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Material da aula de Métodos Hermenêuticos (Coletânea de Jurisprudência)

Jurisprudência nº1
Número do processo: 1.0470.02.007528-4/001(1)
Relator: DÁRCIO LOPARDI MENDES
Relator do Acordão: DÁRCIO LOPARDI MENDES
Data do Julgamento: 15/03/2007
Data da Publicação: 23/03/2007
Inteiro Teor:
EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA -
POLICIAL MILITAR - ALTERAÇÃO DO ART. 125 DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL PELA EC Nº 45/2004 - CONFLITO DE COMPETÊNCIA - JUSTIÇA
MILITAR - JUSTIÇA COMUM. Segundo a sistemática adotada pelo texto
constitucional, a competência da Justiça do Militar é taxativa, não cabendo
ao intérprete estendê-la. Sendo assim, seguindo as regras hermenêuticas,
entre elas a INTERPRETAÇÃO GRAMATICAL, criada pela escola
exegética, onde o Direito deveria ser aplicado simplesmente de acordo
com a vontade do legislador, ou seja, a INTERPRETAÇÃO ficava adstrita
a palavra ou texto legal, torna clara a competência da Justiça Comum. A
questão da INTERPRETAÇÃO GRAMATICAL está indissoluvelmente
arraigada nas questões léxicas, parte-se do pressuposto de que a ordem
das palavras e o modo como elas estão conectadas são importantes para
obter o correto significado da norma. A norma deixa claro em seu
conteúdo que é de competência da Justiça Militar julgar atos disciplinares
que atinjam os policiais, mas não os atos de responsabilidade por
improbidade administrativa, que tem repercussão, não no âmbito da
instituição, mas sim no âmbito da social, e prejuízo ao erário público.

AGRAVO N° 1.0470.02.007528-4/001 - COMARCA DE PARACATU -


AGRAVANTE(S): WALTERLI ALVES DE SOUSA - AGRAVADO(A)(S):
MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS - RELATOR: EXMO. SR.
DES. DÁRCIO LOPARDI MENDES

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 4ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça


do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na
conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à
unanimidade de votos, EM NEGAR PROVIMENTO.

Belo Horizonte, 15 de março de 2007.

DES. DÁRCIO LOPARDI MENDES - Relator

NOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. DÁRCIO LOPARDI MENDES:

VOTO

Trata-se de recurso interposto contra decisão proferida pelo MM. Juiz de


Direito da 1ª Vara Cível da Comarca de Paracatu/MG, nos autos da
"Argüição de Incompetência Absoluta do Juízo" interposta por Walterli
Alves de Sousa em face do Ministério Público do Estado de Minas Gerais,
que rejeitou o pedido de incompetência absoluta do juízo.

Alega o agravante, em suas razões recursais, que com o advento da


Emenda Constitucional 45/2004, com a alteração do art. 125, § 4º e § 5º,
as regras regulamentadoras da perda de cargo e/ou graduação dos
servidores militares, ficaram obrigatoriamente a encargo do juízo militar.

O recurso foi recebido às f. 109/111, apenas no costumeiro efeito


devolutivo.

Às f. 127/128 o MM. Juiz da causa prestou informações, mantendo a


decisão agravada e comunicando que o agravante cumpriu o disposto no
art. 526 do CPC.

Devidamente intimado, o agravado apresentou resposta ao recurso, às f.


133/141, pugnando pela manutenção do decisum.

Às fls. 145/153, o douto Procurador de Justiça manifestou-se pelo


desprovimento do recurso.

Conheço do recurso porquanto presentes seus pressupostos de


admissibilidade.

A controvérsia dos autos reside em estabelecer o juízo competente para


processar e julgar o ato de improbidade administrativa praticado por
Policial Militar.

Nesse diapasão, cumpre analisar o art. 125, §§ 4º e 5º, da Constituição


Federal:

§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos


Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra
atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a
vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do
posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças.

§ 5º Compete aos juízes de direito do juízo militar processar e julgar,


singularmente, os crimes militares cometidos contra civis e as ações
judiciais contra atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho de
Justiça, sob a presidência de juiz de direito, processar e julgar os demais
crimes militares.

