PERSPECTIVAS DO
MEIO AMBIENTE
NA AMAZÔNIA
amazonia
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Publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), pela Organização do Tratado de
Cooperação Amazônica (OTCA) e em colaboração com o Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico (CIUP).
É permitida a reprodução total ou parcial desta publicação para fins educativos, ou não-lucrativos, não sendo necessário
qualquer tipo de autorização especial do titular dos direitos, desde que indicada a fonte. O Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente, a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica e a Universidad del Pacífico agradecem a
gentileza de receber um exemplar de qualquer texto cuja fonte tenha sido a presente publicação.
Não é permitida a reprodução desta publicação para venda ou quaisquer outros fins comerciais.
ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
O conteúdo deste documento não reflete necessariamente as opiniões ou políticas do PNUMA, da OTCA ou das
organizações parceiras com relação à situação jurídica de um país, território, cidade ou área sob sua autoridade, ou
com relação à delimitação de suas fronteiras ou limites.
❱❱❱ Equipe do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente Venezuela:
(PNUMA) Ministério do Poder Popular para o Ambiente: Maritza Reechinti; Insti
• Ricardo Sánchez Sosa - Diretor Regional do Escritório Regional para a tuto Venezuelano de Pesquisas Científicas -IVIC: Ángel Fernández
América Latina e o Caribe
• Kakuko Nagatani - Oficial de Programa da Divisão de Avaliação e ❱❱❱ Assistentes
Alerta Rápido- Coordenadora do Projeto GEO Amazônia • Assistentes PNUMA
❱❱❱ COORDENAÇÃO TÉCNICA: • Cristina Montenegro - Coordenadora, PNUMA Brasil • Teresa Hurtado
• Ricardo Mellado
❱❱❱ Equipe da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica • Esther Mendoza
(OTCA)
• Francisco Ruiz – Secretário-Geral a.i. ❱❱❱ Assistentes CIUP
• Luis Alberto Oliveros - Coordenador de Meio Ambiente. • Daniel Anavitarte
• Aura Benavides
❱❱❱ COLABORAÇÃO: ❱❱❱ COM O APOIO DE: ❱❱❱ Equipe do Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico • Úrsula Fernández Baca
(CIUP) • Isabel Guerrero
• Rosário Gómez - Pesquisadora, Responsável Técnico do Projeto • Mariella Zapata
• Elsa Galarza - Pesquisadora, Responsável Técnico do Proyecto
BOLÍVIA ❱❱❱ Equipe de elaboração de mapas
Ministério do Desenvolvimento Rural, Agropecuário e Meio Ambiente ❱❱❱ Coordenação Geral Adolfo Kindgard. Universidade de Buenos Aires, Faculdade de Agrono-
• PNUMA: Kakuko Nagatani mia -Argentina; Hua Shi. UNEP/GRID - Sioux Falls - Estados Unidos
• OTCA: Luis Alberto Oliveros
BRASIL • CIUP: Rosário Gómez e Elsa Galarza ❱❱❱ Colaboradores:
Ministério do Meio Ambiente • Andrea de Bono. UNEP/GRID
❱❱❱ Comitê Técnico • Hugh Eva. JRC da União Européia - Itália
Bolívia: • Jaap van Woerden. UNEP/GRID
COLÔMBIA Vice-Ministério de Biodiversidade, Recursos Florestais e Meio Ambiente; • Mark Bryer. The Nature Conservancy.
Ministério do Ambiente, Habitação e Desenvolvimento Territorial Direção Geral de Recursos Florestais: Jorge Antônio Arnez Martínez; Instituto
de Ecologia - Universidade Mayor de San Andrés: Mário Baudoin; Centro de ❱❱❱ Fotografia
Pesquisa em Agricultura Tropical -CIAT: Hugo Serrate, Raúl Aguirre • Diario El Comercio, Peru
EQUADOR • Conservation International, Peru, Bolívia
Ministério do Ambiente Brasil: • Programa de Desenvolvimento Alternativo nas Áreas de Pozuzo e
Ministério do Meio Ambiente: Muriel Saragoussi, Kelerson Costa; Insti- Palcazu, Peru
tuto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia -Imazon: Carlos Souza, • Arquivo da Biblioteca Amazônica, Peru.
GUIANA Kátia Pereira; Instituto Socioambiental, ISA: Alícia Rolla • GTZ - Cooperação Alemã para o Desenvolvimento
Agência de Proteção Ambiental • Ernesto Ráez, Peru
Colômbia: • Zaniel Novoa, Pontifícia Universidade Católica-Peru
Ministério do Ambiente, Habitação e Desenvolvimento Territorial. • Instituto de Pesquisas da Amazônia Peruana, Peru
PERU Direção de Ecossistemas: Leonardo Muñoz; Instituto Amazônico de • Guiana: Sociedade de Pássaros Tropicais da Amazônia (agradecimento
Ministério do Ambiente Pesquisas Científicas, Sinchi: Uriel Múrcia, Juan Carlos Alonso; Instituto ao Fundo Mundial para a Natureza-WWF)
Alexander Von Humboldt: Dolors Armenteras, Mônica Morales • Instituto Imazon, Brasil
• Organização do Tratado de Cooperação Amazônica
SURINAME Equador: • Greenpeace
Ministério do Trabalho, Desenvolvimento Tecnológico e Meio Ambiente Ministério do Ambiente: Camilo Gonzales
❱❱❱ Editoração gráfica, layout, diagramação e infografias
Guiana: Fábrica de Ideas
VENEZUELA Agência de Proteção Ambiental, Divisão de Gestão de Recursos Natu- Direção de arte e edição fotográfica: Xabier Díaz de Cerio
Ministério do Poder Popular para o Ambiente rais: Navin Chandarpal, Indarjit Ramdass Layout: Roger Hiyane
Capa: Xabier Díaz de Cerio
Peru: Diagramação: Ingrid Landaveri
Ministério do Ambiente (ex-Conselho Nacional do Ambiente). César Villa- Infografias: Mário Chumpitazi
corta; Instituto de Pesquisas da Amazônia Peruana: Fernando Rodríguez Multimídia: Frederik Corazao
Cuidado de edição em português: Simone Bastos Craveiro
Suriname: www.fabricadeideas.pe
Ministério do Trabalho, Desenvolvimento Tecnológico e Meio Ambiente:
Mariska Milieu
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❱❱❱ Tradução dos documentos de trabalho Peru: • Bolívia: Instituto de Ecologia da Universidade Maior de San Andrés:
• Phil Linehan Associação Peruana para a Conservação da Natureza (Apeco); Governo Mário Baudoin
Regional de Loreto; Instituto Nacional de Recursos Naturais (Inrena) • Brasil: Ministério do Meio Ambiente: Kelerson Costa
❱❱❱ Tradução dos documentos em português • Colômbia: Instituto Amazônico de Pesquisas Científicas (Sinchi):
• Antonio Ribeiro de Azevedo Santos Suriname: Uriel Gonzalo Murcia
Centro de Pesquisa Agrícola no Suriname; Fundo de Conservação • Colômbia: Instituto de Pesquisa Alexander Von Humboldt: Dolors
❱❱❱ Revisão do texto em português (Suriname); Milieu Sektie; Ministério do Planejamento, Florestas e Armenteras
• Claudia Helena Carvalho Ordenamento Territorial; Centro de Coordenação Nacional para o • Equador: Ministério do Ambiente: Camilo González
Atendimento de Desastres; Instituto Nacional para o Meio Ambiente e • Equador: Fundação Equatoriana de Estudos Ecológicos (Ecociencia):
❱❱❱ Organização de plataformas de comunicação Desenvolvimento do Suriname; Universidade do Suriname; Fundação Malki Sáenz
Karlos La Serna, Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico para a Conservação da Natureza (Suriname); Companhia de Água do • Peru: Conselho Nacional do Ambiente (Conam) (atual Ministério
Germán Chión, Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico Suriname; Fundo Mundial para a Natureza (WWF) do Ambiente): Carlos Loret de Mola, César Villacorta, David Solano,
Verónica Mendoza
❱❱❱ Agradecimentos ❱❱❱ Colaboração especial • Peru: Instituto Nacional de Recursos Naturais (Inrena): Carlos Salinas
Nosso agradecimento a todas as pessoas e instituições que contribuíram Tim Killeen, Conservation Internacional • Peru: Instituto de Pesquisas da Amazônia Peruana: Alberto Garcia Maurício
com informação e sugestões para a elaboração do GEO Amazônia. • Peru: Centro de Pesquisa da Universidade do Pacífico: Elsa Galarza,
❱❱❱ Colaboradores Rosário Gómez, Joanna Kámiche
❱❱❱ Contribuições institucionais • Adriana Rivera, Assessora do Programa Regional Amazônia OTCA- • Venezuela: Instituto Venezuelano de Pesquisas Científicas (IVIC):
Brasil: DGIS-GTZ Ángel Fernández
Agência Nacional de Águas (ANA); Conselho Nacional de Seringueiros • Adriano Venturieri, Embrapa – Brasil • Conservation International: Carlos Ponce, Peru
(CNS); Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa); Grupo • Antonio Brack, Ministério do Ambiente – Peru • Organização do Tratado de Cooperação Amazônica: Rosalia Arteaga,
de Trabalho Amazônico (GTA); Instituto Brasileiro do Meio Ambiente • Annie Pitamber, Agência de Proteção Ambiental – Guiana Luis Alberto Oliveros
e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama); Instituto Brasileiro de • Carlos Amat y León, Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico– Peru • Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente: Ricardo
Geografia e Estatística (IBGE); Instituto Nacional de Colonização e • Carlos Aragón, Coordenador do Componente Florestal do Programa Sánchez, Kakuko Nagatani
Reforma Agrária (Incra); Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia Regional Amazônia OTCA-DGIS-GTZ
(Ipam); Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA); Ministério • Carlos Ariel Salazar, Instituto Sinchi – Colômbia Oficina de apresentação do projeto e identificação de problemas
da Educação; Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG); Ministério das • Carol Franco, Instituto de Pesquisa de Recursos Biológicos Alexander ambientais. Villa de Leyva-Colômbia, de 16 a 19 de maio de 2006
Relações Exteriores; Ministério da Saúde; Universidade Federal do Acre; von Humboldt – Colômbia • Bolívia: Vice-Ministério de Biodiversidade, Recursos Florestais e Meio Am
Universidade Federal do Amazonas; Fundo Mundial para a Natureza • Cláudia Villa, Instituto de Pesquisa de Recursos Biológicos Alexander biente – Direção Geral de Recursos Florestais: Jorge Antonio Arnez Martínez
(WWF) von Humboldt – Colômbia • Bolívia: Centro de Pesquisa Agrícola Tropical (CIAT): Raúl R. Aguirre Vásquez
• Edith Alcorta, Plano Binacional Peru-Equador – Peru • Bolívia: Instituto de Ecologia da Universidade Maior de San Andrés:
Colômbia: • Eduardo Gudynas, Centro Latino-Americano de Ecologia Social, Claes– Mário Baudoin
Instituto Geográfico Agustín Codazzi; Instituto de Hidrologia, Meteorolo- Uruguai • Brasil: Ministério do Meio Ambiente: Kelerson Costa
gia e Estudos Ambientais (Ideam) • Fernando León, Instituto Nacional de Recursos Naturais, Inrena – Peru • Brasil: Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon):
• Hans Thiel, Consultor florestal – OTCA Kátia Pereira
Equador: • Joanna Kámiche, Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico – Peru • Brasil: Instituto Socioambiental (ISA): Alícia Rolla
Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso); Fundação • João Paulo Viana, Ministério do Meio Ambiente, Projeto Aquabio – Brasil • Brasil: Grupo de Trabalho Amazônico: Rosenilde Gregório dos Santos Costa
Equatoriana de Estudos Ecológicos (Ecociencia); União Internacional • Jorge Meza, Projeto Biodiversidade – OTCA • Colômbia: Ministério do Ambiente, Moradia e Desenvolvimento
para a Conservação da Natureza – Escritório Regional para América do • José Antônio Gómez, Instituto de Pesquisa de Recursos Biológicos Territorial (MAVDT): Sandra Suárez
Sul (UICN-Sul) Alexander von Humboldt – Colômbia • Colômbia: Instituto Amazônico de Pesquisas Científicas (Sinchi): Luz
• Juan Carlos Bethancourt, Instituto de Pesquisa de Recursos Biológicos Marina Mantilla Cárdenas e Uriel Gonzalo Múrcia
Guiana: Alexander von Humboldt – Colômbia • Colômbia: Instituto de Pesquisa Alexander Von Humboldt: Fernando
Agência de Proteção Ambiental; Autoridade Central de Habitação de • Marlúcia Bonifácio, Museu Goeldi – Brasil Gast, Dolors Armenteras, Mónica Morales
Planejamento; Comissão Florestal da Guiana; Comissão de Terras e • Maria Luisa del Rio, Ministério do Ambiente – Peru • Equador: Ministério do Ambiente: Camilo Gonzales
Registros da Guiana; Conservation International-Guiana; Guyana Sugar • Paulo Roberto Martin, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, • Equador: Fundação Equatoriana de Estudos Ecológicos (EcoCiencia):
Corporation; Centro Internacional Iwokrama; Instituto Nacional de INPE – Brasil Malki Sáenz
Pesquisa Agrícola; Ministério da Agricultura; Ministério de Assuntos • Rita Piscoya, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária • Peru: Conselho Nacional do Ambiente (Conam) (atual Ministério do
Ameríndios; Ministério da Habitação e Águas; Guyana Water Incorpo- (Incra) – Brasil Ambiente): César Villacorta Arévalo
rated; Ministério dos Governos Locais e de Desenvolvimento Regional; • Sílvia Sânchez, Associação Peruana para a Conservação da Natureza, • Peru: Instituto de Pesquisas da Amazônia Peruana: Alberto Garcia
Conselho de Desenvolvimento do Arroz da Guiana; Ministério de APECO – Peru Maurício
Assuntos Exteriores; Universidade da Guiana; Centro de Capacitação • Peru: Governo Regional de Loreto: Nélida Barbagelata
Florestal; Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento; ❱❱❱ Participantes nas oficinas • Suriname: Ministério do Trabalho, Desenvolvimento Tecnológico e
Instituto Interamericano de Cooperação Agrícola; Comissão Nacional de Oficina Metodológica. Lima-Peru, 27 e 28 de fevereiro de 2006 Meio Ambiente – Divisão de Meio Ambiente: Mariska Riedewald
Parques; Presidência da Guiana • Bolívia: Centro de Pesquisa Agrícola Tropical (CIAT): Raúl R. Aguirre • Venezuela: Escritório de Gestão e Cooperação Internacional, Ministério
Vásquez do Ambiente e dos Recursos Naturais da República Bolivariana da
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Venezuela: Maritza Reechinti • Bolívia: Instituto de Ecologia da Universidade Maior de San Andrés: • Comissão Nacional de Parques: Yolanda Vasconcellos
• Venezuela: Instituto Venezuelano de Pesquisas Científicas (IVIC): Mário Baudoin • Presidência da Guiana: Leroy Cort
Ángel Fernández • Brasil: Ministério do Meio Ambiente: Kelerson Costa
• Conservation International: Tim Killeen • Equador: Ministério do Ambiente: Camilo Gonzales Oficina de revisão final, Belém-Brasil, agosto de 2007
• União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN-Sul), • Colômbia: Instituto Sinchi: Juan Carlos Alonso, Uriel Murcia • Bolívia: Centro de Pesquisa Agrícola Tropical (CIAT): Hugo Serrate
Escritório Regional para América do Sul – Equador: Consuelo • Colômbia: Instituto de Pesquisa de Recursos Biológicos Alexander • Bolívia: Instituto de Ecologia da Universidade Maior de San Andrés:
Espinoza von Humboldt : Dolors Armenteras, Mónica Morales Mário Baudoin
• Peru: Conselho Nacional do Ambiente (Conam) (atual Ministério do • Brasil: Ministério do Meio Ambiente: Muriel Saragoussi
Oficina de apresentação do projeto e diálogo. Brasília-Brasil, 6 e 7 de Ambiente): César Villacorta • Brasil: Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon):
dezembro de 2006 • Peru: Instituto de Pesquisas da Amazônia Peruana (IIAP): Fernando Carlos Souza, Kátia Pereira
• Agência Nacional de Águas, ANA: Paulo Augusto Tatsch, Viviani Rodríguez • Brasil: Instituto Socioambiental (ISA): Alícia Rolla
Pineli Alves • PNUMA: Kakuko Nagatani • Brasil: Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia (Ipam):
• Conselho Nacional de Seringueiros (CNS): Atanagildo de Deus Matos • OTCA: Luís Alberto Oliveros Marcos Ximenes
• Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa): Adriano • Associação de Universidades Amazônicas (Unamaz) • Brasil: Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra):
Venturieri, Braz Calderano Filho • Conservation International: Tim Killeen Rita Piscoya, Thiago Silva Gomes
• Grupo de Trabalho Amazônico (GTA): Rosenilde Gregório dos • Brasil: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa):
Santos Costa Oficina de apresentação e discussão. Paramaribo-Suriname, de 17 a Adriano Venturieri, Adilson Serrão
• Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais 18 de maio de 2007 • Brasil: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (Ibama): Adriana Carvalhal, Cláudia Enck de Aguiar, Gui • Centro de Coordenação Nacional para o Atendimento de Desastres: Renováveis (Ibama): Guilherme Pimentel Holtz
lherme Holtz, Humberto Colta Jr., Juan Marcelo de Oliveira, Kátia Cury R. Nasibdar • Brasil: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): José
Roseli, Rodrigo Paranhos Faleiro, Rodrigo Rodrigues • Centro de Pesquisa Agrícola no Suriname: K. Tjon Rocha Collares, Denise Kronemberger
• Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): Adma Hamam • Companhia de Água do Suriname: H. Telgt • Brasil: Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa): Arnaldo
de Figueiredo, Guido Gelli, José Enílcio Rocha Collares • Fundo de Conservação - Suriname: L. C. Johanns. Carneiro Filho
• Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra): Rita • Fundo Mundial para a Natureza, WWF-Guianas: H. Malone • Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG): Marlúcia Bonifácio Martins
de Cássia Condé de Piscoya, Thiago Silva Gomes • Fundação para a Conservação da Natureza – Suriname: Mohadin • Brasil: Núcleo de Altos Estudos Amazônicos – Universidade Federal
• Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia (Ipam): Marcos • Instituto Nacional para o Meio Ambiente e Desenvolvimento do do Pará: Edna Castro
Ximenes Suriname: D. Burospan, S. Ramcharan • Colômbia: Ministério do Ambiente, Moradia e Desenvolvimento
• Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA): Luiz Cezar • Milieu Sektie: H. Uiterloo, M. Riedewald, S. Soetosenojo, H. Aroma, Territorial (MAVDT): Sandra Suárez
Loureiro de Azeredo A. Khoenkhoen, T. Elder, S. de Meza, P. Karjodromo, N. Tjin Kong Foek • Colômbia: Instituto Amazônico de Pesquisas Científicas (Sinchi):
• Instituto Socioambiental (ISA): Fernando Mathias • Ministério do Planejamento, Florestas e Ordenamento Territorial: Uriel Gonzalo Murcia, Juan Carlos Alonso
• Ministério da Educação: Fábio Deboni Ch. Sieuw • Colômbia: Instituto de Pesquisa Alexander von Humboldt: Mónica
• Ministério do Meio Ambiente: Alexandre R. Duarte, Cláudia Ramos, • Universidade do Suriname: R. Nurmohamed Morales
Flávia Pires Lima, Kelerson Costa, Klinton Senra, Leonel Teixeira, Marcelo • Equador: Ministério do Ambiente: Camilo Gonzales
Mazzola, Márcia Paes, Marco Antônio Salgado, Marly Santos, Muriel Oficina de apresentação e discussão. Georgetown-Guiana, junho de 2007 • Guiana: Agência de Proteção Ambiental: Indarjit Ramdass
Saragoussi, Silvana Macedo, Volney Zanardi Jr. • Agência de Proteção Ambiental: Indarjit Ramdass, Khalid Alladin. • Peru: Instituto de Pesquisas da Amazônia Peruana: Fernando Rodríguez
• Museu Paraense Emilio Goeldi, MPEG: Marlúcia Bonifácio Martins • Autoridade Central de Moradia e Planejamento: Fayola Azore • Suriname: Ministério do Trabalho, Desenvolvimento Tecnológico e
• Ministério das Relações Exteriores: Sérgio Paulo Benevides • Comissão Florestal da Guiana: James Singh, Sonya Reece Meio Ambiente – Divisão de Meio Ambiente: Mariska Riedewald
• Ministério da Saúde: Kátia Regina Ern • Comissão de Terras e Registros da Guiana: Andrew Bishop, • Venezuela: Instituto Venezuelano de Pesquisas Científicas (IVIC):
• Universidade Federal do Acre: Irving Foster Brown Bramhan and Singh Ángel Fernández.
• Universidade Federal do Amazonas: Jackson Fernando Rêgo • Conservation International – Guiana: Curtis Bernard
• Fundo Mundial para a Natureza (WWF): Ekena Rangel • Guyana Sugar Corporation: Anton Dey
• Instituto Amazônico de Pesquisas Científicas (Sinchi) – Colômbia: • Centro Internacional Iwokrama: Raquel Thomas
Juan Carlos Alonso • Instituto Nacional de Pesquisa Agrícola: Cleveland Paul
• Instituto de Pesquisa de Recursos Biológicos Alexander von Humboldt – • Ministério da Agricultura: Denzil Roberts
Colômbia: Dolors Armenteras • Ministério de Assuntos Ameríndios: Ronald Cumberbatch
• Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico – Peru: Elsa Galarza, • Ministério da Habitação e Água: Deborath Montouth-Hollingsworth
Rosário Gómez • Guyana Water Incorporated: Gladwin Tait
• Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA): Luís • Ministério dos Governos Locais e de Desenvolvimento Regional:
Alberto Oliveros Ramnarine Singh
• Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – Brasil: • Conselho de Desenvolvimento do Arroz da Guiana: Kuldip Ragnauth
Cristina Montenegro, Bernadete Lange • Ministério de Assuntos Exteriores: Peggy McClennan
• Universidade da Guiana: Paulette Bynoe, Suzy Lewis
Oficina de revisão, Santa Cruz-Bolívia, de 11 a 13 de dezembro de 2006 • Centro de Capacitação Florestal: Rohini Kerrett
• Bolívia: Centro de Pesquisa Agrícola Tropical (CIAT): Raúl Aguirre, • Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento: Nadine Livan
Hugo Serrate • Instituto Interamericano de Cooperação Agrícola: Ignatius Jean
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PREFACIO:
Culminando um processo que tomou dois anos de tra- A falta de informação científica e de dados estatísticos consistentes dificulta que se
balho, do qual participaram cerca de 150 cientistas e façam comparações ou a agregação de tópicos ambientais, e a informação disponível
localmente não foi analisada e sistematizada de modo a contribuir para uma visão am-
pesquisadores de todos os países amazônicos, o Progra- biental sólida e integral.
ma das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) O GEO Amazônia tem como objetivo servir de subsídio aos tomadores de decisão das
e a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica esferas nacional, subnacional e local dos países amazônicos, na construção de uma base
(OTCA) têm a grata satisfação de apresentar o relatório sólida para suas ações, de modo a assegurar a sustentabilidade a longo prazo das iniciati-
vas de desenvolvimento.
