Você está na página 1de 34

MARÍLIA DE DIRCEU

(1792)
Tomás A. Gonzaga

Prof. Gustavo Brotas


Nomenclatura
•Arcadismo:
⊛Arcádia - região montanhosa da Grécia Antiga (pastores poetas)
•Neoclassicismo:
⊛Volta ao equilíbrio da poesia clássica (greco-latina) e renascentista
Contexto Histórico
•Século XVIII: “Século das Luzes”

•Iluminismo: racionalismo – “Enciclopédia”


⊛Rousseau: “Bom selvagem”

•Despotismo Esclarecido: poder monárquico e filosofia

•Revolução Industrial
⊛Problemas urbanos ➡ vida pastoril
Características gerais
•”Inutilia truncat (“cortar o inútil”)
⊛Rejeição ao exagero barroco
•Fugere Urbem (“fuga da cidade”)
⊛Desprezo pelo ambiente urbano-industrial
•Locus amoenus (“lugar ameno”)
⊛Valorização do contato com a natureza
•Aurea mediocritas (“vida mediana”)
⊛Ideal de uma vida equilibrada (materialmente)
Características gerais
•Carpe diem (“aproveita o dia”) e Tempus fugit (“o tempo foge”)
⊛Convite amoroso, com tom suave e tranquilo, diante da inevitabilidade da
passagem do tempo
•Pastoralismo e Bucolismo
⊛Exaltação da vida campesina
•Convencionalismo
⊛Fingimento poético: poetas pastores (pseudônimos ➡ Marília)
•Retomada das regras clássicas (mitologia)
ARCADISMO NO BRASIL
•Datas limítrofes
⊛1768: Obras Poéticas – Cláudio M. da Costa (Glauceste)
⊛1836: início do Romantismo

•Contexto Histórico
⊛Séc XVIII: exploração do ouro em MG
✔Aumento da carga tributária – Inconfidência Mineira
Tomás Antônio Gonzaga
(1744-1810)
Dados biográficos:
- Direito em Coimbra
- Ouvidor de Vila Rica
- Maria Doroteia de Seixas: amor serôdio
- *Marília de Dirceu
- Inconfidência Mineira: prisão
- 1792: Moçambique – morte em 1810
Poesia Lírica: Marília de Dirceu (1792) –
versos regulares polimétricos (LIRAS)
•Primeira parte (Árcade)

a) Pastoralismo – Bucolismo

b) “Carpe diem” – fugacidade da vida

c) Ideal burguês de vida – posse da terra

c)Clareza da expressão
Poesia Lírica: Marília de Dirceu (1792) –
versos regulares polimétricos (LIRAS)
•Segunda parte (Pré-Romântica)

a) Escrita na prisão

b) Lirismo pré-romântico (subjetivismo)

c)Melancolia – tom trágico


Marília de Dirceu (1792) – Parte I
LIRA I Eu vi o meu semblante numa fonte,
Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, Dos anos inda não está cortado:
Que viva de guardar alheio gado; Os pastores, que habitam este monte,
De tosco trato, d’ expressões grosseiro, Respeitam o poder do meu cajado.
Dos frios gelos, e dos sóis queimado. Com tal destreza toco a sanfoninha,
Tenho próprio casal, e nele assisto; Que inveja até me tem o próprio Alceste:
Ao som dela concerto a voz celeste;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Nem canto letra, que não seja minha,
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
Graças, Marília bela,
E mais as finas lãs, de que me visto.
Graças à minha Estrela!
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Marília de Dirceu (1792) – Parte I
LIRA I Os teus olhos espalham luz divina,
Mas tendo tantos dotes da ventura, A quem a luz do Sol em vão se atreve:
Só apreço lhes dou, gentil Pastora, Papoula, ou rosa delicada, e fina,
Depois que teu afeto me segura, Te cobre as faces, que são cor de neve.
Que queres do que tenho ser senhora. Os teus cabelos são uns fios d’ouro;
É bom, minha Marília, é bom ser dono Teu lindo corpo bálsamos vapora.
De um rebanho, que cubra monte, e prado; Ah! Não, não fez o Céu, gentil Pastora,
Porém, gentil Pastora, o teu agrado Para glória de Amor igual tesouro.
Vale mais q’um rebanho, e mais q’um trono. Graças, Marília bela,
Graças, Marília bela, Graças à minha Estrela!
Graças à minha Estrela!
Marília de Dirceu (1792) – Parte I
(...)

