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O Design, as novas mídias e a Educação na construção

de uma cidadania ambiental.

Ailton Santos Leite


Bacharel em Desenho Industrial pela Universidade Federal do Rio de Janeiro;
Especialista em Gestão Ambiental para Educação pela Universidade do Estado
do Rio de Janeiro; Mestrando em Design pela PUC-Rio.

Palavras-chaves: design, comunicação, mídia, interdisciplinaridade,


educação ambiental.

Resumo
Como o Design pode ser um instrumento para a aplicação da Educação
Ambiental? Em resposta a esta indagação, este artigo propõe uma reflexão
acerca do Design, em conjunto com os meios nos quais ele se insere, como
mediador de relações construtivas em Educação Ambiental. Para subsidiar o
ingresso na discussão, vamos definir o conceito atual de Educação
Ambiental, os meios que o Design utiliza para expressão, mais
especificamente em Comunicação Visual, através de uma linguagem icônica
para a transmissão de conhecimento e saberes. As relações entre o design e
outras áreas do saber também serão revistas, bem como, a análise de como
estas novas formas de leitura podem ser eficazes no processo
educacional.Busca-se também, neste trabalho, a sensibilização do
profissional de design para as diversas possibilidades de ação que o campo
ambiental proporciona para esta atividade profissional e seu papel na
construção de uma cidadania ambiental que contemple as necessidades
sócio-econômicas, culturais, mercantis e políticas entre todos os atores
sociais envolvidos na sustentação da estrutura de uma sociedade pós-
industrial, como a que vivemos atualmente. As áreas envolvidas neste
estudo apresentam relações interdisciplinares notáveis, as quais, ao longo
do texto, são destacadas através de citações, referências bibliográficas, e de
um breve relato sobre um estudo de caso. Durante a experiência, foram
experimentadas as teorias acerca do relacionamento interdisciplinar entre
essas áreas que pode agregar novos saberes e novos valores a uma
comunidade nos processos de construção do saber e de cidadania.

As origens com a mudança nos padrões éticos e sociais.

No final do século XVIII e o século XIX, com a hegemonia do pensamento


iluminista e do Positivismo nas ciências, considerava-se que os assombrosos
avanços técnicos e científicos da época eram suficientes para promover o
progresso social e moral, igualitariamente e concomitantemente, para toda
a humanidade. Algumas vozes se levantaram para criticar a corrida
industrial e o sistema capitalista que emergia na época. Dentre estes
merecem destaque os naturalistas Ralph Waldo Emerson e Henry David
Thoureau. Keith Thomas (1988) relata que em 1909 o naturalista Robert
Gray considerava os humanos muito mais selvagens do que as outras
espécies de animais. Corroborando com esta mesma opinião, o Conde de
Clarendon declarava na mesma época: “a maior parte do mundo ainda é
habitada por homens tão selvagens quanto as feras com que eles
convivem”.

Constatou-se no decorrer do tempo que o progresso científico no máximo


proporcionou o progresso material ao homem, mas não necessariamente o
progresso moral e ético, na mesma proporção (Bobbio, 2000).
Primeiramente, com a Revolução Industrial e os avanços científicos, não se
falava em preservação ambiental, pois havia a crença de que os recursos
naturais seriam inesgotáveis e a extinção de espécies inteiras de plantas e
animais era apenas um detalhe insignificante diante do progresso e do bem
estar proveniente do mesmo. Esta visão foi se modificando aos poucos, não
porque foi criada uma consciência ambiental mundial, mas sim porque foi
constatou-se que as reservas naturais poderiam se esgotar e isso tornaria
inviável a sobrevivência da raça humana, sem contar as implicações
econômicas que um colapso nas reservas naturais de energia causariam
para o mundo capitalista. A mudança dos padrões éticos seja com relação
ao meio ambiente ou a qualquer outra área, até porque as regras sociais e
éticas de convívio e conduta não evoluíram na mesma proporção que as
técnicas de domínio e controle da natureza (Bobbio, op.cit.), sempre foram
regidas por interesses políticos e econômicos, como podemos ver no trecho
a seguir:

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“Até pouco tempo atrás, a exploração da natureza era considerada
obra a ser louvada e estimulada, enquanto a exploração do homem
pelo homem é percebida ainda agora, não obstante a crise do
marxismo, que dela fez seu principal objeto de crítica à sociedade
capitalista, uma ação cruel. Mesmo quando o individuo humano é
levado em consideração unicamente como ser natural por parte das
ciências biológicas, a sua manipulação suscita problemas de limites
morais e jurídicos, que se tornaram temas constantes de discussão
por parte da bioética”(Bobbio, op.cit)

