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ARTIGO 2 – COMO CONHECEMOS DEUS

Nós o conhecemos por dois meios. Primeiro: pela criação, manutenção e


governo do mundo inteiro, visto que o mundo, perante nossos olhos, é como um
livro formoso1, em que todas as criaturas, grandes e pequenas, servem de letras
que nos fazem contemplar “os atributos invisíveis de Deus”, isto é “o seu eterno
poder e a sua divindade”, como diz o apóstolo Paulo (Romanos 1.20). Todos
estes atributos são suficientes para convencer os homens e torná-los
indesculpável.
Segundo: Deus se faz conhecer, ainda mais clara e plenamente, por sua
sagrada e divina Palavra2, isto é, tanto quanto nos é necessário nesta vida, para
sua glória e para a salvação dos que Lhe pertencem.

01- O assunto do artigo 2.


O assunto do artigo 2 da “confissão de fé” diz que Deus se revela a nós, homens,
por dois meios:
a) Pelo o que Ele fez e ainda faz.
Ele criou o mundo e até hoje o mantém e governa. Por isso, a criação é como um
livro formoso sobre Deus, cujas criaturas são as letras do livro. Assim podemos
“ler” o que, sem este livro, seria invisível, isto é, o eterno poder de Deus e sua
divindade (Romanos 1.20). O livro é tão convincente que aos homens não resta
nenhuma desculpa que justifique a sua ignorância.
02- “Nós o conhecemos”: uma surpresa.
a) As primeiras três palavras do artigo 2 são significativas: “nós o conhecemos”.
Conhecer Deus, de maneira alguma é normal ou lógico, porque o artigo 1 falou
que Ele é eterno, incompreensível e infinito. O conhecido teólogo Suíço Karl
Barth (1886-1968) ensinou que é impossível ter verdadeiro conhecimento de
Deus, portanto, não somos capazes de saber quem Ele é e o que Ele quer. Na
opinião de Barth, não podemos deixar Deus “preso” na medida humana do nosso
entendimento.
b) Em parte Barth tem razão: realmente não podemos pretender “fechar” Deus no
entendimento humano; seria uma arrogância. Por outro lado, Deus se faz
conhecer justamente de acordo com a medida do nosso conhecimento (desta
realidade Barth não quis saber).
Deus se “adapta” ao nosso entendimento limitado. Um exemplo pode esclarecer
este modo de falar: uma criança conhece sua mãe, mesmo que não saiba tudo
sobre ela. Apesar disso, o conhecimento da criança é absolutamente fiel. Entre
mil outras mães, ela conhece a sua mãe. Assim os filhos de Deus conhecem seu
pai celestial.
1
Salmo 19:1-4.
2
Salmo 19:7, 8; 1 Coríntios 1:18-21.
03- Deus se revela através de um “livro formoso”.
a) o primeiro meio para conhecermos Deus é “a criação, a manutenção e o
governo do mundo inteiro”.
A criação nos faz pensar, principalmente, na natureza que à sua maneira,
proclama que Deus é poderoso (veja Salmo 19:1-6 e Salmo 104).
Na manutenção ou (preservação) se manifesta o poder divino, que sustenta e
conserva toda esta criação. Deus “dá o alimento aos animais e aos filhos dos
corvos, quando clamam” (Salmo147.7-9); Ele faz com, que “não deixe de haver
sementeira e ceifa, frio e calor, verão e inverno, dia e noite” (Gênesis 8.22).
A palavra governo indica que Deus dirige todos os eventos, até as mais terríveis,
como mostra, por exemplo, a história de José que foi vendido pelos seus irmãos
(Gênesis 50.20; veja também Atos 2.23).
b) Todo este cuidado múltiplo de Deus faz, do mundo “um livro formoso”. E um
livro formoso corresponde às maiores exigências: é claro, bem legível, instrutivo,
impressionante e convincente. O próprio Deus é o autor desse livro. Ele faz com
que as palavras do livro sejam e forneçam uma mensagem, uma pregação; elas
nos dão a entender “o seu eterno poder e a sua divindade”, que são o assunto
desse livro bonito, que Deus é tanto o autor como o personagem principal.

04- “Suficiente para convencer os homens e torná-los indesculpáveis”.


