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BIOCOMBUSTÍVEIS E O DESCASO AOS PROCESSOS HISTÓRICOS LOCAIS EM ANGOLA

Em meu artigo intitulado qual o modelo econômico ideal para Angola, menciono o risco social
a incorrer pela adoção de um modelo de desenvolvimento de produtividade e acumulação,
onde sua sustentação gera desigualdade pelo crescente pela tendência ao lucro capitalista em
detrimento aos "não capitalistas" pela a inclusão social das populações locais. A base para esta
afirmação, encontra-se baseada na importância necessária a se observar, nas condições
econômicas tradicionais locais, pela predominante característica de produção para a
subsistência alimentar destas regiões. Este fato, não é absolvido na sua totalidade pelo modelo
de desenvolvimento atual adotado, em que a geração de lucro, é determinada pelo uso
eficiente dos fatores de produção e diferença entre detentores de capital financeiro e
influencia política proporcionando a redução de custos.

O atual modelo de acumulação e geração de excedente capitalista, beneficia capitalistas em


forma de lucros extraordinários gerando maiores desigualdades na distribuição de renda e na
capacidade de implementação de projetos dada ao pouco e sistema tributário que promove a
re-distribuição da renda no país. Este modelo não prevê a inclusão social de zonas
desfavorecidas independente da contribuição no PIB. Isto implica dizer que boa parte desse
benefício ficaria para profissionais EMPREGADOS E DETENTORES DE CAPITAL (capitalistas) em
detrimento das populações de "especialização produtiva rural".

O uso de terras cultiváveis para a produçaõ de biocombustíveis, implica na desapropriação de


terras e extinçaõ de vilarejos tradicionais de atividade agrícola de subsistência. A produção de
biocombustíveis exigem areas extensas para a produçaõ de único produto por economia de
escala (maior produçõa a menor custo), utilização menor de mão de obra, e geralmente o
Milho ou a cana de açucar com único produto com insumo para produção do etanol e fonte
energética diversificada.

Tal projeto não deixa de ser uma alternativa interessante, porém carece de análises
importantes sobre os impactos reais sobre as localidades e povoados de cada região.O modelo
aprovado para a produção de bio-combustíveis em Angola, apresenta mas desvantagens do
que vantagens do ponto de vista de inclusão desenvolvimento local das regiões
predominantemente agrícolas, devido ao estágio pouco especializado tecnicamente que esses
povoados se caracterizam.

A produção de insumos agrícolas para a produção do biocombustível cria um setor


predominante de uso mecanizado e especializado de fatores de produção com tecnologias
especificas de produção induzem a demanda de trabalhadores menos qualificados em número
cada vez menor, a níveis igualitariamente comparáveis a de setores como os de extração e
refino de petróleo, geralmente de pouca geração de emprego se comparado a participação a
contribuição no PIB TOTAL.

Na visão do capitalista, o treinamento e adestramento exige investimento elevados em


capacitação de trabalhadores, o que nos leva a supor que o efeito multiplicador de benefícios
locais serão muito pouco significativos para as populações locais, um exemplo é o caso
Cabinda em que o setor Petrolífero de participação significativa na geração local, seus efeitos
diretos ainda se tornarem bastante questionável.

Observando a especialização local em regiões como Huambo , Bié nos deparamos com
processos tradicionais de produção predominantemente rural extremamente dependentes de
incentivos específicos para o seu fomento, e que enfrentam ameaça de extinção pelo modelo
de diversificação energética que se pretende.

As cooperativas são uma saída para a produção de volumes além da subsistência de forma
sustentável, em que o excedente escoaria para o atendimento do mercado interno.

Primeiro passo seria o estabelecimento de uma hierarquia de abrangência "horizontal" pelo


aproveitamento das vantagens comparativas igualitária se comparada ao modelo de
produtividade e acumulação de excedente capitalista.

A excassez de terras produtivas em angola e a elevada massa de populações que vivem da


subsistência, demanda soluções que mantêm a cultura de produção local, mantendo os
processos históricos de produçaõ rural característicos.

Os programas sustentabilidade alimentar via ONG´s (Organizações não governamental) é uma


prova de como as políticas devem estar voltadas para a sustentabilidade regional e não
somente voltas para os benefícios de capitalistas industriais, se olharmos o histórico de
regiões como o Huambo e Bié.

Não é negável a opção pelo biocombustível como fonte de diversificação energética porém,
verificamos a existência de uma alternativa que seduz somente os proprietários de capital, as
grandes empresas e burocracias governamentais, suportadas por alegados benefícios
ambientais e potencial rendimento energético: os biocombustíveis, sem qualquer citação de
contrapartida equivalente para as comunidades rurais.

Começando a utilizá-lo a produção em grande escala, podemos estar prerante uma tragédia
com resolução impossível: uma crise de alimentos. É esta a provável crise que enfrentaremos
depois do petróleo e da crise financeira acabar. Aliás, a produção de biocombustíveis começa
já a fazer-se sentir, prejudicando diversas sociedades, actualmente.

Nos últimos anos, os preços do trigo, milho, arroz e outros alimentos fundamentais para a
nossa alimentação diária aumentaram para o dobro ou até mesmo o triplo. É de salientar que
grande parte desse aumento ocorreu nestes últimos meses. À escala mundial, deparamo-nos
com motins e problemas sociais e políticos devido aos alimentos. Portanto a busca pela fonte
energéticas diversificadas são importantes, porém devemos nos voltar para estratégias que
possam dar sustentabilidade as essas localidades, como o fomento de cooperativas agrícolas a
criação de políticas de incentivo ao desenvolvimento do setor produtivo local rural via
cooperativas, e o estímulo a pequenas e médias empresas. Desde modo alcançar as metas do
milênio- reduçaõ da pobreza, estariam facilitadas.

Paulo Jorge Burity - Economista


Postado por PAULO JORGE BURITY PAIS DE OLIVEIRA às 08:13

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1 comentários:

Miguel Blasco disse...

Estimado Paulo,

A questão está bem colocada, se fará sentido uma aposta na diversificação energética, via
biocombustiveis, quando a independência alimentar não está assegurada?

Creio que a prioridade deve ser uma aposta na agricultura, as cooperativas podem ser uma
boa solução, como uma forma de reduzir a dependência alimentar mas também reduzir o seu
impacto a nível das importações. Inclusivamente, em certos produtos agrícolas poderá existir
uma aposta para a exportação. Mas também temos que ser conscientes que a agricultura em
África tem sido arrasada pelas politicas de espaços como a UE e os EUA que subvencionam
fortemente a sua agricultura e desta forma colocam os seus excedentes no mercado
internacional a baixo do custo de produção.

Perante um cenário de escassez alimentar e de alta de preços, é prioritário para o país reduzir
a sua exposição face aos produtos agrícolas importados, algo que só pode ser feito através da
produção interna e Angola tem condições ímpares para fazê-lo. É uma questão de definir
prioridades em função do grau de urgência.

Um Abraço,

Miguel.

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