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DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO – UMA CONTRIBUIÇÃO DA

CONTABILIDADE PARA A MENSURAÇÃO DA PARTICIPAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL


DA ENTIDADE EMPRESARIAL.

INTRODUÇÃO

As entidades evoluíram ampliando sua visão de forma a entender o verdadeiro significado


da sua existência, dando uma ênfase maior nas relações com o meio ambiente e com a sociedade em que
está inserida. Por outro lado, a sociedade tem exigido das empresas uma responsabilidade ética que
proporcione uma maior proteção ao meio ambiente, evitando poluição do ar ou da água, melhores
condições de trabalho e fabricação de produtos confiáveis.

Gradativamente, mais e mais empresas vêm procurando atender aos anseios da sociedade,
implantando programas de qualidade para seus produtos e serviços, adquirindo equipamentos que
protegem o meio ambiente e investindo em programas sociais para atender aos funcionários e à
comunidade onde a empresa está instalada.

As empresas que aderiram este novo perfil necessitam mostrar o montante dos benefícios
gerados, além dos lucros que incorporam seu patrimônio.

Desde os primórdios a contabilidade vem avançando de forma a demonstrar sempre a


situação patrimonial da empresa. Evoluindo da simples função de controle do patrimônio e da riqueza
gerada pela entidade, através de controles rudimentares, para uma posição de destaque, passando a ter
uma importância cada vez maior para os usuários no processo de tomada de decisão.

Segundo o professor Sérgio Iudícibus1, a estrutura conceitual básica da contabilidade é


essencialmente utilitária, no sentido de que responde, por mecanismos próprios, a estímulos
informativos dos vários setores da economia.

A contabilidade em resposta a nova necessidade de seus usuários, criou o Demonstrativo do


Valor Adicionado, peça do Balanço Social.

A Demonstração do Valor Adicionado desenvolve conceitos puramente econômicos,


evidenciando quanto de valor a empresa agrega durante seu processo produtivo, ampliando assim os
horizontes de seus usuários.

Considerando a responsabilidade da contabilidade de comunicar a seus usuários


informações úteis para o processo de tomada de decisão, neste trabalho procura-se analisar a forma de
apresentação das informações na Demonstração do Valor Adicionado e propor modificações em sua
evidenciação numa abordagem puramente econômica, de forma que possa ser utilizada diretamente no
cálculo do Produto Interno Bruto.

BALANÇO SOCIAL E A DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO

O Balanço Social surgiu na Europa com o objetivo de atender aos movimentos sociais que
demandavam por informações sobre projetos sociais, condições ambientais, informações para os
empregados sob o aspecto do nível de emprego, condições de trabalho, remuneração e formação
profissional. A Demonstração do Valor Adicionado surgiu por influência da França e da Alemanha como
forma de mensuração desta participação da empresa neste contexto social.

No Brasil o Balanço Social surgiu com a campanha do Sociólogo Herbert de Souza(1935-


1997), o cidadão Betinho pela publicação do Balanço Social pelas empresas. Foram promovidos grandes
debates a nível Nacional envolvendo entidades como Abrasca (Associação Brasileira de Capital Aberto),
PNBE (Pensamento Nacional das Bases Empresariais) e CVM (Comissão de Valores Mobiliários).

1
Iudícibus Sérgio Teoria da Contabilidade

1
Em 1997, as deputadas federais Marta Suplicy, Maria da Conceição Tavares e Sandra
Starling, do partido dos trabalhadores apresentaram projeto de Lei obrigando as empresas privadas,
públicas e sociedades de economia mista com mais de 100 empregados elaborar o Balanço Social.

Apesar de ainda não ser obrigatório no Brasil, algumas empresas já publicam o Balanço
Social como é o caso de alguns Bancos, Banco do Brasil, Banco do Nordeste, Banco Itaú e algumas
empresas privadas.

