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INFECÇÕES DO SÍTIO CIRÚRGICO - ISC

DEFINIÇÃO, DIAGNÓSTICO E PREVENÇÃO

FERNANDO GALVANESE – SCIH /


CHMSA
DEFINIÇÕES

Infecções relacionadas aos procedimentos cirúrgicos

Procedimentos cirúrgicos
Pacientes internados ou admitidos para o procedimento
Realizados dentro do Centro Cirúrgico
Pelo menos 01 incisão
Também cirurgias onde não há sutura
Cirurgias videoscópicas são incluídas

Não são cirúrgicos


Procedimentos fora do Centro Cirúrgico (sutura no PS)
Procedimentos sem incisão (punções, incisão prévia)
Biópsias endoscópicas, episiotomias e circuncisões
TEMPO DE OBSERVAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO

Tempo de observação
Início até 30 dias após o procedimento
No caso de implante de prótese  início até 01 ano após o
implante, ou até a retirada da prótese, se esta ocorrer em
período inferior

Classificação
ISC incisional superficial  envolve apenas a pele e o tecido
celular subcutâneo do local da incisão
ISC incisional profunda  pode envolver ou não os mesmos
tecidos da ISC superficial, mas envolve obrigatoriamente tecidos
moles profundos, como fáscia e camadas musculares
ISC órgão ou espaço específica  envolve órgãos ou espaços
profundos manipulados durante a cirurgia, mas não
necessariamente a incisão
Meningite após manipulação do SNC, peritonite após cirurgia
abdominal, endocardite após troca de válvula cardíaca
INFECÇÃO DE SÍTIO CIRÚRGICO

www.ipig.org
DIAGNÓSTICO

Um dos critérios deve estar presente

Secreção purulenta no local da incisão (ISC superficial),


drenada de tecidos moles profundos (ISC profunda) ou de
órgão ou cavidade manipulados na cirurgia (ISC específica)

Organismo isolado com técnica asséptica de material


teoricamente estéril, de local previamente fechado

Abscesso ou evidência radiológica ou histopatológica


sugestiva de infecção (tecidos profundos)

Sinais inflamatórios na incisão e febre

Diagnóstico de ISC pelo médico assistente  necessário


exame da ferida para comprovação
PRINCIPAIS AGENTES MICROBIANOS NA ISC

Patógenos provenientes de 03 fontes

Microbiota do próprio paciente  importância da topografia da


cirurgia, da técnica, do tempo de duração e das condições
infecciosas prévias do paciente

Equipe de saúde  antissepsia pré-operatória e condições


infecciosas

Ambiente inanimado, incluindo material cirúrgico (importância


menor, porém não irrelevante)  falha no processo de
esterilização, ar do ambiente cirúrgico (importante em algumas
cirurgias; menor importância na prática diária)
PRINCIPAIS AGENTES MICROBIANOS NA ISC

Staphylococcus aureus e Estafilococos Coagulase - Negativa

Colonizante de pele  erradicação pela antissepsia impossível  aumento da


concentração no decorrer do procedimento  descamação da pele  atinge
tecidos lesados pela cirurgia
Portador nasal de S. aureus (?)

Enterobactérias (Gram -)  E. coli, Klebsiella, Enterobacter

Presentes em grandes concentrações em cavidades ocas  cirurgias do tubo


digestivo, vias biliares e urinárias
Uso abusivo de cefalosporinas

Gram (–) não fermentadores  P. aeruginosa, Acinetobacter

Internação prolongada, uso prévio de antimicrobianos, maior gravidade clínica


PRINCIPAIS AGENTES MICROBIANOS NA ISC

Anaeróbios

Principalmente cirurgias do trato digestivo; em geral, agem


acompanhados de outros patógenos

Enterococos

Freqüência elevada, predominando em cirurgias do trato


digestivo e ginecológicas
Uso abusivo de cefalosporinas

Estreptococos

Menos freqüentes, porém curto período de incubação e maior


gravidade
Profissionais de saúde colonizados  associados a surtos
PRINCIPAIS AGENTES MICROBIANOS NA ISC

Importante !

Considerar as características específicas da instituição


População atendida
Principais patologias cirúrgicas
Normas para uso de antimicrobianos
Disponibilidade de antimicrobianos
Média de permanência antes do procedimento
Outras
FATORES DE RISCO PARA ISC

Microrganismos atingem a ferida operatória em geral


durante o ato cirúrgico
Quando não há fechamento primário, ou há dreno, ocorreu
manipulação excessiva da ferida ou deiscência 
contaminação pode ocorrer no pós-operatório
Implante secundário de patógenos por via hematogênica

A ruptura de continuidade da pele é o principal fator para ISC !


