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Escrituras Sangradas - Livro #2 Ave de Arribação Ou A Propósito de Viena e Outros Ondes...
Escrituras Sangradas - Livro #2 Ave de Arribação Ou A Propósito de Viena e Outros Ondes...
SANGRADAS
Livro #2
Ave de Arribaçã ou a propósito
de Viena e outros Ondes
Civone Medeiros
Civone Medeiros [c.m] 2009
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Allan Talma
Capa
Goulven Jagot
Ilustração
Camila Loureiro
Revisão
Realização Colaborativa
Instituto Cultural e
Audiovisual Potiguar
FICHA CATALOGRÁFICA
www.naredecomcivone.blogspot.com
Dedico...
À meu Pai, por sê-lo!
À Nalva Melo, Ceiça Lima, Ana Guimarães, Goulven Jagot, Allan Talma,
Ana Lúcia Fernandes, Edilson Pessoa, Camila Loureiro, Eduardo
Alexandre, Rosane Félix, Lenilton Lima, Glória Góis, Paulo Lima, Sânzia
Pinheiro, Marcelo Veni, Lola Raves, Paulo Augusto, Michele Ferret, Luiz
Gadelha e Múcia Teixeira pela crença, apoio e amor incondicional a mim; a
recíproca é macro-verdadeira – lembrando que a amizade é o amor que
nunca morre.
"Tecer com as veias", eis o lema da escritura que não é canônica, que não se
pretende sagrada, uma vez que está misturada a todas as potencialidade
que a linguagem pode oferecer. O texto escrito, sangrado na página,
dialoga com a performance, com o corpo solto no texto das ruas, do
cotidiano, do beco, do mundo.
Dedico... > Homenagem à... > Intróito > Proêmio > INTRO »
ARBÍTRIO > PEARL > A D E N T R O > Destino içou velas > Ofertório >
Zugvogel oder Apropos... > Ave de Arribaçã ou a Propósito... >
ad.vertência: > Tão à Toa > ESPREITA > Remoto controle remoto >
Geração Dinamite > Carta à minha Amada > DE VIDA > Canto > Caliente
> InfoMAR > Para tanto... Para > Mix > Cantilena ao Sereno > alívio: >
17.01.2002 (LUTO) > Ave! > Construção (des-troços) > CONFISSÃO >
A’VENTURA > Cantiga Breviária > Carta ao amado > Arte da Esquina do
Brasil > UMA’EU > extrogênia > que Mera > Volatile > Arremedo de
Mundo > Recomendações à posteridade > Cicuta > Extemporânea >
HUMANA AMBIÇÃO > ARREDIA > IDADE da POETA > A VIDA É
UMA FESTA > graxa > LEVEZA > SACADA SACANA... > Atiçada >
d'EU > Indecisão de Cemitério > À risca > LIQUIDEZ > Impar > BATE
BEAT BATICUM > N a t a l d ' I [n] s t a n t e > OCEANOS FLUÍDOS >
Afeita... > Quem? > s E M A N A > NASCIMENTO > Ser > Sem Saída >
DesaGostos > Veneno da Nata > Zeitgeist > Vuco-vuco > Kilogramas >
IVONE > Essa > A n ú n c i o > SI NAL > Amai-Ame-Amem >
BADALADEIRA > Mulher-Peixe > FEMINA > Ecce Femme > A Tal > E c o
s do B e c o > Bamba > Vendaval > CAÇA-PALAVRAS > ODE às
XANANAS > Ascensão pro nosso Amor > PASSADA > h a j a m a r >
Vou-me > Aquela... > É dando que se recebe... > Esboço d'um Poema ~
Ébauche d'un Poème > A felicidade não me inspira > Uma'zinha
(DeCORAÇÃOdeLATÃO) > (minha) Língua > Inferno Astral > DADO
BIOGRÁFICO > Bela Estranhêz > E–X-P-O-S-T-A > Entre-Tempo >
Aliciamento > A’Crítica > ENTERRA/da > GÊNESIS > Amo e sou amada
> Sina de Zila > Ela, a Praça D’alma > E... > O Potengi me Tange >
Vulv’Ars poética > Febril/Cantos Undécimos > Enfant Terrible > |
“BONUS TRACK” » 9 Fragmento do Livro de Theta: AL MARE! >
ANDARILHA > TENTÁCULOS > ESCRITOS PÉTREOS > PARADOXO >
FIXAÇÃO > A CALHAR > IDA > TORNA-VIAGEM. + 5 Xtras-Postais...
