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- A VISÃO ALEMÃ -
© DHM
O Kilimandjaro, de Walter
von Ruckteschell
ATRAVÉS DO ROVUMA
Não tínhamos esperanças de qualquer apoio e, com a incerteza absoluta da sorte que nos
esperava, havíamos chegado aquele estado de espírito popularmente conhecido como
«allgemeine Wurchtigkeit» (completa indiferença). E assim, despreocupados com a situação
táctica, os nossos caçadores prosseguiam na sua útil tarefa, denunciando-se ao inimigo que,
como mais tarde soubemos, ouvia nitidamente os seus tiros.
Do seu efectivo de 1.000 homens não sobreviveram mais que 200. Na ânsia do saque, os
nossos askaris lançavam-se cada vez mais violentamente e sem interrupção sobre o inimigo
que fazia fogo ainda! Imagine-se ainda uma multidão de carregadores e moleques que,
aproveitando-se da situação, correram ao acampamento saqueando tudo que encontravam
roubando o que podiam para em seguida deitaram fora em presença de alguma coisa mais
luzente e atractiva. Foi uma horrorosa «melée». Até os askaris portugueses, depois de feitos
prisioneiros, compartilharam da pilhagem feita aos seus próprios víveres. Não havia remédio
senão intervir energicamente. Fiz uso de toda a minha eloquência e, para exemplo, castiguei
pelo menos sete vezes um carregador que eu conhecia, mas que todas as vezes me fugiu para
continuar a pilhagem noutro sítio qualquer. Finalmente consegui restaurar a disciplina.
Enterrámos cerca de 200 mortos inimigos e fizemos 150 prisioneiros que foram postos em
liberdade depois de se terem comprometido sob palavra a não mais combaterem durante esta
guerra, contra os alemães ou seus aliados. Capturámos algumas centenas de askaris, grande
quantidade de medicamentos de valor que tão necessários eram, todos de excelente
qualidade, o que era de esperar pela experiência de séculos dos portugueses em campanhas
coloniais, e ainda alguns milhares de quilos de viveres europeus grande número de
espingardas, seis metralhadoras e cerca de trinta cavalos. Não havia infelizmente víveres
para indígenas. Rearmámos quase metade das nossas tropas com espingardas portuguesas, e
fez-se uma lauta distribuição de munições. Apoderámo-nos de cerca de 250.000
carregadores, número que se elevou a um milhão durante o mês de Dezembro. Soubemos
depois, por documentos apreendidos, que as companhias europeias portuguesas haviam
chegado havia poucos dias a Ngomano, com o fim de executarem uma ordem impossível dos
ingleses de evitar a travessia do Rovuma pelos alemães. Foi realmente um grande milagre
que estas tropas não tivessem chegado a tempo, e tivessem tomado uma posição tão
proveitosa para nós. E foi assim que, dum só golpe, nos libertámos duma grande parte das
nossas dificuldades.
Havia ainda uma grande necessidade a satisfazer e que nos obrigava a avançar
desumanamente: a de procurar alimentação para o nosso grande número de indígenas.
Continuámos para montante do Ludjenda com este fim. Dias após dia, as nossas patrulhas
procuravam guias e provisões, não sendo bem sucedidas a principio. Os indígenas,
normalmente pouco numerosos nesta região, tinham fugido perante o avanço dos
portugueses, receosos da sua rudeza e crueldade e haviam escondido as provisões que
possuíam. E assim, as mulas e os cavalos, um após outro, iam encontrando o seu triste fim no
fundo dos nossos caldeiros. Felizmente este distrito é muito rico em caça, e o caçador
consegue sempre matar uma galinha-do-mato ou qualquer dos numerosos antílopes que ali
abundam.
Durante toda esta interessante conversa os askaris conservavam uma vigilância rigorosa, e o
mínimo movimento no mato não lograva escapar aos seus olhos de lince.
Não obstante o sou trabalho árduo e mortificante, estes homens sentiam-se cada vez mais
ligados às tropas. Quando havia falta de géneros ou os caçadores não eram bem sucedidos,
diziam com simplicidade: «Haiswa'b (não importa), nós esperamos, fica para outra vez».
Muitos marchavam descalços e com os pés ensanguentados. Frequentemente se observava
um deles puxando com prontidão duma navalha para cortar um pedacinho de carne dum pé
já muito ferido, e iniciar seguidamente a marcha sem um queixume.
Os carregadores eram seguidos pelas mulheres e pelos Bibi, tal como os askaris, sucedendo
muitas vezes nascerem-lhes os filhos durante as marchas. Cada mulher transportava à cabeça
não só os seus haveres como os do seu senhor. Era frequente vê-las com as crianças de peito,
às costas, com as cabecitas encarapinhadas espreitando do pano em que as enrolavam.
Marchavam sempre com ordem, protegidas por um europeu, em geral, um ex-sargento com
um askari para o auxiliar. Formavam assim durante as marchas um comboio muito extenso
que, em virtude da sua predilecção pelas cores berrantes, dava bem a ideia dum interminável
cortejo carnavalesco, especialmente depois de qualquer captura importante.
Quando chegávamos aos locais de estacionamento, quatro askaris e o meu moleque Serubiti
cortavam os ramos precisos para me construírem o esqueleto duma palhota ou duma tenda
que era dividida em várias secções. Em seguida o meu cozinheiro, o Baba, com umas
grandes barbas, dava as suas instruções rigorosas para o arranjo da cozinha. Vários
carregadores iam buscar a água necessária e cortavam o capim e a lenha para o lume com as
suas próprias navalhas. Chegavam em seguida os caçadores com a caça e, dentro de pouco
tempo, o acampamento era invadido por todos os lados pelo agradável cheiro a cozinhado.
No entretanto chegavam os grupos de carregadores que haviam ficado nas povoações
limpando o trigo. Este era depois pisado nos kinos (pilões) com o auxílio de paus muito
grossos, o que produz um som característico do mato africano que se houve a distâncias
muito grandes. Começava depois a chuva de despachos, relatórios de reconhecimentos,
documentos apreendidos – e qualquer caixote à sombra duma árvore servia-me de secretária.
Quando os altos eram maiores construía-se uma mesa. mais apropriada com estacas e
ramaria.
A refeição da noite era tomada em volta do lume com os amigos, sentados em bancos
improvisados pelos moleques. Os mais fidalgos, é claro, possuíam cadeiras de bordo.
Depois, vá de deitar, a dentro de mosqueteiros, e de manhã, muito cedo ainda, lá íamos mais
uma vez para o desconhecido. Encontraríamos que comer? Esta incerteza preocupou-me dia
após dia, semana após semana, mês após mês. As marchas contínuas não eram feitas, como
se compreende, por mero prazer. Eu ouvi ocasionalmente algumas observações a meu
respeito, tais como: «Ainda mais longe? Aquele amigo descende com certeza dalguma
família de globe-trotters».
Foi-me enviada, sob a protecção da bandeira branca, uma mensagem escrita do Comandante
em Chefe inglês, General van Deventer, na qual me convidava a render-me. Mais se
intensificou no meu espírito que a nossa fuga os tinha surpreendido a valer, e de que a nossa
invasão do território português os embaraçava muito.
Nunca este nem o General Smuts se tinham lembrado de me fazer um convite idêntico
quando a situação lhes era favorável. Porque o faziam agora, nas circunstâncias presentes,
idênticas às de Setembro de 1916, em Kissaki? Não era difícil de compreender que o inimigo
começava a desanimar. Faltava pouco tempo para o começo da época das chuvas e, portanto,
para a preparação de novas operações, e depois daquelas começarem, os transportes
inimigos, na maioria em automóveis, teriam que lutar com grandes dificuldades.
Tínhamos por isso muito tempo para nos podermos dividir em várias colunas sem hesitação.
Nada tinha a recear da perda temporária do contacto entre cada uma das fracções. E assim, o
destacamento do General WahIe separou-se das forças restantes e marchou através das
montanhas Mkula, enquanto eu me dirigi para nordeste do Ludjenda.
A rendição do Capitão Tafel, de que tive conhecimento pela mensagem do General van
Deventer foi para mim um golpe profundo. O Capitão Tafel tinha recebido o comando das
mãos do General Wahle, em Mahenge, quando este partiu para tomar o comando das forças
na frente de Lindi. Assegurou a fértil região ao norte de Mahenge com um destacamento de
algumas companhias sob o comando de Schoenfeldt, que conseguiu com tão pequeno
efectivo manter a posse daquela região, utilizando inteligentemente os canhões de 10,5 do
Konigsberg e colocando as suas forças em posições favoráveis.
Soube depois pelo Capitão Otto, que se encontrou com uma patrulha do Capitão Tafel, que
este, vindo de oeste de Liwale, havia marchado para o sul em três colunas, tendo alcançado
vitórias parciais no curso superior do Mbemkuru, onde capturou grande quantidade de
munições. Depois marchou mais para o sul, até ao rio Bangala, voltando para leste quando
julgou estar próximo de Massassi. Teve aqui conhecimento, pelos indígenas, que os alemães
já há bastantes dias que não travavam combates. Então o Capitão Tafel voltou em direcção
ao Rovuma que atravessou perto da confluência do Nangala, com a esperança de encontrar
provisões na margem sul. Não encontrou nenhumas e não teve conhecimento de que o
destacamento de Goering havia capturado, somente a um dia de marcha, um acampamento
português, onde encontrou géneros suficientes em ricas propriedades para lhe garantir uma
existência desafogada durante 14 dias. E nestas circunstâncias, o Capitão Tafel retrocedeu
para a margem norte do Rovuma, rendendo-se em seguida ao inimigo.
