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SEMINÁRIO TEOLÓGICO CONGREGACIONAL DO

NORDESTE
EXTENSÃO CARUARU

A NECESSIDADE DA PERSEVERANÇA DOS SANTOS


NA VIDA DA IGREJA HOJE
POR
JOSÉ PEREIRA NETO

CARUARU
2006.
JOSÉ PEREIRA NETO
A NECESSIDADE DA PERSEVERANÇA DOS SANTOS NA VIDA

DA IGREJA HOJE.

Monografia apresentada pelo Seminarista


José Pereira Neto, matriculado no curso
Bacharel em Teologia, em cumprimento às
exigências da disciplina Monografia do
Bacharelado, ministrada neste seminário
pela professora Joyce E. Winifred Every-
Claytron.

CARUARU
2006.
“Sabemos que todas as cousas
cooperam para o bem daqueles que
amam a Deus, daqueles que são
chamados segundo o seu propósito”
Romanos. 8:28
A minha querida esposa Mercia, que
me incentivou durante todo este
tempo no Seminário.
Porque dele, e por meio dele, e para
ele são todas as cousas. A Ele, pois, a
glória eternamente. Amém.
INTRODUÇÃO

A doutrina bíblica da Perseverança dos Santos é a grande segurança

para a vida do crente. Pois visto que o homem, em seu estado natural, está

totalmente depravado, ou seja, ele teve suas faculdades espirituais

completamente corrompidas, tornando-se inimigo de Deus, morto nos seus

pecados. Deus o Pai, movido pelo Seu infinito amor, escolheu, antes da

fundação do mundo, alguns dentre estes para manifestar a Sua

misericórdia, elegendo-os para serem santos e irrepreensíveis. Vindo a

plenitude dos tempos, o Senhor Jesus Se fez carne, cumpriu a lei, e morreu

na cruz pelos eleitos de Deus, expiando objetivamente a culpa que lhes fora

imputada pelo pecado de Adão.

É de grande importância para a Igreja hoje estudar esta doutrina, pois, é

este o conselho da Palavra de Deus “crescei na graça e no conhecimento de

nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (II Pe 3.18). E também a falta do

conhecimento desta doutrina traz conseqüências terríveis para a Igreja,

como a falta de segurança de salvação. Assim como foi no passado para o

povo de Israel, o mesmo se aplica a Igreja hoje: “O meu povo está sendo

destruído, porque lhe falta conhecimento”.(Os 4.6). O povo de Israel sofreu


várias perdas por ter-lhe faltado conhecimento. A negligência dos

sacerdotes, também contribuiu para isso.

Não pretendemos com isso, induzir ninguém a pensar que é possível

perder a salvação, pelo fato de faltar-lhe o conhecimento de alguns

ensinamentos. Há um conhecimento para a salvação, sem o qual, ninguém

pode chegar-se a Deus: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”.

“Se pois o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.” (Jo 8.32,36).

Por isso Jesus ordenou: “Examinai as Escrituras, porque julgais ter nelas a

vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim.”(Jo 5.39). Sem o

conhecimento de Jesus Cristo como Salvador, é impossível que alguém seja

salvo. “Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os

homens, Cristo Jesus, homem.”(I Tm 2.5). A fé que Deus concede aos Seus

eleitos só vem por meio do conhecimento da verdade que é Jesus Cristo.

“Ele é o caminho a verdade e a vida”. (Jo 14.6).

A doutrina Perseverança dos Santos é bíblica e edifica o corpo de

Cristo. Esperamos com o presente trabalho contribuir para o melhor

entendimento da doutrina e para o crescimento da Igreja hoje.


I

BASE DOUTRINÁRIA DA PERSEVERANÇA DOS

SANTOS

No presente capítulo, apresentaremos de forma resumida a

doutrina da Perseverança dos Santos, através da definição dos termos:

“Perseverança” e “Santos”, veremos o sentido que empregaremos em

nosso trabalho, pela exposição do texto de Romanos 8.31-39, faremos a

apresentação da base bíblica da doutrina e culminaremos então com os

resultados práticos da doutrina na vida da Igreja Hoje.

1.1- Definição de termos:

As palavras que formam esta frase “Perseverança dos Santos”,

expressam o sentido desta doutrina do ponto de vista teológico. O

nome desta doutrina é dado pela maioria dos escritores como

“Perseverança dos Santos”. Para alguns, este título justifica o ponto de

vista teológico, de modo melhor. Embora, outros escritores preferem

dar a esta doutrina outros nomes como: “Segurança Eterna”,

“Preservação”, “Segurança dos Crentes”. Outros, preferem


desenvolver o assunto, respondendo à pergunta: “ É possível o crente

perder a salvação?”.

A maioria dos teólogos entendem que o título “Perseverança dos

Santos” é melhor.

O termo “perseverança” vem do grego “upomoné”, que


significa: permanecer, resistir, constância. Esse vocábulo
grego denota a resistência paciente, sob circunstâncias
adversas, com base na idéia de alguém que leva aos ombros
uma carga pesada, mas da qual não desiste. Sugere a
disposição para continuar, em face da esperança de algum
galardão ou prêmio que fora prometido”.
(CHAMPLIM,1997,P.246).

Na presente monografia a frase estará sendo empregada no sentido

de que aquele que foi alcançado pela graça de Deus, permanece firme

pela fé em Cristo, desde o momento da conversão, até a Segunda volta

de Cristo, quando se dará sua glorificação. É o momento em que o

crente transpõe os umbrais da eternidade com o Senhor Jesus Cristo.

O termo “Santos” não poderia designar outros, senão aqueles que

não são santos porque creram, mas porque foram separados desde a

eternidade para a salvação, manifestada em Cristo, na “plenitude dos

tempos”. (Ef. 1.10).

A doutrina da “Perseverança dos Santos” tem o sentido de que

aqueles que foram chamados e regenerados pelo Espírito Santo,

justificado por Deus. Estes sim, são santificados por Deus, para o Seu
uso e para a Sua glória. Hão de ser glorificados porque o Espírito

Santo estará continuamente operando em seus corações. Foi isto que

Paulo afirmou ao dizer: “E aos que predestinou, a esses também

chamou (pela pregação: “e assim a fé vem pela pregação e a pregação

pela palavra de Cristo.”) a esses também justificou; e aos que

justificou, a esses também glorificou”.(Rom. 8:30; 10:17). Os santos aos

quais o apóstolo se refere na sua epístola, são os eleitos de Deus antes

da Criação do mundo, que no tempo foram e estão sendo alcançados

pela pregação da Palavra. Estes sim, perseverarão, porque são eleitos

de Deus. Foi para estes que Jesus disse: “Eu dou-lhes a vida eterna;

jamais perecerão, eternamente” (Jo 10:28).