O autor ainda afirma que os progressos científicos e técnicos são cada vez
mais acelerados, irresistíveis e irreversíveis. A partir desta premissa, apesar
do discurso positivista não ter mais lugar na sociedade pós-moderna, o
discurso apocalíptico também não atende as nossas necessidades de viver
em uma sociedade em que certas situações não são passíveis de retroceder.
É aí que é aplicável o conceito atual de ecologia baseado na busca de novos
processos alternativos de geração de energia, na Educação Ambiental para a
formação de agentes multiplicadores de uma cidadania ambiental e no uso
consciente dos recursos naturais.

Ainda sobre as relações éticas, Mauro Grün (Grün, 1994) chama a atenção
para a responsabilidade não assumida pelo sistema de produção pela
degradação do ambiente, cujo passivo somos todos no final, vítimas. A
influencia do pensamento cartesiano na sociedade industrial seria, segundo
o mesmo autor um dos principais fatores para a valorização da visão
antropocêntrica da sociedade em relação ao ambiente que a cerca. Este
raciocínio explicaria em a mudança de comportamento da sociedade com
relação aos recursos naturais, visando a sobrevivência da raça humana, que
é dependente destes recursos para sobreviver, sem contudo, haver uma
verdadeira preocupação com o planeta como um todo. Isso é facilmente
percebido na questão do Direito em relação aos outros seres vivos, já que a
bioética discute de forma veemente as ações da ciência com relação à raça
humana, mas negligencia, para não dizer ignora, iniciativas para que se
amplie a noção de direito dos seres que ainda não o tem.

Já Leff (2002), faz uma crítica a forma com que a Educação Ambiental vem
sido ministrada, no que diz respeito à formação de uma consciência
ecológica. Segundo o autor, a transversalidade na transmissão de conceitos

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ambientais no ensino formal, não se dá de fato, reduzida a umas poucas
iniciativas pontuais. Para Leff, a ética ecológica, aquém das visões sobrenaturais
e religiosas, busca arraigar o sentido da existência do mundo em bases naturais.

Sato, assim como Leff, também aponta estas deficiências tanto no âmbito
formal da Educação Ambiental quanto no não formal. Ela afirma, porém,
que apesar da conjuntura atual, a Educação Ambiental não está estagnada
(Sato, 2002). Já Prigogine (Prigogine & Stengers, 1984), defende que esta
mudança de comportamento passa pela transformação conceitual das
relações entre o individuo, o meio e a ciência, através de novas práticas
culturais, políticas e sociais, estabelecendo assim uma “nova aliança” entre
os atores sociais envolvidos no processo.

Jürgen Habermas, aborda a questão da moral e da ética de forma coletiva,


universalista. De acordo com Habermas, a formação moral provém de um
agir comunicativo que culmina em um discurso em prol do entendimento
mútuo, que faz parte de nosso cotidiano, toda vez que nos comunicamos
com o outro e trocamos informações, vivencias e saberes, como também,
através dos princípios fundamentais de hermenêutica enquanto função de
linguagem (Habermas, 1989). É neste sentido que a Educação Ambiental
pode contribuir para esta formação ética e moral com relação ao ambiente,
pois a transmissão dos conceitos que permeiam a E.A., sem a imposição de
valores e nem a distorção das informações transmitidas, pode, segundo o
principio da universalidade, transformar as relações vigentes entre os seres
humanos e o ambiente que o cerca.

A Educação Ambiental.

Primeiramente, é necessário que se esclareça o conceito de Educação


Ambiental e Meio Ambiente na contemporaneidade. As origens da Educação
Ambiental são oriundas do movimento ecológico que tomou corpo em todo o
mundo a partir da década de 70 do século passado, principalmente após a
crise do petróleo e alguns desastres ambientais cujas conseqüências
econômicas foram mais contundentes do que os prejuízos ecológicos. Por
ter se originado no ecologismo, a Educação Ambiental é até hoje
compreendida pela maior parte da população, principalmente a urbana,
como algo distante, que diz respeito apenas à preservação da natureza e

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não a questões relacionadas ao cidadão diretamente e sim aos governos, ou
seja, como se não estivesse inserido no meio em que vive. Com a crise
mundial de energia, criou-se o temor que os recursos naturais se
esgotassem, e com isso, diversos movimentos a favor da preservação
ambiental surgiram no contexto internacional.