E QUE BUQUÊ!!!
—Laércio Bezerra de Melo,
sobre a poeta das Escrituras Sangradas.
"Eu Preciso
Destas Palavras
Escritas!"
—Artur Bispo do Rosário
>ARBÍTRIO<
Vim aqui ditar uma bíblia
Oferto
Pérolas
Aos poucos...
Epigrama #1
Adentro
Te ofereço um pouco
Trago um desejo louco
De sorver-te...
Para
Guardar.
Atente...
Esguarde
-os
Enlace
-os
No tato
Na visão
No faro
No palato
Na audição
Ou seja:
Na alma
Na mente
No coração.
"Muitas palavras que já morreram terão um
segundo nascimento, e cairão muitas das que
agora gozam das honras, se assim o quiser o
uso, em cujas mãos está o arbítrio, o direito e
a lei da fala."
— Horácio, Ars Poetica
Tão à Toa
ando tão à flor das folhas
que outonal já estou a cair dos galhos...
ando tão à toa que esvoaço-me folha
pelas ruas, links, bosques, sites, praças, atalhos...
sou a tal
fatal
Natal
Poetiguar
sou a Natal dos artistas
sou a morte do limite
da geração
sou dinamite
Carta à minha Amada
Querida,
Quanta saudade de tua luz à minha volta. Da sensação única de teu entorno, de teu
calor em minha tez e alma, tuas curvas e quinas, teus lábios multicor, teu dialeto
em meus ouvidos, teu brilho em minha retina, teu sorriso de criança, de apenas
quatro séculos, tão menina...
Ah, como amo teu amor! É uma saudade danada. Diluída em lágrimas. Ah, como
você me faz falta! Vivo mutilada sem te ter. Você dentro de mim. Eu dentro de
você.
Sabe? Sinto teu olor em minhas narinas, a tua brisa. Sonho com você a cada noite-
dia...
de Ser...
Demasiada
Humana...
Mundanazinha
e de ser uma...
Extasiada
Onda...
entre tantas...
Pedras!
Canto
Viscerais Entranhas
De mente e coração
Sem canto neste mundo
Me canto imunda
Sideral
Pólibo sem rumo
Pensante nessa terra
Mal-passada
Revelo-me
Desencanto
Desenovelo-me
Por pântanos e Edens
E raro me encontro
II
Ao sol o que é nós
À étnica o que é ético
À poética o que é lépido e trépido
E, à vida meu riso cálido...
III
Aos nós o que foi só
Ao amor o que é ardor
À poética o que é etílico e lépido
E, às noites meus beijos ávidos e cálidos
InfoMAR
Ah, Professor Bolshaw!
e n t r [ans] e o c e a n o s
que nos separam
és um infoMar
[& Céus]
eu, um peixinho
saltitante - navegante
entre co rr e ntes
&
cabosóticos
por teu Mar
a me esbaldar...
Essa.
A noite. Uma mulher. É uma mulher. Essa. Que deixa d'outro lado o
dia'mante dormente a'cor'dado na cama menino. Tão lindo. E sai por aí. E
cai em si. A noite. Sai pelos bailes, botecos, galerias, bares. Faz alardes.
Sedenta se embriaga de olhares. De olhares e focos disformes. E copos
tragados como corpos. Beija os amigos na boca. A noite. Essa louca. Abraça
como quem parte. Como quem morre. Morde a rosa e o nome das horas.
Presenteadas. Deixa as bagas, as taças rasas, os pratos mornos, os risos
fátuos para a madrugada irmã. Essa. Qual Piaf. Cadela em cio latente. A
pele frisante e os passos rotos em zigue-zague. É a festa. Ou tempestade.
