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PRINCÍPIO DA IGUALDADE

(Intervenção do deputado Prof. Doutor Jorge Bacelar Gouveia na


Comissão Eventual para a Revisão Constitucional)

«(…) Também gostaria de dar o meu contributo em relação ao artigo


13.º da Constituição da República Portuguesa (CRP), até porque não tive
ocasião de estar na última reunião, e frisar dois aspectos de natureza
geral que são importantes (…).

O primeiro tem que ver com o facto de este artigo ter um alcance muito
superior àquele que aparentemente tem, que é o alcance de dizer respeito
a Direitos e Deveres Fundamentais, ou mais a Direitos do que a Deveres
Fundamentais, mas, na verdade, este artigo é um artigo central em toda a
Constituição, porque o princípio da igualdade é operacionalizável, não
apenas no âmbito dos Direitos Fundamentais, mas também no âmbito das
competências do Estado, dos poderes públicos. Portanto é uma medida de
pensamento jurídico que se aplica em qualquer norma jurídica e não
apenas no Direito Constitucional ou, mais restritamente, em matéria de
Direitos Fundamentais. Até se pode dizer, num certo sentido, que o seu
lugar poderia ser numa prateleira especial reservada aos princípios gerais
da ordem jurídica e não ficar acantonado nesta sistematização específica
que diz respeito aos Direitos Fundamentais.

E a segunda nota é para referir, também, algo que é muito importante


e que pode relativizar um pouco esta discussão que estamos aqui a ter, em
relação ao acréscimo de novos factores de discriminação ou de não-
discriminação. Embora o artigo 13.º, n.º2 CRP não o diga, de um modo
textual, toda a doutrina e a jurisprudência têm considerado que este
conjunto de factores que proíbem uma discriminação positiva ou negativa
(portanto dar mais direitos ou retirar deveres), é uma lista exemplificativa,
que não é fechada, embora, de facto, na letra do n.º2 não se acrescente
qualquer adjectivo do género «nomeadamente» ou «designadamente». E,
portanto, é preciso tomar em consideração que haverá outros factores,
que não estão aqui referidos, que podem ser considerados como factores
que induzem num resultado ilegítimo de desigualdade, e não é pelo facto
deles estarem omissos nessa listagem que eles vão deixar de ser
operativos. Mas, por outro lado, também é evidente que, sendo essa lista
exemplificativa, num certo sentido, será uma tarefa quase inglória
encontrar todos os factores possíveis de discriminação, porque haverá
sempre algum que vai faltar. E, portanto, entre uma escolha que é
necessária fazer, porque essa lista nunca poderá ser fechada, é evidente
que aqueles que daqui devem figurar serão os mais importantes ou
aqueles mais consensuais, na certeza de que essa busca é quase
impossível de ter o resultado de encontrarmos todos os factores que
levam, enfim, a um resultado de desigualdade (…)»

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