Nas palavras de Seatom:

“Aqueles que Deus regenerou e chamou eficazmente para


um estado de graça não podem cair nem total nem
definitivamente, mas certamente perseverarão nela até o fim,
e serão eternamente salvos, visto que os dons e chamados de
Deus são sem arrependimento”. (SEATOM . sd p.4).

1.2- Exposição de Romanos 8:31-39.

As verdades encontradas sobre esta doutrina nas páginas do Novo

Testamento, são diversas, em nosso trabalho, usaremos este texto como

base para nossa exposição, sabendo que existe outros relevantes e que
citaremos no decorrer do trabalho, importa neste momento

transcrever tão grande verdade declarada pelo apóstolo Paulo:

Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós,


quem será contra nós? Aquele que não poupou o seu próprio
Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos
dará graciosamente com ele todas as coisas? Quem intentará
acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica.
Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes,
quem ressuscitou, o qual está a direita de Deus e também
intercede por nós. Quem nos separará do amor de Cristo? Será
tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome , ou nudez,
ou perigo, ou espada? Como está escrito: Por amor de ti, somos
entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelha
para o matadouro. Em todas estas coisas, porém, somos mais
que vencedores, por meio daquele que nos amou. Porque
estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos,
nem os principados, nem as coisas do presente do porvir, nem
poderes, nem alturas, nem profundidade, nem qualquer outra
criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em
Cristo Jesus, nosso Senhor. (Rom 8:31-39 ).

Os capítulos anteriores mostram os maravilhosos privilégios que são

dados aos crentes pela graça de Deus: justificação, adoção, e

santificação. Entretanto, diante da fraqueza presente nos corações dos

crentes, e a força de seus inimigos espirituais, a pergunta que surge a

seguir é: como saber que não se perderá tais dádivas?

A graça as deu, porém, como as reterei? Lembre-se de Pedro:


“Ainda que todos se escandalizem em ti, eu nunca me
escandalizarei”. “Ainda que seja mister morrer, contigo, não te
negarei”. (Mt. 26:33,35). Ele falou tão confiantemente, não
obstante, caiu. Como, então, perseveraremos? (BOOTH, 1986
p.50).
Paulo inicia algumas exclamações, por meio das quais expressa a

grandeza de alma que os crentes devem possuir diante das

adversidades que querem fazê-los desesperar-se. “Que diremos, pois à

vista destas coisas? Se Deus é por nós quem será contra nós?” (v. 31)

Paulo através dessas palavras quer nos ensinar que a coragem para

suportar as tentações está no divino favor do Pai. Se Deus não nos fosse

favorável nenhuma confiança sólida poderia ser concebida, mesmo

quando tudo pareça-nos favorável. O amor divino não é apenas grande

consolação em toda e qualquer dor, mas também forte proteção contra

todas as tormentas de infortúnio. Não há poder abaixo do céu ou acima

dele que possa resistir o braço de Deus. Se o temos como nosso

defensor então não precisamos recear mal algum.

Se, pois, Deus está a nosso lado, como claramente ele


provou pelo que fez e faz por nós , quem é contra nós? Não
como se todos os nossos inimigos já tivessem sido dispersos,
mas que inimigos é capaz de agir contra nós, sendo Deus por
nós? (HENDRIKSEN,2001 p. 381).

Para confirmar os favores do pai para conosco, Paulo repete o valor

da nossa reconciliação, dando suma importância ao fato de que

devemos estar profunda e plenamente persuadidos do amor paternal

de Deus. Provando isto, na entrega do seu Filho para nossa salvação.

“Aquele que não poupou seu próprio Filho”(v.32 a). Paulo com isto
argumenta que nada é mais querido, mais excelente ou mais precioso

do que seu Filho, assim ele não negará nada que perceba ser-nos

proveitoso, “não nos dará graciosamente com ele todas as

coisas?”(v.32b). Cristo não vem até nós de mãos vazias, mas cheias de

todos os tesouros celestiais, de modo que aqueles que o possuem não

sentem carência de coisa alguma que seja necessária para sua plena

felicidade. Esta entrega refere-se à morte a que Cristo se expôs.

Diante das adversidades é comum ao crente a ansiedade e dúvidas,

em vários aspectos da vida . Acerca da vida espiritual há sempre

aquela preocupação: “Qual a minha situação com Deus?” Paulo

responde assim: “Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É

Deus quem os justifica.”(v.33). A bondade paternal de Deus é a

primeira e principal consolação dos santos, nas adversidades. Dessa

bondade procede tanto a certeza de salvação quanto a tranqüila

segurança da alma, pelas quais as adversidades são suavizadas, ou pelo

menos a dor é aliviada. Dificilmente existe uma exortação à paciência

mais apropriada do que quando entendemos que Deus nos é favorável.

O Diabo, certamente, vive a acusar os santos (Ap. 12:10); e a lei de

Deus, por sua própria natureza, bem como a própria consciência

humana, igualmente nos reprovam. No entanto, nenhum destes

elementos tem qualquer influência sobre o juiz que nos justifica.


Nenhum adversário, pois, pode abalar, muito menos, destruir nossa

salvação.

“Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu, ou antes quem

ressuscitou, o qual está a direita de Deus, e também intercede por

nós”(v34). Cristo é aquele Único que sofreu o castigo que era nosso, e

por isso declarou que tomou o nosso lugar afim de pôr-nos em

liberdade. Cristo agora está assentado à mão direita do Pai. De onde

governa o céu e a terra, com soberana autoridade. Ele é o eterno

Advogado e intercessor em prol da nossa salvação. Esta sólida

segurança que ousa triunfar sobre o Diabo, a morte, o pecado e as

portas do inferno deve estar profundamente implantada no coração de

todos os santos. Cristo intercede por nós, visto como comparece

continuamente diante do Pai, como morto e ressurreto, que assume a

posição de Eterno intercessor, defendendo-nos com eficácia e vívida

oração para reconciliar-nos com o Pai e leva-lo a ouvir com prontidão.