Gozo. Ou lamúria. A noite é ela. Fêmea andrógina. De pêlos nas axilas e
salto encarnado alto. Como não lembrar da Ribeira à beira dessa noite
tanta... Essa que sonha estar nela. E é no remoto aqui que está. Tão longe do
mar. Oceano potiguar. Chuvosa em lépido lamento azul marinho essa noite
hoje chora. Ora ora. Mais que nove horas. Mulher chorosa. Que este choro
tal qual o de Alice se arvore em mar e a trague de volta às margens de casa,
bem na beira. A qual nem disse quando vai tornar. Outra noite será. Mais
alegre, assim contente... E sempre outra é. É uma mulher. Noite qualquer.
Essa.
Indecisão de Cemitério
Não sei se por fim
Vou ao Bom Pastor
Ou à tal Morada da Paz
Ou fico aos pés do Tirol
Ou se vou pro da Saudade
...Enquanto vida:
Mistério.
Epigrama #8
LIQUIDEZ
Quem se importa
é quem entorta
Para tanto... Para...
Para olheiras:
Brilho.
Para olhos secos:
Lágrimas.
Para alegria:
Sorriso.
Para o frio:
Agasalhos.
Para dor ou euforia:
Grito.
Para distâncias:
Notícias.
Para desejos:
Encontros.
Para saudade:
Abraços.
Para boca sedenta:
Saliva.
Para seres soltos:
Laços.
Epigrama #10
HUMANA AMBIÇÃO
A rede
Arredia
Que arremedo
Me arrima
À riba!
Remoto controle remoto
Morangos mofados.
Na corzinha da cozinha.
Cinza inverno jan'ela.
Inventos.
Palavras-frases na mente.
Sementes.
Gotas serenas.
Matar a sede com lágrimas.
Tomar o pulso.
Engolir sal.
Subir pressão.
Escrever por impulso.
À dista o lusco-fusco.
O que não tem luz também ofusca.
À dista o quintal.
O galo.
O povoado.
O mar à vista.
Não-vista.
Maremoto.
Remoto controle remoto.
"Os limites da minha linguagem
denotam os limites do meu mundo"
— Ludwig Wittgenstein
Mix
SAUDA DÁDIVA DOCH DOR DISTANZ
ESPELHO SPIEGEL OUTRO
ANGST ASTUTA ANGÚSTIA
TREMOR DE TEZ, ERSATZ
GUTE GOTA SERENA
ACALENTA LUST
MEU PRANTO BLUT
& ESTA MISCHUNG DE LÍNGUAS
NADA APACENTA NICHTS.
Cantilena ao Sereno
Sereno me acalenta
apascenta o meu pranto
nesta cantilena
serena a saudade do meu canto
Sereno me serena
seiva meu amor
e com teu sumo
me apascenta
Sereno em cantilena
como à flor me acalenta
mesmo ardente de amor
me faz serena...
alívio:
pro
funda
tris
\ teza
Tesa / impotência humana
à tona
in-
feliz de ser /tão
sub e urbana / tão subterrânea
entre
excepcional /medíocre
banal
...estou abaixo /destes
muros
nem meio / nem mensagem
nem eco / nem trunfo / nem nada
página /em branco
câmera /sem filme
pincel /sem tinta
pedra /sem mãos
música / sem acordes / sem som
escrito sem título
crônica sem estória
e-mail sem texto
ensaio sem tesão
prosa sem conversa
história sem função
pessoa sem visão
nem tato / nem faro
sem fato / sem tratos
sem margens / nem imagens
sem sangue / sem transfusão
coração sem convulsão
sem brios / nem ebriedade
sem coro / sem conclusão
demasiada mundana / vadia/ vazia
sem traços / nem passos / nem expansão.
<Ufa! Ah!! Que alívio poder escrever isso!!!>
“Não sabe ninguém
que rio, que rio
de luto circunda
a terra profunda
que piso e que sou"
— Cecília Meireles, Viagem
17.01.2002 (LUTO)
Ao telefone, minha mãe me chama de casa no longe e, ofegante e
espaçada fala:
- E-u--p-r-e-c-i-s-o--d-i-z-e-r--a-l-g-u-m-a--c-o-i-s-a-?
Atônita e só, sem chão nem pai nem mãe, respondo em pranto e horror e
grito:
- N-Ã-O-!
Quebro na parede o telefone, a ligação. Reluto! Luto enérgica contra a voz
que ecoa sem cessação.
As paredes e elos da casa inteira comprimem-me, me desterram, moem-
me como rolo-compressor e eu asfalto sem vão... Luto e reluto contra a
constatação inexata da má comunicação.
