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Céu, Inferno e a vida após a Morte_____________________

1 – Introdução___________________________________________________

O que acontece com as pessoas após a morte? Corpo e alma estão separados? Quais
os eventos que se sucederão após o instante final de nossas vida nessa terra? São os ímpios
aniquilados ou sofrerão o tormento eternamente? O inferno é um lugar de fogo e escuridão
literalmente, ou apenas um lugar longe da presença de Deus? Como será o Céu? O lugar
onde viveremos na eternidade é um lugar físico ou espiritual? As almas ficam em estado de
inconsciência até o Juízo Final?
Algumas dessas perguntas devem ter em algum momento surgido em nossas
mentes. Tentaremos mostrar o que as Escrituras podem (e também o que não podem) dizer
a respeito dessas e outras perguntas, que dizem respeito ao que se passa após a morte.
Nosso estudo será estruturado da seguinte maneira: primeiramente mostraremos o
que a Palavra nos diz a respeito da morte. Tendo tratado deste assunto, mostraremos como
era a visão dos judeus no AT a respeito do que ocorria após a Morte. Passaremos então a
tratar do destino final de todos homens. Por último, trataremos do mais polêmico assunto: o
que se passará entre a morte e o destino final.

2 – A Morte, segundo a Bíblia______________________________________

No principio, Deus criou o homem e lhe soprou nas narinas a respiração da vida, e o
homem se tornou um ser vivo (Gn 2.7). O homem foi criado, seguindo literalmente o relato
de Gênesis, do pó da Terra (no hebraico, homem é Adam, que se escreve e soa parecido à
adamah, que significa solo, chão). O homem foi criado para viver eternamente e Deus lhe
colocou no coração a eternidade (Ec 3.11). O homem foi criado a imagem e semelhança de
Deus (Gn 1.26), e se tivesse vivido de acordo com a vontade de Deus teria vivido
eternamente, sem conhecer a morte.
Porém, o homem, a quem Deus deu a liberdade de escolha, caiu em pecado.
Revoltando-se contra seu Criador e fazendo o que lhe havia sido proibido, o homem foi
considerado culpado de seu pecado. E do pecado é que surgiu a morte. Esta verdade é
mostrada em muitos lugares das Escrituras. Após a queda do homem, Deus lhe diz que o
homem, que foi feito do pó, ao pó tornaria (Gn 3.19). Rm 5.12 afirma claramente:
“Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a
morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram.” Deste
texto, podemos ver que o pecado entrou no mundo por um só homem, ou seja no Pecado
Original de Adão. Pelo pecado, a morte passou a existir. Rm 6.23 afirma que o salário do
pecado é a morte.
Vemos portanto que a morte é algo que Deus não criou inicialmente, mas passou a
existir como resultado do pecado. Assim, nas Escrituras a morte está intimamente ligada ao
pecado. Podemos ver isso claramente nos regulamentos da Lei, dada através de Moisés.
Textos como Lv 5.2, Lv 11.31, Lv 11.35 e Nm 9.6 mostram que um homem se tornava
imundo ao tocar em um cadáver ( a não ser dos animais considerados não-impuros, como
cordeiros e pombas). Além disso, eram considerados impuros os leprosos, e outras pessoas
que tivesse doença de pele (Lv 13), mulheres na sua menstruação (Lv 15.19), homens que
tivessem fluxo seminal (Lv 15.16). Estas pessoas eram consideradas impuras porque seu
corpo demonstrava sinais de morte, seja pela saída de fluídos vitais, seja por terem sua
carne em estado de deterioração. Assim, na Lei, a morte era sinal de impureza, pois estava
ligada ao pecado, que é abominação para Deus.
O homem, então, desde Adão nasce no pecado (Sl 51.5) e portanto, está destinado a
morrer um dia (Hb 9.27).
No entanto, Deus, em sua misericórdia infinita, concedeu ao homem que possa
escapar da Morte. Esta é uma das esperanças centrais do Cristianismo, como Paulo bem
mostrou: “Se, como homem, lutei em Éfeso com feras, que me aproveita isso? Se os mortos
não ressuscitam, comamos e bebamos, que amanhã morreremos.” (1 Co 15.32). Deus pela
sua graça permite então que o homem possa escapar da morte. E “visto que a morte veio
por um homem, também por um homem veio a ressurreição dos mortos.” (1 Co 15.21).
Assim, como cristãos, temos a certeza de que através da morte de Jesus podemos vencer a
morte (1 Co 15.26) e seremos ressuscitados um dia para viver eternamente com Deus (Jo
6.58, Jo 11.26).
Assim, embora saibamos que, como homens nascidos no pecado, um dia
morreremos, temos a certeza em Cristo Jesus que a morte não será o fim. Esta é a certeza
que temos apenas pela fé, e todos os salvos a possuem. Dito isto, podemos então passar a
estudar o que a Bíblia tem a nos dizer a respeito do que se passa após a morte.
A questão do que acontece após a morte é central em qualquer religião, o que
expressa a preocupação humana com seu destino final.

