Você está na página 1de 3

A INCLUSÃO SOCIAL ATRAVÉS DA EAD NO BRASIL

A história da EaD no Brasil vem de longa data. Uma das primeiras formas de curso
nesta modalidade foi através de correspondência. Um modelo de curso que marcou a
EaD no Brasil foi o telecurso, que era divulgado pelos meios de massa. Estas formas de
ensino tiveram como objetivo inicial oportunizar o acesso à educação para aquelas
pessoas que não puderam freqüentar a escola , no ensino presencial. Através do
telecurso muitos jovens e adultos puderam completar seus estudos à nível de ensino
fundamental ao médio.

Como se vê, a EaD , desde antes da internet, teve como função, diminuir as
desigualdades sociais e educacionais, proporcionando acesso ao conhecimento. De fato,
como foi ressaltado nos textos pesquisados, a educação à distância, devido ao seu baixo
custo e à evolução acelerada da tecnologia, tem permitido que o ensino chegue aos
lugares mais distantes, alcançando pessoas que, de outra forma, dificilmente teriam
acesso à educação. É preciso, porém, evitar o deslumbramento e o uso indiscriminado
das tecnologias por si e em si.

Sabemos que a inclusão social, neste século, só é possível através da educação. Por
exemplo, meus avós e pais, ainda no final do século XX, viviam no campo e,
praticamente tudo de que necessitavam para (sobre)viver, retiravam da roça. Eles não
tiveram estudo, mas nem por isso a vida se tornou impossível para eles, que, da sua
relação direta com a terra, obtinham o seu sustento. Hoje em dia, sem salário ou renda é
impossível viver autonomamente. E, a renda, cada vez mais, somente é obtida, hoje, se
o indivíduo preencher uma série de requisitos exigidos pelo mercado, entre os quais o
conhecimento. A inclusão social na época dos meus avós era relativamente simples de
ser alcançada. Naquela época, não havia luz elétrica, não havia televisão, não havia
telefone, veículos automotores eram raros, a moda era ditada pela costureira que vivia
na rua da esquina, não haviam planos de saúde, previdência pública ou privada também
não havia, a bolsa de valores não determinava com tanta força o rumo da política e da
economia, falava-se apenas uma língua (o que não causava nenhuma dificuldade), e,
era, perfeitamente possível viver com pouco ou nenhum estudo e com pouco ou nenhum
dinheiro.

Como dito, nossos avós e pais vivenciaram uma realidade diferente da nossa. Enquanto
antes a produção de conhecimento se dava de forma lenta, hoje “o ritmo precipitado das
evoluções científicas e técnicas, estão a determinar uma aceleração generalizada da
temporalidade social” (Pierre Lévy). Por exemplo, enquanto antes um pesquisador
demorava anos para que seu objeto de estudo fosse publicado em livros, hoje a pesquisa
científica e a divulgação dos resultados são realizados concomitantemente.

Também, na atualidade, o certificado de conclusão de escolaridade deixou de ser


suficiente para que alguém possa dizer que possui um currículo desejável. O
conhecimento, o estudo contínuo e o acesso às tecnologias passaram a ser
imprescindíveis para viabilizar a inclusão nas instituições sociais, organizacionais e
educacionais, que, por sua vez, têm sido fortemente influenciadas pela tecnologia .

A tecnologia, de fato, mudou nossa maneira de viver e alterou a forma de estar no


mundo e de interagir com ele. Por isso, é importante pontuar aqui sobre o papel da
escola para educar para as mídias e pelas mídias. Esta deve contribuir para a formação
de indivíduos criativos e críticos e não meros receptores de mensagens e consumidores
de produtos culturais.

Outra reflexão que se faz importante, quanto ao ponto, é se existe uma proposta
pedagógica nas instituições de ensino voltadas para a formação deste indivíduo.

Se existe, ainda é tímida e insipiente, pois, para implementar uma proposta pedagógica
apta a atingir o fim a que se destina, são necessárias políticas públicas envolvendo a
formação de professores, a aquisição e o acesso aos equipamentos, materiais didáticos e
pedagógicos, entre outros. E, tudo isso, sabemos, demanda um alto investimento
financeiro.

