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Atibaia
2008
1
SUMÁRIO
Páginas
1. INTRODUÇÃO ............................................................................... 1
2
5. ABORDAGEM DEVOCIONAL ......................................................... 42
7. CONCLUSÃO ............................................................................... 62
8. BIBLIOGRAFIA ............................................................................ 65
3
1. INTRODUÇÃO
comentário bíblico. Existem dos mais variados, desde os comentários versículo por
textual, até aos mais simples, que dão somente uma visão superficial e panorâmica
dos livros bíblicos. Outros dois fatores que influenciam diretamente os comentários
bíblicos são a posição teológica do autor e o propósito do autor ao oferecer seu texto
aos leitores. A situação não é diferente com o livro de Rute, que escolhemos como
aplicá-lo devidamente à sua vida e é essencial aos ministros de Deus, que devem
oferecer alimento sólido da Palavra àqueles que Deus confiou em suas mãos.
1
Muito tem sido escrito sobre o livro de Rute. Por ser uma novela, sua
história é usada para ilustrar e dar força a movimentos que visam ações sociais e
Encontramos também obras com aplicações para a atualidade, mas muitas vezes a
do texto para seu compositor e seus leitores originais, sem alegoria ou busca por um
da época em que foi escrito o livro bíblico; (3) gramática – estudo da língua original,
2
traçar correlatos entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento com base em
para uma análise crítica mais detalhada, embora nem todos os autores preocuparam-
O quarto capítulo avalia uma abordagem devocional, em que o autor impõe ao livro
interpretes de criar uma ponte entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento pelo
estudo tipológico, um princípio hermenêutico válido, mas que possui regras que
3
Auxiliado pelo exemplos apresentados no decorrer deste trabalho,
espera-se que o leitor encontre percepções úteis para a análise crítica de outras
obras.
4
2. O LIVRO DE RUTE – BASES INTRODUTÓRIAS PARA
UMA AVALIAÇÃO CONSERVADORA.
e Noemi. Para fugir da fome que assola a sua terra no período em que os juízes
julgavam Israel, eles emigram com a família para Moabe, território ao sul de Israel.
Lá seus dois filhos se casam com as moabitas Rute e Orfa. Após um tempo, morrem
castigava o povo pela rebeldia e, após o castigo, levantava um juiz que livrava os
5
O livro de Juízes nos conta que, após a morte de Josué, os israelitas
ficaram sem liderança nacional. Depois de morrer toda a geração que viu os feitos
realizados pelo Senhor com Josué, o texto sagrado nos diz que “... surgiu uma nova
geração que não conhecia o Senhor ...” (Jz 2. 10). O início do livro de Rute retrata
um dos períodos de rebeldia desse povo. Porém, diferente do livro de Juízes, que
judeus fiéis à Aliança de Yahweh e até mesmo uma moabita que se mantém fiel à
sua família e ao Deus da sua família durante um tempo de rebeldia. Joice Every-
... tem a ver com a ação de Deus durante o período dos Juízes. Foi um
período político um tanto confuso, permeado de idolatria, violência, fome e
imoralidade. Nesse contexto, o livro de Rute relata a história de uma
pequena família. Mas uma família é a célula na qual age o Deus da história;
como conseqüência, o livro e a história da família de Rute também abordam
assuntos de vida nacional e vida religiosa.1
o intervalo de tempo entre os primeiros três capítulos, que nos apresentam os fatos
1
EVERY-CLAYTON, Joyce W. Rute. Curitiba: Encontrão, 1993. p.11
6
determina o período em que aconteceram os fatos narrados, mas não a data final de
composição do livro.
sabemos que é “Nos dias em que julgavam os juízes” (cf. 1.1). Os fatos ocorrem,
aproximadamente de logo após a morte de Josué (c. 1387 a.C.) até o começo do
2
reinado de Saul (c. 1050 a.C.).
Cronológica, situa o livro de Rute entre Eúde e Débora. Reese nos dá uma data
sido feitos também de acordo com a seqüência das gerações do capítulo quatro. Não
2
PINTO, Carlos Osvaldo Cardoso. Foco e desenvolvimento no Antigo Testamento: estruturas e
mensagens dos livros do Antigo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2006. p. 220-223.
3
WALTON, John H. Comentário bíblico Atos: Antigo Testamento. Belo Horizonte: Editora Atos, 2003.
p. 285.
4
REESE, Edward. The Reese chronological Bible. Minneapolis: Bethany House Publishers, 1980. p. 395
7
temos, porém, uma data conclusiva, apenas suposições e tentativas de encontrar
coroação como rei de Israel. Considerando que Davi começou a reinar em Judá por
volta de 1010 a.C., e sobre todo o Israel por volta de 1004 a.C., a composição final
do livro não deve ser anterior a essa data. É mais provável que a composição final do
reinado de Davi, Salomão, seu filho tão famoso, deveria ter sido mencionado5, o que
não ocorre. Pratt concorda com Archer e acrescenta que “Parece mais provável que
redação final. Se esse é o caso, o livro chegou à sua forma final antes da ascensão
de Salomão ao trono”.6 Carlos Osvaldo Pinto nos dá outro argumento a favor de uma
data mais recuada, “... a atmosfera amistosa nas relações entre Israel e Moabe, algo
impensável depois da cruel servidão imposta aos moabitas pelo reino do Norte”.7
5
ARCHER, Gleason L. Jr. Merece confiança o Antigo Testamento: panorama e introdução. São Paulo:
Vida Nova, 1974. p. 314
6
PRATT, Richard L. Jr. Ele nos deu histórias: um guia completo para a interpretação de histórias do
Antigo Testamento. São Paulo: Cultura Cristã, 2004. p. 335
7
PINTO, Carlos Osvaldo Cardoso. Op. Cit. p. 242
8
Outro argumento para a datação é a posição do livro na LXX. Apesar
de na Bíblia hebraica estar entre os cinco megillôt, motivo que leva alguns teólogos a
não considerarem o livro como histórico8, na LXX ele aparece logo depois de Juízes,
entre os livros históricos. Morris nos diz que, quanto à data da ordem dos livros na
LXX,
... é bem antiga. A maioria concorda em que é nossa evidencia mais antiga.
Nesta ordem, Rute é colocado entre os livros históricos, imediatamente após
Juízes. Gerleman observa que o mesmo acontece com outras antigas
versões; ele vê nisto a comprovação da antiga tradição judaica segundo a
qual Rute tem íntima relação com os livros históricos.9
Juízes.10
história, as frases curtas mas impressionantes, usadas como seu veiculo, e as figuras
8
Veremos essa argumentação no capítulo Abordagem Pragmática. Os outros quatro livros são: Ester,
Cânticos de Salomão, Eclesiastes e Lamentações.