Perspectivas do Meio Ambiente na Amazônia – GEO
Amazônia. Queremos agradecer aos ministérios ou autoridades nacionais de meio ambiente e
demais entidades ligadas a essa área, assim como aos cientistas, aos pesquisadores e às
instituições dos países amazônicos pela valiosa colaboração, que tornou possível elabo-
Baseado na metodologia GEO (Global Environment Outlook), este singular relatório compre- rar o presente relatório. Destacamos particularmente a contribuição da Universidad del
ende uma avaliação completa e integral do estado de um ecossistema da maior relevância Pacífico, do Peru, na coordenação do complexo processo de formulação deste relatório.
para o planeta, compartilhado por Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Peru, Guiana, Suriname
e Venezuela. Não obstante todos os riscos ambientais a que a Amazônia está exposta, temos a convic-
ção de que os líderes regionais tomarão as decisões mais acertadas para deter a degra-
A Amazônia abriga uma enorme variedade de espécies da flora e da fauna e é uma impor- dação do meio ambiente e promover o desenvolvimento sustentável, fonte de bem-estar
tante área de endemismo, constituindo, assim, uma reserva genética de relevância mun- para seus habitantes e para toda a humanidade. Nosso maior desejo é que este relatório
dial. Além disso, em termos de recursos hídricos, a água produzida pela bacia amazônica contribua para esse processo.
representa aproximadamente um quinto de todo o escoamento superficial do planeta. E
não menos significativa é a função desempenhada por suas florestas, que atuam como um
importante sumidouro de carbono, absorvendo anualmente centenas de milhões de tonela-
das de gases causadores do efeito estufa.
A Amazônia tem uma longa e rica história de ocupação humana e cultural – atualmente,
mais de 38 milhões de habitantes vivem na região, cerca de 60% em cidades. A região está
vivendo uma rápida expansão da agricultura de monocultura e da pecuária tecnificada, bem
como das megaobras de infra-estrutura viária e energética, em conseqüência do crescimento
econômico regional e da globalização e expansão dos mercados internacionais.
ACHIM STEINER FRANCISCO J. RUIZ M.
Os países que compartilham essa rica e frágil região vêm dedicando seus esforços para con- Subsecretário-Geral das Nações Unidas e Secretário-Geral da Organização do
servar e desenvolver de forma sustentável a Amazônia, mas ainda têm de alcançar uma visão Diretor Executivo do Programa das Nações Tratado de Cooperação Amazônica a.i.
ambiental amazônica conjunta. Unidas para o Meio Ambiente
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INTRODUcaO:
Ainda é limitado o conhecimento a respeito o conceito de desenvolvimento sustentável
A Amazônia é um ecossistema de grande do funcionamento do complexo ecossiste- foi definido, e 7 anos desde a Cúpula Mun-
ma amazônico, que vai além das fronteiras dial sobre Desenvolvimento Sustentável,
valor por sua riqueza natural e cultural. entre os países que o integram. Apesar da onde se adotou o Plano de Implementação
existência de vários estudos sobre a região, de Johanesburgo da Agenda 21. Dentre as
Trata-se de um território ocupado por po- Amazônia sem mitos (Banco Interamericano iniciativas dessa natureza, os “Objetivos de
de Desenvolvimento; Programa das Nações Desenvolvimento do Milênio” podem ser
pulações de diversas origens, desde tem- Unidas para o Desenvolvimento; Secretaria destacados como a somatória dos esforços
Pro Tempore do Tratado de Cooperação para alcançar o desenvolvimento sustentá-
pos imemoriais. Além disso, é reconhecida Amazônica, 1992) foi o que expôs com vel e justo.
mais clareza os prejulgamentos ou mitos a
mundialmente por fornecer uma varieda- respeito da Amazônia. Esse trabalho foi uma Apesar disso, as evidências indicam que a
importante contribuição para promover uma Amazônia, um dos ecossistemas mais valio-
de de serviços ecossistêmicos não apenas visão regional da Amazônia. Dentre os diver- sos do planeta, está se deteriorando a um
sos mitos tratados pelo estudo, destacam- ritmo acelerado, sobretudo devido ao fun-
à população local, mas a todo o mundo. se: (i) a homogeneidade da Amazônia; (ii) cionamento não-sustentável das atividades
o vazio ou a virgindade amazônica; (iii) a ri- e pela predominância do critério de lucrativi-
queza e, ao mesmo tempo, a pobreza ama- dade no curto prazo, desconsiderando-se as
zônica; (iv) a Amazônia “pulmão da Terra”; externalidades das decisões econômicas. As
A Amazônia está vivendo um processo de (v) o indígena “freio ao desenvolvimento”; diferenças constituem um desafio impor-
(v) a Amazônia como solução ou panacéia tante ao gerenciamento dos problemas
degradação ambiental que se evidencia no para os problemas nacionais; e, por último, ambientais amazônicos, tanto no âmbito
(vi) a internacionalização da Amazônia. nacional como regional, mas, em vez de nos
aumento do desmatamento, na perda da fazerem recuar ou de nos dividirem, devem
O GEO Amazônia busca apresentar uma ser aproveitadas como uma oportunidade
biodiversidade, na contaminação da água, visão da Amazônia do ponto de vista dos para seguir fortalecendo a colaboração entre
países amazônicos com a participação dos os países amazônicos. A esse respeito, sua
na fragilização dos valores e modos de atores amazônicos e explicar, baseando-se preocupação com os problemas ambientais
em evidências científicas, que a Amazônia na Amazônia é inquestionável, traduzindo-se
vida dos povos indígenas, na deterioração é uma região heterogênea, de grandes em planos, programas e projetos. No entan-
contrastes tanto em riqueza natural e nos to, as respostas e ações ainda são limitadas
da qualidade ambiental nas áreas urba- aspectos físico-geográficos quanto nos se comparadas com a magnitude dos pro-
socioculturais, econômicos e político-institu- blemas ambientais a serem enfrentados.
nas. Essa situação é resultado de um con- cionais. As diferenças podem ser ressaltadas
inclusive em questões tão preliminares de Nessa conjuntura, o objetivo do GEO
junto de processos e forças motrizes que seu estudo como a própria denominação da Amazônia é contribuir com uma avaliação
região (o acento tônico da palavra “Amazô- ambiental integral do ecossistema amazôni-
afetam de maneira negativa seu complexo nia” recai na sílaba "ni" em alguns países) ou co à formulação de políticas e aos pro-
sua superfície. cessos de tomada de decisão, visando ao
ecossistema e os serviços proporcionados desenvolvimento sustentável na Amazônia.
Vários anos transcorreram desde os memo- Na avaliação ambiental integral, utilizou-se
por este, e que se traduzem em perdas na ráveis primeiros acontecimentos e cúpu- a proposta metodológica formulada pelo
las internacionais em que se assumiram projeto GEO (Global Environment Outlook)
qualidade de vida para a população local, compromissos a favor do desenvolvimento do Programa de Nações Unidas para o Meio
sustentável. São 22 anos desde o lançamen- Ambiente (PNUMA), que foi adaptada para
nacional e de toda a região. to do relatório Nosso futuro comum, no qual fazer uma análise ecossistêmica. Ressalte-se
>15
que o GEO Amazônia, assim como os ou- pesquisa, as características mais marcantes
tros processos GEO, caracteriza-se por uma da Amazônia e seus antecedentes históri-
abordagem participativa, multidisciplinar, cos, a modo de contextualização do objeto Os resultados do GEO Amazônia não deixam dúvida
multissetorial e multiproduto. de estudo. No segundo capítulo, abordam-
se os diversos processos ligados à situação de que o chamado feito em Amazônia sem mitos se
A proposta metodológica de avaliação ambiental, como as tendências sociode-
ambiental integral consiste em analisar mográficas e econômicas, os processos de mantém vigente. Todos concordamos que é possí-
as pressões e forças motrizes por trás da mudança no uso do solo e as mudanças
situação ambiental, explicar a situação climáticas. No terceiro são tratados o estado vel pensar em uma Amazônia que avance rumo ao
dos principais componentes ambientais, e as tendências da biodiversidade, da flo-
avaliar os impactos da degradação do meio resta, dos recursos hídricos e ecossistemas desenvolvimento sustentável e que assegure o bem-
ambiente sobre os ecossistemas e o bem- aquáticos, dos sistemas agroprodutivos e
estar humano e estudar as principais ações dos assentamentos humanos. No quarto, estar humano das gerações presentes e futuras da
e respostas empreendidas pelos diversos analisa-se o impacto gerado pela degra-
atores para reverter o processo de degra- dação ambiental na Amazônia sobre os região, mas para isso se fazem necessários compro-
dação ambiental. Finalmente, concluído o ecossistemas naturais e sobre o bem-estar
diagnóstico, consiste em apresentar as pers- humano. No quinto capítulo, são tratadas as misso, determinação e ações coordenadas.
pectivas ambientais futuras da Amazônia, principais respostas direcionadas a frear o
baseadas na análise de cenários e de temas processo de degradação ambiental e seus
emergentes. respectivos impactos. No sexto, são traça-
dos quatro cenários prováveis e se busca Por último, deve-se lembrar que um projeto desta
Em síntese, a avaliação ambiental integral explicar a situação ambiental que poderá
procura dar resposta às seguintes perguntas: ocorrer na Amazônia, levando em conside- natureza não teria sido possível sem o apoio incon-
ração as hipóteses de cada cenário; além
1. O que está acontecendo com o am- disso, são apontados os temas emergentes dicional de pessoas e instituições dos oito países-
biente amazônico e por que razão? que demandam atenção. Finalmente, no
capítulo sete, são apresentadas as princi- membros da OTCA, que contribuíram com infor-
2. Quais são os impactos sobre o pais conclusões do estudo e se expõe um
ecossistema amazônico e o bem-estar conjunto de linhas de atuação que podem mação e dados para a elaboração e revisão deste
humano dessa situação ambiental? contribuir para se reduzir a degradação da
Amazônia. documento. Merecem destaque especial os partici-
3. O que está sendo feito em termos
de reação a essa situação ambiental? O GEO Amazônia contém um valioso pantes das diversas oficinas, graças a quem, atra-
levantamento de dados e fontes de informa-
4. Quais são as perspectivas ambien- ção que se espera servir de referência no vés de sugestões, contribuições e comentários, foi
tais futuras da Amazônia? processo contínuo de avaliação e monito-
ramento. Nesse sentido, buscou-se apoiar possível ter uma melhor compreensão regional dos
5. Que propostas de ação viabiliza- e aprofundar as instâncias de diálogo e de
riam um futuro desenvolvimento intercâmbio de informação, a fim de, dessa problemas ambientais da Amazônia. Finalmente,
sustentável? maneira, constituir-se em uma plataforma
para a coordenação e sistematização da expressamos nosso sincero reconhecimento a co-
Nessa avaliação, foram consultadas fontes informação disponível.
de informação importantes e atualizadas. operação germano-holandesa que, através do Pro-
É preciso destacar que nesse estudo se
trabalhou principalmente com a informação grama Regional Amazônia OTCA/DGIS/BMZ-GTZ,
disponível nas instituições oficiais dos res-
pectivos países amazônicos. Nesse sentido, cobriu os custos da presente publicação, assim
o GEO Amazônia está promovendo o mo-
nitoramento de indicadores ambientais nas como as também às pessoas e instituições que ge-
respectivas áreas amazônicas dos países,
com a finalidade de avaliar as mudanças nerosamente contribuíram com material fotográfi-
num futuro próximo.
co, que permitiu comunicar com mais objetividade
Este relatório está dividido em sete capí-
tulos. O primeiro apresenta o âmbito da os resultados do estudo.
>17
MENSAGENS-
CHAVE
❱❱❱ AMAZÔNIA, REGIÃO As mudanças ocorridas no uso do solo Ao longo da história, a mudança nas formas de produção que
DE GRANDES RIQUEZAS E amazônico decorrentes do crescimento afetam os ecossistemas e a qualidade
MUITOS CONTRASTES. de atividades econômicas, da construção
Amazônia foi o centro de de vida da população. Por outro lado, as
Desde as ocupações de infra-estrutura e do estabelecimento atração da população ex- políticas públicas também geram incen-
pré-colombianas e, mais
de assentamentos humanos têm gerado
uma acelerada transformação do ecos-
pulsa de áreas com limi- tivos para o desenvolvimento de ativi-
dades produtivas, que nem sempre são
recentemente, pelos co- sistema amazônico. Até 2005, o desma- tada atividade produtiva e criteriosas com a sustentabilidade.
lonizadores europeus, a
tamento acumulado na Amazônia era de
857.666km2, o que significa que ao longo
poucas possibilidades de ❱❱❱ AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Amazônia é uma área de do tempo, a cobertura vegetal da região foi emprego, ou, ainda, alvo SÃO UMA AMEAÇA PARA A
reduzida em aproximadamente 17%. Isso da colonização promovida AMAZÔNIA.
diversidades culturais, equivale a dois terços do território peruano
A região amazônica tem
sociais e biológicas. ou a 94% da superfície da Venezuela. pelas políticas públicas.
sido afetada pelo aumen-
A Amazônia abriga uma grande variedade Na primeira década do século XXI, a
de espécies da flora e da fauna e é tam-
A perda de biodiversida- maioria dos países amazônicos registrou
to da temperatura mé-
bém uma importante área de endemismos, de se evidencia no maior nessa região taxas de crescimento po- dia e pela modificação
que fazem da região uma reserva genética
de importância mundial para o desenvol-
número de espécies pulacional acima do respectivo patamar
nacional. Em quatro dos oito países ama-
do regime das chuvas.
vimento da humanidade. Por exemplo, ameaçadas. zônicos, mais da metade da população Tais mudanças alteram
numa área de apenas dez hectares da flo-
resta equatoriana de Yasuni, foram encon- Embora não se tenha informação preci-
amazônica é urbana, sendo afetada por
problemas ambientais, como o volume
o equilíbrio dos ecos-
tradas 107 espécies de anfíbios, concentra- sa, diversos estudos apontam para um cada vez maior de resíduos sólidos, a de- sistemas e aumentam a
ção que faz desta a região mais biodiversa
do planeta em relação a esse grupo e um
processo de erosão genética alarmante.
Apesar das mudanças ambientais, ainda
terioração da qualidade do ar e a conta-
minação dos corpos d'água.
vulnerabilidade tanto do
hotspot de biodiversidade. Se, por um lado, existem espaços sem intervenção ou que ambiente natural como
a Amazônia é conhecida pela abundância apresentam escassos sinais de interven- Em contrapartida, os recursos naturais das populações humanas,
em recursos naturais, como minérios, pe- ção na Amazônia, o que deveria ser um amazônicos atraíram importantes inves-
tróleo e gás natural, por outro, seus habi- estímulo para que todos os países se mo- timentos para megaprojectos de minera- particularmente das mais
tantes vêm enfrentando altos índices de bilizem conjuntamente em prol do desen- ção, de exploração de hidrocarbonetos e pobres.
pobreza, acima da média nacional. volvimento sustentável da região. de geração de energia hidrelétrica, bem
como para os setores agrícola e pecuá- A Amazônia também contribui para a geração
❱❱❱ A AMAZÔNIA ESTÁ MUDAN- ❱❱❱A DEGRADAÇÃO rio – em resposta às tendências do mer- de gases de efeito estufa por meio do desma-
DO A UM RITMO ACELERADO, AMBIENTAL DA AMAZÔNIA cado mundial de alimentos e de energia. tamento e da queima da floresta. As mudan-
E AS MODIFICAÇÕES NO ECOS- É RESULTADO DE FATORES Isso deu lugar a um desenvolvimento ças climáticas poderiam transformar 60% da
SISTEMA SÃO PROFUNDAS. INTERNOS E EXTERNOS. atípico da infra-estrutura viária e a uma região em savana ainda neste século.
>19
❱❱❱ A DEGRADAÇÃO DOS SER- hídricos da região poderia ser suficiente DE CIVIL, DEMONSTRARAM cada país. Portanto, é fundamental que
VIÇOS ECOSSISTÊMICOS AMA- para influenciar algumas das grandes cor- GRANDE DINAMISMO NOS as ações conjuntas dos oito países da
ZÔNICOS AFETA O BEM-ESTAR rentes oceânicas, que são importantes re- ÚLTIMOS ANOS AO EMPRE- região sejam fortalecidas para capitalizar
HUMANO, MAS É POUCO CO- guladoras do sistema climático global. A ENDER INICIATIVAS PARA as oportunidades de cooperação e in-
NHECIDA, INCLUSIVE QUAN- valoração econômica possibilita a adoção TRATAR DOS PROBLEMAS tegração amazônica. Assim, as políticas
TO A PERDAS ECONÔMICAS. de comportamentos estratégicos quanto AMBIENTAIS AMAZÔNICOS. públicas direcionadas à região têm de ser
ao aproveitamento do ecossistema ama- formuladas de modo coordenado, atri-
A riqueza da Amazônia zônico, por meio da determinação dos
No contexto de um pro- buindo ou reconhecendo novos papéis
não se baseia apenas na valores associados ao uso e ao não-uso cesso de integração, para os atores regionais e locais em todas
dos recursos. Em vista disso, promover as iniciativas de desenvolvimento susten-
oferta de bens tangíveis, estudos e ações de valoração econômi-
articulação e descentra- tável regional. Nesse sentido, os países
sustenta-se também no ca dos serviços ambientais amazônicos é lização, foram implemen- amazônicos deveriam buscar potenciali-
funcionamento dos seus uma prioridade regional.
tados vários instrumen- zar a atuação da Organização do Tratado
de Cooperação Amazônica (OTCA) como
vários ecossistemas na- ❱❱❱ A AMAZÔNIA COMEÇOU A tos nacionais que visam organismo intergovernamental.
turais e sistemas socio- SE ARTICULAR COM O SISTEMA à gestão planejada da
E A ECONOMIA DOS PAÍSES. ❱❱❱ O PAPEL DAS POLÍTICAS
culturais, que oferecem Nos países amazônicos Amazônia. De um modo PÚBLICAS RELATIVAS AO
uma gama de serviços subsistiu a visão da re- geral, os países contam APROVEITAMENTO DOS RE-
CURSOS NATURAIS, O FUN-
ecossistêmicos. gião como espaço peri- com planos de desen- CIONAMENTO DO MERCADO
SUMARIO
EXECUTIVO
PARA OS TOMADORES DE DECISÕES
Capítulo 1 sentamentos humanos, etc. O GEO Amazônia utilizou gás. Não se pode afirmar, porém, que essas regiões ram nos últimos anos a expansão de um modelo de
AMAZÔNIA: TERRITÓRIO, informação geoespacial (referente aos três critérios tenham um nível de desenvolvimento elevado, já que produção que não leva em consideração critérios de
SOCIEDADE E ECONOMIA AO LONGO citados) para delimitar a Amazônia, gerando, assim, na maior parte dos casos os lucros não são reinvesti- aproveitamento sustentável e que acaba sendo muito
DO TEMPO um mapa composto da região: a "Amazônia maior" dos na região. mais danoso ao ambiente pelo fato de trazer con-
(8.187.965 km²) e a “Amazônia menor” (5.147.970 sigo recursos tecnológicos sofisticados. Ademais, a
A Amazônia é uma região da América do Sul km²). infra-estrutura viária e o desenvolvimento energético
caracterizada por riquezas e contrastes na- Capítulo 2 acompanham o crescimento do setor produtivo sem
turais e culturais. Dividida em florestas de terras A Amazônia é habitada desde tempos ime- DINÂMICAS NA AMAZÔNIA levar em consideração a perda de bens e serviços
baixas, ou planície amazônica, florestas de terras altas moriais. A questão da ocupação originária da re- ecossistêmicos. Paralelamente, a crescente demanda
e florestas alto-montanas, ("ceja de selva" ou "yun- gião apresenta lacunas e ainda hoje gera controvérsia, A dinâmica sociodemográfica está trans- por espécies da flora e da fauna selvagens estimula
gas"), drenada pelo rio Amazonas – o mais extenso sobretudo no que diz respeito à densidade e à forma formando rapidamente a Amazônia em uma o comércio ilegal de espécies, que é um importante
do mundo em comprimento e bacia hidrográfica – e como teria se dado esse processo. As ocupações região de maior densidade populacional e fator de erosão da biodiversidade.
seus mais de mil afluentes, a Amazônia abriga uma pré-colombianas na Amazônia foram formadas pelos de crescimento acelerado.
