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Escola e Família: Uma Relação de Ajuda na

Formação do Ser Humano


Rosangela Maria dos Santos Rigo 1

RESUMO

O presente trabalho versa sobre a importância da escola e da família manter uma relação
de ajuda na formação do ser humano. A metodologia utilizada foi a pesquisa
bibliográfica, onde constatou-se que a relação escola X família é imprescindível, pois a
família como espaço de orientação, construção da identidade de um indivíduo deve
promover juntamente com a escola uma parceria, a fim de contribuir no
desenvolvimento integral da criança/adolescente.

PALAVRAS-CHAVE: família – escola – parceria – humanização

INTRODUÇÃO

O presente artigo apresenta uma reflexão acerca do tema "Escola e família: uma relação
de ajuda na formação do ser humano". Dessa forma, procura-se evidenciar a
importância da parceria família X escola, pois vive-se numa época em que a
conturbação e a desintegração dos valores são os maiores obstáculos para o ser humano,
a sociedade fundamenta-se no individualismo e o coletivo fica banido a uns poucos
sobreviventes. As crianças e adolescentes inseridos nesse contexto, sofrem seqüelas de
um mundo dominador. E sendo seres sociais por si mesmo, sofrem quando não
conseguem desenvolver suas potencialidades.

É neste prisma que a integração escola X família se sobressai para o pleno


desenvolvimento infantil, sendo uma fascinação envolvente, podendo estar presente em
toda e qualquer manifestação cotidiana. Assim sempre que aplicada, torna-se evidente o
valor da mesma, tanto no aspecto físico, intelectual, moral, espiritual e social, já que se
fundamenta na interferência dos processos vitais e culturais. Onde os sonhos e fantasias
infantis serão transportes para realizações da vida.

Inicialmente, pode-se afirmar que nos dias atuais a escola não pode viver sem a família
e a família não pode viver sem a escola, pois, é através da interação desse trabalho em
conjunto, que tem como objetivo o desenvolvimento do bem-estar e da aprendizagem
do educando/filho, os quais contribuirão na formação integral do mesmo.

Nesse sentido, é importante citar Içami Tiba (1996, p.140) que diz: "O ambiente escolar
deve ser de uma instituição que complemente o ambiente familiar do educando, os quais
devem ser agradáveis e geradores de afetos. Os pais e a escola devem ter princípios
muito próximos para o benefício do filho/aluno".

Desde a mais tenra idade, a criança se desenvolve plenamente quando estimulada e


incentivada, buscando alternativas de ação, pois a conduta familiar e escolar propicia
relações sociais e individuais. Dessa forma, ela terá maior oportunidade de assimilar a
realidade, seja através da liquidação de seus próprios conflitos, das compensações de
necessidades insatisfeitas ou de novas alternativas de busca.
Para Gokhale (1980), a família não é somente o berço da cultura e a base da sociedade
futura, mas é também o centro da vida social. A educação bem-sucedida da criança na
família é que vai servir de apoio à sua criatividade e ao seu comportamento produtivo
quando for adulto. A família tem sido, é e será a influência mais poderosa para o
desenvolvimento da personalidade e do caráter das pessoas. Assim, pode-se dizer que as
crianças precisam sentir que fazem parte de uma família.

Segundo Lancam:

a importância da primeira educação é tão grande na formação da pessoa que podemos


compará-la ao alicerce da construção de uma casa. Depois, ao longo da sua vida, virão
novas experiências que continuarão a construir a casa/indivíduo, relativizando o poder
da família (LANCAM, 1980 apud BOCK, 1989, p. 143).