9
MORRIS, Leon. Rute: introdução e comentário. São Paulo: Mundo Cristão, 1986. p. 214.
10
Idem, p. 215
11
Trataremos a questão do estilo literário mais adiante. Por hora, citaremos apenas como argumento
para uma datação mais antiga.
9
e imagens gerais criadas na mente do leitor levam-nos a classificar a obra entre a
... näSä näšîm (1:4), lähën (1:13), o verbo `äGan (1:13), märä em lugar de
märâh (1:20), `änâh B• (1:21), miqreh (2:3) Ta`ªbûrî (2:8), yiqcörûn (2:9),
TidBäqîn (2:21), yäradTy (3:3) šäkäbTy (3:4), Ta`ªSîn (3:4), marG•löt (3:7, 8,
14), Tëd•`in (3:18), P•lönî ´almönî (4:1), qayyëm (4:7), šälap na`ªlô (4:7).13
uma data mais recente. No verso 13 do capítulo 1 temos a palavra !hel' que em
“pois, por isso”15. Archer ainda diz que poderia ser “... ‘para elas’, no sentido de
‘para estas (coisas)’”.16 Quanto a palavra märä´ em lugar de märâh Archer afirma o
seguinte:
Embora seja verdade que mara ‘amarga’ tenha sido soletrada pela maneira
aramaica, o equivalente hebraico, com som idêntico, só teve uma leve
diferença de ortografia. Além disto, têm surgido a lume inscrições que
12
MORRIS, Leon. Op. Cit. p. 220
13
Idem, p. 216.
14
HARRIS, R. Laird; ARCHER, Gleason L. Jr.; WALTKE, Bruce K. Dicionário Internacional de Teologia
do Antigo Testamento. Tradução: Márcio Loureiro Redondo; Luiz A. T. Sayão; Carlos Osvaldo
Cardoso Pinto. São Paulo: Vida Nova, 1998. Verbete !hel p. 1706
15
HARRIS, R. Laird; ARCHER, Gleason L. Jr.; WALTKE, Bruce k. Op.Cit. Verbete !hel p. 773
16
ARCHER, Gleason L. Op. Cit. p. 315
10
remontam até o nono século a.C., evidenciando ortografias hebraicas e
aramaicas no mesmíssimo texto ...17
Myers faz uma lista de arcaísmos. Menciona como formas arcaicas dignas de
nota as seguintes: tidBäqîn (2:8, 21), yiqcörûn (2:9), yiš´ªbûn (2:9),
w•yäradTy (3:3), w•šäkäBty (3:4), ta`ªSîm (3:4), Tëd•`in (3:18), qänîtäy (4:5).18
documentos mais antigo do que o contrário, pois “... a Bíblia Hebraica toda passou
linguagem do livro, mas prevalece uma forma mais primitiva, o fato de editores
aponta para Samuel como autor do livro20. Outro fator que leva a creditar a autoria a
autoria de Samuel não parece ser a mais provável, pois a data da composição final
do livro seria então do período em que Davi era fugitivo de Saul.21 Duas outras
17
ARCHER, Gleason L. Op. Cit. p. 315.
18
MORRIS, Leon. Op. Cit. p. 220
19
Idem. p. 221
20
Idem, p. 213
21
PINTO, Carlos Osvaldo C.Op. Cit. p. 241
11
Natã e Gade, mencionados em I Crônicas 29.29, que registraram os fatos
relacionados à vida do rei Davi22. A segunda é que um mestre narrador tenha sido
encarregado de registrar a história do rei Davi, tanto seus feitos como rei como os de
sua ascendência.
O livro de Rute é uma novela breve. Uma poesia idílica “... altamente
sutil.”24
destacada “... pela sua condensação, pela nitidez de seu vocabulário, pela
Provavelmente, ele se preocupou com o fato de que o livro seria lido perante uma
22
Como seus escritos não foram preservados, torna-se impossível dar certeza quanto a essa hipótese.
23
PINTO. Carlos Osvaldo C. Op. Cit. p. 242
24
HOUSE, Paul R. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida, 2005. p. 582
25
SASSON, Jack M. Rute in: ALTER, R. e KERMODE, F. Guia literário da Bíblia. São Paulo: UNESP,
1997. p. 344
12
A narrativa de Rute flui de forma simples e objetiva, sem perder seu
livro todo26. Alter, citado por Jang Ho Kim diz que “... quando um evento da narrativa
muitos casos, a narrativa vai avançar a linha de enredo não através de uma
autor fez uma perfeita simetria entre o primeiro e o ultimo capítulo, mantendo o
mesmo numero de palavras (71).28 Além da simetria, ele usa um grande jogo de
de suspense até o fim. Segundo Carlos Osvaldo Pinto, ele consegue “... com rara
26
Segundo SASSON, Jack M. Op. Cit p. 344, 55 dos 85 versos de Rute são diálogos.
27
HO-KIM, Jang. Hebraico instrumental. Atibaia: Seminário Bíblico Palavra da Vida, 2008. (Apostila
preparada para a disciplina Hebraico Instrumental). p. 3
28
PINTO. Carlos Osvaldo C. Op. Cit. p. 242
29
Idem, Ibid.
30
SASSON, Jack M. Op. Cit p. 344
13
felicidade, combinar narrativa, história e Heilsgeschichte, exaltando as virtudes de
codas, utilizadas em cada cena do livro. Uma coda é um material utilizado para
Cada uma das quatro cenas de Rute, equivalentes aos quatro capítulos em
nossa Bíblia, é provida de uma coda cuja finalidade é resumir as atividades
passadas, bem como prefigurar outras por vir. A primeira delas contém uma
unidade inicial (1:1-6) que serve como prólogo à história e a última tem uma
unidade de lastro (4:14-17) que fornece um epílogo satisfatório. A última
coda antecipa um futuro além da estrutura imediata da história e inclui uma
genealogia ...32
31
PINTO, Carlos Osvaldo C. Op. Cit p. 242
32
SASSON, Jack M. Op. Cit p 345
33
PRATT, Richard L. Jr. Op. Cit. p. 335
14
Para ele o enredo de Rute é chamado “...enredo (plot) baseado [no]
em busca de uma solução para o mesmo. Tudo acontece num clima de tensão e/ou
Bíblias (os quatro capítulos do livro), parece ser mais contundente apesar de mais
simples.
34
HO-KIM, Jang.Op. Cit. p. 5
35
Idem, Ibid.
36
Idem, Ibid.