A destempo. Desterrada. Estilhaça em mim metade de minha imagem e
semelhança...
Oh! Patri-amado!
"Devo-te o modelo justo:
sonho, dor, vitória e graça."
Passamento, Passamento... Pensamento vai e não.
Ele não sai nem em passamento do meu coração. E eu luto desterrada e
revolta luto sem findação.
De súbito e mais ávida vêm-me a filopatridomania - que fui entender no
Houaiss -, mais abrupta inda. Inicio meu retorno e revolta aos poucos ao
meu entorno Natal, meu chão. Revolta. Reluto.
"São dois rios os meus olhos”
)LUTO(
Ave!
Avia!
Havia
Arriba
Sã...
Abatida
Na bacia
Agonia
Caça insana
Predatória
Nos açudes de Açu, cercanias Seridó e alhures...
Pena nada
Depe nad a
À venda
Em cada esquina
Entre vermelho-roxo
Salgada como o mar
Como banhada em lágrimas
Cessado voar
...E, inspirada em Frida Khalo:
Construção (des-troços)
Ress_urgir
Re_lançar-se
De_senlaçar-se nó
Dançar-se tonta pronta na afronta
De_cantar-se em catarse
Jogar-se ao terreiro mundano
Se re-fazer do tombo
Re_criar-se das cinzas
Dos restos que simulei
não me pertencer/nem me ser
Adornar-me de meus sonhos e visões
Desembaçar as lentes, meus olhos e os desejos
C o n f e s s o
que
r e n a s c i!
Cantiga Breviária
I
Pétala cai
Açucena acena
Urge outono
II
Brota do cacto
Equinócio tal qual cio
Lilácea flor
III
Grão qual lágrima
O sêmem que orvalha
Aí cai êxtase
Carta ao amado
Faltam palavras / Sobram para criar. O que existe, o que há. O olhar sobre a tez.
O ocre que mancha cores. Agridoce suave abrupto sabor saliva a boca. Fel
lágrimas / Secreção vulvar. Nuvem esparsa sobre denso mar. Verde íris me faz
saudade toda. Relva orvalhada, travesseiro d'alma. Lusco-fusco o piscar do tempo
moroso avançado. O extremo espaço sideral quilométrico mundano, geográfico
gráfico que ilha terras nem tão próximas, nem tão distas tanto... Ósculos
escaldantes apimentados. Ardor em entranhas e aura. Latina crueza escaldada
romanesca. Essa minha linguagem parda. Quente verve de escavar, cavucar,
rasgar e abrir o quase sempre ou por vezes mesmo árido coração maroto, fértil,
absorto... A busca do possível impossível possível de ser perpétuo, terno e eterno
esse milenar, extemporâneo amor. Amor d'almas par? Destino esse que revolve,
espinha, envolve, afaga, ata e separa? E ata, afaga, envolve, espinha, revolve qual
esse destino? Que esse desígnio desejo destino destile em desvelo certo encontro,
cerrado, concreto, corpóreo, etéreo, emancipado, aventurado, unido, aprazível,
inteiro, luminar...
Ah! Amor, incondicional amor! Tudo conspira a favor. A barrancos e trancos não
estanco nem me estilhaço... Este destino sim, já disse a que veio... Me faz amar.
Arte da Esquina do Brasil
De quina
No Brasil
A esquina ferve
Ninho tórrido do sol
Manto noturno ao léu da brisa, ah! Mar...
O sangue dos artistas
Da esquina ardem
Os nervos dos artistas na esquina
Queimam
Os artistas explodem
Da esquina
Naturalmente
Viram luz!
Iluminam
E ampliam horizontes
Jamais serão artistas apenas
Da esquina.
Raios de farol
De alcance longo
Terras tantas
Vastos palcos
Galerias dos humanos
O destino
É
O mundo!
“como pode re i dize r s enão timidam ente as sim:
a vida se me é . A vida s e me é , e eu não entendo
o que digo. E então adoro. - - - - - - -“
—Clarice Lispector
<ESPREITA>
poética a gosto se arrasta embora
embora
o verão que já ensaia o adeus
o até nem tão logo
meses a fio / cio da terra / ciclos a fio
setembrios
inda é encanto
outubroutono
frutos colho
invernal
hiberno ao frio
espreito mesmo é a bela e lépida primavera
floresço
…Toutes les Femmes, c'est moi!