Partindo da idéia que a família é a base para qualquer ser humano, não fazendo
referência aqui somente à família com laços de sangue, mas também as famílias
construídas através de laços afetivos. Defini-se família como um conjunto de pessoas
que se unem pelo desejo de estarem juntas, de construírem algo e de se
complementarem. E é através dessas relações que os seres humanos tendem a tornarem-
se mais afetivos e receptivos, eles aprendem a viver o jogo da afetividade de maneira
adequada. Mas para que essa adequação ocorra é preciso que haja referências positivas,
responsáveis encarregados de mostrar os limites necessários ao desenvolvimento de
uma personalidade com equilíbrio emocional e afetivo. Para as crianças e adolescentes,
as referências são pessoas, palavras, gestos que irão proporcionar a formação da
identidade. Por isso, crianças e jovens que estabeleçam vínculos de harmonia nos seus
momentos de decepções, e que possam receber carinho, atenção e compreensão irão
desenvolver uma identidade sadia, conseguindo suportar frustrações até o momento
adequado para realizar seus desejos.

Definindo escola como uma instituição social que se caracteriza como um local de
trabalho coletivo voltado para a formação das jovens gerações, diferente de outras tantas
instituições sociais, constata-se que a escola é responsável pela educação escolar, é um
espaço destinado ao trabalho pedagógico formal, ao entendimento de regras, à formação
de valores éticos, morais e afetivos, ao exercício da cidadania. Porém, quanto falta ao
educando/filho um ambiente familiar saudável e equilibrado, no qual ele convive com
uma desestrutura familiar (ausência de pai, de mãe), ele se deixa levar pelo impulso em
direção da irresponsabilidade ou inconseqüência, gerando assim ações inadequadas e
insensatas que irão desorganizar e prejudicar a formação do seu caráter e da sua
personalidade. Quando a escola é despreparada tanto no seu quadro funcional, como
também não cumpre o seu papel social na formação do educando,verifica-se que se têm
a partir desse desinteresse escolar/pedagógico indivíduos desestimulados e incapazes de
prosseguirem em busca do seu lugar na sociedade. Gerando assim, alunos
desmotivados, indisciplinados e com baixa auto-estima.Como dizem Montandon e
Perrenoud (1987, p. 7), "de uma maneira ou de outra, onipresente ou discreta, agradável
ou ameaçadora, a escola faz parte da vida cotidiana de cada família".

No momento em que escola e família conseguirem estabelecer uma parceria na maneira


como irão promover a educação de seus educandos/filhos, muitos dos conflitos hoje
observados em sala de aula, serão aos poucos superados. Todavia, para que isso possa
aconteça é necessário que a família realmente participe da vida escolar de seus filhos.
Que a família tenha comprometimento, envolvimento com a escola, gerando assim, na
criança/adolescente um sentimento de amor, fazendo sentir-se amparado e valorizado
como ser humano.

Nessa perspectiva, é oportuno novamente citar Içami Tiba, onde diz que ensinar é
transmitir o que você sabe para quem quer saber, portanto é dividir sua sabedoria. Mas é
uma estranha divisão que não segue as leis matemáticas, porque você divide, mas não
perde o que era seu, pelo contrário, pode ganhar o que nem lhe pertencia. Ensinar faz o
mestre rever seus próprios conhecimentos com possibilidades de atualizá-los. Os
sentimentos de gratidão, admiração e respeito do aprendiz alimentam a alma do mestre.
Portanto, ensinar é também trocar (TIBA, 1996).

Dessa forma, verifica-se que é necessário ressaltar que a tarefa de cuidar de maneira
adequada de um ser em formação é extremamente difícil, pois requer que os educadores
tenham capacidade de trabalhar com os conflitos gerados pela impulsão dos jovens em
direção a satisfação rápida, às necessidades biopsíquico-sociais de cada momento. A
escola atual, de modo geral, apresenta maior disponibilidade em aceitar um
relacionamento mais próximo com os pais. Todavia, o caminho percorrido para se
chegar a tal interação foi um tanto difícil, em conseqüência das transformações
políticas, econômicas e sociais, das rupturas de paradigmas. Os objetivos da escola,
como também da família nos dias de hoje deverão procurar tornar a criança/adolescente
apta a assumir responsabilidades, tomar decisões, aprender qualquer ofício, desenvolver
suas habilidades, como também orientar o educando/filho na medida em que demonstre
necessidade. A escola não deve apenas visar à construção do conhecimento, mas a
formação de valores, atitudes e personalidade do aluno.

