O texto que se segue é uma reprodução escrita, com
pequenas adaptações e esclarecimentos, do programa exibido pela Rádio e Televisão de Portugal, “1994 – Bloqueio da Ponte” integrado na série “50 Anos 50 Notícias”, de 2007.
Como tal, cumpre-me esclarecer que toda a informação
constante deste documento foi apresentada pela citada estação de televisão portuguesa, aquando da exibição do documentário referido.
Resta-me recordar, em último lugar, que no ano de 2007 a
Rádio e Televisão de Portugal celebrou o seu quinquagésimo aniversário. BLOQUEIO DA PONTE (1994)
1994, 24 de Junho: a Ponte 25 de Abril está bloqueada em
protesto contra o aumento das portagens. Alberto Matos, na altura, deputado municipal da União Democrática Popular (UDP) em Almada, recorda como tudo começou.
(Alberto Matos, da Associação de Utentes da Ponte 25 de
Abril) «Dois ou três dias depois das eleições para o Parlamento Europeu, o Governo de Cavaco Silva impõe um aumento das portagens de 50%. Toda a gente percebeu logo, isto é, “já apertaram, agora pagam”. E, de imediato, se desencadeou um processo de “buzinão”, que durou uma semana.»
Depois da semana de “buzinão”, o protesto regista uma
escalada.
(Alberto Matos) “Dá-se o primeiro bloqueio de 24 de Junho de
1994, protagonizado pelos camionistas. Foram colocados à frente e ninguém os deixava sair dali e eles aderiram, ficaram e mantiveram uma posição firme e corajosa, nesse dia.”
O ministro Dias Loureiro deslocou-se de helicóptero ao local,
cerca das 10 horas e 30 minutos da manhã, para avaliar a situação.
(Alberto Matos) “Quando ele olhou, de longe, para as pessoas,
levou uma monumental assobiadela que tinham desencadeado e mereciam, obviamente.”
Durante a tarde, concentra-se no local um importante aparato
da Polícia de Segurança Pública (PSP) e da Guarda Nacional Republicana (GNR). Os avisos não intimidam os manifestantes. A força policial acaba por carregar. Um dos episódios é filmado com especial detalhe. Os reboques normais, enviados inicialmente, nada podem contra os camiões.
(Alberto Matos) “Depois veio o reboque gigante da GNR ou
até militar, que rebocou aqueles enormes camiões, alguns carregados de pedra, portanto, eram carros pesadíssimos. Foi uma operação muito demorosa e havia quilómetros de fila. Houve alguém, inclusive, que ateou fogo às plantas daquela divisória da auto-estrada. Havia, portanto, um certo clima de barricada e de coisas a arder, que eram plantas, pneus, etc.”
À noite, os motoqueiros aceleram junto às portagens e são
aplaudidos por centenas de pessoas que assistem ao espectáculo.
O Governo enfrenta a crise, apresenta algumas teorias da
conspiração, mas também entende que é preciso recuar.
(Dias Loureiro, Ministro da Administração Interna em 1994) “A
par de alguma manifestação e de algum protesto genuíno e espontâneo, havia, por detrás de tudo, uma mão escondida, uma mão política escondida…”
O Primeiro-Ministro Cavaco Silva aponta o dedo acusador à
esquerda.
(Cavaco Silva, Primeiro-Ministro em 1994) “Pessoas que
podem estar ligadas ao Partido Comunista e pessoas que podem estar ligadas a partidos da extrema-esquerda.” O recuo táctico do Governo é anunciado pelo ministro Ferreira do Amaral.
(Ferreira do Amaral, Ministro das Obras Públicas em 1994) “O
Governo decidiu alargar ao mês de Julho próximo a livre circulação, com isenção total de portagem, que desde há muito se pratica no mês de Agosto.”
No dia 1 de Setembro, quando recomeça o pagamento das
portagens retoma-se também a luta.
(Alberto Matos) “E durou todo o mês de Setembro e, pelo
menos, até 15 de Outubro, porque o “buzinão” continuou até perto do Natal. Portanto, foram seis meses de “buzinão” e um Governo “surdo”. Eles renegociaram, de facto, o acordo com a Lusoponte. O aumento de portagens não foi tão violento, mas elas nunca chegaram a baixar.”
No balanço final, ficou também um jovem paraplégico, ferido
por um tiro da Polícia. Mas o Governo “cavaquista” estava ferido de morte…