Estamos certos que ninguém será capaz de separar-nos do amor que

Cristo tem por nós, apesar disto, o apóstolo começa a enumerar

algumas circunstâncias que poderia tentar nos afastar do amor de

Cristo: “Quem nos separará do amor de Cristo? Será a tribulação, ou

angustia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou

espada?”(v35). Aqueles que têm a convicção do amor do pai são


capazes de manter-se firme nas mais variadas e terríveis aflições. Tal

como as nuvens, embora escureçam passageiramente a clara visão do

sol, não nos privam totalmente de sua luz, assim também em nossas

adversidades, Deus nos envia os raios de sua graça através de nossas

trevas, afim de que a tentação não nos vença e nos faça cair em

desespero. Paulo nos lembra o que realmente merecemos, mas

enquanto insiste em nossa necessidade de exercer arrependimento,

também testifica não menos que a nossa salvação é especial objeto do

cuidado divino.

Quando o apóstolo fala destas coisas ele fala não apenas por

inspiração divina, mas também por experiência própria, quando ele

afirmou que nenhuma destas coisas poderá causar separação entre os

crentes e seu Senhor. Ele sabia o que estava dizendo. “Como está

escrito: Por tua causa enfrentamos a morte o dia todo; fomos

considerados ovelhas para o matadouro”(v.36). Esta citação é de grande

importância na consideração do tema em pauta. O apóstolo ensina que

o terror da morte não é motivo para apostatar da fé, pois ter a morte

diante dos seus olhos é quase sempre a porção dos servos de Deus. O

fato do Senhor permitir que os santos sejam expostos á crueldade dos

ímpios reside tão somente no propósito de Deus para o próprio bem

dos seus servos. Cristo declara que: “Bem-aventurados aqueles que

sofrem por causa da justiça” (Mt. 5:10).


Aflição, angústia, perseguição, fome, nudez, perigo e espada, Paulo

mostrou que estas coisas não são capazes de nos afastar do amor de

Deus, no entanto agora, além desses obstáculos ele vai falar de outros

que vai além dos físicos, entretanto ele antes nos mostra que em meio

de todas estas experiências desagradáveis, somos mais que vencedores.

“Em todas estas coisas somos mais que vencedores, por meio daquele

que nos amou” (v.37). Às vezes sucede que aparentemente, os crentes

são vencidos e entregues ao cansaço, dentro de um propósito de Deus.

No entanto, o Senhor sempre lhes garante que por fim sairão

vencedores. E esta garantia consiste não só no fato de Deus nos amar,

mas se confirma no ato de Cristo na cruz. Esta certeza em nossos

corações, nos arrancará do inferno para a luz da vida, bem como nos

servirá de força e apoio.

O amor com que Cristo nos amou é tal que ninguém, e nada

conseguiria nos separar dele, por isso, o apóstolo declarou que somos

“mais que vencedores”, agora ele fecha o capítulo com hipérboles para

confirmar mais fortemente as coisas que experimentamos: “Porque

estou bem certo de que nem morte, nem vida, nem anjos, nem

principados, nem coisas do presente, nem do porvir, nem poderes nem,

nem altura, nem profundidade, nem qualquer outra criatura poderá

separar-nos do amor de Deus”. Ainda que anjos, que são espíritos

ministradores, designados para a salvação dos eleitos (Hb. 1:14),


tentem nos apartar da presença de Deus, não conseguirão. Paulo nos

assegura que não existe qualquer extensão de tempo que possa,

porventura separar-nos da graça divina. É indispensável que estejamos

persuadidos de que aquele que começou em nós uma boa obra, a

completará até o dia de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Cristo é o vinculo, Ele é o Bem-amado Filho em que o Pai tem todo

prazer. Se, pois, aderimos a Deus por meio dele podemos estar seguros

da bondade imutável e incansável de Deus para conosco.

1.3- Resultados Práticos da Doutrina da Perseverança


dos Santos.
A passagem de Romanos 8:31-39, só pode dar apoio à doutrina da

Perseverança dos Santos, é declarado que todos os verdadeiros santos

devem perseverar. Jhonatham Edwards, descobriu que a própria

definição de um crente, conforme João 8:31 é:

Aquele que permanece na palavra de Cristo. E a


confiança expressa é que todos os verdadeiros eleitos devem
necessariamente prosseguir, porquanto a eleição eficaz é um
fator que garante a perseverança, através da própria graça
de Deus e da operação do Espírito Santo que produziu a
eleição inicial. (EDWARDS apud CHAMPLIM, 1997 p.167)

.
Para o Dr. Charles Hodge, todo o oitavo capítulo da epístola aos

Romanos tem como propósito demonstrar a infalível salvação de todos

os que crêem:
Aqueles a quem ele predestinou para serem feitos conforme à
imagem do Filho, ele os chama ao exercício da fé e do arrependimento;
e aquele a quem chama, os justifica, lhes providencia e imputa uma
justiça que satisfaz as exigências da lei e os qualifica em Cristo e, por
causa dele para a vida eterna; e aqueles que justifica, ele glorifica.
(RODGE, 2001 P.1108).

O amor de Deus é infinitamente grande e plenamente gratuito. É,

também, imutável e, por isso, os crentes infalivelmente serão salvos.

Paulo dá a conclusão: “Porque estou bem certo de que nem a morte,

nem a vida, nem anjos, nem os principados, nem as coisas do presente,

nem do porvir, nem poderes, nem altura...” (v.39).

Esta passagem dá ao crente, elementos que são essenciais para a

certeza da salvação. Relacionamos, agora, três destes elementos: 1)

Confiança na salvação: Paulo diz aos colossenses que eles serão salvos

no último dia, “se é que permaneceis na fé alicerçados e firmes, não vos

deixando afastar da esperança do evangelho que ouvistes” (Cl 1:23).

Esta confiança leva o crente a meditar todos os dias, na fé e na salvação

que Cristo garante, e ter a certeza de que em morrendo comparecerá

diante do tribunal de Deus, não confiando nos seus méritos, mas nos

méritos de Cristo.

2) Regeneração comprovada através dos frutos do Espírito Santo:

A obra do Espírito Santo no coração do crente leva-o a viver uma vida

de serviço ao Senhor, isto não significa apenas as atividades na igreja,

mas diz respeito a uma transformação completa começando no


coração. Primeiro, essa ação do Espírito Santo testifica que somos

filhos de Deus (Rm 8:15). Esse testemunho vem acompanhado com um

senso de orientação do Espírito Santo pelos caminhos da obediência à

vontade de Deus. Além disso, o Espírito Santo produz virtudes que o

apóstolo chama de “fruto do Espírito” (Gl 5:22). Tais como: “amor,

alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade,

mansidão, domínio próprio” (Gl 5:22-23). Não que o crente tenha

imediatamente que apresentar todos esses frutos perfeitamente em sua

vida, mas deve aperfeiçoar a cada dia, e isto é comprovado pelos que o

cercam. Associado a estes frutos, há outro de grande importância – a

influência da vida e do ministério da pessoa sobre outros e na igreja.

