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RESUMO
Ao falarmos de Seguridade Social, surge a idéia primária de Previdência Social. Consoante o art. 216
da Constituição Federal de 1988 por Seguridade Social, compreende-se o conjunto integrado de ações
de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, assegurada mediante políticas sociais, econômicas,
ambientais e assistenciais, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à
assistência social. Devido a distorções quanto ao seu verdadeiro significado, a Seguridade Social, no
Brasil, tem sido alvo de reformas e críticas e assemelha-se a um seguro social. Toda Constituição
inserida em um Estado Social e Democrático de Direito é alicerçada nos direitos fundamentais, e a
nossa Carta Magna de 1988, não foge a regra. A nova visão e conceito de saúde inserido pelo Texto
Constitucional traz à discussão a importância atribuída à saúde como direito social e fundamental de
eficácia plena e aplicabilidade imediata, bem como sua difícil efetivação no Brasil. Através das políticas
sociais, principalmente do SUS, busca-se a efetivação deste direito prestacional. Percebe-se que a
realidade brasileira está distanciada, na área da saúde, do que preconiza o Texto Constitucional. Os
fatores desse distanciamento passam pela falta de vontade e comprometimento de alguns
administradores, até a escassez de recursos financeiros.
ABSTRACT
When we talk about Social Security, the idea is the first of Welfare. According to art. 216 of the Federal
Constitution of 1988 by Social Security, it is the integrated set of actions of the initiative of Public
Powers and society, assured by social, economic, environmental and welfare, to ensure the rights to
health, welfare and social assistance. Due to of distortions his true meaning, the Social Security in
Brazil, has been the target of criticism and reform and has characteristics of an insurance social. Entire
Constitution inserted in a Democratic and Social State of Law is founded on fundamental rights, and our
Magna Carta of 1988, no exception to rule. The new concept of health inserted by the Constitutional text
discusses the importance of health as a fundamental right and social, of full effectiveness and
immediate applicability, and its difficult realization in Brazil. Through social policies, especially the SUS,
seeks to making realizable this right prestacional. Of course, the Brazilian reality, in health, is far from
the recommended by the constitutional text. The causes of this distance ranging from the lack of will and
commitment of some administrators, up to scarcity of financial resources.
AG – Agravo
Art. – Artigo
CAPs – Caixas de Aposentadoria e Pensão
CEME- Central de Medicamentos
CF/88 – Constituição Federal de 1988
CLPS – Consolidação das Leis da Previdência Social
CPMF - Contribuição Provisória sobre a Movimentação ou Transmissão de Valores e
de Créditos e Direitos de Natureza Financeira
DJ – Diário da Justiça
Fls.- Folhas
FUNABEM – Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor
FUNRURAL – Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural
INAMPS – Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social
INPS – Instituto Nacional de Previdência Social
INSS – Instituto Nacional de Seguridade Social
LBA – Liga Brasileira de Assistência
LOAS- Lei Orgânica de Assistência Social
LOPS – Lei Orgânica da Previdência Social
Min. – Ministro
MPAS- Ministério da Previdência e Assistência Social
Nº - Número
OIT – Organização Internacional do Trabalho
OMS – Organização Mundial da Saúde
PEC – Proposta de emenda à Constituição
6
SUMÁRIO
RESUMO ..................................................................................................................................................3
ABSTRACT...............................................................................................................................................4
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS.................................................................................................. 5
INTRODUÇÃO......................................................................................................................................... 8
1 A EVOLUÇÃO DA PROTEÇÃO SOCIAL ............................................................................................11
1.1 Seguridade Social: Diversidade de Interpretações....................................................................... 11
1.2 Evolução da Seguridade Social no Mundo ....................................................................................16
1.3 Evolução da Seguridade Social no Brasil ................................................................................. .20
2 BREVE ENFOQUE SOBRE DIREITOS FUNDAMENTAIS ................................................................ 26
2.1 Aplicabilidade Imediata e a Eficácia Plena dos Direitos Fundamentais ........................................32
3 POLÍTICA SOCIAIS E EFETIVAÇÃO DE DIREITOS PRESTACIONAIS............................................39
3.1 Saúde como um Direito Fundamental Social ................................................................................39
3.2 Saúde e Dignidade Humana......................................................................................................... 43
3.3 A Possibilidade de Efetivação do Direito à Saúde no Brasil sob o Enfoque da CF/88
e da Lei nº 8080/90 ......................................................................................................................46
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................................................56
REFERÊNCIAS......................................................................................................................60
8
INTRODUÇÃO
Todos devem ter o direito aos benefícios que ela distribui e o dever de
contribuir para manter a solidariedade entre gerações. Foi esse o ideário que orientou
as políticas sociais após a Segunda Guerra Mundial nos países mais desenvolvidos e
transformando àquelas sociedades em Estados de Bem-Estar Social. Importa
consignar que esse resultado foi conseqüência de uma atitude deliberada das
sociedades através do apoio à intervenção do Estado. Foi essa a base sobre a qual
se assentou o desenvolvimento econômico e social das sociedades mais evoluídas.