15
2.4. Propósito e Mensagem
Rute37, na simples qualidade de uma novela Rute tem por bem relatar várias
podemos ignorar Sua aliança com Seu povo, que se expressa ao longo de toda a
narrativa. House lembra que, no inicio do livro, “... duas mulheres sem maridos e
filhos apegam-se a Yahweh e uma à outra”.38 A fome que assolava a terra e fez com
que Noemi saísse de sua terra por quase dez anos, terminou porque
~x,l'( ~h,Þl' tteîl' AMê[;-ta, ‘hw"hy> dq:Üp'-yKi − Noemi ouve que hw"hy> (Yahweh) havia
visitado seu povo e novamente havia pão em ~x,l, tyBe (casa de pão, ou seja,
Belém).
temos duas mulheres e um judeu que devotam a Ele sua fé. A bênção nacional é
37
Veremos o assunto em mais detalhes nos capítulos 3 a 6
38
HOUSE, Paul R. Op. Cit. p. 583
16
grande rei de Israel, o rei Davi. Em todo o tempo e em quaisquer circunstancias, “...
Deus está vigiando seu povo, fazendo com que aconteça a eles o que é bom. O livro
é a respeito de Deus. Ele governa sobre todas as coisas e abençoa aos que confiam
nEle.”39
conta a fidelidade de Yahweh às Suas promessas pactuais em dq;P' (visitar) seu povo,
desde o menor núcleo familiar até a cidade como núcleo maior, trazendo novamente
pão à ~x,l, tyBe (casa do pão) e preparando à nação como um todo o seu rei. House
concorda com Robert Hubbard quando afirma que “... Rute expressa como Deus
com Seu povo. Da libertação individual à nacional, Deus age de acordo com Sua
tipológica.
39
MORRIS, Leon. Op. Cit. p. 226
40
HOUSE, Paul R. Op. Cit. p. 583
41
PINTO, Carlos Osvaldo C. Op. Cit. p. 243
17
3. ABORDAGEM PRAGMÁTICA
adotada pelos teólogos da libertação. Na busca de uma práxis em prol dos pobres, a
lutando contra o sistema que os está oprimindo. Sendo assim, a preocupação política
e sociológica se faz presente em toda sua forma de ler o texto bíblico e fazer
teologia. Tais teólogos buscam “... uma síntese teológica e ideológica para mudar o
muitos anos no Brasil, onde ajudou a criar o CEBI (Centro de Estudos Bíblicos)43 .
42
CONN, Harvey; STURZ, Richard. Teologia da Libertação. São Paulo: Mundo Cristão, 1984. p. 5.
43
Maiores informações em http://www.cebi.org.br, acessado em out/2008.
18
Sua obra analisada é Rute, lançado pelas editoras Vozes, Imprensa
pode oferecer às pessoas que hoje sofrem com problemas de falta de terra e de
fome. Após a introdução, o livro é bem dividido em capítulos que abrangem todo o
texto de Rute.
aprender com o livro de Rute lições para o nosso dia-a-dia permeia todas as paginas
do livro. Isso nos leva a uma outra faceta importante, a contextualização que Carlos
Mesters propõe. Sua preocupação é que os leitores consigam tirar lições do livro, o
que faz com que ele constantemente estabeleça correlatos entre a situação das
linguagem do livro. O desejo do autor de que seus leitores possam aprender com seu
trabalho faz com que a linguagem seja acessível a todos. Nas palavras do próprio
autor,
19
... um comentário bíblico, qualquer que ele seja, só pode ter um único
objetivo, a saber, fazer com que a Palavra de Deus possa atingir, para além
das divergências dos estudiosos, o seu objetivo na vida do povo que nela
acredita e confia.44
clímax da narrativa.
época da narrativa e destaca a data dos acontecimentos como sendo o tempo dos
juízes. No entanto, usa esse levantamento de forma confusa quando trata a questão
44
MESTERS, Carlos. Rute. Petrópolis: Vozes, 1986. p. 17
20
quando, depois de mostrar os conflitos vividos pelo povo como a fome e a
... duas perguntas surgem e pedem uma resposta: 1. Qual a época desta
situação conflitiva que acabamos de analisar? Ou seja: em que época foi
escrito o livro de Rute? 2. Como a história de Rute toma posição frente a
esta situação? Ou seja: qual a mensagem do livro de Rute?45
duvida, pois o próprio texto bíblico a especifica (Rt 1.1), não há justificativa para a
~ybWtK.) e seu uso nos ritos judaicos em contraponto com sua posição no cânon
cristão (livros históricos). Mesters diz que “Nesta diferença milenar entre a bíblia (sic)
De acordo com Morris, esse argumento não vai além de nos deixar
com uma pergunta: “Quando foi Rute colocado, pela primeira vez, entre os ketubim?
Nada existe para indicar que este arranjo era primitivo; ao contrario, muita coisa
anterior ao da LXX não é conclusivo. Conforme mencionado no ponto 1.2, uma lista
45
MESTERS, Carlos. Op. Cit.. p. 10
46
Idem, p. 7
47
MORRIS, Leon.Op. Cit. p. 214
21
hebraico-aramaica dada no MS.54 coloca Rute entre os livros históricos. Outra prova
dada por Morris é Eusébio que cita Melito de Sardes que visitou a Palestina “... e ali
precisos concernentes aos escritos antigos: quantos eram, e qual sua ordem’. Isto
estabelecer a época de escrita do livro de Rute como pós-exílica para, mais adiante,
estabelecer uma correlação com a atualidade. Mesters apresenta três fatores para
comprovar essa tese. O primeiro fator são os problemas que o povo enfrenta, i.e.,
um povo pobre e marcado pela fome, pela migração e pela desapropriação das
era objeto de negócios, pois ela podia ser comprada e vendida ...”49. Dentro disso,
problema também enfrentado em Neemias 5.8-11. A unidade familiar era o clã, “... a
desintegração (cf. Ne 7.4-5) e muitos haviam casado com mulheres estrangeiras (Ed
9.1-2).