Esta é a prova cabal de que de fato este crente foi regenerado pelo

Espírito Santo. Há alguns que se confessam cristãos, cuja influência

sobre os outros só serve para desanimar, arrastar para baixo, reduzir a

fé e provocar polêmica e divisão. Enquanto o verdadeiro crente edifica

outros em cada conversa, cada oração, cada obra do ministério em

que colabora. Disse Jesus a respeito dos falsos profetas: “Pelos frutos

os conhecereis... Toda árvore boa produz bons frutos, porém a árvore má

produz frutos maus... Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis”(Mt.

7:16-20).

3)Constante crescimento na vida cristã: Os primeiros dois fatores

da certeza de salvação têm que ver com a fé presente e a prova atual da


obra do Espírito Santo no crente. Agora vejamos o que o apóstolo

Pedro diz, sobre o que devemos preservar para uma plena certeza de

salvação:

...Associai com a fé a virtude; com virtude, o conhecimento;


com o conhecimento, o domínio próprio; com o domínio
próprio, a perseverança; com a perseverança, a piedade;
com a piedade, a fraternidade; com a fraternidade o amor.
Porque essas coisas existindo em vós e em vós aumentando...
(procurando)... Com diligência cada vez maior, confirmar a
vossa vocação e vossa eleição; porquanto, procedendo assim,
não tropeçareis em tempo algum. (2Pe 1:5-10).

Confirmar a vocação e eleição é continuar crescendo “nessas

coisas”. Ou seja, a certeza de salvação pode crescer com o passar do

tempo e da prática das virtudes e dos frutos do Espírito Santo em

nossos corações. Assim, essa certeza pode crescer e transformar-se

numa convicção ainda maior ao longo dos anos, desde que o crente

cresça na maturidade cristã.


II

FUNDAMENTAÇÃO HISTÓRICA DA PERSEVERANÇA


DOS SANTOS.

Neste capítulo faremos um breve apanhado desta doutrina ao longo

da história por meio do exame da posição de alguns pensadores

específicos, e do exame de alguns credos.

Na Igreja Primitiva, a teologia da Perseverança dos Santos, por

diversas razões, foi raramente abordada. Primeiro, porque a ênfase

nos primeiros séculos foi sobre as áreas controversas da Cristologia e

do Trinitarianismo. Entretanto a ausência de discussão não significa

que a Perseverança fosse um conceito estranho para a igreja primitiva;

antes a segurança era comprovada pelo exemplo e pela vida.


Segundo, a falta da Igreja Primitiva em formular uma doutrina da

perseverança, estava ligada ao seu falso entendimento de que as boas

obras contribuíam de alguma maneira para a salvação, com o tempo, a

perseverança pôr meio das obras se tornou normativa.

Sem dúvidas entre os primeiros pensadores cristãos Agostinho de

Hipona se destacou em todas as épocas.

2.1- Agostinho (354-430).

Agostinho foi o primeiro expositor desta doutrina, ele afirmava que

os eleitos não podem cair de modo que se percam definitivamente, a

teologia de Agostinho deixou implícita a segurança de salvação. Ele

aprovava a idéia de que alguém baseasse a sua certeza de fé em Cristo

sobre a direta evidência dos próprios sentidos e pelo menos numa

ocasião pareceu ligar a promessa de Deus de certeza e segurança. Ele

escreveu: “Estar seguro de nossa salvação não é arrogante estultícia, é

nossa fé, não é orgulho, é devoção; não é presunção, é a promessa de

Deus” (AGOSTINHO apud BEEKE, 2003, p. 29).

Na perspectiva de Agostinho, a perseverança dos Santos dependia

do exercício contínuo da graça de Deus primariamente por meio da

igreja e de seus sacramentos. Ele conclui que desde que a

predestinação de Deus é velada e que uma experiência interior da


graça poderia ser sempre enganosa, uma participação ativa e continua

nos cultos e sacramentos da igreja é o melhor sinal de que o favor de

Deus é usufruído, ainda que não seja sinal definitivo, pois quando cessa

o exercício da fé, a perseverança também cessa. O crente poderia estar

relativamente certo da graça presente e abrigar razoável esperança da

vida eterna, mas não poderia jamais estar absolutamente certo da sua

salvação futura.

2.2- Pelágio (360-420).

Pelágio, grande adversário de Agostinho, ensinava a doutrina do

livre-arbítrio e negava a doutrina da perseverança dos santos,

colocando a mesma na dependência da incerta obediência do homem.

Aos poucos a Igreja foi adotando uma postura semi-pelagiana, com

isso a Igreja Medieval fechou as portas ao desenvolvimento de uma

doutrina da perseverança. Finalmente essa posição conduziu a igreja

aos conceitos da certeza eclesiástica em vez de Cristológica e

sacramental em vez de pneumatológica, o que, teve efeitos

devastadores na doutrina da perseverança dos santos. Não muito

tempo antes, havia sido desenvolvida a doutrina de que, no batismo,

todos os pecados eram lavados pelo sangue de Cristo, mas que esse

sangue não valia para pecados cometidos após o batismo, resultando


que tais pecados somente podiam ser expiados pelo sofrimento de

penalidades e penitências que a igreja devia impor sobre os ofensores.

Isso levou à fase da história da igreja quando se tornou prática comum

para as pessoas adiar seu batismo, se possível, até a hora da morte, na

esperança de que dessa forma, elas se asseguravam da passagem para

o outro mundo livres de pecados. Isso na verdade, provinha da

insegurança e da incerteza espiritual engendrada por esse ensino que

se habilitasse a entrar no estado celestial. Para o cristão comum,

coerentemente o caminho cristão depois do batismo tornou-se o do

esforço próprio e o sofrimento, sem a segura confiança na obra de

sofrimento e redenção de Cristo na qual o N.T. nos encoraja a confiar.

2.3- Thomás de Aquino (1225?- 1274).

Os séculos foram passando, marcados pelo semi-pelagianismo, até o

surgimento de Thomas de Aquino. Teólogo, filósofo e monge

dominicano. Presumiu uma certeza de predestinação, mas afirmou que

a graça predestinadora de Deus reside além da esfera da percepção

humana. Aquino, portanto, não poderia ir além de uma certeza

conjuntural baseada nas obras. Para Aquino o homem possui livre-

arbítrio, podendo fazer escolhas genuínas, pelas quais também torna-


se responsável. A vontade de Deus é ativa quanto ao homem, e ajuda-o

a fazer as escolhas certas. Sem isso o homem nada poderia.