A Seguridade Social francesa atual, por sua vez, abrange três grandes
áreas: saúde (seguro saúde e ações sanitárias e sociais); previdência
(aposentadorias, pensões e salário maternidade) e assistência à família (um conjunto
de sete prestações financeiras de apoio familiar). Compartilhando do entendimento de
Dorion & Guionnet (1993), afirma-se que as duas primeiras seguem a lógica do
seguro contributivo, com benefícios proporcionais à contribuição, enquanto a terceira
tem caráter misto .
Essa "oficialização da caridade" – como foi dito, certa vez – tem importância
excepcional: colocou o Estado na posição de órgão prestador de assistência
àqueles que – por idade, saúde e deficiência congênita ou adquirida – não
tenham meios de garantir sua própria subsistência. A assistência oficial e
pública, prestada através de órgãos especiais do Estado, é o marco da
institucionalização do sistema de seguros privados e do mutualismo em
entidades administrativas. [...] Hoje compreende-se que nesse passo estava
implícita a investida de nossa época, no sentido de entender os benefícios e
serviços da Previdência Social à totalidade dos integrantes da comunidade
nacional, a expensas, exclusivamente, do Estado, e não apenas aos
associados inscritos nas entidades de Previdência Social. Dessa forma,
podemos concluir dizendo: naquele momento distante, no princípio do século
XVII, começou, na verdade, a história da Previdência Social.
Lei 8.212/91 há referência aos mesmos princípios constitucionais descritos no art. 194
do referido diploma legal. Vejamos a seguir os citados princípios:
Embora alguns autores considerem que "o Brasil fez a sua reforma à
inglesa, eliminando os fundamentos bismarckianos de um sistema montado nos anos
30 com as características segmentares do alemão" (VIANNA, 1998, p.130),
encontramos presentes, ainda, os elementos do seguro. A seguridade social
brasileira, tal como a Constituição a instituiu, ficou entre o seguro e a assistência, já
que a lógica do seguro que sustenta a previdência brasileira desde sua origem não
só não foi suprimida, como foi até mesmo reforçada em alguns aspectos. Os
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Jorge Miranda (2000, p.115) elenca três razões para não utilizar a
terminologia „direitos do homem‟ como sinônima de „direitos fundamentais‟, a saber:
a) trata-se de direitos assentes a ordem jurídica e não de direitos derivados da
natureza do homem; b) a necessidade de, no plano sistemático da ordem jurídica
(Constitucional), considerar os direitos fundamentais correlacionados com outras
figuras subjetivas e objetivas (organização econômica, social, cultural e política); c)
os direitos fundamentais presentes na generalidade das Constituições do século XX
não se reproduzem a direitos impostos pelo Direito natural.
educação e assistência social. Neste sentido, o Estado para cumprir com suas
obrigações sociais na prestação de serviços básicos e essenciais a população, há de
realizar investimentos consideráveis na área social, e para alavancar estes
investimentos, o Estado atua como ente econômico, para desta forma conseguir
crescer e conseqüentemente cumprir com suas obrigações constitucionais no que
tange as prestações sociais.
