t ra , e x t ra !
E m b e v e ci d a
E u s ó . ..
S o u a q u e la .
É dando que se recebe...
eu dou
sub sídio
p r a voc ê
sa ber
de mi m

eu dou
pista
p r a voc ê
c o r re r
pra mim

eu dou
b a nd e i r a
p r a voc ê
f l a na r
por mim

eu dou
as a
p r a voc ê
v o ar
pra mim

eu dou
lin h a
p r a voc ê
v o l t ar
pra mim
"Eu te esperei todos os séculos, sem desespêro e sem desgôsto,
e morri de infinitas mortes guardando sempre o mesmo rosto."
—Cecília Meireles, Viagem

ESBOÇO D'UM POEMA ~ ÉBAUCHE D'UN POÈME


pour Goulven
j'imagine...
TEU SORRISO, MÁGICO
QUAL PARAÍSO
la lumière de tes yeux...
QUE ME INCENDEIAM
COMO SILÊNCIOS QUE FALAM
quando estamos juntos
quando não estamos
quando você está comigo
apenas no pensamento
quando você está por perto
bem dentro
A TODA HORA
você entra e sai e entra nos meus pensamentos
sentimentos de nós
je sens...
MIL EMOÇÕES, SENSAÇÕES
e sorrio sozinha, à flor da pele
a qualquer hora, lembro, sinto, vejo
PAISAGENS DO TEU BELO
joli coeur...
BRUMAS, MAR, LUAS, SÓIS
Encontrar você, "chéri"...
É tão bom, me faz tão bem
Sinto-me leve como pluma, como pétala
como sementes ou flor ao vento
planando sobre mapas de desejos, emoções, enchantement...
Ah! Mon Coeur! Como é doce quando eu lembro, de você, de nós
DOS LAÇOS FEITOS DE NÓS...
d'encontros, encantos, quantos...
A felicidade não me inspira
confiança de faiança
forte feito pomba-gira
erma feito pedestal

de estrada torta, reta, rota


andeirices duma escrota
cidade sina em cio
UMA'ZINHA (DeCORAÇÃOdeLATÃO)
Eu sou uma Porca
Com um coração
De Humana
Ou inversa
E
Vice-versa
Eu sou uma Forca
Com coração
De Leão
Eu sou uma Horta
Com coração
De Melão
Eu sou um Pavão
Com coração
De Galinha
Eu sou uma ‘zinha’
Com coração
De Latão
(minha) Língua
Filha da Mátria...
Da rua, da Bandalheira

Flor do Ócio e da Labuta


Da Lama e do Sacrilégio
Ser Lótus e Lilith

Escrota, Inteira...
Devassa e Banguela
Bêbeda...
Passageira...

Filha do Trapo
Linguaruda
Sibila...
Estricnina
Destrato...

Non-Grata
Nitrato
Venérea...

Ácido Feérico...
Muriático
Gástrico
Orgasmal...

Cicuta
Simulacro
Ferina
Faceira
Venéfica

Filha da Juta...
Tola... Rota... Fuleira...
Fajuta...
Rêieira...
Inferno Astral
VOU PERVERTER
O INFERNO
EM PARAÍSO
VOU DESCER
AO INFERNO
E re'VOLTO
EM CHAMAS
SEM JUÍZ
NEM JUÍZO
VOU FAZER SOL
NO INVERNO
E CHOVER
NO INFERNO
VOU FAZER
DO MEU INFERNO
UM PARAÍSO!
Epigrama #17
DADO BIOGRÁFICO CONFESSO (E NÃO-CONFESSÁVEL)!


o Te
n
ho
PAC
Iên
cia
pAr
a

o Se
rE
U!
Epigrama #18
SACADA SACANA...
Não tenho um pau pra matar um gato!
Mas tenho uma buceta!
Epigrama #19
BELA ESTRANHÊZ

Vi
uma
Nuvem
...Estranha
&
Bela!
E quem disse?
Que nuvem?
É ela?
EX'POSTA
Sou esta...
mulher posta
partilha de peixe
em posta

E–X-P-O-S-T-A

com um coração que por pouco


é só uma hóstia
profana
prolixa
profusa
sou esta mulher: posta

vivo fluente de torpor


com um coração
à porta
um coração
impostor
Entre-Tempo
Entre Profeta
e Tradutora
de meu Tempo
Sou só Poeta

Entre
Profetizar
o Presente
e Traduzir
o Passante
Nosso

Tempo
É só o agora
E não chega a vir
e nem chega a ir
Embora…
"Ser pedra é fácil, o difícil é ser vidraça."
—Provérbio chinês

Aliciamento
Sou sofrível
Qual minha escrita
E também sou
Feliciável
"Há dois modos de escrever.
Um, é escrever com a idéia de
não desagradar ou chocar
ninguém. Outro modo é dizer
desassombradamente o que
pensa, dê onde der, haja o que
houver - cadeia, forca, exílio"
— Monteiro Lobato

“Ich bin sicher eine Flamme!”