a) O artigo 2 usa as palavras do apóstolo Paulo (Romanos 1.20) para mostrar o
caráter convincente do livro da criação. As criaturas (as letras do livro) nos fazem
contemplar “os atributos invisíveis de Deus”, que são suficientes para convencer
os homens e torná-los indesculpável. Sem duvida, os homens vão tentar justificar
sua vida sem Deus. A maior desculpa será que não sabiam e nem podiam saber
de Deus (porque nada ouviram sobre Ele). Mas esta desculpa será refutada pelo
fato de que eles possuíam o livro formoso da criação, em que poderiam observar
o eterno poder e a divindade de Deus. Este livro foi e é suficiente e convincente;
por isso, eles não têm desculpa válida. Deus lhes mostrou o livro “escolar” dEle.
Eles viram as estrelas e as flores, os animais e os peixes, e tudo mais. Apesar
disso, não reconheceram Deus.
b) Mas não é verdade que a pessoa, que não tem a bíblia, jamais pode conhecer
Deus através do mundo em que está vivendo? É verdade!
Não há ninguém que conheça o eterno poder e a divindade de Deus, porque “leu”
muito bem o livro da criação. Para conhecer Deus, a palavra escrita dEle é
indispensável.
Mesmo assim, aquela desculpa (“não o sabíamos”) não é válida. Pois, o ponto
decisivo não é: podiam eles ler o livro da criação? O ponto decisivo é que Deus
lhes havia dado o livro!
O fato de que os homens não podem e não querem ler é outra coisa. Aliás, este
artigo 2 não diz que até os gentios possam conhecer o poder e a divindade de
Deus apenas pela leitura do livro da criação. Diz, sim, que eles são
indesculpáveis. Por quê? Porque o livro da criação é suficientemente claro e
porque é deles a culpa de não poderem ler. Pois Deus criou de tal maneira que
pudessem ler. Mas os homens se privaram desta capacidade. Com o livro
formoso da criação “na mão”, “obscureceu-se-lhes o coração insensato”
(Romanos 1.21). Por isso, não há desculpa, apenas culpa, porque “desprezaram o
conhecimento de Deus” (Romanos 1.28).
c) Entretanto, a verdade é que a criação ou a natureza não nos comunica como
Deus enviou seu Filho para conciliar nossos pecados. Ninguém é capaz de
conhecer Cristo e a obra dEle através da criação ou da natureza.
Mas o mínimo que os gentios deviam ter conhecido e reconhecido (o eterno
poder e a divindade de Deus) é negado por eles. Por isso mesmo, são
indesculpáveis.

05-“Sua sagrada e divina palavra”.


a) “Segundo: Deus se faz conhecer, ainda mais clara e plenamente, por sua
sagrada e divina palavra”. Tratava-se da Palavra escrita dEle, como foi falada,
anteriormente, pelos profetas, pelos apóstolos e por Cristo. Este segundo meio
nos faz conhecer Deus mais clara e plenamente do que o primeiro meio (a
criação). Pois, em sua palavra, Deus fala aos homens em palavras humanas que
todos podem entender. Salmo 104, por exemplo, fala mais claramente do poder
eterno de Deus do que qualquer flor. Além disto, a Palavra de Deus também fala
mais plenamente, porque somente através dela sabemos que “Deus amou o
mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito” (João 3.16).
b) Às vezes se diz que, conforme o artigo 2 da confissão, os dois meios (para
conhecer Deus) são dois livros de igual importância, que podem ser lidos
separadamente. Um é o livro formoso da criação, o outro é a palavra escrita de
Deus. O argumento é que o segundo meio apenas fala “mais clara e plenamente”;
então, somente complementa o primeiro meio. Seria possível, portanto, conhecer
Deus razoavelmente bem somente pela criação ou pela natureza.
Neste contexto fala-se sobre o chamado “conhecimento natural de Deus”. Os
católico-romanos acreditam neste conhecimento natural (como foi decidido no I
concílio do Vaticano, em 1870).
Pórem, o artigo 2 não ensina assim. Se você pergunta: quem conhece Deus pelos
dois meios, a resposta é: nós, ou seja: os fiéis, as mesmas pessoas que falam no
artigo 1. Os incrédulos não conhecem Deus, nem pelo livro da criação, nem pelo
livro da bíblia; usam, como cegos, o livro da criação. Para realmente enxergar a
criação, precisamos dos “óculos” da Bíblia (veja 1 coríntios 2.9-10 e Romanos
10.14).
c) No entanto, nosso conhecimento de Deus não é completo, não pela Bíblia e
muito menos pela criação. Deus transcende nosso entendimento. Mas o que
sabemos dEle, é fidedigno; e é também suficiente, porque é tudo quanto “nos é
necessário nesta vida, para sua glória e para a salvação dos que Lhe pertencem”.
São palavras sensatas. Deus não se revela para satisfazer nossa curiosidade. Mas
Ele se faz conhecer para nos salvar e para ser glorificado por nós.

Fontes e perguntas para pensar:


1- Você acha que há uma diferença entre, por exemplo, um biólogo cristão e
um biólogo não-cristão, quando pesquisam a natureza?
2- Será que o artigo 2 da confissão nos fornece um argumento para cuidar
bem do meio-ambiente?
3- Há pessoas (principalmente no meio pentecostal) que dizem que podemos
conhecer Deus sem a Bíblia, por uma “manifestação” direta do Espírito
Santo. Como avalia esta opinião?
4- Às vezes se diz que o próprio Deus fez com que surgisse o paganismo;
então, Ele mesmo é responsável pelo fato de que muitas pessoas não o
conhecem, porque não se revelou a todos. Você acha que é verdade?
Leia, por exemplo, Gênesis 3:9-19 e 9:8-9.

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