grande variedade de espécies da flora e da fauna, que povos Arawac, que se expandiram até as Antilhas, A população da Amazônia, que na década de 70 era Os processos socioeconômicos promove-
fazem dela uma importante área de endemismo. Por pelos Tupi-Guarani, da região do Chaco, e pela família de pouco mais de 5 milhões, atingiu 33,5 milhões de ram uma mudança acelerada no uso do solo
outro lado, a Amazônia também é sinônimo de diver- etnolingüística de origem Caribe, que adentrou a ba- habitantes em 2007, o que equivale a 11% da popu- na Amazônia. O crescimento da população, a
sidade cultural, com 420 povos indígenas diferentes, cia amazônica por um corredor de baixa pluviosidade. lação total dos países amazônicos. Trata-se de uma expansão de atividades econômicas e o desenvolvi-
86 línguas e 650 dialetos. Na zona peruano-equatoriana, registram-se vínculos população cujo crescimento está acima da taxa média mento de infra-estrutura levaram a uma modificação
culturais e comerciais entre a costa do Pacífico, o anual dos países, fruto de um processo associado às significativa da utilização do solo na região, resultando
Não existe uma definição universal para altiplano andino e a vertente oriental dos Andes (alta migrações espontâneas e às políticas de Estado de na fragmentação de ecossistemas, no desmatamento
a área amazônica. A Amazônia é heterogênea. Amazônia) no período de 3500 a 300 a.C. A atual colonização e povoamento. Como resultado, a densi- e na perda de biodiversidade. No Peru, por exemplo,
Assim, delimitá-la constitui tarefa por demais com- configuração do território que conhecemos como dade populacional da região amazônica passou de 3,4 a agricultura migratória e a pecuária foram responsá-
plexa. Desse modo, cada um dos países-membros da Amazônia resulta, em linhas gerais, do processo de hab./km², na década de 90, para 4,2 hab./km², no veis pelo desmatamento, até 2005, de uma área de
Organização do Tratado de Cooperação Amazônica ocupação da região pelos colonizadores europeus período 2000-2007. 857.666 km². Na Amazônia brasileira, a rede rodo-
(OTCA), instrumento de cooperação regional para entre os séculos XVI e XIX. viária decuplicou em 30 anos (1975-2005), dando
assuntos amazônicos comuns aos países-membros lugar ao desenvolvimento de novos assentamentos
– Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, O nível de desenvolvimento econômico A dinâmica econômico-produtiva, reagindo humanos. A produção cada vez maior de biocombus-
Suriname e Venezuela –, emprega critérios próprios varia muito na Amazônia. Existem áreas como à demanda dos mercados internacionais, tíveis dos últimos anos poderia acelerar mudanças no
na sua definição de Amazônia. Os mais comuns são: Orellana, no Equador, com um PIB per capita de gera uma pressão para o uso intensivo dos uso do solo na região.
físicos (p.ex., bacia hidrográfica), ecológicos (p.ex., US$25.628,22, e Putumayo, na Colômbia, onde esse recursos naturais na região. A produção de
cobertura florestal) e/ou de outro tipo (p.ex., político- indicador é de US$705,33. O fato de alguns locais madeira e de produtos florestais não-madeireiros A dinâmica econômica e social na Amazô-
administrativo). registrarem valores acima do PIB nacional se deve ao (particularmente a castanha-do-brasil), a explora- nia é responsável pela erosão cultural das
número relativamente pequeno de habitantes dessas ção de hidrocarbonetos e minérios, assim como a populações nativas. A população das comunida-
Além disso, é uma região heterogênea tanto em regiões e à exploração de uma grande quantidade expansão das lavouras e da pecuária para atender aos des nativas da região foi afetada pela degradação do
aspectos físicos quanto em diversidade de etnias, as- de recursos naturais, como minérios, petróleo ou mercados globalizados de commodities, estimula- meio ambiente, pela maior incidência de doenças,
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pelas carências alimentares e pela transculturação. É da bacia amazônica representa cerca de 20% A Amazônia tem cidades grandes, com mais de um dência na Amazônia. Nesse sentido, estudos indicam
ponto pacífico o fato de as dinâmicas econômica e de toda a água doce do mundo – a bacia capta milhão de habitantes, e cidades médias, que apresen- que há um aumento significativo na atividade do seu
social trazidas pela “modernidade” terem minado as entre 12.000 e 16.000 km³ de água por ano. No taram taxas de crescimento consideráveis nos últimos vetor e, portanto, na incidência da doença, quando o
instituições e práticas tradicionais, como o sistema de entanto, a disponibilidade de águas superficiais anos. Constata-se, ainda, um dinamismo na articulação desmatamento atinge 20% de uma determinada área
reciprocidade, afetando os modos de produção e a em cada um dos países da bacia amazônica de- entre os assentamentos humanos contíguos em zonas (Walsh; Molyneux; Birley, 1993; Foley et al., 2007). A
coesão social e cultural dos povos indígenas. pende, em grande medida, do tipo de uso e manejo de fronteira (p.ex., Cobija, Epitaciolândia e Brasiléia, ocorrência de doenças respiratórias também aumen-
que se faça neles. Por outro lado, a qualidade das na fronteira entre a Bolívia e o Brasil; e Caballococha, tou, neste caso devido aos incêndios florestais cada
O desenvolvimento científico e tecnológico águas superficiais da região amazônica está sendo Letícia e Tabatinga, na fronteira entre o Peru, a Colôm- vez mais freqüentes, assim como a do mal de Chagas,
na região foi limitado quanto à geração de afetada por diversas atividades antrópicas: rejeitos de bia e o Brasil). Todas elas apresentaram problemas favorecido pela substituição de vegetação primária e
alternativas para o aproveitamento sus- mineração, vazamentos de hidrocarbonetos, emprego ambientais, como maior volume de resíduos sólidos, pela expansão dos centros habitados, principalmente
tentável dos recursos naturais. Na Amazô- de agroquímicos na agricultura, despejos sólidos das perda de qualidade do ar e contaminação dos corpos daqueles com moradias precárias.
nia foram feitas importantes contribuições a fim de cidades e resíduos da transformação de culturas de d'água devido ao não-tratamento de esgoto.
aprofundar o conhecimento e o emprego de diversas uso ilícito, como a coca. A degradação ambiental está atingindo
espécies da flora e da fauna, mas o desafio está a economia local. São exemplos das perdas
em articular e difundir esses resultados. Na região Nítida expansão de sistemas agroproduti- Capítulo 4 econômicas causadas pela degradação dos serviços
também foram colocadas em prática inovações sem vos não-sustentáveis. A região apresenta siste- AS MARCAS DA DEGRADAÇÃO econômicos os seguintes: o aumento das pragas na
uma devida avaliação de seus impactos, por exemplo, mas de produção muito diferenciados em termos AMBIENTAL agricultura devido ao desaparecimento dos agentes
o uso de agroquímicos na monocultura e a incorpora- de escala, processos produtivos e articulação com naturais que as controlam, acarretando um aumento
ção de espécies da flora ou florestais. o mercado. Por um lado, viveu uma importante A degradação ambiental cada vez nos custos de produção em razão da maior demanda
expansão da agricultura de monocultura (soja) maior está alterando os serviços de agroquímicos; o desaparecimento de atividades
A Amazônia tem uma base institucional científico- e da pecuária intensiva, particularmente no Brasil ecossistêmicos amazônicos. O desma- turísticas com a perda de recursos paisagísticos e
tecnológica ampla, mas, apesar dos esforços de arti- e na Bolívia, onde avançaram sobre as áreas des- tamento compromete a capacidade de absor- da beleza cênica; e a redução na qualidade e dispo-
culação interinstitucional, predominam as iniciativas matadas, contribuindo, assim para o aquecimento ção de carbono da floresta e ainda contribui para nibilidade de água doce, cuja conseqüência é uma
independentes, pouco coordenadas entre si e restri- global e a perda de biodiversidade. No entanto, nos a liberação de carbono por meio das queimadas, demanda por mais investimentos em água e sanea-
tas em termos de difusão. A baixa disponibilidade de últimos anos também se observou o aparecimento que afetam a qualidade do ar. A fragmentação e a mento, a serem arcados pelo governo e pelas popula-
recursos financeiros e humanos na região representa de sistemas agroprodutivos sustentáveis, viáveis alteração das florestas por si sós já causam um im- ções locais. A pesca, um setor que movimenta entre
uma importante barreira para o desenvolvimento em pequena, média e grande escala, que se pacto considerável nos ecossistemas. Na Bolívia, por US$100 milhões e US$200 milhões por ano, poderá
científico e tecnológico. Em vários países da região baseiam no manejo integral dos componen- exemplo, as florestas que não sofreram perturbações ser afetada pela redução de espécies (Bayley; Petrere,
o orçamento total destinado à ciência, tecnologia tes econômico, social e ambiental. Esses têm uma quantidade de biomassa 43% maior que 1989; Petrere, 1989; Almeida et al., 2006; Barthem;
e inovação (CTI) representa menos de 1% do PIB, sistemas (agrosilvipastoril, agroflorestal e aquelas que foram afetadas por atividades econômi- Goulding, 2007).
como resultado da baixa prioridade dessa área na silvipastoril) conciliam a conservação dos cas, bem como 70% mais diversidade em espécies
agenda pública. serviços ecossistêmicos amazônicos e a de mamíferos de pequeno porte. O problema é que A degradação ambiental afetou as rela-
melhoria da qualidade de vida da população as evidências sobre os efeitos da degradação ambien- ções sociais e vem gerando cada vez mais
com a rentabilidade da atividade econômica. No tal nos serviços ecossistêmicos são ainda limitadas, o situações de conflito. O limitado alcance dos
Capítulo 3 entanto, os sistemas agroprodutivos sustentáveis têm que demanda mais pesquisa científica interdisciplinar marcos regulatórios, a falta de clareza na definição
A AMAZÔNIA HOJE tido um avanço limitado em comparação com com o propósito de melhorar a compreensão sobre dos direitos de propriedade e a escassez de recursos
os não-sustentáveis, devido aos incentivos a magnitude dos custos ambientais na Amazônia e para fazer cumprir a legislação em vigor ensejaram a
O desmatamento e a redução da biodiversi- do mercado e ao alcance limitado e pouco alertar para a urgência de uma ação conjunta a fim de invasão de terras, a ocorrência de processos de colo-
dade são responsáveis pela perda de hábi- duradouro das políticas públicas. tratar essa questão. nização não-planejados e o desenvolvimento de ati-
tats e pela fragmentação dos ecossistemas. vidades produtivas informais. Essa situação estimulou
A redução da cobertura florestal na Amazônia é uma A Amazônia viveu um processo de A degradação ambiental está afetando o emprego de meios escusos para obter acesso aos
realidade sem paralelo. No período 2000-2005 foram urbanização acelerado e não-plane- a saúde. O desaparecimento dos predadores recursos naturais, que são explorados de forma indis-
desmatados, por ano, 27.218 km², o que também jado que levou aproximadamente naturais dos agentes transmissores de doenças, criminada, sem levar em consideração os impactos
representa perdas em espécies da flora e da fauna. 62,8% de sua população a migrar a colonização/imigração, a exploração mineral, ambientais e sociais e desrespeitando os direitos de
Mas não é possível calculá-las devido a restrições de para as cidades. a construção de barragens e outras atividades que diversos grupos sociais locais. Nesse contexto, a che-
informação. A informação que existe sobre a situação Aproximadamente 21 milhões dos 33,5 alteram drasticamente as características do ecos- gada de modelos de ocupação do território indiferen-
da biodiversidade nos respectivos países se aplica ao milhões de habitantes da Amazônia sistema amazônico estão afetando a epidemiologia, tes às dinâmicas econômica, social e ambiental locais
nível local, não havendo dados estatísticos ou carto- vivem em zonas urbanas. Cinco dos a ecologia, os ciclos de vida e a distribuição de vírus. modificou o modo de vida tradicional, os costumes e
grafia geral para ilustrar essa realidade em nível de oito países que compartilham a região Na ilha de Marajó, registrou-se uma alta incidência de as crenças dos povos indígenas.
ecossistema. têm mais de 50% de sua população febre amarela em decorrência da migração, portada
amazônica assentada em áreas urbanas, para as áreas de ocorrência do vetor por pessoas Registra-se uma tendência ao aumento da
A Amazônia é da maior importância para o fato que reflete a importância do proces- não-imunes (Vasconcelos et al., 2001). vulnerabilidade diante de inundações, se-
equilíbrio hídrico global e continental, mas so de urbanização para a construção da cas e mudanças no clima. A ocupação desorde-
as ações voltadas à gestão integrada da estratégia de desenvolvimento sustentá- A malária, por outro lado, é uma das doenças nada do território com o estabelecimento de assenta-
bacia ainda são limitadas. O volume de água vel da região. transmissíveis que apresentam alta inci- mentos humanos precários em áreas sujeitas a risco,
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o uso inadequado da terra para atividades produtivas da última década, diversos instrumentos nacionais a outros tipos de ações, como se dá com as iniciativas sa na perda da cobertura florestal e na escassez de
e a falta de conhecimento sobre o funcionamento do voltados ao manejo planejado da Amazônia foram da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica água limpa, atingiu níveis alarmantes. Por último, os
ecossistema amazônico, sobretudo por parte da popu- implementados, no âmbito de um processo de inte- (OTCA), voltadas às questões ambientais de interesse impactos das mudanças climáticas já se fazem sentir
lação imigrante, tornam mais vulneráveis as comuni- gração, articulação e descentralização nos diversos mútuo (p.ex., gestão integrada da biodiversidade ou na região.
dades amazônicas. países. De um modo geral, os países contam com de recursos hídricos).
planos de desenvolvimento sustentável, estratégias ❱❱❱ No cenário "Luz e sombra" os países amazônicos
O aumento do desmatamento nas áreas de piemonte de desenvolvimento regional, instrumentos de zone- dedicaram muita atenção à área de ciência, tecnologia
dos Andes expõe as encostas à erosão hídrica, pro- amento ecológico-econômico, bem como programas Capítulo 6 e inovação para atingir o desenvolvimento sustentá-
duzindo o arrasto significativo de solo para as partes e projetos regionais, entre outros; em muitos casos, O FUTURO DA AMAZÔNIA vel. A OTCA participa como facilitadora de diversas
baixas. Isso leva ao desbarrancamento das margens porém, a carência de recursos financeiros e a sobre- iniciativas e a integração e o intercâmbio científico
dos rios e ao alargamento da calha destes, podendo posição ou falta de clareza sobre as competências Os atores amazônicos consideram que, no período com a rede de entidades acadêmicas estão em pleno
até resultar na modificação de seu curso. Se a perda dos governos nacionais, subnacionais e locais, freia o 2006-2026, as três principais forças motrizes das desenvolvimento. Fora isso, as parcerias entre os se-
de florestas for maior que 30%, a inibição das chuvas ritmo de aplicação desses instrumentos. mudanças ambientais na Amazônia serão: o papel das tores público e privado foram fortalecidas, com o que
será ainda mais intensa, dando lugar a um círculo políticas públicas relacionadas ao aproveitamento dos se conseguiu iniciar o diálogo entre ciência, iniciativa
vicioso que favorecerá incêndios na floresta, reduzirá As ações voltadas para a gestão integrada recursos naturais; o funcionamento do mercado; e o privada e demandas locais. Em 2026, a região amazô-
a liberação de vapor d'água e elevará a emissão de da bacia amazônica ainda são limitadas. A estímulo às áreas de ciência, tecnologia e inovação nica está dando seus primeiros passos em direção ao
fumaça na atmosfera, com a conseqüente supressão Amazônia é altamente importante para o equilíbrio para o desenvolvimento sustentável da região. Cabe desenvolvimento sustentável, tentando frear o avanço
drástica da precipitação (Nepstad et al., 2007). hídrico global e continental, mas a disponibilidade destacar que a Amazônia é muito sensível a mudan- dos inevitáveis impactos adversos das atividades
contínua de águas superficiais em cada um dos paí- ças no funcionamento dos mercados. produtivas tradicionais, que ainda têm importância na
A fragmentação e a degradação tornam a floresta ses amazônicos depende em larga medida do uso e economia regional.
mais vulnerável a incêndios florestais, pois permitem manejo adequados em cada um deles, num contexto Quatro cenários foram construídos: “Amazônia
a entrada de raios solares no interior da mata, aque- em que a gestão integrada dos recursos hídricos emergente”; “À beira do precipício”; “Luz e sombra”; e ❱❱❱ O mito da “Amazônia vazia” ainda está muito
cendo-a. Nesse contexto, os resultados obtidos por amazônicos é uma meta fixada, mas que ainda não “Inferno ex-verde”. enraizado na mentalidade dos servidores públicos
Nepstad (2007) são motivo de grande preocupação. foi alcançada. A OTCA, por exemplo, desenhou um e da sociedade dos países amazônicos em geral, no
Ele prevê que, até 2030, o desmatamento na floresta programa regional de gestão de recursos hídricos, jun- ❱❱❱ No futuro da “Amazônia emergente”, a gestão cenário “Inferno ex-verde”. O processo de ocupação
úmida amazônica poderá atingir 55% de sua superfí- to com o PNUMA e o GEF, a ser executado em breve. ambiental se aperfeiçoou, tanto pelo maior compro- e desenvolvimento dessa extensa região ainda se
cie. As taxas de mortalidade (doenças infecciosas/ve- Trata-se de um desafio de grande envergadura para a metimento dos governos como pela maior conscien- dá de forma pouco coordenada entre as iniciativas
tores, problemas de saúde e danos na infra-estrutura Amazônia. tização dos cidadãos a respeito da importância dos de cada país amazônico. A OTCA avançou pouco em
de atendimento médico) aumentarão devido às ondas ecossistemas e dos recursos naturais. As atividades termos de consenso para encontrar uma resposta à
de calor, à estiagem, aos incêndios e às enchentes A informação disponível sobre a Amazônia produtivas (mineração, hidrocarbonetos, agricultura) questão da insegurança ambiental e da disparidade
decorrentes das mudanças climáticas. ainda está fragmentada. A informação dispo- estão sujeitas a um controle maior e a requisitos mais econômica entre os países-membros e em nível
nível sobre os recursos e o meio ambiente da Ama- estritos, de acordo com o conceito “poluidor paga”. nacional. O quadro de pobreza entre a população
zônia encontra-se fragmentada, apresenta diferentes A principal carência da Amazônia nesse cenário é a amazônica se agravou, e a desigualdade atingiu
Capítulo 5 níveis de tratamento e não foi harmonizada entre os disponibilidade e o acesso limitados quanto a alterna- os maiores níveis registrados. Embora o mercado
RESPOSTAS DOS ATORES À países. Nos últimos anos, trabalhou-se para entender tivas tecnológicas ecoeficientes e ao aproveitamento mundial tenha apresentado oportunidades para que
SITUAÇÃO AMAZÔNICA os processos ecossistêmicos e humanos na região, da biodiversidade que beneficia as comunidades.. a Amazônia utilizasse os serviços ambientais de
mas ainda há muito que se aprender e entender. A forma sustentável, a limitada capacidade institucional
Atores amazônicos atuantes. Os atores da informação básica, assim como o monitoramento ❱❱❱ No mundo do cenário "À beira do precipício”, do setor público e o escasso desenvolvimento nas
região amazônica têm demonstrado grande dina- permanente, são as bases de um processo decisório a Amazônia se transformou no “último celeiro do áreas de ciência, tecnologia e inovação dos países
mismo nos últimos anos. Da parte dos governos, acertado, e esse é um desafio para os países amazô- mundo”, atendendo ao mercado internacional, que amazônicos não permitiram que questões-chave
evidenciam-se alguns esforços no que diz respeito nicos em conjunto. demanda produtos em maior quantidade e a pre- para a Amazônia fossem incorporadas a sua agenda
ao gerenciamento dos problemas ambientais amazô- ços mais baixos. O desenvolvimento de atividades internacional, e agora já é tarde: os ecossistemas
nicos, embora seu progresso em termos de planeja- Existem oportunidades para a cooperação econômicas na região para atender às demandas estão degradados e fragmentados, houve uma perda
mento e gestão estratégicos com visão de longo prazo e capacidade para agir. Enfrentar os desafios globais propiciou a execução de megaprojetos de irreparável de riqueza natural e cultural.
ainda seja limitado. No que se refere à sociedade da Amazônia requer o fortalecimento da capacidade infra-estrutura, como a IIRSA e a IIRSA II, voltados à
civil, sua atuação em termos de programas e projetos dos países e de suas redes institucionais conjuntas, expansão da malha rodoviária e da rede energética, Infelizmente, os cenários ora apresentados eviden-
para atender às suas prioridades foi bem-sucedida, o no sentido de facilitar a geração e o intercâmbio de visando melhorar a integração regional, o intercâmbio ciam que o estilo de desenvolvimento pelo qual os
que estimulou uma maior participação de sua parte conhecimento, promover a pesquisa/inovação e a de produtos e a mobilização dos fatores de produção, países amazônicos e suas sociedades optaram está
no processo decisório. A cooperação internacional e transferência e difusão de tecnologias e dar projeção como mão-de-obra. No que diz respeito ao marco reduzindo tanto as opções para o desenvolvimento
os organismos internacionais tiveram um importante à Amazônia entre os países da região e do mundo. regulatório, o aspecto mais importante a se destacar sustentável da região no futuro como a esperança
papel, contribuindo com recursos financeiros e tecno- Os países amazônicos têm trabalhado pela integração são as políticas públicas, que estão cumprindo seu de um desfecho alternativo para a Amazônia. Não há
lógicos para a execução dessas atividades. e cooperação regional nas áreas de integração física papel de promover a entrada de mais investimento na dúvida de que já é tarde para conservar a integridade
(p.ex., infra-estrutura para escoar a produção e desen- região, e não o contrário. O agravamento dos conflitos do ecossistema amazônico, no entanto muitas das
Os instrumentos para a gestão ambiental volvimento de serviços) e energética, mas a coopera- internos nas proximidades das fronteiras é motivo de decisões que tomemos hoje são cruciais para se de-
amazônica apresentaram avanços. Ao longo ção regional também tem de direcionar seus esforços grande preocupação. A degradação ambiental, expres- terminar em que medida “perder ou ganhar” entre a
>27
degradação ambiental e o desenvolvimento socioeco- países constitui uma base para a discussão desses tunidades de discussão e ação relativas às prioridades - Desenvolver pesquisa aplicada na área de ciências
nômico seria aceitável para os cidadãos amazônicos. temas em nível regional. Além disso, cabe destacar ambientais da região sejam aproveitados adequada- sociais visando aperfeiçoar o processo de formulação
que a implementação harmonizada desses instru- mente. Desse modo, é fundamental o fortalecimento de políticas específicas para a região.
