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TEMPO COMUM. VIGÉSIMA SEGUNDA SEMANA.

SEXTA-FEIRA

89. OS AMIGOS DO ESPOSO


– O Senhor conta-nos entre os seus amigos íntimos.

– Aprendemos de Jesus a ter muitos amigos. O cristão está sempre aberto aos outros.

– A caridade melhora e fortalece a amizade.

I. APÓS O BANQUETE que Mateus ofereceu ao Senhor e aos seus amigos 
logo   depois   da   sua   chamada,   alguns   judeus   aproximaram­se   de   Jesus   e 
perguntaram­lhe   por   que   os   seus   discípulos   não   jejuavam   como   faziam   os 
fariseus e os discípulos de João. E Jesus respondeu­lhes:  Porventura podeis  
obrigar os amigos do esposo a jejuar enquanto o esposo está com eles?  E 
aludindo   expressamente   à   morte   que   iria   padecer,   disse­lhes:  Quando   o  
esposo lhes for arrebatado, então jejuarão1.

Entre os hebreus, o noivo comparecia à cerimónia de bodas acompanhado 
por   outros   jovens   da   sua   idade,   seus   amigos   íntimos,   que   formavam   uma 
espécie   de   escolta   de   honra.   Chamavam­se  amigos   do   esposo2,   e   a   sua 
missão era honrar aquele que se ia casar, alegrar­se com as suas alegrias, 
participar de um modo muito particular dos festejos que se organizavam após a 
cerimónia. Ora bem, a imagem nupcial é empregada frequentemente no Antigo 
Testamento para exprimir as relações de Deus com o seu povo3. E também a 
Nova   Aliança   do   Messias   com   o   seu   povo,   a   Igreja,   é   descrita   sob   essa 
imagem. João Baptista já chamara esposo a Cristo, e a si mesmo  amigo do  
esposo4.

Jesus chama amigos íntimos –  amigos do esposo  – aos que o seguem, a 


nós;   fomos   convidados   a   participar   mais   intimamente   das   suas   alegrias,   do 
banquete   nupcial,   que   é   figura   dos   bens   sem   fim   do   Reino   dos   Céus.   Em 
diversas ocasiões o Senhor distinguiu os seus com o honroso título de amigos. 
Um   dia,   estendendo   a   mão   sobre   os   seus   discípulos,   pronunciou   estas 
consoladoras palavras:  Eis a minha mãe e os meus irmãos...5  E ensinou­nos 
que aqueles que crêem e o seguem com obras – os que cumprem a vontade  
de meu Pai – ocupam no seu coração um lugar de predilecção e estão unidos a 
Ele   por   laços   mais   fortes   que   os   do   sangue.   No   discurso   da   Última   Ceia, 
dir­lhes­á com simplicidade e sinceridade comovedoras: Como o Pai me amou,  
assim também eu vos amei... Chamei­ vos amigos porque vos dei a conhecer  
tudo o que ouvi de meu Pai6.
O Senhor quis ser exemplo de amizade verdadeira e esteve aberto a todos 
os   que   se   aproximavam   d’Ele,   atraindo­os   com   especial   ternura   e   afecto. 
“Deixava escapar então – comenta São Bernardo com palavras muito belas – 
toda   a   suavidade   do   seu   coração;   abria   a   sua   alma   totalmente   e   dela   se 
espargia   como   vapor   invisível   o   mais   delicado   perfume,   o   perfume   de   uma 
alma formosa, de um coração generoso e nobre”7. E convertia­se em amigo fiel 
e abnegado de todos. Do seu ser emanava um poder de atracção que São 
Jerónimo comparou ao de um ímã extraordinário8.

Jesus   chama­nos   amigos.   E   ensina­nos   a   acolher   a   todos,   a   ampliar   e 


desenvolver   constantemente   a   nossa   capacidade   de   amizade.   Mas   só 
aprenderemos   d’Ele   se   procurarmos   o   seu   convívio   na   intimidade   de   uma 
oração confiada: “Para que este nosso mundo caminhe por um trilho cristão – o 
único que vale a pena –, temos de viver uma leal amizade com os homens, 
baseada numa prévia leal amizade com Deus”9.