Esta rendição intensificou a minha relutância em destacar
outra parte da minha força, pois apesar da minha
proximidade, a junção que ambos tínhamos em vista não
foi possível efectivar-se. Senti-me torturado pela falta de
notícias do destacamento de Goering com o qual mantive o
contacto, por meio de patrulhas, quando estava em
Ngomano. Durante a marcha para montante do Ludjenda,
enquanto tivemos que conservar os destacamentos e
companhias mais afastados, por forma a facilitar o nosso
aprovisionamento, foi necessário insistir com os chefes
acerca da necessidade imperiosa de conservarem o
contacto. Todavia, não era de esperar que estes oficiais, que
mais tarde executaram tão excelente trabalho como
comandantes de destacamentos, sendo tão bem sucedidos
em cooperação com os outros, possuíssem logo de começo
o treino necessário.
© Castermann
Oficiais coloniais alemães O Governador ficava ainda com o comando supremo das
forças, mesmo depois de abandonar a Colónia, em
harmonia com a lei que certamente não previa a hipótese
duma guerra com um país europeu, e interpretava a sua autoridade de maneira a interferir
muito seriamente na do Comandante em Chefe, invadindo por vezes a minha própria esfera
de acção. Não tinha podido evitar este inconveniente, mas agora, fora da Colónia, comecei a
ligar a maior importância ao facto. Se algumas vezes não acedi aos apelos do Governador,
foi porque, na situação militar posterior, houve grandes diferenças de opinião, e o
Comandante em Chefe, aconteça o que acontecer, é de facto, e normalmente, o único
responsável.
É natural que naquela ocasião nem sempre fosse amável e contemporizador para com os que
me cercavam. Acontecendo que os próprios oficiais do Estado-Maior que estavam
trabalhando com a maior devoção pela causa comum, pelo que mereciam o meu
reconhecimento, foram alvo de muitas censuras injustificadas. São por isso merecedores da
minha particular gratidão, pois nunca se consideraram ofendidos, não tendo a minha má
disposição concorrido para prejudicar a boa continuidade dos seus trabalhos. Foi devido ao
seu trabalho, executado muitas vezes em circunstâncias difíceis, que alcançámos o triunfo
que o público com a sua generosidade me atribuía apenas a mim. Eu, que tantas vezes tenho
apreciado a boa camaradagem que existe na nossa corporação de oficiais, não gostava
certamente desta atmosfera de impertinência e procura de faltas. Felizmente esta fase foi
apenas passageira.
A nossa situação agora era tal que não podíamos reconhecer as forças inimigas se viesse a
dar-se qualquer encontro. Não tínhamos tempo para reconhecimentos longos. A
determinação com que atacávamos as forças portugueses onde quer que as encontrávamos é
atestada pelo facto de que, durante Dezembro, foram sucessivamente tomadas, aos
portugueses mais três posições fortificadas. A personalidade do oficial comandante que
primeiro encontrava o inimigo tinha uma importância capital e decisiva naquelas acções,
porque, não tendo tempo a perder, não podia esperar por ordens.
Estava numa ansiedade grande acerca da sorte do Capitão Goering de quem não havia
notícias. Quanto à força do General Wahle, que havia marchado para montante do rio
Chiulezi, soubemos depois que tinha atacado e aniquilado uma força de várias companhias
portuguesas que estavam entrincheiradas fortemente nas montanhas de Mkula.
As frequentes tentativas para estabelecer comunicações com as forças de Wahle por meio do
heliógrafo resultaram infrutíferas, embora os portugueses tivessem observado de Mkula os
sinais feitos de Nangwale. Os portugueses europeus capturados em Mkula pelo nosso
destacamento recusavam-se a dar a sua palavra de não mais tornarem a combater nesta
guerra, mas foram postos em liberdade e enviados para o Rovuma pelo General Wahle,
devido à dificuldade que havia em os sustentar.
O Capitão Stermmermann foi igualmente bem sucedido, capturando uma outra posição,
também muito forte, que foi valente e vigorosamente defendida, depois de a cercar durante
dias. Como a violência do seu ataque não oferecia probabilidades de vitória para o inimigo e
ainda porque a posição se tornou insustentável por lhe ter sido cortada a água, o inimigo foi
forçado a render-se. Entre as nossas baixas, infelizmente, contavam-se muitos oficiais
indígenas bons. Não estive presente no combate de Nangwale porque andava empenhado em
normalizar de vez a marcha das nossas companhias da retaguarda. Contudo, em dois dias de
marcha com etapa dupla consegui chegar a Nangwale a tempo de superintender na divisão
das provisões capturadas. Nas circunstâncias mais favoráveis vivíamos de géneros
ocasionais. A situação em Nangwale, onde há seis meses as nossas tropas haviam encontrado
uma tão rica vizinhança, era agora completamente diferente. Além das provisões referidas
não havia mais nada, e até a caça grossa rareava numa grande área em volta, por ter sido
assustada ou dizimada. Sofri uma grande decepção, porque esperava justamente o contrário,
e as forças tiveram que partir. Soubemos pelas informações dos prisioneiros e documentos
apreendidos que a guarnição de Nangwale era abastecida por colunas de carregadores que
vinham de muito longe, talvez das proximidades de Mwalis, onde provavelmente alguma
coisa haveria.
Nos princípios de Janeiro de 1918, os ingleses começaram a mover-se. O 1.º e 2.º batalhões
do King's African Rifles que ocupavam o ângulo sueste do Lago Niassa, iniciaram o avanço
sobre o destacamento do Capitão Goering que se havia reunido a nós e ocupava o ângulo
agudo formado pelos rios Luhambala e Ludjenda, cobrindo os depósitos de subsistências a
montante deste rio.
General Lettow-Vorbeck,
As Minhas Memórias da África Oriental, tradução de Abílio Pais de Ramos,
Évora, Minerva, («Subsídios para a História de Portugal na Guerra»), 1923
http://www.arqnet.pt/portal/portugal/grandeguerra/pgm_lettow01.html
Oficial comandante das forças alemãs que invadiram Moçambique durante a Primeira Guerra
Mundial.
Oficial colonial alemão por excelência, Lettow-Vorbeck foi enviado para a China durante a Revolta
dos Boxers, tendo sido destinado a seguir para a colónia alemã do Sudoeste Africano, actual
Namíbia, servindo nas forças expedicionárias que combateram a rebelião de Herero e de Hottentot
entre 1904 e 1908, durante a qual ganhou uma valiosa experiência da guerra no mato. Ferido, foi
enviado para a África do Sul para recuperar.
Promovido a tenente-coronel foi nomeado comandante das forças militares da colónia alemã da
África Oriental, a actual Tanzânia. Com o começo da Primeira Guerra Mundial, dirigiu vários bem sucedidos ataques
surpresa contra o caminho-de-ferro britânico do Quénia, tentou a conquista de Mombaça e repeliu uma tentativa de
desembarque britânico em Tanga, no Norte da colónia, em Novembro desse ano.
Durante quatro anos, dirigindo uma força que nunca excedeu 14.000 homens, sendo 3.000 alemães e 11.000 askaris -
soldados nativos da colónia -, obrigou ao envio de forças aliadas para a região que acabaram por ter um efectivo conjunto
que se estima entre 130.000 a mais de 300.000 homens, compostas por tropas britânicas, belgas, e portuguesas, tendo
entretanto invadido Moçambique e a Rodésia. O armistício apanhou-o na Zâmbia, quando provavelmente se dirigia para a
colónia portuguesa de Angola.
Quando regressou à Alemanha em Janeiro 1919, Lettow-Vorbeck foi acolhido como um herói. Em Julho 1919, com o fim da
guerra, comandou um corpo dos voluntários que ocuparam Hamburgo para impedir a tomada do poder na cidade dos
comunistas do partido espartaquista de Rosa Luxemburgo.
Foi deputado ao Reichstag, o parlamento alemão, de Maio de 1929 a Julho de 1930. Sendo membro da ala direita, nunca
apoiou os Nazis, tendo tentado organizar em vão uma oposição conservadora a Hitler.
Fontes:
Enciclopédia Britânica
1915
3 de Fevereiro Mais expedições militares partem para Angola, para fazer frente ao
ataque das forças alemãs, vindas da África Alemã do Sudoeste.
21 de Março O General Pereira d'Eça, novo governador de Angola e comandante das
forças expedicionárias, nomeado pelo governo ditatorial de Pimenta de
Castro, chega a Luanda, capital da província, substituindo o general
Norton de Matos..
Junho O governador de Moçambique informa o tenente-coronel Amorim de
que o governo português pretendia que se reocupasse Quionga, ocupada
pelos alemães em 1894, e se invadisse o território da África Oriental
Alemã.
7 de Julho As forças portuguesas reocupam Humbe, no sul de Angola, sem
encontrarem resistência.
9 de Julho As forças militares da África Alemã do Sudoeste rendem-se ao general
Botha, comandante em chefe das forças da União Sul-Africana.
12 de Julho O general Pereira d'Eça toma conhecimento da rendição da colónia
alemã.