Então, como assegurar que a escola está cumprindo o seu papel de formação cidadã?
Deve-se promover principalmente na esfera escolar a contextualização de temas atuais
que mostrem ao estudante a importância de ser aluno-cidadão e que sejam, de acordo
com Dayrell (1999), meios através dos quais ele possa se compreender melhor e
compreender o mundo físico e social onde se insere, contribuindo, portanto, na
elaboração de seus projetos. A escola necessita de uma aproximação com a realidade do
aluno e da própria comunidade na qual ela está inserida. O aluno precisa, também, ser
incentivado a pensar por si próprio e buscar os conhecimentos de seus interesses, nas
bibliotecas, museus, etc. É certo que os papéis da família e da escola, antes
prioritariamente repressores, modificaram-se ao longo das últimas décadas.

Nesse sentido, é importantíssimo conscientização de que a relação entre educação,


escola/família/sociedade deve ser alvo de uma transformação contínua, que influência
os modelos vigentes de educação, de escola e de sociedade.As escolas devem ser mais
ativas e participativas, para despertar no aluno o desejo de aprender. E o apoio e a
coesão familiar podem proporcionar as crianças uma estrutura equilibrada e sadia, para
crescerem e tornarem-se cidadãos conscientes de seu papel na sociedade sendo capazes
de interagir e intervir na realidade.

Como diz Vitor Paro ([s.d.]), a escola deve utilizar todas as oportunidades de contato
com os pais, para passar informações relevantes sobre seus objetivos, recursos,
problemas e também sobre as questões pedagógicas. Só assim, a família irá se sentir
comprometida com a melhoria da qualidade escolar e com o desenvolvimento de seu
filho como ser humano.
Quando se fala em vida escolar e sociedade, não há como não citar o mestre Paulo
Freire (1999), quando diz que a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela
tampouco a sociedade muda. Se opção é progressista, se não se está a favor da vida e
não da morte, da eqüidade e não da injustiça, do direito e não do arbítrio, da
convivência com o diferente e não de sua negação, não se tem outro caminho se não
viver a opção que se escolheu. Encarná-la, diminuindo, assim, a distância entre o que se
diz e o que se faz.

Como se pode observar, a relação família X escola requer, então, dos professores uma
tomada de consciência de que, as reuniões baseadas em temas teóricos para falar dos
problemas dos educandos, sobre notas baixas, não proporciona um início de parceria. A
escola deve buscar construir por meio de uma intervenção elaborada e consciente a
criação de espaços de reflexão e experiências de vida numa comunidade educativa,
instituindo acima de tudo a aproximação entre as duas instituições (família-escola).

No Parágrafo único do Capítulo IV do Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL,


1990), diz que "é direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico,
bem como participar da definição das propostas educacionais", ou seja, trazer as
famílias para o convívio escolar já está prescrito no Estatuto da Criança e do
Adolescente o que esta faltando é concretizá-lo, é pôr a Lei em prática. Família e escola
são pontos de apoio ao ser humano; são sinais de referência existencial. Quanto melhor
for a parceria entre ambas, mais significativos serão os resultados na formação do
educando/filho. A participação dos pais na educação formal dos filhos deve ser
constante e consciente. Vida familiar e vida escolar são simultâneas e complementares.

Nesse sentido, é importante que pais, professores, filhos/alunos dividam experiências,


compreendam e trabalhem as questões envolvidas no seu dia-a-dia sem cair no
julgamento "culpado X inocente", mas procurando compreender cada situação, uma vez
que tudo o que se relaciona aos educandos/filhos tem a ver, de algum modo, com os pais
e vice-versa, bem como tudo que se relaciona aos alunos tem a ver, sob algum ângulo,
com a escola e vice-versa. A escola e a família, cada qual com seus valores e objetivos
específicos na educação de uma criança/adolescente, constituem uma estrutura
intrínseca, onde quanto mais diferentes são, mais necessitam uma da outra. Desse modo,
cabe a toda sociedade, não apenas aos setores relacionados à educação, transformar o
cotidiano da escola e da família, através de pequenas ações modificadoras, para que esta
(a família) compreenda a importância dos objetivos traçados pela escola, assim como o
seu lugar de co-responsável nesse processo (família).