48
MORRIS, Leon.Op. Cit. p. 215
49
MESTERS, Carlos. Op. Cit. p. 9
50
Idem, Ibid
22
O segundo fator é que “... o rumo do pensamento do livro de Rute é
o mesmo de outros livros da bíblia (sic!) escritos durante e depois do cativeiro ...”51 .
abertura da fé em Yahweh, ao desejo do povo de ter um novo rei como Davi, aos
que a aceitação de Rute pelo povo judeu é uma crítica às tendência que ele
infidelidade (Esd 9,1-2; 10,2; Ml 9,11). O texto deixa bem claro que Noemi, ao
permitir a entrada de Rute ... não foi uma pessoa infiel nem relaxada.”52 Mais
adiante, Mesters tenta reforçar seu argumento dizendo que um dos motivos que
levaram Boaz a acolher Rute foi também uma crítica a Esdras: “Transparece aqui a
estrangeiras”.53
51
MESTERS, Carlos. Op. Cit. p. 11
52
Idem, p. 29
53
Idem, p. 37
23
O terceiro fator refere-se à escrita do livro. Segundo Mesters, “o
de Rute na comunidade judaica. Champlim, ao escrever sobre essa polêmica nos diz
que
... há fortes razões para não se aceitar essa opinião. A Canonicidade do livro
dependeu, em grande escala, de judeus que eram herdeiros espirituais de
Esdras e Neemias, pelo que, se esse tivesse sido o propósito do livro, eles o
teriam rejeitado. Conforme dizem alguns comentaristas, a possibilidade de
uma guerra literária em torno de questões ideológicas é muito duvidosa
naquele período tão remoto.55
basearia, certamente, em que ela era uma moabita. Boaz teria replicado, repudiando
tais preconceitos”.56 Não obstante, Mesters trata de forma leviana duas situações
diferentes. Em Rute, Noemi adverte Rute a voltar para a casa de sua mãe, mas Rute
54
MESTERS, Carlos. Op. Cit. p. 11
55
CHAMPLIM, R.D. O Antigo Testamento interpretado versículo por versículo. São Paulo: Hagnos,
2001. p. 1093
56
MORRIS, Leon. Op. Cit. p. 225
24
decide ir com ela e viver entre seu povo e com seu Deus. Em Esdras, o povo do
cativeiro se casa com mulheres da terra, as quais não estavam como Rute decidindo
pela terra e pelo Deus de Israel. Mesters diz o que o texto não diz. Quanto à escrita
do livro de Rute ser parecida com a de escritores pós-exílicos, já foi dada no capítulo
anterior uma lista de palavras arcaicas, que não se encaixariam com uma escrita
mais recente.
revela o que a pessoa é e faz dentro da história, e isso é evidenciado, por exemplo,
pelo nome Noemi. Mesters diz que “... dentro da história, Noemi é a imagem do
povo”.57 Sobre os nomes dos filhos de Elimelec e Noemi, Malon e Quilion, ele diz:
“Israel e Judá ... eles se esqueceram que Deus era o seu Rei e Senhor, e andaram
atrás de outros deuses e outros senhores. Por isso, foram ficando Doentes e
Frágeis.”58
alguma situação específica de sua vida. Segundo Atkinson, “... na maneira hebraica
57
MESTERS, Carlos. Op. Cit. p. 21
58
Idem, p. 22
25
de pensar, saber o nome de uma pessoa é conhecer o seu caráter, conhecer a
pessoa”.59 O próprio Deus mudou o nome de pessoas, como de Abrão para Abraão
(Gn 17.5) e de Jacó para Israel (Gn 32.28). Em todos os casos, o nome foi mudado
personagem bíblico. Porém, dizer que o nome dos personagens do livro de Rute
representam o povo, como no caso de Noemi, é uma inferência ao texto bíblico, que
uma fábula. Não obstante, não podemos saber exatamente a etimologia do nome de
Rute e Orfa por serem nomes moabitas e não hebreus. São feitas associações com
2º. A geografia.
nas quais, segundo ele, a geografia revela o verdadeiro centro da história: o retorno
para a terra, a casa e a família. As quatro cenas são: 1ª – a família sai de Belém e
vai para Moab e volta para Belém; 2ª – Rute sai de casa, de junto de Noemi, vai até
o campo e volta para cidade; 3ª – Rute sai de casa, de junto de Noemi, vai até o
terreno e volta para casa; 4ª – Booz sai de casa e vai até a porta da cidade e, no
fim, volta para casa. Agora tudo se passa dentro da casa de Booz, onde o povo se
59
ATKINSON, David. A mensagem de Rute. São Paulo: ABU, 1991. p. 34
26
Dizer que a geografia ajuda o leitor na memorização e dramatização
é correto, mas que ela revela o centro da história é atribuir ao ambiente geográfico
Para Mesters, quando Rute foi escrito já havia “... uma grande parte
encontrava “... o retrato de sua vida e do seu passado”61. Sendo assim, ele presume
que o autor de Rute usa o Antigo Testamento para lembrar ao povo sua história,
desde o tempo dos juízes (Rt 1.1) até evocar a esperança de um novo rei como Davi
(Rt 4.17). Isso fica evidente nas associações que Mesters faz entre frases dos
Rute “Você deixou pai e mãe; deixou a terra onde nasceu” (Rt 2.11). Ao comentar
esse verso, Mesters diz que “Esta frase lembra Abraão (Gn 12.1). Escolhendo ficar
com Noemi, Rute imitou Abraão, tornando-se filha de Abraão, membro do povo de
Deus”.62
já possuía o Pentateuco64, mas não muitos livros bíblicos como Mesters argumenta.
60
MESTERS, Carlos. Op. Cit. p. 14
61
Idem, Ibid.
62
Idem, p. 37
63
Conforme ponto 2.2 deste trabalho
64
Coleção dos cinco primeiros livros da Bíblia: Genesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.
27
Em Juízes 2.10, vemos que a geração posterior a Josué “... não conhecia ao Senhor,
nem tão pouco a obra que fizera a Israel.” Embora não possamos negar que sempre
houve um remanescente fiel no povo de Israel, exemplificado por Boaz que mostrou
ter conhecimento da Lei do resgate e das tradições de Israel quando foi à porta da
cidade para tratar dos assuntos relacionados ao resgate, o texto de Juízes demonstra
que Mesters está errado quando diz que o povo sabia quase de cor o texto bíblico65,
65
MESTERS, Carlos. Op Cit. p. 14
66
Idem, p. 15
28
2º. Passo – Rute toma a iniciativa de catar a sobra da colheita
questão é como Mesters usa esse esboço no seu comentário. Para cada parte do
esboço, ele sugere uma associação ao povo pós-exílico. Em seguida, faz uma ponte
livro, quando Mesters comenta sobre o fato de Boaz cumprir a lei do resgate. Sua
relação entre os fatos e a lei judaica é bem feita. Noemi não tinha outros filhos e
nem mais poderia ter para que se cumprisse a lei do levirato para Rute; precisavam
portanto, da lei do resgate e Boaz se propõe a cumprir a lei. Mas sua aplicação desse
fato bem colocado é que a “... família de Noemi era a imagem do povo sofredor
daquele tempo [pós-exílico]. Como a família de Noemi, assim as famílias dos pobres
29
obrigados a vender suas terras, seus filhos e suas filhas (Ne 5,1-5)”.67 Conforme já
sanções de Esdras e Neemias é insustentável. A ponte feita por Mesters entre Rute e
ideológico adotado previamente por ele, mas não encontra base contextual.