3 – A concepção da vida após a morte no Antigo Testamento______________

No Antigo Testamento, temos que a revelação de Deus ainda não era como a temos
hoje. Assim, muito do que foi revelado apenas após a vinda de Cristo não estava presente
no AT.
Os judeus não tinham uma concepção de vida após a morte como a possuem os
cristãos. A morte era vista como o fim natural. Assim, as bênçãos de Deus eram uma vida
longa e plena, ter muitos filhos e morrer em paz, tendo um sepultamento honroso (podemos
ver isso, por exemplo, em textos como Pv 10.27, Sl 127.3). Não havia uma visão muito
clara de retribuição após a morte, por isso era tão problemático para os justos do AT
entender que muitas vezes os ímpios prosperam nessa vida e os justos sofrem. Esta questão
fica clara, por exemplo, quando lemos o livro de Jó. Quanto aos mortos, estes eram
enviados para um lugar, que os israelitas chamavam de Xeol. Muitas das nossas traduções
não mantém a palavra Xeol, mas a traduzem. Esta palavra (que aparece 66 vezes no Antigo
Testamento) é traduzida por sepultura, inferno ou cova, sendo duvidoso que possa ser
traduzida por inferno, no sentido que aplicamos esta palavra. O Xeol era a forma das
pessoas do AT afirmarem que a morte não termina a existência humana. O Xeol é o reino
dos mortos, ou a forma de existência após a morte. Os hebreus acreditavam que todos os
mortos iam para o Xeol. Assim Jacó diz: “Chorando, descerei a meu filho até o Xeol” (Gn
37.35, onde muitas versões traduzem Xeol por sepultura). O Xeol é descrito como um lugar
escuro e triste (Jó 10.21-22) e com apetite insaciável (Pv 27.20). Embora não existisse uma
idéia de lugares distintos para os ímpios e justos, já no AT começou a surgir a idéia de que
os justos teriam diferente fim em relação os ímpios, escapando do poder do Xeol. Daniel é
um dos primeiros profetas a mostrar a idéia da ressurreição e retribuição para os que já
morreram: “Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e
outros para vergonha e horror eterno.” (Dn 12.2). Porém, somente no Novo Testamento é
que a concepção de vida após a morte e julgamento dos mortos começou a ser estabelecida
de forma mais clara. Assim, quando deparamos com textos do AT a respeito da morte,
temos de ter em mente o contexto no qual foram escritos. Tendo estudado a visão vétero-
testamentária da morte, passaremos a ver o que as Escrituras nos mostram a respeito do
destino final de todos os homens.

4 – O destino final dos homens segundo as Escrituras____________________

De uma maneira geral, todos os homens tem uma das seguintes concepções a
respeito do destino do homem após a morte:
• Céu: uma existência de alegria, em uma Paraíso, com o Criador, ou mesmo tomando
parte de uma realidade espiritual superior, ou se integrando a energia atrás de toda
criação; variações destas idéias, sempre com uma existência superior a atual.
• Inferno: uma existência de punição e tristeza, com demônios, distante do Criador,
vivendo em tormento.
• Aniquilamento: a existência cessa, corpo e alma, personalidade e memórias se
desintegram.
• Transmigração da alma: o espírito renasce em um feto ou recém-nascido.
• Reencarnação: o espírito renasce em outra entidade viva, não necessariamente um
homem, podendo ser desde formigas até anjos.
Quanto a essas concepções, a Bíblia é clara contra as duas últimas. Textos como 1 Co
15.22 e 42 e Hb 92.7 deixam bem claro que não haverá uma outra existência distinta da
nossa atual existência e em outra forma. A Bíblia nos mostra que todos os homens tem
apenas uma oportunidade de existência. Assim, não há base bíblica para a reencarnação.
Sobre as outras 3 concepções veremos o que a Palavra diz.