4 de Agosto O governo é autorizado a contrair dois empréstimos, destinados a fazer
face ao aumento das despesas com as forças expedicionárias enviadas
para as colónias.
15 de Agosto Uma coluna das forças do comando do general Pereira d'Eça, agora com
a missão única de acabar com a revolta das populações da Huíla, no Sul
de Angola, reocupa o forte do Cuamato.
18, 19 e 20 de Combate de Mongua. A principal coluna das forças expedicionárias,
Agosto comandada pelo general Pereira d'Eça, dispersa um ataque realizado
contra as cacimbas (depósitos de água) de Mongua, no Sul de
Angola,ocupadas no dia anterior.
4 de Setembro A embala de Mandume, soba dos Cuanhama, é ocupada por um corpo
de tropas ido de Mongua.
7 de Novembro Uma segunda expedição a Moçambique, comandada pelo major de
artilharia Moura Mendes chega a Porto Amélia. Era composta por 1
batalhão, 1 bateria e um esquadrão, assim como de tropas de
engenharia, de saúde e de serviços.
1916
1917
1919
1920
Fontes principais:
Nuno Severiano Teixeira, O Poder e a Guerra, 1914 -1918. Objectivos Nacionais e Estratégias Políticas na Entrada de
Portugal na Grande Guerra, Lisboa, Estampa («Histórias de Portugal, 25»), 1996;
António Simões Rodrigues (coord.), História de Portugal em Datas, 3.ª ed., Lisboa, Temas & Debates, 2000 (1.ª ed., 1997);
General Ferreira Martins, História do Exército Português, Lisboa, Inquérito, 1945.
A GUERRA EM MOÇAMBIQUE.
Trincheira portuguesa na
posição de Namoto
Mais pelo instinto do que pela preparação, vamos sentir, efectivamente, palpitar dedicações
nas gentes das fileiras, afirmando estar ainda viva aquela antiga fé patriótica dos tempos das
descobertas e conquistas.
Refere ainda o General no seu relatório que o reconhecimento dos vaus no Rovuma fora um
estudo cuidado e completo, sendo-lhe «apresentado um sucinto mas conceituoso relatório,
inteligentemente elaborado, em que se forneciam preciosos dados» 1.
A situação militar nas duas margens do Rovuma, junto da foz, era de estreito contacto com o
adversário, trocando-se tiroteio com frequência e vindo ele atacar-nos com uma audácia e
valor, que as nossas bisonhas tropas mal possuíam. Tudo aconselhava a maior concentração
das nossas forças, considerando o malogro da tentativa de passagem do rio em 27 de Maio;
por isso resistiu o General aos pedidos de reforços dos postos a montante, porque entendia
que a acção decisiva seria junto à foz, onde havia recursos apreciáveis. Todavia, preparou
movimentos ofensivos simultâneos em Mocímboa do Rovuma e no Unde, além de dotar
também com alguns meios a coluna do Lago, entregando à iniciativa dos comandantes esses
movimentos, que considerava terem um papel secundário, mas de útil cooperação. Se a sorte
das armas nos fosse favorável e se revelasse algum, notável condutor de homens, poder-se-
iam atingir alguns daqueles objectivos secundários como Songea, localidade importante na
vasta região pobre a sudoeste da colónia alemã.
A passagem do Rovuma, junto à foz, pela expedição portuguesa na sua máxima força, sob o
comando directo do General, foi o fruto daquela instrução militar de dois meses realizada na
base em Palma, enquanto se esperava o material de transportes. A passagem efectuada em 19
de Setembro foi uma operação de relativo valor para a nossa vulgar preparação militar.
Assim o entendeu o General, que mandou louvar as tropas 3.
A cooperação da marinha fez-se sentir pela presença do Adamastor na foz do rio, protegendo
o comboio de víveres marítimo e fazendo um pequeno bombardeamento da margem alemã.
Entretanto os alemães na véspera tinham evacuado aquela zona e retirado para montante,
abandonando os seus postos militares.
Fazendo uma finta, a coluna negra - organizada com duas companhias indígenas, uma
companhia europeia de infantaria n.º 23, uma bateria de quatro metralhadoras, duas peças e
um pelotão de infantaria montada, sob o comando do capitão Gordo, -realizava a travessia do
rio a 40 quilómetros da foz, no dia 18 de Setembro, tendo tido algum tiroteio no
reconhecimento efectuado na véspera no vau de Nhica, com os alemães do posto de Tchidia.
Aqui foi o baptismo de fogo de alguns europeus 4 e tudo correu bem, remediando-se alguns
percalços o melhor que se pode. A guarda avançada do comando do capitão Demony
atravessou o rio em Mayembe e içou a bandeira. portuguesa na margem alemã, sinal para
que as restantes forças efectuassem por sua vez a travessia, que se levou a efeito sem um tiro.
A coluna negra seguiu para Migomba, em frente de Namoto, aonde todas as forças deviam
dirigir-se.
Organizadas três colunas e uma reserva, as duas colunas a montante passaram o rio a vau e a
coluna de jusante passou em jangadas construídas pela companhia de engenharia, à
retaguarda de parapeitos, que se abateram de noite para as lançar à água; operação que foi
bem conduzida pelo capitão António de Melo, apesar de nessa noite, nas trincheiras
próximas, ter surgido um pânico, que, porém, não se generalizou.
As comunicações estendiam-se por Nevala e Massassi, localidades que desce logo foram
indicadas como objectivos. Nevala era um centro administrativo e de recrutamento, cujo
fortim de alvenaria era apontado pelos indígenas como difícil de atacar por estar situado num
planalto bem defendido.
Para ocupar o terreno que o adversário nos fosse abandonando, foi enviado uni
reconhecimento a Nevala (capitão Liberato Pinto), que marchou. em 25 de Setembro de
Migomba pela margem Norte do Rovuma. A escolta do reconhecimento era formada por três
companhias indígenas e uma bateria de metralhadoras, com o fim de ir guarnecendo os
postos abandonados e ter capacidade para ir varrendo as patrulhas adversas: Não podia ser
mais numerosa a nossa tropa, porque nos faltavam transportes para a abastecer; mas ainda
essa foi reduzida a duas companhias, a 21.ª e a 24.ª, porque a outra recebeu ordem para ficar
em Nichichira.
Em Maúta, cerca de 2 km a Leste de Nevala, os alemães tinham preparado uma posição que
cortava a estrada de marcha e conseguiram surpreendera nossa extrema guarda-avançada,
num combate a 4 de Outubro, ficando perdido o alferes Camisão que a comandava. A
guarda-avançada era formada pela 21.ª companhia indígena (capitão Curado); a 24.ª (capitão
Demony), no grosso da coluna, levava intercalada a bateria de metralhadoras (tenente Júlio
César de Almeida) e uns centos de carregadores.
Era propício para o ataque o ponto escolhido pelos alemães: uma curva da estrada de
marcha, estreita, tendo na esquerda um escarpado de grande altura e na direita uma mata
densa e impenetrável. O fogo de metralhadoras, varrendo a estrada, produziu o pânico nas
muares e nos carregadores que debandaram. As companhias desenvolveram e as
metralhadoras, conduzidas à mão para a linha de atiradores e providas de água, ainda
prestaram bom serviço, causando bastantes baixas ao inimigo. Também as houve do nosso
lado e perderam-se alguns cunhetes com munições e algumas espingardas, mas não se
perderam as 5 metralhadoras, como alguns supõem. O combate de Maúta começara ao cair
da tarde, pelo que teve curta duração, pois, ao anoitecer e por ordem do Comando, as forças
retiraram para um local um pouco à retaguarda, onde se entrincheiraram.
Assim, a absoluta falta de água, levou o comando da coluna a ordenar a retirada das forças,
ainda nessa noite, para o posto de Nichichira, a 30 km. à retaguarda, onde se aguardaram
reforços que o General se apressara a enviar-lhes.
Outro reforço mandou o General, logo que a capacidade de transportes o permitiu, formado
por duas companhias de infantaria 28, duas peças e um pelotão indígena. Contudo a coluna
de Massassi não avançava, apesar das ordens do General, quando no Alto da Serra de
Nangadi o chefe do estado-maior lhe intimou o avanço. Este oficial com uma escolta
formada pelo resto das forças disponíveis, o esquadrão de cavalaria 3 reduzido a dois
pelotões, três pelotões indígenas das 17.ª e 22.ª companhias e uma bateria de metralhadoras,
marchou sobre Nevala pelo Sul, enquanto a coluna de Massassi deveria marchar por Leste,
atacando pelo planalto.
Falhando o plano de avançar pelo litoral, com o auxílio dos transportes de víveres de porto
em porto, como sucedera de Porto Amélia para Palma, e depois para a foz do Rovuma,
tínhamos de marchar pelas estradas alemãs, para montante do Rovuma até Nevala, e depois
pelos caminhos secundários até o vale definido pelo rio Lukuledi.
Um grande esforço foi improvisado, mas desconexo, para defender e assegurar o nosso
património colonial que, desde o ultimato de 1891, aspirava a ressurgir. A verdade é que,
pelas informações, a campanha estava a acabar e o General, impulsionando as forças até
Nevala, queria lá chegar antes dos ingleses, para que nós ocupássemos a tal faixa em
território inimigo, conforme o Governo desejava, não sucedesse o mesmo que no litoral,
onde a ocupação de Mikindane pelos ingleses nos tolheu os passos.