Mesters destaca-se em seu comentário sobre a trama de Noemi e Rute para mostrar
Para Mesters, Noemi usa da história do povo para preparar seu plano. Em suas
palavras, Noemi “ ... se inspirou na história de Tamar ... esposa do filho mais velho
de Judá [a qual] se fez por prostituta para obrigar o sogro a cumprir a lei ...”68. Com
A essa altura, devemos lembrar que o texto bíblico não diz nada a
respeito de relação sexual, como Mesters insinua ao estabelecer uma ligação entre
do plano de Noemi e Rute com o plano de Tamar, que manteve relações sexuais com
seu sogro para que a lei do levirato fosse cumprida (Gn 38).
O pedido de Rute para que Boaz a cubra com seu manto (no
hebraico @n"K' “asa”), pode referir-se à expressão de Boaz no capítulo 2.12, quando
ele diz para Rute que deseja que Deus a recompense, o Deus sobre cujas asas ela
67
MESTERS, Carlos. Op. Cit. p. 43-44
68
Idem, p. 45
30
procurou refúgio. A palavra hebraica nos dois versículos é a mesma. Carlos Osvaldo
Pinto, falando sobre a reputação de Rute, lembra que no capitulo 3.11 “… o caráter
de Rute é vindicado e ela é identificada como uma lyIx:ß tv,aîe [´ëšet Hayil] (3.11)”. 69
Fora isso, o fato de Boaz mandar embora Rute bem cedo é também para que a
imagem e a moral da moça não ficassem manchadas. Uma outra possibilidade é que
o pedido de estender o manto seja o próprio pedido de casamento que Rute fez a
Boaz. Nessa linha de pensamento, Morris diz que essa metáfora também é usada
de ser mencionado e de ser modelo para comentários que não o fazem. Contudo,
suas aplicações. Seu desejo de situar o livro no período pós-exílico faz com que seu
trabalho transforme o livro de Rute num conto folclórico para debater ideologias
Deus na vida de Seu povo. Mesmo que houvesse sustentação para o pensamento de
69
PINTO, Carlos Osvaldo C. Op. Cit. p. 247
70
MORRIS, Leon. Op. Cit. p. 273
31
pois a solução final de Mesters para o problema de Noemi e Rute deu-se por meios
que o próprio texto atribui a Rute, uma mulher de valor lyIx:ß tv,aîe
atualidade.
32
4. ABORDAGEM EXEGÉTICA
descobrir o que o texto diz e quer dizer, e não atribuir-lhe outro sentido”.71
pelo London Bible College (agora London School of Theology). Desde 1973, trabalha
no Brasil como missionária da Latin Link (antigamente chamada União Evangélica Sul
71
ZUCK, Roy B. A interpretação bíblica: meios de descobrir a verdade da Bíblia. São Paulo: Vida Nova,
1994. p.114
33
Testamento e História de Missões. É conferencista nas áreas de teologia e missões
presente em toda a história, de forma direta ou indireta. Ela diz que “Marcante ... é a
descrição da maneira de Deus agir, ora direta, ora indiretamente. Cada capítulo
destaca uma ação direta de Deus – às vezes não passa de uma mera coincidência –
histórico do livro. Ela situa a história narrada no livro no período dos juízes, e diz que
sobre um capítulo do livro de Rute. Isso ajuda o leitor a fazer uma ponte entre o que
72
EVERY-CLAYTON, Joyce. Op. Cit. p. 11-12
34
bíblico. Um recurso usado pela autora para ajudar na memorização e no
aplicativo aos leitores brasileiros, em especial aos que moram no Nordeste, local
início do livro de Rute, ela diz que “Ainda hoje, a fome freqüentemente obriga um
73
EVERY-CLAYTON, Joyce. Op. Cit. p. 14
74
Idem, p.17
75
Idem. p.11
35
Em algumas situações, a autora induz a imaginação do leitor com
base em fatos que ela não afirma por não haver base textual. Um exemplo disso é
seu comentário sobre o verso quatro do capítulo primeiro quando os filhos de Noemi
casam-se com mulheres moabitas. “Há aqui um contraste com Gn 24, e podemos
Abraão, que insistiu em buscar uma esposa para Isaque entre sua própria
por exemplo o de uma autoria feminina, mas nunca afirma aquilo para o qual não há
para o autor e para o seus leitores imediatos, i.e., as primeiras pessoas que teriam
76
EVERY-CLAYTON, Joyce. Op. Cit. p.16
36
acesso ao escrito. Uma evidencia dessa preocupação é sua afirmação de que “nos
dias em que os juízes governavam [que] sinaliza que no livro de Rute temos uma
retrospectiva histórica.”77. Com isso, Every-Clayton procura situar, assim como fez o
autor original, seus leitores num contexto e situação particular, possibilitando entrar
armênio78 sobre o livro de Rute. Com isso, Every-Clayton procura saber como os
identificar corretamente o contexto histórico. Desta forma, a autora pode criar uma
ponte hermenêutica entre a realidade dos leitores antigos e a dos leitores atuais.
brasileiro. Em resumo, sua obra leva em conta a historicidade do livro e vale-se das
regras gerais de hermenêutica para criar as pontes entre o texto bíblico, seu tempo e
os leitores atuais.
77
EVERY-CLAYTON, Joyce. Op. Cit. p.13
78
Idem, p. 34
37
A preocupação com a boa hermenêutica reflete-se também na
identificação da mensagem do autor original afinal, como ela mesma diz, o tema de
Rute “...tem a ver com a ação de Deus durante o período dos juízes”.79 Com esta
frase, Every-Clayton mostra considerar não somente o contexto histórico, mas a linha
livro de Rute. Every-Clayton comenta que “... esses versículos não somente levantam
questões angustiantes; eles abrem um cenário maior. Suas setenta e uma palavras
no hebraico são paralelas às setenta e uma palavras da narrativa final do livro (4.13-
visitado ...” (grifo pessoal), que ocorre em textos onde que existe uma declaração
clara do poder de Deus. Ela ilustra isso com duas passagens. A primeira, Gênesis
21.1, onde “O Senhor foi gracioso [hebr. Visitou] a Sara, como tinha dito, e fez por
79
EVERY-CLAYTON, Joyce. Op. Cit. p 11.