Capítulo 7 mentos constitui-se em um passo estratégico para o da Organização do Tratado de Cooperação Amazôni-
A AMAZÔNIA POSSÍVEL planejamento do desenvolvimento amazônico com ca, assim como de outros organismos regionais que - Fortalecer os sistemas de informação existentes e
uma perspectiva regional. promovem o diálogo entre as autoridades nacionais, promover a sua articulação com os setores público e
A situação ambiental da Amazônia impõe grandes regionais, estaduais e/ou locais, e entre os especia- privado.
desafios à região, que apontam para a importância de ❱❱❱ Elaborar e implementar estratégias listas nos principais temas ambientais amazônicos. É
uma ação conjunta. As linhas de ação propostas resul- regionais que viabilizem o aproveitamento preciso, ainda, promover a participação dos diferentes - Elaborar e implementar uma estratégia de difusão
tam tanto de uma avaliação ambiental integral como sustentável do ecossistema amazônico. atores da sociedade civil nos processos de tomada de que permita uma adequada divulgação das questões
de um processo de consulta entre os oito países ama- Considerando que os países da Amazônia compar- decisão e elaborar mecanismos e meios para viabili- ambientais relativas à Amazônia entre diferentes
zônicos. Constituem um esforço voltado a impulsionar tilham diversos ecossistemas, faz-se necessária a zar as ações acordadas. setores do público.
o desenvolvimento sustentável da região. elaboração de estratégias conjuntas ou estreitamente
articuladas de gestão integral dos bens e serviços - Constituir o Fórum de autoridades ambientais regio- ❱❱❱ Promover estudos e ações de valorização
As linhas de ação sugeridas são: ecossistêmicos. Nesse aspecto, é preciso concentrar nais e locais da Amazônia e avaliar a necessidade e econômica dos serviços ambientais amazô-
esforços em três linhas de trabalho: conservação da a viabilidade da reativação e do aperfeiçoamento da nicos.
❱❱❱ Construir uma visão ambiental amazôni- floresta amazônica e mudanças climáticas; gestão in- Comissão Especial de Meio Ambiente da Organização A valorização dos serviços ambientais amazônicos é
ca integrada e definir o papel da região no tegrada de recursos hídricos; e gestão sustentável da do Tratado de Cooperação Amazônica. um assunto em torno do qual a região pode somar
desenvolvimento nacional. biodiversidade e dos serviços ambientais. Por outro esforços no sentido de que se reconheça o valor dos
A construção dessa visão será possível se alicerçada lado, é importante que as estratégias definidas sejam - Elaborar e implementar mecanismos, instrumentos diversos serviços ecossistêmicos proporcionados pela
no diálogo entre os diferentes atores amazônicos, em socializadas entre todos os atores, de modo a assegu- e meios para promover e viabilizar a coordenação, a região. Com base nisso, será possível formular políti-
articulação com os diversos níveis de governo. Esse rar sua participação para a consecução dos objetivos execução, o monitoramento e a avaliação dos acordos cas e instrumentos de remuneração que incentivem
processo enriquecerá os esforços dos países amazô- previamente definidos. regionais em vigor. o aproveitamento sustentável dos serviços ecossistê-
nicos no intuito de estabelecer uma visão ambiental micos.
integrada. Para tanto, propõe-se inicialmente a criação Com o intuito de facilitar a implementação dessas As redes universitárias existentes na região podem
do Fórum de Ministros de Meio Ambiente da Região estratégias, faz-se necessário elaborar uma estraté- ❱❱❱ Fortalecer os esforços de geração e difu- ser aproveitadas para identificar temas de interesse
Amazônica, o que facilitará o desenvolvimento de gia conjunta de financiamento. Tal medida permitirá são de informação sobre meio ambiente na comum e modalidades de colaboração para o desen-
uma agenda ambiental de ação conjunta, sendo este aprimorar as capacidades técnicas nacionais, realizar região. volvimento de estudos de valorização econômica nas
o primeiro passo para a constituição de fóruns de dis- investimentos de acordo com cronogramas compa- Considerando a importância da produção científica e áreas de recursos hídricos e biodiversidade.
cussão multissetoriais que envolvam atores relevantes tíveis para todos os países amazônicos e estreitar os da geração de dados nos países da região para a ade-
ao desenvolvimento dos Estados que compartilham a vínculos com a cooperação internacional. quada gestão das questões ambientais na Amazônia, ❱❱❱ Criar um sistema de monitoramento e
região. é crucial estabelecer medidas de sistematização e de avaliação dos impactos de políticas, pro-
❱❱❱ Incorporar a gestão de riscos à agenda articulação dos diversos esforços em curso, com a fina- gramas e projetos.
❱❱❱ Harmonizar as políticas ambientais pública. lidade de criar um sistema integrado de informação e, A fim de dar prosseguimento à implementação da
quanto aos temas de relevância regional. A heterogeneidade e a complexidade da Amazônia mais especificamente, de dados ambientais. Por outro agenda ambiental amazônica, deve-se contar com um
Serão necessários mecanismos que facilitem esse em um contexto de crescente vulnerabilidade a lado, é necessário estreitar os vínculos de cooperação sistema de monitoramento baseado em indicadores
processo, de modo a compartilhar as experiências eventos climáticos exigem a elaboração de políticas e científico-tecnológica entre os países, com o propósito de desempenho para os diversos temas abordados
nacionais, as lições aprendidas e a tecnologia de- medidas que estimulem uma adaptação às mudanças de elaborar e pôr em prática uma agenda de pesquisa pela agenda. De igual forma, é necessário realizar
senvolvida, e construir e implementar uma agenda climáticas. Assim, é importante que a gestão de riscos científica, com ênfase na pesquisa aplicada. periodicamente a avaliação do cumprimento das
conjunta de trabalho ou uma estratégia regional de seja incorporada nas avaliações ambientais estratégi- metas, segundo indicadores preestabelecidos. Nesse
gestão de recursos naturais (florestas, biodiversidade cas, quando da definição das estratégias de desenvol- Ademais, deve-se elaborar uma estratégia de difusão aspecto, um observatório ambiental amazônico cons-
e recursos hídricos, entre outros), capitalizar as boas vimento amazônico. Isso permitirá evitar ou reduzir os e comunicação de questões ambientais prioritárias tituiria uma ferramenta estratégica para a formulação
práticas desenvolvidas e construir sinergias em torno custos associados à ocorrência de desastres. levando em consideração os diversos segmentos do de políticas e de instrumentos de gestão.
da gestão de assuntos ambientais prioritários. público interessado (formuladores de políticas, em-
Um elemento fundamental associado à gestão de presários, estudiosos, ONGs e público em geral).
❱❱❱ Elaborar e implementar instrumentos de riscos é o monitoramento ambiental baseado em indi-
gestão ambiental integrada. cadores previamente definidos. Esse monitoramento As principais ações sugeridas a esse respeito são:
Reconhecendo que os países avançaram no desen- propiciará que futuras fontes de risco sejam identifi-
volvimento e na implementação de instrumentos cadas, facilitando o funcionamento dos sistemas de - Criar um sistema amazônico de informação ambiental
voltados à gestão ambiental na Amazônia, é preciso alerta antecipado. tendo em conta as plataformas existentes (sistemas de
somar esforços a fim de desenhar instrumentos de georreferenciamento e de estatísticas, entre outros).
ordenamento territorial e critérios para a condução
de avaliações de impacto ambiental e de avaliações ❱❱❱ Fortalecer a base institucional ambien- - Produzir pesquisa científica e tecnológica, para atender
ambientais estratégicas. Nesse sentido, o intercâmbio tal amazônica. aos problemas ambientais prioritários da região, e pro-
de experiências sobre os progressos obtidos pelos É importante que os instrumentos criados e as opor- mover o intercâmbio de experiências e de especialistas.
>29
INDICE
Prefácio
Apresentação
10
12
Capítulo 4
As marcas da degradação
ambiental 194
1.4 Novos modelos de ocupação territorial 56 5.3 Principais ações ambientais 240
Capítulo 2 Capítulo 6
Dinâmicas na Amazônia 64 O futuro da Amazônia 252
2.3 Mudanças no uso do solo 94 6.3 Uma visão da Amazônia no futuro 258
Capítulo 3 Capítulo 7
A Amazônia hoje 106 A Amazônia possível 282
3.4 Sistemas agroprodutivos 162 Índice de tabelas, gráficos, mapas e quadros 317
ao longo
do tempo
1.1
1.2 1.4
CARACTERÍSTICAS
AUTORES:
1.3
GEOGRÁFICAS
KELERSON COSTA Ministério do Meio Ambiente – Brasil
ELSA GALARZA Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico (CIUP) – Peru
NOVOS MODELOS
ROSÁRIO GÓMEZ Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico (CIUP) – Peru
DE OCUPAÇÃO
ÂMBITO DO
HISTÓRIA E
TERRITORIAL
COAUTORES:
CULTURA
MARIO BAUDOIN Instituto de Ecologia / Universidade Mayor de San Andrés – Bolívia
ESTUDO
ZANIEL NOVOA Centro de Pesquisa em Geografia Aplicada/PUCP – Peru
RITA PISCOYA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) – Brasil
LUIS ALBERTO OLIVEROS Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA)
FERNANDO RODRÍGUEZ Instituto de Investigaciones de la Amazonía Peruana (IIAP) – Perú
CARLOS ARIEL SALAZAR Instituto de Pesquisas da Amazônia Peruana (IIAP) – Peru
MURIEL SARAGOUSSI Ministério do Meio Ambiente – Brasil
KAKUKO NAGATANI Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA)
32
CAPÍTULO1
Amazônia: território, sociedade
e economia ao longo do tempo
>33
1.1|CARACTERÍSTICASgeográficas
As riquezas naturais e a diversidade social e cultural da Amazônia A Bacia Amazônica possui
fizeram dela o centro das atenções tanto entre os próprios países
amazônicos (Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Suriname, afluentes nos dois hemisférios
Peru, Venezuela)1 como em todo o mundo. Esse enorme ecossis-
tema, complexo e heterogêneo, abriga a floresta tropical e a rede
do planeta; portanto o seu
hídrica mais extensas do planeta, sendo responsável por uma grande comportamento hídrico está
variedade de serviços ecossistêmicos. O rio Amazonas, que atravessa
essa extensa e valiosa área de vida natural e cultural, transmitindo uma sujeito à alternância das estações
sensação de vastidão e majestade, é reconhecido como o mais longo,
caudaloso, largo e profundo do planeta.
seca e chuvosa dos dois
hemisférios.
As características da Amazônia foram determinadas pelos diversos
processos geológicos, geomorfológicos, climatológicos, hidrográficos e
biológicos que ocorreram na América do Sul. O ecossistema amazôni-
co é resultado desses processos, e a interação deste com a população
humana moldou os padrões ambientais presentes na região.
QUADRO 1.1
ZANIEL NOVOA
ORIGEM ANDINO DO RIO AMAZONAS
QUADRO 1.2
predominam as formações próprias de floresta tropical úmi-
A AMAZÔNIA E O RIO AMAZONAS:
da, são identificadas três sub-regiões com características
SUAS PRINCIPAIS DIMENSÕES
específicas de clima e relevo, que podem ser delimitadas
de acordo com cotas de altitude. A floresta de planície ou
1. O Amazonas é o rio mais extenso do mundo, com planície amazônica, que se estende da foz do rio até 500
6.992,06 km (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais m.s.n.m., tem clima quente e úmido e precipitação entre
[INPE], 2008). 1.500 mm/ano e 3.000 mm/ano ou mais; apresenta um
relevo quase plano, com esporádica alternância de sistemas
2. O rio Amazonas tem a bacia hidrográfica mais extensa de colinas. A floresta alta, de clima quente e úmido, porém
do planeta. Diversos estudos fazem menção à área da com uma variação de temperatura entre o dia e a noite,
bacia amazônica. Alguns indicam 7.165281 km2 (Novoa, que ocorre até 1.000 m.s.n.m e possui vales estreitos de
1997; INPE, 2008); o da Agência Nacional de Águas do grande comprimento, onde os rios formaram terraços es-
Brasil (Brasil: Ministério do Meio Ambiente – Agência calonados em vários níveis; dependendo da orientação do
Nacional de Águas, 2006), 6.100.000 km2. relevo, as precipitações anuais podem passar de 5.000 mm/
ano em alguns locais. O clima e o relevo da alta montanha
3. O Amazonas possui a maior vazão (220.000 m3 por influenciam a rede hidrográfica. Por último, a floresta alto-
segundo, em média). Escoa mais água que os rios montana, “ceja de selva”, “yungas” ou outra denominação
Missouri-Mississipi, Nilo e Yangtzê juntos. local, que pode ocorrer até acima de 3.000 m.s.n.m., com
predominância de relevo muito abrupto, cânions profundos,
4. O Amazonas tem mais de mil afluentes, três dos quais gargantas e rios de correntezas rápidas e turbulentas; seu
têm mais de 3.000 km de extensão (Madeira, Purus e clima é úmido, porém muito contrastado no que se refere à
Juruá). temperatura, o que favorece a alta nebulosidade (setores da
“floresta de neblina”).
5. As bacias tributárias mais importantes do rio Amazonas
têm origem na cordilheira dos Andes; os demais tributários Em linhas gerais, a precipitação média na Amazônia varia
provêm da meseta brasílico-guianense e de setores que muito, entre 1.000 e 3.000 mm/ano. Estima-se que 60%
divisam com a bacia do Orinoco na Colômbia. das precipitações são recicladas por evapotranspiração, en-
tretanto, em áreas muito específicas, a precipitação é baixa,
6. A Amazônia contribui com aproximadamente 20% da por vezes inferior a 300 mm/ano. A temperatura média é
água doce que flui dos continentes para os oceanos. alta na região, embora mostre grande variabilidade espacial
e temporal (diminui à maior altitude). A temperatura média
7. A floresta amazônica representa mais da metade das anual flutua entre 24 e 26 °C.
florestas tropicais úmidas do planeta.
A marcada variação de temperatura e de umidade atmos-
8. É uma região megadiversa: dois dos países amazônicos férica com a altitude, tanto entre o dia e a noite como ao longo
– Brasil e Colômbia – têm um terço das plantas vasculares do ano, explica a configuração de “andares ecológicos” que
conhecidas no mundo. O Peru detém o recorde mundial favorecem a efervescência de biodiversidade nos setores da
❱❱❱ Os últimos contrafortes da cordilheira anunciam a proximidade da grande planície amazônica. de maior número de espécies de borboletas. vertente oriental dos Andes (floresta alto-montana e floresta
GUYANA AMAZON TROPICAL BIRDS´ SOCIETY / WWF
de nevoeiro), porém não impede a existência de uma impor-
9. Expressão de diversidade cultural: 420 povos indígenas tante ligação entre as áreas altas e baixas da Amazônia. Para
“A terra recebe como planícies tropicais. Assim, representa
entre 4% e 6% da superfície total da Terra
segundo a época do ano e o local; no es-
treito de Óbidos (Brasil) a sua profundidade
diferentes, 86 línguas e 650 dialetos. Aproximadamente
60 povos vivendo em situação de isolamento.
informação mais detalhada, veja as seções sobre biodiversi-
dade e florestas, no capítulo 3.
insultos e oferece e de 25% a 40% da superfície da América se aproxima dos 300 m. Na seção sobre
suas flores como Latina e o Caribe. recursos hídricos e ecossistemas aquáticos,
no capítulo 3, tais características são apre-
Nesses andares ecológicos ocorre uma variedade de ecos-
sistemas, reconhecidos como os mais ricos do mundo, onde
resposta.” Ao longo do seu curso, as águas do Ama- sentadas com maior detalhe. vivem povos indígenas desde tempos remotos. Os povos in-
zonas arrastam um enorme volume de se- dígenas são depositários de conhecimentos tradicionais sobre
dimentos em suspensão, que lhe conferem Cabe destacar que outras bacias e micro- Fontes: Novoa (1997), Organização do Tratado de Cooperação Amazônica as características e o uso da rica diversidade biológica: “Os
um aspecto barrento. Segundo estimativas, bacias hidrográficas, apesar de não perten- (OTCA), Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e povos indígenas conheceram milhares de espécies vegetais
Global Environment Facility (GEF) (2006); OTCA (2007); Eduardo (2005);
106 milhões de pés cúbicos de sedimentos cerem à do rio Amazonas, têm uma estreita Brackelaire (2006). e as utilizaram com diversas finalidades. Coletaram frutos e
RABINDRANATH TAGORE são despejados diariamente no oceano. A relação com esta (p.ex.: a do rio Tocantins, sementes, utilizaram trepadeiras e cipós para construir suas
(1861-1941), FILÓSOFO massa de água que chega ao oceano Atlân- no Brasil). moradias e utensílios básicos; troncos de grandes árvores para
E ESCRITOR INDIANO. tico tem um raio de influência de mais de fabricar canoas e balsas, folhas de palmeiras para se prote-
100 km mar adentro. A profundidade média Na Amazônia, entendida neste contexto ger das inclemências do clima; bem como espécies com fins
do baixo Amazonas varia entre 10 e 30 m, como o setor da bacia amazônica em que mágico-medicinais” (Wust, 2005).
38
CAPÍTULO1
Amazônia: território, sociedade
e economia ao longo do tempo
>39
>39
SERGIO AMARAL / OTCA
MAPA 1.1a QUADRO 1.3
Contorno da Amazônia segundo o critério ecológico
A REGIÃO AMAZÔNICA PARA OS PAÍSES DA OTCA DE
ACORDO COM TRÊS CRITÉRIOS ALTERNATIVOS
países. A Amazônia menor abarca uma área de 5.147.970 Floresta secundária latifoliada fechada (>40%) permanentemente alagada, água salina ou salobre-
Pastagem ou vegetação florestal fechada a aberta (>15%) sobre solo regularemente alagado ou
km2, o equivalente a 4% da superfície da Terra e a 25% encharcado, água doce, salobre ou salina o empapado, água doce, salobre ou salina
da superfície da América Latina e o Caribe. Superfícies artificiais e áreas relacionadas (zonas urbanas >50%)
Áreas sem vegetação
Amazônia maior
Amazônia menor
MAPA 1.2b
CONTORNO DA AMAZÔNIA MENOR Fonte: Elaborado pela Faculdade de Agronomia da
Universidade de Buenos Aires e por GRID-Genebra/
PNUMA para o GEO Amazônia, com dados do GlobCover
ÁREA TOTAL ÁREA DE CONSERVAÇÃO (1) land cover data v2 2005-2006. European Space Agency,
(km²) (km²) kilômetros 2008, disponível em: <http://ionia1.esrin.esa.int>.
ÁREA %
AMAZÔNIA TABELA 1.1
8.187.965 1.713.494 20,93
MAIOR Superfície da Amazônia segundo critérios
MUNDO 134.914.000(2) 13.626.314 10,10 BOLÍVIA 1.098.581* 724.000* 567.303** (b) 724.000* 9,8 65,9
BRASIL 8.514.876* 3.869.953* 4.196.943* 5.034.740* 67,9 59,1
COLÔMBIA 1.141.748 345.293* 452.572* 477.274* 6,4 41,8
ECUADOR 283.561* 146.688**(a) 76.761** (b) 115.613* 1,6 40,8
NOTAS:
GUIANA 214.960* 12.224** (a) 214.960* 214.960* 2,9 100,0
Amazônia maior: corresponde à maior extensão da área amazônica
com base em pelo menos um dos seguintes critérios: hidrográfico,
PERU 1.285.216* 967.176* 782.786* 651.440* 8,8 50,7
ecológico ou político-administrativo. SURINAME 142.800* - 142.800* 142.800* 1,9 100,0
VENEZUELA 916.445* 53.000* 391.296** (b) 53.000* 0,7 5,8
Amazônia menor: corresponde à menor extensão da área amazônica TOTAL 13.598.187 7.413.827 100
considerando-se os três critérios simultaneamente. Notas:
(1) É preciso lembrar que o cálculo da superfície da bacia amazônica é uma questão em aberto para a pesquisa. A informação inserida no mapa foi trabalhada com base em
(1) Área de conservação, na definição de The International Union for dados SIG fornecidos pelos países ao PNUMA. Deve-se salientar, ainda, que a superfície da bacia amazônica varia entre os estudos em questão, de 7.165.281 km2 (Novoa,
Conservation of Nature (IUCN): “Área de terra e/ou mar dedicada
especialmente à proteção e manutenção da diversidade biológica,
A região amazônica representa 1997; INPE, 2008) até 6.100.000 km2 (Agência Nacional de Água do Brasil – ANA). Essa diferença se explica, no segundo caso, pela exclusão dos rios Tocantins e Araguaia,
bem como de seus afluentes, da bacia do Amazonas. A bacia do Tocantins tem uma superfície aproximada de 900.000 km2. Para mais informações, consultar <http://www.
bem como de recursos naturais e culturais, que são geridas por meio
de instrumentos legais”. Fonte: World Commission on Protected Areas
60% da superfície total dos oito ana.gov.br/hibam>.
(WCPA, s.d.)
países amazônicos membros (2) A Venezuela e a Bolívia utilizam unicamente o critério hidrográfico na definição da Amazônia, entretanto essa superfície também é reconhecida como critério político-
administrativo, conforme explicação das autoridades responsáveis pelo assunto nesses países.
(2) A superfície mundial compreende todo o planeta Terra, incluídos os
corpos d'água continentais. Fonte: The United Nations Statistics da Organização do Tratado de (3) A informação foi inserida de acordo com os critérios usados pelos países.
Division (s.d.).
Cooperação Amazônica (OTCA). * Fontes oficiais nacionais: Bolívia: Instituto Geográfico Militar. Brasil: Ministério do Meio Ambiente (2006a). Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE] (2004b).
Colômbia: Ministério do Ambiente, Habitação e Desenvolvimento Territorial – Instituto Sinchi (2007). Equador: Instituto para o Ecodesenvolvimento Regional Amazônico
(Ecorae) (2006). Guiana: Agência de Proteção Ambiental (2007). Peru: Instituto de Pesquisa da Amazônia Peruana [IIAP] (2007). Suriname: Escritório Geral de Estatística.
Elaborado por: PNUMA/GRID – Sioux Falls e da Universidade de Buenos Aires. Venezuela: Instituto Geográfico da Venezuela Simón Bolívar (2008).
** Fontes não-oficiais nacionais que produziram informação sobre a Amazônia mediante pesquisas: (a) Freitas (2006). (b) Martini et al. (2007). Projeto Panamazonia II. INPE.