Depois de nos ferir a mão da morte,


Ou seja neste monte, ou noutra serra,
Nossos corpos terão, terão a sorte
De consumir os dois a mesma terra.
Na campa, rodeada de ciprestes,
Lerão estas palavras os Pastores:
“Quem quiser ser feliz nos seus amores,
Siga os exemplos, que nos deram estes.”
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Marília de Dirceu (1792) – Parte I
LIRA II
Porém eu, Marília, nego, Os seus compridos cabelos,
Pintam, Marília, os
Que assim seja Amor; pois ele Que sobre as costas ondeiam,
[Poetas
Nem é moço nem é cego, São que os de Apolo mais belos;
A um menino vendado,
Nem setas, nem asas tem. Mas de louras cor não são.
Com uma aljava de setas,
Ora pois, eu vou formar-lhe Têm a cor da negra noite;
Arco empunhado na
Um retrato mais perfeito, E com o branco do rosto
[mão;
Que ele já feriu meu peito; Fazem, Marília, um composto
Ligeiras asas nos ombros
Por isso o conheço bem. Da mais formosa união.
O tenro corpo despido,
E de Amor, ou de Cupido
São os nomes, que lhe
[dão.
Marília de Dirceu (1792) – Parte I
Tem redonda, e lisa testa, Na sua face mimosa,
(...)
Arqueadas sobrancelhas; Marília, estão misturadas
Tu, Marília, agora vendo
A voz meiga, a vista Purpúreas folhas de rosa,
De Amor o lindo retrato
[honesta,
Brancas folhas de jasmim.
Contigo estarás dizendo,
E seus olhos são uns sóis.
Dos rubins mais preciosos
Que é este o retrato teu.
Aqui vence Amor ao Céu,
Os seus beiços são formados;
Sim, Marília, a cópia é tua,
Que no dia luminoso Os seus dentes delicados
Cupido é Deus suposto:
O Céu tem um Sol São pedaços de marfim.
[formoso, Se há Cupido, é só teu rosto,
E o travesso Amor tem Que ele foi quem me venceu.
[dois.
Marília de Dirceu (1792) – Parte I
Lira V
Minha alma, que tinha
Acaso são estes
Liberta a vontade,
Os sítios formosos,
Agora já sente
Aonde passava
Amor, e saudade.
Os anos gostosos?
Os sítios formosos
São estes os prados,
Aonde brincava, Que já me agradaram,
Enquanto passava Ah! Não se mudaram;
O gordo rebanho, Mudaram-se os olhos,
Que Alceu me deixou? De triste que estou.
São estes os sítios? São estes os sítios?
São estes; mas eu São estes; mas eu
O mesmo não sou. O mesmo não sou.
Marília, tu chamas? Marília, tu chamas?
Espera, que eu vou. Espera, que eu vou.
(...)
Marília de Dirceu (1792) – Parte I
Lira IX
Eu sou, gentil Marília, eu sou cativo;
Porém não me venceu a mão armada
De ferro, e de furor:
Uma alma sobre todas elevada
Não cede a outra força, que não seja
A tenra mão de Amor.