METODOLOGIA

Este estudo caracteriza-se como pesquisa bibliográfica dissertativa pelo motivo que
recorreu ao uso de materiais como livros, revistas, artigos, publicações avulsas e
imprensa escrita.

Marconi e Lakatos (2001) dizem que o fim principal da pesquisa bibliográfica é colocar
o pesquisador em contato direto com tudo aquilo que foi escrito sobre determinado
assunto, com o objetivo de permitir ao pesquisador o reforço paralelo na análise de suas
pesquisas ou manipulação de suas informações.
Os dados levantados na fundamentação teórica trazem reflexões, argumentações,
interpretações, análise e conclusões de autores, a partir, deles, busca-se uma correlação
com a realidade do tema em estudo.

CONCLUSÃO

Ao propor uma reflexão sobre "Escola e família: uma relação de ajuda na formação do
ser humano", constata-se que é tarefa primordial tanto dos pais, como também da escola
o trabalho de transformar a criança imatura e inexperiente em cidadão maduro,
participativo, atuante, consciente de seus deveres e direitos, possibilidades e atribuições.
E que este ser em formação seja futuramente um cidadão consciente, crítico e autônomo
desenvolvendo valores éticos, espírito  empreendedor capaz de interagir no meio em
que vive.

Nessa perspectiva, família e escola devem aproveitar, ao máximo, as possibilidades de


estreitamento de relações, porque o ajuste entre ambas e a união de esforços para a
educação das crianças e adolescentes deve redundar, sem dúvida nenhuma, em elemento
facilitador de aprendizagens e de formação do cidadão.

Dessa forma, sugere-se que a escola sinta-se desafiada a repensar a prática pedagógica,
considerando que os estudantes são crianças/adolescentes que apresentam características
singulares e que se faz necessário manter um trabalho em parceria com as famílias, pois,
se a escola deseja ter uma visão integral das experiências vividas pelos alunos, buscando
desenvolver o prazer pelo conhecimento, é necessário reconhecer que deve
desempenhar o bem-estar, englobando as diversas dimensões do ser humano. Visto que
se crianças/adolescentes e sua família sabem aonde a escola quer chegar, se estão
envolvidos no dia-a-dia de que são os principais beneficiários, poderão participar com
mais investimentos e autonomia na busca do sucesso nessa empreitada que é o aprender
e, principalmente, na formação de um ser humano que desenvolva suas potencialidades
físicas, espirituais e funcionais, através de trabalhos criativos, envolvendo também o
meio social no qual vivem, acompanhando a modernidade e evolução do mundo.

SCHOOL AND FAMILY: A RELATION OF AID IN THE FORMATION OF


THE HUMAN BEING

ABSTRACT

The present work turns on the importance of the school and the family to keep a relation
of aid in the formation of the human being. The used methodology was the
bibliographical research. The family evidenced itself that the relation school X family is
essential, therefore as orientation space, construction of the identity of an individual
must together promote with the school a partnership, in order to contribute in the
integral development adolescent child/.

KEY-WORD: family – school– partnership – humanization

REFERÊNCIAS

BOCK, Ana Mercês Bahia et alii. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia.
São Paulo: Saraiva, 1989.
BRASIL, Estatuto da criança e do adolescente – ECA. Brasília, Distrito Federal:
Senado, 1990.

DAYRELL, Juarez. A escola como espaço sócio-cultural: múltiplos olhares sobre


educação e cultura. Belo Horizonte: UFMG, 1999. p. 136-161.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.


11.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999.

GOKHALE, S. D. A família desaparecerá? In: Revista Debates Sociais. Nº 30, Ano


XVI. Rio de Janeiro, CBSSIS, 1980.

PERRENOUD, P. "Le Go-Between: entre famille et l'école, l'enfant messager et


message". In: MONTANDON, C.; PERRENOUD, P. Entre parents et enseignants: un
dialogue impossible?Paris, Peter Lang, 1987, p.49-87.