Como composição do Balanço Social é apresentada a Demonstração do Valor Adicionado


que tem como objetivo demonstrar o desempenho econômico da empresa e seu relacionamento com a
sociedade.

A Demonstração do Valor Adicionado desenvolve conceito puramente econômico,


evidenciando quanto de valor a empresa agrega durante o seu processo produtivo ampliando assim os
horizontes de seus usuários.

A Demonstração do Valor Adicionado tem uma função muito importante na medida que
fornece aos seus usuários a informação sobre a riqueza criada pela empresa e a forma como esta riqueza
foi aplicada.

Características básicas da DVA:

1. Fornecer informações que demonstre a geração de riqueza da empresa e seus efeitos sobre a
sociedade que está inserida.
2. Demonstra o valor adicionado em cada um dos fatores de produção e seu destino, conforme
abaixo:
- dispêndio na remuneração dos empregados;
- geração de tributos ao governo (municipal, estadual e federal);
- remuneração do capital de terceiros através de juros;
- remuneração dos acionistas através da distribuição de lucros.
3. O somatório dos valores obtidos nas Demonstrações de Valor Adicionado apresentados pelas
unidades produtivas dos mais variados níveis de atividades econômicas que são classificados
pelo IBGE, excluídas as duplas contagens, pode ser considerado como o próprio PIB do país.
4. Pode-se efetuar análise vertical/horizontal dessa demonstração, com a comparação da
participação de cada item da demonstração em sucessivos exercícios sociais, enfatizando sua
evolução.

VALOR ADICIONADO – UM CONCEITO ECONÔMICO

A economia baseada em estudos estatísticos divulga anualmente através do Produto Interno


Bruto o nível de atividade em todos os setores da economia, ou seja, a produção de todos os serviços e
mercadorias finais.

O Produto Interno Bruto divulgado anualmente é calculado através do somatório da


produção do país no ano indicando desta forma o que foi produzido e o desempenho da economia.

A grande dificuldade dos Estatísticos é o calculo da produção de uma economia. Qualquer


economia trabalha com segmentação do mercado, ou seja, o que é produzido em um setor é utilizado
como matéria prima por outro e, desta forma, se somarmos a produção de um setor estaremos incluindo a
produção do outro.

Para evitar esta dupla contagem poderíamos mensurar o PIB através da contabilização
somente dos bens finais eliminando os bens intermediários utilizados na produção de outros bens. Uma
outra alternativa seria a contabilização do valor adicionado em cada etapa produtiva. Desta forma,
poderíamos medir o produto pelo valor dos bens finais ou pela agregação dos valores adicionados (valor
dos produtos mais valor dos insumos).

2
Devemos observar ainda que o PIB, ou o valor adicionado em cada setor é igual à soma das
remunerações do capital (lucros) e do trabalho (salários).

Para melhor visualizarmos esta dificuldade estatística imagine uma economia composta de
três setores: Setor produtor de trigo, setor produtor de farinha e setor produtor de pão. Considerando que
todo o produto do setor trigo foi destinado ao setor produtor de farinha e que o setor produtor de pão
também consumiu o produto do setor farinha, podemos afirmar que a produção desta economia seria igual
à produção de mobília. Podemos, de outra forma utilizar o conceito de valor adicionado e calcular a
diferença entre o valor da mercadoria de um setor menos o custo das matérias primas. Conforme podemos
analisar no quadro abaixo:

SETOR TRIGO
CUSTO DA PRODUÇÃO TRIGO
Valor da semente produzida e estocada no período anterior
50

Salários pagos na plantação e colheita do trigo 200


LUCRO 100
Valor total do trigo 350
SETOR MOAGEM
CUSTO DA PRODUÇÃO DA FARINHA
Custo da Matéria Prima (trigo) 350
Salários pagos aos trabalhadores 200
LUCRO 200
Valor total da farinha 750
SETOR PRODUTOR DE PÃO
CUSTO DA PRODUÇÃO DE PÃO
Custo da Matéria Prima (farinha) 750
Salários pagos aos trabalhadores 350
LUCRO 350
Valor total do Pão 1450

A riqueza criada por esta economia é igual à produção do período, sendo equivalente ao valor do produto
final menos os estoques iniciais. Portanto monetariamente o PIB=1450-50=1400.