II.  JESUS   TEVE   AMIGOS  em   todas   as   classes   sociais   e   em   todas   as 


profissões: eram de idade e de condições muito diversas. Desde pessoas de 
grande prestígio social, como Nicodemos ou José de Arimatéia, até mendigos 
como Bartimeu. Na maior parte das cidades e aldeias, encontrava pessoas que 
lhe queriam bem e que se sentiam correspondidas por Ele, amigos que nem 
sempre   o   Evangelho   menciona   pelos   nomes,   mas   cuja   existência   se   pode 
entrever.

Em Betânia, a família de Lázaro estava unida ao Mestre por fortes laços de 
amizade, como se vê pela mensagem ao mesmo tempo confiante e dolorosa 
que   Maria   e   Marta   lhe   fazem   chegar   quando   Lázaro   adoece   gravemente: 
Senhor,   aquele   a   quem   amas   está   doente10.   Jesus  amava  Marta,   Maria   e 
Lázaro. Quando chegou a Betânia, Lázaro já estava morto havia quatro dias. E, 
para surpresa de todos, Jesus chorou. Disseram então os judeus: Vede como o  
amava11. Jesus chora por um amigo! Derrama em silêncio lágrimas de homem; 
os que ali se encontravam ficaram profundamente admirados.

Nunca devemos cansar­nos de considerar quanto o Senhor nos quer. “Jesus 
é teu amigo. – O Amigo. – Com coração de carne como o teu. – Com olhos de 
olhar amabilíssimo, que choraram por Lázaro... – E, tanto como a Lázaro, te 
ama a ti”12.

Jesus gostava de conversar com as pessoas que o procuravam ou com as 
que encontrava pelo caminho. Aproveitava essas conversas, que muitas vezes 
começavam por temas intranscendentes, para chegar ao fundo das suas almas 
e enchê­las de amor. Todas as circunstâncias lhe foram propícias para fazer 
amigos e transmitir­lhes a mensagem divina que tinha trazido à terra. Nós não 
devemos esquecer que “amizade e caridade fazem uma só coisa: luz divina 
que dá calor”13.

Com os amigos compartilha­se o melhor que se possui, e nós não temos 
nada que valha tanto como a amizade com Jesus Cristo, robustecida ao longo 
dos   anos,   depois   de   tantos   momentos   de   oração   –   quantas   coisas   Lhe 
dissemos até hoje –, de tantas ocasiões junto do Sacrário. Não lhes abriremos 
o coração, falando­lhes a sós desse Amigo que queremos que seja também 
Amigo de cada um deles?

Quem priva da intimidade com Cristo não sabe nem consegue guardar para 
si esse achado que o impressiona e o torna feliz cada vez que se abeira dele 
para   contemplá­lo.   Não   nos   hão­de   faltar   palavras   para   falar   de   Cristo   aos 
nossos amigos, sobretudo se formos homens e mulheres de oração, que lêem 
assiduamente o Evangelho e meditam nas suas passagens como se fossem 
protagonistas.   Quando   pudermos   dizer   com   São   Paulo:   “O   meu   viver   é  
Cristo”14, estaremos em condições de fazer com que os nossos amigos o sejam 
também   do   Senhor,   e   assim   sejam   também   mais   verdadeiramente   amigos 
nossos.

III. UM AMIGO FIEL é um protector poderoso; quem o encontra descobre um  
tesouro. Nada vale tanto como o amigo fiel; o seu preço é incalculável15. É com 
essas   palavras   que   a   Sagrada   Escritura   nos   fala   do   valor   da   amizade,   ao 
mesmo tempo que nos ensina que é preciso procurá­la, empregar os meios 
adequados para encontrá­la. E, uma vez encontrada, é necessário cultivá­la, 
superando   o   tempo,   as   distâncias,   e   tudo   aquilo   que   tende   a   esfriá­la:   a 
diversidade de gostos, opiniões, interesses...