As tropas, porém, sentiram por instinto que a contenda seria resolvida na Europa, faltando-
lhes a fé e o entusiasmo necessário para arrostar com a dureza da campanha. Escasseava-
lhes, na verdade, aquele ódio ao alemão, que a proclamarão ao exército 8 preconizava, esse
«ódio patriótico» não existia.
Narrando com verdade os acontecimentos, eles somente se poderão compreender pelo jogo
de forças morais, ora impulsivas ora depressivas.
O avanço para Nevala foi directamente impulsionado por aqueles dois capitães da flecha da
escolta. O choque com os alemães deu-se uma légua ao sul de Nevala, junto dos poços que
eles defendiam. Foi em 22 que se feriu o combate da Ribeira de Nevala, onde tivemos dois
europeus mortos e doze indígenas feridos, tratados pelo cabo enfermeiro Coelho, porque a
escolta não tinha médico. Repelidos os alemães, a escolta ocupou os poços, entrincheirou-se
à vista de Nevala, a dois quilómetros ao sul, e esperou a coluna de Massassi desde 22 a 26 de
Outubro.
A coluna, como dissemos, em lugar de vir pelo planalto a leste de Nevala, executando a
manobra determinada, veio a aparecer pela retaguarda da escolta. Desde logo, sem descanso
se organizaram três colunas para investir Nevala. Depois de uma troca de tiros de artilharia,
os alemães abandonavam a praça e à tarde ocupávamos o fortim e as trincheiras que o
rodeavam, sendo a 17.ª companhia indígena a primeira a entrar nele. Todos estavam
fatigadíssimos. A bandeira foi erguida no mastro do fortim 9 e as duas melhores companhias
indígenas, a 21.ª e a da Guarda Republicana de Lourenço Marques, foram para os
postos avançados.
Para perseguir o inimigo foram nomeadas duas companhias de infantaria 28, duas
companhias indígenas, um pelotão de cavalaria e outro de infantaria montada, que
marchariam para Norte, na direcção de Massassi. A 10 quilómetros de marcha os alemães
barravam a estrada e uma acção se seguiu, comandada pelo alferes Carlos Afonso dos
Santos, a qual durou toda a tarde, tendo nós perdido três brancos e não chegando a entrar em
fogo a infantaria indígena, que ficou abrigada à retaguarda. Retirou a força para Nevala, não
obstante ter instruções para se aproximar de Massassi. Outros pequenos reconhecimentos
foram lançados, mas sem resultado.
O major Leopoldo Silva, depois de ouvir o capitão Curado, ficou meditando e passou uma
noite agitada, segundo disseram os camaradas que o admiravam. Certamente, o dever militar
de cumprir as ordens, nos termos categóricos que os, Governos de Lisboa e de Moçambique
insistiam em salientar, obrigou moralmente o novo comandante a manter a ordem de marcha
sobre Massassi, procurando atingir o objectivo designado.
A marcha foi iniciada em 8 de Novembro, e nesse mesmo dia chocou a coluna com o
inimigo, que lhe cortava a estrada em Lulindi (Quivambo).
Embora os alemães fossem forçados a retirar, foi-nos adversa a sorte das armas, tendo ficado
ferido, mortalmente, o prestigioso comandante logo no seu primeiro combate, quando as suas
qualidades excepcionais poderiam galvanizar as nossas tropas, perseguindo o adversário e
coroando o heróico, esforço do bravo capitão Curado com a sua 21.ª e alguns bons pelotões
indígenas, um da Guarda Republicana e outro da 22.ª, depois de terem cooperado num
renhido combate de guarda avançada, que bem merecia as honras duma monografia.
Com a morte do major Leopoldo Silva a coluna estacionou, perdendo o fôlego, à vista dos
rochedos de Massassi. Já corriam boatos de que os alemães se concentravam para virem em
força contra nós. A 15 de Novembro assume o comando da coluna o major Aristides Cunha,
que em breve, informado do avanço de algumas companhias alemãs, fez reunir o conselho de
oficiais, que votou pela retirada para Nevala. A coluna contava então 486 espingardas, mas
com um diminuto valor militar perante o adversário, que, reforçado, tomava a contra-
ofensiva, incorporando os marinheiros do cruzador Koenisberg, com o seu antigo
comandante capitão Loof.
Retirou a coluna em 19, e em 22 de manhã
estabelece-se o contacto com os alemães que
atacam logo de madrugada os defensores da
água, no sopé do planalto. Comandava o
posto da água o tenente Montanha, com a
24.ª companhia indígena e um pelotão de
infantaria 28.
Afirma o capitão Curado, no seu relatório, que através de muitas dificuldades e apesar de
haver muitos extraviados, dentre os quais ficou prisioneiro um tenente de artilharia, a
regularidade da operação foi mantida, não só até ao Rovuma, que era atravessado em 30 de
Novembro, mas ainda mais além.
Os alemães, que nesse dia 28 tinham conseguido meter em bateria contra Nevala uma peça
comprida de marinha de 10,5 cm trazida com grandes dificuldades do Rufigi, e que
esperavam, por terem cortado a água aos portugueses, que os defensores de Nevala se
rendessem sem condições, ficaram logrados com a retirada (que só perceberam ás 8h30 de
29) e lançaram-se logo numa tenaz perseguição com patrulhas na direcção sul e com as
tropas pelo planalto, onde perdíamos os nossos postos de etapas da margem norte do
Rovuma na direcção da sua foz.
Perdeu-se muito material, mas na sua maioria incapaz. A secção de telegrafia sem fios
funcionou até dar o último sinal, com o motor esburacado e as bobines queimadas 13. O seu
comandante, tenente Moreira de Sá, obrou prodígios de habilidade e valor para consertar os
motores quando, depois de várias tentativas em que se distinguiu um pelotão de infantaria
28, a estação foi removida, debaixo de fogo, para dentro do recinto dos entrincheiramentos.
A perseguição dos alemães pelo planalto fez-se mais sentir em 1 de Dezembro pelo meio-dia,
quando a peça de 10,5 cm do cruzador Koenisberg começou a bater com certeira pontaria o
posto de Nangadi, que em breve incendiava. Em Nangadi procurava-se organizar uma
defesa, mas as tropas estavam sem força moral. Houve algumas repressões violentas para se
formarem unidades, distinguindo-se nelas pela sua energia o tenente Gemeniano Saraiva 14. A
21.ª companhia do comando do capitão Curado novamente formou a guarda da retaguarda,
enquanto o chefe do estado maior da expedição, com patrulhas, ia até ao Rovuma e ficava
alguns dias no Alto da Serra, na crista militar do planalto da margem Sul do Rovuma.
No Alto da Serra foi adoptada a táctica alemã, de activo serviço de patrulhas, de preferência
a abrir um campo de tiro. Nesse serviço de patrulhas distinguiu-se o alferes Viriato de
Lacerda, conseguindo tirar bom partido dos dedicados cipais.
Naquela incerteza das comunicações, que é característica das campanhas coloniais, foi
morto, em 7 de Janeiro de 1917, o capitão de cavalaria Ferreira da Silva, com algumas
praças, quando retirava de noite num camião, depois de desempenhar uma missão de
parlamentário, afirmando a patrulha alemã, que fizera a emboscada, desconhecer a qualidade
de parlamentário de quem passava.
Cessara o avanço dos portugueses em território alemão, sendo seguido por uma rápida
retirada, somente restando na margem Norte do Rovuma o posto colocado na Fábrica, junto à
foz do rio, posto que foi evacuado meses depois, por desnecessário e fatigante para a
guarnição.
Nos meados de Dezembro começaram as chuvas torrenciais naquela região e logo subiram as
águas rapidamente constituindo o rio um fosso insuperável. Esta circunstância permitiu que
as nossas tropas tomassem fôlego; uma melhor alimentação foi dada aos soldados indígenas
distribuindo-se-lhes café de manhã 15 e assim voltaram a ser reocupados os nossos postos da
margem sul, sendo a primeira companhia a dar o exemplo de marcha, a 21.ª do capitão
Curado.
Três cruzadores ingleses vieram sucessivamente visitar-nos e um deles trazia um avião, que
nalguns voos tirou fotografias dos nossos postos.
Mas, assim como, ao referirmo-nos ao combate de Tanja, observámos que esse sucesso dos
alemães conseguira neutralizar os ingleses durante o ano de 1915, assim também agora,
depois de Nevala, termo das operações na zona secundária do Rovuma em 1916, podemos
repetir que os alemães conseguiram neutralizar a fronteira portuguesa durante o ano de 1917,
em que comandou as nossas forças o Governador Geral, Álvaro de Castro, que consumiu o
primeiro semestre num trabalho lento de indispensável reorganização 16.
