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INCÊNDIO
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O tipo está no art. 250 do Código Penal: “causar incêndio, expondo a perigo a vida, a
integridade física ou o patrimônio de outrem”. A pena: reclusão, de três a seis anos, e
multa.
Sujeito ativo é qualquer pessoa, é quem realiza o tipo, causando incêndio. Sujeito
passivo é o Estado, é a coletividade e também a pessoa cujo bem ficar exposto à situação de
perigo.
29.2 TIPICIDADE
A conduta típica é dar causa a incêndio, isto é, provocar seu surgimento. Incêndio é a
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combustão da matéria que, por suas proporções, tem o potencial de causar danos a pessoas
e coisas que se encontrem em suas proximidades. Não é qualquer combustão que
caracteriza o incêndio, mas apenas a que, por sua intensidade e extensão, é de difícil
contenção. É o fogo indomável. O fogo, ainda que tênue e brando, é sempre suscetível de se
propagar tomando dimensões maiores e podendo converter-se em incêndio, se presentes as
condições naturais ou artificiais indispensáveis para seu desenvolvimento.
O agente pode causá-lo por ação ou por omissão se, por exemplo, diante de um fogo
que tem o dever de apagar, por tê-lo causado culposamente, nega-se a agir, permitindo sua
propagação e transformação em incêndio.
O incêndio causado pelo agente deve ser daqueles que, por sua qualidade, seja capaz
de colocar em risco de lesão a vida ou a integridade física de pessoas ou o patrimônio
alheio. Deve, efetivamente, ter colocado esses bens, de pessoas indeterminadas, em perigo
real de lesão.
Não há crime quando o agente causa incêndio em local desabitado e onde não há bens
materiais alheios como, por exemplo, quando o provoca em materiais inservíveis colocados
no interior de sua propriedade rural. Se, porém, o fogo se alastrar e invadir a propriedade
alheia, poderá configurar o crime se, nesta, colocar em perigo bens jurídicos de outrem.
O perigo deve relacionar-se com a vida, com a integridade física ou com o patrimônio
de pessoas indeterminadas. Se o incêndio causado pelo agente colocar em risco a vida de
uma única pessoa porque provocado num lugar onde se encontrava apenas essa pessoa, o
fato se ajustará ao tipo do art. 132 do Código Penal.
Possível o dolo eventual quando o agente causa o incêndio, sem a intenção de criar a
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Não pode o agente estar imbuído de outra finalidade, como a de matar, lesionar
pessoa ou danificar o patrimônio, pois nesse caso responderá não só pelo crime de perigo
comum, mas também por homicídio, lesão corporal ou o crime patrimonial
correspondente, em concurso formal imperfeito.
Não tendo consciência de um dos elementos do tipo, ficará excluído o dolo do agente,
podendo responder pela forma culposa, adiante comentada.
Também será reconhecida a forma tentada quando o agente, após ter derramado
gasolina sobre o material visando causar o incêndio, é impedido de atear o fogo sobre o
mesmo, por terceiro que chega no local.
Não há incompatibilidade entre o tipo da referida lei e o tipo do Código Penal, com
a causa de aumento, que continua em vigor. É que, na lei especial, basta a causação do
incêndio em floresta ou mata, independentemente da produção de perigo comum, exigível
no preceito do Código Penal. Assim, se o incêndio na floresta ou mata ocasionou perigo
comum, incide o art. 250, com o aumento de pena; se não, incide o tipo da Lei nº
9.605/98.
Trata-se de crimes preterdolosos nos quais o sujeito age com dolo de causar
incêndio expondo a perigo os bens jurídicos e culpa na produção do resultado mais grave.
Havendo mais de uma vítima lesionada ou morta, haverá crime único qualificado pelo
resultado. Se houver dolo quanto à produção da lesão corporal ou da morte de uma pessoa,
haverá concurso formal de crimes, com a aplicação das penas cumulativamente por terem
sido diferentes os desígnios do agente.
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Se a lesão corporal – leve ou grave, porque a norma do art. 258 não exige apenas a
lesão grave como resultado qualificador do delito culposo – resultar de incêndio culposo, a
pena será aumentada de metade; se o resultado mais grave for morte, será aplicada a pena
correspondente ao homicídio culposo, aumentada de um terço.