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Brasılia, DF
Junho de 2000
Estrate gias cognitivas para a aprendizagem em ambientes
virtualizados
Resumo
A aprendizagem pode ser considerada como conjunca o de diversos fatores, alguns internos e outros externos.
Este artigo oferece uma conciliaca o destes fatores em uma unidade de interdependencia, formando um ”espaco
de aprendizagem total„, envolvendo aspectos emocionais, sensoriais, motivacionais e intelectuais. Tamb úm
aborda o uso desta conciliaca o em ambientes virtualizados para a aprendizagem, na busca de ferramentas
tecnolo gicas para o ensino orientado a uma renovaca o constante do conhecimento em contraste com o modelo
comportamentalista de repetica o de conteudos e condicionamento atravús de estımulos-respostas.
Abstract
Learning can be considered as a conjunction of a number of factors, some of intern origin and other from the
outside of the self. This paper offers a reconcilement of these factors in an interdependent unity, building a
”total learning environment„, adding up emotional, sensorial, motivational and intellectual aspects. It also
approaches the use of this reconcilement in virtual learning environments, seeking for technological tools to a
permanent and renewing quest for knowledge, in contrast with the behaviorist model of contents repetition and
stimulus-answer conditioning.
Introducao
Historicamente, o processo educacional esteve sempre ligado ` pro pria evoluca o social da humanidade (Gadotti,
1999). Portanto, para entende-lo em sua plenitudade, seria necessô ria uma anô lise detalhada dos aspectos
culturais, sociais, econümicos, polıticos e tecnolo gicos que permeiam a sociedade. Essa na o ú a intenca o deste
artigo. Ao invús disso, preferiu-se focar nas interacÉ es entre o indivıduo-aluno e os possıveis ambientes de
aprendizado tecnolo gicos, analisando os fatores que influenciam a eficiencia de tal aprendizagem e sugerindo
alternativas para melhorar a eficô cia do processo. Para isso, torna-se necessô rio familiarizar-se com algumas
estratúgias cognitivas para o aprendizado, com alguns ambientes virtualizados e com as intera cÉ es entre o
aprendiz e o mestre.
TEORIA DA
APRENDIZAGEM
(Estımulo-Resposta)
CONDUTAS
Elementos unidos
mediante regras sinta ticas
Reducionismo Ambientalismo
antimentalista externo
Sujeito passivo
Anomalias adquiridas
Anomalias devido `
` incapacidade de
falta de organizac ˜o.
adquirir significados.
Problema de Hume
Problema do conteõdo.
PROCESSOS
TEORIA DA
COGNITIVOS
MEMO RIA
REPRESENTAC ˜ES CAUSAIS
Decomposic ˜o Recursiva.
Elementos unidos mediante
regras sinta ticas
Correspondencia? Equipotencialidade?
Aquisic ˜o de
Organizac ˜o? Significados?
O aprendizado, portanto, depende de uma conjunca o de fatores de ordem dual, envolvendo, em ultima anô lise,
aspectos fısicos (sensoriais e intelectuais) e emotivos (motivacionais e emocionais), com relacionamentos
complexos entre si e com o ambiente externo:
ESPAC O TOTAL DE APRENDIZAGEM
AL IZADO D E APR
FATORES E RN EN
IN T DIZ
O AG
MOTIVACIONAIS AC E
SP
M
E
FATORES
EMOCIONAIS
FATORES
INTELECTUAIS
FATORES
SENSORIAIS
O ambiente virtualizado
A otimizaca o destes fatores de aprendizagem em um programa de ensino com bases tecnolo gicas tende a
permitir um melhor aproveitamento das capacidades cognitivas dos estudantes. Para isso, seria necess ô ria a
5
Adaptaca o, nesse caso, tem o sentido piagetiano de ”realizaca o de um equilıbrio progressivo entre um
mecanismo assimilador e uma acomodaca o complementar„ (PIAGET, 1936)
construca o de um ambiente virtualizado onde o aluno fosse motivado a entrar; pudesse expor suas iniciativas e
sentir-se bem com isso; interagisse, com seus sentidos, com o objeto de estudo; e fosse-lhe permitido deduzir
comportamentos, regras e relacÉ es do objeto com a sua realidade. Tambúm seria importante deixô -lo errar, e
construir sua pro pria ”base de conhecimentos„ sobre o assunto.
Schank propÉ e diversos ambientes de aprendizagem que se utilizam de estrat úgias cognitivas variadas
objetivando justamente a construca o destas condicÉ es ideais de aprendizagem. Suas arquiteturas utilizam
recursos que a) exploram o campo perceptivo; b) trabalham com as emocÉ es, buscando motivar o estudante; c)
deixam que o pro prio estudante determine seu ritmo de aprendizagem; d) conduzem o aluno a raciocinar e a
deduzir regras sobre as situacÉ es vivenciadas; e) aproximam o objeto de estudo ` realidade do aluno atravús de
simulacÉ es; e f) orientam o estudante a explorar vô rias possibilidades, de modo que este construa perspectivas
diferentes sobre o que estô estudando6.