—F. Nietzsche

A’Crítica
Minha escrita é sofrível
Maliça, m’atiça
M’alicia, alicia e vicia
Lamentável, dilacerante
Meleagro e maleante
Malhada, melindrável
Manjável, maloqueira
Mancomunada, maltrapilha, mulamba
Malandra, muamba,
Malcriada, despudorada, malcozida, mal-dotada
Mambembe, malsoante, manifesta
Mamãe-e-papai, manhosa, meia-nove, mantença
Malouvida, malsinada, manda-chuva
Mamária, metamorfose
Metida, macrobiótica, metralha
Malafamada, maldosa, factóide
Daninha, chanana, chumbrega
Morfêmica, metropólita, sinonímica
Bucólica, urbanóide
Malbarata e mercável

Então? O que fazes com tudo isso sob teu julgo?


Larga-me!
“É possível que eu te sirva.
Gostaria de saber como te servir.
Eu só quero te servir.
Talvez com a minha ausência...”
—Paulo César Peréio,

ENTERRA/da
Esse chão está e é
enraizado em mim
Em terra...
Da minha Paixão

Nasci para cantar Natal

Quem sabe, um dia, madrugada, noite, manhã


Ela ceda aos meus cantos
E ceda à minha paixão
Ao meu vexame, a minha sedução

Eu a pertenço
Quer ela saiba, queira, deseje
ou não!

Porque, se isso nunca acontecer,


Já que sou dada à ela
Certeza é, que eu vou penetrar
no seu chão.
GÊNESIS
Eu também tive a sorte,
de não ter nascido
máquina.

A minha arte
é minha
imagem
e semelhança

Amor-Mundi

Que "da costela" que nada!

Eu sou é de sangue
Éter e sopro vital

Sou só de coração
Alma pulsante
Meu ser é integral.
AMO E SOU AMADA
Por Tudo
Por Mim

Com Tudo
Amo e Sei Amar
Aprendo, Apreendo, Liberto
Amores Presentes, Passados, Futuros
Os Sem-Passados e os Sem-Futuros

Amores Presenciais, Passantes e Futurados...

Sou Amada e Amo


Amada por Meus Amos, Amas e Bem-Quereres
Meus Bens-Amados
Meus Ex-Amados

Amo e vou Sempre Assim – Voando, à Pé, aos Nados: Amando e Sendo
Amada!
Sina de Zila

“Pudessem meus olhos vagos


ser ostras, rocha, luar
ficariam como as algas
morando sempre no
fundo do mar”
— Zila Mamede

...E na vida, essa mina. Essa sina. Zila é mar.


