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Casa Pia: Simões de Almeida ordenou investigação

2002/12/17 | 20:06
Ex-governante do PS diz não sabia de abusos sexuais

O ex-secretário de Estado da Segurança Social Simões de Almeida assegurou hoje que enquanto tutelou a Casa Pia nunca teve
conhecimento de alegados abusos sexuais, admitindo, contudo, que ordenou «uma averiguação urgente e integral» à instituição.

Simões de Almeida, que falava na comissão dos Assuntos Constitucionais, exerceu funções como Inspector geral da Segurança
Social a partir de 1995 (era Rui Cunha secretário de Estado), tendo assumido as funções de secretário de Estado em 2001.

Enquanto Inspector geral, Simões de Almeida disse ter coordenado uma auditoria à Casa Pia por suspeitas de irregularidades
financeiras, administrativas e patrimoniais.

Desta investigação resultaria um relatório (2001) em que se dava como certa a existência de irregularidades financeiras e se
fazia uma «referência histórica» aos processos disciplinares de que fora alvo, em 1989 e anos anteriores, o funcionário da Casa
Pia Carlos Silvino por causa de alegados abusos sexuais a menores.

É aqui, com a leitura deste relatório, segundo contou aos deputados, que Simões de Almeida toma conhecimento da existência
de suspeitas de abusos sexuais a menores na instituição.

Simões de Almeida disse ter então ordenado, já era secretário de Estado, uma «averiguação urgente» para apurar se as
irregularidades financeiras se mantinham, tendo aproveitado para pedir uma «investigação integral» à Casa Pia, mas não, em
específico, a casos de pedofilia.

Até porque, justificou, os factos relatados no dito relatório eram uma «referência histórica», não uma acusação, não sugeriam
que o comportamento se mantinha e já tinham mesmo prescrito.

«Dado que os factos já estavam prescritos, nenhum responsável que é informado por uma referência histórica sem que em
simultâneo se diga que continuam a existir suspeitas ou rumores de que o funcionário mantém o mesmo comportamento age. A
conclusão lógica (que se tira) é que a situação (abusos) desapareceu», argumentou.

O ex-secretário de Estado defendeu mesmo que, em 1989, na sequência do processo disciplinar intentado a Carlos Silvino, «o
provedor devia ter comunicado os factos ao Ministério Público».

Simões de Almeida considerou que depois de 1989 «um espesso manto de silêncio» se instalou, já que, até 1996 ou 1997,
nenhuma denúncia, suspeita ou rumor surgiu sobre alegada pedofilia na Casa Pia.

Esta declaração indignou o deputado do CDS/PP Narana Coissoró, que quis saber o que queria o ex-secretário dizer quando
falava em manto de silêncio.

«Trata-se de uma questão cultural, em que todos nós somos responsáveis por nunca termos ouvido as vozes das crianças»,
justificou Simões de Almeida, acrescentando que a Inspecção geral se deparou com esse manto quando fez a auditoria (em
1998) e lhe foi comunicado que «se estava a pôr em causa instituições centenárias e pessoas de bem que as dirigiam».

«Sinto tristeza por nunca ter sabido de nada», sublinhou o ex-secretário de Estado, garantido que caso tivesse tido conhecimento
de que aquelas práticas continuaram, teria «agido implacavelmente» como garante ter feito em situações semelhantes noutras
instituições.

Marques Guedes, do PSD, criticou o facto de a auditoria desenvolvida enquanto Simões de Almeida era Inspector ter demorado
mais de dois anos e meio, tendo depois o já então secretário de Estado decidido avançar com nova «investigação urgente».

«Este resvalar do tempo é completamente incompreensível», criticou o deputado do PSD.

Simões de Almeida disse ainda não ter tomado conhecimento das queixas apresentadas à Polícia Judiciária já em 2001 por
familiares de alunos da Casa Pia contra Carlos Silvino.

O ex-secretário de Estado disse não conhecer os resultados da investigação que ordenou, porque entretanto caiu o Governo,
tendo sido substituído na pasta por Margarida Aguiar, actual secretária de Estado da Segurança Social.

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