FEMINA
Fé menina
Menina fel
Céu menina
Menina véu
Menina mama
Mina menina
Menina sol
Sal menina
Mar menina
Menina amor
Lida menina
Menina sina
Menina dádiva
Dor menina
Menina cálida
Lépida menina
Ecce Femme
Tecer com as veias
Pintar com sangue e saliva
Lavar com lágrimas e seivas orgásmicas
Traçar as trilhas com olhos e língua
Volver as vísceras artísticas
E ser-me outra a cada dia
Fragmentária
Contínua
¿ Pronta jamais
¿ Satisfeita nunca
¿ Realizada jamais
¿ Terminada nunca
Incontida poesia
Pronta quem ¿
Satisfeita quando ¿
Realizada onde ¿
Terminada porquê ¿
Poesia incontida
Kilogramas
Sento com meu caderno de poemas
nas ruas, nas praças, nas gramas...
E
Umedece a Sede
Sátiras
Bóreas
Trama Cetim
Seda Tez
Drama Carmim
Cedo o Vôo
Tarde o Fim
Epigrama #13
UMA’EU
Ilimitada de gêneros
Temos muitos hormônios
Estou grávida.
VENDAVAL
Não tenho palavras
Apenas para dizer
Que não
as tenho
E
quem as tem?
Palavras encharcadas
Levas de lavas
Me escapam
Tenho palavras
para dizer
não
tenho
E
quem?
Hipocampo avança
Atiça a teia e tece
Palavravulsa veia a veia
Amor qual vendaval
Meu amor Vênus, Natal
Amor, me aquece!
“Eu sei dizer sem pudor que o escuro me ilumina.
É um paradoxo que ajuda a poesia e que eu falo sem pudor."
—Manoel de Barros
Volatile <Ser/Estar>
Pouso
No casulo
No ninho
De meu eu mais claro'bscuro
Tendo pensamentos por muros
} Obscuridade > Potencializa < Luz {
E sensações de futuro - espelho
Meus olhos nos olhos a luz
Esmerilhando-me
Depenando-me
Desmembrando-me
Descabelando-me
Desmanchando-me
Inteira
E renova
Pronta para {+} um emergir {+1}
Evoé Voar
Resguardada {&}
Recreada
Forças
Para o suporte
Quando
Novamente estiver
{Quando}
Fora de mim
Mundana como {1} qualquer uma
E tão frágil
E tão volátil
E tão arisca
E tão alheia
E tão Phoenix
Neste mundo sem fronteiras
De dentro {&}
De fora
De mim
Fiat Lux!
Vuco-Vuco
...Luiz tinha uma banca no Vuco-Vuco. Vendia de um tudo e simpatia era
de graça.
Eu tinha quatorze anos; estudava lá perto e o visitava toda tarde em mil
novecentos e oitenta e seis no Grande Ponto. A praça Gentil, a Ferreira era
um labirinto estimulante no Alecrim. Um grande bazar de tudo-tudo sem
fim.
– A diversidade diverte –
– O movimento é fraco!
Oh, café frio que embebo, com sua "ína" que me atina a sair...
Em carreira, a ser beijada pela chuva choro celeste que escorre do
despenhadeiro saudade
De Tu... Do que passa...
Sozinha
Cozinha
Placentas
Sopa de Veias e Vísceras
Baleia / Gréia
Arraia / Cerra / Enguia
Atum / Tubarão
Guelras
Antenas
Mulher peixe de Atlan
Atenta
Por oceanos
Rios
Contracorrente
Mediterrâneos
Opostos pólos
Oriente e tal
Glacial
Equador
Eco d'amor
Dessa mulher peixe
Salmão e avoador
A Tal
ÉS Q U I N A T AL
Que me fascina
És a tal!
Natal
Cidade menina.
SI NAL.
Amar Elo.
Amare lo d’Es pera.
A mar e lo Lou ro. Louc o.
Amar elo Am bar. Pês sego.
Amarel o So l.
Am ar elo Gir as so l.
Ama re l o d’Ate n ç ão.