Que permaneço e passo. E repito com gosto: Zila além de sina é meu asilo
e compasso. Alfa-Ômega minha. M’acolhimento, vento, leito, ninho.
Alento, contra-veneno, encontro e contraste.
Mama Mamede m’aninha em teu leito, teus veios, braçadas, abraços.
Dá-me de mamar de teus dons, teu néctar.
M’embala em teus navegos, verve, trilhas, traços, ecos.
Desregra-me, desgarra. Com teu EXERCÍCIO DA PALAVRA...
Brota em mim tua ROSA DE PEDRA; hoje tu és mais ostra, rocha, coral.
SALINAS minh’alma; tu és mais algas.
Cultiva O ARADO em nós; tu, oh, arad’alma. Minha-Nossa...
Em exercícios – infindos – da palavra, não-nadas?
Teu CORPO A CORPO, alma a alma...
Entregue ao mar, absoluto porto... Qual lual...
Sina c’alma; e também fez-se um silêncio tão grande...
“que se ouviam nascer açucenas”
Ser’tão Deusa que virou mar.
Será Sereia?
Yemanjaz?
M’amor, o mar ficou mais musa depois que você se entregou em seu
mergulho de virar Algas. És a primeira poeta-ponte entre Forte e
Redinha... Ironia? Nadadora exímia?
Paisagem, inspiração, luar, miragem, jangada, entrega, baldeação...
A ponte ficou mais poema depois do teu onde, teu quando, não-nado.
Trilha do sertão bruto – ardume, fértil, fonte – da Nova Palmeira pro
Forte e então Redinha imensa d’embalos... Teu canto?
A sina de Zila é a travessia, a ponte é o Potengi, qual nosso destino é a
barra, a beira, o fundo, o denso, a brisa.
A sina de Zila é o mar. Mar-a-mar... O mar é Zila.
É mar...
O POTENGI ME TANGE
Os barcos do Potengi navegam meu olhar. Quando embarcam, em barco
com eles. Quando tu embarcas, meus olhos marulham. M’embaçam.
Molham-me de água de rio. Ou é por esses olhos que o rio corre, decorre.
M’esqueço que outras, tantas vezes, sou eu quem vai. Vôos, passeios.
Navegos e voltas. Avenidas dos contornos. Você sempre torna, me volta.
Retornos. Qual abelha, eu também, estou sempre no entorno. Corre-corre.
Pra boca da barra, que sou. Corre da boca do rio de você. E m’atiça,
desperta os cios. Beija-me, me descerra. E me descobre. Revê-lo, desanuvia,
me revela. Descubro teus véus, talos e flores. Afloro. Xananas, Acácias,
Buganvílias, Mangabeiras. Flor de Jambo no chão, qual tapete róseo. Vem-
me tudo à mente. As imagens mais belas. Minhas carícias sem defesas.
Amo como quem não teme. Rósea a flor desperta, entre pernas que te beija.
A espada de santo é tua. E vem ao templo, intensa, com leveza. Teus em
mim, semens sementes. Protege-te Potengi, em meu rio ventre. Aflui
fluente e me molho de teus molhos e manhãs. Lambuzo-me desse rio.
Banho-me e m’esbaldo. Te como a tarde, de noite, na madrugada, na
manha. Nem sei onde me ser, ou me estar. Como te ser Star. Me ser-estar.
Qual não me ser, qual estar. Quero você, meu anelo de strass. Rio sozinha, a
nós – Potiguar, atlante – ou rio-me com tua presença; e mesmo quando
ausente... Saudade é isso, que não se explica. Então é sodade. Sodade,
sodade... E banzo não se benze. Só bate. E que às vezes nem existe, se
inventa. Ou é verdade, ou é um intento de ausência. Pra sentir mais, o que
se sente. E escrever quiçá, um poema. Me pressa o rio sem presas. Preza-me
o rio sem pressa. Potengi não é Danúbio, Sena. Ganges, Guaíras nem Tejo. É
o meu leste-oeste-sul e norte. É do Norte, o Grande. E é o rio que amo e
prezo. Desrepresa-se um rio inteiro. De amar, d’ardor. Fitar você é transe.
Trance de olhares em flamas. É transa, corpos em trança. Beija-me, a cidade,
correnteza. E esse amor de mililitros, m’embriaga, me néctar. Navego com
ele. O crepúsculo me leva longe. Fico sem saber onde é onde. O não-sei-
onde. Onde eu te encontre, encante você me cante. No quando, num
quarto, de horas, num canto. Às vezes a dista é dentro. Nem é nos longes.
Onde encerro meus pés, o agora e os ontens. Onde o finito me horizontes.
Infindos. Na terceira margem, do rio, das visagens. Todos amanhãs, que me
encontrem. Até nas tangentes, nos passos, esparsos. Onde minhas mãos, me
escorrem, m’escapam. Artimanhas sensações. O Potengi me é porto e
ponte. Aporte dos sentires e quereres. É da vida, cenário, inventário,
roteiro, mirante. Alma cheia de braços e mangues. Navega-me pros teus
ondes. Flagrantes, vazantes. O Potengi, amor... Pois é, ele me tange.
Ela, a Praça D’alma
...Penso numa praça, ou melhor, começar assim: lembro de uma praça. Na
praça que intervém com freqüência entre os olhos da minha memória.
Imagética. Visional. Sei que é só lembrança, semi-desconexa, déjà vu. Mas,
a sinto tanto... Sei de seus cheiros, cores e vazios explícitos. Sei que essa
praça arquivada quiçá aleatoriamente na memória, vivencialmente não a
conheço; nem sei em que lugar pode ser que esteja. Especulo sua locação.
Imagino-a aqui perto de casa, mas não há praças por perto. Pode ser no
limite de um precipício ou a beira-mar. Pode ser aos pés de uma
montanha ou serra, mas não posso precisar onde e, pode ser nas cercanias
da província onde nasci, mas lá não tenho certeza que haja praças como
essa; a que vejo dos olhos da memória. Pode ser que a criei com traços e
linhas de praças outras por onde passei. Gosto de praças assim como de
oásis e ilhas. É agradável essa praça; agradável ao olhar transeunte e
aquietado por entre ela. Praça que tem um “quê” de aprazível, algo de
turbulência de tufão, algo de abandonada, como um quintal de casa e
também calmaria solene e silente de cemitério; tem um toque de bosque
virgem, daqueles que se penetra apenas com os olhos e a alma e jamais
com pés e mãos. Está claro! Essa praça é só imaginação. Nessa imaginação