Inferno___________________________________________________________________

Primeiramente, vamos ver o que as Escrituras nos falam sobre o Inferno. No NT temos
duas palavras que são geralmente traduzidas por inferno.
A primeira delas é Hades. Hades é o termo grego para o mundo dos mortos, mesma
idéia contida no hebraico Xeol. Na Septuaginta; versão grega do Antigo Testamento,
escrito quase todo em hebraico; a palavra Hades é usada para traduzir Xeol. As ocorrências
dessa palavra no NT são 11: Mt 11.23; Mt 16.18; Lc 10.15, Lc 16.23; At 2.27,31; 1Co
15.55; Ap 1.18; Ap 20.13-14. Dessas ocorrências temos que algumas mostram claramente
que a palavra não deve ser traduzida por inferno. Por exemplo, At 2.31, na qual o texto diz:
“prevendo isto, Davi falou da ressurreição de Cristo, que a sua alma não foi deixada no
hades, nem a sua carne viu a corrupção.” Vemos que a alma de Jesus, depois de morto, não
ficaria no inferno, mas é teologicamente correto afirmar-se que a alma de Jesus, após sua
morte estava no mundo dos mortos.Muitas traduções trazem então, ao invés de inferno,
sepultura ou morte no lugar de hades. Além disso, em 1 Co 15.55 a palavra é usada no
contexto que não dá a idéia de inferno. Neste texto, Paulo fala sobre a ressurreição dos
justos, e diz: “Onde está, ó hades, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?” A
idéia aqui, novamente, não é de que hades signifique inferno, pois nesse caso estaríamos
dizendo que os justos estão no inferno até sua ressurreição.
A segunda palavra traduzida por inferno é Geena. Geena é uma corruptela (palavra
escrita ou pronunciada incorretamente) de Vale de Hinon, que era uma depressão profunda
que ficava ao sul/leste de Jerusalém. Ali, foi instituído o culto a Moloque, no qual crianças
eram queimadas para o ídolo (2 Re 21.36, 2 Re 23.10). Mais tarde, este lugar se tornou um
lixão, no qual eram queimadas as carcaças de animais e criminosos executados. Assim, este
lugar era a melhor imagem que os judeus tinham do inferno, com sua fumaça e fogo
constantes, sua associação com o pecado, e com o lixo que era ali queimado. A palavra
Geena ocorre 12 vezes no NT: Mt 5.22, 29, 30; 10.28; 18.9; 23.15, 33; Mc 9.43, 45, 47; Lc
12.5; Tg 3.6. Esta palavra é sempre usada para representar inferno, lugar de condenação
final.
Vemos, portanto, que as Escrituras nos indicam dois lugares distintos para os ímpios.
Apocalipse 20.14 diz que o Hades será lançado dentro do lago de fogo. O lago de fogo é o
nome dado por João para o lugar de condenação eterna. Assim, o inferno final, destino de
todos não-salvos, é o lago de fogo. Discutiremos quando falarmos de estado intermediário a
noção dos ímpios já estando em um lugar de condenação após sua morte, neste sentido, no
inferno. Porém, no sentido de lugar de condenação final, o inferno é o que é descrito como
o Lago de Fogo por João em Apocalipse.
O Inferno foi preparado não para os homens, mas para Satanás e seus anjos (Mt 25.41).
O Inferno é descrito, primeiramente, como um lugar de total separação de Deus (Mt 25.41,
2 Ts 1.9). É também, um lugar de choro e ranger de dentes (Mt 24.51), trevas (Mt 25.30),
fogo (Mt 25.41) e enxofre (Ap 14.10). Algumas versões da Bíblia trazem também que o
Inferno é um lugar onde o verme não morre, assim como o fogo não se apaga (Lc 9.44, 46 e
48).
Sobre a separação de Deus, isso não indica que Deus não estará presente no Inferno,
mas sim que os que ai estiverem não terão nenhum relacionamento com Ele. Isto por si só é
uma terrível realidade.
Quanto às descrições de tormento físico que a Bíblia mostra, cada vez mais teólogos
tem entendido que estas são apenas símbolos de uma existência longe de Deus, ao invés de
tomá-las como literais. Sobre este ponto não podemos ser dogmáticos, mas a Bíblia parece
indicar que esteja em vista aqui realmente sofrimentos físicos.
No Inferno estarão Satanás e seus anjos (Mt 25.41, Ap 20.10), porém, é um erro se
concluir que o Inferno será governado por Satanás. Satanás estará no Inferno para ser
castigado, como podemos ver pelas passagens lidas, e não para governar.