Segundo a sistemática adotada pelo texto constitucional, a competência


da Justiça do Militar é taxativa, não cabendo ao intérprete estendê-la.

Sendo assim, seguindo as regras hermenêuticas, entre elas a


INTERPRETAÇÃO GRAMATICAL, criada pela escola exegética, onde o
Direito deveria ser aplicado simplesmente de acordo com a vontade do
legislador, ou seja, a INTERPRETAÇÃO ficava adstrita a palavra ou texto
legal, torna claro a competência da Justiça Comum.

A questão da INTERPRETAÇÃO GRAMATICAL está indissoluvelmente


arraigada nas questões léxicas, parte-se do pressuposto de que a ordem
das palavras e o modo como elas estão conectadas são importantes para
obter o correto significado da norma.

A norma deixa claro em seu conteúdo que é de competência da Justiça


Militar julgar atos disciplinares que atinjam os policiais, mas não os atos
de responsabilidade por improbidade administrativa, que tem repercussão,
não no âmbito da instituição, mas sim no âmbito da social, e prejuízo ao
erário público.

Assim, dúvidas podem surgir quando a norma conecta substantivos e


adjetivos ou usa pronomes relativos, dessa forma a INTERPRETAÇÃO
GRAMATICAL obriga o jurista a tomar consciência da letra da lei.

A exegese da norma introduzida pela Emenda Constitucional no 45 é clara


ao atribuir, taxativamente, o rol dos atos e dos atos que são de
competência da justiça especializada. A INTERPRETAÇÃO GRAMATICAL
do dispositivo não permite entender ao ato de improbidade administrativa.

Tem-se por pressuposto, que a norma não contém palavras inúteis, regra
de INTERPRETAÇÃO essa mencionada por Luís Roberto Barroso:

O intérprete da Constituição deve partir da premissa de que todas as


palavras do Texto Constitucional têm uma função e um sentido próprios.
Não há palavras supérfluas na Constituição, nem se deve partir do
pressuposto de que o constituinte incorreu em contradição ou obrou com
má técnica." (INTERPRETAÇÃO e Aplicação da Constituição 3a ed. São
Paulo: Saraiva, 1999. p. 130).

No mesmo sentido destaca Miguel Reale:

O primeiro dever do intérprete é analisar o dispositivo legal para captar o


seu pleno valor expressional. A lei é uma declaração da vontade do
legislador e, portanto, deve ser reproduzida com exatidão e fidelidade.

(...)

A lei é uma realidade morfológica e sintática que deve ser, por


conseguinte, estudada do ponto de vista GRAMATICAL. (...) Toda lei tem
um significado e um alcance que não são dados pelo arbítrio imaginoso do
intérprete, mas são, ao contrário, revelados pelo exame imparcial do
texto. (Lições Preliminares do Direto, ed. Saraiva, 27ª edição, 2004,
p.279)

Caso fosse a intenção do legislador, a complementação seria necessária,


principalmente se levarmos em conta que o mesmo texto constitucional
destacou em seu art. 37, § 4º, a especificidade deste ato.

Por oportuno, transcrevo:

§ 4º - Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos


direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e
o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem
prejuízo da ação penal cabível.

Já nesse artigo o legislador deixou expresso a exceção, qual seja, sem


prejuízo da ação penal. Assim, resta claro que quando há necessidade de
especificação o legislador sempre destacará.

Destarte, tenho que o ato em questão, praticado pelo militar é de


competência cível. Agora, quanto ao julgamento de sanção disciplinar
dentre da instituição em que faz parte, ai sim, é de competência da
Justiça Militar.

Nesse sentido, ressaltou com propriedade o Douto Procurador de Justiça,


em seu parecer, à f. 148:

Seguindo a tradição do nosso ordenamento jurídico pátrio, que sempre


buscou preservar a autonomia dos ramos do direito civil, penal e
administrativo, o mesmo fato poderá ter repercussão nas três áreas; as
responsabilidades criminal e cível, no entanto, são distintas e devem
permanecer apartadas.