A Educação Ambiental não é mais vista como uma forma de apenas ensinar
as pessoas a preservarem a natureza ou não poluírem o meio ambiente.
Desta forma, a questão ambiental por práticas do cotidiano de qualquer um
de nós, como por exemplo, o simples lançamento de uma embalagem
descartada no meio da rua, que pode ir na primeira chuva, juntamente com
outros detritos, obstruir o escoamento das águas pluviais, causando morte e
destruição. Entendemos hoje por meio ambiente todos os espaços aos quais
estamos inseridos, sejam urbanos, rurais, naturais, nossas casas, nossa
escola, enfim, qualquer ambiente com a qual venhamos a interagir (Leite,
2003). Reforçando este princípio, Carvalho (1992) afirma que:

“Entendendo o meio ambiente como o espaço comum, de


convivência, onde afetamos as Ações que se dão na esfera pública
e somos afetados por elas, meio ambiente, política e cidadania
estão absolutamente ligados.” (Carvalho, 1992)

No que se refere à Educação Ambiental, o meio ambiente é apresentado


como tema transversal, ou seja, incorporado a diferentes disciplinas nos
Parâmetros Curriculares Nacionais. O grande problema é que para isso é
necessário que o individuo tenha acesso a escola, o que nem sempre
ocorre. Não cabe aqui negar a importância da educação formal, apenas é
levantada a hipótese de que os programas de educação ambiental deveriam
atingir, de forma eficiente, o seu objetivo final, ou seja, construir novas
relações entre o individuo e o ambiente, alterando alguns paradigmas
culturais e padrões de comportamento, sem estar preso a um sistema
didático formal.

Quando a Educação Ambiental é proposta para se alcançar o ideal de


sociedades sustentáveis, é necessária a formação de novos agentes
multiplicadores para a construção de uma cidadania ambiental (Unesco-
Unep, 1998; Tilbury, 1992; Fien & Rawling, 1996). Para isto é fundamental

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que se reúnam profissionais de diversas áreas do conhecimento
incentivando a construção de uma rede de saberes capaz de articular
informações direcionadas para a compreensão da educação de cunho
ambiental de forma mais ampla (Reigota, 1999).

Como o Design e o designer podem se apropriar dos meios de comunicação,


das novas mídias e da tecnologia para se formular novas metodologias de
aprendizagem e leitura, estimulando conseqüentemente, a germinação de
uma nova relação entre os indivíduos e o meio?

Aplicando o Design e a Comunicação em Educação Ambiental

O Design, que surgiu em plena era da Revolução Industrial (Pevsner, 1996;


Denis, 2000) é uma peça determinante no processo de revisão da relação
do homem com o meio em que vive, já que ele depende da produção
industrial para existir e a indústria depende das matérias-primas e dos
recursos naturais para também existir.

Ao partirmos para a Comunicação visual, considerando que a decodificação


icônica, a leitura de “mensagens” passa, no contexto de uma sociedade pós-
moderna, pelo que “representa” o bem de consumo, pela “tradução” do que
seria um estilo de vida, podemos afirmar, baseado no que dizem Green &
Bigum (1995) que a mídia é cada vez mais presente no processo de
escolarização e aprendizagem. O Design, no que concerne a Comunicação
Visual, é fundamental para conferir sentido estético ao consumo. É através
da estética imposta pela sociedade de consumo que o individuo constitui sua
subjetividade, à partir do seus estereótipos, que determinam que os
“diferentes” convivam tentando serem iguais entre si (Canclini, 2001;
Castro, 1998). A conexão entre as novas tecnologias, a Comunicação e suas
mídias, que são partilhadas com o Design, pode ser um caminho para a
reorganização da formação escolar, dentro a realidade multicultural que
vivemos (Candau, 2000). Desta forma, podemos considerar uma nova
função para o papel da Comunicação que não seja o de apenas transformar
os atores sociais envolvidos – crianças e jovens - em meros modelos ideais
de consumidores, aos quais só é permitido a persuasão para a aquisição de
bens de consumo e não o questionamento da subjetividade do ato de
consumir (Pereira, 2000; Castro, op.cit; Baudrillard, 1985).

