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PODER J U D I C I Á R I O

TRIBUNAL DE J U S T I Ç A DE SÃO PAULO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SAO PAULO


ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRATICA
ACÓRDÃO REGISTRADO(A) SOB N°

iiiiiiiiiiiiiilliiiiiiiiiiiiiiiiii
*01555285*
Vistos, relatados e discutidos estes autos de

APELAÇÃO CÍVEL COM REVISÃO n° 502 474-4/7-00, da Comarca de

SÃO PAULO, em que são apelantes e reciprocamente apelados

COOPERATIVA HABITACIONAL DOS BANCÁRIOS DE SÃO PAULO LTDA. -

BANCOOP E MARCOS AUGUSTO LIMA:

ACORDAM, em Nona Câmara de Direito Privado do

Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, proferir a

seguinte decisão: "NEGARAM PROVIMENTO AO APELO DA RÉ E DERAM

PROVIMENTO AO ADESIVO DO AUTOR, V.U.", de conformidade com o

voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos

Desembargadores SÉRGIO GOMES (Presidente, sem voto), ANTÔNIO

VILENILSON e JOSÉ LUIZ GAVIÃO DE ALMEIDA.

São Paulo, 18 de dezembro de 2007.

CARLOS STROPPA
Relator
PODER JUDICIÁRIO

T R I B U N A L DE J U S T I Ç A DO E S T A D O DE S Ã O P A U L O

Voto n° 15.811

9 a Câmara (Direito Privado)- rei. Des. Carlos Stroppa

Apelação Cível n° 502.474-4/7 - São Paulo

Apelantes: Cooperativa habitacional dos Bancários de São Paulo Ltda. -

Bancoop

Marcos Augusto de Lima

Apelados: Os mesmos

Ação indenizatória. Aquisição de imóvel


pelo sistema de cooperativa. Devolução de quantias
comprovadamente pagas. Não conhecimento do
apelo, porque as razões estão sem assinaturas ou
rubricas dos patronos da apelante, suscitado em
contra-razões rccursais. Razões que foram
tacitamente ratificadas. Preliminar de prescrição
corretamente afastada. Direito pessoal que se
subordina ao art. 177 do Código Civil de 1916 c.c.
art. 205 e 2028 do novo Código Civil. Pagamentos
efetuados que constam de relatórios enviados pela
própria ré ao autor. Par. único do art. 320 do CC
que admite o reconhecimento da validade da
quitação se de seus termos ou das circunstâncias
resultar haver sido paga a dívida. Ré que não
negou a emissão dos documentos. Restituição que
deve ser integral, computando-se todos os
pagamentos efetuados, sob pena de enriquecimento
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ilícito da ré. Improvido o recurso da ré, provido o


adesivo do autor.

1 Cuido de apelação interposta contra r sentença (fls 106/109) que

julgou procedente em parte a ação mdenizatóna promovida por Marcos

Augusto de Lima contra Cooperativa habitacional dos Bancários de São Paulo

Ltda - Bancoop

Apela a ré (fls 114/118) e adesivamente o autor (fls 132/137)

Pleiteia, a primeira, o reconhecimento da prescrição, nos termos do

artigo 206, parágrafo 3o, IV, do Código Civil, pois já decorridos sete anos, sem

qualquer providência, desde que o apelado foi informado que receberia sua

restituição conforme o estatuto e o regimento da entidade Afirma que a r

decisão não fundamentou a aplicabilidade do artigo 205 do Código Civil

Diz, ainda, que o artigo 43 da Lei das Cooperativas prevê o prazo

prescncional de quatro anos para a anulação de deliberações viciadas da

Assembléia Geral e que, por isso, outras pretensões devem respeitar igual

prazo

Alega que deve ser reconhecida a sucumbência do autor ou, ao

menos, a sucumbência recíproca porque a ação foi julgada procedente em

parte e o autor obteve menos da metade de sua pretensão inicial

O aderente argumenta que, está fartamente provado que todos os

pagamentos alegados foram recebidos pela ré e, por isso, diante da

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apresentação dos recibos que comprovam parte de pagamento das parcelas

deve ser presumido o pagamento de todas elas, já que não foram

impugnadas pela ré

Diz que o parágrafo único do artigo 320 do Código Civil estabelece a

presunção legal de quitação e que o artigo 322 do referido Diploma Legal

afirma a presunção de quitação das parcelas anteriores pelo pagamento da

última delas

Pleiteia a procedência integral de sua pretensão e prequestiona os

dispositivos legais citados

Os recursos, bem processados, preparados (fls 119/10, 138/140),

foram contra-arrazoados (fls 125/130 e fls 150/154)

É o relatório.