FATORES DE RISCO PARA ISC

Relacionados ao paciente

Estado clínico  doenças agudas ou crônicas descompensadas e


infecção em sítio distante  avaliação clínica criteriosa é
imprescindível !

Tempo de internação pré-operatório (por desorganização da


unidade hospitalar ou estado clínico do paciente)  relacionado à
colonização da pele pela microbiota hospitalar

Estado nutricional  desnutrição ou obesidade

Imunodepressão e uso de corticosteróides  menor inóculo e


retardamento do processo de cicatrização
FATORES DE RISCO PARA ISC

Relacionados ao procedimento cirúrgico

Imunossupressão  provável contrapeso à liberação de proteínas


que poderiam desencadear reação auto-imune

Rompimento da barreira epitelial  interrupção do aporte de


nutrientes

Alterações no campo operatório  hipóxia + acidose + deposição


de fibrina

HIPÓXIA + ACIDOSE  DIFICULTAM A AÇÃO DOS NEUTRÓFILOS


DEPOSIÇÃO DE FIBRINA  SEQÜESTRO DE BACTÉRIAS E ALTERAÇÃO DOS
MECANISMOS LOCAIS DE DEFESA
FATORES DE RISCO PARA ISC

Relacionados ao procedimento cirúrgico

Classificação da cirurgia de acordo com o potencial de


contaminação  fator clássico de risco !

LIMPA

POTENCIALMENTE CONTAMINADA

CONTAMINADA

INFECTADA
FATORES DE RISCO PARA ISC
CLASSIFICAÇÃO DAS CIRURGIAS POR POTENCIAL DE CONTAMINAÇÃO

Cirurgias limpas

Eletivas, primariamente fechadas e sem drenos

Feridas não traumáticas e não infectadas, sem sinais inflamatórios

Não há quebra de técnica

Não há abordagem de vísceras ocas

Herniorrafia / Safenectomia
FATORES DE RISCO PARA ISC
CLASSIFICAÇÃO DAS CIRURGIAS POR POTENCIAL DE CONTAMINAÇÃO

Cirurgias potencialmente contaminadas

Há abordagem dos tratos digestivo, respiratório, genitourinário e


orofaringe sob situações controladas, sem sinais de processo
inflamatório

Pequena quebra de técnica ou implantação de dreno

Gastrectomia / nefrectomia
FATORES DE RISCO PARA ISC
CLASSIFICAÇÃO DAS CIRURGIAS POR POTENCIAL DE CONTAMINAÇÃO

Cirurgias contaminadas

Feridas traumáticas recentes (menos de 04 horas), abertas

Contaminação grosseira durante cirurgia do trato digestivo

Manipulação de via biliar ou genitourinária na presença de bile ou


urina infectadas

Quebras maiores de técnica

Inflamação, mas não secreção purulenta

Colecistectomia com inflamação / fratura exposta recente


FATORES DE RISCO PARA ISC
CLASSIFICAÇÃO DAS CIRURGIAS POR POTENCIAL DE CONTAMINAÇÃO

Cirurgias infectadas

Presença de secreção purulenta

Tecidos desvitalizados

Corpos estranhos

Contaminação fecal

Trauma penetrante há mais de 04 horas

Ceco perfurado / fratura exposta há mais de 04 horas


FATORES DE RISCO PARA ISC

Relacionados ao procedimento cirúrgico  duração do


procedimento cirúrgico

Maior exposição ao ambiente externo

Maior complexidade

Pior estado clínico

Menor experiência da equipe

Desorganização da sala cirúrgica


FATORES DE RISCO PARA ISC

Cirurgias de urgência

Preparo inadequado do paciente

Pior estado clínico

Técnica menos rigorosa


PREVENÇÃO DA ISC
PERÍODO PRÉ-OPERATÓRIO

Redução do tempo de internação pré-cirúrgico

Avaliação pré-operatória em ambulatório


Internação somente com avaliação pré-operatória
Organização do agendamento de internação e cirurgia

Lavagem das mãos na enfermaria (equipe de saúde)  evitar


a colonização do paciente com a flora hospitalar !

