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Direito Constitucional – Dos Municípios

Em regra, a Federação é composta pela união entre Estados. E portanto, a


Federação possui, normalmente, dois núcleos de poder: o da esfera estadual e o
da União Federal, que representa vínculo, logo, os interesses comuns entre
Estados. Todavia, desde o advento da Constituição Federal de 1988, o Brasil
assumiu um modelo de federalismo peculiar, de três níveis (provavelmente seja a
única Federação que trabalhe com esse modelo). Comporta o nível da União
Federal, o nível dos Estados e o nível dos Municípios. Então, na CF/88, os
municípios integram o pacto federativo. Logo, participam da repartição
constitucional de competências. Isso implica dizer que são detentores de
autonomia, sendo titulares de um campo próprio de atuação. Mas há uma razão
para isso: fatores históricos explicam essa opção, por esse modelo federativo de
três níveis. A primeira delas diz respeito ao processo de formação. O Brasil, em
primeiro momento, se estruturou como colônia de Portugal, para que os
portugueses explorassem, com interesses econômicos, não tendo interesse de
criar um órgão administrativo, apenas burocrático. Por isso que o que vai se
desenvolvendo nas cidades, em torno do interesse local de uma comunidade, vai
gerando uma determinada estrutura administrativa das cidades nascentes. Por
isso que no Brasil o movimento municipalista desenvolveu-se com muita força.
Depois, já no período imperial, o Brasil se organiza como um Estado Unitário. Por
decorrência, temos uma administração central para cuidar dos interesses do nosso
amplo território. Na época, a elite brasileira ia estudar em Coimbra e, na maioria
dos casos, na França. Por sinal, lá é onde há o municipalismo mais forte do
mundo. E isso influenciou quem estudava lá, e eram essas as pessoas que
formavam a elite política, o alto corpo administrativo. O processo de formação da
nossa federação não foi centrípeto, mas sim, centrífugo, para que não houvesse a
possibilidade de se separarem, pois muitos problemas existiam.

Embora os Municípios não fizessem parte da Federação, eles sempre tiveram, na


prática, um campo de autonomia respeitado. A CF/88 apenas veio coroar um longo
processo histórico. Mas um argumento sustenta a tese por parte de alguns
doutrinadores de que os Municípios não integram a federação: o argumento de
que não existem senadores municipais. Mas essa tese me parece equivocada,
pois o essencial é que os Municípios tenham autonomia (diversos autores
sustentam que nós poderíamos ter um parlamento unicameral). E se eles têm
autonomia, logo, eles precisam de um aparato administrativo para demandar suas
funções, competências. Há Poder Executivo Municipal, titularizado pelo Prefeito.
Há Poder Legislativo Municipal, titularizado pela Câmara Municipal, que é a
Câmara dos Vereadores. Posto que os municípios têm autonomia, demandam,
têm estrutura administrativa, eles não têm Poder Judiciário. Ou seja: não existe juiz
municipal. Os juízes de cada cidade estão vinculados à Justiça Estadual.

Autonomia e Competências - A primeira competência da autonomia municipal é a


capacidade de auto-organização. Assim como os Estados, o Municípios
organizam-se e regem-se através de "constituições" próprias, pois no Brasil, as
"constituições" municipais são chamadas de Leis Orgânicas. O Município possui
competências comuns e as que estão no Art. 156. O mais relevante no campo da
autonomia municipal é o que encontramos no Art. 30, que por sinal, o inciso II faz
com que o município possua uma Competência Concorrente Imprópria, de acordo
com a teoria dos poderes implícitos no Art. 23. 
Art. 30. Compete aos Municípios:
I - legislar sobre assuntos de interesse local;
II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;
III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar suas
rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de prestar contas e publicar balancetes
nos prazos fixados em lei;
IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação estadual;
V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os
serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo, que tem
caráter essencial;
VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado,
programas de educação infantil e de ensino fundamental; (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado,
serviços de atendimento à saúde da população;
VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante
planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano;
IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a
legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual.

Os municípios possuem uma autonomia relativamente grande por conta da


atribuição de uma competência genérica para dispor sobre assuntos de interesse
local. Mas interesse local é um conceito jurídico indeterminado, aberto, e que,
portanto, abre uma gama muito ampla para a atuação da administração pública
local. Na prática, interesse local define-se de forma casuística. O termo "no que
couber" pode encaixar-se em "interesse local".

O Município possui autonomia legislativa maior que o próprio Estado, legislando


sobre todas as competências federais. Isso implica dizer que, se bem usado o
poder, o Município atende o interesse da comunidade. Ao contrário, pode ser muito
ruim. Se o Prefeito não souber atuar, ele pode não atender os interesses da
comunidade e se dispersar dos mesmos. Exemplo melhor do que o Prefeito de
Bocaiúva do Sul, no nosso Paraná, Élcio Berti, não existe. Ele proibiu a concessão
de moradia e a permanência fixa de qualquer elemento ligado a classe de
homossexuais, anunciou a construção de um "ovniporto" - aeroporto para objetos
voadores não identificados (Óvnis) (provavelmente com a autorização dos ETs!) -
e proibiu os preservativos e distribuiu gratuitamente o "Viagra do Prefeito", à base
de amendoim, numa campanha para aumentar a taxa de natalidade na cidade e,
por conseguinte, receber uma parte maior do orçamento federal, através dos
Fundos de Participação dos Municípios.

Para finalizar, no campo da autonomia municipal está a competência dos


Municípios se auto-organizarem através de Leis Orgânicas próprias. Ela é a
Constituição do Município; assim como as Constituições Estaduais, a elaboração
da lei orgânica está vinculada à observância de normas centrais. O Caput do Art.
29 diz: "O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o
interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da
Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta
Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os seguintes preceitos: ..."
Não existe hierarquia de Constituição Federal, Constituição Estadual e
Constituição Municipal. Apenas não pode haver uma invasão de autonomia em
cada campo.

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