primeira dimensão (direitos civis e políticos), e no que diz respeito ao século XX, este
foi caracterizado por uma nova ordem social, a qual ejeta uma nova estruturação dos
direitos fundamentais não mais sedimentada no individualismo. Entende-se aqui, os
direitos civis e políticos como os direitos à vida, liberdade, propriedade, segurança
pública.
a nota distintiva destes direitos” é a sua dimensão positiva, uma vez que se
cuida não mais de evitar a intervenção do Estado na esfera da liberdade
individual, mas, sim, na lapidar formulação de C. Lafer, de propiciar um
„direito de participar do bem-estar social (Sarlet, 2004, p. 50)
Como dá conta a problemática posta pelo “custo dos direitos”, por sua
vez, indissociável da assim designada “reserva do possível” (que não pode servir
como barreira intransponível à realização dos direitos a prestações sociais), a crise de
efetividade vivenciada com cada vez maior agudeza pelos direitos fundamentais de
todas as dimensões está diretamente conectada com a maior ou menor carência de
recursos disponíveis para o atendimento das demandas em termos de políticas
sociais. Com efeito, quanto mais diminuta a disponibilidade de recursos, mais se
impõe uma deliberação responsável a respeito de sua destinação, o que nos remete
diretamente à necessidade de buscarmos o aprimoramento dos mecanismos de
gestão democrática do orçamento público ( SARLET, 2003, p. 356-357).
Com efeito, verifica-se que deve haver máxima cautela quando o Poder
Executivo se apega ao argumento da reserva do possível para justificar a sua
omissão na área da efetivação dos direitos fundamentais, especialmente de cunho
41
social. É comum o agente estatal apresentar uma desculpa genérica para não
concretizar um direito social, notadamente na área da saúde.
não significa que mesmo dentre os direitos fundamentais não possam existir
distinções quanto à graduação da aplicabilidade e eficácia, dependendo da forma de
positivação, do objeto, e da função que cada preceito desempenha. O § 1º do artigo
5º da Constituição representa uma espécie de mandado de otimização (ALEXY, 2002,
81-114), que impõe a maximização (portanto, otimização) da eficácia de todos os
direitos fundamentais.
Por outro lado, "a causa de inefetividade dos direitos sociais está na
ausência de vontade política para materializar sua principal forma de garantia
(prestações positivas estatais), e não nas dificuldades de acionar tais direitos." Diante
disto, a não atuação do Estado na prestação sanitária, revela uma afronta ao nosso
bem maior, que é a vida. Pois o direito à saúde, neste aspecto é eivado de
aplicabilidade imediata e eficácia plena, e deve ser respeitado como tal, eis que se
consubstancia como um direito público subjetivo, tendo posição de destaque na
Constituição como um direito fundamental social (SCHWARTZ, 2004).
regra, a dignidade humana não costuma ser interpretada como diretamente invocável
a partir de normas constitucionais, pressupondo, ante o seu acentuado grau de
indeterminação, a intermediação do legislador, que fixará suas condições e
dimensões, bem como a respectiva fonte de custeio das prestações dela derivadas
(ZIPPELIUS, 1997, p. 395). No entanto, tratando-se de prestações que se enquadrem,
consoante os valores vigentes no grupamento, em um núcleo, essencial e
incontestável, consubstanciador da dignidade, não há óbice à sua invocação direta
com o fim de alicerçar pretensões dessa natureza. Nesse caso, como veremos, o
difundido vetor principiológico da dignidade assume maior concretude e, consoante a
situação específica, pode assumir o status de direito subjetivo.