Para uma efetiva exploraca o de todas as estratúgias cognitivas para a aprendizagem, ú necessô rio desenvolver
um ambiente que permita as interacÉ es entre os fatores conforme descrito na fig. 3. Ou seja, tal ambiente
necessita levar em consideraca o na o apenas os fatores em si, mas a sua interaca o, e permitir feedback
emocional, sensorial ou ambos, para dar continuidade motivacional ` aprendizagem. Convúm lembrar que,
como defende Piaget, a mudanca ú o estado natural do ser humano ó estamos sempre em processo de
equilibraca o, entendendo-a como ”uma sucessa o de compensacÉ es ativas do sujeito em resposta `s perturbacÉ es
exteriores e de uma regulaca o, ao mesmo tempo, retroativa (sisteams em anel ou feedback) e antecipadora,
constituindo um sistema permanente de tais compensacÉ es„ (Piaget, 1966).
Um ambiente de tal natureza pode ser construıdo tambúm na Internet, com a utilizaca o das tecnologias de
inteligencia artificial e de comunicaca o de dados de banda larga. A interatividade hoje caracter ıstica da Internet
permite que o ambiente forneca feedeback real ao estudante, gerando desafios, estimulando a curiosidade e
oferecendo perspectivas (fatores motivacionais). Tambúm possibilita a geraca o de problemas complexos
automô ticos, pertinentes ou complementares ao objeto de estudo do aluno, levando-o a utilizar faculdades
lo gico-matemô ticas e efetuar relacÉ es entre as proposicÉ es (fatores intelectuais). As possibilidades de contato
com outras pessoas, ou com os pro prios tutores inteligentes que um ambiente virtualizado como proposto
necessariamente teria, dô ao aluno a opca o de descontraca o, de dispersa o para outras ô reas, de troca de
experiencias e de alıvio da tensa o emocional inerente ` soluca o de problemas particularmente difıceis (fatores
emocionais). Finalmente, o amplo leque de recursos multim ıdia disponıveis possibilita a troca de informacÉ es
entre o ambiente e o aluno utilizando vô rios sentidos, complementando e reforcando os conteudos importantes
atravús do apelo a vô rias habilidades mentais 7 (fatores sensoriais). A execuca o de um ambiente completo jô ú
possıvel com as ferramentas atuais, bastando apenas a forma ca o de uma equipe multidisciplinar e de recursos
financeiros para o projeto.
Concluso es
As estratúgias cognitivas para a aprendizagem podem ser entendidas como uma conjun ca o de fatores que
definem uma variedade de formas de interaca o responsô veis pela amplitude do conhecimento do indivıduo. O
conhecimento destes fatores (emocionais, motivacionais, sensoriais e intelectuais) permite ao educador preparar
os conteudos pedago gicos com mais eficiencia e conseguir, efetivamente, uma melhor aprendizagem para seus
alunos.
Estes fatores sa o tambúm importantes no projeto de ambientes virtualizados para a aprendizagem. As
experiencias de Schank demonstram o potencial de uma abordagem natural para o ensino, mas deixa impl ıcita
a existencias destes fatores. A tomada de consciencia de sua existencia poderia definir uma nova metodologia
de trabalho para a construca o destes ambientes, focada na o apenas na aprendizagem natural, mas tambúm na
interaca o dos aspectos emocionais, sensoriais, motivacionais e intelectuais para a forma ca o de um ciclo
permanente de aprendizagem, onde o indivıduo estaria sendo continuamente motivado, emocionado, desafiado
e interpelado sensorialmente, em um espaco de aprendizagem rico em estımulos e em feedback.
Pesquisas nessa ô rea poderiam buscar apoio nas teorias de LeDoux, de Goleman e de Greenspan, sobre os
aspectos emocionais e motivacionais; nas idúias gestaltistas e nas fundacÉ es biolo gicas sobre os sentidos, para
um trabalho mais aprofundado sobre os aspectos sensoriais; nos estudos dos cognitivistas, como Piaget, Pinker
6
Para saber mais sobre as arquiteturas e as teorias de Schank, ver SCHANK, Roger & CLEARY, Chip.
Engines for education. New Jersey (USA): Lawrence Erlbaum Associates, 1995; SCHANK, Roger. Tell me a
story: narrative and intelligence. Evanston, Illinois (USA): Northwestern University Press, 1998; e
SCHANK, Roger. Virtual learning: a revolutionary approach to building a highly skilled workforce. New
York (USA): McGraw-Hill, 1997.
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Entendemos ”habilidades mentais„ como as inteligencias multiplas propostas por GARDNER, Howard.
Inteligˆ ncias mu ltiplas: a teoria na pr’tica. Trad. Maria Adriana Verıssimo Veronese. Porto Alegre: Artes
Múdicas, l995.
e Pozo, sobre os aspectos intelectuais; e nas obras de cientistas ligados ` inteligencia artificial, como Dennet,
Schank e Minsky, entre diversos outros.
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