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Objectivos individuais

Para já é apenas uma hipótese. Os objectivos individuais não se podem definir num registo
puramente individual. Tem de haver objectivos (mensuráveis) a nível do projecto educativo e a
nível de cada departamento.

Como se sabe, são sete:

1. Melhoria dos resultados escolares dos alunos


2. A redução do abandono escolar
3. A prestação dos apoios educativos
4. O cumprimento do serviço lectivo e não lectivo distribuído
5. A participação e dinamização
a) de projectos e ou actividades constantes do plano anual de actividades e dos projectos
curriculares de turma
b) de outros projectos e actividades extra-curriculares
c) das estruturas de gestão intermédia e dos órgãos de gestão do agrupamento ou escola não
agrupada
6. A relação com a comunidade
7. A formação contínua

Como é evidente, na maior parte dos casos esses objectivos não existem. Logo não se está a ver
bem como se vai enunciar objectivos individuais por exemplo no domínio do abandono, dos
resultados, da relação com a comunidade, da formação contínua (que transcende largamente a
vontade individual). Acresce ainda o facto da profissão sofrer de um nefasto efeito individualista
(quando tudo apela e recomenda a cooperação).

1. A complexidade
Lê-se e relê-se a legislação e fica-se sempre com dúvidas e incertezas. Aparece terminologia a
que não estamos habituados, tomada pelos autores como se fosse o B-A-BÁ. São conceitos
teóricos que se desconhecem e que não se explicam. No fim, fica-se com uma interpretação
pouco convicta daquilo que os legisladores poderão querer com o modelo e com os conceitos.
Vamos tentar adaptar e implementar da forma como entendemos, embora estejamos pouco
certos daquilo que fazemos. O modelo para os docentes, quando comparado, e na minha humilde
opinião, é sobejamente mais complexo, envolvendo muitos mais factores e muitas mais
variáveis dificilmente mensuráveis.
2. A falta de formação
Para este modelo do SIADAP, atirado sem cuidado para cima das instituições, não há formação.
Inventa-se, legisla-se e atira-se. Avaliar o desempenho de um profissional exigirá formação,
suponho. Se fosse coisa fácil, não haveria especialistas na matéria, como aquele que discursou
num Prós e Contras sobre avaliação dos professores. Para tentar reduzir a margem de erro na
nossa interpretação, liguei para a DGAEP – Direcção-Geral da Administração e do Emprego
Público, a pedir que alguma alma caridosa pudesse prestar esclarecimentos. Não podia. A
resposta foi breve e seca: não há centro de atendimento nem esclarecimento de dúvidas para
o SIADAP; se quiser, é enviar um e-mail com a dúvida para os juristas poderem responder.
Obrigado.
3. As quotas
Também há quotas para o “Muito Bom” e para o “Excelente”. O modelo para os professores
parece mesmo chapado do SIADAP, com a única diferença de este último ser mais transparente,
porque não envolve factores patéticos como o insucesso e o abandono. Ora, o conceito de quotas
na avaliação já é, em si, sintoma de uma deformação completa do conceito de avaliar. Aos olhos
do comum cidadão, é como só poder haver dois alunos com média de vinte numa escola,
implicando que, a haver um terceiro, há que aldrabar as notas de um deles para que já não
tenha vinte e assim não colida com a quota. Toda a gente percebe que não podem entrar todos os
alunos em Medicina, mas, por causa disso, há uma ordenação e só entram os que tiverem
melhores notas, mas não se pode mexer nas notas dos jovens. E foi isso que tivemos que fazer
com a avaliação dos nossos funcionários: aldrabar. Aldrabar em função as quotas. Ou seja, dão-
se e tiram-se pontos daqui e dacolá, para ajustar as pontuações finais e não ultrapassar as
quotas. Deixamos de avaliar, de facto, e passamos a fazer uma reles engenharia de números.
Queríamos distinguir as prestações de alguns deles, que se destacam claramente e pela positiva,
mas não podemos, porque há limites impostos; se só podemos dar dois “Muito Bom” e temos
três funcionários que se destacam claramente de todos os outros, teremos de deixar de fora um
deles, que está ao mesmo nível dos outros dois. Acabámos por fazer aquilo que já é hábito na
função pública e que não deixa de nos repudiar: correr toda a gente a “Bom” e tocar para a
frente. É isso que nos espera? Teremos as nossas avaliações aldrabadas por causa das quotas
impostas?
O que faltou dizer sobre o modelo de avaliação do desempenho? Para mim, faltou um
discurso organizado sobre a posição da classe docente em relação ao modelo.