A amizade requer que ajudemos o amigo. “Se descobres algum defeito no 
teu amigo, corrige­o em segredo [...]. As correcções fazem bem e são de maior 
proveito   que   uma   amizade   muda”16,   que   se   cala   enquanto   vê   o   amigo 
afundar­se.

A amizade deve ser perseverante. “Não mudemos de amigo como fazem as 
crianças, que se deixam levar pela onda fácil dos sentimentos”17.  Não tenhas  
vergonha   de   defender   o   amigo18.   “Não   o   abandones   no   momento   da 
necessidade, não o esqueças, não lhe negues o teu afecto, porque a amizade 
é o alicerce da vida. Carreguemos uns as cargas dos outros, como nos ensinou 
o Apóstolo... Se a prosperidade de um é proveitosa a todos os seus amigos, 
por   que   na   adversidade   não   irá   encontrar   a  ajuda   de   todos   esses   amigos? 
Ajudemo­lo com os nossos conselhos, unamos os nossos esforços aos seus, 
participemos das suas aflições.

“Quando   for   necessário,   suportemos   até   grandes   sacrifícios   por   lealdade 


para com o amigo. Talvez tenhamos que enfrentar inimizades para defender a 
causa do amigo inocente, e, com muita frequência, receber insultos quando 
procuremos rebater e responder àqueles que o atacam e acusam [...]. É na 
adversidade que se provam os amigos verdadeiros, pois na prosperidade todos 
parecem fiéis”19.

A caridade sobrenatural fortalece e enriquece a amizade. O amor a Cristo 
torna­nos   mais   humanos,   com   maior   capacidade   de   compreensão,   mais 
abertos a todos. Se Cristo for o nosso melhor amigo, aprenderemos a fortalecer 
uma relação que talvez estivesse a ponto de se desfazer, a tirar um obstáculo, 
a superar o egoísmo e a comodidade  de permanecermos fechados em nós 
mesmos. Junto do Senhor, saberemos tornar melhores, levar à santidade, os 
nossos   amigos,   porque   lhes   transmitiremos   a   fé   em   Cristo.   Ao   longo   dos 
séculos, quantos não foram os que transitaram pelo caminho da amizade para 
chegar ao Senhor!

Olha para Cristo. Bem sabes que Ele te considera entre os seus amigos 
íntimos.   Somos  os   amigos   do   Esposo.   Aplicadas   a   Cristo,   alcançam   a   sua 
plenitude   as   palavras   que   lemos   no   Livro   do   Eclesiástico:  Nada   se   pode  
comparar ao amigo fiel20. O Senhor levou a sua fidelidade ao extremo de dar a 
vida por cada um de nós. Aprendamos d’Ele a ser amigos dos nossos amigos, 
e não deixemos de lhes dar o melhor que temos: o amor a Jesus.

(1) Lc 5, 33­39; (2) 1 Mac 9, 39; (3) cfr. Ex 34, 16; Is 54, 5; Jer 2, 2; Os 2, 18 e segs.; (4) Jo 3, 
29; (5) cfr. Mt 12, 49­50; (6) Jo 15, 9.15; (7) São Bernardo, Comentário ao Cântico dos Cânticos, 
31, 7; (8) cfr. São Jerónimo, Comentário ao Evangelho de São Mateus, 9, 9; (9) Josemaría 
Escrivá, Forja, n. 943; (10) Jo 11, 3; (11) Jo 11, 35­36; (12) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 422; 
(13) cfr. Josemaría Escrivá, Forja, n. 565; (14) Fil 1, 21; (15) Eclo 6, 14­17; (16) Santo Ambrósio, 
Sobre o ofício dos ministros, III, 125; (17) ib.; (18) Eclo 22, 31; (19) Santo Ambrósio, op. cit., III, 
126­127; (20) Eclo 6, 14.

(Fonte: Website de Francisco Fernández Carvajal AQUI)

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