No Inferno estarão todos os que não são salvos, ou como Apocalipse diz, todo que não
têm o seu nome escrito no Livro da Vida (Ap 20.15). Estes foram determinados desde a
fundação do mundo (Ap 17.8). Todos homens deveriam ser condenados ao Inferno, “pois
todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Rm 3.23). Se alguém se salva é pela
misericórdia de Deus.
Outra questão importante, muitas vezes levantada, é a respeito da duração do tormento
no Inferno. Alguns teólogos; sendo esta a posição da Igreja Adventista, Testemunhas de
Jeová, e cristãos liberais geralmente; defendem que os ímpios não terão um castigo eterno,
mas serão destruídos em algum momento, seja depois do Juízo Final, seja após um tempo
no Inferno. Esta doutrina é conhecida como Aniquilacionismo. O Aniquilacionismo,
porém, não tem base bíblica, sendo mais uma doutrina criada por homens diante da
incapacidade de compreender a justiça de Deus. Podemos ver isso claramente, por
exemplo, quando Jesus se refere ao castigo como eterno, em Mt 25.46. Neste mesmo texto,
Jesus está falando que a vida para os justos é eterna. É um malabarismo de interpretação
querer dizer que o castigo não seja eterno, enquanto a vida o é. Textos como Mt 8.12
mostram que haverá no Inferno choro e ranger de dentes, o que não condiz com uma
aniquilação, pois somente os que existem podem chorar. Semelhantemente, 2 Ts 1.9 diz
que os ímpios “sofrerão, como castigo, a perdição eterna, banidos da face do Senhor e da
glória do seu poder”. Além da palavra eterna, temos que só os que existem podem ser
separados da presença de Deus. Com relação a afirmação de que o tormento eterno não
condiz com a bondade de Deus, sendo um castigo injusto e desproporcional, temos que este
argumento por si só vai contra o Aniquilacionismo, pois caso Deus não quisesse impor
nenhum sofrimento aos ímpios poderia deixar que suas almas simplesmente deixassem de
existir na morte, mas no entanto estes ressuscitarão, e portanto algum tipo de castigo deve
haver. Além disso, não conhecemos o caráter de Deus para poder julgar suas obras, e além
disso, nada nos diz que os ímpios deixarão seu caráter de pecado após a ressurreição e por
isso, serão sempre dignos de castigo. Um último argumento levantado pelos
Aniquilacionistas é o de que os justos não poderão viver em alegria na eternidade
conhecendo que pessoas que amavam estão em tormento. Esta, no entanto é uma questão
inadequada. Se pensarmos chegaremos a conclusão de que ninguém ama tanto as pessoas
quanto Deus; a ponto de ter enviado seu próprio filho por nossos pecados (Ef 2.4-7); no
entanto, nada indica que Deus estará triste eternamente por aqueles que se perderam. Desde
que na eternidade os santos serão à semelhança de Deus, podemos concluir que todas as
manifestações dEle nos alegrará, inclusive a manifestação da sua justiça. Tendo colocado
luz das Escrituras sobre o erro do Aniquilacionismo, vemos que a Bíblia exclui totalmente a
possibilidade de aniquilação de alguém, e só existe dois destinos para o homem: a
eternidade com Deus, ou a eternidade longe dEle.
Outra questão sobre o Inferno é que nele haverá diferentes níveis de castigo. Vemos
isso, em textos como Mt 11.21-24 e Lc 12.47-48. Aquele que teve grande conhecimento de
Deus será mais castigado do que aquele que não teve conhecimento. Além disso, os ímpios
serão julgados segundo suas obras. No Julgamento do Grande Trono Branco (Ap 20.11-12)
Deus verá todas as obras, que o livro de Apocalipse diz estar escrita em livros, e o castigo
será de acordo com estas obras.
Resumindo, o Inferno é portanto um lugar de castigo eterno, e todos os que não
aceitaram a Jesus como seu Salvador para lá irão. O Inferno é uma realidade, ensinada pelo
próprio Jesus, um lugar de tristeza e sofrimentos, onde cada homem pagará pelos seus atos
de desobediência. Lá Satanás será atormentado, junto com os outros anjos que com ele
caíram, e não exercerá nenhum controle. Graças a Deus que nos amou e enviou seu Filho
para que para lá não tivéssemos de ir, dignos que somos desse fim.