tem árvores tantas inclusive Baobás; trilhas ariscas, bancos alheios e
mesas de madeira; tem fontes e canteiros muitas vezes floridos, um
ambiente que atiça lúdicos espíritos; tem capins selvagens e espalhadas
pedras tão mais velhas que a memória humana; quando chove em choro o
céu formam-se poças-espelhos; tem muitas sombras e muita sombra e
também clareiras e cantões; pássaros vários passam por ela, a praça, a
imaginação. É ordenada e naturalmente caótica; verde bucólica; ventos
ventam entre suas árvores frondosas; é tão ampla como um coração
amoroso e, à guisa de passos, vasta como a palma de um pé. Essa praça é
e está sitiada pela urbe. É poética e boa para prosa. Telúrica. Praça que
tem alma própria. Ela é só imaginação. Ela é uma praça.
E...
Ela chorava compulsiva. Quando ele tocava-lhe, tocava-lhe o corpo. Inteiro. O amor era de
longos e longos dias. Centenas e centenas deles. Há dias estava propensa a lacrimar. Estava
tocada. A saudade não era dele corpo presente, tão somente. Ele sempre tão presente. Opção
mútua. Amor de ambos. A saudade era dos sentidos ativos, atiçados e era seu motivo de
chorar. Dias foi bem preso o choro, pois sabia ela que eram cachoeiras que se armavam no
curso de seus olhos. Quando não pudesse sustentá-las sabia que assim seria. Compulsiva.
Foram horas ininterruptas de choro na madrugada de tempestade sob cobertores mornos.
Trovões que apavoram. Relâmpagos que encantam tanto. Ele com sua tendência fácil para
compreensão, dizia impulsivo: chore. Chore querida. Alivia. Alivie-se. Eu te amo, já sabia?
Eu te amo, repetia. Cada palavra que carinho envolvia, a cada a’morosidade mais ela
chorava e chorava e chorava. Ela imaginava por imaginar que ele fazia outra idéia do que
ela por ele sentia. No quarto não havia luz elétrica acesa. Apenas a grande janela de vidro
transparente com lágrimas externas do tempo e esporádicos clarões que lembravam a todo
seu tempo que tempestades estavam às voltas. Está claro. Seu obstáculo em compartilhar
sentimentos naquele momento a levou a demonstrá-lo d'outro modo que não a fala clara e
franca. Chorava cada vez mais manso. Já estava amenizando a compulsão até que ela
decidiu desligar a televisão antes de assistir o contínuo disso. Foi à cozinha preparar um
café e em seguida folhear um livro no banheiro, enquanto sentava-se confortavelmente no
vaso. Passa tempo. Passa. A planta do lado estava com poeira e a pequena estante estava
abarrotada a ponto de despencar tudo. Isso só porque recentemente ela está levando quase
sempre mais um livro a cada ida ao banheiro. Quando não tem necessidades e lhe sobra
vontade de continuar um capítulo iniciado, corre novamente ao banheiro para mais uma
sentada nas folhas do livro anterior. Ah! Que prazer reservado! Imenso! O sino da catedral
sete horas anunciou e naquela estação e hemisfério, era bem a hora para suceder o pôr-do-
sol. Ela foi sem pressa passear após o café passado. Queria mesmo era ver a lâmina fina do
astro já rotando pr'outra face da terra e com calma e tempo que lhe sobrava nas segundas-
feiras, deliciar olhos e alma com o crepúsculo âmbar e seus matizes. Tem esse fascínio e bem
estar nestas horas. Foi num crepúsculo que nasceu. E gosta por demais disso. De ter nascido.
A foto saiu desfocada. Pudera! O bonde estava em movimento. A ansiedade tanta para
captar aquele gosto, aquele roxo, aquele rosto foi o bastante para nem cuidar do
desempenho ótimo da máquina. Lembrou que já há dias pensa em escrever aquela carta que
pensa e que bem podia ser agora, embora breve, pois os pensamentos estavam como nunca
multiplicados em diversas ordens e direções. Não seria agora extensa como pensa. O pão em
casa estava pouco. Era hora de variar. Aproveitar a passagem para comprar roscas doces,
mangas verdes e pão mais integral. As flores frescas a sacar ficariam para o fim do
caminhar. Quando secas tão bem belas são. Fazia tempo que não desejava um banho quente
assim e, que acima, nas montanhas sempre lhe dava a imprópria vontade de voar. Voa
pensamento e a montanha é agora por milhas só memórias assim com a praia. Outro dia que
virá é que por uma delas vai tornar. O brinco na orelha é só em uma e à esquerda; a barba
por fazer enquadrava o estereótipo de menino marginal, bandido. Os lábios límpidos é que
contradiziam. Não fosse a tarja nos olhos alguém diria que era o Jim Morrison passeando
em Paris. Em verdade é bem mais belo ao todo que o morto. A tarja nos olhos fui eu que
pus. Aquele deus transeunte era demais para que pudesse assim simplesmente fitá-lo nos
olhos naquele momento. Passa, e é isso que nem queria com ele ao lado. O tempo. A foto é
em frente da porta do quarto. O bonde chamado passa. Segue mulher! Vai-te! Vem! Chego
cheia de flores, balangandãs e comida. Como. Chá-lá-lá... Chá-lá-lá-lá-lá... Lá-lá-lá... Chá-lá-lá...
Lá-lá... Eita! O rádio ficou ligado. Aquela estação. O céu é bem estrelado e o noticiário avisa
que à direção do ponto cardeal sul vai ter chuva de meteoro. De vez em quando, de tempos
em tempos estrelas trocam de lugar. Os olhos extáticos em brilhos ao lembrar a vez anterior
que viu este lindo espetáculo. Há tempos! Foi numa aldeia alheia sem luz de artifícios. Na
cidade vai ser difícil enxergar. Luminosidade em excesso ofusca o lustre de estrelas
distantes. Em movimento então, tão mais. Tão distante estava então o lápis e o moleskine de
sempre para inscrever os afazeres e prazeres de amanhã. Os escritos dos ontens e os desejos
do agora até o porvir. Deitada, não queria agora desgrudar o corpo da cama. Do cheiro duo