80
Idem, p. 17
38
ela o que havia prometido”, exemplifica o aspecto individual. A segunda, Êxodo 2.24
quando Deus diz “... vos tenho visitado”81, exemplifica o aspecto nacional.
três da obra de Every-Clayton, em que ela discorre sobre a trama de Noemi e Rute
para declarar a Boaz que este era resgatador. A autora começa explicando toda a
orientação que Noemi dá a Rute, desde como se aprontar para o encontro como
sobre este texto as intenções de Noemi e Rute, valendo-se de como Rute é tratada
como uma mulher virtuosa83. Mais adiante, diz que “Certamente, porém, justificar
promiscuidade ou prostituição a partir deste texto é não conseguir captar o que ele
81
EVERY-CLAYTON, Joyce. Op. Cit. p. 18
82
Idem, p. 52
83
Já explicado no capítulo três deste trabalho.
84
EVERY-CLAYTON, Joyce. Op. Cit. p. 53
39
4.4. Influência da posição hermenêutico-teológico na
abordagem exegética
que o trabalho de situar o livro dentro de seu contexto, bem como a busca da
interpretação correta pelo uso da língua original e a pesquisa nos antigos interpretes,
fazem com que a obra tenha um precioso valor tanto interpretativo como de
aplicação atual.
presente!”.85
abordagens são frutos de uma leitura interior e de sua posição escatológica, Every-
Essa percepção histórica não deixa de ser uma percepção teológica pois
esses versículos insistem na continuidade da revelação de Deus. O livro de
Rute não é uma mera história bonita, de uma pobre estrangeira que
85
EVERY-CLAYTON, Joyce. Op. Cit. p. 76.
40
encontrou seu príncipe encantado. Nem tampouco é uma simples parábola
ensinando acerca de Deus e Seu amor e cuidado por Seu povo, e nem ainda
um tratado político ou polêmico. O livro é, acima de tudo, o relato da ação
salvífica do Deus que intervêm na história humana fazendo convergir vidas
sim, mas, o que é mais importante, fazendo convergir em vidas Seu próprio
propósito último, a salvação. O livro não é uma mera dramatização dessa
salvação – é o próprio registro dela.86
se possível uma correta hermenêutica e uma aplicação relevante. Visto que para
constitui-se no próprio tema do livro, ela conduz o leitor a olhar suas situações à luz
86
EVERY-CLAYTON, Joyce. Op. Cit. p. 76
41
5. ABORDAGEM DEVOCIONAL
aos seus leitores. A abordagem devocional tem sido muito mal utilizada e entendida,
87
ADAMS, Jay E. A interpretação da Bíblia e o aconselhamento. In Coletâneas de aconselhamento
bíblico. v.2 Atibaia: SBPV, 2000. p. 9.
42
Ricardo Gondim tem adotado uma posição hermenêutico-teológica
que é criticada por vários teólogos brasileiros, a teologia relacional, que considera a
posição teológica, embora ele tenha se posicionado mais abertamente nos últimos
88
http://www.teologiabrasileira.com.br/Materia.asp?MateriaID=140, acessado em out/2008.
43
anos. Talvez seu texto mais criticado seja Quem Deus ouviu primeiro?89, em que ele
que, com a ajuda de Deus, o homem pode ser vitorioso”.90 Antes de iniciar as
aplicações do texto, ele apresenta quatro princípios gerais: (1) Quando a sua visão
do todo estiver pessimista, tire os olhos do macro e ponha-os no micro; (2) A vida
das mulheres retratadas em Rute mostra a possibilidade do amor; (3) Deus é sábio,
e (4) Podemos viver, não apenas sobreviver, mesmo nas circunstancias mais
adversas91.
89
O texto pode ser lido na íntegra em HTTP://www.ricardogondim.com.br, acessado em out/2008.
Um exemplo de crítica foi feita por Eros Pasquini e pode ser lida na íntegra no endereço
http://www.monergismo.com/textos/sofrimento/tsunami_gondim_eros.htm#1n, acessado em
out/2008.
90
RODRIGUES, Ricardo G. Creia na possibilidade da vitória: o que o livro de Rute ensina sobre o
sucesso. São Paulo: Abba, 1995. p. 5.
91
Idem, p. 7-11.
44
Ricardo Gondim situa o livro no período dos juízes de Israel, um
período de anarquia, onde não havia rei. Ele destaca corretamente que a terra era
união. Como povo destruído e sem líder, cada um fazia o que parecia correto aos
próprios olhos. Num quadro caótico como o descrito acima, Rute surge como uma
de tempestade”.92
Rute, mas decorrem do desejo de Ricardo Gondim salientar uma ou outra lição em
um determinado trecho do texto bíblico. O autor subdivide cada capítulo de sua obra
em princípios práticos, com frases curtas de fácil memorização. Ponto positivo é que
qualquer público.
92
RODRIGUES, Ricardo G. Op. Cit. p. 6
93
Idem, p. 35-36.
45
Aparentemente, a proposta de Ricardo Gondim é ilustrar a novela da
vida a partir da novela de Rute. Não negamos que a história de Rute revela uma
esse Deus que expressa sua ds,x, (hesed) e nos chama a expressá-la em nossos
relacionamentos.
base de seus comentários não leva em conta nem a historicidade do livro nem o
de forma ilustrativa e não como base de desenvolvimento lógico para uma ponte
contemporâneo.
Ottis Skinner. Os testemunhos pessoais são adequados, mas o texto bíblico não é
46
trabalhado em momento algum. Não há uma exposição da Bíblia, mas apenas quatro
ilustrações, sendo que a primeira é o próprio texto bíblico. Conforme já dito, o livro
bíblico torna-se uma novela que ilustra a novela da vida. Após os três testemunhos,
paráfrase às palavras de Boaz a Rute no verso onze: “Tu plantaste, está na hora de
colher, Rute”.94 Isso é tudo quanto podemos encontrar de comentário sobre o texto
do livro de Rute.
seguinte deste trabalho: a questão da tipologia no livro de Rute. Para ele “Boaz é tão
Rute para anunciar a Boaz que ele é o resgatador que as duas procuram. Ricardo
Gondim trata desse texto no capítulo cinco de sua obra: Como ser extraordinário.
Inicialmente, ele conta duas histórias e depois comenta o fato de que Boaz era um
homem “... cujo exemplo de vida, cujo testemunho de história, nos mostra essa
qualidade [de alguém cujo o mundo não é digno conf. Hb 11.38] de gente”.96
Ricardo Gondim passa então a explicar o que faz de Boaz uma pessoa extraordinária.
94
RODRIGUES, Ricardo G. Op. Cit. p. 50
95
Idem, p. 63.
96
Idem, Ibid.