Céu (ou a eternidade dos salvos com Deus)_____________________________________

Primeiramente, façamos um comentário a respeito da palavra Céu, pois esta carrega


muitas e diferentes pré-compreensões. A palavra Céu é usada na Bíblia em dois sentidos
diferentes. Primeiro, é usada no sentido de firmamento, acima da terra. Neste sentido esta
palavra é usada, por exemplo, em Gn 1.8, Gn 1.14 Mt 16.2-3, por exemplo. A palavra Céu
é usada também como o lugar da habitação de Deus. Este é o sentido da palavra, por
exemplo, em Sl 2.4, Sl 11.4, Sl 103.19, Mt 19.21, entre muitos outros. Temos que estes
dois significados da Palavra estão, desde o princípio, fortemente associados na mente
humana. Assim, ainda em nossos dias a maioria das pessoas associa que Deus está em
algum lugar acima de onde estamos, no firmamento. Assim, os homens de Babel queriam
construir uma torre que chegassem até onde Deus estava (Gn 11.4), Jacó teve uma visão
onde uma escada era colocada na terra e chegava até os céus (Gn 28.12). Porém, esta é uma
visão limitada do Céu, como lugar da habitação de Deus, sendo mais uma simplificação da
verdade para o homem. Assim como o homem não é capaz de conhecer tudo que existe
acima da terra, ele não é capaz de conhecer o lugar da habitação de Deus.
A respeito da expressão “habitação de Deus” devemos fazer ainda uma observação.
Deus está além de nossa imaginação e definir como Ele é, vai contra sua própria
característica. No entanto, sabemos que Deus embora onipresente (1 Re 8.27, Sl 139.8, At
7.49), se manifesta em lugares específicos. È assim em todas as manifestações de Deus na
Palavra, por exemplo, quando Deus mostrou parte de sua glória a Moisés (Ex 33.12-23).
Deus é mostrado sempre assentado no seu trono no Céu (1 Re 22.19, Sl 11.4, Mt 23.22, Ap
4.2-3). Logo, embora Deus esteja presente em todos lugares, sua presença está, ao mesmo
tempo, em maior glória em um lugar especifico. Esta verdade é bíblica, mas não podemos
afirmar disso que Deus tenha um corpo, e habite especificamente em um lugar, de onde
controla tudo e tudo vê. Isto é uma heresia. Deus não é limitado pelo tempo-espaço, e nem
a mais brilhante mente do mundo é capaz de compreendê-lo, pois Ele “enche o céu e a
terra” (Jr 23.24).
Quanto ao Céu, temos como já vimos, que este é o lugar da habitação de Deus. O
Céu não se encontra no mundo onde vivemos, não sendo possível chegar até ele (Jo 13.33),
mesmo que se faça uma nave que viaje acima da velocidade da luz. Assim, telescópios e
outros equipamentos astronômicos nunca detectaram e nem detectaram o Céu. O Céu é uma
realidade transcendental a nossa. Paulo o chama de o Terceiro Céu (2 Co 12.2), para
diferenciar da atmosfera e do espaço. Somente em Espírito alguém pode ir até o Céu: foi
assim com Enoque (Gn 5.24), Elias (2 Re 2.11), Paulo (2 Co 12.2) e João (Ap 4.1-2).
Porém, não devemos pensar no Céu como uma realidade apenas espiritual, como muitas
religiões pensam. O Céu é um lugar físico, embora distinto de nossa realidade. Vemos isso
por exemplo, no fato de Jesus ter ido para os céus após ter ressuscitado em corpo físico,
embora glorificado. Jesus não era um espectro quando apareceu a seus discípulos, vemos
isso pois seus discípulos podiam tocá-lo (Lc 24.39), no entanto ele foi para os céus e
assentou-se a direita de Deus (Mc 16.19, At 1.11). O Céu é descrito como um lugar de
grande glória por João em Apocalipse, em sua visão do Capítulo 4. Não poderia ser
diferente, por ser o lugar da habitação de Deus. Não somos capazes de compreender
totalmente como é o Céu.
Se fizemos toda esta discussão a respeito do que significa Céu, foi com o intuito de
termos de forma clara onde será a eternidade com Deus. A Bíblia mostra que os santos que
morreram com Deus estão com Ele nos Céus. Porém, como veremos melhor quando
discutirmos estado intermediário, isto ocorre antes da ressurreição. A Bíblia nos mostra que
após a Segunda Vinda de Cristo, nosso mundo, terra e céus, ou seja todo a realidade que
vivemos, será destruída e deixará de existir (Is 65.17, 2 Pe 3.4-7, Ap 20.11, Ap 21.1,5).
Uma nova criação será realizada, novos céus e nova terra (Ap 21.1), e será nesta nova
criação que os salvos viverão pela eternidade com Deus (Ap 21.3, Ap 22.5). Assim, é
impróprio se afirmar que as pessoas viverão na eternidade com Deus nos Céus, a não ser
que se use a palavra Céu, como o lugar da presença de Deus. Como vimos, não será no
Céu, onde Deus habita com seus anjos e santos, que viveremos na eternidade. Neste
sentido, o destino final dos salvos é a nova criação, o paraíso de Deus reservado para os
seus.
A respeito da nova terra e céus; assim como não somos capazes de compreender
toda as desgraças do Inferno, não podemos compreender todas as glórias da eternidade com
Cristo. A Bíblia nos mostra alguns aspectos da eternidade com Cristo:
• Os salvos serão corpo e espírito. Todos os que morrerem com Deus serão
ressuscitados em corpos glorificados. Em especial, vejamos 1 Co 15.35-58. Neste
texto, Paulo fala a respeito de como serão os corpos glorificados. Paulo mostra que
teremos corpos espirituais e incorruptíveis e em glória muito maior do que nossos
corpos naturais. Este novo corpo é continuidade do nosso corpo natural, como