O valor adicionado pode ser obtido a partir dos dados acima como demonstrado no quadro
abaixo:
Valor adicionado no setor produtos de trigo
Trigo=valor do trigo-valor das sementes 300
Valor adicionado no setor de moagem
Farinha=valor da farinha-valor do trigo 400
Valor adicionado no setor de produção de pão
Pão=valor do pão-valor da farinha 700
Soma dos valores adicionados em cada
setor=PIB 1.400

A partir deste quadro podemos calcular o PIB somando os valores adicionados em cada
setor e obtemos um número igual a 1.400.

3
Para Simonsen2, Denomina-se valor adicionado em determinada etapa de produção, à
diferença entre o valor bruto da produção e os consumos intermediários nessa etapa. Assim, o produto
nacional pode ser concebido como a “soma dos valores adicionados, em determinado período de tempo,
em todas as etapas dos processos de produção do país”.

DEMONSTRAÇÃO CONTÁBIL DO VALOR ADICIONADO

A Demonstração do Valor Adicionado é elaborada a partir dos dados contidos na


Demonstração do Resultado do Exercício. Nesta demonstração é destacado valor adicionado pela empresa
e a distribuição deste valor, indicando a contribuição da empresa para a formação do lucro e para outros
itens tais como impostos, taxas e contribuições, pessoal e encargos, juros e alugueis, juros s/ capital
próprio e dividendos.

Na Demonstração do Resultado do Exercício são computados como Custo dos Produtos


Vendidos todos os gastos referente a produção dos bens vendidos. Inclui-se, portanto neste montante
mão-de-obra, matéria-prima e gastos gerais de fabricação. Na DVA estes custos deverão estar
perfeitamente discriminados, uma vez que, parte deles são considerados como insumos adquiridos de
terceiros. A depreciação deverá ser perfeitamente identificada. Os gastos com pessoal e os encargos são
considerados como distribuição do valor adicionado.

A Universidade de São Paulo (USP), através da FIPECAFI elaboraram o seguinte modelo


de demonstração do valor adicionado utilizado hoje pelas empresas.

em milhares de reais
DESCRIÇÃO LEGISLAÇÃO
%
SOCIETÁRIA
1- RECEITAS
1.1) Vendas de mercadorias, produtos e serviços
1.2) Provisão p/ devedores duvidosos - Reversão (Constituição)
1.3) Não Operacionais
2-INSUMOS ADQUIRIDOS DE TERCEIROS
(inclui os valores dos impostos - ICMS e IPI)
2.1) Matérias-primas consumidas
2.2) Custo das mercadorias e serviços vendidos
2.3) Materiais, energia, serviços de terceiros e outros
2.4) Perda/Recuperação de valores ativos
3- VALOR ADICIONADO BRUTO(1-2)
4-RETENÇÕES
4.1) Depreciação, amortização e exaustão

5- VALOR ADICIONADO LÍQUIDO PRODUZIDO PELA ENTIDADE(3-4)

6- VALOR ADICIONADO RECEBIDO EM TRANSFERÊNCIA


6.1)Resultado de equivalência patrimonial
6.2)Receitas financeiras
7- VALOR ADICIONADO TOTAL A DISTRIBUIR(5+6) (RIQUEZA
CRIADA PELA EMPRESA)
8- DISTRIBUIÇÃO DO VALOR ADICIONADO
8.1) Pessoal e encargos