da cama. Ele telefonou. Disse que volta. E... Logo! Quiçá depois de amanhã. Tempos idos
sem ouvir de verdade de perto, bem ao labirinto e a tez, palavras simples assim: amor,
tesouro, deusa, querida... Antes estava contente. Agora estava feliz. Lembrou de antes. De
como tudo começou. Ela chorava compulsiva.
Vulv’ars poética. Sacra. Sacra é a sua. Sacra é a Mãe. Sacra Vulva da Vovó.
Matri, Mundi, Female, Mutter. Sacra Nana, Yoni, Oyá, Yansã. Mamã. Sacra
é d’Início, Cio e o Feminino Princípio e o fim em Si. Sacrae. Sacra é a Prenhe
que te Pariu. Sacra Vulva a Sua, a Minha e a da nossa vizinha. É Sacra a da
sua Irmã, sua Tia e sua Filha. Sacra a Vulva das fêmeas donde todos os
Seres se Geram-Germinam. Sagrado o Eterno Feminino sim. Ser Sacral.
Sangue Semente. Sem fim. Sacra é a Mulher. Minha. Sua Mulher.
Namorada, Amante, Esposa. Cria, Neta, Enteada, Sobrinha. Fêmea Sacra
Sim Senhor. Vênus Mamilo de Milo Potengi. Sacra Matri, Mama Mia. Sacra
é a Mãe! Minha. Sacre Coeur Vulvae Mon’Amour. Sacra Vulva Sim.
M’amor! Sacra Vulva Nêga, Bia, Bianca. Mana, Mãinha. Liberta, Sacra
Deva. Dinvindade. Divina Diva. Sacra em Culto. Sacra Ísis. Maria, Lilith
Baubô. Tonatian, Ruth, Adonia. Ci, Diana, Rea. Kundalini, Suna, Athena.
Iara, Demeter, Mistérios de Ci. Oxum e a Árvore da Vida. Viva Vulva /
Vulva Viva. Nanã, Nefertiti, Phoenix. Femina Ave, Mãe Terra. Amaterasu,
Madonas Neras. Flôr de Lótus e Mãe do Céu. Sacra Sangra Sangue Azul.
Sacra Poiésis, Cuore Hard – Suave. Sangue de Vulva tem Poder. Hosansa!
Oh, Anas. Sacra Origem do Mundo. Sacras Deusas Vulvares. Sacra Brigid,
Kali, Ixtel, Durga. Sacra Maeve, Pele, Sekmet. Shakti, Tara, Yemanjá. Sacra
Vulvae. Rama Raiz. Nu Kua. Afrodite, Rhianon, Nut, Gyhldeptis. Sacra
Freya, Hekate, Maya. Sacra Haltor, Sedna, Coatlicue, Pachamama
Mãezinha. Sacra Vulva Arte Arde. Aleluia Oxalá Mulher. Mujer, Frau,
Woman, Donna. Sacra Civ Atlan One. Tulipa Vulva Negra Pérola. Lírio,
Lábia Sacra. Vulva, Sacred Woman. Heilige Frau Vulva.
Mamiferantropofágica Eu-Mãe. Gema d’Ovo Sacra Deusa Criação. Sacra
Eva, Vulva Veia. Sacra Pura Inspiração. Artéria, Artemis, Cibele, Sereia.
Sacr’Amor Mundi, Around The World. Sacra Ômega Alfa Vulva. Amem.
Amem. Eis a Mulher: Ecce Femme. Sacra Vulva: Amém. Amem. Amém.
Vulv’ars poética.
>>> Febril/Cantos Undécimos <<<
I. Virtus / É a lembrança potencial que arde como imagem / Prolongamentos à
beira dos olhos da praia - perfeito pretérito - à qual me espreitei por tantos
dias:
II. E Rita, dos possíveis <...> raios reflectos / Tem nome a praia, de Santa:
III. À vera é bela esta imagem / No plural é apropriado prostrar - - - / Lançar
por mares e terras / Lembrar. Trilhas. Esta e aquela. Redes. Redinhas.
Movediças dunas. Inundam vistas. Sem queda... O trem carrilha:
IV. Cartilha / Sigo tão só... / Abandonei-a na oitava sinfonia=série. / Alfa -
ßeta não batizada / Sigo tão só<...>mente meu bissexto sentido / Que me
releguem à escanteio ou reserva / Ou vinagre ou Minerva:
V. Arco / Aponto e no cuore acerto / O próprio dardo do infarto / Afiado
no/do meu cardio / Hardcuore / Isto é tudo Kunst & Wahn / Isto é tudo ou
grande parte / Do que ateia arte / Q u a l q u e r a r... / Ah! Artaud sabe:
VI. Max / Imã / Arriba / Sã / In / Sana / Manu - Scriptus quaisquer / Diwam
der Welt / Um título é rótulo / É prato e fratura / Im posta ex postora / Minha
poética à mesa [su]posta / E Leila Míccolis diz: "poeta! porque poetisa todo
mundo pisa" / Eu com corda e com ela:
VII. Vira / Lata - Vira Mesa - Vira Copo / Vira Loba - Vira Vírus - Vira Olhos
/ Vira Vidro - Vira Mexe / Vira Feto - Vira Lama - Vira Canto / Vira Benção -
Vira Cobre / Vira Trema - Vira Chama / Vira Ósculo - Vira Sobe / Vira -
Víbora:
VIII. Sobre / O fogo / Meu reflexo de Luz del Fuego / Sobre-fogo, panelas de
inox / Oxidável a cebola, a maçã e meus olhos / Lacrima tempo inteiro /
espaçoesfacelado /Unhas prateadas d’artifícios / Olho é porta d'alma - alguém
já disse / Alma é imortal e reencarnatória - alguém também já o disse / Como
ave migratória... / Creio nestes ditos... / Profundamente:
IX. Navego / Balançando de um lado para o outro... / Navegos de Zila / N\o
Forte ou n\a barra / A saudade seria do mar? / Onde [não] permaneço /
Passo/s:
X. [algo - criptográficos¿] ?daria poema que inversa ordem na escrever que
tivéssemos se:
XI. Em febre sou / Ich Bin da, e daí?! / E mãos suam / Dedos, calos, canetas,
dígitos / Era isso que'u queria / Frio ardente. Frescor abafado. Latejantes
olhos. / Tremor de veias - nervos. Até a vulva. / Suor fadado. Calmaria
inquieta. / É como orgasmo / É bem isso que preciso / É febre no templo / É
febre de tempo / Em tempos. Febrespaço. / Febre de dente / E ranger de
entes / De grandes lábios e línguas fluentes / É febre, é febre / É preciso ser –
não carece estar! / "é preciso ser absolutamente..." febril / Rimbaud é preciso mais
amar. / Febre, que me impele / E precipita / Sem jamais ser concisa / Prolixo
– cantus pro lixo (!?!) / Neste longo canto / Cadente como um martelo a
malhar / Por onde apronto, passeio, leio, liquido, reluzo, passo – sem mais
passos, braso, cinjo, grunho e rascunho fragmentos tantos, sem encantos /
Imagens dizíveis & in<...> / D'um único canto / Que intento e danço / Feito
onda ao léu do véu vento / [quanto] Uma vida em canto / Poético? / Nem um
tanto - nenhum tanto! / Era isso e é isso / Essa febre. Os dês delírios, os
escritos. Um só canto:
Enfant terrible
Ela não é
Enfant gaté
Ela não é
Enfant prodige