Com relação ao ato de improbidade administrativa, como cediço, trata-se


de normas fundamentais e inarredáveis do exercício das atividades
administrativas, consistindo, assim, em parâmetros de validade da
conduta administrativa.

Por disposição expressa da Lei de Improbidade Administrativa (art. 4º), é


dever de todos os agentes públicos, de qualquer nível e esfera
hierárquica, exercer as suas funções com observância dos princípios da
legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade, tendo em vista
sempre o interesse público e o bem estar social.

Descreve a Lei 8.429/92 como atos de improbidade administrativa não


somente aqueles que importam em enriquecimento ilícito (art. 9º) e
prejuízo ao erário (art. 10), como também aqueles que atentam contra os
princípios da administração pública, nos termos do art. 11, estando
previstas no artigo as penas cominadas a cada forma de improbidade.

A boa técnica recomenda analisar se o ato praticado pelo agente está em


consonância com os princípios administrativos que devem nortear a
atividade estatal e, em um segundo momento, a ocorrência de outros
efeitos, como o dano ao patrimônio público e o enriquecimento ilícito,
passando-se à aplicação das sanções previstas.

Como ensina Emerson Garcia e Rogério Pacheco, na obra Improbidade


Administrativa, 2ª edição, editora Lúmen Júris, 2004:

(...) os desvios comportamentais que infrinjam a normatividade estatal ou


os valores morais de determinado setor em troca de uma vantagem
correlata, manifestar-se-ão como formas de degradação dos padrões
ético-jurídicos que devem reger o comportamento individual nas esferas
pública e privada. (p.03)

Continua o mesmo autor:

Especificamente em relação à esfera estatal, a corrupção indica o uso ou a


omissão, pelo agente público, do poder que a lhe outorgou em busca da
obtenção de uma vantagem indevida para si ou para terceiros, relegando
a plano secundário os legítimos fins contemplados na norma. Desvio de
poder e enriquecimento ilícito são elementos característicos da corrupção.
(p.07)

Dessa forma, outro fato que justifica o julgamento do ato pela Justiça
Comum, é sua repercussão na sociedade e o prejuízo no erário público,
uma vez que a imparcialidade nos julgamentos deve ficar garantida, sob
pena de comprometer a disciplina interna das corporações.

Nesse sentido o citado autor, ao comentar sobre a competência doa


Justiça Militar, estabelece:

Não nos parece que a norma vise a fim mais amplo do que o sugerido,
pois entendimento contrário em muito comprometeria a disciplina interna
das corporações, culminando em afrouxar os freios inibitórios das praças.

Assim, tratando-se de conduta que se subsuma a determinado tipo penal


militar, à Justiça Militar caberá julgá-lo, enquanto a perda da graduação
dependerá de pronunciamento do Tribunal competente. A mesma consta,
no entanto, poderá consubstanciar infração disciplinar ou ato de
improbidade, cabendo, respectivamente, ao Comandante-Geral e ao juízo
monocrático decidirem sobre a perda de cargo. Essa conclusão preserva a
harmonia entre as instâncias criminal, administrativa e civil, mantendo a
harmonia do sistema. (p.505/506)

Ademais, cumpre registrar que o agravante já foi julgado pelo ato


indisciplinar pela Justiça Militar, tendo sido negado o provimento ao
representante do Ministério Público.

Isto posto, NEGO PROVIMENTO ao agravo, mantendo a decisão agravada,


para declarar a Justiça Comum competente para julgar a presente ação
civil pública.

Custas, pelo agravante.

Votaram de acordo com o(a) Relator(a) os Desembargador(es): ALMEIDA


MELO e CÉLIO CÉSAR PADUANI.