2.4- Os Reformadores.

Os reformadores restabeleceram esta doutrina, pois viam a fé como

atitude da alma que se apega exclusivamente em Deus. Em protesto

contra aos ensinamentos de Roma, eles chegaram a falar que aquele

que não tem segurança de salvação, não possui a fé verdadeira.

2.4.1- Martinho Lutero (1483-1546).

Introduziu a Reforma, não por causa da crítica doutrinária, mas

por causa do imperativo da experiência religiosa. Sobrecarregado pelo

pecado, Lutero tentou sem sucesso encontrar segurança de fé por meio

da igreja, isto é, dos sacramentos e do sistema penitencial. Finalmente

ele achou a graça de Deus em Cristo, mediante o perdão dos pecados e

não pelo mérito humano.

A abordagem de Lutero à fé e a segurança centrada em Cristo tinha

raízes na experiência pessoal. Mediante sua experiência da graça de

Deus na encarnação, crucificação e ressurreição de Cristo. Lutero

desafiou o sistema semi-pelagiano ao afirmar que a segurança reside


no direito inato de todo cristão. Uma vez que é privilégio do crente

saber que Deus é gracioso para com ele em Seu Filho. Ele não aceitava

qualquer possibilidade que transferisse o peso da salvação de Deus

para o homem.

2.4.2- João Calvino (l509- l564).

Afirmava haver uma perseverança absoluta, para ele os eleitos de

Deus não deixam de responder à chamada divina, visto que, do começo

ao fim, a questão é divinamente impulsionada, não dependendo

somente do homem. Uma vez que atende à chamada, a pessoa eleita

pode desviar-se, mas não perder a salvação. Uma pessoa eleita

perseverará na fé, até a plena concretização da sua salvação, quando

estiver na presença do Senhor.

O confronto de Calvino contra a posição da Igreja de Roma, é

claramente visto na sua argumentação contra Pedro Lombardo, o qual

ensinava a supremacia das obras sobre a fé afirmando que as obras

tomaram da fé o valor e a virtude de justificar. Calvino argumentou

sobre a fé como fonte de nossa segurança e certeza, pois ela é gerada

por Deus e é dirigida para ele, não produz uma salvação dependente do
homem, mas de Cristo. Esta posição ele defende mais amplamente nas

suas institutas.

Esta doutrina faz parte dos cinco pontos do calvinismo:

1. Depravação total.

2. Eleição Incondicional.

3. Expiação Limitada

4. Graça Irresistível.

5. Perseverança dos Santos.

Assim como Calvino sistematizou a doutrina dando segurança

absoluta de que o crente não perde a salvação, não faltou um novo

capítulo na história desta doutrina, dando continuidade a forma de

pensamento semi-pelagiana

2.5- Os Arminianos.

Designa o sistema de doutrinas formulada por Jacobus Arminius

(1560-1609), professor de Teologia na Universidade de Leiden,

Arminio afirmava que o indivíduo pode cair da fé, mesmo esta sendo

autêntica e firmada em Deus.

Os cinco pontos do Arminianismo são estes:

1. Vontade Livre.

2. Eleição Condicional.
3. Redenção Condicional.

4. O Espírito pode ser eficazmente resistido.

5. Os crentes caem da graça.

Essa doutrina de Arminio foi elaborada para refutar os chamados

cinco pontos do Calvinismo. Em 1618 estes pontos foram condenados

no Sínodo de Dort e os remonstrantes, como assim eram chamados,

foram obrigados a deixar a Igreja Reformada.

2.6- A Posição dos Puritanos.

No período pós-reforma, principalmente no século XVII, verifica-se

o surgimento de vários teólogos ortodoxos e puritanos enfatizando o

relacionamento entre fé e a certeza de salvação pessoal. Devido ao

cuidado pastoral por eles exercido e a busca por precisão teológica,

muito material foi produzido. O Dr. Joel R. Beeke desenvolve muito

bem esta influência ao avaliar a participação puritana na confecção do

Artigo 18.2 da Confissão de Westminster, onde sua busca é demonstrar

que os puritanos não contradisseram ou se opuseram às posições

inteiramente adotadas por Calvino, quanto a segurança de fé , ao

enfatizarem as evidências percebidas pelo crente.


Os puritanos assim, não apenas ratificaram a idéia calvinista da

segurança advinda da fé, mas desenvolveram a questão pessoal da

segurança, como mais um ato de graça de Deus.

2.7- A Posição Metodista Wesleyana.

Merece consideração a posição metodista do século XVIII.

Considerando o conceito wesleyano do perfeccionismo, o metodismo se

opôs veementemente ao pessimismo espiritual, que coloca o pecador na

angústia da expectativa do terrível julgamento da lei de Deus. Os

wesleyanos defendiam ardentemente a alegria de se poder buscar e

obter santificação em Cristo e certeza de salvação. Mesmo negando a

eleição, os metodistas consideravam sua estabilidade afirmando que a

segurança pertence ao presente somente e não ao futuro e que esta

segurança é estar em presente estado de graça e não uma segurança da

salvação final. Para os metodistas, portanto, a segurança é segurança

no presente e insegurança no futuro, pois confere ao crente a

responsabilidade de mantê-la ou perdê-la. Tal posição se caracterizava

por ser quase exclusivamente uma questão de sentimento, e portanto,

muito mais uma coisa por si mesma instável.


2.8- A doutrina nos Dias Atuais.

Teólogos reformados do século XX, não pouparam esforços em

defender a segurança da salvação oferecida aos eleitos, contudo, os

escritores recentes de nossa década, reconhecem um certo

arrefecimento da pregação, e produção de material doutrinário para

analisar, aplicar e defender a doutrina da segurança da fé. Por outro

lado, parece-nos claro a posição da igreja Romana de continuar

abraçada à decisão do concílio de Trento. Mesmo admitindo que o

homem não pode produzir por si mesmo a fé esta deve ser-lhe dada por

Deus, a teologia católico-romana não admite a segurança desta dádiva.

Afirmam que nos evangelhos é claramente exposta, a possibilidade da

perda da salvação já recebida.

Quanto a posição reformada, há uma certa tensão entre o

acoplamento exclusivo da certeza de salvação à fé salvadora, frente a

consideração da segurança gerada por uma vida transformada,

regenerada pelo Espírito Santo e conduzida a produzir frutos para a

santificação.
2.9- As Confissões Históricas.

Vejamos algumas confissões de fé que enfatizaram a doutrina da

Perseverança dos Santos:

2.9.1- O Sínodo de Dort 1618.