42
CAPÍTULO1
Amazônia: território, sociedade
e economia ao longo do tempo
>43
1.3| Históriaecultura
Considerada do ponto de vista continental, a história da Amazônia A outra corrente, mais recente, sustenta que a floresta
deve levar em conta pelo menos três aspectos: a diversidade geográ- tropical não teria sido apenas um receptor de tradições
fica e ecológica, que exerce influência nos processos e nas formas de culturais, mas também um centro gerador de inovações.
ocupação humana; a continuidade da presença humana na região, Baseia-se no fato de a Amazônia ser considerada um cen-
que remonta a mais de 12 mil anos atrás, apresentando rupturas e tro de domesticação de plantas, dentre as quais podemos
descontinuidades de forma e de processos de ocupação; e a diversi- citar a mandioca (Manihot esculenta) e a pupunha (Bac-
dade dos processos de colonização, iniciados pelos países europeus tris gasipaes).
no século XVI e retomados pelos novos Estados independentes que
surgiram na primeira metade do século XIX. Não obstante essa divergência, é fato que os povos
andinos e amazônicos mantiveram, por milênios, um in-
tenso relacionamento, que se dava na região de monta-
Habitantes da Amazônia Pré-Colonial nha entre 500 e 2.000 m.s.n.m., tendo como eixos de
deslocamento, de um modo geral, os rios que interliga-
A Amazônia é habitada desde tempos imemoriais. A questão da ocu- vam a região de serra com as áreas de floresta de menor
pação originária da região apresenta lacunas e ainda suscita muita altitude. Há vários registros arqueológicos relacionados à
polêmica, sobretudo no que diz respeito à densidade e à forma como presença desses povos desde o período pré-incaico, mas
teria se dado esse processo. São poucos os trabalhos de pesquisa foi somente durante o império Inca que essas relações se
sobre a sociedade amazônica pré-colombiana (Heckenberger, 2005; estreitaram. Cabe lembrar que os incas não conseguiram
Calandra; Salceda, 2004; Meggers, 1996), e se observam duas cor- submeter os povos amazônicos, como fizeram com ou-
rentes que buscam explicar a ocupação humana na região. A primeira, tros povos na região andina (Santos Granero, 1992).
a da arqueologia amazônica, desenvolvida a partir da década de 50
do século XX, por considerar que os grupos indígenas anteriores à Na zona peruano-equatoriana, a costa do Pacífico,
chegada dos europeus se organizariam como os de hoje (população o altiplano andino e a vertente oriental dos Andes (alta
QUADRO 1.5
Houve uma continuidade no emprego dos mé-
BOLÍVIA: ELOS ENTRE A AMAZÔNIA E OS ANDES
todos coloniais de ocupação do território e de ex-
ploração da força de trabalho. Em muitas regiões, a
violência praticada contra os povos indígenas foi ainda No fim do século XIX e início do XX, a região amazônica da
mais intensa do que no período colonial. O tráfico Bolívia viveu o auge da exploração da borracha. A borracha
de escravos indígenas para o Brasil – atividade ilegal gerou riqueza nas regiões em que era explorada, funda-
– praticado na região do rio Caquetá, Colômbia, re- mentalmente nos arredores de Cachuela Esperanza,
gistrou um crescimento de meados do século XIX até Riberalta e Guayaramerín. O desenvolvimento dos
1880 (Domínguez et al., 1996), e, ao longo do século departamentos de Bêni, Pando e do norte de La Paz foi
XX, as populações indígenas dessa região ainda eram muito limitado, principalmente pelas dificuldades de
submetidas à exploração de caráter semi-escravo (Hil- comunicação.
debrand; Bermúdez; Peñuela, 1997).
A criação da Corporação de Mineração da Bolívia, em
Fronteiras de expansão 1952, gerou um drástico aumento no consumo da carne
no século XIX produzida no Bêni, que era transportada por via aérea.
Esse auge foi a base do aumento do poder econômico na
governantes concentraram seus esforços em 1860 (Esvertit Cobes, 1995). Na Venezuela, o método de extração consistia simplesmente em San Andrés. Bolívia.
projetos de concessão de terras públicas para o limite natural das “regiões selvagens e ig- derrubar as árvores –, a sua exploração avançava
colonização, em campanhas de reconheci- notas do interior”, para Alexander von Hum- rumo ao leste. Durante 34 anos, o comércio da
mento e na busca de uma saída ao Atlântico boldt, em 1800, eram as grandes cataratas quina foi muito significativo para as economias na-
pelos rios amazônicos (Jordán, 2001). do Orinoco, muito mais do que as decaden- Ao longo do século cionais, sendo esta, entre 1881 e 1883, o principal
tes missões jesuítas (Humboldt, 1985). produto de exportação da Colômbia, onde come-
Na Colômbia, a ocupação colonial do
XIX, as diversas çou a ser explorado na década de 70 daquele sé-
território do Caquetá, que correspondia a No caso do Brasil, pode-se identificar sociedades nacionais culo, nas regiões do alto Caquetá e alto Putumayo.
toda a floresta amazônica do país, sofreu diferentes situações no que diz respeito à Na Bolívia, a quina foi explorada em Caupolicán e,
um grande retrocesso com a expulsão dos ocupação da Amazônia, nas duas ou três projetaram-se sobre mais tarde, em Larecaja e no alto Beni. Esse pro-
jesuítas, em 1767, e a falência das missões décadas que sucederam à independência. duto foi tão importante para a economia boliviana
franciscanas, em fins do século XVIII. Tanto Em um dos extremos encontram-se: Belém,
seus territórios que levou o governo central a tomar medidas para
que a expedição do geral Agustín Codazzi antiga capital da Amazônia, colonizada pelos amazônicos, controlar sua comercialização (Domínguez; Gómez,
àquela região, iniciada na década de 50 do portugueses; o estado do Grão-Pará; e Ma- 1990; Zárate, 2001).
século XIX no âmbito da Comissão Coro- ranhão, independente do Estado brasileiro, motivadas,
CONSERVACIÓN INTERNACIONAL
gráfica Nacional, “importou uma mudança com autoridades coloniais próprias e subor- Nas áreas que dependiam exclusivamente da
fundamental na compreensão do Oriente dinadas diretamente a Lisboa, que impôs
sobretudo, pelas extração e do comércio da quina, houve um defi-
de Nova Granada e a conscientização tanto grande resistência à ruptura dos laços colo- diversas corridas nhamento geral da economia e da sociedade, le-
dos Governos como dos próprios granadi- niais e à integração ao Império do Brasil, em vando empresas à falência e povoados inteiros ao
nos” (Domínguez et al., 1996, p. 45). 1822. Belém foi o principal centro urbano a extrativistas, como abandono. No entanto, especialmente nos casos da
partir do qual portugueses e brasileiros se alta Amazônia colombiana e da Amazônia boliviana,
as da quina e da
A situação foi semelhante no território lançaram à Amazônia e o porto por meio do restou uma infra-estrutura de serviços e de sistemas ❱❱❱ A canoa é um veículo fundamental para o transporte
do atual Equador. Segundo Jean Paul Deler qual a região se comunicava com Portugal. borracha. viários mínima, que foi aproveitada quando tais áre- familiar ou de curta distância nos rios amazônicos.
52
CAPÍTULO1
Amazônia: território, sociedade
e economia ao longo do tempo
>53
70
do Essequibo e em algumas áreas das margens do rio ANOS DUROU
Rupununi (Silva, 2005). A borracha foi explorada
APROXIMADAMENTE intensivamente durante o
Na Bolívia, as primeiras explorações de borracha nas
O BOOM COMERCIAL século XIX e contituiu na base
TABELA 1.2
Taxa de crescimento e PIB per capita das regiões amazônicas (em US$, ano 2000)
1.4|Novosmodelos
vida na Amazônia. RONDÔNIA
RORAIMA
2.314,37
1.810,99
64,12
50,17
4,66%
7,79%
TABELA 1.3
Principais atividades produtivas na Amazônia
500
gistram valores superiores aos do respectivo O Equador é um exemplo dessa situação. O Guainia e Putumayo, na Colômbia; e Morona esse crescimento foi a criação da zona franca,
país. Tal situação resulta do número relativa- PIB per capita de Orellana e Sucumbios é par- Santiago, no Equador) ainda têm recursos na- em meados da década de 60 do século XX.
mente pequeno de habitantes dessas regiões ticularmente alto porquanto nessas regiões se turais a ser explorados. A zona franca emprega diretamente em torno
e da exploração de uma grande quantidade concentram as principais jazidas de petróleo de 50.000 pessoas e indiretamente, 350.000,
INDÚSTRIAS de recursos naturais, como minérios, petró- do país, com cerca de 5 milhões de hectares Apesar das desigualdades no que tange distribuídas entre cerca de 500 indústrias, que
OPERAM NA leo ou gás (Amazonas, no Brasil, e Orellana, em regime de concessão; seus índices de po- ao desenvolvimento econômico, como se fabricam predominantemente eletrodomésti-
ZONA FRANCA no Equador), que constituem uma fonte de breza, no entanto, são mais elevados que o pôde observar na análise anterior, é possível cos, produtos de informática, equipamentos
DE MANAUS E valor agregado. Não se pode afirmar, porém, nacional: 84,2% em Sucumbios, 80,2% em apontar um aspecto comum entre os oito profissionais e componentes eletrônicos. Pro-
GERAM 400.000 que essas regiões tenham um nível de desen- Orellana e 55% no âmbito nacional. No que países: as principais atividades produtivas duzem-se também motocicletas, instrumentos
EMPREGOS DIRETOS volvimento elevado, pois na maior parte dos se refere ao saneamento público, Sucumbios desenvolvidas na Amazônia dependem da de relojoaria, produtos químicos, equipamentos
E INDIRETOS. casos os lucros não são reinvestidos na região; apresenta uma taxa de cobertura de esgoto de disponibilidade de recursos naturais. A agri- ópticos, brinquedos, etc.
60
CAPÍTULO1
Amazônia: território, sociedade
e economia ao longo do tempo
>61
Área total
Colômbia Área da Amazôn
1.141.748 km2 ia
477.274 km2 Venezuela
VENEZUELA Bacia Amazônica 916.445 km2
Equador
Equador 53.000 km2
SUPERFÍCIE DA FLORESTA AMAZÔNICA Território biodiverso
40%
GUIANA
283.561 km2
COLÔMBIA SURINAME 115.613 km2 O ecossistema amazônico é a maior área contínua de
Rio Branco Peru Colômbia Brasil Amazônia peruana
Rio Caquetá 8.514.876 km2 floresta tropical úmida do mundo, com aproximadamente 6 A Amazônia peruana detém o recorde mundial de
Do território Rio Negro
Rio Trombetas
Peru 5.034.740 km2 milhões de km2. Seu papel é essencial à diversidade e maior número de espécies de borboletas (4.000).
sul-americano é EQUADOR Rio Japura IQUITOS 1.285.216 km2
conservação da vida natural do planeta. Também se destaca pela concentração de répteis
considerado Rio Napo Rio Putumayo Turismo. Em 2007, os Bolívia Venezuela 782.786 km2
Amazônia. Peru (48%) e anfíbios (79%) com relação ao resto do
40 Rio Marañon Rio Jurua
países-membros da
Organização do Tratado
Fundada em 1757
Os solos amazônicos país.
mil 396.615
Rio Purús Rio Tapajós
Rio Ucayali de Cooperação Guiana Bolívia
1
Rio Madeira Rio Xingú habitantes (2005) 1.098.581 km2 Na floresta amazônica, os nutrientes encontram-se
Amazônica (OTCA) 724.000 km2 Amazônia brasileira Amazônia equatoriana
Espécies de plantas PERU BRASIL
lançaram a Iniciativa principalmente na biomassa.
foram identificadas na Rio Tocantins Concentra 54% das espécies de Concentra 53% do total
2009: Ano do Destino plantas, 73% das espécies de
2
bacia amazônica. As árvores têm alta capacidade de reabsorver os nacional de espécies de
Amazônia, com a mamíferos e 80% das espécies de mamíferos.
BOLÍVIA
finalidade de promover a Brasil nutrientes provenientes da decomposição de
O rio Amazonas nasce no matéria orgânica, através das raízes superficiais e aves existentes no território nacional.
desfiladeiro de Apacheta, no região amazônica como
departamento de Arequipa, destino de turismo
Suriname da abundância de fungos. Tucano
39
não-aluviais nas restingas, nos morros e nas
Diversa e antiga, formada por variados grupos humanos: povos montanhas são enriquecidos pela biomassa que
indígenas, caboclos, ribeirinhos, população urbana, entre outros. sustentam.
Constitui a base de um complexo mosaico social e econômico. milhões de pessoas Camada superficial rica em
vivem na Amazônia húmus (material orgânico
Aguaruna maior, entre eles parcialmente decomposto) e
420
(Peru) diversos organismos. Jacaré-açu Pirarucu Pacu
Yagua
(Peru) Maku
(Brasil) BIODIVERSIDADE
povos indígenas, E PRODUTOS
detentores de valores Mais de 2.000 espécies de plantas identificadas
e de conhecimentos pela utilidade, como alimentos, medicamentos
tradicionais. Macrofauna.
e outros fins. Embuás,
minhocas,
Auca kunamaris minhocuçus,
indígena
Shipibo (Peru - Brasil) centopéias,
População e
(Equador) (Peru) formigas, etc.
Número de A ilha de Marajó é a maior
Número d enas ilha fluvial do mundo (48.000 km2).
País povos indíg pulação indí
gena Tambaqui
habitantes * Inclui a po
andina .
007) 175 de origem O zooplâncton é uma fração
sil 300.000 (2 Parcela da população Mesofauna. do plâncton constituída por
Bra 005) 59 0,28% (2001) Colêmbolos,
300.000 (2
seres que se alimentam de
Peru 005) 62 amazônica em cada país 16,0% (2005)
100% (2004) opiliões, matéria orgânica.
107.231 (2 100% (2002) nematóides, etc.
Colômbia 01) 25 5,0% (2005)
48.123 (20 2,2% (2005)
Bolívia 001) 17 13,6% (2007) Venezuela
37.362 (2 9,7% (2001) Suriname
Venezuela - Peru
- A camada inferior é formada por
Guiana 006) 10 Guiana um componente mineral de O fitoplâncton representa, junto
369.810 (2 Colômbia Equador com as plantas superiores que
Equador * - Brasil
partículas muito finas. Sua coloração
vivem na Amazônia, o primeiro
12.000 Bolívia Microfauna. Fungos, vermelha se deve da acumulação
Suriname bactérias e algas. de óxidos de ferro e alumínio. elo da cadeia alimentar.
>65
AUTORES:
ROSARIO GÓMEZ Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico (CIUP) – Peru
ELSA GALARZA Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico (CIUP) – Peru
JUAN CARLOS ALONSO Instituto Amazônico de Pesquisas Científicas, Sinchi – Colômbia
DOLORS ARMENTERAS Instituto Alexander von Humboldt – Colômbia
2.1
MÓNICA MORALES Instituto Alexander von Humboldt – Colômbia
CARLOS SOUZA Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) – Brasil DINÂMICA
SOCIODEMOGRÁFICA
COAUTORES:
LUIS ALBERTO OLIVEROS Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA)
MURIEL SARAGOUSSI Ministério do Meio Ambiente – Brasil
2.2
FERNANDO RODRÍGUEZ Instituto de Pesquisa da Amazônia Peruana – Peru
URIEL MURCIA
MARLÚCIA BONIFACIO
Instituto Amazônico de Pesquisas Científicas, Sinchi – Colômbia
Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) – Brasil
DINÂMICA
MARCUS XIMENES PONTE Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia (IPAM) – Brasil ECONÔMICA
LEONARDO DE SÁ Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) / Museu Paraense Emílio
Goeldi (MPEG) / Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) – Brasil
ARNALDO CARNEIRO FILHO Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) – Brasil
2.3 MUDANÇAS NO
USO DO SOLO
AMAZONIA
66
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >67
TABELA 2.1
A SITUAÇÃO AMBIENTAL DA REGIÃO AMAZÔNICA É O RESULTADO DA População aproximada da Amazônia maior e da Amazônia menor (2005)
2.1|Dinâmica
Elaborado pelo PNUMA/GRID Sioux Fall a partir de GPWv3 e informação da Rede de Informação Internacional de Ciências da Terra (CEISIN) do
Instituto da Terra da Universidade de Columbia.
Comparando os mapas 2.1a e 2.1b, fica evidente não apenas o cres- Com base na informação divulgada pelos países amazônicos e
cimento da população, mas também a sua concentração no sul da nas taxas médias de crescimento anual registradas nos dois últimos ESTIMA-SE QUE CERCA DE
75%
Amazônia brasileira, no oeste da Amazônia (principalmente no Peru) períodos censitários, estima-se que em 2007 viviam na Amazônia
e ao longo do eixo do rio Amazonas (na área de Iquitos, Peru, na região 33.485.981 habitantes (cálculos do GEO Amazônia). Essa população
de fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru e nas aglomerações urbanas representa 11% da população total dos países-membros da OTCA.
de Manaus e Belém, no Brasil). Observa-se ainda um quase vazio O Brasil concentra 76% da população amazônica total, seguido do
demográfico na planície amazônica colombiana, equatoriana e vene- Peru, com 13% (tabela 2.2). Depreende-se desses dados que o Peru DA POPULAÇÃO TOTAL
zuelana, muito embora os dois primeiros países apresentem focos de ❱❱❱ Família de colonos, habitantes freqüentes das é o país andino-amazônico que tem a maior proporção de população DA AMAZÔNIA SE
população na base dos Andes. margens dos rios amazônicos. nacional assentada na região amazônica (16%). CONCENTREM NO BRASIL.
68
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >69
4,53
Peru 5,57
3,21 64,8
Brasil 4,96 Venezuela 75,22
3,22 55,79
Equador 5,44 Brasil 68,22
3,77 56
Guiana 3,92 Peru 61,67
2,49 47,5
Suriname 3,45 Bolívia 51,6
1,38 35,9
Colômbia 2,01 Colômbia 49,6
0,84
Bolívia 1,11 Guiana 28,4
0,30 22,0
Venezuela 0,38 Equador 24,9
Hab/km² 0 1 2 3 4 5 6 0 10 20 30 40 50 60 70 80
Nota: Não há informação disponível para o Suriname.
Fonte: Aragón (2005). Bolívia: Instituto Nacional de Estatísticas. Brasil: IBGE. Colômbia: Instituto Sinchi. Equador: Ecorae (2006). Guiana: Agência de Proteção Ambiental (2007). Fontes: Aragón (2005). Bolívia: Instituto Nacional de Estatísticas. Brasil: IBGE. Colômbia: Instituto Sinchi. Equador: Ecorae (2006). Guiana: Agência de Proteção Ambiental (2007).
Peru: INEI-IIAP (2006). Suriname: Escritório Geral de Estatística. Venezuela: INE. Censo Geral Populacional e Domiciliar, 1981, 1990 e 2001. Peru: Instituto Nacional de Estatística (2002). Suriname: Escritório Geral de Estatística. Venezuela: INE. Censo Geral Populacional e Domiciliar, 1981, 1990 e 2001.
ram a expansão da fronteira agrícola na Amazônia bolivia- A dinâmica populacional no território de empregos Ainda nestes primeiros anos do sécu-
na, estabelecendo-se na região culturas como cana-de-
açúcar, milho, algodão, arroz e soja, no departamento de
amazônico levou ao surgimento de cidades
de diferentes tamanhos, que correspondem
e produtos de lo XXI, há locais remotos e quase intactos,
semelhantes aos que, 500 anos atrás, fo-
Santa Cruz, e coca, no Chapare (Unidade de Análise de aos núcleos produtivos e sociais em expan- exportação e ram descobertos pelos homens de Alonso
Políticas Sociais e Econômicas [Udape], 2004). são. Existem cidades de grande porte, como tornar produtivas Mercadillo, Díaz de Pineda ou Francisco de
Manaus (1.646.602 habitantes [Brasil: Insti- Orellana. Nas florestas da Bolívia, do Brasil,
De igual forma, no Equador, a exploração de petróleo, tuto Brasileiro de Geografia e Estatística – as terras da Colômbia, do Equador e do Peru ainda vi-
seguida da agropecuária, incentivou fluxos migratórios IBGE, 2007]) e Belém (1.408.847 habitan- degradadas, com vem povos que não mantêm contato com a
para a Amazônia. Na Guiana, a expansão da mineração tes [IBGE, 2007]), no Brasil; Santa Cruz de sociedade (grupos “não-contatados”). Esses
atraiu trabalhadores tanto do próprio país como de países la Sierra (1.545.648 habitantes [Instituto Na- base no manejo povos indígenas em isolamento ou não-con-
vizinhos. cional de Estatística da Bolívia - INE, 2008]), sustentável da tatados habitam lugares de difícil acesso na
na Bolívia; e Iquitos (396.615 habitantes floresta tropical, vivendo do aproveitamento
A densidade populacional da região amazônica pas- [Peru: Instituto Nacional de Estatística e In- floresta.” dos recursos desta. Os países com maior
sou de 3,4 hab./km2, na década de 90, a 4,2 hab./km2, formática - INEI, 2005]), no Peru; e cidades número de povos indígenas em situação de
CONSERVACIÓN INTERNACIONAL
no período 2000-2007. Tal incremento concentrou-se de porte médio, com menos de 100.000 isolamento são Brasil (40) e Peru (20) (Bra-
no âmbito urbano. Brasil, Colômbia e Equador registra- habitantes, através das quais as regiões pro- ckelaire, 2006).
ram os maiores crescimentos em densidade populacio- dutoras se articulam entre si, viabilizando a
nal na região, de 45% (gráfico 2.2). atividade econômica regional (p.ex., Yurima- ANTÔNIO BRACK Os povos indígenas são detentores de
guas, no Peru, e Lago Ágrio, no Equador). (EXTRAÍDO DE: BRACK, cultura e valores próprios e estão assentados
No que se refere à distribuição da população urbana A seção sobre assentamentos humanos, no A., LA BUENA TIERRA) em áreas as mais diversas. Tradicionalmen-
e rural no território, a primeira experimentou um aumen- ❱❱❱ O modo de vida dos povos indígenas baseia-se nos capítulo 3, dedica-se ao crescimento urbano te, convivem em harmonia com a natureza
to, principalmente no Brasil, na Bolívia e na Venezuela, o bens e serviços proporcionados pela natureza. na Amazônia. e possuem extenso conhecimento sobre os
72
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >73
PERU 300.000 (2005) 59 15 Com isso, a VIDS está buscando melhorar a compreen-
são sobre a questão tanto no Suriname como no exterior.
SURINAME 12.000 n.d. n.d. Além dessa atuação no exterior, dá apoio aos diversos
povos indígenas do país nas áreas de mapeamento e
VENEZUELA 37.362 (2001) 17 n.d.
Fontes: Aragón (2005). Brasil: Instituto Socioambiental - ISA (2007). Bolívia: INE (2003), Ecorae (2006). Guiana: Agência de Proteção Ambiental (2007). Peru: INEI-IIAP ❱❱❱ Mulher indígena descascando mandioca ou yuca,
(2006). Suriname: Escritório Geral de Estatística.
base da alimentação da população amazônica.
