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CASO CLÍNICO

ANA FLÁVIA SPAGOLLA PONTELLO


 J.P., masculino, 61 anos, lavrador,
proveniente de Warta – Londrina.
 Paciente referia tremores generalizados
com início há 7 horas. Quadro iniciou com
tremor de mão direita, generalizando após
algum tempo. Negava episódios
semelhantes prévios. Mal-estar e
fraqueza associados.
 Há 3 dias sem ingerir bebida alcoólica,
manifestando desejo de parar de beber.
 Ant. Patológicos: HA há 8 anos;
DM há 2 anos.

 Hábitos e vícios: Etilista, bebida destilada,


diariamente, há 15 anos. Ex-tabagista.
 Ao exame: BEG, corado, hidratado, eupnéico,
consciente, comunicativo, sudoréico.
 ST: MV+, simétrico, sem RA.
BRNF sem sopros.
 AS: Abdome plano, depressível, indolor, RHA+,
sem VCM.
 mm: tremor generalizado
 Sinais Vitais: PA: 160/110, P: 120, FR: 20, Tpt:
36,5, HGT: 190.
 HD: Abstinência Alcoólica
DM
HA

 Tratamento: Diazepam ev.


 Exames Complementares:
Hb: 14,8, HT: 49, Leuc: 8200 (88/9/3)
Plaquetas: 209000
Glicemia: 213
U: 9, C: 0,36, Na: 144, K: 3,6
TGO: 188, TGP: 150
Urina I: normal
TAC crânio: normal
 Durante a internação, paciente evoluiu com
confusão mental, alucinações visuais e piora
dos tremores = Delirium Tremens.
 Com 6 dias de internação paciente apresentou
piora do quadro, com rebaixamento do nível de
consciência, hipotensão, piora do padrão
respiratório e febre. Feito diagnóstico de
pneumonia.
 Necessitou de antibioticoterapia (Maxcef +
Amicacina), entubação e ventilação mecânica.
TRATAMENTO DA
ABSTINÊNCIA POR ÁLCOOL
E DROGAS
NEJM
MAIO – 2003

DEPARTAMENTO DE PSIQUIATRIA DA UNIVERSIDADE DE YALE


Alta prevalência de usuários de drogas e
álcool.

É necessário que o médico esteja


preparado para tratar a abstinência!
Identificar a substância:
 Álcool
 Sedativos
 Opióides
 Estimulantes

 Importância: sintomas iniciais semelhantes (disforia,


insônia, ansiedade, irritabilidade, náusea, agitação,
taquicardia, hipertensão).
 Complicações e tratamentos diferentes.
SEDATIVOS E ÁLCOOL
ÁLCOOL:

 Início: 72h;
 Abstinência pode causar delirium e convulsões,
é mais severa em pacientes com episódios
prévios;
 Sintomas específicos: distúrbios táteis e visuais,
convulsões;
 Droga de escolha: BZP.
Fisiopatologia:

 via ácido gama aminobutírico tipo A

 via glutamato (N-metil-D-aspartato)


 Bzp é eficaz pq há tolerância cruzada com
o álcool no receptor tipo A, onde acredita-
se q exista tbém a ação da
Carbamazepina e Valproato.
 Antagonistas do glutamato tbém têm
ação.
Caracterização da gravidade:
 Sinais e sintomas: 0 a 7 pontos
 Agitação, ansiedade, distúrbios auditivos,
alteração do sensório, cefaléia, náuseas e
vômitos, sudorese, distúrbios táteis,
tremor,distúrbios visuais.
 Leve: até 8, moderado: 8 – 15, grave > 15.
 > 15 pontos ou história de convulsões por
abstinência indicam tratamento
medicamentoso já na apresentação.
Delirium tremens:
 Altas doses de
benzodiazepínicos:
5 – 10 mg,
repetidas a cada 2 –
4h.
 Geralmente por 7
dias.
Delirium tremens

 Lukas Kandl - Praga


Tratamento adjuvante:

 Fenotiazinas / Haloperidol: menos efetivos


na prevenção do delirium e convulsões.
 Beta-bloqueadores / Clonidina: menos
manifestações autonômicas, sem efeito
anticonvulsivante (propanolol pode
mascarar os sintomas do delirium).
Anticonvulsivantes:
 Fenitoína: sem efeito;
 Carbamazepina: eficácia = fenobarbital e
oxazepam para pacientes com sitomas
leve a moderados. Previne convulsões.
Vantagem: não causa depressão
respiratória e não tem potencial para
abuso. Não foi testada para delirium
tremens.
Benzodiazepínicos e outros
sedativos:
 Produzem mais sintomas psicomotores e
autônomicos;
 Início: 2 – 10 dias;
 Drogas: Carbamazepina (por 2 sem)

BZP (redução gradual)


OPIÓIDES
 Semelhante à uma gripe severa, com
dilatação pupilar, lacrimejamento,
rinorréia, piloereção, bocejos, espirros,
anorexia, náuseas e vômitos, diarréia;
 Não causa convulsões e delirium;
 Início do quadro depende da ½ vida da
droga: Heroína (pico 36-72h, até 7-10 d)
Metadona (pico 72-96h, por 14)
Tratamento:

Medicações opióides;
Substituição por um opióide de longa
duração (ex: Buprenorfina ou Metadona)
com diminuição gradativa da dose.
 Medicação não opióide:
Clonidina:
Opióide inibe AMPc
Opióide AMPc sist noradrener
atividade cerebral
inibe

CLONIDINA
Heroína:

 Clonidina: 0,1 – 0,2mg 4/4h (3 – 10d)


 Lofexidina: 0,2mg (até 1,2mg, por 5d),
< risco de hipotensão, < tempo de
tratamento.
Desintoxicação ultra-rápida:
 Clonidina + Naltrexone = 1 dia.
 < sintomas se associar buprenorfina.
 Paciente sob anestesia, aplicado naloxone
para provocar abstinência aguda, pode
ser necessário entubação + ventilação
mecânica.
 Os sintomas persistem por + de 1 sem,
alto custo, segurança???.
ESTIMULANTES: COCAÍNA E
ANFETAMINAS
 Disforia, sono, apetite, distúrbios motores,
sintomas depressivos.
 Desilusões, pensamentos paranóicos,
comportamento compulsivo: pode ser
necessário agentes neurolépticos ou BZP.
 Pode haver dependência de álcool ou
outras drogas associadas.
Cocaína / anfetamina bloqueiam o
mecanismo de recaptação no terminal
sináptico monoaminérgico

monoaminas na sinapse

Doses repetidas de cocaína diminuem o


nível de receptores pós-sinápticos
(dopamina).
 Agonistas diretos dopaminérgicos
(Bromocriptina e Pergolide) não são
eficazes;
 Agonistas indiretos (Metilfenidato e
Amantadina): diminui o uso da cocaína;
 Propanolol (100mg): diminui o uso da
cocaína;
 Antidepressivos: diminuem a ansiedade.

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