2
SIMONSEN, Mário Henrique. Macroeconomia. Rio de Janeiro: Apec, 1975, p.83. v.l

4
8.2) Impostos, taxas e contribuições
8.3) Juros e alugueis
8.4) Juros s/ capital próprio e dividendos
8.5) Lucros retidos/prejuízos do exercício

1 - RECEITAS (soma dos itens 1.1 a 1.3)


1.1 - Vendas de mercadorias, produtos e serviços
Inclui os valores do ICMS e IPI incidentes sobre essas receitas, ou seja, corresponde à receita bruta
ou faturamento bruto.
1.2 - Provisão para devedores duvidosos – Reversão/Constituição
Inclui os valores relativos à constituição/baixa de provisão para devedores duvidosos.

1.3 - Não operacionais


Inclui valores considerados fora das atividades principais da empresa, tais como: ganhos ou perdas
na baixa de imobilizados, ganhos ou perdas na baixa de investimentos, etc.

2 - INSUMOS ADQUIRIDOS DE TERCEIROS (soma dos itens 2.1 a 2.4)


2.1 - Matérias-primas consumidas (incluídas no custo do produto vendido).
2.2 - Custos das mercadorias e serviços vendidos (não inclui gastos com pessoal próprio).
2.3 - Materiais, energia, serviços de terceiros e outros (inclui valores relativos às aquisições e
pagamentos a terceiros).
Nos valores dos custos dos produtos e mercadorias vendidos, materiais, serviços, energia, etc.
consumidos deverão ser considerados os impostos (ICMS e IPI) incluídos no momento das
compras, recuperáveis ou não.
2.4 - Perda/Recuperação de valores ativos
Inclui valores relativos a valor de mercado de estoques e investimentos, etc. (se no período o valor
líquido for positivo deverá ser somado).

3 - VALOR ADICIONADO BRUTO (diferença entre itens 1 e 2).

4 – RETENÇÕES
4.1 - Depreciação, amortização e exaustão
Deverá incluir a despesa contabilizada no período.

5 - VALOR ADICIONADO LÍQ. PRODUZIDO PELA ENTIDADE (diferença entre itens 3 e 4)

6 - VALOR ADICIONADO RECEBIDO EM TRANSFERÊNCIA (soma dos itens 6.1 e 6.2)


6.1 - Resultado de equivalência patrimonial (inclui os valores recebidos como dividendos
relativos a investimentos avaliados ao custo). O resultado de equivalência poderá representar
receita ou despesa; se despesa deverá ser informada entre parênteses.
6.2 - Receitas financeiras (incluir todas as receitas financeiras independentemente de sua origem).

7 - VALOR ADICIONADO TOTAL A DISTRIBUIR (soma dos itens 5 e 6)

8 – DISTRIBUIÇÃO DO VALOR ADICIONADO (soma dos itens 8.1 a 8.5)


8.1 - Pessoal e encargos
Nesse item deverão ser incluídos os encargos com férias, 13o salário, FGTS, alimentação,
transporte, etc., apropriados ao custo do produto ou resultado do período (não incluir encargos com
o INSS – veja tratamento a ser dado no item seguinte).
8.2 - Impostos, taxas e contribuições
Além das contribuições devidas ao INSS, imposto de renda, contribuição social e todos os demais
impostos, taxas e contribuições deverão ser incluídos neste item. Os valores relativos ao ICMS e
IPI deverão ser considerados como os valores devidos ou já recolhidos aos cofres públicos,
representando a diferença entre os impostos incidentes sobre as vendas e os valores considerados
dentro do item 2 - Insumos adquiridos de terceiros.
8.3 - Juros e aluguéis

5
Devem ser consideradas as despesas financeiras e as de juros relativas a quaisquer tipos de
empréstimos e financiamentos junto a instituições financeiras, empresas do grupo ou outras e os
aluguéis (incluindo-se as despesas com leasing) pagos ou creditados a terceiros.
8.4 - Juros sobre o capital próprio e dividendos
Inclui os valores pagos ou creditados aos acionistas. Os juros sobre o capital próprio
contabilizados como reserva deverão constar do item “lucros retidos”.
8.5 - Lucros retidos/prejuízo do exercício
Devem ser incluídos os lucros do período destinados às reservas de lucros e eventuais parcelas
ainda sem destinação específica.