Os povos indígenas vários usos da flora e da fauna. Na Amazô- Há pouca informação disponível sobre a se contexto, grupos ecologistas e de defesa conflitos entre comunidades indígenas e em-
nia, existem 420 povos indígenas diferentes, área ocupada pelos povos indígenas da Ama- dos povos da floresta intensificaram as suas presas privadas são ainda comuns.
em isolamento ou 86 línguas e 650 dialetos (OTCA, 2007), nú- zônia. O Brasil registra 175 povos indígenas, ações políticas.
meros que traduzem a diversidade cultural com uma população de 300.000 habitantes Em muitos países amazônicos, a questão
não contatados amazônica. Esses povos têm uma dinâmica (1% da população brasileira amazônica) vi- A exploração dos recursos naturais da da exclusão social dos povos indígenas foi
vivem do demográfica própria, apresentando diversos vendo em 107.721.017 ha, área que repre- Amazônia em territórios indígenas por em- atendida em certas circunstâncias. O poder
níveis e perfis de fecundidade e mortalidade senta 21,52% da Amazônia Legal. No Brasil, presas madeireiras e de exploração de petró- estatal central criou e promoveu instâncias
aproveitamento dos e padrões de assentamento. Por exemplo, as terras indígenas recebem o devido reco- leo, por exemplo, sem a realização de consul- mais permeáveis voltadas aos povos indí-
transitam entre fronteiras e deslocam-se nhecimento como uma importante forma de ta às comunidades pertinentes ou sem seu genas, que facilitaram a negociação de me-
recursos da floresta, segundo padrões sociais, e não padrões proteger os direitos coletivos e a identidade consentimento, é responsável por inúmeros lhores condições ou de garantias para terem
em lugares de difícil geográficos. As mudanças socioeconômicas cultural dos povos indígenas. Além disso, casos de degradação do meio ambiente e atendidas suas necessidades. (OIT, 1996).
e ambientais ocorridas na região afetaram essas terras têm grande valor para a con- por expor ao perigo a sobrevivência desses
acesso na floresta profundamente a população indígena ama- servação da floresta, apesar de terem sido povos indígenas. A Convenção 169 da Orga- Pobreza
zônica, obrigando-a a modificar seu modo invadidas por garimpeiros, produtores agrí- nização Internacional do Trabalho (OIT) dis- O conceito de pobreza evoluiu, passando de
tropical. O Brasil e de vida e reduzindo seu número. No Peru, colas, madeireiros, pescadores e caçadores, põe sobre a participação e a consulta prévia um entendimento que se restringia ao ní-
o Peru são os dois por exemplo, em 1997 foram registrados 11 a fim de aproveitar seus recursos naturais, aos povos indígenas no que se refere ao uso vel de renda para uma visão mais integral e
grupos étnicos extintos e 18 em perigo de suscitando conflitos entre os invasores e os dos recursos naturais e ao seu direito de ter complexa, que leva em consideração fatores
países com o maior extinção. O processo de desaparecimento habitantes indígenas. Embora a população participação nos lucros e ser indenizados por culturais, geográficos e ambientais. Os povos
se dá de forma gradual, remontando à ocu- indígena tenha experimentado uma redução quaisquer danos que venham a sofrer em de- indígenas, assim como outras populações
número de povos
pação européia do território (ver capítulo 1). drástica nos últimos 25 anos, ultimamente corrência dessas atividades. No caso do Bra- tradicionais, vivem dos produtos da floresta
nessa situação. Some-se à chegada dos europeus o cresci- vem registrando uma recuperação numérica sil, país que também subscreveu essa Con- ou dos rios, fazendo uso de práticas extrati-
mento demográfico, o processo de desin- significativa (ISA, 2007). venção, os indígenas têm o usufruto exclusivo vistas (coleta de frutos, pesca ou caça). As-
tegração social e cultural de alguns grupos dos recursos naturais de seus territórios, tan- sim, seu bem-estar depende não apenas de
indígenas, a assimilação por outros grupos Por outro lado, a partir da década de 80 to para fins hídricos como energéticos ou de renda, mas também da disponibilidade e do
e a incapacidade de manter seus níveis de aumentaram as pressões nacionais e interna- mineração. Apesar de existirem normas que acesso aos recursos naturais, bem como de
população (Brack, 1997b) (tabela 2.3). cionais pela preservação da Amazônia. Nes- reconhecem esses princípios de participação, sua capacidade para manejá-los (Celentano;
74
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >75
35% 4.000.000
de extrema pobreza diminuiu em 6 pontos A ausência de serviços básicos entre os ci- questão importante, a percepção predominante entre os próprios
percentuais, de 23%, em 1990, para 17%, dadãos excluídos, além de limitar sua qualidade povos indígenas e, principalmente, entre seus líderes é a de que
em 2005. No entanto, o quadro da pobreza de vida, afeta o meio ambiente local, já que eles não são pobres, e sim com outro modo de vida, mais harmo-
não mudou, mantendo-se em 45%. Outro aumenta a contaminação da água e do solo e nioso com a natureza, muito embora aos olhos de um ocidental
indicador de pobreza é a proporção de resi- danifica a fauna e a flora. De um modo geral, os DA POPULAÇÃO DA AMA- DE PESSOAS NA AMAZÔNIA DOS isso possa ser sinônimo de pobreza. São essas populações as que
dências em situação de insegurança alimen- grupos excluídos são os primeiros a ser atingi- ZÔNIA BRASILEIRA EN- PAÍSES ANDINOS NÃO TÊM ACES- geralmente se encontram entre os grupos mais vulneráveis da
tar. Segundo a FAO, entende-se por “inse- dos pela degradação ambiental, por exemplo, FRENTAVAM CONDIÇÕES SO AOS SERVIÇOS DE ÁGUA POTÁ- sociedade. Sua situação de pobreza, como nos demais casos, im-
gurança alimentar” a conjuntura em que as com a proliferação de mosquitos transmissores DE INSEGURANÇA ALI- VEL E ESGOTO. plica desemprego, desnutrição, analfabetismo (entre as mulheres
pessoas carecem de alimentos; têm acesso de malária, febre amarela e dengue, que têm especialmente), riscos ambientais e acesso limitado aos serviços
limitado a estes pelo baixo nível de renda; um profundo impacto na saúde humana e na
MENTAR MODERADA OU sociais e de saneamento, inclusive ao atendimento de saúde em
preparam-nos de forma inadequada devido qualidade de vida da população. GRAVE (2004). geral (OEA, 2000).
76
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >77
39,5
Amazônia brasileira: saúde e meio ambiente vimento Regional Amazônico do Equador
região amazônica são limitados em relação se prolifera abundantemente em terrenos
aos de outras regiões. Por esse motivo, a com água estagnada, característica dessas [ECORAE], 2006). No estado venezuelano
população vulnerável é mais suscetível a regiões (Vittor et al., 2006). DOENÇA NÚMERO DE CASOS POR 100.000 HABITANTES de Amazonas, o volume de investimentos
doenças gastrointestinais e respiratórias, públicos em saúde é limitado e a principal
PARA CADA 1.000
causadas pela contaminação da água e do O Instituto Socioambiental do Brasil (ISA), causa de consultas médicas é a diarréia
NASCIDOS VIVOS ar, assim como aquelas que se proliferam em publicação recente sobre a situação dos
AIDS Aumentou de 1,2, em 1990, para 12,4, em 2004
(Aragón, 2005).
(2001). em diversas condições ambientais, como povos indígenas brasileiros, destacou o au-
a malária. mento do número de mortes causadas por MALÁRIA Caiu de 3,3, em 1990, para 2,0, em 2004 AIDS, malária, dengue e tuberculose são
desnutrição infantil no Mato Grosso e o rea- as principais enfermidades registradas na
No passado, os booms de produção na parecimento da malária em Roraima. A essa TUBERCULOSE Caiu de 73, em 1990, para 48, em 2004 região amazônica, apresentando diferentes
Amazônia e a imigração desencadearam epi- situação soma-se a maior incidência de casos níveis de incidência. O aumento na incidên-
demias entre a população local e, particular- de tuberculose, epidemia que atinge várias tri- cia de malária nas áreas urbanas é particu-
Fonte: Aragón (2005).
mente, os nativos, que não recebiam imu- bos indígenas (ISA, 2006b). larmente significativo (tabela 2.4).
78
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >79
ENRIQUE CÚNEO / EL COMERCIO
Educação
A região amazônica apresenta altas taxas de Na Guiana, o nível de escolarização nos domi- Infra-estrutura qualidade do serviço, situação esta que limita
analfabetismo, que variam segundo o país. cílios pobres está abaixo da média da popu- precária limita a o desenvolvimento de capacidades de uma
aprendizagem das
Na Bolívia e no Equador, por exemplo, o anal- lação. Menos de 15% dos chefes de famílias população altamente vulnerável, como expli-
crianças.
fabetismo atinge 12% da população amazô- pobres sequer concluíram o ensino médio. cado anteriormente (Hall; Patrinos, 2004).
nica, ao passo que na Venezuela 93% da Nas áreas rurais, a freqüência escolar é baixa.
população com mais de 10 anos não sabe A situação é ainda pior no interior do país, Assim, um desafio importante no que se re-
ler nem escrever. Na Amazônia brasileira, onde menos de 13% dos lares pobres termi- fere à educação na Amazônia é desenvolver
registrou-se uma redução de sete pontos naram o ensino médio. Além disso, 41% das programas coerentes com a realidade local,
percentuais, diminuindo de 20% para 13% famílias que vivem abaixo da linha da pobre- que propiciem uma compreensão dessa
da população acima de 15 anos entre 1990 za se dedicam à agricultura (Guiana: Agência complexa e rica região com base numa visão
e 2005. Além disso, o número de anos de de Proteção Ambiental [EPA], 2007) holística. De igual forma, deve-se monitorar a
A expansão da pecuária é
um estímulo a mudanças
no uso do solo e afeta os
serviços ecossistêmicos.
2.2|Dinâmica
econômica
Ao longo dos últimos 50 anos, a Amazônia foi ocupada por diver-
sos grupos humanos, que exploraram seus recursos naturais, como a
borracha, até aproximadamente 1945, e, num período mais recente,
A pequena
petróleo, gás e metais. A população que vive da mineração é cada vez porcentagem
mais importante na região: os garimpeiros são uma realidade que não
pode ser ignorada. A exploração florestal e de hidrocarbonetos cons- de terras usadas
titui também uma fonte importante de trabalho e de divisas; e, como
com eficiência
conseqüência dessas atividades, a infra-estrutura de comunicação na
é um aspecto
ENRIQUE CÚNEO / EL COMERCIO
CONSERVACIÓN INTERNACIONAL
Um dos A porção sudeste da Amazônia brasileira tores e pecuaristas a adentrar ainda mais as Esse tipo de produção, somado ao uso de 2007) indiquem que a economia de energia
apresenta cerca de 500.000 km2 de terras áreas de floresta à procura de novas terras. agroquímicos (fertilizantes, pesticidas e her- e a redução nas emissões de CO2 não sejam
agronegócios degradadas, das quais 15% se encontram A esse respeito é preciso lembrar que, se- bicidas), acelerou o ritmo do desmatamento NO CASO DA tão altos. Ainda não está clara qual a magni-
abandonadas (Ministério do Meio Ambiente gundo Nepstad e Campos (2006), ultima- em extensas áreas de floresta também nas COLÔMBIA, A ÁREA tude dos custos e benefícios da produção de
que mais cresceu do Brasil, 2004). As pastagens constituem mente o mercado vem exigindo um maior províncias amazônicas de Napo, Sucumbios, CULTIVADA DE biocombustíveis (Ballenilla, 2007).
e recebeu um sistema de produção inadequado às con- cumprimento da legislação e um melhor ge- Morona Santiago e Pastaza, no Equador. COCA CRESCEU
4,5
dições ecológicas da região amazônica, ten- renciamento de todas as fases da cadeia de A coca é um cultivo ancestral que se de-
investimentos do sido estabelecidas em áreas de encosta e produção de carne e grãos provenientes da Outra tendência recente que está afetan- senvolve nas regiões de floresta de altitude
de florestas de terras baixas, que vêm sendo Amazônia, o que se traduz em incentivos à do, e que poderia afetar ainda mais, os países e de nevoeiro (ver capítulo 1), e a ela se so-
nos últimos anos desmatadas em conseqüência da expansão conservação da floresta tropical. O desenvol- da Amazônia é a produção de biocombus- maram culturas como a papoula. Ambas se
é o da soja. da pecuária, da agricultura extensiva e da ex- vimento da produção agrícola extensiva nos tíveis (p.ex., biodiesel e etanol) derivados
VEZES em 19 ANOS. destinam principalmente, hoje em dia, à fa-
tração de madeira. oito países da região levou a uma elevação de produtos orgânicos, principalmente do bricação de entorpecentes. Concentrada na
nas taxas de desmatamento, que, no caso da milho e da cana-de-açúcar. A produção da Bolívia, na Colômbia e no Peru, a produção
A área do agronegócio que mais cresceu Amazônia brasileira, significou um aumento matéria-prima dos biocombustíveis exige de coca veio crescendo nos últimos anos
e recebeu investimentos nos últimos anos da superfície desmatada acumulada, de 41,5 uma agricultura intensiva, o que implica o com relação a 2003, ano em que foi regis-
é a da soja, e as tendências apontam para milhões de hectares, em 1990, para 58,7 emprego em grande escala de fertilizantes, trada a menor superfície cultivada de coca
uma maior demanda por este produto nos milhões de hectares, no ano 2000. Dessa pesticidas e maquinaria. Métodos agrícolas do período de 2000-2006. Na Colômbia, a
setores de ração para aves, suínos, peixes, área, boa parte acabou sendo convertida menos intensivos demandariam mais terras área de 15.500 hectares cultivada com coca
entre outros, assim como para alimentar a em pastagens. Contudo, há que se esclare- e custos muito elevados. Embora o Brasil seja em 1985 subiu para 85.750 em 2005. Isso
cada vez maior população mundial. No es- cer que a soja está ligada a apenas 5% da o principal produtor e exportador mundial de significa que a superfície cultivada com coca
tado de Mato Grosso, por exemplo, a soja área desmatada – a pecuária, por outro lado, açúcar e etanol, respectivamente 30 milhões no país se multiplicou por 4,5 no espaço de
ocupa mais de 5 milhões de hectares; a área responde por 75% das áreas desmatadas –, de toneladas e 17.500 milhões de litros por dezenove anos (Ministério do Meio Ambien-
total de lavouras desta espécie no Brasil é de muito embora o crescimento da sojicultura ano, a Amazônia Legal participa com menos te da Colômbia – Instituto Sinchi, 2007).
21 de milhões de hectares. A produção de seja uma ameaça em potencial. de 3% da produção nacional de cana-de-
algodão também teve um acentuado cres- açúcar, matéria-prima de ambos os produtos. Os impactos ecológicos do cultivo da
cimento nesse estado – a produtividade das De igual forma, o auge de monoculturas O principal argumento a favor da introdução coca e da produção da cocaína são os se-
lavouras passou de 1.390 kg/ha para 3.302 tais como o arroz e a cana-de-açúcar na re- dos biocombustíveis é que estes ajudariam guintes: forte erosão dos solos pelo manejo
kg/ha. Tal expansão da sojicultura na região gião de Bêni e de Santa Cruz, na Bolívia, foi a reduzir a emissão de gases de efeito es- inadequado e pelo estabelecimento de cul-
do cerrado e nas florestas estimula agricul- um importante fator de perda de floresta. tufa, muito embora estudos recentes (Russi, turas em áreas extremamente íngremes (que
84
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >85
GRÁFICO 2.4
Cultivo da coca nos países andino-amazônicos (hectares)
Bolívia Peru Colômbia
250.000 ha
200.000
150.000
100.000
50.000
0
1996 97 98 99 2000 01 02 03 04 05 06
deveriam funcionar como mata de proteção); invasão de No entanto, a perda da cobertura florestal decorrente do ❱❱❱ Toras de madeira apreendidas em operações de combate ao corte e comércio ilegal de produtos florestais.
ROLLY REYNA/ EL COMERCIO
áreas protegidas e destruição de ecossistemas únicos e não-cumprimento das normas levou alguns operadores
de sua biodiversidade; e grave contaminação dos cursos econômicos a definir a exploração florestal na Amazônia
de água pelo uso de grandes volumes de uma série de como uma atividade seletiva, oportunista e anárquica, “Somos a favor de queda desde 1998. Na Bolívia são pro- Ressalte-se que a maioria dos países ama-
substâncias tóxicas utilizadas na fabricação da droga, par-
ticularmente a pasta-base de cocaína. Estima-se que as
que resiste a todos os esforços no sentido de organizá-
la e adotar práticas de manejo florestal (Dourojeanni,
(de estradas), sim, duzidos aproximadamente 500.000 m3 por
ano; e, no Peru, 1,8 milhões de m3 por ano.
zônicos tem regimes de concessão florestal
ou propriedade privada regidos por normas
áreas desmatadas na Amazônia boliviana, colombiana e 1998). Nesse contexto, somente uma pequena parte do desde que exista Embora a exploração florestal desordenada de manejo florestal sustentável. Na Bolívia,
peruana para o plantio de culturas ilícitas variem entre
200 e 500 km2 em cada país, dependendo do ano avalia-
desmatamento da floresta amazônica pode ser atribuído
à exploração florestal.
uma política sem planos de manejo dificilmente leve à
extinção de espécies, é responsável pela di-
por exemplo, há dois milhões de hectares de
florestas certificadas; no Brasil, essa área che-
do e da fonte consultada (Sistema Integrado de Monitora- de preservação minuição da população e extinção comercial ga a 1,8 milhão de hectares. Observa-se, no
mento de Cultivos Ilícitos [Simci] II, 2005). Acrescente-se
a isso a contaminação decorrente do uso de herbicidas no
A pressão gerada pela exploração madeireira sobre a
floresta pode levar à extinção de espécies de grande valor
da floresta que de muitas delas. entanto, que a falta de controle e fiscalização
leva à ocorrência de práticas florestais não-
combate ao narcotráfico e nos programas de erradicação, econômico (Tabarelli; Cardoso da Silva; Gascón, 2004). incentive a Um fenômeno recente em matéria de ex- sustentáveis. Nesta área são os pequenos
tendência que, ao que tudo indica, não deverá mudar.
Nesse sentido, na Colômbia lançou mão da pulverização,
Há casos documentados de ciclos de crescimento eco-
nômico seguidos do colapso da atividade que geraram
agricultura e impeça ploração florestal na Amazônia é a chegada
de grandes investidores estrangeiros, princi-
extrativistas ilegais que geram os impactos
negativos mais sérios na floresta amazônica,
em especial com glifosato, para erradicar a coca, e isso fez desmatamento. No Brasil, durante a fase de crescimento a concentração palmente asiáticos, interessados na explora- por ser muito difícil controlar sua atuação.
com que a produção de coca se deslocasse para regiões econômico, a exploração madeireira gera receitas signi- da propriedade da ção florestal de grande escala. Esse proces-
onde antes não estava presente, aumentando, assim, o ficativas para os municípios, além de empregos diretos so, que teve início no Suriname e na Guiana, A extração ilegal de madeira, como qual-
desmatamento e a contaminação (Nações Unidas, 2007). e indiretos. No entanto, tais receitas mínguam com a terra nas mãos dos vem se expandindo rapidamente para o Brasil quer outro crime ecológico, é um problema
(gráfico 2.4). escassez de espécies de valor comercial, o que leva os latifundiários.” (Traumann, 1997) e outros países da região, que repercute nos planos econômico, so-
madeireiros a migrar para outros municípios, afetando sendo motivo de grande preocupação, já que cial e ambiental, ameaçando os esforços do
A exploração florestal novamente as economias locais (Schneider et al., 2000). nem todas as empresas oferecem garantias governo para conduzir uma boa gestão dos
não-sustentável Nesses casos, perdem-se ainda serviços ecossistêmicos quanto ao manejo (Sizer; Rice, 1995). Outro recursos naturais. Por outro lado, desesti-
(biodiversidade, ciclo hidrológico, entre outros). problema associado à atuação das madeirei- mula os países, os proprietários ou as em-
A exploração florestal, quando bem-manejada, não re- CHICO MENDES, ras de grande porte na Amazônia é a provável presas florestais que investem no manejo
presenta uma ameaça para os recursos da Amazônia. As tendências da produção florestal variam de país PRESIDENTE DO SINDICATO invasão por parte de camponeses sem terra sustentável dos recursos florestais, mas
Muitos países amazônicos contam com legislação que para país. Segundo o Imazon, em 2004 o indicador de DE TRABALHADORES que se segue à abertura de extensas áreas, que não são recompensados pelo merca-
regula o acesso aos recursos florestais, estabelecendo re- volume produzido (madeira em tora) para o Brasil foi RURAIS DE XAPURI, ACRE, com a conseqüente aceleração do desmata- do com melhores preços devido à grande
quisitos mínimos para o manejo sustentável da floresta. de 24,5 milhões de m3, apresentando uma tendência ASASSINADO EM 1988. mento na região. oferta de madeira barata, porém extraída
86
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >87
ENRIQUE CÚNEO / EL COMERCIO
TABELA 2.5
Exploração de petróleo na Amazônia (2006)
GUIANA - -
SURINAME 4.800.000 -
VENEZUELA - -
TOTAL 243.822.237 -
Fontes: Ministério de Minas e Energia da Colômbia <http://www.minminas.gov.co>, Ministerio de Minas e Energía do Brasil <http://www.mme.gov.br>, Ministério de
Minas e Energía do Ecuador <http://www.mEnergia.gov.ec>, Ministério de Energia e Minas do Perú <http://www.minem.gob.pe>, Ministério de Hidrocarbonetos e
Energia da Bolívia <http://www.hidrocarburos.gov.bo>.