47
Alguns questionamentos naturais do texto são sanados, como o ato da noite na eira
de Boaz. Segundo Gondim, Boaz teria uma “... boa desculpa para ele passar as mãos
nas pernas de Rute. Que boa desculpa para se aproveitar dela sexualmente. Bebeu
vinho, que álibi poderoso! Mas ele age com integridade com aquela mulher, dentro
Boaz ignorando, na situação que acabamos de citar, que a eira era um espaço
público e não a casa de Boaz. Ao longo de todo o livro, podemos perceber apenas a
tendência de usar as narrativas de Rute para estabelecer uma ponte com a vida do
leitor.
nos leitores de sua obra, Ricardo Gondim não revela uma posição hermenêutico-
97
RODRIGUES, Ricardo G. Op. Cit. p. 64.
48
Deus. Reli a Bíblia de capa a capa, procurando o coração paterno de Deus.
Dialoguei com pessoas que tratam da Espiritualidade Clássica. Recompus
minha vida devocional. Aprendi sobre oração contemplativa e redescobri a
meditação bíblica. Devorei alguns clássicos como "A Imitação de Cristo" de
Tomás de Kempis, "A Volta do Filho Pródigo" de Henry Nowen, "A Montanha
dos Sete Patamares" de Thomas Merton e o "Schabat" de Abraham Joshua
Heschel. Eles e outros se tornaram meus mentores nessa nova busca
interior.(grifo pessoal)98
Quero tão somente que meu texto destile verdade, mesmo confusa, infantil,
tosca, mas que espelhe a integridade de minha alma (grifo pessoal)99
mostrar, a partir de Rute, princípios para uma vida de vitória – o autor não distorce o
98
http://palavrasdevida.wordpress.com/2006/02/25/quero-ser-mais-humano/, acessado em out/2008.
99
HTTP://ricardogondim.com.br/Artigos/artigos.info.asp?tp=65&sg=0&form_search=&pg=1&id=1
920, acessado em out/2008.
49
6. ABORDAGEM TIPOLÓGICA
evidente que alguns textos bíblicos estabelecem legitimamente este tipo de relação,
maneira indiscriminada. Zuck nos dá um exemplo dos absurdos feitos por aqueles
naturezas de Cristo”.100
nos diz que o estudo tipológico “... nos permite enxergar o traçado divino da história,
pelo fato de ele [Deus] escolher pessoas, acontecimentos e elementos de Israel para
100
ZUCK, Roy B. Op. Cit. p. 197
101
Idem, p. 212
50
palavras de Jesus em João 3.14-15 “... do modo por que Moisés levantou a serpente
no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado, para que todo o
(1) a semelhança entre o tipo e o antítipo; (2) a realidade histórica – o tipo deve
surgir naturalmente do texto, cf. Hebreus 8.5; (3) a prefiguração, i.e., num tipo
planejamento divino, i.e., não são meras analogias, mas são semelhanças planejadas
por Deus, fazendo que com os tipos tenham forte valor apologético; (6) os tipos
102
ZUCK, Roy B. Op. Cit. p 200-207.
51
de significados secundários e ocultos que sublinham o significado primário e óbvio da
narrativa histórica”.103
Internacional. Suas mensagens têm como tema central a Palavra Profética, ou seja,
concluir seus estudos. Por alguns anos, trabalhou como missionário na Bolívia. Mais
até 1985. Nesse ano, voltou à Suíça e é o principal preletor nas conferências da
espanhol.
bíblico não são sequer enunciadas. Norbert Lieth faz um prefácio onde explica sua
103
VIRKLER, Henry A. Hermenêutica avançada: princípios e processos de interpretação bíblica. São
Paulo: Vida, 1999. p. 142.
52
abordagem nas palavras abaixo, que comentaremos no início do ponto seguinte do
trabalho:
tratar de forma alegórica o texto bíblico. Para isso, Norbert Lieth divide seu trabalho
em relação a Israel, simbolizado por Orfa; (3) a eleição da Igreja e sua posição em
descanso de Noemi, e (5) a vinda de Cristo para restaurar Israel, simbolizado pela
herança de Noemi.
desenvolvimento são claros, e são usadas várias fotos ilustrativas para ajudar o leitor
a entrar na cena.
104
LIETH, Norbert. Rute à luz do plano de salvação. Porto Alegre: Chamada da Meia Noite, 2000. p. 7
53
6.3. Identificação e validação da posição hermenêutico-
teológica do autor.
Norbert Lieth anuncia de forma clara sua posição no prefácio que faz
da obra. A sua intenção é criar uma alegoria com os personagens de Rute, usando
estranhas ao texto bíblico. Suas aplicações simbólicas, como ele mesmo adverte,
impedem que o livro de Rute seja entendido pelo seu leitor em seu todo. Seu
trabalho não é um comentário, mas uma tentativa de impor sua posição teológica à
história narrada.
família da terra de Belém para as terras de Moabe. Segundo Norbert Lieth, “Na
dispersão de Israel”.105 Elimeleque saiu de Belém, a casa do pão, local onde mais
tarde nasceu o pão da vida, Jesus Cristo. O povo judeu rejeitou o pão da vida, que
nasceu em Belém, a casa do pão, e por isso teve fome espiritual. Quanto à dispersão
e sofrimento, ele diz que “esse trecho [saída de Elimeleque de Belém] representa
105
LIETH, Norbert. Op. Cit. p. 11
54
simbolicamente a tragédia e o sofrimento dos judeus na Diáspora (Dispersão)”.106 Os
judeus andaram errantes por 1900 anos, sem terra, sem pátria, espalhados pelo
mundo.
quando saiu de Belém para Moabe. Sua decisão foi pessoal, diferente dos judeus na
dispersão, que saíram de sua terra pela atuação de Deus na história. Não faz sentido
a relação que Norbert Lieth faz da saída de Elimeleque com a história vivida pelos
judeus até 1948, quando Israel torna-se novamente um Estado. Essa história foi
vivenciada por toda a nação, diferente de Elimeleque que sai somente com sua
família.
que simboliza o cristianismo nominal. Norbert Lieth diz que “na vida dessas duas
Plano de Salvação ... Rute e Orfa são, segundo o meu entendimento, representações
significa nuca, demonstra a dureza e teimosia dos cristãos que não querem obedecer
Belém, ela deu as costas e voltou para o seu povo e o seu deus. Assim, Orfa
106
LIETH, Norbert. Op. Cit. p. 18.
107
Idem, p 28.