Notas:
1. Revista Militar – 1919. Número comemorativo da Grande Guerra. (voltar ao texto)
2. História da Guerra, do jornal Times, Volume 19, parte 236, pág. 41. (voltar ao texto)
4. Tropa de África, de Carlos Selvagem, pág. 130, 2.ª edição. (voltar ao texto)
5. General Gomes da Costa, A Guerra nas Colónias, pág. 165 e 170. (voltar ao texto)
7. Livro de Ouro da Infantaria, 1922 – Artigos do capitão Curado e do C.E.M. págs. 135 e
166. (voltar ao texto)
9. A adriça embaraçou-se e a bandeira ficou a meio do mastro. Mau prenúncio? ... (voltar ao
texto)
10. Como Fizeram os Portugueses em Moçambique, tenente Mário Costa. pág. 99. (voltar ao
texto)
11. Revista Militar – 1928, pág. 458. «Coluna de Socorro a Nevala». (voltar ao texto)
12. Cartas de Moçambique, tenente Mário Costa, págs. 143 a 155. (voltar ao texto)
13. A Grande Guerra em Moçambique, capitão A. J. Pires, pág. 78. (voltar ao texto)
15. Ordens de Serviço da Expedição de 1916. Logo na Ordem n.º 1 se determinava que a
instrução às tropas fosse registada nos diários de campanha das unidades e que a instrução
sobre higiene fosse diária, fazendo notar às praças a gravidade de infracções a esses deveres.
(voltar ao texto)
16. O Governador Geral assumiu o comando das forças por Decreto n.º 2.924 de 4 de Janeiro
de 1917, quando regressou à metrópole o General Ferreira Gil. (voltar ao texto)
Fonte:
Tendo subjugado um motim desencadeado no seu regimento, durante o qual foi ferido,
recebeu a medalha de prata de valor militar, sendo nomeado director do Colégio Militar.
Promovido a general em 1915, foi escolhido para comandar a maior expedição militar
enviada para as colónias africanas no decurso da Primeira Guerra Mundial, para a qual,
como escreveu, não se achava verdadeiramente preparado.
Álvaro de Castro
Foi um dos chefes que liderou a Revolução de 14 de Maio de 1915 que, tendo provocado
um banho de sangue em Lisboa, conseguiu derrubar o governo de Pimenta de Castro.
Nomeado, como todos os outros dirigentes revolucionários, para postos chaves que
permitissem levar Portugal à participação activa na guerra, foi nomeado Governador Geral
de Moçambique nesse mesmo ano. Assumiu o comando das forças expedicionárias, em
Abril de 1917, após a demissão do general Ferreira Gil, em 24 de Dezembro de 1916.
Demitiu-se do seu posto devido a tomada do poder, em Lisboa, de Sidónio Pais, tendo sido
muito activo na Revolta de Santarém, de Janeiro de 1919, desencadeada contra o regime
Sidonista. Fundou o seu próprio partido, o Partido Republicano de Reconstituição Nacional
- o «Reconstituinte» -, cisão do Partido Democrático, tendo presidido a um governo que
durou 10 dias, de 20 a 30 de Novembro de 1920 e de novo a um que durou mais de 6
meses, de 18 de Dezembro de 1923 a 6 de Julho de 1924.
Fonte:
Enciclopédia Portuguesa e Brasileira de Cultura, vol. III, pág. 229.
A GUERRA EM MOÇAMBIQUE.
O coronel Sousa Rosa projectava uma ofensiva 1 para a qual não tinha elementos. Dispunha
de 26 camiões, mas somente de 6 condutores 2. Entretanto um telegrama de Lisboa, datado
de 14 de Outubro, determinava que o melhor serviço a prestar seria guarnecer a fronteira elo
Rovuma, afirmando que o governo inglês reputava desastrosa, naquele momento, a ofensiva
portuguesa.
Diz o coronel Sousa Rosa, no seu relatório, «os ingleses julgavam que às suas aspirações de
grande ofensiva, não corresponderia da nossa parte grande acção». E assim, como o
comandante da expedição anterior, ele atribuía aos nossos aliados, o possível propósito de
tolher-nos a ofensiva pelo litoral, onde nos seria mais viável.
A expedição de 1917 foi para Portugal
um esforço muito maior do que o
realizado com a expedição de 1916,
porque então já tínhamos também tropas
em França e maior foi portanto a
improvisação. O Governador, Álvaro de
Castro, também teve de dominar, em 191
7, uma revolta indígena no Barué,
empregando nessa campanha algumas
companhias indígenas.
Sucessivamente embarcaram na
metrópole: no vapor Portugal, em 5 de
O coronel Sousa Rosa com o seu Q.G. e o Janeiro ele 191 7, um batalhão de
oficial inglês de ligação infantaria n.º 29, de Braga; no
Moçambique, em 15 de Fevereiro,
quadros para a organização de 20 companhias indígenas e um esquadrão; no Moçamedes, em
19 de Março, um batalhão de infantaria n.º 30, de guarnição em Bragança; no Portugal, em
30 de Abril, um batalhão de infantaria n.º 31, do Porto; e no Moçambique, em 2 de Julho, a
companhia de engenharia, duas baterias de artilharia de montanha, duas de metralhadoras,
serviços de saúde e administração militar, num efectivo total de 209 oficiais e 5.058 praças 3.
Para reforços a incorporar nas tropas indígenas e da expedição anterior, ainda seguiram mais
40% dos efectivos, atingindo 108 oficiais e 4.401 praças, que embarcaram em quatro vapores
até Outubro de 1917.
O rendimento destas improvisadas forças foi desolador. Na aviação, aos primeiros voos
incendiou-se o aparelho do tenente Gorgulho, que morreu logo; adoeceu o mecânico francês
contratado e os aparelhos vieram para
Lourenço Marques. O batalhão do 31, do
Parto, sem sair da base marítima, foi
aniquilado pelas doenças. 4.
Pior que as outras, esta expedição não
teve impulso nem alma. O comandante,
enérgico e cheio de boa vontade, quis
aplicar o regulamento disciplinar, mas
esse esforço foi contraproducente porque
se levantaram terríveis resistências 5.
«Se nós observamos os portugueses, veremos tropas europeias fatigadas antes de haverem
combatido... A fé e o entusiasmo faltam completamente nos graduados...»
«O estudo deste período da campanha na Africa Oriental mais uma vez demonstra que as
estações superiores não puderam ou não souberam convenientemente preparar, nem
superiormente orientar a nossa intervenção militar nesse teatro de operações. Em tudo se
revela uma grande desorganização, a mais completa ausência de previsão e de uma
conveniente preparação, e a carência de recursos em dinheiro e em material indispensável
nas campanhas coloniais, factores estes aluda acrescidos com a falta de um plano de guerra
previamente estabelecido, onde tivessem sido fixados os objectivos políticos e militares da
nossa acção, como beligerantes, nesse teatro de operações. E, como se tudo isso não
bastasse, foi ainda por vezes agravado com a intervenção, nem sempre oportuna, de poderes
superiores aos Comandos das expedições na direcção das operações, e com o fraco apoio
que, também por vezes, foi dado a estes Comandos pelo Governo central».
Ao meio dia foi estabelecido o contacto com os alemães na margem Norte do Rovuma e às
12 horas e 45 minutos abriam eles fogos com uma peça sobre o dispositivo português, cujos
entrincheiramentos insuficientes eram em semi-círculo apoiado no Lugenda, dispositivo que
depois se tornou circular, apresentando um grande alvo ao adversário.
Tivemos 5 oficiais mortos, entre eles o major Teixeira Pinto, 14 europeus e 208 indígenas;
mais de 70 feridos graves e 550 prisioneiros entre os quais 31 oficiais.
Após o combate, em que do lado português se repetiram as mesmas faltas de ligação, além
de pouca combatividade 8, os alemães não se demoraram, em consequência de não terem
alimentação para os indígenas e depois de se apossarem dos despojos formaram duas
colunas, marchando cada uma pela sua margem do Lugenda. Todos os prisioneiros foram
soltos. Dizem as memórias do General Lettow que ele ao iniciar o combate não sabia se tinha
a defrontar ingleses ou portugueses, reconhecendo depois serem estes pelo som das
espingardas e que se decidiu a combater para conseguir munições e abastecimentos. Já em
1916 os alemães tinham atacado, em 29 de Agosto, o pequeno posto de Negomano, sendo
repelidos. Foi nessa ocasião que o alferes Marcos, saindo para fora da trincheira, recolheu
aos ombros um cabo indígena ferido 9.
Curioso se torna observar, quanto às operações portuguesas, que este segundo combate de
Negomano, em 25 de Novembro de 1917, parece suceder ao de Nevala, como se entre os
dois não tivesse decorrido um ano 10. Nós supúnhamos a campanha a terminar, mas, se
tivéssemos avançado, em ligação com os ingleses, talvez fossem cercados em Nevala os
alemães. A manobra foi proposta, com duas companhias portuguesas que atravessariam o
Rovuma, mas os ingleses consideraram essa força muito fraca, e a operação não se realizou.
Os alemães escapam-se de Nevala, onde estavam quase cercados pelos ingleses, batem-nos
em Negomano e internam-se no território português, conseguindo prolongar a campanha até
o Armistício.
O capitão Curado, que comandava essa força, deixaria um oficial com instruções para
destruir esses abastecimentos, se os alemães aparecessem, e ele próprio avançaria com as
reduzidas forças para tentar deter o adversário.
Às 5 horas da manhã de 3 de Dezembro deu-se o contacto, tendo pelo dia adiante os alemães
reforçado as suas forças e sucessivamente varrido os nossos postos avançados de combate;
mas após sete horas de fogo, retiravam com bastantes baixas, perante a resistência tenaz e
persistente dos defensores, os quais, depois de refeitos, com energia melhoraram os seus
entrincheiramentos durante os dias 4 e 5 de Dezembro.