❱❱❱ As técnicas artesanais utilizadas no garimpo são um importante fator de contaminação da água e do solo.
ilegalmente. Trata-se de uma situação alarmante nos temente. O enorme volume de recursos hídricos da Ama- A exploração Santiago e Zamora-Chinchipe. Estima-se que estuário do Amazonas e o piemonte dos An-
países amazônicos, cujas autoridades nem sempre têm zônia possibilita ainda a geração de energia hidrelétrica, 40% do território de Morona Santiago esteja des (TCA, 1995; Barthem; Goulding, 1997;
estrutura suficiente para fiscalizar e controlar a ativida- fundamental para o crescimento da economia. mineral é uma sob concessão de mineradoras, situação que Goulding; Barthem; Ferreira, 2003a).
de. De acordo com os dados para 2005 do Inrena e da dá origem a sérios conflitos com as comunida-
Comissão Multissetorial de Combate ao Corte Ilegal, Mineração importante ameaça des indígenas pelo uso e pela contaminação A mineração clandestina também está
estima-se que mais de 221.000 m 3 de madeira, ou A mineração sempre foi, e ainda é, uma ameaça impor- aos ecossistemas da água. Calcula-se que existam entre cem mil presente na fronteira entre o Brasil e a Ve-
15% da produção nacional do Peru, sejam extraídos tante para os ecossistemas aquáticos e terrestres da ba- e duzentos mil garimpeiros na Colômbia, algo nezuela. Na Amazônia venezuelana encon-
ilegalmente todos os anos, o equivalente a US$44,5 cia amazônica, especialmente no escudo guianense, nas aquáticos e próximo disso no Peru e o dobro no Brasil (Ins- tram-se tanto garimpos como operações de
milhões (Banco Mundial, 2006). montanhas andinas da Bolívia e do Peru, e na região do tituto Socioambiental [ISA], 2006). mineração de bauxita de grande escala, mas
piemonte, na Colômbia. O garimpo de ouro é mais extenso
terrestres da bacia não ocorre a exploração de hidrocarbonetos.
A exigência de certificação pelo Conselho de Manejo e destrutivo quando feito em pequena escala, já que em amazônica. A produção de ouro na Amazônia brasilei- Os níveis de contaminação por mercúrio em
Florestal (FSC, na sigla em inglês) para a comercialização de grande escala as operações industriais costumam ser ob- ra vem declinando desde o início da década grande parte do pescado consumido pela
produtos madeireiros no exterior é o principal incentivo para jeto de uma melhor regulação. Até o momento, a contami- de 90, mas se estendeu até a bacia do alto população desses lugares estão acima do li-
a erradicação da extração ilegal. No entanto, cerca de 70% nação por mercúrio nos tributários amazônicos decorrente Madre de Dios (Peru) e as terras altas da re- mite recomendado pela legislação brasileira
da madeira da Amazônia são destinados ao mercado interno do garimpo de ouro parece ter sido mínima e localizada. gião de Bêni, na Bolívia. Hoje em dia, a exis- (Goulding et al., 2003b; Barthem, 2004). Na
(Rodríguez, 1995), com a exceção do Peru, onde nos últimos No entanto, em alguns rios com alto teor de acidez e pouca tência de milhares de garimpeiros de ouro na fronteira entre a Colômbia e o Brasil, existem
anos mudanças no regime de uso das florestas exploradas sig- carga de sedimentos, a atividade pode gerar problemas bacia alta do Madre de Dios gera uma série problemas com a mineração de ouro, e no
nificaram um aumento no volume e no valor das exportações, mais sérios ao aumentar a sedimentação, alterando o leito de problemas ambientais em decorrência da Equador a contaminação se dá por arsênico.
que passaram de US$45,3 milhões, em 1997, para US$169 natural desses rios (Franco; Valdés, 2005; Usaid, 2005). contaminação da água por mercúrio, do des-
milhões, em 2005 (Banco Mundial, 2006). vio do rio por meios artesanais e da lavagem Na Guiana, somente os diamantes são
Na bacia amazônica, o ouro se origina nos escudos guia- com metais pesados. No entanto, há tam- produzidos por empresas de mineração de
Mineração e energia: nense e brasileiro, sendo extraído de depósitos aluviais lo- bém a possibilidade de que a concentração grande porte de capital estrangeiro; o ouro e
novas fontes, mais produção calizados nos grandes rios e desfiladeiros. No caso do Brasil, de mercúrio na bacia do Madre de Dios seja a bauxita são explorados por pequenas e mé-
entre 1960 e 1990 as principais regiões produtoras de ouro mais elevada que em outras regiões ao les- dias empresas. O investimento externo na mi-
Ouro, bauxita, zinco, carvão, manganês, ferro e um grande foram o norte do estado de Mato Grosso, às margens do rio te da bacia amazônica por causa do intenso neração é muito dinâmico. O mercado é for-
número de outros minérios e recursos energéticos encon- Tapajós, o garimpo de Serra Pelada, no Pará, e o estado de processo de erosão nos Andes. No que se mado por empresas canadenses, australianas
tram-se amplamente distribuídos na bacia amazônica. A Amapá, onde essa atividade era realizada tanto por empre- refere à pesca, conforme foi mencionado no e brasileiras. Em menor escala, os garimpeiros
Amazônia também possui grandes reservas de petróleo sas de grande porte como por garimpeiros. No Equador, a capítulo 3, a mineração afeta particularmente do Brasil também exercem uma forte pressão
e gás natural, muitas das quais foram descobertas recen- mineração de ouro e cobre ocorre nas províncias de Morona os grandes bagres que se deslocam entre o sobre a Amazônia guianense.
88
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >89
San José del Guavia Pavimentada assegura aos atingidos e interessados participação na toma-
San Vicente del Cag
Florencia
Não pavimentada Embora exista petróleo em toda a bacia, boa parte dos de- da de decisões. O potencial energético de origem hídrica
Puerto Asis
Nueva Loja
Macap
pósitos passíveis de exploração encontra-se no oeste da da Amazônia brasileira é de 112.039 MW, o que representa
Castanhal
Francisco de Orellana
Puyo
Ananindeua
Aabaetetuba
Braganta
Amazônia, e os maiores campos de petróleo e gás estão 43% do potencial hidrelétrico nacional, mas somente 10%
Belém
Macas
El Estrecho
Manaus Parintins
Santarém
Paragominas
Sao Luis
localizados perto dos Andes, na Colômbia, no Equador, no são aproveitados.
Iquitos Itacoatira
Zamora
Caballococha Tefé
Manacapuru
Altamira
Tucuruí Peru e na Bolívia. A exploração comercial de petróleo na
Leticia Itaituba Caxias
Yurimaguas
Marab Imperatriz
Timon
Amazônia brasileira praticamente limita-se à região do rio No que se refere aos aspectos socioambientais relaciona-
Tarapoto
Parauapebas
Urucu, um tributário do Coari, de onde é bombeado para dos à construção de barragens, o Brasil conta com uma
Tocache
Pucallpa Ji-Paran
Araguaína
as margens do rio Tefé – do rio Urucu extrai-se também legislação avançada, uma sociedade civil organizada e um
Tingo María Santa Rosa do Purus
Porto Velho
gás natural. As maiores refinarias de petróleo da Amazônia ministério público preocupado em minimizar as conseqü-
Ariquemes
situam-se nas proximidades da confluência dos rios Ama- ências negativas advindas da execução dessas obras. Além
Rio Branco
Tangar da Serra
San Borja
Trinidad
Ascension de Guaray
Vrzea Grande
C. ceres
Cuiabá Primavera do Leste Peru, Colômbia e Equador têm oleodutos que se esten- trica do Brasil e que a Amazônia seja o principal fornecedor.
Barra do Garças
Yapacani Montero
San Ignacio San Matias Rondónopolis
dem dos campos de petróleo até as refinarias localizadas nos Uma iniciativa brasileira de destaque no campo energético
Andes e na costa do Pacífico, como o Terminal Yanácu, por é o uso dos biocombustíveis produzidos com cana-de-açú-
Santa Cruz
Puerto Suarez
exemplo, sobre o rio Marañón. Situado ao norte da reserva car. O Brasil produz 32 bilhões de litros de álcool por ano,
Pacaya-Samíria, dele parte o oleoduto do norte do Peru, que metade de toda a produção mundial.
transporta óleo cru do rio Amazonas através dos Andes. Só
Fonte: produção original do GEO Amazônia, com a colaboração técnica de UNEP/GRID - Sioux Falls e da Universidade de Buenos Aires, com dados de Bolívia:
Conservation International e INE; Brasil: IBGE; Colômbia: CIAT e DANE; Equador: INEC; Guiana: EPA; Peru: INEI; Suriname existe um poço de petróleo em Pacaya-Samíria, e o governo
detém os direitos de exploração em duas áreas dentro da re- Elaboração: Marcos Ximenes Ponte. Instituto de Pesquisa Ambiental da
Amazônia [IPAM].
serva. Na Guiana, a única informação disponível revela que,
na bacia do rio Takatu, vêm sendo desenvolvidos programas
de exploração de petróleo (TCA, 1995; Goulding; Barthem;
Ferreira, 2003a). Como se pode observar na tabela 2.5, o situados em áreas protegidas ou de amortecimento
Equador é o país que tem a maior produção de petróleo na estão sendo licitados para exploração de petróleo
região amazônica (74,9% da produção total). As províncias (Peru: Defensoria do Povo, 2007). Essa situação
de Sucumbios, Napo, Orellana e Pastaza registram os maio- reflete a grande pressão da indústria do petróleo
res níveis de atividade petrolífera, mas também apresentam sobre o ecossistema amazônico.
uma grande diversidade humana e natural. Infelizmente, os
impactos ambientais do setor de petróleo não foram devi- Embora algumas dessas áreas de exploração
damente controlados e os vazamentos de petróleo e outros de petróleo tenham sido descartadas no passa-
tipos de contaminação constituem uma ameaça para a flo- do devido ao difícil acesso, neste momento os
resta e seus habitantes. altos preços do petróleo e do gás justificam a
retomada dos trabalhos de exploração. Manter
As reservas de petróleo e gás natural estão localizadas um equilíbrio adequado entre a exploração de
em algumas das áreas mais sensíveis em termos ecológicos. hidrocarbonetos e a conservação de ecossiste-
ENRIQUE CÚNEO / EL COMERCIO
Um exemplo claro dessa situação é a sobreposição de lotes mas críticos só é viável se forem estabelecidas
destinados à exploração de petróleo e áreas naturais protegi- exigências e condições ambientais rigorosas e
das (ANP). No Peru, por exemplo, encontram-se operações específicas, incluindo o fortalecimento dos mar-
de exploração nas seguintes áreas naturais protegidas: Reser- cos regulatórios nacionais e a garantia de parti-
va Nacional Pacaya-Samíria, Reserva Comunal Machiguenga cipação nos lucros e de compensações para as
e Zona Reservada Pucacuro. Além disso, outros onze lotes áreas afetadas e as populações locais.
90
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >91
TABELA 2.6
já concedeu as licenças para a construção das
Principais hidrelétricas da bacia amazônica
usinas de Santo Antônio e Jirau. Os estudos de
impacto ambiental das duas usinas do comple-
xo localizadas a jusante, em território brasileiro,
PAÍS USINA HIDRELÉTRICA ÁREA DO RESERVATÓRIO (km²) POTÊNCIA INSTALADA (MW) identificaram impactos de grandes proporções,
que afetariam os peixes, a fauna, a flora, a po-
SERRA DA MESA 1.784 1.275
pulação, os sedimentos e a propagação de do-
CANA BRAVA 139 465
enças tropicais.
SÃO SALVADOR 104 243
PEIXE ANGICAL 294 452
Os impactos diretos das barragens sobre
IPUEIRAS 934 480
LAJEADO 626 902 a população são a malária e a esquistos-
TUPIRANTIS 370 620 somose, que já ocorrem na região. Dada a
BRASIL ESTREITO 590 1.087 experiência adquirida com a construção de
SERRA QUEBRADA 386 1.328 outras grandes barragens na região amazô-
nica, como a de Tucuruí, é preciso levar em
MARABÁ 1.115 2.160
consideração a expansão do hábitat dos veto-
TUCURUÍ I 4.200*
TUCURUÍ 2.430 res (mosquitos e moluscos) dessas doenças
TUCURUÍ II 8.370
QUADRO 2.3
A maior extensão de rodovias pavimentadas da região
encontra-se nos estados do Maranhão, Pará e Tocantins, jus- BRASIL: PLANO SUSTENTÁVEL DA RODOVIA BR-163
tamente onde estão os grandes eixos viários que avançam
pela Amazônia. Em 1975, a Amazônia brasileira tinha 29.400 O Plano de Desenvolvimento Sustentável Regional da área de influ-
km de rodovias, dos quais 5.200 km eram pavimentados. ência da rodovia BR-163 para o trecho Santarém-Cuiabá foi elaborado
Em 2004, a extensão da malha rodoviária da região passou com o intuito de garantir o desenvolvimento sustentável e evitar os
para 268.900 km, dos quais 246.600 km não-pavimenta- impactos negativos dos processos que historicamente acompanharam
dos, ou seja, em pouco menos de trinta anos cresceu dez o asfaltamento de rodovias na Amazônia. O Plano foi preparado com
vezes (Ximenes, 2006). Dadas as tendências atuais, é previ- base na experiência adquirida com o Programa Piloto para a Proteção
sível que o aumento no número de rodovias venha a ocorrer de Florestas Tropicais do Brasil – PPG7 e em conformidade com os
nas regiões em que há uma carência destas, como nos es- princípios do Plano Amazônia Sustentável. Essa rodovia atende uma
tados do Amazonas e Acre, significando possivelmente uma das áreas de maior potencial econômico e diversidade social e biológi-
maior pressão sobre os ecossistemas e os recursos naturais ca da Amazônia. Ali vivem comunidades tradicionais, populações urba-
amazônicos nos próximos anos. nas e rurais e mais de trinta povos indígenas, totalizando de 2 milhões
de pessoas numa área que representa 24% da Amazônia brasileira.
As estradas informais merecem uma análise especial
pelo importante papel que tiveram na ocupação da Amazô- Um grupo de 21 ministérios e órgãos federais definirá suas ações com
nia. Existem milhares de quilômetros de estradas informais, base nas prioridades estabelecidas pelos governos estaduais e munici-
construídas em terras públicas, particularmente em áreas pais e pela sociedade civil.
de floresta, sem nenhum planejamento e sem as devidas Considerando que o Plano de Desenvolvimento Sustentável Regional
autorizações exigidas por lei. Um estudo feito pelo Imazon e o governo buscam fortalecer as políticas de gestão participativa, fo-
no estado do Pará, na área com a maior concentração de ram realizadas quinze consultas para tratar da criação de áreas protegi-
rodovias ilegais abertas para ter acesso aos recursos naturais, das, da viabilização de oportunidades econômicas de base sustentável
revelou que a extensão das estradas quadruplicou em um e da consolidação de políticas de monitoramento e controle ambiental
período de dez anos, passando de 5.042 km, em 1990, com o objetivo de reduzir a degradação dos recursos naturais.
para 20.769 km, em 2001. A maioria encontra-se em terras
públicas, reservas e áreas indígenas. Assim que as ações forem implementadas, muitas empresas e órgãos
governamentais terão de intensificar a fiscalização da agricultura e do
Assim, os novos projetos têm de contemplar ações sociais transporte de produtos madeireiros ilegais. O Ministério do Meio Am-
e ambientais com o objetivo de reduzir seu impacto. A Inicia- biente, em parceria com a Fundação Nacional do Índio (Funai), vem
tiva de Integração da Infra-estrutura Regional Sul-Americana trabalhando no combate ao desmatamento no Parque Xingu e nas
(IIRSA) objetiva promover o desenvolvimento da infraestrutu- terras indígenas Kaiabi, Baú e Menkrangnoti. A região será beneficiada
ra sob uma perspectiva regional, buscando a integração física com a criação de 10,6 milhões de hectares de unidades de conser-
dos países da América do Sul. É um ambicioso programa vação. Outras unidades de conservação serão criadas pelos governos
multinacional financiado BID, pela CAF e em parte pelo Brasil, dos estados do Amazonas e Pará, com o apoio do governo federal.
que envolve pela primeira vez os doze países do continente.
Entre suas metas está a construção de rodovias (em torno O Plano prevê ainda investimentos em infra-estrutura viária e em
de 300), pontes, hidrelétricas, gasodutos e outras obras de redes de energia elétrica. O governo investiu também no zoneamento
infra-estrutura. Segundo Killeen (2007), embora não exis- econômico-ecológico de toda a área de influência da BR-163. Além
tam previsões quanto ao impacto total dos investimentos da disso, serão desenvolvidos instrumentos para viabilizar o ordenamento
IIRSA, sabe-se que estes irão desencadear uma combinação territorial e a gestão ambiental da área. O Instituto Nacional de Coloni-
de forças que gerará uma perfeita tempestade de destruição zação e Reforma Agrária (Incra), a Polícia Rodoviária Federal e o Insti-
ambiental e social na Amazônia, além de colocar em perigo tuto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
a sobrevivência de comunidades indígenas que tentam se (Ibama) serão fortalecidos na região. Órgãos como a Polícia Federal e o
adaptar a um mundo globalizado. A IIRSA poderá intensificar Exército também integram o plano de operações conjuntas com a mis-
ENRIQUE CÚNEO / EL COMERCIO
os fatores que põem em risco a sobrevivência da Amazônia, são de desarticular quadrilhas de invasores de terras públicas e com-
entre os quais as mudanças climáticas e a derrubada das bater a ilegalidade e o crime na região. Serão desenvolvidas ações para
florestas para fins agrícolas (Killeen, 2007). a promoção da cidadania por meio de programas de assistência social
às famílias mais pobres, erradicação do trabalho infantil e combate ao
As rodovias são instrumentais para o desenvolvimento, e a trabalho escravo. O Programa Nacional de Educação e Reforma Agrária
sua necessidade é indiscutível. A questão é o planejamento do (Pronera) também ampliará suas redes de atendimento na região.
território. A história da Amazônia está repleta de desastres eco-
A CONSTRUÇÃO DE
lógicos e sociais e, em muitos casos, econômicos associados
ESTRADAS NA AMAZÔNIA
às rodovias, como a Marginal da Selva, no Peru, e a BR-364, no Elaboração: Muriel Saragoussi, Ministério do Meio Ambiente (Brasil).
AVANÇA SEM PARAR. Brasil, entre outras tantas dezenas (Dourojeanni,1998).
94
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >95
GRÁFICO 2.5
Amazônia: número de artigos publicados (por ano)
850
800
750
700
650
600
550
500
450
400
350
300
250
200
150
100
50
0
1956 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05
FÁBRICA DE IDEAS
Fonte: CLAES (2008).
Elaboração para PNUMA.
❱❱❱ O número de pesquisas e publicações científicas sobre a Amazônia é cada vez maior.
einovação
a devida avaliação de seus impactos, entre
eles o emprego de agroquímicos na mono-
tecnológica é a importantes pesquisas na região, estas esbar-
ram na limitada divulgação, articulação e aplica-
cultura e a incorporação de espécies da flora chave para um ção. A Organização do Tratado de Cooperação
A riqueza natural e cultural da Amazônia faz com que a região seja Por tratar-se a Amazônia de um importante centro de
ou florestais. O desenvolvimento científico e
tecnológico também está associado ao regis-
desenvolvimento Amazônica (OTCA) realiza simpósios, seminá-
rios e oficinas regionais e internacionais com
muito atraente como espaço para a promoção do desenvolvimento megabiodiversidade, os estudos sobre variados aspectos tro de patentes, por meio das quais se pro- inovador na a finalidade de socializar e capitalizar os traba-
científico e tecnológico. De fato, os cientistas de outras regiões do
mundo costumam ver a Amazônia como um laboratório aberto e de
da biodiversidade amazônica são muito numerosos. Mais
da metade dos artigos científicos registrados no banco
tege a propriedade intelectual da inovação,
resguardando-se, assim, o retorno do investi-
Amazônia.” lhos de pesquisa, bem como de promover a
coordenação e o intercâmbio interinstitucional
fácil acesso. Nesse aspecto, o desenvolvimento científico e tecnológi- de dados GEO Tracking tratam da Amazônia, abordando mento privado. para o desenvolvimento científico e tecnológi-
co se constitui numa força motriz que pode alterar a disponibilidade assuntos como ecologia, ciência ambiental, geociência e co regional. Em 2006, por exemplo, a OTCA e
e qualidade dos recursos naturais, bem como a qualidade ambiental meteorologia. No entanto, há uma demanda cada vez A Amazônia deu importantes contribui- o Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia
na região, além de, obviamente, contribuir para o seu progresso eco- maior pelo aprofundamento da caracterização e avaliação ções para melhorar o conhecimento e o uso (Concytec) organizaram o Primeiro Simpósio
nômico. nutricional de espécies priorizadas, crescimento e desen- de diferentes espécies da flora e da fauna: ANTONIO BRACK Científico Amazônico, em Iquitos, Peru. Os
volvimento vegetativo, caracterização do desenvolvimen- nela foram descobertas novas formas de (EXTRAÍDO DE: BRACK, seguintes temas foram considerados prioritá-
Um indicador sobre o interesse científico pela Amazônia é o nú- to reprodutivo, tecnologia para o aproveitamento integral vida e desenvolvidos métodos alternativos A., LA BUENA TIERRA) rios para a região: gestão da água, criação de
mero de artigos publicados nos periódicos científicos especializados. e desenvolvimento de estratégias de comercialização e que permitem aumentar a produtividade do peixes de água doce para consumo humano
Desde 1956, observa-se um crescimento gradual no número de ar- marketing, entre outros (Mantilla, 2006). solo, ao mesmo tempo em que se preservam (aqüicultura), biotecnologias aplicadas ao cul-
tigos publicados e, da década de 90 em diante, esse número tem os serviços ecossistêmicos, etc. Contudo, o tivo de plantas de interesse comercial, manejo
experimentado um aumento significativo (gráfico 2.5). A Amazônia não é alheia ao desenvolvimento cientí- desafio reside em articular e difundir esses das florestas e conservação da biodiversidade
fico e tecnológico internacionais, que experimentou um resultados. (Concytec, 2006). Nesse sentido, a OTCA está
Mais de 95% dos artigos sobre a Amazônia publicados nas revis- aumento considerável em razão das crescentes deman- formulando uma Estratégia de Ciência e Tecno-
tas científicas arbitradas contidas no banco de dados Web of Science das dos setores agroprodutivo, alimentar, cosmético e A institucionalidade científico-tecnológica logia para a Conservação e o Aproveitamento
foram escritos em inglês, o que mostra o interesse da comunidade farmacêutico. Esse desenvolvimento está voltado princi- da Amazônia é ampla. Os países da região con- Sustentável da Biodiversidade Amazônica.
acadêmica internacional pela Amazônia. É curioso notar que o número palmente para a elevação da produtividade das lavouras tam com institutos de pesquisa especializados
de artigos publicados em português é mais que o dobro dos publica- e a redução dos custos de manejo, entre outros aspectos. na Amazônia, que desenvolvem redes de cola- A baixa disponibilidade de recursos fi-
dos em espanhol (análise do GEO Tracking). Nesse sentido, foram desenvolvidas sementes e mudas boração e intercâmbio (ver quadro 2.4). nanceiros e humanos, contudo, representa
98
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >99
QUADRO 2.4
uma importante barreira para o desenvol-
vimento científico e tecnológico. Como se INSTITUIÇÕES DE PESQUISA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA
não bastasse a baixa prioridade da ciência, SEDIADAS NA AMAZÔNIA
tecnologia e inovação na agenda pública,
em vários países da região o orçamento Os países amazônicos compreenderam que, para valorizar
total destinado à área representa menos os recursos naturais, conservar a biodiversidade e admi-
de 1% do PIB. Não foram encontradas nistrar adequadamente os ecossistemas desse território,
informações específicas sobre a dotação é preciso contar com instituições de ciência e tecnologia
orçamentária para o desenvolvimento de especializadas na Amazônia. Atualmente existem três que
ciência e tecnologia na Amazônia. se destacam na Amazônia, caracterizadas principalmente
por ter certo grau de autonomia e sua sede principal em
Contrastando com esse cenário, cabe cidades amazônicas. Por ordem de antiguidade, são elas:
destacar os avanços científicos, tecnológicos
e de inovação capitaneados pelo Brasil na O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
região. Nessa área, a Ministério de Ciência (INPA), criado em 1952 e inaugurado em 1954, na cidade
e Tecnologia, em coordenação com outros de Manaus, Brasil, tem como objetivo pesquisar o meio
ministérios, criou um Programa de Pesquisa físico, as condições de vida e o bem-estar humano na
para o Desenvolvimento Científico e Tecno- Amazônia Legal do Brasil. É uma unidade de pesquisa que
lógico da Amazônia. goza de relativa autonomia e depende do Ministério de
Ciência e Tecnologia.