Estabilização do quadro clínico do paciente  principalmente


o tratamento de infecção prévia

Banho pré-operatório  noite anterior e manhã da cirurgia,


com água e sabão

Tricotomia  se imprescindível e imediatamente antes do ato


cirúrgico
PREVENÇÃO DA ISC
NO CENTRO CIRÚRGICO

Área física

Afastado da circulação do público, porém fácil acesso para


pacientes e profissionais
Pisos e paredes de materiais lisos, não porosos
Portas anti-turbulência

Ventilação

Ar condicionado central, com controle de temperatura, umidade,


pressão e filtração do ar  controle individual da temperatura
Insuflação pelo teto e exaustão próximo ao piso
PREVENÇÃO DA ISC
NO CENTRO CIRÚRGICO

Circulação interna no Centro Cirúrgico

Áreas irrestritas  roupas comuns e circulação sem limitações 


vestiários e salas administrativas externas

Áreas semi-restritas  roupa privativa e gorro  processamento


e estocagem de artigos, corredores e salas internas

Áreas restritas  roupa privativa, gorro e máscara + controle do


número de pessoas  salas cirúrgicas com materiais expostos
PREVENÇÃO DA ISC
NO CENTRO CIRÚRGICO

Limpeza

Limpeza adequada com água e detergente (piso, mobiliário e


equipamentos) após cada procedimento

Não há necessidade de limpeza especial em salas onde foram


realizadas cirurgias infectadas  os procedimentos de limpeza
devem ser rigorosos sempre

Limpeza terminal diária após a última cirurgia, com água e


detergente  todas as superfícies e acessórios da sala
PREVENÇÃO DA ISC
NO CENTRO CIRÚRGICO

Paramentação cirúrgica

Aventais  milhares de células epiteliais são desprendidas por


minuto, junto com bactérias, dispersando-se no ambiente  o
uso de avental de algodão reduz em aproximadamente 30% a
taxa de dispersão

Máscaras  utilizadas com dupla finalidade  prevenção da ISC e


proteção dos membros da equipe cirúrgica contra respingos de
sangue e secreções durante o procedimento  Há controvérsias
sobre o papel na prevenção das ISC, mas nenhuma quanto à
proteção ocupacional

Propés  estudos concluíram não haver diferença significativa de


contaminação no piso entre calçados limpos, calçados de uso
habitual e propés
PREVENÇÃO DA ISC
NO CENTRO CIRÚRGICO

Paramentação cirúrgica

Gorros  devem cobrir totalmente o cabelo na cabeça e face

Luvas  devem ser usadas após a escovação das mãos e depois


de vestido o avental estéril  é recomendado o duplo
enluvamento (para minimizar os efeitos de pequenos furos ou
rupturas) ou a troca a cada 02 horas de procedimento
PREVENÇÃO DA ISC
NO CENTRO CIRÚRGICO

Antissepsia das mãos dos membros da equipe cirúrgica

Retirada de sujeira e detritos, redução substancial ou eliminação


da flora transitória e redução parcial da flora residente

Solução degermante de iodóforo (PVPI) ou de gluconato de


clorhexidina, ou álcool a 70% com emoliente

Escovação necessária nos leitos sub-ungueais e espaços


interdigitais

05 minutos para a primeira cirurgia e 03 para os demais


procedimentos

Enxágüe em água corrente, das mãos para os cotovelos (mãos


sempre acima do nível dos cotovelos)
PREVENÇÃO DA ISC
NO CENTRO CIRÚRGICO

Antibioticoprofilaxia cirúrgica

Indicação apropriada  cirurgias potencialmente contaminadas e


contaminadas

Antimicrobiano adequado à flora esperada, em razão do tipo de


cirurgia  flora residente do local abordado  considerar,
também, menor toxicidade e custo

Dose adequada e momento certo  01 a 02 horas antes do início


do procedimento

Uso por curto período  cobertura durante o ato cirúrgico


INFECÇÃO DE SÍTIO CIRÚRGICO

Principal referência para a elaboração da aula

Prevenção da Infecção de Sítio Cirúrgico. Renato S. Grinbaum


(Coordenador). Associação Paulista de Estudos e Controle de
Infecção Hospitalar (APECIH). 2ª Edição. São Paulo, 2001.

Outras obras consultadas

Controle de Infecção em Centro Cirúrgico – Fatos, Mitos e


Controvérsias. Rúbia Aparecida Lacerda (Coordenadora).
Atheneu Editora São Paulo. São Paulo, 2003.

Infecção Hospitalar e suas Interfaces na Área da Saúde. Antônio


Tadeu Fernandes (Editor Chefe). Editora Atheneu. São Paulo,
2001.

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