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Os meios de comunicação sempre foram utilizados para a transmissão de
mensagens e por diversas vezes foram ajustados para servir aos interesses
das classes dominantes dando identidade a movimentos políticos e
econômicos – vide o fascismo e o nazismo – como muito bem identificou
Benjamim (1985). No entanto, a indústria cultural vai muito além da função
de entretenimento e os espaços de conhecimento aqui abordados – Design,
Comunicação e Educação – estão intimamente ligados a essa “indústria”. O
que está sendo proposto é a apropriação destes bens culturais de forma
positiva (sem com isso fazer a defesa de discurso integrado) e a serviço do
estabelecimento de novas relações sociais entre o culto e o popular, entre
dominadores e dominados e entre o homem e o seu meio. Barbero (2003)
apresenta diversos exemplos na América Latina – cinema no México; o
rádioteatro na Argentina; música no Brasil -, onde os bens culturais foram
deslocados, de meios para mediações, pelas massas. Esta transição do uso
dos meios pela massa, quando esta adere (ou é aderida) à engrenagem da
industrial cultural e de consumo, revela como as massas resignificam o
relacionamento com a estrutura para o seu dentro de seu olhar, sob a sua
própria ótica, driblando espontaneamente a manipulação. Este processo é
que nos incentiva a pensar de como podemos transformar estes
mecanismos de dominação para que estejam também a serviço da
Educação, mais especificamente da Educação Ambiental.

O processo educativo há muito extrapola o ambiente escolar tradicional,


já que o indivíduo tem a sua formação baseada na diversidade cultural, a de
consumo e a escolar. A primeira vista, a cultura escolar é conflitante com as
culturas não escolares, e é na diluição deste aparente contraste que o
Design, agregando os meios partilhados com a Comunicação pode atuar
como mediador na construção do desenvolvimento de uma cultura de
responsabilidade ambiental, procurando ser um mecanismo modificador e
de formação de novos conceitos relativos à melhoria da qualidade de vida,
através de uma reestruturação dos contatos entre o homem e o meio.

Essas considerações legitimam que se tomem iniciativas de revisão do que


se tem produzido em design gráfico para a Educação Ambiental, abrindo
também alianças interdisciplinares com outras áreas do saber como a
Comunicação Social e a Educação. O campo é muito abrangente e o público
alvo mais ainda, portanto é necessário que qualquer empreendimento em

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Educação Ambiental, seja precedido de em estudo que levante as
informações necessárias para o êxito das ações. Não se deve negligenciar a
capacidade de apreensão de informação do receptor da mensagem,
aplicando modelos pré-concebidos de transmissão de conhecimento,
relegando o aspecto educativo e comunicacional a um segundo plano (Leite,
2002).

Ainda com relação ao alfabetismo visual, existem outros autores


(principalmente os da linha de pensamento da Escola de Frankfurt) que
criticam veementemente a eficácia da comunicação visual e dos meios de
comunicação como instrumentos possíveis e legítimos de educação e
cultura, por julgarem que os mesmos estão a serviço das classes
dominantes. Giroux (1997) chega afirmar que a cultura visual contribui
significativamente para o analfabetismo e para a aculturação do ponto de
vista do alfabetismo verbal e formal. Já Defleur e Ball-Rokeach (1993)
consideram que os meios de comunicação de massa podem persuadir o
receptor das mensagens, sobretudo quando estas forem dirigidas a
aquisição de bens de consumo, porém, estes mesmos meios são filtrados
pelo receptor no que concerne à aquisição de conhecimento e a alterações
de paradigmas comportamentais e cognitivos. Desta forma, entende-se que
o receptor não é um mero agente passivo e manipulável da ação, a não ser
que ele se permita a isso.

Alguns outros autores como Canclini, (1998 e 1999); Sarlo, (1997) e


Barbero, (op.cit.), vão mais além, defendendo que os meios de comunicação
de massa são, hoje, hegemônicos e acessíveis a todas as camadas e os
valores transmitidos pelas mensagens, através dos meios de comunicação e
da mídia, não são impostos às camadas menos privilegiadas
economicamente, mas sim consumidos por elas à sua maneira. Por
exemplo, as telenovelas podem não ser o modelo mais adequado para se
tratar de literatura, mas é inegável que este tipo de entretenimento alcança
a todas as camadas sociais e temos exemplos de programas que seguem a
mesma linha narrativa que adaptaram clássicos da literatura que só foram
conhecidos por algumas camadas da população através deste gênero de
programa, sem contar com programas de alfabetização e ensino que
utilizam a televisão como veículo. A popularização de alguns bens de
consumo fez com que estas mensagens fossem transmitidas a estas