Ela é terrible
Ela é enfant

Ela é Civone

E pronto!
“BONUS TRACK” »
« 9 Fragmentos do Livro de Theta
Fragmento do Livro de Theta #1
AL MARE!

Parto-Porto... De Trieste triste e carbonada rumo à Igoumenitsa, quente e


luminar...

Adriático mar-tapete
Calmo em tarde
Que o sol se cinza
Sob úmidas nuvens

Tantas
Fragmento do Livro de Theta #2
ANDARILHA

A Grécia às minhas costas


e eu nas dela.

Nada de mitos
nem Filosofia
nem História.

Apenas o mar
e meus olhos d'água.
Fragmento do Livro de Theta #3
PARADOXO

Foi-se da antiga Grécia o encanto do mito


e de tudo que foi [-se]
fica o paradoxo
do domínio ortodoxo
na cultura local
Amém!
Fragmento do Livro de Theta #4
...ESCRITOS PÉTREOS...

Praia de pedra, Finikounda...


Pedras das Margens
Dos Rios e Mares
Pedregulhos
Dos Caminhos & Mergulhos

...Cato Pedras
Como quem enlaça olhares.
Como quem coleciona farpas.
Como quem guarda áses.
Como quem lambe orvalhos.
Como quem rega lágrimas.
Como quem colhe abraços.
Como quem livra laços.
Como quem abisma além penhascos.
Como quem pega nuvens.
Como quem toca estrelas.
Como quem conta pérolas.
Como quem se assemelha ao chão.
Como quem rola em pedaços.
Como quem é só...
É só...
Bruto, Roto, Tosco, Frouxo, Fosco,
Lusco, Fusco, Brusco, Árido, Cinza,
Cálido, Alvo, Doce, Nero, Ocre, Azedo,
Amaro Coração.

Salgado.
Fragmento do Livro de Theta #5
FIXAÇÃO

A retina retilínea
Entorta ventos
E
Brados marítimos
Cruza
Terras, ilhas, do Mediterrâneo ao Atlântico
E
Te enxerga
Meu ninho

Natal
Fragmento do Livro de Theta #6
A CALHAR
Sementes de nada não vingam. Muitas no munturo a germinar. Conchas
finas não suportam atritos; as espessas suportam até contínuos... Colchas
mal costuradas rasgam-se em detalhes. Alheios retalhos de vivências
formam personas. Gravetos postos ao mar sempre tornam à beira da
praia. Navios também encalham nos olhos. Estar a haver nas vias mais
vida... Quando o caos parece estático está apenas silente. Desolado,
oxidado, incendiado no paradoxo de estar sobre águas; no não meu mar.
Eu que não possuo nenhum... Nem nada. Bela caótica visão que quase
nada. Que nem balança com as ondas do mar/rítmo grego. Que faz do
arrecife submerso sua cama e da praia sua morada. Eu à toa espreito na
areia cálida o navio Dimitrio a me dar um poema de sua imagem... A
CALHAR!
Fragmento do Livro de Theta #7
TENTÁCULOS

outrosportos
outrosolhos
outrospolvos
outrospovos
Fragmento do Livro de Theta #8
TORNA-VIAGEM

[Lembrando que esta palavra - entre tant’outras e termos,


aprendi com Haroldo Sopa d'Osso...]
E
Adiante
A melodia célere
Do pulsar
E do vento
Sobre minha’lma de maresia
E passado vário
Fragmento do Livro de Theta #9
IDA

Nas paragens. De passagem. Passar ela e aquela. Vista. Vida. Galeria.