Deus que é rico em misericórdia, segundo Seu imutável


propósito da eleição, não retira totalmente o Espírito Santo
do seu povo, mesmo em suas graves quedas; nem consente
que cheguem ao ponto de perderem a graça da adoção e
serem privados do estado de justificação, ou de cometerem
pecado para a morte ou contra o Espírito Santo; tampouco
permite que eles fiquem totalmente desamparados e se
precipitem na destruição eterna.

Foram as palavras do Sínodo de Dort que em 1618 reuniu-se e

refutou o arminianismo.

2.9.2- Confissão de Fé de Westminster 1643-1646.

Capítulo XVII.

ART. I
Os que Deus aceitou em seu Bem-amado, os que Ele chamou
eficazmente e santificou pelo Espírito, não podem decair do
estado de graça, nem total, nem finalmente; mas com toda
certeza hão de perseverar nesse estado até o fim e serão
eternamente salvos.
(Ref. Fp 1.6; Jo 10.28-29; I Pe 1.5,9).

ART. II
Esta Perseverança dos Santos não depende do livre arbítrio
deles, mas da imutabilidade do decreto da eleição,
procedente do livre e imutável amor de Deus Pai, da eficácia
do mérito e intercessão de Jesus Cristo, da permanência do
Espírito e da semente de Deus neles e na natureza do pacto
da graça; de todas estas cousas vêm a sua certeza e
infabilidade.
(Ref. II Tm 2.19; Jr 31.3; Jo l7.11,24; Hb 7.25; Lc 22.32;
Rm8.22,34, 38-39, Jo 14.l6-l7; I Jo 2.27; 3.9; Jr 32.40; II Ts
3.3; I Jo 2.l9; Jo 10.28).

ART. III
Eles porém, pelas tentações de Satanás e do mundo, pela
força da corrupção neles restante e pela negligência dos
meios de preservação, podem cair em graves pecados e por
algum tempo continuar neles; incorrem assim no desagrado
de Deus, entristecem o seu Santo Espírito e de algum modo
vêm a ser privados de suas graças e confortos; têm os seus
corações endurecidos e as suas consciências feridas;
prejudicam e escandalizam os outros e atraem sobre si juízos
temporais.
(Ref. Sl 51.l4, Mt 26.70-74; II Sm 12.9,13; Is 64.7,9; II Sm
11.27; Ef 4.30; Sl 51.8,10,12; Ap 2.4; Is 63.17; Mc 6.52; Sl
32.3-4; II Sm 12.14; Sl 89.31-32).

Esta confissão foi redigida a partir de l643 até l649 em uma das

salas da Abadia de Westminster, em Londres, onde se realizou o

concílio convocado pelo parlamento inglês, com a participação de

muitos teólogos eruditos que discutiram ponto por ponto.

2.9.3- O Concílio de Trento.

A Igreja Católica Romana declarou no concílio de Trento cap.XII

Ninguém, ademais, enquanto está nesta vida mortal deve


presumir quanto ao secreto mistério da divina predestinação,
determinando por certo que esteja seguramente incluído no
número dos predestinados; se isso fosse verdade, isto é, que
ele fosse justificado, não poderia prometer a si mesmo um
arrependimento seguro; exceto por revelação especial, não
se pode saber a quem Deus escolheu para a vida eterna.
(Cânones de Trento, apud BEEKE, 2003,P.33).

No capítulo seguinte sobre a perseverança, o Concílio acrescenta:

“Que ninguém aqui prometa a si mesmo qualquer coisa como

absolutamente certa, embora todos devam colocar firme esperança na

ajuda de Deus”(Ibid).

O efeito dessa falta de segurança fez com que os indivíduos se

sentissem dependentes da igreja como canal exclusivo de Deus para a

graça divina, de modo que a questão entre catolicismo romano e os

reformadores era, essencialmente, o da autoridade eclesiástica posta

contra a autoridade da Escritura. Assim a situação se tornou madura

para a reação da parte dos reformadores protestantes em apoio à

escritura e numa busca pessoal por segurança de salvação.


III

BENEFÍCIOS PRÁTICOS DA PERSERVERANÇA DOS


SANTOS NA VIDA DA IGREJA HOJE.

Como cristãos temos motivo para nos alegrar nesta vida: o nosso

nome está escrito no livro da vida. A consumação da salvação dos


eleitos de Deus é tão segura que está indelevelmente registrada nos

céus.

Quando os discípulos de Jesus se alegraram por que os demônios se

submetiam a eles, Jesus lhes disse: “...alegrai-vos, não porque os espíritos

se vos submetem, e sim, porque os vossos nomes estão arrolados nos céus”.

(Lc 10.20). Eles deviam alegrar-se porque eram eleitos de Deus, por que

tinham seus nomes no livro da vida do Cordeiro, porque a salvação deles

era firme, estável, segura, eterna.

Estas salvação firme, estável, segura e eterna produz no coração do

remido certos resultados práticos que passaremos a descrevê-los.

3.1 - Gratidão.

“Qualidade de quem é grato, reconhecimento, agradecimento”.

(Aurélio,2001 p.381). O salvo é alguém que tem um preito de gratidão

por sua salvação, pois, reconhece que era indigno de tal graça, era

pecador e estava distante de Deus, no entanto, Deus em sua infinita

misericórdia, o chamou, salvou e regenerou e dá garantia de vida

eterna, somente isso seria motivo suficiente para ser grato a Deus e

permanecer em sua presença.

Ademais, o Senhor nos promete as condições necessárias para

permanecermos fiéis e em sua promessa; “Porei o meu temor no teu


coração, para que nunca se apartem de mim” (Jr 32.40). A salvação

daqueles que estão na aliança com Deus é provida aqui por uma

promessa absoluta do Deus onipotente, que forçosamente será

cumprida . É nítida, clara incondicional e positiva: “Nunca se

apartarão de mim”.

Todo este benefício de Deus gera em nosso coração um profundo

senso de gratidão. Deus me trata tão bem, como poderei me afastar

dele? Ele me ama tanto como poderei ofendê-lo? Ele me favorece tão

grandemente dia-a-dia que não posso fazer aquilo que é contrário à

sua vontade. A gratidão tranca as portas contra o pecado. O grande

amor recebido derruba a grande tentação para desgarrar-se.

Exclamamos: “O Senhor me banha no Seu amor, como poderei

cometer essa grande maldade?”. É nossa alegria cumprir os Seus

mandamentos e escutar a voz da Suas palavras.

3.2- Segurança de Salvação.