podemos ver na analogia da semente que Paulo utiliza. Outro fato a respeito do
corpo que terão os salvos é que este será como o de Jesus após sua ressurreição (1
Jo 3.2). Jesus após ressuscitado tinha um corpo que aqueles que o conheciam eram
capazes de reconhecer (Mt 28.8, Lc 24.36-40). Para que os discípulos no caminho
de Emaús não o reconhecessem foi necessária uma intervenção especial (Lc 24.16).
Além disso, Jesus tinha carne e ossos e algumas das marcas da crucificação. Porém,
era capaz de se mover miraculosamente para lugares distantes (Lc 24.31, Jo 20.19).
Vemos que o corpo de Jesus era semelhante ao que tinha antes de morrer, porém era
diferente. Cristo recebeu um corpo que estava além de nossa realidade atual; não se
reduzia a ela. Assim, a nova criação será algo além da velha criação, na qual
vivemos, e os corpos dos salvos serão próprios para esta existência. A Bíblia ensina
que o homem redimido terá, após sua ressurreição, um corpo, e não será um espírito
apenas. Na verdade, nada há de errado na matéria, criada por Deus, como muitos
que seguem a idéia de um estado espiritual na eternidade dizem. A criação será
redimida do pecado quando Deus ressuscitar os seus santos (Rm 8.21-23). Além
disso, no Inferno os ímpios serão atormentados em um corpo físico e não serão
apenas espíritos.
• A eternidade é marcada por bênçãos que não podemos imaginar. Será uma
existência onde não haverá tristeza, dor e nem morte (Ap 21.4). Isto é esperado, pois
não haverá mais o pecado. Apocalipse 21 e 22, até o versículo 5, mostram algumas
características da vida eterna. Será marcada pela dependência de Deus e obediência
a Ele. Deus e Cristo habitarão entre os homens, e estes viverão eternamente
desfrutando desse relacionamento, que é tão maravilhoso que mesmo serão capazes
de ver a face de Deus. Os santos servirão a Deus, e aprenderão a cada dia da
eternidade sobre sua maravilhosas verdades.
• Não somos capazes de compreender por inteiro a realidade na qual viveremos com
Cristo, pois esta é muito além de nossas capacidades como homens pecadores,
vivendo num corpo pecaminoso. Seria como um feto querer compreender como
seria sua vida após o nascimento, ou um cego de nascença querer entender como
são as cores. Pelo contrário, “Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais
penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam”
(1 Co 2.9). Sendo assim, devemos tirar de nossas mentes idéias a respeito da
eternidade como um lugar vazio, onde os salvos ficarão boiando na essência
espiritual, ou um lugar onde as pessoas não terão mais vontade, entendimento,
memória, ou seja, deixarão de ter identidade. Pelo contrário, o homem terá na
eternidade, memória de quem é e já foi e será capaz de conhecer seus entes
queridos.
• Seremos como Jesus é (Rm 8.17, 1 Co 2.16, Lc 20.36). Isto responde boa parte dos
questionamentos feitos muitas vezes por nossa mente carnal. Por exemplo,
retomando o que já dissemos na discussão sobre o inferno, não nos entristeceremos
pelos que se perderam, assim como Cristo não é mostrado chorando pelos cantos
pelos que se perderam em nenhum parte da Bíblia.
• Assim como no Inferno haverá diferentes castigos, a Bíblia ensina que no Céu
haverá recompensa para os atos que os salvos realizaram nessa vida. Assim, um
copo de água fria dado a alguém que seja discípulo de Cristo valerá galardão da
parte de Deus (Mc 9.41). As obras feitas para o Reino de Deus levarão o salvo a
receber seu galardão (1 Co 3.8-14), e Jesus voltará trazendo o galardão para todos
(Ap 22.12). Não sabemos o que será esse galardão, e nem devemos trabalhar para
estarmos recebendo galardão, mas sim pelo amor de Cristo. Não é nada além de
trabalho de uma mente apegada a esse mundo achar que haverá inveja ou tristeza na
eternidade pelo galardão que cada pessoa recebeu. Apesar de termos galardão por
nossas obras, isto não significa que alguém seja salvo por obras. Pelo contrário,
todos são salvos apenas pela graça.
• No Céu não haverá casamentos, uma vez que não há a necessidade de filhos (Mt
22.30). Isto não significa que não haverá distinção de sexo. As pessoas manterão
sua identidade na eternidade. Não há na Bíblia porém texto que mostre como será a
aparência que teremos, se de jovens ou se de quando morremos. Estas e muitas
questões não podem respondidas e respondê-las é entrar no campo da especulação.
Fica como um exercício de imaginação.
Resumindo, a eternidade dos salvos será marcada por grandes alegrias e maravilhas, as
quais sequer somos capazes de compreender agora. A maior benção será a presença de
Deus e o relacionamento com Ele. A eternidade será vivida em um lugar físico, embora
diferente de nossa realidade, e os salvos terão corpos, embora glorificados e muito mais
gloriosos que os que hoje temos.
Tendo estudado como será a eternidade com Deus e longe dEle, passemos a ver a
questão do que ocorre entre a morte e o início desta eternidade. Com relação a quem viverá
a eternidade com Deus ou quem viverá longe dEle, isto e algo que exige um estudo mais
detalhado, mais deixamos dois importantes fatos: ninguém deve julgar quem irá para o
Inferno ou quem será salvo; mas caso, uma pessoa tenha dúvida a respeito de sua salvação,
este é um bom indicativo de que precisa ainda se entregar totalmente a Deus.