SÚMULA : NEGARAM PROVIMENTO.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

AGRAVO Nº 1.0470.02.007528-4/001

Jurisprudência nº2
Jurisprudência nº3
Jurisprudência 4
Jurisprudência 5

HC 87794 / BA - BAHIA
HABEAS CORPUS
Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO
Julgamento: 14/11/2006 Órgão Julgador: Primeira Turma
Publicação
DJ 02-02-2007 PP-00114 EMENT VOL-02262-04 PP-00810
LEXSTF v. 29, n. 339, 2007, p. 430-438
Parte(s)
PACTE.(S) : GEOVÂNIO GOMES DE LIMA
IMPTE.(S) : TAURINO ARAÚJO
COATOR(A/S)(ES) : PRESIDENTE DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Ementa

HABEAS CORPUS - VERBETE Nº 691 DA SÚMULA DO SUPREMO - SUPLANTAÇÃO.


Uma vez julgado pelo Superior Tribunal de Justiça o habeas no qual indeferida a inicial,
vindo à balha, no Supremo, nova medida, fica suplantada a discussão no tocante ao Verbete
nº 691 da Súmula da Corte Maior. HABEAS CORPUS - OBJETO. O tema versado na
impetração deve ter merecido enfrentamento no Superior Tribunal de Justiça, sendo que o
silêncio a respeito, no acórdão proferido, apenas deixa de surtir efeitos no campo da
concessão da ordem de ofício. PRISÃO PREVENTIVA - ORDEM PÚBLICA -
SUBJETIVISMO. A busca da proteção da ordem pública há de estar calcada em fatos
concretos, descabendo potencializar o subjetivismo e, a mercê de capacidade intuitiva,
imaginar dados passíveis de acontecer como são exemplos a indignação da opinião pública, a
preservação da sociedade e a provável vingança de parentes da vítima. PRISÃO
PREVENTIVA - ORDEM PÚBLICA - REPERCUSSÕES DO DELITO. A ordem pública a
ser preservada concerne ao futuro, mostrando-se impertinente, sob pena de colocação do
princípio da não-culpabilidade em segundo plano, empolgar violência ocorrida considerado o
delito. PRISÃO PREVENTIVA - CRIME HEDIONDO - RELAXAMENTO. A interpretação
teleológica da Lei nº 8.072/90 é conducente a concluir-se pela possibilidade de relaxamento da
prisão preventiva. PRISÃO PREVENTIVA - INSTRUÇÃO CRIMINAL. A viabilidade da
instrução criminal, sob o ângulo da custódia preventiva, pressupõe ato concreto que a revele,
ante a postura do acusado, em risco.

Jurisprudência nº6

Número do processo: 1.0433.03.072193-3/001(1)


Relator: AUDEBERT DELAGE
Relator do Acordão: AUDEBERT DELAGE
Data do Julgamento: 17/06/2004
Data da Publicação: 04/08/2004
Inteiro Teor:
EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO - TRANSFERÊNCIA DE
EMPREGADO PÚBLICO - ESTUDANTE UNIVERSITÁRIO - NEGATIVA DE
MATRÍCULA - INADMISSIBILIDADE - DISTINÇÃO ENTRE EMPREGADO
PÚBLICO SERVIDOR - INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA EM FAVOR DO
BENEFICIÁRIO DA PRERROGATIVA LEGAL.

APELAÇÃO CÍVEL/REEXAME NECESSÁRIO Nº 1.0433.03.072193-3/001


- COMARCA DE MONTES CLAROS - REMETENTE: JD 2 V. FAZ. PUBL.
REG. PUBL. FAL. CONC. COMARCA MONTES CLAROS - APELANTE(S):
UNIMONTES UNIVERSIDADE ESTADUAL MONTES CLAROS -
APELADO(A)(S): GEOVANE MARTINS FERREIRA - AUTORIDADE
COATORA: REITOR UNIMONTES UNIVERSIDADE ESTADUAL MONTES
CLAROS - RELATOR: EXMO. SR. DES. AUDEBERT DELAGE

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a QUARTA CÂMARA CÍVEL do Tribunal


de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório
de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas
taquigráficas, à unanimidade de votos, EM CONFIRMAR A SENTENÇA
NO REEXAME NECESSÁRIO, PREJUDICADO O RECURSO VOLUNTÁRIO.

Belo Horizonte, 17 de junho de 2004.