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camadas, que estariam hipoteticamente excluídas do processo de aquisição
de conhecimento por estes bens, e fossem transformadas e resignificadas
por eles, trazendo novos valores a sua realidade econômica, social, cultural
e estética. A troca entre o emissor e o receptor sob a ótica da educação é
bem sintetizada por Paulo Freire (1987) quando diz que ‘Ninguém educa
ninguém - ninguém se educa a si mesmo - os homens se educam entre si,
mediatizados pelo mundo’ . Todos esses exemplos teóricos só me fazem

comprovar que a prática da Educação Ambiental não precisa estar atrelada


e nem tolhida por materiais didáticos limitados a formatos e suportes
impressos como livros e cartilhas, apesar de toda a importância que os
mesmos tem para a Educação, mas que podem ser utilizados outros
suportes e outras mídias que façam o mesmo papel que o livro, ou seja,
informar, acrescentar, trocar, formar e enriquecer o individuo.

No âmbito da produção industrial o design pode atuar também no uso de


matérias – primas que sejam absorvidas pelo ambiente ou recicladas após o
descarte, no uso consciente destes mesmos recursos naturais para se evitar
o desperdício, bem como investir na filosofia da qualidade de vida
priorizando-a sobre o volume de produção (Denis, 2000)

O caso da Hidroelétrica de Manso.

Figueiredo (2002) descreve o estudo de caso do Programa de Comunicação


Comunitária integrante do Projeto Básico Ambiental para a instalação da
Hidroelétrica de Manso em Mato Grosso. O referido programa utilizou
diversos métodos não formais para fazer a ligação entre a Comunicação
Comunitária, a Comunicação Visual, a Educação Ambiental e a comunidade.
Dentre estes métodos podemos destacar as oficinas que foram idealizadas
para o programa.

Figura1: Oficina de criação para jornal entre as crianças da comunidade.

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A oficina de TV Comunitária trabalhou a capacitação em produção de vídeo
usando essa linguagem como ferramenta de expressão e comunicação entre
as comunidades, com o objetivo principal de fortalecer a autonomia, a
articulação e a participação popular através da construção de sua própria
linguagem. A linguagem audiovisual foi uma grande novidade na vida de
muitas pessoas dessas comunidades. Algumas sequer possuíam televisão
em suas casas, antes de mudarem para os assentamentos, pois não havia
energia elétrica. Essa atividade permitiu a construção de um espaço para
que esse público colocasse suas principais questões. Posteriormente, além
da oficina de TV Comunitária, foram implantadas as oficinas de Repórter
Comunitário e de Teatro do Oprimido. Fotografia, desenho em quadrinhos,
diagramação, enfim, uma gama de novos instrumentos foram apresentados
para que esses atores sociais pudessem estabelecer veículos de troca. ‘As
dificuldades técnicas e com a língua portuguesa não representaram um obstáculo
para os repórteres comunitários, pois todos estavam estimulados em aprender cada
vez mais’ (Figueiredo, op.cit.).

Figura2: Oficina de repórteres comunitários adolescentes.

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Esta experiência demonstra que a criatividade e a adoção de metodologias
alternativas e supostamente estranhas ao meio superam algumas
dificuldades e barreiras que podem advir da deficiência de uma formação
educacional tradicional, incluindo o cidadão no processo de transformação
de sua realidade sem que haja perdas de tradições e de culturas.

O educador deve estar atento as novas tecnologias educativas, para que se


utilize delas em prol de uma maior eficácia didática do ensino. As novas
mídias, tão familiares a nós designers, costumam ser vistas com reservas
pelos profissionais de Educação. E mesmo quem procura se relacionar com
essas ferramentas costuma apresentar queixas a respeito da baixa
qualidade de alguns produtos que são veiculados. Estas observações são
procedentes, de acordo com Kenski (1998), mas a autora também
apresenta algumas soluções para minimizar o problema. Uma delas seria a
inserção do educador na formulação dos programas e dos softwares
educativos desde a sua formação acadêmica, capacitando-os para tal. Isso
traria para o profissional um maior embasamento crítico e teórico para o
domínio e o uso de novas tecnologias educacionais.

Conclusão

A contribuição deste artigo foi apenas o levantamento de algumas


referências encontradas na vasta literatura sobre estas áreas do
conhecimento. As características interdisciplinares que permeiam estas
áreas demonstram como as trocas de vivências, saberes e conceitos podem

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ampliar as fronteiras do conhecimento de cada, enriquecendo-se
mutuamente, sem, contudo, perderem as suas identidades e características
especificas. Este intercâmbio de conhecimento em prol da edificação de um
saber comum, só pode ser benéfico para uma melhor compreensão da
Educação e mais especificamente da Educação Ambiental.

Fotos

Gustavo Furtado

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