PARO, Vitor Henrique. Qualidade do ensino: a contribuição dos pais. [s.l.]: Xamã.
126 p.

TIBA, Içami. Disciplina, limite na medida certa. São Paulo: Gente, 1996.

Fonte: http://www.webartigos.com/articles/3655/1/Escola-E-Familia-Uma-Relacao-De-Ajuda-Na-Formacao-Do-Ser-Humano/pagina1.html#ixzz1Md7n1Duv
PALAVRAS-CHAVE: família – escola – integração – responsabilidades

Introdução
Atualmente, vive-se numa época em que a desintegração dos valores são os maiores
obstáculos para o ser humano. Valores como ética e cidadania estão sendo banidos e
deixados muitas vezes de fora da formação dos indivíduos. Nesse sentido, instituições
sociais como a família e a escola não podem deixar que isso continue a acontecer sem
fazer nada para mudar a situação. Assim, é preciso uma integração dessas duas
instituições com objetivos em comum e com pessoal responsável e metodologias
adequadas para se tentar resgatar esses valores tão importantes na formação do caráter
dos educandos.

Sendo assim, o principal objetivo deste artigo é fazer uma abordagem sobre a questão
da importância da parceria entre escola X família para o pleno desenvolvimento infantil
e a função do gestor como mediador e condutor de práticas educativas que possam
gerar o pleno desenvolvimento do aluno. Assim sendo, o objetivo principal da educação
hoje é favorecer uma participação que gere compromisso da família com a
aprendizagem e o sucesso escolar do seu aluno e compromisso da escola com a inserção
curricular do ambiente cultural da família e da comunidade. Essa parceria assegurará,
em última instância, o pleno cumprimento da função social da escola.

Inicialmente, pode-se afirmar que nos dias atuais a escola não pode viver sem a família
e a família não pode viver sem a escola, pois, é através da interação desse trabalho em
conjunto, que tem como objetivo o desenvolvimento do bem-estar e da aprendizagem
do educando, os quais contribuirão na formação integral do mesmo.

Importância da integração escola-família no processo pedagógico


Pensar em educação de qualidade hoje, é preciso ter em mente que a família esteja
presente na vida escolar de todos os alunos em todos os sentidos.Ou seja, é preciso uma
interação entre escola e família. Nesse sentido, escola e família possuem uma grande
tarefa, pois nelas é que se formam os primeiros grupos sociais de uma criança.

Envolver os familiares na elaboração da proposta pedagógica pode ser a meta da escola


que pretende ter um equilíbrio no que diz respeito à disciplina de seus educandos. A
sociedade moderna vive uma crise de valores éticos e morais sem precedentes. Essa é
uma constatação que norteia os arredores dos setores educacionais, pois é na escola
que essa crise pode aflorar mais, ficando em maior evidência.

Nesse sentido, A LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação ( lei 9394, de dezembro
de 1996) formaliza e institui a gestão democrática nas escolas e vai além. Dentre
algumas conquistas destacam-se:

A concepção de educação, concepção ampla, estendendo a educação para além da


educação escolar, ou seja, comprometimento com a formação do caráter do educando.

Nunca na escola se discutiu tanto quanto hoje assuntos como falta de limites,
desrespeito na sala de aula e desmotivação dos alunos. Nunca se observou tantos
professores cansados e muitas vezes, doentes física e mentalmente. Nunca os
sentimentos de impotência e frustração estiveram tão marcantemente presentes na
vida escolar.

Por essa razão, dentro das escolas as discussões que procuram compreender esse
quadro tão complexo e, muitas vezes, caótico, no qual a educação se encontra
mergulhada, são cada vez mais freqüentes. Professores debatem formas de tentar
superar todas essas dificuldades e conflitos, pois percebem que se nada for feito em
breve não se conseguirá mais ensinar e educar.