Aproveitando a noite conseguiram fazer avançar as suas patrulhas de modo que, ao romper
novamente o fogo na manhã do dia 7, já se encontravam em estreito contacto com os
defensores, mas a disciplina e o cruzamento dos nossos fogos conseguia detê-los mais um
dia.
Finalmente, na manhã do dia 8 já traziam ao combate duas peças de artilharia, alvejando com
as suas granadas as nossas trincheiras e, com maiores efectivos, conseguiam envolver as
posições em que os portugueses se encontravam então encurralados. Com esse avanço
conseguiam os alemães apoderar-se das fontes que abasteciam de água as nossas tropas e os
refrigeradores das metralhadoras, que escaldavam pelo intenso fogo.
Ao meio-dia apoderam-se duma parte das nossas trincheiras. Mas ainda assim, a luta durou
mais duma hora até que eles se lançaram ao assalto, decidindo o combate. Foi então que
morreu um dos oficiais novos, que já tinha um nome prestigiado 12, o tenente Viriato de
Lacerda, ferido mortalmente quando destruía a metralhadora que lhe restava, para que ela
não caísse em poder dó inimigo. Ao ser enterrado este oficial, os alemães prestaram-lhe
honras, dando um pelotão as descargas do estilo e sendo acompanhado pelos seus camaradas,
amigos e inimigos até ao coval. O governador da colónia alemã Dr. Schnee, que acompanhou
sempre as suas tropas em 1917 e 1918, assistiu ao funeral. Comandava o destacamento
inimigo o general de reserva Wahle, figura típica do valor militar dos nossos adversários;
visitava a colónia alemã quando rebentou a guerra e, voluntariamente, serviu em importantes
comandos subordinados ao, então tenente-coronel, von Lettow.
Depois foi comunicado ao comandante das nossas forças, capitão Curado, que os alemães
tinham resolvido dar a liberdade aos prisioneiros, mas como garantia exigiam aos oficiais o
compromisso de honra de não voltarem a combater os impérios centrais e, aos outros
graduados europeus, que não combatessem mais em África. Como os nossos se recusassem a
tomar esse compromisso, a que se opõem os regulamentos, os alemães acataram com apreço
essa resolução, dando-lhes liberdade incondicional.
O combate da Serra Mecula, essa resistência tenaz durante quatro dias, até que a companhia
e a bateria de metralhadoras ficaram reduzidas a 36 indígenas, depois do assalto, foi uma das
acções mais impressionantes da campanha, dando novo realce à figura prestigiosa do
valoroso comandante, capitão Curado, a quem chamaram «o condestável do Rovuma» e que
contudo só foi promovido por distinção mais de dois anos depois. 13
OS COMBATES DE NHAMACURRA
O comunicado dos aliados, em 4 de Dezembro de 1917, dizia: «Uma pequena força alemã
refugiou-se em território português, tendo já sido tomadas todas as providências para a sua
perseguição». A este tempo o coronel Sousa Rosa recebia ordem para evacuar Porto Amélia,
que constituiria uma nova base das forças inglesas, as quais, conquanto cooperando na
defesa da nossa colónia, não ficariam subordinadas ao Comando português. 14
Conforme o relatório do general bóer Van Deventer, comandante em chefe dos Aliados, a
situação era por ele interpretada, quanto aos alemães, supondo-se que os seus propósitos
seriam prolongar a campanha, evitando empenhar-se a fundo, para poder durar por mais
tempo, enquanto do lado dos aliados o plano de campanha a efectivar nos primeiros meses de
1918, após as chuvas que em regra calam em Março, seria cercar os alemães que se
mantinham no centro dos territórios da Companhia do Niassa, entre os rios Rovuma e Lúrio.
Em vista da ameaça alemã sobre Quelimane, o dispositivo aliado desloca-se para o Sul. O
coronel Sousa. Rosa muda o seu Quartel-general para Quelimane e o general Edwards
transfere o seu para Moçambique. Os cruzadores «Adamastor» e «Thistle» protegem a vila
de Quelimane, sendo ali os portugueses reforçados por um batalhão de três companhias
indígenas inglesas.
Os alemães marchavam com um grupo de três companhias em guarda avançada seguida pelo
grosso das forças a um dia de marcha e a guarda da retaguarda a duas etapas depois. As
instruções de Von Lettow tinham por fim procurar munições.
Esquema do ataque
O comando das forças aliadas pertencia a um major português, mas por fim coube a um
tenente-coronel inglês Brown, promovido na ocasião 17. A posição das trincheiras, com três
quilómetros de desenvolvimento, era cortada por uma difícil linha de água, tendo sido
guarnecida por três companhias portuguesas e duas inglesas. Conforme o relatório do
comandante em chefe Van Deventer, na tarde de 1 de Julho, o sector Oeste da posição foi
surpreendido e torneado, e, apesar de os oficiais e sargentos portugueses terem combatido
durante três horas com bravura 18, todo o sector, com duas peças de tiro rápido, caiu em
poder do inimigo, tendo os portugueses dois oficiais e um sargento mortos, muitos feridos e
onze oficiais prisioneiros. 19
No dia 2 os alemães voltam a atacar, já com o grosso sob o comando de Von Lettow, mas são
repelidos. Às 6 horas da manhã do dia 3, repetem o ataque com maior intensidade e às 15
horas abrem fogo com a artilharia 20, provocando desordem o aparecimento de civis nas
trincheiras, e o pânico rebenta fugindo as tropas para o rio, onde morrem afogados o
comandante inglês Brown e muitas praças, devido à forte corrente e à largura do rio avaliada
em 80 metros. Dos europeus ficaram prisioneiros, quase todos feridos, 5 ingleses e 117
portugueses, conseguindo evadir-se de noite cerca de 55 portugueses. Além das duas peças
desmanteladas, os alemães tomaram 7 metralhadoras pesadas e 350 espingardas portuguesas
e inglesas.
Depois deste renhido combate de Nhamacurra, ainda apareceu subindo o rio um vapor com
munições e abastecimentos, o qual foi também capturado pelos alemães, que já não tinham
carregadores que pudessem transportar tão valiosas presas.
Os alemães fizeram depois correr o boato de que iam atacar Quelimane, tornando assim
inquietante a situação da vila, onde foi logo dada ordem para o embarque nos cruzadores, das
mulheres e crianças bem como dos valores do Banco, e se tomaram disposições de defesa,
contra a possibilidade daquele ataque.
O general Van Deventer a bordo do
cruzador ligeiro inglês em Porto Amélia
Em Nhamacurra verificou, o comandante Von Lettow que muitos soldados indígenas dos
ingleses eram já recrutados na África Oriental Alemã, incluindo também bastantes antigos
soldados alemães 21, donde se prova a facilidade com que um soldado indígena se pode
alistar sob diferentes bandeiras, continuando a ser bom soldado.
Para nós, verificou-se neste combate a dificuldade de cooperação com os ingleses, resultante
do nosso infeliz desconhecimento mútuo.
Notas:
1. Este oficial era deputado e no Parlamento advogava a ofensiva nesta campanha. (voltar
ao texto)
4. Quando descreve com o mais sincero e pungente realismo a situação sanitária das tropas
em Mocimboa da Praia, nova base marítima, que arranjara a fama de Sintra do Niassa, o Dr.
Américo Pires de Lima, no Seu já citado livro, diz:
6. Foi na noite de a 21/22 que o Q. G. português foi alarmado pelo boato de que os alemães,
entrando em território nosso, viriam atacar Chomba.
Cabe aqui prestar a devida homenagem ao capitão Neutel – o «Mahon» na gíria indígena –
oficial dos mais notáveis na nossa história colonial contemporânea. Ao serviço da colónia de
Moçambique desde 1898, as suas qualidades militares, assinaladas em sucessivas acções de
campanha na ocupação efectiva das regiões do norte da colónia ----ocupação que a ele
principalmente se deve e ao não menos valoroso major José Augusto da Cunha-- criaram-lhe
tal prestígio entre os indígenas que estes o consideravam e respeitavam como um semideus.
Deve-se-lhes a pacificação dos macondes, indígenas que os alemães, segundo é de crer,
revoltaram contra nós, e que Cunha e Neutel com as tropas auxiliares do seu comando,
conseguiram dominar por completo, vindo estabelecer-se depois no planalto da Chomba,
onde naquela noite, não davam noticia da aproximação dos alemães. De facto, estes, não se
dirigiram sobre Chomba, mas sobre Negomano. A informação deste movimento do inimigo
foi enviada a Negomano pelo oficial inglês de ligação, capitão Cohen, mas chegou tarde:
pouco depois começava o ataque. (Nota da Direcção). (voltar ao texto)
7. Buhrer (L'Afrique Orientale, 191 4-1918) diz: Teixeira Pinto, «excelente oficial
português». (voltar ao texto)
8. Revista Colonial, 1920, n.os 86 e 87. (voltar ao texto)
12. O tenente Viriato de Lacerda «que, num corpo franzino e doente, tinha uma energia
férrea e serena» – diz o Dr. Pires de Lima (loc. cit.) - e que já se tinha distinguido na retirada
de Nevala, «negou-se terminantemente a ser repatriado quando os médicos da expedição de
1916 verificaram o precário estado de saúde em que o pusera um ano de campanha. Ainda
combateu mais dois anos, e não combateu mais porque uma bala o prostrou para sempre, no
alto da Serra Mecula...» (voltar ao texto)
13. Ordem do Exército, 2.ª' série de 1920. pág. 618. (voltar ao texto)
14. Sobre esta questão do comando, merece registo a resposta dada pelo nosso M.N.E.,
Sidónio Pais, em 8 de Janeiro de 1918 à proposta que em 6 recebera do Governo Britânico,
por intermédio da sua Legação em Lisboa. Essa resposta, em que se faz a apologia da
unidade do comando, termina por «concordar com a proposta do Governo de S. M. Britânica
para que as forças portuguesas em operações na África Oriental cooperem com as forças
aliadas sob o comando do chefe mais graduado, organizando-se todavia um quartel general
misto.» (Nota da Direcção). (voltar ao texto)
19. Foram estes oficiais que dirigiram em 1 4 de Julho de 1918, ao comando alemão, um
protesto contra a forma desumana como eram tratados no cativeiro. (voltar ao texto)
20. A duzentos passos das trincheiras inglesas. Memórias, General Lettow. pág. 322. (voltar
ao texto)
Fonte:
Entrou para o exército em 1884, como voluntário, tendo chegado ao posto de capitão em 1905. Com
a instauração do regime republicano a sua carreira progrediu rapidamente. Major em 1911 era coronel em 1916. Com esse
posto, sendo deputado pelo Partido Democrático, em cujas listas tinha sido eleito em 1915, foi encarregue em meados de
1917 do comando da 4.º expedição a Moçambique para onde partiu em Julho.