A ma relo d’Ou ro.
A m are l o Gem a. Ma nga. Caj ú. Ca já.
A mar el o Out ro. Ou so.
A m ar e lo Lin guaj ar.
Ama r elo Sol uçã o.
A marel o Lar anjal. Citro n al.
Amare lo Ser tã o. So lid ão.
Am arel o Saud ade. A sina la. Car t ã o
A mar elo Nó/s. A nel o/s.
Amar e l o Só/s. Elo Ama relo.
Am ar el o So rris o.
A m a r e l o Pis ca. SIN AL.
Amai-Ame-Amem
Amemo-nos
Umas aos Outros
Outros aos Outros
Umas as Umas
Outros as Umas
Umas às Outras
Amemo-nos
Uns às Outras
Outras as Outras
Uns aos Uns
Outras aos Uns
Uns aos Outros
Amem!
<cicuta>
Minha saliva
É minha cicuta...
Minha língua
Meus gens
Meu veneno
...Não mata
A mim
Mesma
EXTEMPORÂNEA
Não tenho compromisso com o tempo
Nem suas marcações
Principalmente religiosas e artísticas
Futuro-Presente-Passado
Epigrama #14
IDADE da POETA
—Djavan
E APÔIS?
SER DOIS É DOM!
Rios afluentes em
Veias fluentes de
Mares influentes
Fruições...
Afeita...
Tenho
Afeição
Pela
Beleza
da
Imperfeição
Quem?
Quando estava germinando
Saí do chão
E fui-me
Me replantei em terra alheia
E tão distante do solo
Potiguar
Estou brotando...
Segunda de Graças
Terça de Carnaval
Quarta-Feira de Cinzas
Quinta-Feira de Fênix
Vendaval da carne
Carnação com aval
Amém
Arre!
SER
Não sou uma artista especialista
Sou uma mulher par
Não sou uma artista impar
Quer saber?
O azedo
A doce
Picada
O soro
O amargo
A cura
Poros envenenados
contém a cura também
Se já não és puro
- Que tal inalar meus poros?
É da nata
É picante
É salgado
P-A-S-S-A-D-A!
"Por onde anda? No abismo. Dada ao vento..."
—Cecília Meireles, Viagem
hajamar
Dentro de mim a terra acaba
E o mar me começa sem fim
Em mim o mar deságua
Arde dentro de mim o fogo das torrentes
Maré cheia, cheia lua
Mulher cheia de ondas, marolas, água-com-areia...
Praia passeia
Mulher praieira, os meus amores...
Encandeia o farol do de-dentro de mim, a fora, à forra
O mar começa em mim e me descerra
E o que te peço é que não me meça
Vê se não tropeça
mar-a-mar
Eu não tenho fim
M'entreteço em teus veios
Me começa mares sem-fins
Mar-de-dentro
Ondulações, sacramentos, alusões
mar-em-moto-contínuo
mente-corpo-coração
Mulher forjada nas espumas
d'águas do mar e areias salgadas
O mar me arrebenta
Benze-me mar
Alma sagrada
Em sacrofício de pertencer a seres marinhos
Mergulhos, nadadas...
Mulher-peixe-sereia-golfinho
Vou-me
V ou me desf a zer de mim
A o s p e d a ço s
P r a r e cr i a r - m e i n t e i r a
A os laç os
V ou me despe dir d e m im
A o s p e r ca l ç o s
P r a r e e n co nt r a r - m e i n t e i r a
A os p as sos
E s p e l h o
C o m p a s s o
V ou me desl umbra r de mi m
Eu vou
Eu p as so
] t e m p o [ e s p a ço
E u v o u m e d e s l u m b ra r
Eu busc o
Eu ac h o
E s p a ç o ] te m p o [
A d e u s à m i m
A b r a ç o s
V ou me desprov i de mim
A o s e s t i l h a ço s
Pr a esb ar r ar - me in t eir a
A o s t ra ço s
P r a r e f a z e r -m e i n te i ra
A o s p e d a ço s
Aquela...