Além disso, o desenvolvimento da ro- por meio de consultas a indígenas, a proba- de alimentos, fármacos e cosméticos. A constante pro-
bótica aplicada a diferentes campos trouxe bilidade de sucesso aumenta para uma de cura por medicamentos novos e mais eficientes para
95%
vantagens como a identificação oportuna de cada cinco mil. Dessa forma, de acordo com combater o câncer, o diabetes, as infecções microbia- O Instituto de Pesquisas da Amazônia Peruana (IIAP),
problemas ambientais e a redução dos cus- tais evidências, os conhecimentos tradicio- nas, os problemas cardíacos, as dores e as inflamações organismo criado pelo artigo 120 da Constituição peruana
tos sociais. A cidade de Manaus, no Brasil, nais permitem reduzir o tempo necessário levou a um incremento nas pesquisas sobre produtos de 1979, é uma instituição técnica e autônoma respon-
é um importante pólo de desenvolvimento para o desenvolvimento de novos produtos, naturais vegetais. sável pelo inventário, pela pesquisa, pela avaliação e pelo
dessa área. ao mesmo tempo em que aumentam a pro-
DOS ARTIGOS controle dos recursos naturais da Amazônia peruana. É
babilidade de que estes produtos venham a SOBRE A AMAZÔNIA Assim, o desenvolvimento científico e tecnológico considerado pessoa jurídica de direito público interno e
As áreas de ciência e tecnologia baseiam- ser desenvolvidos de fato (Chadwick, 1990 PUBLICADOS na Amazônia pode optar entre dois caminhos a seguir: tem autonomia econômica e administrativa. Sediado na
se cada vez mais nos bens oferecidos pela citado por Belmont; Zevallos, 2004). NAS REVISTAS o da conservação dos serviços ecossistêmicos, da valo- cidade de Iquitos, está ligado ao poder executivo por meio
natureza e nos conhecimentos tradicionais CIENTÍFICAS rização dos conhecimentos tradicionais e da geração de do Ministério da Produção.
para desenvolver novos produtos alimentí- As universidades também são atores im- benefícios econômicos no médio e longo prazo; e o que
ARBITRADAS FORAM
cios, farmacêuticos e cosméticos. No entan- portantes no desenvolvimento da ciência e é alheio à conservação dos serviços ecossistêmicos e O Instituto Amazônico de Pesquisas Científicas (Sin-
to, as comunidades locais nem sempre par- tecnologia na Amazônia. Um dos temas que ESCRITOS EM visa apenas aos ganhos econômicos no curto prazo. chi), criado pela Lei 99 de 1993 como entidade científica
ticipam de forma equitativa na distribuição vêm sendo cada vez mais pesquisados é o INGLÊS. vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, possui auto-
dos benefícios derivados do aproveitamento grande número de espécies vegetais com Desenvolver o conhecimento científico sobre a nomia administrativa, personalidade jurídica e patrimônio
da biodiversidade e dos conhecimentos tra- propriedades medicinais. Essa linha de pes- Amazônia de modo a contribuir para melhorar as con- próprio. Sediado na cidade de Letícia, tem por objetivo a
dicionais. Segundo cálculos de M. J. Balik, quisa tem contado com o valioso apoio de dições de vida da população num contexto de desen- realização e divulgação de estudos e pesquisas científicos
a identificação etnobotânica realizada por grupos indígenas, que oferecem os seus co- volvimento sustentável é um desafio que há de ser de alto nível relacionados com a realidade biológica, social
membros das comunidades indígenas pode nhecimentos sobre as propriedades curativas encarado. Para promover a pesquisa básica e aplicada e ecológica da Amazônia colombiana.
ser de quatro a cinco vezes mais eficaz na das diversas espécies da flora. e o intercâmbio dos conhecimentos existentes, é pre-
detecção de compostos ativos para o de- ciso que exista maior cooperação. Entre as linhas de
senvolvimento de produtos farmacêuticos. Os últimos quinze anos viveram o res- pesquisa que necessitam ser desenvolvidas, destacam- Elaboração: Fernando Rodríguez Achung, IIAP.
Através de amostragem aleatória, identifi- surgimento do interesse por produtos natu- se: bioprospecção, cadeias produtivas (pesca e agroin-
cou-se um espécime com potencial comer- rais e suas possíveis aplicações no controle dústria), manejo florestal, recursos hídricos, saúde e
cial para cada dez mil espécies amostradas; de pragas agrícolas, bem como nos setores tecnologia de alimentos e modelagem ambiental.
100
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >101
GRÁFICO 2.6
Níveis da seca na região amazônica
30
MENOS DE nivel de agua (m)
1%
25
20
15
DA MASSA ANUAL
DO RIO AMAZONAS 10
PROVÉM DO DEGELO
5
NOS ANDES. Rio Negro em Manaus-anos secos
S O N D E F M A M J J A
HLT
2004-05
1925-26
1963-64
1982-83
1997-98
❱❱❱ As inundações atingem cada vez mais a Amazônia: a perda de cobertura florestal expõe o solo e
favorece o avanço da erosão e do assoreamento.
DANIEL BELTRA / GREENPEACE
118
HLT
116 2004-05
CLIMÁTICASE freqüência dos eventos climáticos extremos. É possível mento global, a situação se inverte se levar- 110
constatar a ocorrência de alterações no clima de todo mos em consideração a emissão de gases 108
EVENTOSNATURAIS o nordeste da América do Sul, incluindo a região ama- decorrente de mudanças no uso do solo (o 106
zônica, no último século, seguindo essa tendência. No capítulo 4 detalha os possíveis impactos do 104
Às diversas forças motrizes que incidem sobre a Amazônia já apre- século XX, o recorde de temperatura média mensal foi desmatamento no clima da região amazôni- Rio Amazonas-Iquitos (nível de água)
102
sentadas neste capítulo, soma-se a pressão exercida pelas mu- superado em 0,5 a 0,8 °C (Pabón, 1995; Pabón et al., ca e do mundo em geral). Fonte: Marengo et al. (2007). S O N D E F M A M J J A
danças no clima mundial. A Amazônia tem um forte vínculo com a 1999; Quintana-Gómez, 1999), e na região amazônica
GRÁFICO 2.7
configuração e modificação do clima. Em primeiro lugar, a floresta registrou-se uma tendência de aquecimento de +0,63 A tendência para o aumento da seca e
Precipitações na região amazônica
age como um gigantesco consumidor de calor, absorvendo a me- °C em um período de 100 anos (Vitória et al., 1998). Di- do calor poderia ser reforçada pela morte da
Índice de precipitação fluvial no norte da Amazônia
tade da energia solar que chega até ela por meio da evaporação versos estudos confirmam o aumento das temperaturas, floresta úmida na Amazônia oriental, em con-
da água pela folhagem. Os efeitos da energia captada pela floresta todavia em diferentes magnitudes. seqüência da substituição da floresta por ve-
amazônica estendem-se pelo mundo por meio de ligações deno- getação de savana e do semi-árido. Segundo
minadas “teleconexões climáticas”, muitas das quais ainda se está Nobre e Oyama (2003), essa situação pode-
começando a compreender. Em segundo lugar, trata-se de uma rá levar à transformação de 60% do território
reserva ampla e relativamente delicada de carbono, que pode ser da Amazônia em savana ainda neste século.
liberado na atmosfera por meio do desmatamento, da seca e do O gráfico 2.6 ilustra as tendências do volume
fogo, contribuindo para o aumento de gases de efeito estufa. Em e nível de água dos rios Negro e Amazonas
terceiro lugar, a água que escoa das florestas amazônicas para o A seca e o calor possivelmente nos anos secos em comparação com a mé- 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990
oceano Atlântico constitui entre 15 e 20% da descarga total mun- dia, pondo em evidência seu impacto em
dial de água doce fluvial, volume talvez suficiente para influenciar se tornariam mais intensos com termos de diminuição do volume de água, e,
Índice de precipitação fluvial no sul da Amazônia
3
algumas das grandes correntes oceânicas, que são importantes portanto, na intensidade da seca.
reguladoras do sistema climático. (Nepstad, 2007).
a morte da floresta úmida na 2
1
Amazônia oriental e sua substituição As tendências de precipitação na Amazô-
0
A mudança do clima constitui uma ameaça para a Amazônia, nia não estão totalmente claras. Como se de-
com implicações de escala global. O Painel Intergovernamental so- por vegetação do tipo cerrado e preende do gráfico 2.7, a variação no nível de
-1
-2
bre Mudanças Climáticas (Intergovernmental Panel on Climate Chan- chuva ao longo de várias décadas apresentou
semi-árido, processo que poderia -3
ge, ou IPCC na sigla inglesa) salientou no seu último relatório que tendências opostas nas regiões norte e sul 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990
as mudanças climáticas já estão ocorrendo e são irreversíveis no atingir 60% do seu território. da bacia amazônica (Marengo; Bhatt; Cun- Fonte: Marengo (2004) TAC.
102
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >103
QUADRO 2.5
ningham, 2000). O período de 1950-1976 foi chuvoso
no norte da Amazônia, ficando mais seco a partir de 1977 AMAZÔNIA: REGULADORA DO CLIMA
(IPCC, 2001), o que sugere uma variabilidade climática,
mas não um padrão definido de chuvas. A Amazônia exerce uma grande influência no transporte
de calor e de vapor d´água para as regiões localizadas em
Por outro lado, as mudanças climáticas influenciam di- latitudes mais altas. Tem ainda um papel muito importante
retamente o derretimento das geleiras dos Andes. Mas, se- no seqüestro de carbono atmosférico, com o que contri-
gundo Carlos Nobre, mesmo que as geleiras desapareçam bui para a redução do aquecimento global.
totalmente devido ao aquecimento global, seu efeito na va-
zão do rio Amazonas será muito pequeno e possivelmen-
te imperceptível na foz. Algumas constatações do projeto Com o desmatamento, a floresta deixará de atuar como
Páramo Andino (Páramo Andino Project, 2007) corrobo- reguladora do clima. O aumento da temperatura e a
ram essa afirmação: especialistas andinos calcularam que diminuição do nível das precipitações nos meses secos
o degelo representa aproximadamente 7 bilhões de m3/ poderão significar a savanização da Amazônia. Segundo
ano, o que representaria menos de 1% da massa anual do Marengo et al. (2007), os mapas de futuros cenários
rio Amazonas, isso sem levar em consideração que parte climáticos gerados pelos diferentes modelos do IPCC
do degelo escoa para os rios da vertente do Pacífico. Os apontam para um aquecimento sistemático em diferentes
pequenos rios dos Andes serão, portanto, muito afetados, regiões da América do Sul, inclusive na Amazônia, muito
gerando impactos ecológicos na região e afetando o abas- embora diferentes modelos com concentrações de gases
tecimento de água e o aproveitamento hidrelétrico. de efeito estufa iguais indiquem projeções climáticas re-
gionais discrepantes, especialmente com relação à chuva.
Um dos eventos climáticos cujas freqüência e intensida-
de aumentarão será o El Niño Oscilação Sul (ENOS), o qual
é, por sua vez, uma força motriz que explica a variabilidade
climática na América Latina (IPCC, 2007). O ENOS está as- ESSAS AMEAÇAS IMPÕEM GRANDES
sociado a estiagens no nordeste brasileiro, no altiplano pe- DESAFIOS. PARA SUPERÁ-LOS,
ruano e boliviano e na costa pacífica da América Central, DEPENDEMOS DA CRIATIVIDADE E DA ❱❱❱ A alteração do ciclo de chuvas na Amazônia já está ocasionando secas intensas, que
bem como anomalias nas precipitações no sul do Brasil e INICIATIVA DO MEIO CIENTÍFICO E, NO têm um forte impacto na ictiofauna e nas características dos solos.
no noroeste do Peru (Horel; Cornejo-Garrido, 1986). Foi o QUE SE REFERE À TOMADA DE DECISÕES, DANIEL BELTRA / GREENPEACE
que aconteceu nos anos 1997-1998, quando a seca foi res- DA ESFERA POLÍTICA.
ponsável por incêndios devastadores no estado de Roraima, Os rios amazônicos cia negativamente muitos sistemas hídricos ra todos os anos, contribuindo assim para o
e, no ano de 2005, quando um El Niño moderado reduziu amazônicos; (iii) mudanças na composição aquecimento global. Os incêndios são parti-
as chuvas ao longo do rio Negro, um importante tributário Marengo et al. (2007) também indicam que as áreas mais têm um papel de nutrientes dos rios devido a alterações na cularmente prejudiciais por fragmentarem os
do rio Amazonas. Cabe dizer que, de acordo com estudo sensíveis da floresta estariam localizadas entre o Tocan- produtividade da floresta, as quais atingem hábitats e gerarem impactos mais extremos
recente de Marengo et al. (2008), a seca que assolou o tins e a Guiana, atravessando a região de Santarém, que
importante no ciclo os organismos aquáticos; e (iv) níveis mais (Nepstad, 2007; Laurance; Williamson, 2001;
Brasil em 2005 foi causada pelo aquecimento das águas do apresenta padrões de precipitação mais parecidos com os e balanço hídricos elevados de sedimentação e assoreamento Cochrane; Laurance, 2002).
oceano Atlântico, e não pelo El Niño. No entanto, é consenso do Cerrado. Essa Amazônia seca teria uma vegetação do dos leitos dos rios que nascem na base da
no meio científico que o evento El Niño será mais freqüente tipo savana e apresentaria taxas mais elevadas de evapo- da região. Mudanças cordilheira dos Andes. Estudo divulgado em fevereiro de 2008
e intenso por causa do aquecimento global. transpiração, fazendo com que seus solos tendessem a ser por uma equipe composta de cientistas de
mais secos durante os meses de estiagem. A região ficaria
nesse regime Os rios da Amazônia exercem um impor- várias nacionalidades, da Universidade de
Todas essas mudanças ameaçam os ecossistemas muito mais vulnerável aos incêndios florestais, o principal afetam o hábitat e tante papel no ciclo e no balanço hídrico da re- Oxford, do Instituto Potsdam, entre outros,
terrestre e aquático da Amazônia. Esse último será parti- agente de conversão da floresta em savana. gião. As mudanças nesse regime (quantidade, concluiu que a floresta amazônica é a segun-
cularmente atingido pelo aumento da temperatura, que o comportamento qualidade e temporalidade) afetam o hábitat e da região mais vulnerável do planeta, depois
resulta em maior evaporação da água superficial e maior Essas ameaças representam um grande desafio. Enfrentá- o comportamento de muitas plantas e espécies do Ártico. Assim, em razão do desmatamento
transpiração das plantas, produzindo, assim, um ciclo hi- las demandará muita criatividade e iniciativa do meio
de muitas plantas de animais; algumas delas já estão apresentan- acelerado que vem causando a savanização
drológico mais intenso. Caso de fato ocorra uma redução científico, bem como da esfera política, no que se refere à e espécies de do sinais de adaptação às mudanças. gradual do seu território, a Amazônia, além de
no nível de precipitação durante a estação da seca, os tomada de decisões, exigindo grandes articulações multi- ser gravemente afetada pelas mudanças cli-
impactos no regime hidrológico da Amazônia serão mais institucionais e interdisciplinares para encontrar soluções animais. Outro efeito das secas ocorridas na Ama- máticas globais, poderá fechar um círculo vi-
intensos (Nijssen et al. , 2001). tecnicamente inovadoras e comprovadamente sustentáveis. zônia em razão das mudanças climáticas foi cioso no comportamento do clima em escala
o aumento na freqüência, e possivelmente global. As sociedades amazônicas reconhe-
As mudanças climáticas ameaçam os ecossistemas na intensidade, dos incêndios florestais (ver cem que as alterações climáticas terão como
aquáticos amazônicos de várias formas, por exemplo: Elaboração: Leonardo de Sá (INPE/MPEG/MCT). mais detalhes na seção 3.2). O desmatamen- conseqüências uma piora dos problemas de
(i) aquecimento da temperatura das águas, o que afe- to e os incêndios florestais são responsáveis saúde da população e a elevação os níveis de
ta algumas espécies de peixes e animais; (ii) redução pelo lançamento de centenas de milhões pobreza da região. Assim, é imperioso que as
da precipitação durante os meses secos, o que influen- de toneladas de gás carbônico na atmosfe- providências pertinentes sejam tomadas.
104
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >105
ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS
RECURSOS HÍDRICOS E
AGROPRODUTIVOS
BIODIVERSIDADE
FLORESTAS
ASSENTAMENTOS
SISTEMAS
HUMANOS
3.2 3.3
3.1 3.4
3.5
A
En esta sección se identifican los factores
AMAZONIA
que afectan la situación ambiental en la región.
HOJE
108
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >109
AUTORAS:
DOLORS ARMENTERAS - Instituto Alexander Von Humboldt – Colômbia
MÓNICA MORALES - Instituto Alexander Von Humboldt – Colômbia
CO-AUTORES:
MARLÚCIA BONIFÁCIO - Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) – Brasil
MARIA LUÍSA DEL RIO - Ministério do Meio Ambiente – Peru
CAMILO CADENA - Instituto Alexander Von Humboldt – Colômbia
ELSA GALARZA - Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico (CIUP) – Peru
ROSÁRIO GÓMEZ - Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico (CIUP) – Peru
BIODIVERSIDADE AMAZÔNICA
CONSERVACIÓN INTERNACIONAL
região um processo de degradação da biodiversidade compreendida
não só como um conjunto de ecossistemas e espécies, mas também
como diversidade genética e cultural.
Fontes: Castaño (1993); Rueda-Almonacid, Lynch e Amezquita (2004); Mojica et al. (2002); Ecociência, Ministério do Ambiente (2005); Ibisch e Mérida (2004); Funda-
ção Amigos da Natureza (FAN, s.d). Brasil: Sociedade Brasileira de Herpetologia. Disponível em: <http://www.SBherpetología.org.br> (para o total do Brasil), Ávila-Pires,
Hoogmoed e Vitt (2007). Peru: Sistema de Informações sobre a Diversidade Biológica e Ambiental da Amazônia Peruana (Siamazonia). Disponível em: <http://www.
A região amazônica Infelizmente, grande parte desses conheci- derada uma área relativamente homogênea, siamazonia.org.pe>.
mentos etnobotânicos está se perdendo de- estudos recentes revelam uma heterogenei-
é fundamental vido à aculturação ou ao desaparecimento dade espacial e diferenças florísticas em locais
de alguns povos indígenas (Álvarez, 2005). que anteriormente se acreditava semelhantes
para a manutenção (Tuomisto; Ruokolainen, 1997). tação (agricultura ou coleta de produtos natu- Perigo de Extinção (CITES) em todos os
do equilíbrio PADRÕES DA rais), na produção de artesanato e na medicina países amazônicos.
BIODIVERSIDADE As explicações sobre a grande diversida- tradicional. Existem mais de 2.000 espécies
climático global e de de espécies e padrões biogeográficos da de plantas identificadas como de utilidade na A alta biodiversidade da região também
De um modo geral, os ecossistemas seguem Amazônia baseiam-se em diferentes fatores, alimentação e na medicina, bem como na pro- favoreceu o desenvolvimento de atividades
a conservação e o um padrão latitudinal no planeta: os ecossis- como climáticos e históricos (Simpson; Ha- dução de óleos, graxas, ceras, etc. (Secretaria econômicas como aqüicultura, ecoturismo,
uso da diversidade temas tropicais são mais ricos em espécies ffer, 1978; Josse et al., 2007), e nas dife- Pro Tempore do Tratado de Cooperação Ama- zootecnia, agroindústria, caça ou extração
que os temperados frios de altas latitudes renças geológicas e geomorfológicas para zônica, 1995). A pesca é a principal fonte de florestal (de espécies madeireiras e não ma-
biológica, cultural e (Walter, 1985; Gaston; Williams, 1996). Ob- a heterogeneidade espacial, que originaram proteínas das populações locais da Amazônia, deireiras) (ver seções 3.2 e 3.4).
serva-se um padrão semelhante em níveis ambientes com uma alta diversidade no que mais importante que a caça.
dos conhecimentos taxonômicos mais altos (gêneros, famílias) se refere a sistemas de drenagem e à quali- A característica mais marcante dessa
tradicionais. (Blackburn; Gastón, 1996), atribuído tanto a dade do solo, responsáveis por importantes A caça e pesca da fauna silvestre ama- região é a sua floresta (ver seção 3.2). Na
fatores físicos (por exemplo, clima, geologia, diferenças na composição e estrutura dos