Em Moçambique, na sua única campanha colonial, teve que combater a invasão alemã da província, que aconteceu em
Dezembro de 1917. Avançando para Sul, em Junho de 1918 os alemães encontram-se a quarenta quilómetros de Quelimane,
depois de terem vencido mais uma vez as forças portugueses no combate de Namacurra, agora reforçadas por forças
britânicos. Após este combate Quelimane encontrava-se indefesa, mas os alemães decidiram voltar para Norte. Sousa Rosa
aproveitou para pedir a exoneração. O pedido foi aceite e o coronel regressou a Portugal em Julho desse ano.
Em Portugal foi promovido a general, por escolha, em 2 de Agosto de 1919, quando ocupava o cargo de comandante interino
da 6.ª Divisão do Exército, e era deputado pelo Partido Democrático (1919-1925). Com a promoção a general foi transferido
para o comando efectivo da 3.ª divisão, que dirigiu até 1923. De 1926 a 1928 foi Inspector superior da Administração do
Exército, presidindo ao Conselho de Recursos.
Fontes:
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira.
1945 - 1961
1945
1946
1947
1949
Abril 4 Criação da NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte)
Outubro 1 Proclamação da República Popular da China
1951
1952
1953
1954
1955
1956
1957
1958
1959
1960
1961
Fonte principal:
Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes, Guerra Colonial: Angola, Guiné, Moçambique, Lisboa, Diário de Notícias, s.d.
A ver também:
---
1961
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
---
1962
Guerrilheiros da Frelimo.
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
5 Formação do GRAE (Governo Revolucionário de Angola no Exílio) pela
FNLA
6 Greve da Universidade de Lisboa
12 Remodelação ministerial, com Gomes de Araújo a substituir Salazar na
Defesa Nacional, Joaquim da Luz Cunha a substituir Mário Silva no Exército
e Peixoto Correia a substituir Adriano Moreira no Ultramar
Agitação nas universidades – luto académico
27 Aprovação do Código do Trabalho Rural para o Ultramar
Maio
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Fundação, em Dacar, da Frente de Libertação Nacional da Guiné (FLING)
1 Petição ao presidente da República, por um grupo de personalidades da
oposição, reclamando a demissão de Salazar e uma modificação na política
ultramarina
23 Início do I Congresso da Frelimo em Dar-es-Salam
24 Demissão de Venâncio Deslandes dos cargos de governador-geral e
comandante-chefe de Angola, na sequência de divergências com o ministro
do UItramar, Adriano Moreira, por questões de autonomia política e
administrativa do território
Outubro
Novembro
Dezembro
---
1963
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Desde meados do século XVIII que Portugal tentou conseguir a ligação terrestre entre
Angola e Moçambique. O objectivo era conseguir descobrir produtos que pudessem
interessar os mercados asiáticos - sobretudo o da Índia e da China - que era, na altura
e até finais do séc. XIX, deficitário para todas as potências europeias. A primeira
tentativa séria de realizar a travessia foi feita por Francisco José Lacerda de Almeida,
em 1798, mas este oficial de marinha morreu ao chegar ao Cazembe - a Noroeste do
Niassa.
A nova tentativa, proposta logo em 1799 por D. Rodrigo de Sousa Coutinho, ministro
da Marinha e dos Domínios Ultramarinos, começará em 1802. A travessia terminará
com êxito somente em 1811, nove longos anos depois, realizada pelos pombeiros Pedro
João Baptista e Amaro José, escravos mercadores de Francisco Honorato da Costa,
director da feira de Cassengue - posto fortificado a leste de Luanda onde se
centralizava o comércio com o interior de Angola - mas não teve continuação devido
aos problemas políticos que sacudiam o império português, mas permitiu conhecer
melhor o território - «abrir o caminho» - entre Angola e Moçambique.
Este relato, traduzido para inglês no ano seguinte, serviu para Livingstone, o
missionário escocês que explorou o território entre Angola e Moçambique, preparar as
suas viagens.
Ofício de Constantino Pereira de Azevedo, Governador dos Rios de Sena para o conde
das Galveias
Tendo Sua Alteza Real o Príncipe Regente Nosso Senhor determinado no ano de 1799 ver
se conseguia a abertura do caminho de Sua Capital de Angola para estes Rios de Sena, a
fim de que os seus Povos tanto da África Ocidental como da Oriental, pudessem girar com
o seu comércio com mais vantajosos lucros do que até agora o podiam fazer: assim como
também puderem circular as noticias de uma Costa a outra com mais brevidade, do que se
pudessem fazer pelos Navios, e tendo encarregado a dita abertura por este lado Oriental ao
Governador que foi destes Rios Francisco José de Lacerda e pelo lado Ocidental ao Ex.mo
D. Fernando de Noronha Capitão General de Angola, encarregando este ao Tenente Coronel
Comandante e Director da Feira de Casange Francisco Honorato da Costa , sucedeu que
desta parte Oriental faleceu o dito Governador Lacerda no sitio de Cazembe, tendo feito o
seu descobrimento até o sitio donde faleceu, e da outra parte Ocidental , com efeito
conseguiram os Escravos do dito Tenente Coronel acima mencionado, a dita abertura até o
Cazembe; cujos Escravos tem estado ha quatro anos ano dito sitio sem que tivessem meios
de se conduzirem a esta Vila para darem as referidas noticias, e vendo eu que esta Vila se
achava um pouco destituída de comércio por má inteligência que tem havido com alguns
Régulos que a cercam; e querendo eu de alguma forma ampliar esta falta chamei ao Quartel
da minha Residência em Maio de 1810 a Gonçalo Caetano Pereira homem muito antigo, e
muito prático destes Sertões, e tratando com ele sobre o aumento que desejava que esta
Capitania tivesse no seu comércio lhe pedi me descobrisse algum lugar para onde pudesse
com vantagem comerciar; este me respondeu que antigamente vinham a esta Vila negociar
os Vassalos do Rei de Cazembe, e que desde o tempo em que intentamos a abertura do
caminho nunca mais aqui tinham vindo e que ignorava, o motivo; uns diziam ser pela
desordens que os nossos fizeram no dito Cazembe depois da morte do Governador Lacerda,
e outros diziam era por que aquela Nação andava em Guerra desde esse tempo com a Nação
Muizes, e pedindo eu ao dito Gonçalo Caetano Pereira me desse três Escravos seus para eu
mandar de Embaixada ao dito Rei Cazembe para ver se movia aquela Nação a tornar outra
vez a esta Vila com o seu comércio como dantes faziam , este me facultou os seus Escravos,
cujos mandei de Enviados ao dito Rei Cazembe, e vendo este lá chegar os ditos Escravos
tomou a deliberação de me mandar uma Embaixada composta de um grande, e cinquenta
homens seus vassalos, na qual me manda dizer que no seu Reino existiam há quatro anos
aquelas duas Pessoas que tinham vindo da parta de Angola, cujos mandava entregar; os
quais chegaram a esta Vila em 2 de Fevereiro do presente anho, trazendo-me uma Carta de
seu Amo, cuja Carta tenho a honra de remeter a V. Ex.ª a Cópia, e perguntando eu aos
sobreditos, se queriam voltar voluntariamente pelo mesmo caminho por onde tinham vindo,
me responderam que sim, porém que era preciso eu dar-lhes as providências necessárias
para o sobredito transporte, aos quais mandei dar setecentos panos de valor de duzentos e
cinquenta reis fortes cada um, e dando de tudo parta ao meu Capitão General, assim como
também saber dele se à Real Junta daquela Capital me levava em conta a. sobredita
despesa, e quando não a pagaria dos meus soldos, de cujo ofício ainda não coube no tempo
receber resposta.
