Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O baixo potencial produtivo da maioria das pastagens, inclusive nas principais bacias
produtoras de leite do País, constitui uma das principais limitações na produção de leite
do rebanho bovino brasileiro. A produtividade das pastagens brasileiras é baixa
devido, principalmente, à carência de nitrogênio, fósforo e potássio, nutrientes que
mais limitam a produção. Outro fator limitante refere-se ao fato de que na maioria das
regiões fisiográficas brasileiras verificam-se duas estações climáticas bem distintas: a
chuvosa, em que a umidade, a temperatura e a luminosidade são, geralmente,
favoráveis ao crescimento das espécies tropicais e a da seca, em que esses fatores
são, quase sempre, adversos. Como conseqüência, ocorre marcante estacionalidade
anual de produção de forragem.
Temos que estar atentos para não repetirmos os erros cometidos nas décadas
passadas. Nos últimos 50 anos, todos os esforços de pesquisa foram orientados para
desenvolver tecnologias de alto rendimento, fortemente dependentes de grandes
insumos e orientadas, principalmente, para a maximização da produtividade. Além do
aumento da produção e produtividade, agora é hora de pensar nos aspectos
ecológicos envolvidos na cadeia produtiva do leite.
A caracterização do sistema orgânico foi elaborada com base em dados obtidos a partir de
entrevistas com produtores certificados ou em processo de certificação em diferentes regiões
do país. As principais características foram:
Área de 100 ha destinadas à exploração leiteira (pastagens, milho, etc);
Neste sistema previu-se a recria dos machos até um ano, considerando a necessidade
da presença do bezerro como estímulo para a liberação do leite durante a ordenha e a
eventual procura por bezerros criados em um sistema orgânico de produção, como
reprodutores.
Nos dois sistemas, considerou-se a utilização de pastagem de Brachiaria spp. No sistema
orgânico foi adotado o consórcio da gramínea com Stylosanthes guianensis. A suplementação
no período da seca foi realizada utilizando cana-de-açúcar e silagem de milho, dependendo do
nível de produção. No sistema convencional foi usada uma dieta à base de cana-de-açúcar
com 1% da mistura uréia e sulfato de amônia, enquanto que no orgânico, utilizou-se cana-de-
açúcar em associação com o guandu (Cajanus cajan).
Os indicadores de tamanho e os índices de eficiência técnica e produtividade do sistema
orgânico foram menores do que os observados no convencional. Estas diferenças foram
atribuídas, principalmente, à necessidade de utilização de animais de raças mais rústicas,
resistentes a parasitos que, muitas vezes, são menos produtivas. Além disso, ocorreu redução
na capacidade de suporte das pastagens e dos índices de produtividade da terra (litros de leite
por ha/ano) em conseqüência da não utilização de adubos químicos na formação e
manutenção das pastagens.
Quanto ao desempenho econômico o sistema orgânico apresentou custos totais relativamente
mais altos por litro de leite produzido. Isso se explica, em parte, pelo custo do capital que, neste
sistema foi relativamente mais elevado, devido aos menores índices de produtividade (por
animal e por área de pastagem) em comparação àqueles observados no convencional.
No que se refere apenas a produção de leite, o custo total para o sistema orgânico foi de R$
0,65 por litro de leite. Cerca de 50% maior do que o observado no sistema convencional. O
custo operacional total foi maior em 35%. Entretanto, o custo operacional efetivo, representado
pelo desembolso, foi maior em apenas 15%. Esta diferença pode ser atribuída ao menor
desembolso no sistema orgânico, que apresentou uma diminuição de 39% do dispêndio com a
alimentação concentrada, em comparação àquela verificada no convencional. Este fato deveu-
se à limitação imposta pelas Certificadoras quanto ao uso de insumos externos num sistema
orgânico de produção.
O produto do sistema orgânico, por ainda constituir um mercado com oferta menor do que a
demanda, apresenta um valor de mercado aproximadamente 70% mais elevado do que o valor
praticado para o produto convencional. Para um preço pago ao produtor com esse diferencial, a
taxa de remuneração do capital obtida no estudo foi maior para o orgânico do que a obtida no
convencional (5% versus 2% ao ano, respectivamente). O resultado da taxa de retorno menor
para o sistema convencional pode ser devido ao baixo preço do produto utilizado no estudo,
apenas R$ 0,40 (preço médio vigente no segundo semestre de 2005 no mercado de MG).
A avaliação do sistema de produção orgânico de leite, com base nas exigências atualmente
preconizadas pelas Certificadoras, apresentou redução de produtividade por vaca (33%); da
terra (63%); da mão-de-obra (47%) e aumento do custo total por litro de leite em 50%. Para que
sua produção possa ser economicamente viável é necessário um preço ao produtor de, no
mínimo, 70% superior ao praticado para o leite convencional. Situação que deve perdurar até
que se alcance o equilíbrio entre a demanda e a oferta do produto diferenciado.
* Mais informações in: Aroeira, L. J. Stock, L. A., Assis, A. G., Morenz, M. F., Alves, A. A.
Sistema orgânico de produção de leite e sua viabilidade no Brasil, enviado à Reunião Anual da
Sociedade Brasileira de Zootecnia, João Pessoa. 2006.
** Pesquisadores da Embrapa Gado de Leite, Rua Eugenio do Nascimento, 610 - Bairro Dom
Bosco – 36038-330 – Juiz de Fora, MG – 32-3249-4700 - laroeira@cnpgl.embrapa.br,
stock@cnpgl.embrapa.br.