E, para além do aporte financeiro necessário, há um outro aspecto não menos


importante: Será que a sociedade que promove a exclusão social, quer (tem interesse, de
fato) implementar ações voltadas para a inclusão social e educacional? A integração das
TICs aos processos educacionais pode sim contribuir para a democratização das
oportunidades educacionais, para o acesso ao conhecimento e, para a diminuição deste
abismo, que tem de um lado a exclusão e de outro a desigualdade social. As tecnologias,
porém, não são mais do que meras ferramentas a serviço do ser humano. Sem o fator
principal, que é, justamente, o "querer a inclusão" dos excluídos, e nada valerá as mais
avançadas TICs e todo o capital necessário.

Essa é, justamente, a questão principal que devemos realmente tratar, se queremos falar
de inclusão social através da EaD.

De fato, não há como se falar em inclusão social através da EaD, sem falar em exclusão.
Será que a tão propalada inclusão social é, verdadeiramente, possível, quando sabemos
que a inclusão, em boa medida, se alimenta da exclusão? Na sociedade em que vivemos,
quem está incluído, em grande parte, deve isso a exclusão de outros tantos.

E, se isso é assim, o que pode levar aqueles que estão nos degraus mais altos da
pirâmide social a querer a inclusão da base da pirâmide? Pois, inclusão, neste caso, é
ameaça, é confronto acerca das regras estabelecidas, é possibilidade do incluído hoje,
deixar de sê-lo amanhã, porque este abriu passagem em um caminho em que não cabem
os despossuídos.

Por outro lado, todo este discurso de que se o indivíduo não tiver estudo, não
conseguirá a inclusão na sociedade, também pode ser questionado. Na verdade, a
CRISE ECONÔMICA que assola países desenvolvidos e em desenvolvimento, é
MASCARADA por IDEOLOGIAS que atribuem os desajutes estruturais e as
disparidades sociais à incapacidade de segmentos da população acompanharem o
desenvolvimento técnico. O discuso ideológico é de que "a falta de conhecimentos e de
competências técnicas é que inviabilizariam a inserção produtiva destas pessoas." Nas
palavras de um dos autores pesquisados, "os ineptos pagam por não terem se capacitado
para o exercício produtivo."

A falta de escolaridade é convertida na causa da não inclusão social, quando na verdade,


ela é a condição 'sine qua non', para manter a estrutura de classe que organiza política e
economicamente a sociedade capitalista. É preciso, por isso, evitar o deslumbramento
com teorias que colocam o conhecimento, a comunicação, a informação e o uso
indiscriminado das tecnologias em si e por si, no centro da vida social.

"Neste contexto, o debate sobre a relevância da escola deveria mobilizar os educadores.


Avessa às índoles autonomistas e competitivas, a escola revela-se espaço
INSUBSTITUÍVEL na vida social, pois é nela que se realiza a sociabilidade e a
convivência que se contrapõe ao exacerbado individualismo da sociedade atual."

Enfim, não podemos colocar a EAD como panacéia (a cura para todos os males). Essa é
uma visão simplista e romântica dessa modalidade de ensino. A EAD é um meio de
viabilizar oportunidades educativas aqueles que outrora não teriam chance, ajudando a
minimizar os efeitos da exclusão social. Todavia, ela por si só não faz a inclusão
acontecer, pois, como dito, ela está sujeita a fatores sociais, econômicos e culturais. Não
levar em consideração o contexto em que a EAD se desenvolve é o mesmo que “tampar
o sol com a peneira”.

A crítica aqui realizada não pretende desmerecer o papel das tecnologias de


comunicação e informação que permeiam a EAD, as quais, inclusive, são instrumentos
que fortalecem a Inteligência Coletiva e, protegem a Memória Coletiva. Não sem razão,
autores e pesquisadores dessa modalidade de ensino afirmam que essa memória coletiva
tem se ampliado através da sociedade em rede, onde o diálogo, a interatividade e a troca
de informações acontecem em alta velocidade e sem fronteiras.

Porém, o que queremos ressaltar é que o sucesso da inclusão social através da Ead, irá
depender da maneira como esta mudança tecnológica será conduzida na sociedade e na
instituição educacional e, também, das ações que estão sendo implementadas, pois são
elas que determinarão se o uso das tecnologias contribuirá para diminuir o aumentar as
desigualdades sociais.

Você também pode gostar