Este modelo apresentado tem gerado duas grandes dificuldades no seu preenchimento. O
primeiro problema diz respeito à dificuldade enfrentada pelas empresas atuais no que diz respeito à
separação dos itens que compõe o custo dos produtos vendidos.

Atualmente as empresas industriais adotam o procedimento de registrar todos os gastos da


produção do período de forma analítica e ao final estes gastos são transferidos para o estoque de produto
em elaboração para depois, com a conclusão da produção, estoque de produto acabado. A partir do
momento que estes gastos são incorporados ao estoque de produtos acabados perde-se a condição de
demonstrar analiticamente a composição destes gastos. Dessa forma, quando estes produtos são vendidos
não se tem condição de identificar com precisão a sua composição de forma que não conseguimos
precisar quanto deste valor representa matéria prima, mão de obra, encargos, depreciação entre outros.

A segunda dificuldade diz respeito à identificação dos impostos indiretos ICMS e IPI pagos
por ocasião das aquisições da matéria prima dentro do custo dos produtos vendidos. E, segundo a
exigência desta demonstração os impostos pagos na aquisição considerados como impostos a recuperar
deverão ser considerado.

Nos valores dos custos dos produtos e mercadorias vendidos, materiais, serviços, energia,
etc. consumidos deverão ser considerados os impostos (ICMS e IPI) incluídos no momento das
compras, recuperáveis ou não.

Pelo fato da Contabilidade montar a DVA a partir da DRE é que passa a existir uma
diferença entre o conceito de valor adicionado puro da economia e o conceito contábil. Na ciência
econômica, o conceito de valor adicionado é em função da produção e não da venda.

O Professor Ariovaldo dos Santos e Cláudia Meca Parmezzano3 afirmam: O Valor


adicionado sob o ponto de vista econômico é calculado a partir da produção, enquanto na
Contabilidade utilizam-se as vendas, que são registradas com base no regime de competência dos
exercícios.

Segundo Rossetti4 “O valor adicionado em cada unidade produtora é a contribuição desta


para o Produto Interno Bruto, medida em valor de produtor.
O PIB representa a contribuição ao produto social das diversas atividades econômicas,
não incluindo o consumo intermediário absorvido por essas atividades, bem como os impostos indiretos
líquidos de subsídios”.

A Demonstração Contábil do Valor Adicionado na forma como está sendo utilizada no


Brasil não oferece condições de forma concreta para que se faça uma análise sobre a contribuição de cada
entidade para a formação do Produto Interno Bruto. Assim sendo, mesmo que a entidade publique esta
demonstração não poderá correlacionar com o PIB do País no ano pelo fato do modelo atual da
contabilidade apresentar a Demonstração do Valor Agregado partindo da Demonstração do Resultado do
Exercício, que evidencia apenas a produção Vendida.Portanto, se a empresa produzir e não vender, não
apurará valor adicionado, mas economicamente o valor adicionado surgirá, pois ocorreu uma produção.

3
SANTOS, Ariovaldo dos, PARMEZZANO, Claudia Meca – Temática Contábil de Balanços – IOB TC
1/99.
4
ROSSETI, José Paschoal – Contabilidade Social, São Paulo, 1992, Editora Atlas.

6
Imaginemos a produção total de uma empresa no mês de dezembro não seja vendida
permanecendo no estoque com a seguinte composição:

Gastos de Produção $
Salários 10.000
Encargos Sociais e Trabalhistas 8.500
Matéria Prima 20.000
Serviços de Terceiros 1.500
Depreciação 5.000
Outros Gastos de Produção 25.000
Total 70.000
IPI e ICMS a recuperar s/ Matéria-Prima 5.000

Vamos supor também, que a empresa não possua estoque inicial em no mês de dez e que o
estoque final seja representado unicamente pelo produto acabado em 31.12 no valor de $65.000,00.