2 O autor, em suas contra-razões recursais, suscitou preliminarmente,

o não conhecimento do recurso por nuhdade insanável, qual seja, falta de

assinatura nas razões recursais da ré e apresentou seu recurso adesivo

Aberta vista à ré para oferecimento de contra-razões recursais

(fls 141) houve substabelecimento, sem reserva de poderes, pela patrona

anterior (fls 143/145) e apresentação de contra-razões ao recurso adesivo do

autor, pleiteando a reforma da sentença apenas "no que se refere às razões

da apelação interposta pela Apelada às fls 114 a 118' (fls 152)

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Ora, a ré, por seus advogados, ratificou implicitamente as razões do

apelo apresentado pela antecessora deles, suprindo, assim, a falha de

representação suscitada, embora não tenha sido intimada para fazê-lo

Assim, rejeitada a preliminar, conheço do recurso da ré e, por

conseqüência, do recurso adesivo do autor

Os fatos ocorreram sob a vigência do antigo Código Civil e a ação foi

ajuizada quando vigente a nova Lei A ação é de natureza pessoal e

prescrevia em vinte anos, consoante o disposto no artigo 177 do Código Civil

de 1 916, contados da data do documento que originou o pedido de cobrança

- notificação do apelante (fls 15) - , datada em 26 de maio de 1 999

(desconhecida a data de recebimento) A ação foi distribuída em 08 de maio

de 2006 e, por isso, a prescrição não se efetivou

O artigo 205 do novo Código Civil vigente na época do ajuizamento da

ação, dispõe que a prescrição ocorre em dez anos a quando a lei não lhe

haja fixado prazo menor O artigo 2028 do Código Civil estabelece a regra de

transição para as hipóteses em que o prazo prescncional foi reduzido pela Lei

nova e já houver transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei

revogada

No caso sob foco o prazo prescncional foi reduzido, mas não

transcorreu mais da metade do tempo, e, por isso, correta a decisão que

reconheceu a aplicabilidade do prazo de dez anos estabelecido pelo novo

Código Civil, e afastou a alegação da prescrição

Rejeito, por isso, a arguição de prescrição

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O aderente pretende receber todos os valores pagos à pela ré e que

foram por ela relacionados nos demonstrativos para fins de imposto de renda

dos exercícios 1997 e 1998

A restituição pretendida, e que decorre da eliminação do autor dos

quadros da Cooperativa, implica na devolução do que foi efetivamente pago,

sob pena de enriquecimento ilícito por parte da ré Ademais disso, a ré,

embora tenha impugnado os documentos juntados pelo autor, não negou

expressamente os tenha confeccionado e o parágrafo único do artigo 320 do

Código Civil dispõe que a quitação é válida, mesmo sem os requisitos do

caput "se de seus termos ou das circunstâncias resultar haver sido paga a

dívida"

O documento de folhas 26/27, cópia emitida via "fax" pela ré, e datado

de 07 de dezembro de 2000, demonstra quais foram os pagamentos

efetuados pelo autor, a data em que foram realizados e qual o saldo devedor,

tudo devidamente atualizado

Nem se discute a alegada cessão de direitos e eventual recebimento

dos valores pagos pelo autor, hipótese em que a ré estaria na posse dos

documentos que autorizaram essa cessão, já que o autor havia sido

eliminado de seus quadros

A ré não logrou demonstrar, como lhe competia (art 333, II, do CPC),

os fatos impeditivos, extmtivos ou modificativos do direito alegado pelo autor,

ou seja, que os valores que lançou como pagos pelo autor nos documentos

apresentados com a exordial não foram elaborados por ela

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Desse modo, tendo sido demonstrados os pagamentos efetuados pelo

autor, por meio de relatórios e demonstrativos para fins de imposto de renda

dos exercícios 1997 e 1998 emitidos pela ré, a devolução deve respeitá-los

integralmente, porque de seus termos ou das circunstâncias, resulta haver

sido paga a dívida

Afasto, por isso, em parte, a r sentença para julgar, integralmente

procedente a ação e condenar a ré ao pagamento em favor do autor de todas

as importâncias efetivamente pagas e descritas no relatório de folhas 11 e

reproduzidas às folhas 26, devidamente atualizadas das datas de pagamento

lá constantes, deduzidas da taxa de administração de 10% (dez por cento) e

acrescidas de juros de mora a partir da citação, além de custas, despesas

processuais e honorários advocatícios fixados em 10% (dez por cento) sobre

o valor total da condenação

O prequestionamento pretendido constitui questão que deve ser

apreciada pelo Pretóno Excelso, segundo dispõem as Súmulas 282 e 356

daquela augusta Corte

A solução ora adotada afasta a pretensão da ré de alterar a sua

condenação nos ônus sucumbenciais

Pelo exposto, nego provimento-ap apelo da ré e dou provimento ao


/
adesivo do autor

CARLOS STROPP/A

Des. Relator

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