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SEXTA-FEIRA
– Aprendemos de Jesus a ter muitos amigos. O cristão está sempre aberto aos outros.
I. APÓS O BANQUETE que Mateus ofereceu ao Senhor e aos seus amigos
logo depois da sua chamada, alguns judeus aproximaramse de Jesus e
perguntaramlhe por que os seus discípulos não jejuavam como faziam os
fariseus e os discípulos de João. E Jesus respondeulhes: Porventura podeis
obrigar os amigos do esposo a jejuar enquanto o esposo está com eles? E
aludindo expressamente à morte que iria padecer, disselhes: Quando o
esposo lhes for arrebatado, então jejuarão1.
Entre os hebreus, o noivo comparecia à cerimónia de bodas acompanhado
por outros jovens da sua idade, seus amigos íntimos, que formavam uma
espécie de escolta de honra. Chamavamse amigos do esposo2, e a sua
missão era honrar aquele que se ia casar, alegrarse com as suas alegrias,
participar de um modo muito particular dos festejos que se organizavam após a
cerimónia. Ora bem, a imagem nupcial é empregada frequentemente no Antigo
Testamento para exprimir as relações de Deus com o seu povo3. E também a
Nova Aliança do Messias com o seu povo, a Igreja, é descrita sob essa
imagem. João Baptista já chamara esposo a Cristo, e a si mesmo amigo do
esposo4.
Em Betânia, a família de Lázaro estava unida ao Mestre por fortes laços de
amizade, como se vê pela mensagem ao mesmo tempo confiante e dolorosa
que Maria e Marta lhe fazem chegar quando Lázaro adoece gravemente:
Senhor, aquele a quem amas está doente10. Jesus amava Marta, Maria e
Lázaro. Quando chegou a Betânia, Lázaro já estava morto havia quatro dias. E,
para surpresa de todos, Jesus chorou. Disseram então os judeus: Vede como o
amava11. Jesus chora por um amigo! Derrama em silêncio lágrimas de homem;
os que ali se encontravam ficaram profundamente admirados.
Nunca devemos cansarnos de considerar quanto o Senhor nos quer. “Jesus
é teu amigo. – O Amigo. – Com coração de carne como o teu. – Com olhos de
olhar amabilíssimo, que choraram por Lázaro... – E, tanto como a Lázaro, te
ama a ti”12.
Jesus gostava de conversar com as pessoas que o procuravam ou com as
que encontrava pelo caminho. Aproveitava essas conversas, que muitas vezes
começavam por temas intranscendentes, para chegar ao fundo das suas almas
e enchêlas de amor. Todas as circunstâncias lhe foram propícias para fazer
amigos e transmitirlhes a mensagem divina que tinha trazido à terra. Nós não
devemos esquecer que “amizade e caridade fazem uma só coisa: luz divina
que dá calor”13.
Com os amigos compartilhase o melhor que se possui, e nós não temos
nada que valha tanto como a amizade com Jesus Cristo, robustecida ao longo
dos anos, depois de tantos momentos de oração – quantas coisas Lhe
dissemos até hoje –, de tantas ocasiões junto do Sacrário. Não lhes abriremos
o coração, falandolhes a sós desse Amigo que queremos que seja também
Amigo de cada um deles?
Quem priva da intimidade com Cristo não sabe nem consegue guardar para
si esse achado que o impressiona e o torna feliz cada vez que se abeira dele
para contemplálo. Não nos hãode faltar palavras para falar de Cristo aos
nossos amigos, sobretudo se formos homens e mulheres de oração, que lêem
assiduamente o Evangelho e meditam nas suas passagens como se fossem
protagonistas. Quando pudermos dizer com São Paulo: “O meu viver é
Cristo”14, estaremos em condições de fazer com que os nossos amigos o sejam
também do Senhor, e assim sejam também mais verdadeiramente amigos
nossos.
III. UM AMIGO FIEL é um protector poderoso; quem o encontra descobre um
tesouro. Nada vale tanto como o amigo fiel; o seu preço é incalculável15. É com
essas palavras que a Sagrada Escritura nos fala do valor da amizade, ao
mesmo tempo que nos ensina que é preciso procurála, empregar os meios
adequados para encontrála. E, uma vez encontrada, é necessário cultivála,
superando o tempo, as distâncias, e tudo aquilo que tende a esfriála: a
diversidade de gostos, opiniões, interesses...
A amizade requer que ajudemos o amigo. “Se descobres algum defeito no
teu amigo, corrigeo em segredo [...]. As correcções fazem bem e são de maior
proveito que uma amizade muda”16, que se cala enquanto vê o amigo
afundarse.
A amizade deve ser perseverante. “Não mudemos de amigo como fazem as
crianças, que se deixam levar pela onda fácil dos sentimentos”17. Não tenhas
vergonha de defender o amigo18. “Não o abandones no momento da
necessidade, não o esqueças, não lhe negues o teu afecto, porque a amizade
é o alicerce da vida. Carreguemos uns as cargas dos outros, como nos ensinou
o Apóstolo... Se a prosperidade de um é proveitosa a todos os seus amigos,
por que na adversidade não irá encontrar a ajuda de todos esses amigos?
Ajudemolo com os nossos conselhos, unamos os nossos esforços aos seus,
participemos das suas aflições.
A caridade sobrenatural fortalece e enriquece a amizade. O amor a Cristo
tornanos mais humanos, com maior capacidade de compreensão, mais
abertos a todos. Se Cristo for o nosso melhor amigo, aprenderemos a fortalecer
uma relação que talvez estivesse a ponto de se desfazer, a tirar um obstáculo,
a superar o egoísmo e a comodidade de permanecermos fechados em nós
mesmos. Junto do Senhor, saberemos tornar melhores, levar à santidade, os
nossos amigos, porque lhes transmitiremos a fé em Cristo. Ao longo dos
séculos, quantos não foram os que transitaram pelo caminho da amizade para
chegar ao Senhor!
Olha para Cristo. Bem sabes que Ele te considera entre os seus amigos
íntimos. Somos os amigos do Esposo. Aplicadas a Cristo, alcançam a sua
plenitude as palavras que lemos no Livro do Eclesiástico: Nada se pode
comparar ao amigo fiel20. O Senhor levou a sua fidelidade ao extremo de dar a
vida por cada um de nós. Aprendamos d’Ele a ser amigos dos nossos amigos,
e não deixemos de lhes dar o melhor que temos: o amor a Jesus.
(1) Lc 5, 3339; (2) 1 Mac 9, 39; (3) cfr. Ex 34, 16; Is 54, 5; Jer 2, 2; Os 2, 18 e segs.; (4) Jo 3,
29; (5) cfr. Mt 12, 4950; (6) Jo 15, 9.15; (7) São Bernardo, Comentário ao Cântico dos Cânticos,
31, 7; (8) cfr. São Jerónimo, Comentário ao Evangelho de São Mateus, 9, 9; (9) Josemaría
Escrivá, Forja, n. 943; (10) Jo 11, 3; (11) Jo 11, 3536; (12) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 422;
(13) cfr. Josemaría Escrivá, Forja, n. 565; (14) Fil 1, 21; (15) Eclo 6, 1417; (16) Santo Ambrósio,
Sobre o ofício dos ministros, III, 125; (17) ib.; (18) Eclo 22, 31; (19) Santo Ambrósio, op. cit., III,
126127; (20) Eclo 6, 14.