DES. AUDEBERT DELAGE - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. AUDEBERT DELAGE:

VOTO

Trata-se de reexame necessário e de apelação interposta contra a r.


sentença de fls. 33/38, que, convalidando a liminar deferida, concedeu
a segurança postulada por Geovane Martins Ferreira, no sentido de
determinar à autoridade coatora que procedesse a sua matrícula,
junto à Faculdade de Economia da Universidade Estadual de Montes
Claros, em decorrência de sua transferência "no interesse do serviço",
pedido este que lhe havia sido negado pela autoridade coatora, ao
argumento de não ser o autor servidor PÚBLICO, mas sim
empregado PÚBLICO, eis que integrante dos quadros do Banco do
Brasil S/A , não podendo ser contemplado com vantagem concedida
apenas a servidor, beneficiário da Lei 8.112/90.

Insurge-se a Universidade Estadual de Montes Claros, ao argumento


de ser o impetrante empregado de uma sociedade de economia mista,
pelo que não faz jus aos benefícios concedidos ao servidor PÚBLICO,
no que pertine à sua matrícula em curso superior de ensino, na
localidade onde passou a residir, em decorrência de sua transferência
"ex officio". Aduz a apelante que a própria fundamentação legal
utilizada pelo impetrante – art. 1º da Lei 9536/97 – não lhe outorga o
direito pleiteado, vez que aquela lei simplesmente reitera e ratifica os
preceitos da Lei 8.112/90, que se refere à possibilidade apenas do
servidor e não do empregado PÚBLICO, obter o benefício da
transferência, por possuírem regimes jurídicos distintos.

Como relatório adoto, ainda, o da r. decisão hostilizada, acrescentando


que a douta Procuradoria de Justiça, em parecer do ilustre Dr. Olintho
Salgado de Paiva, f. 56/61 TJ, manifestou-se pela confirmação da
sentença.

Conheço do reexame e da apelação, eis que preenchidos seus


pressupostos de admissibilidade.

O tema deste mandamus diz respeito a pedido de transferência de


matrícula do curso de graduação em Economia, para a Universidade
Estadual de Montes Claros, formulado por empregado PÚBLICO –
FUNCIONÁRIO do Banco do Brasil S/A - sociedade de economia
mista, cujo pessoal é regido pelo direito privado (Consolidação das
Leis do Trabalho), por interesse do serviço, com o qual não concorda a
autoridade coatora (doc. fls. 14/15), em virtude de a norma
regulamentadora do assunto, a princípio, aplicar-se, tão-somente aos
servidores públicos ocupantes de cargos públicos, regidos pelo Regime
Estatutário.

Tenho o posicionamento de que, na existência de divergência


jurisprudencial sobre a questão, deve prevalecer a hipótese mais
benéfica ao jurisdicionado, devendo prevalecer a r. sentença em
reexame. O art. 99 da Lei 8.112/90 outorga o direito em questão,
quando da transferência "ex-officio", ao servidor estudante. Constata-
se que o impetrante, FUNCIONÁRIO do Banco do Brasil, sociedade
de economia mista de natureza privada com pigmentações de direito
PÚBLICO, regido pela Consolidação das Leis do Trabalho – art. 173,
parágrafo 1º, inciso II da CR/88, é tecnicamente empregado
PÚBLICO.

Com efeito, é o Estatuto dos Servidores Públicos Federais que


regulamenta a matéria:

"Art. 99. Ao servidor estudante que mudar de sede no interesse da


administração, é assegurada, na localidade da nova residência ou na
mais próxima, matrícula em instituição de ensino congênere, em
qualquer época, independentemente de vaga".