Ruela. Viaduto. Via vulto. Beco. Arco. A poesia [nada] fácil de palavras
que dizem nada. E a rima que acomete o descompasso do que degluto. É
meu arrítmo... Mecânica de combustão. E jogada e partida e inversão.
Invenção vazia. Passar aquela e ela. V i v i d a.

Imersão de sândalo, estramônio, ópio, canabis, papoula, peiote... Gralha a


gaia e grea. Grau de águia. Mais além vê ela. Mentar flâmulas. É a chama
que vela. Um'eu flâneur. Vem sem ter linguagem que transmitir. Ser e ter
que ser criptografado até o sentir. Ida. É de amor à sabedoria. Escrevinho
minhas trilhas. Nos escaninhos dessa sina. É de sabedoria. A que nem
tenho inda. É que estou na ida. É que sou uma ilha. É que sou dela uma
ínfima linha.

E nessa costura toda sou um ponto apenas. E falar mais claro não me é
possível. Não está ao m'eu alcance. Os semelhantes me confundem.
Confundem-se comigo os semelhantes. Se fundem. Não devo utilizar do
código-chave. Não é agora o tempo do tempo. Ele que não existe. Esse
compasso-artifício. Que dilata a vida. Que a vida delata. Arbítrio.
Esse-sempre-contínuo-mutante-oruboros-iniciado-infindo. ...Seguindo. É
que estou na Ida. De passagem. Instantâneas paragens. É que sou morte-
vida. Movediça. Volátil. É que sou bruta inda. E essa alm'aqui deve ser
polida.
Epílogo »

Escrituras Sangradas... Livro I e II

A obra de Civone Medeiros inquieta por se lê numa livre desordem e


rizomática transgressão. Pois, há um único mandamento das Escrituras
Sangradas: todas as formas de leituras possíveis. A fluidez de seu
itinerário poético - sem o engessamento de sumários, com começo e fim -
permite uma viagem singular de cada ser único. De súbito, o leitor vê-se
um camaleão, criador de suas próprias zonas de intimidade e de desejo.
Navegar “entre a poesia” de Civone provoca uma espécie de
experimentação estética de êxtase e redenção, designações peculiares ao
novo e antigo testamento. A Sangria dos versos é um fluxo, um orgasmo,
um grito, um rapto, um espasmo do seu “devir mulher”, sempre no
movimento da contra-corrente, do contra-sentido, e da contra-cultura
maçante e massificadora. Libertina ou libertária? Con-sagrada ou
profana? Tanto faz... Civone liberta para o acesso à subjetividade e à
transcendência de uma poética de embriaguez e lucidez. E assim faz-se o
belo e a dimensão artística da vida, conforme os dizeres nietzscheanos:
“os contrastes mais perfeitos produzem uma existência mais fecunda”.

Da amiga, Camila Loureiro Marinho Barbosa.