Faltou dizer por que motivo queremos ser avaliados. A opinião pública critica-nos porque,
supostamente, não queremos ser avaliados. Nós reagimos, indignados, argumentando que não,
não é nada disso, nós queremos ser avaliados. A opinião pública insiste que não queremos, nós
respondemos que queremos. Bola para lá, bola para cá. A ministra deve pensar que isto é uma
anedota muito proveitosa para os seus intentos.
Acho que temos um discurso patético que só abona em favor da ministra, a salvadora da pátria,
que, a mando do mandante supremo, vai finalmente implementar um sistema de avaliação do
desempenho dos professores, o tal que faltava há 30 anos.
Eu, que sou barbeiro, teria posto as coisas da seguinte forma, ali, frente a frente com a ministra,
catapultado para os lares de milhares de portugueses:
1. Apesar de ter havido, durante estes anos todos, um sistema de avaliação do desempenho dos
professores, este não era um sistema que, de facto, penalizasse os maus profissionais e premiasse
os profissionais acima da média. A norma era correr toda a gente a “satisfaz” e ponto final. É um
facto e todos os professores têm essa noção. Ficava-nos bem assumir esta realidade.
2. É um facto que, como em todas as profissões, há bons profissionais e maus profissionais. Nas
nossas escolas, há bons professores e maus professores. Nós, os professores razoáveis e os
professores bons, não queremos conviver com maus professores, não queremos que manchem a
nossa reputação e não queremos que sejam tratados profissionalmente como se fossem razoáveis.
Mas, quando falamos de maus professores, estamos a falar de quantos? Fazendo contas por alto,
às escolas por onde passei e aos maus professores com quem convivi, apontaria a coisa para 1 em
cada 40, algo como 2,5%. Nada que contribua, efectivamente, para a vergonhosa posição em que
está o ensino português no panorama mundial.
3. Queremos ser avaliados, porque queremos que os maus professores sejam afastados, seja
por uma péssima formação moral ou por uma descarada falta de brio e empenho, e, aproveitando
a onda, queremos que haja professores a quem seja reconhecido o seu mérito, o seu exemplo, o
seu empenho e a sua dedicação, sem ser necessário pedinchar por tal.
4. O modelo lançado pelo ME não é recebido com credibilidade pelos professores, porquê? Três
factores são o bastante:
a) Pressupõe um corpo de elite altamente qualificado, os fantásticos professores titulares,
encarregues de avaliar todos os outros, que foram promovidos a esse posto sem mérito efectivo.
Em vez disso, chegaram lá por pouco mais que uma simples contagem de tempo de serviço e
sem terem sido avaliados, sendo óbvio que, e à parte das competências e formação necessários
para avaliar outros professores, entre tantos titulares encontrar-se-ão dos que fazem parte
daqueles 2,5% a afastar.
b) Nenhum sistema de avaliação que tenha quotas pode ser chamado “sistema de avaliação”. As
quotas podem usar-se para acessos e progressões, conforme as necessidades e as vontades
políticas, mas nunca podem condicionar as avaliações em si. Um avaliador não pode ter numa
mão a avaliação isenta do seu avaliado e na outra uma fasquia que não pode ultrapassar, sendo
que esta última obriga a mexidas na primeira, retirando toda a credibilidade e profissionalismo
ao processo, por uma grosseira adulteração de números. Tal e qual como se eu, enquanto
professor, tivesse um número máximo de quatros e cinco para dar aos meus alunos, no final do
ano.
c) O modelo foi atirado às escolas de uma forma extremamente atabalhoada e pouco
profissional, com uma agressividade muito irracional. Os professores são peritos em avaliar
alunos, nas suas disciplinas, mas não foram formados para avaliar professores, nem das suas
disciplinas, e muito menos de outras alheias. Pretende-se que façam uma tarefa sem terem tido
formação para tal. O modelo pressupõe uma escola modelo, que corresponde a apenas uma fatia
da realidade, deixando em aberto dezenas de dúvidas na sua aplicação, com inúmeras lacunas, tal
como se pôde verificar pela quantidade impressionante de questões deixadas no Fórum da
DGRHE. Faltou um Conselho Científico a funcionar e os bois foram ultrapassados pela carroça.
Faltaram matérias por regulamentar e os bois foram ultrapassados pela carroça. Que está por
detrás desta pressa enorme que levou à estipulação de prazos irrealistas para a implementação, a
meio de um ano lectivo?
tags: avaliação do desempenho

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