Arrastem pois os outros muito embora


Cadeias nas bigornas trabalhadas
Com pesados martelos:
Eu tenho as minhas mão ao carro atadas
Com duros ferros não, com fios d’ouro,
Que são os teus cabelos.
Marília de Dirceu (1792) – Parte I
LIRA XIV (...)
Minha bela Marília, tudo passa;
A sorte deste mundo é mal segura; Que havemos de esperar, Marília bela?
Se vem depois dos males a ventura, Que vão passando os florescentes dias?
Vem depois dos prazeres a desgraça. As glórias, que vêm tarde, já vêm frias;
(...) E pode enfim mudar-se a nossa estrela.
Ornemos nossas testas com as flores. Ah! Não, minha Marília,
E façamos de feno um brando leito, Aproveite-se o tempo, antes que faça
Prendamo-nos, Marília, em laço estreito, O estrago de roubar ao corpo as forças
Gozemos do prazer de sãos Amores. E ao semblante a graça.!
Sobre as nossas cabeças,
Sem que o possam deter, o tempo corre;
E para nós o tempo, que se passa,
Também, Marília, morre.
Marília de Dirceu (1792) – Parte I
Eu sei, Marília,
Lira XVII Deixa o ciúme,
Que outra Pastora
Minha Marília, Que te desvela:
A toda hora,
Tu enfadada? Em toda a parte Marília bela,
Que mão ousada Cega namora Nunca receies
Perturbar pode Ao teu Pastor. Dano daquela
A paz sagrada Há sempre fumo Que igual não for.
Do peito teu? Aonde há fogo: Que mais desejas?
Porém que muito Assim, Marília,
Tens lindo aspecto;
Que irado esteja Há zelos, logo
O teu semblante, Dirceu se alenta
Que existe amor.
Também troveja De puro afeto,
O claro Céu. (...) E pundonor.
Marília de Dirceu (1792) – Parte I
Lira XXII Que belezas, Marília, floresceram,
(...) De quem nem sequer temos a memória!
Tu não habitarás palácios grandes, Só podem conservar um nome eterno
Nem andarás nos coches voadores;
Os versos, ou a história.
Porém terás um Vate, que te preze,
(...)
Que cante os teus louvores.

O tempo não respeita a formosura;


E da pálida morte a mão tirana
Arrasa os edifícios dos Augustos,
E arrasa a vil choupana.
Marília de Dirceu (1792) – Parte II
Lira I
Já não cinjo de louro a minha testa; A fumaça, Marília, da candeia,
Nem sonoras canções o Deus me inspira: Que a molhada parede ou suja, ou pinta,
Bem que tosca, e feia,
Ah! que nem me resta
Agora me pode
Uma já quebrada, Ministrar a tinta.
Mal sonora Lira!
(...)

Mas neste mesmo estado, em que me Nesta cruel masmorra tenebrosa


[vejo, Ainda vendo estou teus olhos belos,
A testa formosa,
Pede, Marília, Amor que vá cantar-te:
Os dentes nevados,
Cumpro o seu desejo; Os negros cabelos.
E ao que resta supra
A paixão, e a arte.
Marília de Dirceu (1792) – Parte II
Vejo, Marília, sim, e vejo ainda Mal meus olhos te viram, ah! nessa hora
A chusma dos Cupidos, que pendentes Teu retrato fizeram, e tão forte,
Dessa boca linda, Que entendo, que agora
Nos ares espalham Só pode apagá-lo
Suspiros ardentes. O pulso da Morte.

Se alguém me perguntar onde eu te vejo, Isto escrevia, quando, ó Céus, que vejo!
Responderei: No peito, que uns Amores Descubro a ler-me os versos o Deus louro:
De casto desejo Ah! dá-lhes um beijo,
Aqui te pintaram, E diz-me que valem
E são bons Pintores. Mais que letras de ouro.
Marília de Dirceu (1792) – Parte II
Lira II (...)
Esprema a vil calúnia muito embora Porém se os justos Céus, por fins ocultos,
Em tão tirano mal me não socorrem;
Entre as mãos denegridas e insolentes, Verás então, que os sábios,
Os venenos das plantas, Bem como vivem, morrem.
E das bravas serpentes;
Eu tenho um coração maior que o mundo!
Tu, formosa Marília, bem o sabes:
Chovam raios e raios, no meu rosto Um coração, e basta,
Onde tu mesma cabes.
Não hás de ver, Marília, o medo escrito,
O medo perturbador,
Que infunde o vil delito.
Marília de Dirceu (1792) – Parte II
Lira VI
De que te queixas,
Língua importuna?
De que a Fortuna
Roubar-te queira
O que te deu?
Este foi sempre
O gênio seu.
(...)
Marília de Dirceu (1792) – Parte II – Lira XV
Eu, Marília, não fui nenhum Vaqueiro,
Fui honrado Pastor da tua aldeia; Fiadas comprarei as ovelhinhas
Vestia finas lãs, e tinha sempre Que pagarei dos poucos do meu ganho;
E dentro em pouco tempo nos veremos
A minha choça do preciso cheia.
Senhores outra vez de um bom rebanho.
Tiraram-me o casal, e o manso gado, Para o contágio lhe não dar, sobeja
Nem tenho, a que me encoste, um só cajado. Que as afague Marília, ou só que as veja.