1
Paulo Bonavides assim destaca “ o primado da dignidade da pessoa humana” no Estado de Direito
democrático: “...Mas tudo mudou, e mudou para sempre, quando advieram os direitos fundamentais da
segunda, da terceira e da quarta gerações e a reflexão constitucional passou, numa hora feliz, de
compatibilização teórica, para o outro pólo – o da vertente tópica, também aristotélica, formando os
juristas de uma nova escola de pensadores e hermeneutas. Suas postulações fizeram o princípio
deslocar a regra, a legitimidade a legalidade, a Constituição a lei, e assim logrou estabelecer o primado
da dignidade da pessoa humana como esteio de legitimação e alicerce de todas as ordens jurídicas
fundadas no argumento da igualdade, no valor da justiça e nas premissas da liberdade, que
concretizam o Estado de Direito”. (Cfme. BONAVIDES, Paulo. Teoria Constitucional da Democracia
Participativa. São Paulo: Malheiros, 2001, p.221).
54
2 1a T., ROMS no 11.183/PR, rel. Min. José Delgado, j. em 22/08/2000, RSTJ no 138/52. No mesmo
sentido, autorizando o levantamento de verbas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço para fins de
tratamento de portador do vírus HIV, hipótese não contemplada na respectiva lei de regência: 1a T.,
REsp. no 249.026/PR, rel. Min. José Delgado, j. em 23/05/2000, DJ de 26/06/2000, p. 138. A dignidade
o
humana também foi invocada para o fim de identificar a teleologia do art. 20 da Lei n 8.036/90 e
autorizar o levantamento do FGTS para a reconstrução da casa própria parcialmente destruída por
enchente (1a T., rel. Min. Luiz Fux, j. em 09/04/2002, RSTJ no 156/102), bem como para permitir a
aquisição de aparelho auditivo para a filha menor (2a T., REsp. no 560.777/PR, rel. Min. Eliana Calmon,
j. em 04/12/2003, DJ de 08/03/2004, p. 234). Nesse último acórdão, foi decidido que "o princípio
constitucional da dignidade da pessoa humana, com assento no art. 1o, III, da CF/88, é fundamento do
próprio Estado Democrático de Direito, que constitui a República Federativa do Brasil, e deve se
materializar em todos os documentos legislativos voltados para fins sociais, como a lei que instituiu o
Fundo de Garantia por Tempo de Serviço".
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econômicas, sempre com intuito de alcançar a efetivação da saúde como meio para
uma qualidade de vida.
lesão a direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus nem habeas data, em
decorrência de ato de autoridade (alguém dotado de parcela do poder público),
praticado com ilegalidade ou abuso de poder (Art. 5º, LXIX).
interesses difusos e gerais. (A ACP não tem previsão constitucional específica, porém
está inserida no rol do chamado “direito de petição” – (Art. 5º, XXXIV).
Vejamos:
Posto que, por mais que uma norma jurídica esteja inserida no próprio
Texto Constitucional, ela somente poderá alcançar sua efetividade se estiverem
presentes as condições fáticas e jurídicas capazes de lhe conferir esta eficácia. Pois,
caso contrário, na ausência deste contexto favorável e imprescindível à sua
realização, por mais nobre que fosse a intenção do mandamento legal, ninguém
poderá ser forçado a cumprir suas diretrizes. Com efeito, para a implementação de
certas diretrizes legais (sejam constitucionais ou infraconstitucionais), principalmente
no que tange àquelas que exigirão iniciativas positivas (ativas) e materiais do Estado,
cumpre que os Órgãos Jurisdicionais atentem para a circunstância de haver ou não
meios materiais disponíveis para sua concretização.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BARROSO, Luis Roberto. Org. Ana Paula de Barcellos (et, al). A Nova Interpretação
Constitucional: ponderação, direitos fundamentais e relações privadas. Rio de
Janeiro: Renovar, 2003.
BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. 10 ed., Rio de Janeiro: Campus, 1992.
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 10ª ed. São Paulo: Malheiros,
2000.
DORION, Georges & GUIONNET, André. La Sécurité sociale. 4 ed., Paris, PUF,
1993.
GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na Constituição de 1988. 4.ª Ed. São
Paulo: Malheiros.2000.
MARSHAL, T. H., Tr. Meton P. Gadelha. Política social. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1967.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo:
Malheiros, 22 ed. 2003.