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“Querido Osho,
Eu venho de uma família na qual ocorreram quatro suicídios no lado materno, incluindo minha
avó. Como isto afeta a morte de uma pessoa? O que pode ajudar a superar essa perversão da
morte que é um tema presente na família?
Eu não estou dizendo que você deve cometer suicídio. Eu estou dizendo que a sua vida,
tal como ela é, está levando você ao suicídio. Mude a sua vida.
E reflita sobre a morte. Ela pode vir a qualquer momento, por isto não considere
mórbido pensar sobre a morte. A morte é a culminação da vida, é o próprio crescendo da vida.
Você tem que tomar nota disto. A morte está vindo. Isto tem que acontecer. Você tem que se
preparar para ela e a única maneira de se preparar para a morte, a maneira correta, não é
cometendo suicídio; a maneira correta é morrer a cada momento para o passado. Esta é a
maneira correta. Isto é o que se supõe que um sannyasin faça: morrer a cada momento para o
passado, nunca carregar o passado por um simples momento. A cada momento, morrer para o
passado e nascer para o presente. Isto irá mantê-lo revigorado, jovem, vibrante, radiante; isto
irá mantê-lo vivo, pulsante, excitado e extático. E o homem que sabe como morrer a cada
momento para o passado, sabe como morrer, e esta é a maior arte e habilidade. Assim, quando
a morte chega a tal homem, ele dança com ela, ele abraça-a. Ela é uma amiga, não é inimiga.
É Deus que chega a ele sob a forma de morte. É um relaxamento total com a existência. É
tornar-se novamente o todo, é voltar a ser um com o todo.
Então, não chame isto de perversão.
Você disse: ‘Eu venho de uma família na qual ocorreram quatro suicídios no lado
materno, incluindo minha avó.’
Não condene essas pobres pessoas, e não pense por um momento que elas tenham sido
pervertidas.
‘Como isto afeta a morte de uma pessoa? O que pode ajudar a superar essa perversão
da morte que é um tema presente na família?’
Não chame isto de perversão; não é. Aquelas pessoas simplesmente foram vítimas. Elas
não conseguiram conviver com a sociedade neurótica, e decidiram desaparecer entrando no
desconhecido. Tenha compaixão por elas, não as condene. Não as denigre, não dê nomes, não
chame isso de perversão ou algo assim. Tenha compaixão por elas e as ame.
Não há necessidade alguma de segui-las, mas tenha sentimentos por elas. Elas devem
ter sofrido muito. Não é fácil decidir abandonar a vida; elas devem ter sofrido intensamente;
elas devem ter visto o inferno nesta vida. Não se decide facilmente pela morte, porque
sobreviver é um instinto natural. Segue-se sobrevivendo a todo tipo de situações e condições.
As pessoas continuam comprometendo-se, apenas para sobreviver. Quando alguém abandona a
sua vida, isto simplesmente demonstra que está além de sua capacidade comprometer-se; a
exigência é demasiada. A exigência é tanta e não vale a pena; somente então é que se decide
cometer suicídio. Tenha compaixão para com aquelas pessoas.
E se você sentir que algo está errado, esse algo errado está na sociedade, não naquelas
pessoas. A sociedade é pervertida! Numa sociedade primitiva ninguém comete suicídio. Eu
estive em tribos primitivas na Índia; por séculos eles nunca souberam de alguém que tivesse
cometido suicídio. Eles não têm qualquer registro de suicídio. Por quê? Porque a sociedade é
natural, não é pervertida. Ela não conduz as pessoas a coisas não naturais. A sociedade aceita
e permite a cada um que tenha o seu jeito, a sua escolha para viver sua vida. Isto é um direito
de todo mundo. Mesmo se uma pessoa ficar louca, a sociedade aceita; é seu direito
enlouquecer. Não existe condenação. Na verdade, nas sociedades primitivas, as pessoas loucas
eram respeitadas como místicas, e havia um certo mistério ao redor delas. Se você olhar para
os olhos de um homem louco e para os olhos de um místico, verá alguma semelhança – alguma
coisa vasta, indefinida, nebulosa, algo como um caos de onde nascem as estrelas. O místico e o
louco têm alguma semelhança.
Todos os loucos podem não ser místicos, mas todos os místicos são loucos. Por louco eu
quero dizer que eles foram além da mente. O louco pode ter ido para baixo da mente e o
místico pode ter ido além da mente, mas numa coisa eles são semelhantes, ambos não estão
em suas mentes. Numa sociedade primitiva, mesmo o louco é respeitado, tremendamente
respeitado. Se ele decide enlouquecer, não há problemas. A sociedade cuida de sua alimentação
e de seu abrigo. A sociedade o ama, ama a sua loucura. A sociedade não fixa regras; então
ninguém comete suicídio porque a liberdade permanece intacta.
Quando a sociedade exige escravidão e segue destruindo a sua liberdade, aleijando-o
por todos os lados, paralisando sua alma e matando seu coração, chega-se a um sentimento
que é melhor morrer do que se comprometer.
Não os chame de pervertidos. Tenha compaixão por eles; eles sofreram muito, eles
foram vítimas. E tente compreender o que aconteceu com eles; isto lhe trará algum insight
para a sua própria vida. E não há necessidade alguma de repetir o que eles fizeram, pois eu
dou a você uma oportunidade de ser você mesma. Eu abro uma porta para você. Se você
estiver entendendo, você verá qual é o ponto, mas se você não estiver entendendo, então será
difícil. Eu posso continuar gritando e você ouvirá apenas aquilo que consegue ouvir, aquilo que
quer ouvir. (...)