(...) Senão tivermos lãs, e peles finas,


Ah! minha Bela, se a Fortuna volta, Podem mui bem cobrir as carnes nossas
As peles dos cordeiros mal curtidas,
Se o bem, que já perdi, alcanço, e provo; E os panos feitos com as lãs mais grossas.
Por essas brancas mãos, por essas faces Mas ao menos será o teu vestido
Te juro renascer um homem novo; Por mãos de amor, por minhas mão cosido.

Romper a nuvem, que os meus olhos cerra,


Amar no Céu a Jove, e a ti na terra.
Marília de Dirceu (1792) – Parte II
Nós iremos pescar na quente sesta
Com canas, e com cestos os peixinhos:
Nós iremos caçar nas manhãs frias
Com a vara envisgada os passarinhos.
Para nos divertir faremos quanto
Reputa o varão sábio, honesto e santo.
(...)
Quando passarmos juntos pela rua,
Nos mostrarão c’o dedo os mais Pastores;
Dizendo uns para os outros: “Olha os nossos
“Exemplos da desgraça, e são amores”.
Contentes viveremos desta sorte,
Até que chegue a um dos dois a morte.
Marília de Dirceu (1792) – Parte II
Lira XXI
Que diversas que são, Marília, as horas,
Beijando os dedos dessa mão formosa,
Que passo na masmorra imunda, e feia, Banhados com as lágrimas do gosto,
Dessas horas felizes, já passadas Jurava não cantar mais outras graças,
Que as graças do teu rosto.
Na tua pátria aldeia!
Ainda não quebrei o juramento,
(...) Eu agora, Marília, não as canto;
Mas inda vale mais que os doces versos
A voz do triste pranto.
À noite te escrevia na cabana
Os versos, que de tarde havia feito;
Mal tos dava, e os lia, os guardavas
No casto e branco peito.
Marília de Dirceu (1792) – Parte II
Lira XXXIII
(...)
(...)
Tu, Marília, se ouvires,
Eu, Marília, respiro;
Que ante o teu rosto aflito
Mas o mal, que suporto,
O meu nome se ultraja
É tão tirano, e forte,
C’o suposto delito,
Que já me dou por morto:
Dize severa assim em meu abono:
A insolente calúnia depravada
Não toma as armas contra um Cetro justo
Ergueu-se contra mim, vibrou da língua
Alma digna de um trono.
A venenosa espada.
Marília de Dirceu (1792) – Parte II
Lira XXXV Chegando este dia,
(...)
Os braços daremos:
Virá, minha Bela, Então mandaremos
Virá uma idade, De gosto, e ternura
Que, vista a verdade, Suspiros aos Céus.
Gostosa me entregues
O teu coração.
Pôr-me-ão no sepulcro
Os crimes desonram, A honrosa inscrição:
Se são existentes; Se teve delito,
Os ferros, que oprimem
Só foi a paixão,
As mãos inocentes,
Infames não são. Que a todos faz réus.
Marília de Dirceu (1792) – Parte II

Lira XXXVI Vaidoso então direi: Eu sou Monarca;