5 – Estado Intermediário ou o sono das almas?_________________________

Já debatemos o porquê da morte existir, já debatemos também como é o estado final de


salvos e não-salvos. A última questão é o que ocorre entre a morte e a ressurreição. Existem
duas opiniões principais.
A primeira é conhecida como a doutrina do sono das alma, ou psicopaniquia. Esta
doutrina afirma que entre a morte a ressurreição a alma fica inconsciente , dormindo até a
ressurreição do corpo. Os principais pressupostos da doutrina do sono da alma são o
alegado fato de que a alma é intimamente ligada ao corpo, assim, sem o corpo a alma
estaria dormente, não podendo ter existência independente; e a noção de que compreensão,
sentimentos e raciocínio sejam funções cerebrais, sendo assim, morto o corpo, a alma não
poderia se manifestar. São usados como base bíblica, textos que mostram a inatividade dos
mortos (como por exemplo, Sl 115.17) ou descrevem a morte como um sono (por exemplo,
Dn 12.2). Esta doutrina é conhecida desde os primeiros tempos da Igreja, sendo que
Eusébio, um dos primeiros pais da Igreja, tinha conhecimento de uma seita na Arábia que
tinha essa concepção. Durante a Idade Média havia bem poucos psicopaniquianos, e na
reforma alguns anabatistas defendiam essa idéia, tendo levado Calvino a escrever um
artigo contrário a idéia, chamado Psychopannychia. Atualmente esta idéia é defendida por
grupos como os Adventistas. No entanto, esta não é uma doutrina das igrejas reformadas, e
veremos que a Bíblia não dá base para o sono da alma. Em relação ao argumento da
necessidade de cérebro para que a alma possa se expressar, esta nada mais é do que uma
idéia materialista, que cai diante da própria existência de Deus, que não precisa de cérebro
para se manifestar de forma inteligente e gloriosa.
A segunda opinião a respeito do que ocorre imediatamente após a morte é conhecida
como Estado Intermediário. Esta doutrina diz que as almas dos mortos, não ficam em
estado de sono, mas sim em consciência.
Os salvos logo após sua morte são levados para a glória de Deus. Assim, Jesus disse ao
criminoso na cruz: “Hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23.43). Os defensores do sono da
alma geralmente argumentam ou que Jesus não poderia dizer que encontraria aquele
homem no Paraíso naquele dia porque desceu para pregar a espíritos em prisão (segundo 1
Pe 3.19) ou que Jesus disse: “eu lhe digo hoje, estarás comigo no paraíso”. Primeiramente,
não nos é dito em que tempo Jesus desceu em espírito a pregar a espíritos em prisão, e ele
pode ter ido até o Paraíso antes disto, logo encontrando com este homem. Além disso, esta
mudança proposta na frase é artificial, e estranha a alguém que estava em agonia para
respirar crucificado, usando uma palavra óbvia.
Outro texto que mostra o estado intermediário é a parábola do rico e Lázaro (Lc 16.19-
31). Nesta parábola Lázaro é mostrado em alegrias nos seio de Abraão enquanto o rico está
em um lugar de tormento. Assim, Jesus não mostra os dois, que morreram, como em estado
inconsciente, mas sim já recebendo retribuição e em consciência.
Além disso, temos textos que mostram que o espírito (ou alma) é separado do corpo na
morte. Exemplos são Gn 35.18, Ec 12.7, At 7.59. Além disso, em 2 Co 5.8, Paulo diz estar
confiante em deixar seu corpo para habitar com o Senhor, e não para descansar até sua
ressurreição. Semelhantemente, em Fp 1.21-24, Paulo diz que não sabe se é melhor
continuar vivo trabalhando ou morrer para estar com o Senhor. Paulo novamente não dá
chance a interpretação de que esperava ficar em um estado inconsciente. Temos também,
que em Ap 6.9-10, as almas dos que foram mortos aparecem clamando a Deus nos céus por
justiça. Jesus diz em Mt 22.31-32 que Deus é Deus de vivos, referindo-se aos patriarcas. Se
os patriarcas estão em um estado de sono, esta frase perde seu sentido. Quanto aos textos
que os defensores do sono da alma usam, já mostrados antes, estes nada mais são do que