Entretanto, observa-se que, até o momento, essas discussões vêm sendo realizadas
apenas dentro do âmbito da escola, basicamente envolvendo direções, coordenações e
grupos de professores. Em outras palavras, a escola vem, gradativamente, assumindo a
maior parte da responsabilidade pelas situações de conflito que nela são observadas.

Assim, procuram-se novas metodologias de trabalho, muitos projetos são lançados e


inúmeros recursos também lançados pelo governo no sentido de não deixar que o aluno
deixe de estudar. Porém, observa-se que se não houver um comprometimento maior
dos responsáveis e das instituições escolares isso pouco adiantará.

No entanto, apesar das diferentes metodologias hoje utilizadas, os aspectos


comportamentais não têm melhorado, ao contrário, em sala de aula, a indisciplina e a
falta de respeito só têm aumentado, os problemas continuam, ou melhor, se agravam
cada vez mais, pois além do conhecimento em si estar sendo comprometido para
ensinar o mínimo, está sendo necessário, antes de tudo, disciplinar, impor limites e,
principalmente, dizer não.

A questão que se impõem é: até quando a escola sozinha conseguirá levar adiante essa
tarefa? Ou melhor, até quando a escola vai continuar assumindo isoladamente a
responsabilidade de educar? Compreendemos com Lançam (1980 apud BOCK, 1989,
p.143) que

(...) a importância da primeira educação é tão grande na formação da pessoa que


podemos compará-la ao alicerce da construção de uma casa. Depois, ao longo da sua
vida, virão novas experiências que continuarão a construir a casa/indivíduo,
relativizando o poder da família.

São questões que merecem, por parte de todos os envolvidos, uma reflexão, não só mais
profunda, mas também mais crítica. Portanto, também não se pode continuar
ignorando a importância fundamental da família na formação e educação de crianças e
adolescentes.

Entretanto, é preciso analisar a sociedade moderna, observando-se que uma das


mudanças mais significativas é a forma como a família atualmente se encontra
estruturada. Aquela família tradicional, constituída de pai, mãe e filhos tornou-se uma
raridade. Atualmente, existem famílias dentro de famílias. Com as separações e os
novos casamentos, aquele núcleo familiar mais tradicional tem dado lugar a diferentes
famílias vivendo sob o mesmo teto. Esses novos contextos familiares geram, muitas
vezes, uma sensação de insegurança e até mesmo de abandono. Isto é, as crianças e os
adolescentes estão cada vez mais sofrendo as conseqüências desta enorme crise
familiar.

Além disso, essa mesma sociedade tem exigido, por diferentes motivos, que pais e mães
assumam posições cada vez mais competitivas no mercado de trabalho. Então,
enquanto que, antigamente, as funções exercidas dentro da família eram bem definidas,
hoje pai e mãe, além de assumirem diferentes papéis, conforme as circunstâncias saem
todos os dias para suas atividades profissionais e vendo seus filhos somente à noite.

Toda essa situação acaba gerando uma série de sentimentos conflitantes, não só entre
pais e filhos, mas também entre os próprios pais. Assim, é preciso que a instituição
escolar esteja preparada para enfrentar esses desafios que o mundo exterior está cada
vez mais proporcionando ao contexto familiar e à escola.

Como já foi citado anteriormente, os alicerces da construção e manutenção de uma


escola que visa a construção da cidadania para seus alunos se acentuam em pilares
como:

- Autonomia;

_ Participação;

- Clima organizacional;

_ Estrutura organizacional;

Dessa forma, com bases nesses pilares, o sonho de educadores comprometidos com a
cidadania de seus alunos deve tornar-se verdadeiro. Nesse sentido, Bertrand (1999, p.
29) afirma que

"as reflexões avançam, hoje, para a identificação de características que influenciam as


diferentes práticas de cidadania pelo mundo afora. A estratégia para a construção de
uma sociedade democrática não é única. Nesse aspecto, vale ressaltar que, atualmente,
o papel da educação na preparação para a cidadania passa por uma profunda revisão."