Falamos inicialmente que o salvo tem um preito de gratidão para

com Deus pela sua salvação motivado basicamente pela segurança.

Mas seria possível alguém ser salvo e não possuir a segurança de

salvação? A convicção da salvação pode ser proveniente de um

testemunho direto do Espírito Santo através do relacionamento filial


com Deus, este derramamento soberano nos corações por parte do

Espírito Santo e do amor que Deus tem por seus filhos é a convicção de

salvação mais elevada que o crente pode Ter neste mundo. Esta

convicção de salvação é também chamada por alguns de o selo com o

Espírito Santo. A convicção doutrinária é outra importante fonte de

segurança de salvação, a certeza que provém da fé no ensino bíblico.

A doutrina arminiana não dá lugar para que o crente possa ter

convicção plena de sua salvação, porque ela depende dele, do seu livre

arbítrio, da sua decisão, da sua fé. O arminiano crê que a qualquer

momento pode apartar-se final e definitivamente da graça de Deus. O

máximo que ele pode acalentar no seu coração é a esperança de que

consiga chegar lá. Mas não há segurança. Sua doutrina não permite.

Enquanto isto a doutrina da perseverança dos santos afirma “aquele

que começou a boa obra em nós, há de completá-la até o dia de Cristo

Jesus”(Fp 1.6). E nada, nem ninguém poderá separá-lo do amor de

Deus que está em Cristo Jesus. Nem morte, nem vida, nem anjos, nem

principados, nem poderes, nem altura, nem profundidade, nem

qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor eterno e imutável

de Deus, manifestado na redenção que temos em Cristo. Se quando

inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte de Jesus,

muito mais agora, estando já reconciliados, podemos estar seguros de

que a nossa salvação se consumará. A palavra nos garante: “Se habita


em vós o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse

mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos, vivificará

também os vossos corpos mortais por meio do seu Espírito que em vós

habita”. (Rm 8.11).

Apesar de convertidos, novas criaturas, com uma nova natureza;

mas ainda neste mundo tenebroso. Ainda tendo que enfrentar o diabo

e a nossa própria natureza pecaminosa. Temos ainda um corpo mortal,

corrompido e sujeito a muitas paixões e concupiscências. Um vaso

frágil, de barro, com um grande tesouro. Enfermidades, dores,

necessidades, tentações, provações, inimigos espirituais terríveis;

estamos sujeitos a tudo isso. Que dizer das deficiências e deturpações

do nosso próprio caráter?

Se a nossa glorificação dependesse de nós mesmos, estaríamos

irremediavelmente perdidos. Se Adão, em estado de inocência, caiu

quando foi deixado por conta própria, que dirá nós em nosso corpo

corrompido pelo pecado, em um mundo igualmente corrompido!

No entanto, somos guardados pelo poder de Deus para a salvação

preparada e reservada nos céus para nós. Esta é a fonte de nossa

segurança, a base da nossa convicção: “Deus, o poder de Deus; a

suprema grandeza do Seu poder para os que cremos. A eficácia da força

do seu poder. O mesmo poder que Ele exerceu para ressuscitar a Cristo
dentre os mortos nos livrará de toda obra maligna, e nos levará a salvo

para o seu reino celestial”. (2 Tm 4:18).

Bendito seja Deus, tão certo como chegamos aqui, também

chegaremos lá. Nossa salvação torna-se segura para nós, quando

descobrimos que a sua causa está no coração de Deus. E neste não pode

haver variação nem sombra de mudança.

3.3- Conforto nas Provações.

Outro benefício prático da doutrina da Perseverança dos Santos

para a vida da Igreja Hoje é o conforto e o consolo que esta doutrina

nos dá em momentos de provações. Em sobrevindo as enfermidades, o

infortúnio, as aflições, a necessidade, as perseguições e a dor, o crente

vê sempre presente a mão de Deus agindo para o bem dos Seus filhos.

“Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam

a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito”. (Rm 8.28).

Embora muitas vezes não compreendamos, lembremo-nos do que disse

Jesus: “O que faço não o sabes agora; compreendê-lo-ás depois”.(Jo

13.7).

Verdadeiras tragédias podem ser consideradas leves e momentâneas

tribulações que produzem eterno peso de glória (2Cor 4.17). Olhando

neste prisma podemos até nos regozijar nos sofrimentos, sentir prazer
nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas

angústias por amor de Cristo (2 Cor 12:10).Vistas como manifestações

soberanas de Deus para o nosso próprio bem, as provações podem ser

até bem vindas para os eleitos de Deus.

A provação pode ser também correção que vem do Senhor: ”O Senhor

corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe”(Hb 12.6).

“Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo

presente não são para comparar com a glória por vir a ser revelada em

nós”(Rm 8.12).A doença serve para lembrar-nos da morte, e nos faz

pensar mais seriamente em Deus, no estado da nossa própria alma, e

no mundo vindouro. Os infortúnios amolecem o nosso coração. As

privações nos humilham, as provações testam a autenticidade e

firmeza da fé.

Bem diferente do que pensam algumas correntes evangélicas hoje, tais

como pentecostais e neo-pentecostais arminianos, que atribuem as

enfermidades e aflições ao Diabo e tudo fazem para livrarem-se delas.

3.4- Santidade.

Pessoas contrárias a doutrina da perseverança dos santos, afirmam

que esta leva o crente à indolência e a imoralidade, uma vez que não

perderão jamais a salvação. No entanto, o que a doutrina da


perseverança dos santos afirma é totalmente o contrário: “porei o meu

temor no seu coração, para que nunca se apartem de mim”(Jr 32.40),

Spurgeom comentando este texto afirmou:

“que ninguém diga, portanto: embora volte para meus velhos pecados,
e cesse de orar, de me arrepender, ou de crer, ou de ter algo da vida de
Deus em mim, ainda assim serei salvo”.
Não, não falador profano; o texto não diz: “Serão salvos embora se
apartem de mim” ele diz “para que nunca se apartem de mim”
O homem convertido não pode viver como quer; ou melhor, é tão
transformado pelo Espírito Santo, que se pudesse viver como quer,
nunca pecaria, mas viveria uma vida absolutamente perfeita. O Senhor
diz: “porei o meu temor no seu coração”. Esse temor nunca seria
achado ali se Deus não o colocasse ali.(SPURGEON s.d. p.4).

