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CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA

Nota: os apontamentos apresentados foram recolhidos em aula prática


de Direito Constitucional II, leccionada pela Exma. Professora Doutora
Juliana Coutinho.

 Lei e regulamento
o Regulamento
 Constitui um acto praticado no exercício da função
administrativa. Difere do acto administrativo, que
constitui uma norma individual e concreta;
 Não é promulgada por uma das formas previstas no
artigo 112.º, n.º1 CRP, não sendo, portanto, lei em
sentido formal;
 Norma geral e abstracta;
 Não existe definição de regulamento na Constituição
ou no Código de Procedimento Administrativo;
 Um regulamento pressupõe sempre uma lei prévia, ao
abrigo do princípio da legalidade (artigo 266.º CRP e
artigo 3.º CPA);
 Dois tipos de regulamento:
 Regulamentos complementares ou de execução
– concretizam a disciplina normativa da Lei que
lhes serve de fundamento, não introduzindo
novidade em relação à Lei (artigo 112.º, n.º7, 1.ª
parte CRP);
 Regulamentos independentes – a Administração
Pública goza de margem de manobra na
definição do seu conteúdo normativo; a lei não
fixa o sentido da regulamentação, não é tão
específica (artigo 112.º, n.º7, 2.ª Parte CRP).
 Artigo 199.º, alínea c) CRP – competência
administrativa do Governo para fazer regulamentos
 Decretos regulamentares: forma mais solene
(artigo 112.º, n.º6 CRP, que remete para o artigo
134.º, alínea b) CRP – o Presidente da República
promulga os decretos regulamentares);
 Resoluções do Conselho de Ministros (artigo
200.º, alínea c) CRP): exercício colectivo dos
ministros;
 Portarias e despachos normativos: exercício
individual dos ministros.

 Princípio da primazia / prevalência da Lei – acto


hierarquicamente superior (lei em sentido formal)
prevalece sobre acto hierarquicamente inferior, o que
limita a actividade da Administração Pública.
 Em sentido positivo (subordinação);
 Em sentido negativo (desconformidade implica
sanção, por força da proibição de desrespeito
pelo princípio, seja vício de invalidade (nulidade
ou anulabilidade) ou de inexistência jurídica do
acto).

 Princípio da precedência de Lei – regulamento tem


fundamento em lei anterior (artigo 112.º, n.º7 CRP)

 Princípio da reserva de Lei


 Na perspectiva legislador-Administração
(âmbito mais vasto) – matérias necessariamente
reguladas por Lei;
 Na perspectiva legislador-Governo (âmbito mais
restrito) – primado da AR, pois a reserva relativa
de competência legislativa sobre as matérias
elencadas no artigo 165.º CRP implica
autorização legislativa ao Governo, havendo
possibilidade de apreciação parlamentar (artigo
169.º CRP).

 Princípio do congelamento do grau hierárquico – a


disciplina da Lei não pode ser revogada, alterada ou
suspensa por um outro acto que não seja Lei. Portanto,
não podem existir regulamentos interpretativos ou
integrativos (artigo 112.º, n.º5 CRP).

 Inconstitucionalidade e ilegalidade
o Inconstitucionalidade – relação de desconformidade entre
uma norma e a Constituição. Se tal se verificar, o Tribunal
Constitucional declara-se pela inconstitucionalidade
(desconforme à Constituição) ou não inconstitucionalidade
(conforme à Constituição), mas nunca pela
constitucionalidade, possibilitando a fiscalização sucessiva
(abstracta ou concreta).
 Inconstitucionalidade por omissão – violação de um
dever de acção imposto pela Constituição.

 Inconstitucionalidade por acção – comportamento


normativo negativo.
 Inconstitucionalidade orgânica – violação de
normas de competência;

 Inconstitucionalidade formal – preterição de


requisitos quanto ao procedimento;

 Inconstitucionalidade material – violação da


disciplina imposta pela constituição, sendo
definida por exclusão de partes.
o Exemplo: Lei que exige ou impõe um dever
que redunda numa restrição
desproporcional de um direito
fundamental, como seja a obrigatoriedade
dos trabalhadores realizarem o teste do
HIV, por violação do artigo 18.º, n.º2 CRP
(apenas se admitem restrições necessárias
ou adequadas à reserva de outros valores);

o Ilegalidade – relação de desconformidade entre norma e Lei.