Essa constatação leva-se a refletir sobre as dimensões da inter-relação escola-família no


âmbito da comunidade e se intenta verificar a possibilidade de operacionalizar uma
orientação que possa refletir a viabilização de uma inter-relação mais efetiva. A gestão
democrática inclui a participação, a orientação, o diálogo e o respeito dos e aos alunos
pela escola e tudo isso deve ser evidenciado como prática efetiva.

Geralmente a iniciação das pessoas na cultura, nos valores e nas normas da sociedade
começam na família. Para que o desenvolvimento da personalidade das crianças seja
harmonioso é necessário que seu ambiente familiar traduza uma atmosfera de
crescente progressão educativa. Todavia, nota-se que todas as instituições e
especialmente a escola deve não só apoiar e respeitar os esforços dos pais e
responsáveis pelos cuidados, atenção e educação das crianças, e que devem também
colocar-se em posição efetiva de gerar iniciativas dirigidas à elevação e aprimoramento
social e educacional de seus educandos e respectivas famílias.

Assim, a escola, deve sempre envolver a família dos educandos em atividades escolares.
Não para falar dos problemas que envolvem a família atualmente, mas para ouvi-los e
tentar engajá-los em algum movimento realizado pela escola como: projetos, festas,
desfiles escolares, etc.

Nessa perspectiva, a escola por sua maior aproximação às famílias constitui-se em


instituição social importante na busca de mecanismos que favoreça um trabalho
avançado em favor de uma atuação que mobilize os integrantes tanto da escola, quanto
da família, em direção a uma maior capacidade de dar respostas aos desafios que impõe
a essa sociedade. Como diz Paro (1997, p.30)

"a escola deve utilizar todas as oportunidades de contato com os pais, para passar
informações relevantes sobre seus objetivos, recursos, problemas e também sobre as
questões pedagógicas. Só assim, a família irá se sentir comprometida com a melhoria
da qualidade escolar e com o desenvolvimento de seu filho como ser humano."

Quando se fala em vida escolar e sociedade, não há como não citar o mestre Paulo
Freire (1999 p. 18), quando diz que

" a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.
Se opção é progressista, se não se está a favor da vida e não da morte, da eqüidade e
não da injustiça, do direito e não do arbítrio, da convivência com o diferente e não de
sua negação, não se tem outro caminho se não viver a opção que se escolheu. Encarná-
la, diminuindo, assim, a distância entre o que se diz e o que se faz".

Essa visão, certamente, contribui para que se tenha uma maior clareza do que se pode
fazer no enfrentamento das questões sócio-educativas no conjunto do movimento
social. As ações de caráter pedagógico que as escolas podem dirigir para favorecer às
famílias devem fazer parte de seu projeto e para que isso possa acontecer é
fundamental que as ações em favor da família sejam desenvolvidas e presididas pelos
princípios da convergência e da complementaridade.

Nesse sentido, é importante que o projeto inicial se faça levando em conta os grandes e
sérios problemas sociais tanto da escola como da família. A escola tem necessidade de
encontrar formas variadas de mobilizações e de organização dos alunos, dos pais e da
comunidade, integrando os diversos espaços educacionais que existem na sociedade.
Substancialmente o que a escola deve fazer é melhorar a posição da família na agenda
escolar já implementada pela legislação existente.

No Parágrafo único do Capítulo IV do Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL,


1990), encontramos que "é direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo
pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais", ou seja,
trazer as famílias para o convívio escolar já está prescrito no Estatuto da Criança e do
Adolescente o que esta faltando é concretizá-lo, é pôr a Lei em prática. Família e escola
são pontos de apoio ao ser humano; são sinais de referência existencial. Quanto melhor
for a parceria entre ambas, mais significativos serão os resultados na formação do
educando. A participação dos pais na educação formal dos filhos deve ser constante e
consciente. Vida familiar e vida escolar são simultâneas e complementares.

Promover a família nas ações dos projetos pedagógicos significa enfatizar ações em seu
favor e lutar para que possa dar vida às leis. Mais do que criar um novo espaço para
tratar das questões da família ou da escola, a própria escola deve articular seus recursos
institucionais, de maneira a assegurar que as reflexões, os debates, os estudos e as
propostas de ação possam servir de embasamento para que o desenvolvimento social se
concretize por meio de práticas pedagógicas educativas efetivas.