Quando bem entendida, a doutrina da Perseverança dos Santos não dá

nenhum encorajamento à preguiça ou negligência no cumprimento do

dever. Nem muito menos, conduz à licenciosidade. Quem toma ocasião

para pecar contra Deus, ou para ser indolente em Seu serviço, não

somente entende mal, mas aplica incorretamente a doutrina. A

perseverança na santidade é a única prova infalível de que o coração é

reto. Quem deixa de perseverar, presumindo que o seu coração é reto,

Crê sem adequada evidência, e está arriscando perigosamente os seus

interesses internos. A doutrina da Perseverança dos Santos se resume

nisto: a graça no coração produzirá a perseverança até ao fim. Onde

esse efeito não é produzido a causa também não existe.

Todavia, o Senhor promove os meios para que possamos perseverar; A

influência direta do Espírito Santo soma-se ao poder intrínseco da

Palavra de Deus, o qual o Senhor Jesus orou pedindo: “Santifica-os na


verdade, a tua palavra é a verdade” (Jo17.17). O salvo deve procurar

viver do modo digno da vocação a que foi chamado. Um coração

humilhado e grato a Deus não pode conviver pacificamente com o

pecado.

“Que diremos pois? Permanecemos no pecado, para que seja a


graça mais abundante? De modo nenhum. Como viveremos ainda no
pecado, nós os que para ele morremos?... Porque o pecado não terá
domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça? (Rm
6:1-2, 14,15).

O modo de confirmar a vocação e eleição é, continuar crescendo. Isso

implica que a nossa certeza de salvação pode crescer ao longo do

tempo. Pedro aconselha seus leitores a acrescentar à sua fé a virtude; o

conhecimento; domínio próprio; perseverança, a piedade,

fraternidade, amor (2Pe 1.5-7)

Depois diz que essas coisas devem existir nos seus leitores,

aumentando continuadamente (2 Pe. 1.8). Pedro ainda acrescenta que

eles devem procurar com diligências cada vez maior, confirmar a

vocação e eleição diz depois que procedendo assim, não tropeçareis em

tempo algum (2 Pe 1.10).

A cada ano em que aumentamos essas virtudes, obtemos mais e mais

certeza da salvação. Assim essa certeza pode crescer e transformar-se

numa convicção ainda maior ao longo dos anos desde que cresçam na

maturidade cristã.
“ Que daremos ao Senhor por todos os seus benefícios para

conosco?... Oferecer-te-emos sacrifícios de ações de graças, e

invocaremos o nome do Senhor” (Sl ll6:l1,l7). É isto o que faremos.

Ofereceremos nossos corpos por sacrifício vivo, santo e agradável a

Deus, que é o nosso culto racional. “E não nos conformaremos com este

século, mas nos transformaremos pela renovação da nossa mente, para

que experimentemos qual seja a boa agradável e perfeita vontade de

Deus.”(Rm 12:1-2). Nós o bendiremos por todos os dias da nossa vida;

e nos empenharemos a viver de modo digno da vocação a que fomos

chamados, para seu santo agrado. Isto é o que faremos, como gratidão

pelos incontáveis benefícios para conosco.


CONCLUSÃO

Com base no que foi exposto sobre a doutrina da Perseverança dos

Santos, em resumo podemos dizer que é uma doutrina fundamentada na

Palavra de Deus e que foi sistematizada a partir do século XVI, com os

reformadores.

O que a doutrina da Perseverança dos Santos ensina, é que o crente pode

ter certeza de sua salvação, pela fé em Jesus Cristo. Esta salvação depende

totalmente da graça de Deus e não de méritos do homem.

Uma vez que se tem a certeza da salvação, pela fé em Cristo, e a mesma

é testificada com o nosso espírito pelo Espírito de Deus, podemos ficar

seguros. O crente jamais cairá total e finalmente da graça de Deus, porque a


perseverança não depende do livre arbítrio, mas do Deus Trino. A Trindade

está empenhada em salvar e preservar a todos os que foram eleitos e

incluídos no “imutável decreto da eleição, procedente do livre e imutável

amor de Deus Pai.”

O Deus Trino realizou tudo quanto foi necessário para a salvação e

preservação do seu povo, e continua operando para que tudo, com certeza,

se consuma.

Diante do exposto poderia ser dito que foi eliminado toda a participação

do homem neste processo de salvação e preservação. Com a queda do

nosso primeiro representante, Adão, nós herdamos o estado de depravação.

Graças a Deus, porque Ele nos salvou e nos preserva. Isto Ele fez por amor,

amor tão maravilhoso que nos libertou da escravidão do pecado.

A doutrina por outro lado, não nos torna irresponsáveis, pois, fomos

eleitos para preservar em santidade de vida, e não na prática de pecado.

Não há um texto bíblico que nos desestimule à santificação de nossa vida.

Ao contrário, “sem santificação ninguém verá a Deus” (Hb 12.14).

Os eleitos de Deus na eternidade e alcançados no tempo pelo evangelho

da graça, devem perseverar em santidade de vida; porém, não quer dizer

que nunca cairão. O crente está sujeito a cair de modo relativo e nunca de

modo absoluto. Cai em pecados graves e sofre experiências drásticas.

Porém nunca cairá em pecado tão graves como pecado de blasfêmia contra

o Espírito Santo.
Quando um crente cai, sofre a disciplina de Deus e mediante a

cooperação do Espírito Santo, se ergue, pela graça de Deus, para um nível

espiritual superior. Assim entendemos que o crente cai. Seria bom se não

caísse, mas a Bíblia testifica que o crente cai: “Sete vezes cairá o justo e se

levantará” (Pv 24.16). se levantará porque o Senhor “jamais permitirá que

seja abalado”(Sl 52.22). O Espírito Santo nunca permitirá que os eleitos de

Deus pequem contra Ele, pois se Ele permitisse, pecaríamos e seríamos

abalados, de nossa firme base que é o próprio Deus Trino.

Tenhamos, pois, a mesma convicção que teve o nosso irmão e apóstolo

do Senhor:

“Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus


quem os justifica. Quem os condenará? É Cristo Jesus quem
morreu, ou antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de
Deus e também intercede por nós. Quem nos separará do
amor de Cristo? Será a tribulação, ou angústia, ou espada?
Porque eu estou bem certo de que nem morte, nem vida, nem
anjos, nem principados, nem coisas do presente nem do
porvir, nem poderes, nem altura, nem profundidade, nem
qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus
que está em Cristo Jesus” (Rm 8.33,343,35,37-39).

Por isso afirmamos a necessidade da Igreja hoje, estudar a doutrina da

Perseverança dos Santos, pois como apresentamos no nosso trabalho a

ausência do conhecimento desta doutrina leva a Igreja a viver dependendo

do seu próprio esforço para alcançar e manter a sua salvação.


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