(...) Dou leis, que é mais, num coração divino!
Mas pode ainda vir um claro dia, Sólio que ergueu o gosto, e não a força,
Em que estas vis algemas, estes laços É que é de apreço dino.
Se mudem em prisões de alívios cheias
Nos teus mimosos braços.
Marília de Dirceu (1792) – Parte II
Lira XXXVII Ergue o corpo, os ares rompe,
Meu sonoro Passarinho, Procura o Porto da Estrela,
Se sabes do meu tormento, Sobe à serra, e se cansares,
E buscas dar-me, cantando, Descansa num tronco dela,
Um doce contentamento.
Toma de Minas a estrada,
Ah! não cantes, mais não cantes, Na Igreja nova, que fica
Se me queres ser propício; Ao direito lado, e segue
Eu te dou em que me faças Sempre firme a Vila Rica.
Muito maior benefício.
Entra nesta grande terra,
Passa uma formosa ponte, O seu semblante é redondo,
Passa a segunda, a terceira Sobrancelhas arqueadas,
Tem um palácio defronte. Negros e finos cabelos,
Carnes de neve formadas.
Ele tem ao pé da porta

Uma rasgada janela, A boca risonha, e breve,


É da sala, aonde assiste Suas faces cor-de-rosa,
A minha Marília bela.
Numa palavra, a que vires
Entre todas mais formosa.

Para bem a conheceres,


Chega então ao seu ouvido,
Eu te dou os sinais todos
Dize, que sou quem te mando,
Do seu gesto, do seu talhe,
Que vivo nesta masmorra,
Das suas feições, e modos. Mas sem alívio, penando.

Marília de Dirceu (1792) – Parte II – Lira XXXVIII
Eu vejo aquela Deusa,
Astreia pelos sábios nomeada; Eu vejo nas histórias
Traz nos olhos a venda, Rendido Pernambuco aos Holandeses;
Eu vejo saqueada
Balança numa mão, na outra espada. Esta ilustre Cidade dos Franceses;
O vê-la não me causa um leve abalo, Lá se derrama o sangue Brasileiro;
Aqui não basta, supre
Mas, antes, atrevido,
Das roubadas famílias o dinheiro.
Eu a vou procurar, e assim lhe falo:
(...)

Qual é o povo, dize, Há em Minas um homem,


Que comigo concorre no atentado? Ou por seu nascimento ou seu tesouro,
Que aos outros mover possa
Americano Povo? À força de respeito, à força d’ouro?
O Povo mais fiel e mais honrado: Os bens de quantos julgas rebelados
Podem manter na guerra,
Tira as Praças das mãos do injusto dono, Por um ano sequer, a cem soldados?
Ele mesmo as submete
De novo à sujeição do Luso Trono!
Marília de Dirceu (1792) – Parte II – Lira XXXVIII
Eu, ó cega, não tenho
Um grosso cabedal, do mais herdado;
Não o recebi no emprego,
Nem tenho as instruções dum bom soldado.
Far-me-iam os rebeldes o primeiro
No Império que se erguia
À custa do seu sangue e seu dinheiro?"

Aqui, aqui, de todo


A Deusa se perturba e mais se altera;
Morde o seu próprio beiço;
O sítio deixa, nada mais espera.
"Ah! vai-te", então lhe digo, "vai-te embora".
Melhor, minha Marília,
Formação da Literatura Brasileira
“A obra de Gonzaga é admirável graças a tal capacidade de extrair uma linha condutora dentre a
variedade de afetos e estados d’alma. Deste modo ela é verdadeiramente sincera no plano artístico
e, nas partes em que superou os modismos bastante corruptíveis do Rococó [Arcadismo] literário,
admirável, geralmente superior às produções do Romantismo”. (Antonio Candido)

“O problema consiste em avaliar até que ponto Marília de Dirceu é um poema de lirismo amoroso
tecido à volta duma experiência concreta – a paixão, o noivado, a separação de Dirceu (Gonzaga) e
Marília (Maria Doroteia Joaquina de Seixas) – ou o roteiro de uma personalidade que se analisa e se
expõe, a pretexto da referida experiência. É certo que os dois aspectos não se apartam, nem se
apresentam como alternativas.” (A. Candido)

“Dorotéia se desindividualizou para ser absorvida na convenção arcádica; é a pastora Marília, objeto
ideal de poesia, sem existência concreta. Por isso mesmo, ora é loura, ora morena; ora compassiva,
ora cruel: em qualquer caso, sem nervo nem sangue.” (A. Candido)

Você também pode gostar