Os paradigmas tradicionais modificam-se com a gestão democrática. Assim, a escola


democrática deve ser a escola da cidadania, em que se objetiva a formação de cidadãos
autônomos, críticos e que sejam capazes de enfrentar todos os obstáculos que possam
surgir em seu meio social.

Conectar a inter-relação escola-família de forma mais estreita significa construir e


desenvolver comunidades nas quais podem-se satisfazer necessidades básicas ao
aspirar uma melhor qualidade de vida para as gerações futuras. Para isso precisa-se não
só aprender sobre os princípios de convivências comunitárias como também exercitar
esses princípios por meio de relações mais frutíferas e compromissadas com o
desenvolvimento educacional e social.

Desse modo, é preciso que tanto as comunidades escolares como as familiares


colaborem para colocar claramente os princípios da inter-relação numa prática de
relações sociais fortalecidas pelo respeito, pela eficácia das ações e pela luta por uma
cidadania digna. No processo educacional, família e escola devem permanecer unidas
para o pleno desenvolvimento intelectual e social dos educandos. A elaboração e a
definição de objetivos, conteúdos, metodologia e da avaliação devem ser feitas com a
participação de todos, de acordo com o cotidiano e realidade social, com metodologia
inovadora e avaliação contínua.

Segundo Valenine (1995, p. 7)

" a cidadania é o espaço para a realização das pessoas. É por meio de seu exercício que a
sociedade pode reassumir seus rumos, redefinir sua organização e reorganizar suas
atitudes e objetivos, para que sejam voltadas para o bem comum e para que se
atualizem de acordo com as mudanças que vão ocorrendo."

Nesse sentido, vale ressaltar que é inevitável a autonomia da escola como prática social
e não somente colocadas e registradas em papéis. A exposição de idéias, a aceitação de
opiniões e sugestões, bem como as decisões dos caminhos da educação almejados,
devem ser discutidas com toda a comunidade escolar e a sociedade e a participação
deve ser constante e igualitária a todos.

Considerações finais
Diante da pesquisa realizada, observa-se que a educação, sendo uma prática social, não
pode restringir-se a ser puramente teórica, sem compromisso com a realidade local e
com o mundo em que sua clientela está inserida. A orientação ao educando precisa
estar voltada para estratégias que irão possibilitar a cada um deles a assumir
efetivamente os valores humanos com consciência e responsabilidade para que seja
agente de transformação na realidade em que está inserido.

Desse modo, nota-se que a instituição escolar com toda a sua equipe possui uma grande
tarefa: A de não deixar que o ambiente escolar seja meramente espectador dos
problemas sociais. Assim, o pleno exercício da cidadania inclui a prática do ato
educativo e requer a participação ativa e compromissada dos cidadãos.

Nesse sentido, conclui-se que uma escola de qualidade deve ser o objetivo de qualquer
gestor comprometido, portanto este dever perseguir os objetivos propostos, refletindo
em uma efetividade social e, para tanto, a escola deve ter claro o que quer, estruturar e
programar o melhor possível para seus alunos, captando ao máximo os recursos que
dispõe (físicos, humanos e financeiros), unindo a energia de todos os envolvidos para
ser cumpridora de seus objetivos éticos e sociais. E isto só poderá realmente ser
concretizado com a efetiva elaboração e administração do projeto político pedagógico.

Referências
BERTRAND, L. A. (org). Cidadania e Educação: rumo a uma prática significativa.
Campinas: Papirus, 1999.

BORDIGNON In: FERREIRA, N. S. C. AGUIAR, M. A. S. Gestão da Educação. São


Paulo: Cortez, 2000.

BOCK, Ana Mercês Bahia et alii. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia.
São Paulo: Saraiva, 1989.

.BRASIL, Estatuto da criança e do adolescente – ECA. Brasília, Distrito Federal:


Senado, 1990.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.


11.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999.

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