A qu e gos ta
D e b e b i d a s F o r t e s E x ta s i a n te s
D e em oç ões
A r re b a t a d a s E n t r e g u e s E n c a n ta d a s
D e ca fé a m a r g o
M e m ó r i a q u e é A cr e e d o c e E t e n ra
D e pens a me nt os
E x t á t i c o s Co m p l e x o s E n l e v a d o s
D o d evi r
E x t ra o r d i n á ri o I n e s p e r a v e l m e n t e A p r a z í v e l
D e des ej a da
Ten t aç ão O u o v ic e- ver sa
D a p o e si a
V i v i d a A r d e n te C o m e n ca n to s
D e vívida
P r á x i s M a r a v i l h a d a De s l u m b ra n te
D os s ent i m ent os
M a i s f o r t e s E né rg i co s T o r p e s
D e ca l o r
A p t o a i nt e n s a r I n t e nt o s t a n t o s A m o r o s o s
P o is é
S o u Ci v o n e E d e s d e s e r A q u e l a .. .
S o u e st a
Ê x t a s e I n t e ns a E x tr a
E u s o u só
V e e m e nt e M e n t e O rd i ná r i a
Só, só
E x t ra , e x t ra !
E m b e v e ci d a
E u s ó . ..
S o u a q u e la .
É dando que se recebe...
eu dou
sub sídio
p r a voc ê
sa ber
de mi m
eu dou
pista
p r a voc ê
c o r re r
pra mim
eu dou
b a nd e i r a
p r a voc ê
f l a na r
por mim
eu dou
as a
p r a voc ê
v o ar
pra mim
eu dou
lin h a
p r a voc ê
v o l t ar
pra mim
"Eu te esperei todos os séculos, sem desespêro e sem desgôsto,
e morri de infinitas mortes guardando sempre o mesmo rosto."
—Cecília Meireles, Viagem
Escrota, Inteira...
Devassa e Banguela
Bêbeda...
Passageira...
Filha do Trapo
Linguaruda
Sibila...
Estricnina
Destrato...
Non-Grata
Nitrato
Venérea...
Ácido Feérico...
Muriático
Gástrico
Orgasmal...
Cicuta
Simulacro
Ferina
Faceira
Venéfica
Filha da Juta...
Tola... Rota... Fuleira...
Fajuta...
Rêieira...
Inferno Astral
VOU PERVERTER
O INFERNO
EM PARAÍSO
VOU DESCER
AO INFERNO
E re'VOLTO
EM CHAMAS
SEM JUÍZ
NEM JUÍZO
VOU FAZER SOL
NO INVERNO
E CHOVER
NO INFERNO
VOU FAZER
DO MEU INFERNO
UM PARAÍSO!
Epigrama #17
DADO BIOGRÁFICO CONFESSO (E NÃO-CONFESSÁVEL)!
Nã
o Te
n
ho
PAC
Iên
cia
pAr
a
Nã
o Se
rE
U!
Epigrama #18
SACADA SACANA...
Não tenho um pau pra matar um gato!
Mas tenho uma buceta!
Epigrama #19
BELA ESTRANHÊZ
Vi
uma
Nuvem
...Estranha
&
Bela!
E quem disse?
Que nuvem?
É ela?
EX'POSTA
Sou esta...
mulher posta
partilha de peixe
em posta
E–X-P-O-S-T-A
Entre
Profetizar
o Presente
e Traduzir
o Passante
Nosso
Tempo
É só o agora
E não chega a vir
e nem chega a ir
Embora…
"Ser pedra é fácil, o difícil é ser vidraça."
—Provérbio chinês
Aliciamento
Sou sofrível
Qual minha escrita
E também sou
Feliciável
"Há dois modos de escrever.
Um, é escrever com a idéia de
não desagradar ou chocar
ninguém. Outro modo é dizer
desassombradamente o que
pensa, dê onde der, haja o que
houver - cadeia, forca, exílio"
— Monteiro Lobato
A’Crítica
Minha escrita é sofrível
Maliça, m’atiça
M’alicia, alicia e vicia
Lamentável, dilacerante
Meleagro e maleante
Malhada, melindrável
Manjável, maloqueira
Mancomunada, maltrapilha, mulamba
Malandra, muamba,
Malcriada, despudorada, malcozida, mal-dotada
Mambembe, malsoante, manifesta
Mamãe-e-papai, manhosa, meia-nove, mantença
Malouvida, malsinada, manda-chuva
Mamária, metamorfose
Metida, macrobiótica, metralha
Malafamada, maldosa, factóide
Daninha, chanana, chumbrega
Morfêmica, metropólita, sinonímica
Bucólica, urbanóide
Malbarata e mercável
ENTERRA/da
Esse chão está e é
enraizado em mim
Em terra...