No cálculo tradicional da contabilidade, como a empresa não efetuou venda em dezembro,


pelo princípio da competência, não gerou receitas nem despesas, assim, a Demonstração de Resultado do
Exercício (DRE) só demonstra as vendas efetuadas de janeiro a novembro. A Demonstração do Valor
Adicionado constituída partindo da visão contábil tem seus dados originados da DRE, neste caso também
a Demonstração do Valor Adicionado só apresenta a riqueza gerada no período de janeiro a novembro.

A empresa apresentou a seguinte Demonstração do Resultado do Exercício findo em 31.12.:

DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADO DO EXERCÍCIO - DRE


$
RECEITA BRUTA 635.000,00
(-) Impostos s/vendas (63.500,00)
RECEITA LÍQUIDA 571.500,00
(-) CPV (265.000,00)
LUCRO BRUTO 306.500,00
(-) Despesas Operacionais (202.350,00)
Comissões 10.350,00
Propaganda 18.500,00
Salários e Encargos 36.400,00
Depreciações 23.500,00
Energia e Comunicações 47.800,00
Juros 65.800,00
LUCRO OPERACIONAL 104.150,00
(+) Outras Receitas Ñ Operacionais 3.500,00
LUCRO ANTES DO IR 107.650,00
(-) Provisão para IR (26.912,50)
LUCRO LÍQUIDO 80.737,50

A partir da DRE acima a empresa apresentou a seguinte DVA:

DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO DO EXERCICIO


Em milhares de reais
DESCRIÇÃO LEGISLAÇÃO
%
SOCIETÁRIA
1- RECEITAS 638.500
1.1) Vendas de mercadorias, produtos e serviços 635.000
1.3) Não Operacionais 3.500

7
2-INSUMOS ADQUIRIDOS DE TERCEIROS
(inclui os valores dos impostos - ICMS e IPI) 271.300
2.1) Matérias-primas consumidas 205.000
2.3) Materiais, energia, serviços de terceiros e outros 66.300
3- VALOR ADICIONADO BRUTO(1-2) 367.200
4-RETENÇÕES 73.500
4.1) Depreciação, amortização e exaustão 73.500

5- VALOR ADICIONADO LÍQUIDO PRODUZIDO PELA ENTIDADE(3-4)


293.700
7- VALOR ADICIONADO TOTAL A DISTRIBUIR(5+6)
(RIQUEZA CRIADA PELA EMPRESA) 293.700
8- DISTRIBUIÇÃO DO VALOR ADICIONADO 293.700
8.1) Pessoal e encargos 86.750 29,54%
8.2) Impostos , taxas e contribuições 60.413 20,57%
8.3) Juros e alugueis 65.800 22,40%
8.4) Juros s/ capital próprio e dividendos 30.000 10,21%
8.5) Lucros retidos/prejuízos do exercício 50.738 17,28%

De acordo com o exemplo acima o valor adicionado é equivalente a $293.700, utilizado para
despesa com pessoal,, impostos, juros e alugueis, dividendos e a retenção de lucros.

Para que efetivamente a contabilidade contribua para a identificação e a participação de


cada empresa no PIB, é necessário que seja evidenciado na Demonstração do Valor Agregado o Valor
Adicionado efetivamente gerado pela entidade, independentemente que sua produção tenha sido vendida
ou não. Assim, a empresa deverá apresentar na Demonstração do Valor Adicionado, além dos dados
contidos na Demonstração de Resultado do Exercício, dados que possam efetivamente evidenciar qual a
riqueza gerada pela empresa deixando evidenciada a produção que não foi vendida. Conforme tabela
abaixo, podemos deixar evidenciado este valor de forma a mensurar em termos percentual qual a
participação de cada item do Valor Adicionado no PIB (Produto Interno Bruto).

DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO ECÔNOMICO


em milhares de reais
DESCRIÇÃO LEGISLAÇÃO
%
SOCIETÁRIA
1- RECEITAS 638.500
1.1) Vendas de mercadorias, produtos e serviços 635.000
1.2) Provisão p/ devedores duvidosos - Reversão
(Constituição) -
1.3) Não Operacionais 3.500
2-INSUMOS ADQUIRIDOS DE TERCEIROS
(inclui os valores dos impostos - ICMS e IPI) 322.800
2.1) Matérias-primas consumidas 230.000
2.2) Custo das mercadorias e serviços vendidos -
2.3) Materiais, energia, serviços de terceiros e outros 92.800
2.4) Perda/Recuperação de valores ativos -
3- VALOR ADICIONADO BRUTO(1-2) 315.700
4-RETENÇÕES 78.500
4.1) Depreciação, amortização e exaustão 78.500
5- VALOR ADICIONADO LÍQUIDO PRODUZIDO PELA ENTIDADE(3-4)
237.200
6- VALOR ADICIONADO RECEBIDO EM TRANSFERÊNCIA -
6.1)Resultado de equivalência patrimonial -
6.2)Receitas financeiras

8
7. VARIAÇÃO DO ESTOQUE DO PERÍODO 70.000
8- VALOR ADICIONADO TOTAL A DISTRIBUIR(5+6+7)- (RIQUEZA
CRIADA PELA EMPRESA) 307.200
9- DISTRIBUIÇÃO DO VALOR ADICIONADO 307.200
9.1) Pessoal e encargos 105.250 34,26%
9.2) Impostos , taxas e contribuições 55.412 18,04%
9.3) Juros e aluguéis 65.800 21,42%
9.4) Juros s/ capital próprio e dividendos 30.000 9,77%
9.5) Lucros retidos/prejuízos do exercício 50.738 16,52%

Este modelo, reflete melhor o valor adicionado da empresa, podendo assim, ser um
parâmetro para compor o PIB deste período.

Para chegarmos a um valor adicionado de $307.200, acrescentamos no item 2.1 o valor da


matéria-prima consumida nos produtos não vendidos - $ 25.000 (20.000+5.000 referente aos impostos),
no item 2.2 os serviços de terceiros e gastos gerais - $ 26.500, no item 4.1 acrescentamos $5.000 referente
a depreciação e o item 7 referente ao estoque produzido e não vendido no período. Na distribuição do
valor adicionado, no item 9.1 acrescentamos o custo dos salários e encargos da mão-de-obra utilizada na
fabricação destes produtos - $ 18.500 e no item 9.2 foi reduzido o valor de $5.000, referente a impostos a
recuperar.

O modelo apresentado tem como objetivo, também, facilitar o trabalho na elaboração desta
demonstração, pois, serão apresentados os Gastos de Produção do período, além de representar o valor
adicionado de acordo com o conceito aplicado a mensuração do PIB.

Desta forma seriam as seguintes alterações na elaboração da DVA:


2 - INSUMOS ADQUIRIDOS DE TERCEIROS (soma dos itens 2.1 a 2.4)
2.1 - Matérias-primas consumidas na produção
2.3 - Materiais, energia, serviços de terceiros e outros (inclui despesas e custos relativos às
aquisições e pagamentos a terceiros).
Nos valores dos custos dos produtos e mercadorias vendidos, materiais, serviços, energia, etc.
consumidos deverão ser considerados os impostos (ICMS e IPI) incluídos no momento das
compras, recuperáveis ou não.