55
simboliza o cristianismo nominal, que constantemente dá as costas a Deus e anda
ela só decide deixar Noemi quando esta resolve voltar para Israel. Com isso, o autor
discorre sobre o fato de muitas nações serem contrárias ao plano de Deus para com
Israel, incluindo as nações chamadas cristãs. Segundo o autor, “Grande parte dos
povos considerados cristãos o são nominalmente. Por isso, eles são incapazes de
entender o plano de Deus com Israel”.108 Mais adiante, ele diz que “da mesma forma
[que Orfa deu as costas para Noemi], poucos cristãos permanecem decididamente
ao lado de Israel desde a fundação do Estado e desde o início do retorno dos judeus
à sua terra, e poucos reconhecem que é tempo de colheita”.109 Para ter o antítipo no
Novo Testamento, Norbert Lieth usa a história do centurião romano em Lucas 7.1-6.
ela havia se convertido ao Deus de Israel, o que o texto bíblico não afirma. Norbert
tomaram uma decisão ao lado de Deus. Ele diz que Orfa “... representa os muitos
108
LIETH, Norbert. Op. Cit. p. 31.
109
Idem, p. 33.
110
Idem, p. 35.
56
se e mostram a dureza do seu coração ...”111. Se assim for, essas pessoas que Orfa
representa não chegaram a tomar uma decisão, apenas seguiram por certo tempo as
isso, segundo o autor, “... nós cristãos somos exortados a nos colocarmos ao lado de
servir a Israel, pois servimos ao Deus de Israel, ou seja, o cristianismo deveria fazer
o mesmo que Rute fez para com Noemi, tornando-se companheiro, deleite,
refrigério, amigo. Ao deixar tudo e ir para Belém com Noemi, Rute pôde encontrar o
resgatador. Segundo Norbert Lieth, o segundo capitulo do livro de Rute, que narra o
da Igreja dentre os gentios a Jesus Cristo, seu Salvador”.113 Rute estava à procura, e
encontrou Boaz. Norbert Lieth diz que esta é a situação de um bom numero de
pessoas que estão em busca de encontrar “...Aquele aos olhos de quem há graça e
benevolência ...”.114
111
LIETH, Norbert. Op. Cit. p. 29.
112
Idem, p. 43-44.
113
Idem, p. 50.
114
Idem, Ibid.
57
Rute decidiu favoravelmente ao Deus e ao povo de Israel. Sua
decisão de seguir Noemi no caminho para Belém a fez participante do povo e das
bençãos prometidas por Deus a Israel. Não temos base bíblica para dizer que Rute
que pessoas passassem a fazer parte do povo de Israel ao decidirem pela devoção a
de Rute com Boaz deu-se no campo em Belém. O segundo encontro acontece no lar
diz que
terceiro capítulo de Rute: (1) a ordem de Noemi para Rute para banhar-se, ungir-se
e por seu melhor vestido é o lavar através da Palavra de Deus, a unção do óleo do
115
LIETH, Norbert. Op. Cit. p. 55.
116
Idem, p. 57.
58
caminho para encontra-se com o Senhor; (3) o encontro de Rute com Boaz à meia-
noite, o que representa um momento específico (cf. Mateus 25.6): “Mas, à meia-
eram separados e os talos moídos. A eira localizava-se perto da vila, em ponto alto e
aberto. Como a vila de Belém situava-se no topo de uma colina, a eira estava pouco
abaixo dela, o que explica o fato de Rute descer à eira. As melhores condições para
horas da tarde, quando o vento era favorável — não tão forte, mas suficiente.
se deitavam para dormir. O texto, portanto, não diz nada a respeito da casa de Boaz,
como Lieth afirma. Também não há como deduzir que o primeiro encontro
117
REED, John W. Ruth. In: WALVOORD, John, ZUCH, Roy B. The Bible knowledge commentary: an
exposition of the Scriptures by Dallas Seminary faculty. Wheaton, Ill. : Victor, 1986. p. 424.
59
A quinta e ultima alegoria refere-se à herança que Noemi recebe, o
filho de Rute. Para Norbert Lieth esse retrato representa o cumprimento da profecia
da vinda de Jesus para restaurar a nação de Israel. Embora a nação de Israel tenha
vivido muito tempo fora de sua terra, ainda tem direito a ela. Nas palavras do autor
“... assim como Noemi não perdeu sua terra por ocasião de sua ida a Moabe, e
retornarem de sua dispersão provocada por Deus, têm o direito de posse total de
sua terra”.118
Deus sobre a nação de Israel, pois da descendência de Obede nasceu o rei Davi e,
mais tarde, Jesus. Jesus voltará e restaurará a nação de Israel. Isto são fatos e não
alegorias. Norbert Lieth, porém, não trata o texto como uma benção de Deus para a
alegórica para ilustrar o plano de Deus referente à salvação do homem. Sua teologia
com ênfase nas profecias escatológicas permeia todo o livro. Para apresentar sua
118
LIETH, Norbert. Op. Cit. p. 69.
60
que é um princípio hermenêutico. Porém, como pudemos observar em sua obra, em
cultural e uso da língua original para um comentário de um livro bíblico, fez da obra
do livro para seu propósito específico. O comentário perde a validade teológica por
não revelar as ações e o cuidado de Deus na história do Seu Povo; perde seu valor
exegético por não levar em conta a língua original e os princípios hermenêuticos para
uma narrativa bíblica e perde seu valor hermenêutico por não dar ao leitor atual as
61
7. CONCLUSÃO
teológica de cada autor sobre sua obra, para que o leitor possa desenvolver um
senso crítico − primeiramente, para avaliar seu próprio estudo da Palavra, mas
nacional e internacional.
com Deus e com outras pessoas mesmo nos momentos de grande dificuldade; no
com que o leitor tenha um encontro verdadeiro com Deus, através do plano de Deus
62
O propósito nobre de edificar e encorajar os leitores, embora não
seja totalmente frustrado, corre o risco de ficar manchado quando o texto bíblico não
aproximar-se do texto bíblico a partir de sua realidade pessoal, sem dar valor ao
texto um discurso a que ele não se propõe, atribuindo-lhe uma mensagem que ele
não tem nem transmite. Carlos Mesters transformou uma belíssima história num grito
Noemi e Rute.
comentários fluem do texto, e fazem com que suas aplicações sejam úteis e
bíblico para que as idéias do autor da obra pudessem ser transmitidas. Não foi
levado em conta nenhum tipo de trabalho hermenêutico nem foi considerada uma
leva o autor a afirmar aquilo que o texto não diz. O comentário fica desprovido de
63
qualquer embasamento textual. A alegorização é inevitável, dando ao livro a linha de
respeito dos bereanos que “... eram mais nobres que os de Tessalônica; pois
receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para
ver se as coisas eram, de fato, assim” (At 17.11). Não há duvidas de que um estudo
toda sorte de ministérios da Igreja é essencial para aquele que deseja alimentar seu
rebanho com a verdade da Palavra de Deus. A Palavra é inspirada e útil para todas
as áreas da vida.
debruçar-se diante da Palavra com afinco, analisando todo o texto para tirar dele
fama e do prestígio do autor de um comentário bíblico, que cada leitor possa ater-se
64
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