Hely Lopes Meirelles, sobre as Sociedades de Economia Mista leciona


"são pessoas jurídicas de direito privado, com participação do Poder
PÚBLICO". Em seguida acrescenta: "a lei de sociedades anônimas (lei
6404, de 15.12.76) estabelece que as sociedades de economia mista
ficam sujeitas aos seus preceitos, sem prejuízo de disposições
especiais de lei federal (art. 235)"

A meu ver, deve ser estendida a prerrogativa legal aos empregados


públicos que podem ser considerados servidores em sentido amplo.
Edmur Ferreira de Faria, em sua obra "Curso de Direito Administrativo
Positivo", fazendo remissão a outros conceituados doutrinadores,
expõe:

"Maria Sylvia Zanella de Pietro considera servidores públicos aqueles


que se enquadram nessa definição; os empregados públicos e os
admitidos por tempo determinado, para atender a necessidades
temporárias de excepcional interesse PÚBLICO, nos termos do art.
37, IX, da Constituição Federal, regulamentado pela Lei 8.745/93.
Celso Antônio Bandeira de Mello, por seu turno, ensina que servidor
PÚBLICO, à luz do comando constitucional, é conceito lato
abrangendo os servidores públicos propriamente, pertencentes à
Administração direta, às Fundações Públicas e às Autarquias e também
os empregados das empresas públicas e sociedades de economia
mista."

Conforme salientou o ilustre Procurador de Justiça oficiante os


empregados públicos são equiparados, por leis especiais, a
"funcionários públicos" para diversos efeitos, inclusive para fins
penais, podendo cometer crime de peculato (crime próprio) por
exemplo, não se mostrando admissível que suporte os ônus sem que
se alargue a INTERPRETAÇÃO legal para que aufira os bônus.

Há que se observar as normas constitucionais no sentido da ampla


acessibilidade de todos à educação e ao ensino (art. 205), além da
busca pela formação e aperfeiçoamento dos servidores da União,
Estados e Distrito Federal (art. 39, § 2º).

Esse tem sido o entendimento desta egrégia Corte em casos de


estreita semelhança fática:

"CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO - EMPREGADO PÚBLICO -


SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA - MATRÍCULA EM INSTITUIÇÃO DE
ENSINO SUPERIOR - TRANSFERÊNCIA DE MUNICÍPIO – INTERESSE
PÚBLICO - CONDIÇÃO DE ALUNO EM OUTRA INSTITUIÇÃO -
DESENVOLVIMENTO DA PESSOA - FORMAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO
DOS AGENTES A SERVIÇO DO ESTADO - INTELIGÊNCIA DO ART. 205,
DA CONSTITUIÇÃO A REPÚBLICA. Ao empregado PÚBLICO de
sociedade de economia mista deve ser assegurada a matrícula em
instituição de ensino superior congênere, quando esta for requerida
em função de transferência de Município por razões de interesse
PÚBLICO profissional próprio do Ente, quando já perfeita a condição
de aluno em outra instituição de ensino, prestigiando-se o
desenvolvimento da pessoa, formação e aperfeiçoamento dos agentes
a serviço do Estado, nos termos da norma constitucional de regência."

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0000.00.320106-8/000 - COMARCA DE


MONTES CLAROS - APELANTE(S): REITOR UNIMONTES
UNIVERSIDADE ESTADUAL MONTES CLAROS - APELADO(S): AUZIER
STOKLER VALADARES FILHO - RELATOR: EXMO. SR. DES. DORIVAL
GUIMARÃES PEREIRA
Não se pode perder de vista também a consolidação no tempo da
situação do impetrante, que foi transferido por interesse do serviço
PÚBLICO, teve liminar deferida em 24 de fevereiro de 2003 para que
fosse matriculado em instituição de ensino congênere à que
freqüentava e vem cumprindo desde então o curso de economia,
devendo estar hoje no 5º período daquele curso.

Assim, devemos concluir que o regime contratual que define as


relações jurídicas entre empregado e servidor não pode constituir
causa impeditiva da aplicação do privilégio do art. 99 da lei 8.112/90.

Pelas razões expostas, EM REEXAME NECESSÁRIO, mantenho a r.


sentença, PREJUDICADA A APELAÇÃO.

Custas ex lege.

O SR. DES. MOREIRA DINIZ:

VOTO

De acordo.

O SR. DES. CARREIRA MACHADO:

VOTO

De acordo.

SÚMULA : CONFIRMARAM A SENTENÇA NO REEXAME NECESSÁRIO,


PREJUDICADO O RECURSO VOLUNTÁRIO.

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