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O Uraguai, poema épico de 1769, critica Quando o ilustre espanhol que governava
drasticamente os jesuítas, antigos mestres do Montevidio, alegre, airoso e pronto
autor Basílio da Gama. Ele alega que os jesuítas As rédeas volta ao rápido cavalo
apenas defendiam os direitos dos índios para ser E por cima de mortos e feridos,
eles mesmos seus senhores. O enredo situa-se Que lutavam co’a morte, o índio afronta.
todo em torno dos eventos expedicionários e de Sepé, que o viu, tinha tomado a lança
um caso de amor e morte no reduto missioneiro. E atrás deitando a um tempo o corpo e o braço
A despediu. Por entre o braço e o corpo
O Uraguai – Basílio da Gama Ao ligeiro espanhol o ferro passa:
Rompe, sem fazer dano, a terra dura
Fumam ainda nas desertas praias E treme fora muito tempo a hástea.
Lagos de sangue tépidos e impuros Mas de um golpe a Sepé na testa e peito
Em que ondeiam cadáveres despidos, Fere o governador, e as rédeas corta
Pasto de corvos. Dura inda nos vales Ao cavalo feroz. Foge o cavalo,
O rouco som da irada artilheria. E leva involuntário e ardendo em ira
MUSA, honremos o Herói que o povo rude Por todo o campo a seu senhor; e ou fosse
Subjugou do Uraguai, e no seu sangue Que regada de sangue aos pés cedia
Dos decretos reais lavou a afronta. A terra, ou que pusesse as mãos em falso,
Ai tanto custas, ambição de império! Rodou sobre si mesmo, e na caída
... Lançou longe a Sepé. Rende-te, ou morre,
Grita o governador; e o tape altivo,
Ao teu rei quer dar terras com mão larga Sem responder, encurva o arco, e a seta
Que lhe dê Buenos Aires, e Correntes Despede, e nela lhe prepara a morte.
E outras, que tem por estes vastos climas; Enganou-se esta vez. A seta um pouco
Porém não pode dar-lhes os nossos povos. Declina, e açouta o rosto a leve pluma.
E inda no caso que pudesse dá-los, Não quis deixar o vencimento incerto
Eu não sei se o teu rei sabe o que troca Por mais tempo o espanhol, e arrebatado
Porém tenho receio que o não saiba. Com a pistola lhe fez tiro aos peitos.
Eu já vi a Colônia portuguesa Era pequeno o espaço, e fez o tiro
Na tenra idade dos primeiros anos, No corpo desarmado estrago horrendo.
Quando o meu velho pai cos nossos arcos Viam-se dentro pelas rotas costas
Às sitiadoras tropas castelhanas Palpitar as entranhas. Quis três vezes
Deu socorro, e mediu convosco as armas. Levantar-se do chão: caiu três vezes,
E quererão deixar os portugueses E os olhos já nadando em fria morte
A praça, que avassala e que domina Lhe cobriu sombra escura e férreo sono.
O gigante das águas, e com ela Morto o grande Sepé, já não resistem
Toda a navegação do largo rio, As tímidas esquadras. Não conhece
Que parece que pôs a natureza Leis o temor. Debalde está diante,
Para servir-vos de limite e raia? E anima os seus o rápido Cacambo.
Será; mas não o creio. E depois disto ...
As campinas que vês e a nossa terra
Sem o nosso suor e os nossos braços, O bom padre Balda
De que serve ao teu rei? Aqui não temos Queria dar Lindóia por esposa
Nem altas minas, nem caudalosos Ao seu Baldetta, e segurar-lhe o posto
Rios de areias de ouro. Essa riqueza E a régia autoridade de Cacambo.
Que cobre os templos dos benditos padres, Estão patentes as douradas portas
Fruto da sua indústria e do comércio Do grande templo, e na vizinha praça
Da folha e peles, é riqueza sua. Se vão dispondo de uma e de outra banda
Com o arbítrio dos corpos e das almas As vistosas esquadras diferentes.
O céu lha deu em sorte. A nós somente Co’a chata frente de urucu tingida,
Nos toca arar e cultivar a terra, Vinha o índio Cobé disforme e feio,
Sem outra paga mais que o repartido Que sustenta nas mãos pesada maça,
Por mãos escassas mísero sustento. Com que abate no campo os inimigos
Como abate a seara o rijo vento. Co’a peregrina mão bárbaras flores.
Traz consigo os salvages da montanha, E busca o sucessor, que te encaminhe
Que comem os seus mortos; nem consentem Ao teu lugar, que há muito que te espera.
Que jamais lhes esconda a dura terra
No seu avaro seio o frio corpo ______________________________________
Do doce pai, ou suspirado amigo.
... Sonetos – Cláudio Manoel da Costa
As vis astúcias de Tedeu e Balda, Amor, que vence os tigre por empresa
Cai a infame República por terra. Tomou logo render-me; ele declara
Aos pés do General as toscas armas Contra o meu coração guerra tão rara,
Já tem deposto o rude Americano, Que não me foi bastante a fortaleza.
Que reconhece as ordens e se humilha,
E a imagem do seu rei prostrado adora. Por mais que eu mesmo conhecesse o dano,
Serás lido, Uraguai. Cubra os meus olhos A que dava ocasião minha brandura,
Embora um dia a escura noite eterna. Nunca pude fugir ao cego engano:
Tu vive e goza a luz serena e pura.
Vai aos bosques de Arcádia: e não receies Vós, que ostentais a condição mais dura,
Chegar desconhecido àquela areia. Temei, penhas, temei; que Amor tirano,
Ali de fresco entre as sombrias murtas Onde há mais resistência, mais se apura.
Urna triste a Mireo não todo encerra.
Leva de estranho céu, sobre ela espalha