Da minha Paixão
Eu a pertenço
Quer ela saiba, queira, deseje
ou não!
A minha arte
é minha
imagem
e semelhança
Amor-Mundi
Eu sou é de sangue
Éter e sopro vital
Sou só de coração
Alma pulsante
Meu ser é integral.
AMO E SOU AMADA
Por Tudo
Por Mim
Com Tudo
Amo e Sei Amar
Aprendo, Apreendo, Liberto
Amores Presentes, Passados, Futuros
Os Sem-Passados e os Sem-Futuros
Amo e vou Sempre Assim – Voando, à Pé, aos Nados: Amando e Sendo
Amada!
Sina de Zila
Ela é terrible
Ela é enfant
Ela é Civone
E pronto!
“BONUS TRACK” »
« 9 Fragmentos do Livro de Theta
Fragmento do Livro de Theta #1
AL MARE!
Adriático mar-tapete
Calmo em tarde
Que o sol se cinza
Sob úmidas nuvens
Tantas
Fragmento do Livro de Theta #2
ANDARILHA
Nada de mitos
nem Filosofia
nem História.
Apenas o mar
e meus olhos d'água.
Fragmento do Livro de Theta #3
PARADOXO
...Cato Pedras
Como quem enlaça olhares.
Como quem coleciona farpas.
Como quem guarda áses.
Como quem lambe orvalhos.
Como quem rega lágrimas.
Como quem colhe abraços.
Como quem livra laços.
Como quem abisma além penhascos.
Como quem pega nuvens.
Como quem toca estrelas.
Como quem conta pérolas.
Como quem se assemelha ao chão.
Como quem rola em pedaços.
Como quem é só...
É só...
Bruto, Roto, Tosco, Frouxo, Fosco,
Lusco, Fusco, Brusco, Árido, Cinza,
Cálido, Alvo, Doce, Nero, Ocre, Azedo,
Amaro Coração.
Salgado.
Fragmento do Livro de Theta #5
FIXAÇÃO
A retina retilínea
Entorta ventos
E
Brados marítimos
Cruza
Terras, ilhas, do Mediterrâneo ao Atlântico
E
Te enxerga
Meu ninho
Natal
Fragmento do Livro de Theta #6
A CALHAR
Sementes de nada não vingam. Muitas no munturo a germinar. Conchas
finas não suportam atritos; as espessas suportam até contínuos... Colchas
mal costuradas rasgam-se em detalhes. Alheios retalhos de vivências
formam personas. Gravetos postos ao mar sempre tornam à beira da
praia. Navios também encalham nos olhos. Estar a haver nas vias mais
vida... Quando o caos parece estático está apenas silente. Desolado,
oxidado, incendiado no paradoxo de estar sobre águas; no não meu mar.
Eu que não possuo nenhum... Nem nada. Bela caótica visão que quase
nada. Que nem balança com as ondas do mar/rítmo grego. Que faz do
arrecife submerso sua cama e da praia sua morada. Eu à toa espreito na
areia cálida o navio Dimitrio a me dar um poema de sua imagem... A
CALHAR!
Fragmento do Livro de Theta #7
TENTÁCULOS
outrosportos
outrosolhos
outrospolvos
outrospovos
Fragmento do Livro de Theta #8
TORNA-VIAGEM
E nessa costura toda sou um ponto apenas. E falar mais claro não me é
possível. Não está ao m'eu alcance. Os semelhantes me confundem.
Confundem-se comigo os semelhantes. Se fundem. Não devo utilizar do
código-chave. Não é agora o tempo do tempo. Ele que não existe. Esse
compasso-artifício. Que dilata a vida. Que a vida delata. Arbítrio.
Esse-sempre-contínuo-mutante-oruboros-iniciado-infindo. ...Seguindo. É
que estou na Ida. De passagem. Instantâneas paragens. É que sou morte-
vida. Movediça. Volátil. É que sou bruta inda. E essa alm'aqui deve ser
polida.
Epílogo »