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Partindo de todos estes conceitos, gostaria de abordar especificamente um, aquele que
remete para uma abordagem construtivista do processo de aprendizagem e de apropriação da
informação e do conhecimento. Este tipo de abordagem que julgo cruzar-se com as novas
literacias, afigura-se-me como um dos elementos mais importantes para o crescimento e evolução
dos alunos e um dos mais relevantes para o desenvolvimento de boas práticas no seio da BE e da
própria escola.
De facto, um dos elementos que assume papel preponderante na escola actual é a forma
como os alunos acedem e tratam a informação de que necessitam. Neste caso, as novas
literacias de informação revestem-se de uma importância fundamental porquanto o seu principal
objectivo passa pelo desenvolvimento de “a knowledgeable and knowing person, one who is able
to engage effectively with a rich and complex information world, and who is able to develop new
understandings, insights and ideas.” (Todd 2002: 6).
Esta perspectiva do aluno que se envolve na construção do seu próprio conhecimento,
com a qual concordo em pleno, devo confessar, está subjacente ao próprio modelo de auto-
avaliação. Dos muitos exemplos que poderiam ser dados, e que constam do domínio A.2
“Promoção das Literacias da Informação, Tecnológica e Digital”, saliento apenas os seguintes, por
me parecerem fundamentais:
• Os alunos utilizam, de acordo com o seu ano/ciclo de escolaridade, linguagens, suportes,
modalidades de recepção e de produção de informação e formas de comunicação variados, entre
os quais se destaca o uso de ferramentas e media digitais.
• Os alunos incorporam no seu trabalho, de acordo com o ano/ciclo de escolaridade que
frequentam, as diferentes fases do processo de pesquisa e tratamento de informação […].”
• Os alunos demonstram, de acordo com o seu ano/ciclo de escolaridade, compreensão sobre os
problemas éticos, legais e de responsabilidade social associados ao acesso, avaliação e uso da
informação e das novas tecnologias.
• Os alunos revelam em cada ano e ao longo de cada ciclo de escolaridade, progressos no uso de
competências tecnológicas, digitais e de informação nas diferentes disciplinas e áreas curriculares.
(Modelo: 14, 15)
Neste modelo de perspectiva construtivista, defende-se uma intervenção e práticas que permitam
ao aluno envolver-se no seu próprio processo de aprendizagem, de construir o seu próprio
conhecimento, pelo que as ofertas da BE deverão, forçosamente, passar por iniciativas que
permitam que a informação seja transformada em conhecimento.
Ao incluir os pressupostos nos domínios A e B, o modelo de auto-avaliação
prevê/incentiva/remete para a criação/desenvolvimento de bibliotecas escolares que sejam
elementos fulcrais no desenvolvimento de competências de literacia uma vez que providenciam os
recursos de informação e deve providenciar as ferramentas necessárias à transformação dessa
informação em conhecimento. “Empowerment, connectivity, engagement, and interactivity define
the actions and practices of the school library, and their outcome is knowledge construction: new
meanings, new understandings, new perspectives.” (Todd 2002: 6)
“Torna-se de facto relevante objectivar a forma como se está a concretizar o trabalho das
bibliotecas escolares, tendo como pano de fundo essencial o seu contributo para as
aprendizagens, para o sucesso educativo e para a promoção da aprendizagem ao longo da vida.”
(Modelo: 1)
Este pressuposto do Modelo de Auto-Avaliação só faz sentido se a BE conhecer a fundo o
seu papel na estrutura da escola e souber da importância do impacto que os seus serviços e
actividades poderão ter na vida escolar dos alunos. Ao ser implementado, o Modelo permite
conhecer a BE, através da recolha de evidência pertinentes e válidas para a avaliação da eficácia
dos serviços prestados e das actividades desenvolvidas. Além disso, qualquer instrumento de
avaliação se reveste de um carácter que visa a reflexão sobre as práticas, uma perspectiva de
melhoria e, em última análise, uma inflexão de metodologias e de percurso. Dada a crescente
exposição da escola à sociedade e a crescente atenção que a sociedade tem em relação à
escola, torna-se vital existência de um processo de avaliação que afira critérios, regulamente
práticas e avalie resultados, de forma a envolver, e responsabilizar, não só a Equipa da BE, mas
também o Órgão de Gestão da escola e todos os envolvidos no processo educativo.
Através da implementação do Modelo, poder-se-ão recolher evidências que permitam aferir
o grau de qualidade dos serviços prestados, o nível de satisfação dos utilizadores e os aspectos a
melhorar para que a BE se afirme como central e fundamental na vida da escola e dos seus
alunos.