 Competência ≠ iniciativa legislativa


o Iniciativa legislativa
 Consiste na competência para propor a Lei, dando-se
início ao procedimento legislativo parlamentar;
 Quem tem iniciativa não tem necessariamente
competência;
 Os grupos de cidadãos eleitores têm iniciativa
legislativa, mas não têm competência legislativa (poder
legislativo)

 Quanto à matéria
 Genérica (em todas as matérias) – deputados,
grupos parlamentares, grupos de cidadãos
eleitores e Governo;
 Específica (apenas em determinadas matérias) –
assembleias legislativas regionais (dado o
interesse específico nas matérias)
 Quanto aos órgãos
 Concorrencial (pode haver lugar a projectos e
propostas de lei);
 Reservada
o Do Governo
 Propostas de lei de autorização
(artigo 188.º do Regimento AR);
 Lei das Grandes Opções do Estado
(artigo 91.º, n.º2 CRP);
 Proposta de lei de Orçamento de
Estado (artigo 106.º, n.º2 CRP).

o Das Assembleias Legislativas Regionais


 Propostas de lei sobre matérias de
reserva relativa da Assembleia da
República, mediante autorização
desta, com excepção das previstas
nas alíneas a) a c), na primeira parte
da alínea d), nas alíneas f) e i), na
segunda parte da alínea m) e nas
alíneas o), p), q), s), t), v), x) e aa) do
n.º 1 do artigo 165.º, nos termos
constantes do artigo 227.º, n.º1,
alínea b) CRP;
 Leis que lhes digam exclusivamente
respeito;
 Propostas ou alterações aos
Estatutos Político-Administrativos
(artigo 226.º, números 1 e 4 CRP)
 Quanto às formas (artigo 119.º do Regimento AR)
 1:ª Classificação
o Iniciativa interna (projecto de lei dos
deputados e grupos parlamentares);
o Iniciativa externa (proposta de lei do
Governo, Assembleias Legislativas
Regionais e grupos de cidadãos eleitores).

 2.ª Classificação
o Iniciativa originária: inicia o procedimento
sob a forma de proposta ou projecto de
lei;
o Iniciativa superveniente: alterações e
textos de substituição (artigo 167.º, n.º8
CRP) em relação às propostas e projectos
de lei apresentados.

 Procedimento legislativo parlamentar


o 1.ª Fase: Iniciativa (artigo 167.º da CRP, números 4 a 7 CRP,
relativos às vicissitudes da iniciativa e artigos 118.º e
seguintes do Regimento AR)
 Interna (projecto de lei) ou Externa (proposta de lei);
 Documentos articulados são entregues à Mesa da AR
(artigo 129.º Regimento AR):
 Presidente da AR ordena a publicação do diploma,
após admissão do mesmo, no Diário da AR (artigos
125.º e 126.º do Regimento AR);
 Envio do diploma à comissão parlamentar competente
em razão da matéria.
o 2.ª Fase: Apreciação interna de um diploma
 Elaboração de um parecer pela comissão parlamentar
competente e possibilidade de apresentação de
propostas de alteração;
 Poderá haver lugar a apreciação externa, nos termos
do artigo 134.º Regimento AR, artigo 80.º, alínea g) da
CRP, artigo 92.º, números 1 e 2 CRP e artigo 227.º,
alínea v) CRP.

o 3.ª Fase: Discussão e votação na generalidade


 Tem lugar após o envio do diploma para o plenário (ver
artigos 168.º da CRP e 143.º e seguintes do Regimento
AR);
 Consiste na apreciação global do diploma;
 Se houver rejeição do diploma, o projecto ou proposta
de lei extingue-se, assim como o procedimento
legislativo parlamentar.

o 4.ª Fase: Discussão e votação na especialidade (artigo 168.º,


números 3 e 4 CRP)
 Consiste na apreciação artigo a artigo do diploma;
 Discussão e votação em comissão ou em plenário
(artigo 150.º e seguintes do Regimento AR);
 Se houver rejeição do diploma, o projecto ou proposta
de lei extingue-se.

o 5.ª Fase: Votação final global


 Tem lugar em sessão de plenário da AR;
 Não é precedida de discussão (artigo 168.º, números 1
e 2 CRP e artigos 155.º e seguintes do Regimento AR);
 Se o diploma for aprovado, temos um decreto da AR,
posteriormente enviado para o Presidente da
República, que o pode:
 Promulgar (artigo 134.º, alínea b) CRP);
 Vetar politicamente (artigo 136.º, n.º1 CRP);
 Enviar para o Tribunal Constitucional,
requerendo a fiscalização preventiva da
constitucionalidade (artigos 136.º, n.º5 e 278.º,
n.º1 CRP).

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