Eu deveria fazer alguma ponderação a V. Ex.ª sobre este descobrimento, por que não acho
maior inteligência nos ditos Descobridores, porém ao mesmo tempo conheço segundo a sua
capacidade fizeram muito, e como estes agora tornam pelo mesmo caminho vão insinuados
por mim o modo como devem fazer a sua derrota, e as averiguações que devem fazer, a
inteligência em que acham aqueles Régulos; se com efeito nos deixarão. passar
francamente por aqueles caminhos, e quais os mimos que lhes deveremos oferecer; de tudo
vão industriados por mim; e estes prometem dar um exacto cumprimento aos .referidos
objectos com todas as clarezas necessárias, entregando ao Ex.mo Capitão General de Angola
tudo quanto acharem tendente à dita abertura; o que tudo participo a V. Ex.ª para que V.
Ex.ª se sirva de o pôr na presença de S. A. Real o Príncipe Regente Nosso Senhor.
Ill.mo e Ex.mo Sr. Conde das Galveias, do Conselho de S. A. Real, Ministro e Secretário dos.
Negócios da Marinha e Domínios Ultramarinos.
N.º 1.
– 1806. –
Derrota que eu Pedro João Baptista faço na minha viagem do Muropue para o Rei Cazembe
Caquinhata, por ordem do Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Capitão General do Reino
Angola, da abertura do, caminho para a costa Oriental de África, dos Rios de Sena, e o
encarregado ao Senhor Tenente Coronel Francisco Honorato da Costa, Director da Feira de
Casangue com dois contos de fazendas para, despender com Reganos do caminho para a
bem de poder conceder-nos licença da dita abertura do caminho até em Tete.»
1.º
Domingo 22 de Maio do dito ano saímos do sítio grande do Moropue e na casa do seu filho
que estávamos agasalhados de nome da terra Capendo hianva , e como seu posto entre eles
Soano Mutopo do Muropue , no qual levantamos às 6 horas da manhã pássamos um rio
chamado Ingeba de quatro braças de largura, e o segundo rio Luiza que ambos vão
desembocar no rio Lunhua, e durante a viagem, viemos para o sítio do Guia que nos dava
[o] dito Muropue para nos transportar em Cazembe de nome da terra Cutaqua seja, o quanto
guia pagámos dez chuabos, e um copa de Bixega , chegámos ao dito sitio às Ave-Marias ,
encontrámos com bastante gente que vão do mesmo sítio do Muropue a trazerem farinha de
mandioca para seus Senhores andámos com o sol às costas.
2.º
3.º
4.º
5.°
Sábado 11 saímos do poiso deserto que levantámos às 5 horas da manhã passámos 3 rios de
pequenas larguras caudalosos, no posar, e viemos para outro deserto, e ao pé do rio de
pequena largura chamado Quipungo, ficando-nos o sítio de uns pretos povos de Muropue
em pouca distância, os quais não falámos nada com eles, chegámos no dito pouso ao meio
dia não encontrámos com ninguém andámos com o Sol [do] lado Esquerdo, e daí mesmo
fizemos parada para procurar-mos mantimentos de sustento.
6.º
7.º
8.º
9.º
10.º
11.º
«Sexta-feira 17 saímos do poiso que acima [fica] dito levantámos às 5 horas de manhã
passámos um rio corrente a pé chamado Roando de duas braças de largura que vai
desembocar no rio Lunheca, e durante a marcha passámos outro rio de pequena largura
chamado Rova que terá pouco mais ou menos treze braças de largura o qual também
desemboca no Lunheca , e ficando-nos o sítio muito Longe de um preto chamado Fumo
Ahilombe do Muropue no qual não tivemos perturbação nenhuma, chegámos ao meio dia e
fabricámos ao pé do dito rio, não [nos] encontrámos com ninguém. -»
12.º
13.º
«Domingo 19 saímos do poiso deserto que acima [ficou] dito levantámos às 6 horas da
manhã não passámos rio nenhum, e continuando-nos a nossa viagem viemos para o Sítio do
Luilolo do Muropue chamado Caponco Bumba Ajala , e falámos com ele a nossa viagem
que vamos por mandado do seu Muropue para a terra do Cazembe e respondeu que estava
bom; e logo nos mandou dar de Comer por parte do mesmo seu Senhor Muropue, e demos
de presente para ele quatro xuabos, e um Espelho, chegámos no dito sítio às quatro horas da
tarde, e ao pé de um rio chamado Muncum, e não [nos] encontrámos com ninguém. -»
14.º
15.º
«Terça feira 5 de Julho salmos do sítio de Muene Mene levantámo[-no]s ao primeiro cantar
de galo passámos quatro rios de pequenas larguras que vão desembocar no rio Cagenrige, e
viemos para o sítio do preto conhecido do nosso Guia chamado Soaria Ganga, e falámos
com ele [d]a nossa viagem que vamos para Cazembe chegámos às 2 horas de tarde não
[nos] encontrámos com ninguém, e não tratámos nada com ele de presente andámos com o
Sol [do] Lado Esquerdo.»
16.º
«Quarta feira 6 do dito mês saímos do sítio do Soana Ganga levantámo[-no]s às 7 horas de
manhã passámos dois rios correntes de pequenas Larguras que vão desembocar no mesmo
rio Cagenrige, e viemos para o sítio de Quilolo da Mai de Muropue chamado Luncongucha,
e o Quilolo chama-se Muene Camatanga falámos com ele [d]a nossa viagem que vamos
dirigidos ao Cazembe , o qual nos respondeu que podia ir quantas quiserem viajar, o qual
demos de presente cinco chuabos e um Espelho pequeno e mais cinquenta bagos de pedras
de Leite chegámos [ao] rio dito ao meio-dia andámos com o Sol da mesma forma não [nos]
encontrámos com ninguém.»
17.º
18.º
«Sexta feira 9 de Agosto saímos do Muene Casamba levantámo[-no]s ?as três horas da
manhã passámos outra vez, o rio Cagiringe, e durante a marcha passámos mais outro rio de
pequena largura que ignoramos o nome que também vai desembocar no mesmo rio
Cagiringe e viemos para o pouso deserto e ao pé de outro rio de pequena largura chegámos
no dito pouso às 4 horas da tarde e fabricámos o nosso cerco com chuva e não [nos]
encontrámos com ninguem. -»
19.º
«sábado 10 saímos do pouso deserto que levantámos às 5 horas e meia de manhã passámos
um rio corrente de pequena Largura de pedras que ignoramos o nome, e viemos para outro
deserto chamado Canpueje e ao pé do riacho corrente onde achámos Casas já feitas dos
viajantes Arúndas chegámos às 2 horas da tarde, e não vimos nada.-»
20.º
«Domingo 11 saímos do pouso deserto e que levantámos às duas horas de manhã passámos
três rios de pequenas larguras, e durante a viagem viemos para outro pouso deserto e ao pé
de um riacho que ignoramos o nome chegámos no dito pouso às 4 horas de tarde não [nos]
encontrámos com ninguém. -»
21.º
«Segunda feira 12 saímos do deserto que levantámos às 6 horas de manhã passámos um rio
corrente de pequena Largura chamado Maconde e durante a marcha viemos para outro
deserto chamado Luncaja, e ficando-nos o sítio de Quilolo chamado Anbulita Quisosa o
qual não falámos com ele [d]a nossa viagem chegámos no dito ao meio dia não [nos]
encontrámos com ninguém andámos com o Sol Lado Esquerdo.-»,
22.º
«Terça feira 13 saímos do sítio, e pouso deserto levantámo[-no]s às 5 horas de manhã não
passámos rio e viemos [a]o Sítio do filho do Quilolo Cutaganda, e ao pé do rio chamado
Réu falámos com ele [d]a nossa viagem que vamos para Cazembe e demos de presente ao
dito Quilolo dois chuabos do Serafna azul, e duzentos cauris, chegámos no mesmo sítio às
3 horas de tarde, andámos com o sol da mesma forma.»
23.º
24.º
25 º
"Sexta feira 16 saímos do pouso deserto no qual [nos] levantámos às 5 horas de manhã,
passámos quatro rios de pequenas larguras que vão desembocar no rio Qusbela, e durante a
viagem viemos para deserto, e ao pé do riacho corrente chamado Capaca Melemo
chegámos no dito deserto ao meio dia sem chuva, e vindo-nos em nossa companhia uns
pretos para virem comprar Sal na Salina não [nos] encontrámos com ninguém.»
26.º
27.º
«Domingo 18 fizemos parada do sítio de um preto chamado Quiabela Mucanda, o qual que
ficava, ao pé do rio Ropuege que acima dito nos impedir a viagem para que nos desse
alguma coisa, por que era potentado do Muropue, e além disso nos dar de comer por parte
do mesmo Muropue, e nos trouxe para bem nos largar uma Corça morta, e três quicapos de
farinha de mandioca verde para nosso sustento e demos de presente dez chuabos, e um
Espelho pequeno, nos respondeu, que podemos seguir a nossa viagem, e na falta não
darmos alguma cousa a ele; tinha outro exemplo para nos fazer que tirar-nos as fazendas à
força de armas. -»
28.º
29.º
«Sexta feira 1.º de Setembro parada por estar doente o Guia que estava com a mão inchada
por pancadas do seu Escravo do mesmo Guia.
30.º
31.º
«Segunda feira 4 saímos do deserto levantámo[-no]s às 7 horas de manhã não passámos rio
nenhum, e durante a marcha viemos para outro deserto e ao pé do mesmo rio Lububure, o
qual não passámos, chegámos às duas horas de tarde, andámos com o Sol da mesma forma;
e não [nos] encontrámos com ninguém.»
32.º
33 º
34.º
35.º
36.º
(continua)
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