B. Leitura e Literacia
Cada um destes subdomínios está estruturado de acordo com indicadores associados a “Factores
críticos de Sucesso”, “Evidências” e “Acções para a melhoria”.
No global, creio que a estrutura do modelo é clara e eficaz na apresentação dos
indicadores a ter em conta aquando da análise/avaliação dos serviços prestados pela BE. A
subdivisão em domínios é uma forma mais ou menos simples de focar todos os factores a avaliar
e, apesar das subdivisões, parece-me claro que todos os domínios se cruzam, se complementam
e se relacionam de uma maneira que quase coloca em causa esta subdivisão (algo espartilhada e
fechada). Nenhum dos domínios pode ser visto isoladamente uma vez que toca, de forma
transversal, toda a actividade da Biblioteca. E este parece-me ser uma das dificuldades em aplicar
este modelo. Ao querer isolar um domínio para intervenção, como fazê-lo sem que se tenham em
conta factores que dizem respeito a qualquer um dos outros domínios?
Por exemplo, como podemos aferir a qualidade dos serviços prestados em termos de
disponibilização de recursos se não houver um catálogo devidamente informatizado? Se um aluno
ou professor quiser saber da existência de determinado título, teremos de recorrer à memória,
sempre eficiente e confiável, das funcionárias que conhecem o Fundo Documental como a palma
das suas mãos. Isto no meu caso, que não consigo, ainda, ter um conhecimento aprofundado
sobre o FD da Biblioteca da minha escola.
Uma outra situação tem a ver com o domínio "B. Leitura e Literacia”. Confesso que este é
um domínio que me agrada, por ser dos que mais permite o contacto com os alunos, com os seus
anseios e expectativas em relação à BE e pela possibilidade que dá a nós, Professores
Bibliotecários a tempo inteiro, de irmos escondendo e matando as saudades que temos das
nossas turmas. Este domínio, como todos os outros, aliás, dá “pano para mangas”, passo a
expressão, mas gostaria de salientar apenas alguns aspectos.
Um desses aspectos está relacionado com a possibilidade que este domínio
especificamente tem de oferecer aos alunos o “empowerment” necessário à construção do seu
próprio conhecimento ao permitir-lhes o contacto com as mais diversas formas de acesso à
thinking and informed profession, and cuts off the profession from advance in knowledge which
shapes sound practice.” (2002: 4)
Ao prever que “[o] professor bibliotecário afecto possui formação e competências
adequadas ao seu conteúdo funcional, nos termos da legislação vigente.” (Modelo de
Auto-Avaliação: pp 42), o modelo reforçar a necessidade de formação do Professor
Bibliotecário. Em muitos casos, essa formação deverá ser auto-formação, característica
importante para que o Professor Bibliotecário a valorização do seu papel tanto na BE como na
Escola. No fundo, este modelo de auto-avaliação prevê um Professor Bibliotecário que se afirme
como “school library media specialist”, expressão tantas vezes usada em literatura de investigação
sobre o tema, e que assuma funções de professor; parceiro no processo educativo; seja
especialista em informação e seja também gestor, características subjacentes às tarefas
elencadas nos diferentes domínios.
Numa altura em que os olhos da sociedade estão postos na Escola, creio que este novo
paradigma de Biblioteca Escolar e Professor bibliotecário acresce as responsabilidades e
exigências e visa pôr cobro a anos sucessivos de más práticas (não tão longínquos quanto se
possa pensar). Quanto tempo nos vão dar, a nós, Professores Bibliotecários, para
desenvolvermos todas as competências exigidas e termos, de facto, consequência directas no
processo educativo e na melhoria dos resultados dos alunos é a questão que me preocupa e mais
directamente inquieta. Papel tão exigente e ambicioso não pode, nunca, esgotar-se num ano, ou
em quatro sequer. Ao prever que se pode avaliar todos os domínios em quatro anos, o modelo de
auto-avaliação parece colocar, uma vez mais, a fasquia demasiado elevada e demasiada pressão
e exigência na figura do Professor Bibliotecário.
Bibliografia:
Eisenberg, Michael & Miller, Danielle (2002) “This Man Wants to Change Your Job”, School Library
Journal. <http://www.schoollibraryjournal.com/article/CA240047.html> [Acedido em 10 de
Novembro de 2009].
Todd, Ross (2002) “School librarian as teachers: learning outcomes and evidence-based practice”.
68th IFLA Council and General Conference August 2002.
<http://archive.ifla.org/IV/ifla68/papers/084-119e.pdf > [Acedido em 10 de Novembro de 2009].