Agradeço à...
Minha Mãe – Maria Ivone de Medeiros, Porfíria Aureliana do Nascimento (Vovó), Tia
Maria, Tio Luiz... Laércio Bezerra de Melo, João Batista de Morais Neto, Simona Talma, Jota
Mombaça, Wescley Cunha, Janaina Spineli, Helder Gomes, Zé Dias, Marcelo Bolshaw,
Rodrigo Bico, Ilton Fonseca, Khrystal, Sidney Cavalcanti, Luiz Peres, Fábio Henrique Lima,
Ivan Júnior, Fátima Bezerra, Fernando Mineiro, Flávio Rezende, Rubens Lemos, Jeferson
Martins, Bárbara Nunes, J. Pinheiro, Ana Tinoco, Sandro Fortunato, João Alexandre, Taly
Essi, George Câmara, Silvia Yared, Ramon Leite, Allyne Macedo, Dani Maria, Civonaldo
Medeiros e Daniela Santos, Juliana Alves, Josean Rodrigues, Maryse Jagot et Famille,
Leonardo Sodré, Alex Gurgel, Thayná Almeida, Vitória, Leandro Garcia, Cláudia
Maldonado, Helena Nakamura, Cecília Oliveira, Gleydson Almeida, Jorge Negão, Manoel
de Barros, Walt Wittman, Artur Bispo do Rosário, Cátia Canton, Nise da Silveira, Cícero
Cunha, Ayres Marques, André Trindade, Sayonara Pinheiro, Jorge Fernandes, Beth
Venturini, Fabão, Nestor Mádenes, Nivaldete Ferreira, Úrsula Damásio, Adriana Sena,
Marcelo Fernandes, Ronne Grey, Carlão de Souza, Leão Som, Márcia Pinheiro, Efigênia
Oliveira, Alex de Souza, Renata Marques, João Gualberto, Moacy Cirne, Rita Machado,
Diego Andrade, Hilca Honorato, Jeovania P., Antonius Manso, Aina Guimarães, Lula
Belmont, Madê Weiner, Bianor Paulino, Jailton Torres, Bruno Monteiro, Synara Klyni, Mieli
Titan, Sônia Godeiro, Bosco Lopes, Ricardo Nelson, Juruna, Gabriel Dusolto, Juca Santos,
EIA, Pachamama Junqueira, Ricardo Cerqueira, Patrícia Reis, Hermano Viana, Bardallos,
Adriana Amorim, Horácio, L. Wittgenstein, Goethe, Vlamir Cruz, Paulo César Peréio, Tácito
Costa, Renata Silveira, Jeferson Miranda, Bruno Alexandre, Bar Clube, Antoniel Campos,
Fran Trindade, Juju Dourado, Sylvia Galvão, Sandra Shirley, Concita Alves, Tiquinha
Rodrigues, Angela Castro, Daguia Dantas, Titina Medeiros, Mara Duarte Maia, Gianni
Allan, Ricardo Veriano, Roberto Medeiros, Vicente Vitoriano, Rosa Maciel, Ked Mendes,
Grace Kelly, Patrícia Jaya, Lorinha, Paulo Ricardo, Maria di Lia, Bule Café Atelier, Flávio
Aquino, Rodrigo Silbat, Tropa Trupe, O TROCO pela PAZ, Crew Tattoo, Bruno Lira, Sebo
Lisboa, Hunter S. Thompson, Guimarães Rosa, Mirabô, Gilvan Fernandes, Cristina Oliveira,
Tertuliano Aires, Ana Potiguar, Graciliano Ramos, Assis Marinho, Allen Ginsberg, Renato
de Melo Medeiros, Milan Kundera, Revista Catorze, Lena, Sopa d'Osso, Vital, Carlos
Tourinho, Pedro Almodovar, Andy Wahrol, Sandra Vila e Serrão, Leninha Bezerra, Charles
Bukowski, Valéria Torrezani, Valderedo, Gilson Nascimento, Hélio Oiticica, Nôra Aires,
Diniz Grilo, Aslan Cabral, Lourival Kukinha, Manu Albuquerque, Woody Allen, Bosco
Lopes, Manoel Bomfim, Clenor Jr, Blecaute Borges, Iracema Macedo, NeguEdmundo,
Madalena (Pousada Cabo Verde/Pipa), João Antônio, Geraldo Cavalvanti, Betel Figueiroa,
Antonio Ronaldo, Octavio Paz, Silvana Sitonio, Tiago Vicente, Eliade Pimentel, Jack
d’Emília, Selma Bezerra, Moema Ungarelli, Roland Bartes, M. Focault, Glauber Rocha,
Costinha Júnior, Michele Régis, Franklin Jorge, Rodrigo de Sousa Leão, Raquel Sales, Caio
Fernando Abreu, Plínio Sanderson, Nikos Kazantsakis, Nietzsche, Martin Molinaro, Wilson
Torres Nanini, Henry D. Thoreau, Conceição Almeida, Ali Jantsh, Dani Jantsh, Allan El Din,
David Müller-Abt, Denise Narick, Eric Friedman, Gustav Klimt, Egon Schiller, Kokoschka,
Verena Idl, Lydia e Claudia Tönig, Alex Tönig, Irene Strobl, Cecília Meireles, Clarice
Lispector, Janis Joplin, Helena Kolody, Edith Piaf, Palmira Wanderley, Zila Mamede, Elisa
Lucinda, Nice Fernandes, Clara Camarão, Marcélia Cartaxo, Frida Khalo, Patrícia Galvão -
Pagú, Luz Del Fuego, Dercy Gonçalves, Leila Diniz, Maria do Santíssimo, Ademilde
Fonseca, Cida Lobo, Elis Regina, Flávia Vivácqua, Maysa Matarazzo, Pina Bausch, Núbia
Lafayete, Nina Simone, Odaíres, Ana Floriano, Militana do Nascimento, Cássia Eller, Nina
Raggen, Sylvia Plath, Yoko Ono, Lucy Garcia, Terezinha de Jesus, Valie Export, Benazir,
Tarsila do Amaral, Louise Bourgoise, Rê Bordosa, Jenny Holzer, Peggy Guggenheim, Hilda
Hilst, Marina Abramovic, Glorinha Oliveira, Anais Nïn, Rosangela Rennó, Violeta Parra,
May East, Daniela Thomas, Lauren Anderson, Madonna, Violeta Porra, Nan Goldin, Patti
Smith, Adriana Varejão, Adélia Prado, Auta de Souza, Regina Silveira, Gabriela Leite, Maria
Boa, Líria Porto, Joan Baez, Myriam Coeli, Giullieta Masini, Radical Chic, Ana Mendieta,
Merce Cunningham, Preta Gil, Orlan, Nico, Florbela Espanca, Lou Salomé, Carolee
Schneeman, Celina Guimarães, Coco Chanel, Nara Leão, Niki de Saint Phalles, Lygia Clark,
Bessie Smith, Vandana Shiva, Márcia X, RosLee Goldberg, Mata Hari, Regina Casé, Angela
Davis, Hannah Arendt, Simone de Beauvoir, Clara Averbuck: "Não cabe mais ninguém aqui,
mas vocês sabem quem são."

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