LABORATÓRIO DE PRODUÇÃO TEXTUAL Prof. Marcos Fábio Aluno: Manoel Nascimento
RUA PROJETADA “B” – SUA HISTÓRIA SEGUNDO SEUS MORADORES
Estamos na década de 70. A zona urbana de Imperatriz, espremida entre o Rio
Tocantins e a Belém-Brasília (BR-010), expandindo-se para o sul, transpõe o Riacho Bacuri em direção às margens do Riacho Cacau. Encravada nessa parte da cidade, situa-se uma área alagada entre as Ruas Leôncio Pires Dourado, João Pessoa e Osvaldo Cruz. Ali, três famílias erguem os primeiros casebres no melhor estilo palafita: pau-a-pique, piso em tábua rústica, teto brasilit ou plástico preto. Era o trecho mais raso daquela que depois ficou conhecida como Lagoa das cobras. “No inverno só dava pra entrar botando o pé na água, mesmo. No verão ficava mais fácil. A lama secava e dava pra passar a pé seco”, conta Dona Jandira, uma das primeiras moradoras do local. As pequenas trilhas em meio ao alagadiço foram recebendo o nome de Rua Projetada, acrescendo-se uma letra à medida que cada uma ia surgindo. Assim, sem qualquer projeto de engenharia, foi aberta a Rua Projetada “B”. É o ano de 1977. “Muito entulho foi sendo botado e hoje a lagoa nem existe mais”, diz Dona Raimundinha, moradora da casa 6. “Até a energia elétrica foi nós que puxamo infincando poste de madeira” – complementa. “Quando cheguei aqui, a área já estava quase totalmente aterrada e somente por volta de 1995 todos os lotes foram ocupados”, afirma a Professora Fátima Vale, moradora há 25 anos. Século XXI, agora estamos no ano de 2003. Sem pódio de chegada ou beijo de namorada, fui morar no Nº 7. E tem sido assim todos esses anos. No inverno, em alguns pontos dos seus 130m de extensão, o mato que cresce ao longo dos muros, chega a reduzir o leito ainda sem pavimentação, a uma verdadeira carroçal urbana. A única movimentação fica por conta dos frequentadores noturnos do Caranguejo Real Bar, recém-inaugurado. No verão, as noites amenas ganham o alarido da gurizada frenética que se reúne para brincar queimada e Pau na lata, transformando o poeirento logradouro em espaço de lazer. Mesmo assim, a rua e seus moradores sobrevivem e assim como em todo e qualquer espaço urbano, é o vai-e-vem de pessoas e veículos que dita o ritmo do passar do tempo naquele pedacinho do Bacuri. Ali, para fugir do calor das tardes, os homens se agrupam no carteado ou no dominó, enquanto nas conversas sobre sabe-se lá quais assuntos, as mulheres esparramam-se em cadeiras ao longo das calçadas. Mais para a noite, o mimético Caranguejo Real Bar é novamente o ponto de encontro de moradores e transeuntes. Amanhã, certamente o ciclo se fará repetir. Atualmente, quem passar pela Rua Projetada “B”, notará na aparente descontração de seus moradores, o constante descontentamento com o descaso público que relegou a via ao completo esquecimento. Afinal, a título de refresco para a memória: o Sarney chegou à presidência; o foguete assustou os quilombolas de Alcântara; o Brasil foi penta; Bento XVI assumiu o Vaticano; Saddan Hussein e Osama Bin Laden morreram e o asfalto não chegou à Projetada “B”. Aliás, o esgoto também não.