textos que mostram a perspectiva humana da morte, apenas e não servem para o propósito
que são usados.
Como vimos, as Escrituras afirma que os salvos estarão logo após sua morte no Céu. A
existência será já de alegrias, porém incompleta, assim como estas pessoas ainda não
estarão completas, pois seus corpos ainda não ressuscitaram. Quanto aos ímpios, estes
também estarão, como mostra a parábola de Lázaro, em consciência e sofrendo tormentos.
O lugar onde a alma dos ímpios estará não é tecnicamente o Inferno, mas é um lugar de
tormento, principalmente por estes terem consciência de que aguardam o julgamento final.
Tendo estabelecido que a alma estará em um estado intermediário entre a morte e a
ressurreição do corpo, nos restam duas questões. A primeira é a doutrina do purgatório e a
segunda a ordem das ressurreições.
Em relação a doutrina do purgatório, esta foi uma doutrina teorizada pelo Papa
Gregório I em 539DC. Para estabelecer esta doutrina, ele usou um trecho do livro apócrifo
de 2 Macabeus:
“Puseram-se em oração, suplicando que o pecado cometido fosse totalmente cancelado.
O nobre Judas pediu ao povo para ficar longe do pecado, pois acabava de ver, com seus
próprios olhos, o que tinha acontecido por causa do pecado daqueles que tinham morrido na
batalha. Então fizeram uma coleta individual, reuniram duas mil moedas de prata e
mandaram a Jerusalém, a fim de que fosse oferecido um sacrifício pelo pecado. Ele agiu
com grande retidão e nobreza, pensando na ressurreição. Se não tivesse esperança na
ressurreição dos que tinham morrido na batalha, seria coisa inútil e tola rezar pelos mortos.
Mas, considerando que existe uma bela recompensa guardada para aqueles que são fiéis até
à morte, então esse é um pensamento santo e piedoso. Por isso, mandou oferecer um
sacrifício pelo pecado dos que tinham morrido, para que fossem libertados do pecado.” (2
Mc 12.42-46)
Esta doutrina foi aceita pela Igreja Católica Romana no Concílio de Florença em 1439.
Segundo esta doutrina, o Purgatório não é um nível intermediário entre Céu e Inferno,
mas um lugar onde a alma dos salvos que ainda precisam pagar por algum pecado vão, até
serem purificadas e poderem entrar no Céu. O sofrimento no fogo do Purgatório é terrível,
sendo um dia no Purgatório pior do que mil dias de sofrimentos na terra. Para ajudar uma
alma no purgatório faz-se orações, missas e esmolas para os que já morreram.
A doutrina do Purgatório foi uma das mais duramente combatidas pelos reformadores, e
vai totalmente contra a Palavra de Deus. A Bíblia nos afirma em Rm 8.1 que nenhuma
condenação há para os filhos de Deus. No entanto, por esta doutrina é necessário
purificação antes da salvação total. O próprio Jesus afirma que se o Filho nos libertar,
seremos verdadeiramente livres (Jo 8.36). Afirmar a necessidade de um purgatório é
diminuir o valor do sacrifício de Cristo por nossos pecados. Esta doutrina é uma heresia a
Palavra de Deus.
Por último, em relação a ordem de ressurreição, ou ao tempo onde cada pessoa
ressuscitará, temos opiniões divergentes, e para estabelecermos isto precisamos estudar o
Livro de Apocalipse. Através de uma visão dispensacionalista de Apocalipse temos a
seguinte ordem de acontecimentos: primeiro, os mortos da época da Igreja ressuscitam no
arrebatamento, os vivos da igreja recebem corpos glorificados e todos são levados para o
Céu, no final da Tribulação, Cristo retorna para estabelecer o Reino Milenar e os santos da
Antiga Aliança ressuscitarão, vivendo todos os salvos já ressuscitados com Cristo no Reino
Milenar. No fim do Milênio, Satanás é solto e engana muitos dos homens que vivem na
Terra, mas é derrotado e os salvos desse período recebem corpos glorificados. Deus destrói
toda a antiga criação e os mortos que não morreram com Deus são ressuscitados, julgados
pelas suas obras e enviados para o Inferno. Todos os salvos já terão ressuscitados e entrarão
na eternidade com Cristo. Para mais detalhes, ver o estudo de Apocalipse.

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