4 – RETENÇÕES
4.1 - Depreciação, amortização e exaustão
Deverá incluir a despesa e o custo contabilizado no período.
7- VARIAÇÃO DO ESTOQUE DE PRODUTO ACABADO E EM ELABORAÇÃO

8 - VALOR ADICIONADO TOTAL A DISTRIBUIR (soma dos itens 5, 6 e 7)

9 – DISTRIBUIÇÃO DO VALOR ADICIONADO (soma dos itens 9.1 a 9.5)

9.1 - Pessoal e encargos


Nesse item deverão ser incluídos os encargos com férias, 13o salário, FGTS, alimentação,
transporte, etc., apropriados na produção e como despesa no resultado do período (não incluir
encargos com o INSS – veja tratamento a ser dado no item seguinte).
9.2 - Impostos, taxas e contribuições
Além das contribuições devidas ao INSS, imposto de renda, contribuição social, todos os demais
impostos, taxas e contribuições deverão ser incluídos neste item. Os valores relativos ao ICMS e
IPI deverão ser considerados como os valores devidos ou já recolhidos aos cofres públicos,
representando a diferença entre os impostos incidentes sobre as vendas e os valores considerados
dentro do item 2 - Insumos adquiridos de terceiros.
9.3 - Juros e aluguéis

9
Devem ser consideradas as despesas financeiras e as de juros relativas a quaisquer tipos de
empréstimos e financiamentos junto a instituições financeiras, empresas do grupo ou outras e os
aluguéis (incluindo-se as despesas com leasing) pagos ou creditados a terceiros.
9.4 - Juros sobre o capital próprio e dividendos
Inclui os valores pagos ou creditados aos acionistas. Os juros sobre o capital próprio
contabilizados como reserva deverão constar do item “lucros retidos”.
9.5 - Lucros retidos/prejuízo do exercício
Devem ser incluídos os lucros do período destinados às reservas de lucros e eventuais parcelas
ainda sem destinação específica.

10
CONCLUSÃO

A Contabilidade não tem um fim nela mesma e sim no impacto causado no processo
decisório do usuário das suas informações. Os relatórios contábeis são seu produto final, portanto, devem
traduzir da forma mais clara possível a realidade econômica neles espelhada. Acredita-se ser tarefa dos
contadores e estudiosos propor melhorias no processo de comunicação da Contabilidade.

A Demonstração de Valor Adicionado é de grande utilidade dentro do novo contexto sócio


econômico vivido atualmente pelas empresas.

No entanto, a forma de evidenciação das informações contábeis nos modelos utilizados


correntemente pelas empresas no Brasil, devido à obediência aos princípios contábeis e por necessidade
de objetividade na comunicação de suas informações, muitas vezes se distancia da realidade econômica
que quer evidenciar, diminuindo assim sua utilidade para o processo decisório de alguns de seus usuários.

Levando em consideração o impacto utilitário de uma Demonstração de Valor Adicionado,


onde os dados evidenciassem a real contribuição da entidade empresarial para o processo de formação do
PIB Nacional, propõe-se neste trabalho, um modelo que, mesmo se distanciando um pouco do princípio
da competência contribuísse mais efetivamente para melhoria do processo de comunicação da
Contabilidade.

A contribuição deste modelo situa-se em evidenciar o valor adicionado gerado no período


independente da ocorrência das vendas mas, na simples produção ou agregação de valor pelo processo
produtivo à matéria prima.

Acredita-se que desta forma a informação contida na Demonstração de Valor Adicionado


torne-se mais próxima da realidade econômica que se propõe evidenciar.

Conclui-se, assim, que a relevância e a transparência das informações contábeis é um dos


aspectos de maior importância para a contabilidade que deve ser constantemente objeto de preocupação
dos que lidam com as informações contábeis. Espera-se oportunamente maior aprofundamento dos
estudos e maior divulgação dessa demonstração, haja visto sua utilidade para o processo de tomada de
decisão dentro da realidade atual das empresas.

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BIBLIOGRAFIA

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