As recentes reflexões sobre o processo de alfabetização
tentam ampliar o conceito para que ele abranja não só o domínio do uso e interpretação de números e palavras, mas também de conceitos e habilidades referentes à leitura do mundo. Nesse sentido, CALLAI (2005) afirmar que “uma forma de fazer a leitura do mundo é por meio da leitura do espaço, o qual traz em si todas as marcas da vida dos homens.”. No âmbito da formação para a interpretação e ação no espaço, é importante o domínio de certas habilidades referentes à linguagem cartográfica, embora a alfabetização geográfica a ela não se restrinja. Apesar de ser reconhecida a importância da alfabetização cartográfica, muitas dificuldades ainda existem no desenvolvimento das habilidades de interpretar esse tipo de texto. Com o intuito de apreender algumas dessas dificuldades, foi realizada uma pesquisa de campo que visava compreender as relações que se podem estabelecer entre crianças e o espaço escolar que frenquentam. A pesquisa se deu junto a uma turma de 4 anos da Creche Comunitária São Sebastião, no município de Duque de Caxias, RJ, no segundo semestre de 2008. Um dos objetivos iniciais foi observar como as crianças interagiam com e no espaço escolar. Durante o período de investigação foi possível compreender que a creche, pensada em termos funcionais, como um instrumento do estado para atender determinadas demandas sociais, ganhava outras nuances no cotidiano dos alunos. Seus elementos componentes adquiriam, para as crianças, outros significados, e nele estabeleciam-se laços afetivos e desenvolviam-se relações sociais, por vezes conflituosas. É a partir da compreensão desse espaço com significado social que propomos ser possível desenvolver um trabalho de alfabetização cartográfica com crianças. Para CASTELAR (2000), “ao ensinar geografia, deve-se dar prioridade à construção dos conceitos pela ação da criança, tomando como referência as suas observações do lugar de vivência para que se possa formalizar conceitos geográficos por meio da linguagem cartográfica.” Com a elaboração de uma planta da creche, foi possível verificar a capacidade de compreensão da linguagem cartográfica. À medida que as dificuldades foram surgindo, pôde-se recorrer ao conhecimento do próprio investigador sobre o espaço vivido das crianças na creche, o que permitiu o início do desenvolvimento da capacidade de associar a representação abstrata do mapa ao espaço real, o que, sem dúvida, constitui um paço fundamental para o domínio da linguagem cartográfica.