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Práticas e modelos A.A.

das BE – DREC – T6________________________________________


Tarefa 2 (parte I)

Análise crítica ao Modelo de Auto-Avaliação das Bibliotecas Escolares

1. O Modelo enquanto instrumento pedagógico e de melhoria de melhoria. Conceitos


implicados.

Os principais conceitos implicados no Modelo de Auto-Avaliação das BE remetem para diferentes


áreas, estratégias e abordagens:

- Construtivismo – conceito associado à curiosidade em relação à informação


disponibilizada e à busca de formas para transformar essa informação em conhecimento;
novos contextos e conceitos de aprendizagem requerem um papel mais activo e
participado dos alunos;
- Inquiry Based Learning – estratégias de abordagem ao conhecimento e à realidade
baseadas no questionamento e inquirição contínuas tendo em vista a
reconstrução/reformulação do conhecimento existente e a aquisição de novas formas de
conhecimento);
- Desenvolvimento de novas literacias e da aprendizagem ao longo da vida – a
realidade coloca os utilizadores das novas tecnologias sob o alcance de novos perigos,
novas fronteiras, novas possibilidades de acesso à informação, novas formas de se
relacionar com os outros e com o mundo. BE tem papel central em formar os utilizadores
para o uso correcto desatas novas ferramentas);
- Busca de evidências/ desenvolvimento organizacional – a necessidade de aferir
critérios de actuação, de monitorização de práticas e avaliação de resultados implica a
recolha de evidências que permitam conhecer o impacto que a BE tem na escola
(Evidence Based Practice) e permitam em última análise proceder à mudança de práticas
ineficientes e à inflexão de metodologias, numa perspectiva de melhoria.

Partindo de todos estes conceitos, gostaria de abordar especificamente um, aquele que
remete para uma abordagem construtivista do processo de aprendizagem e de apropriação da
informação e do conhecimento. Este tipo de abordagem que julgo cruzar-se com as novas
literacias, afigura-se-me como um dos elementos mais importantes para o crescimento e evolução
dos alunos e um dos mais relevantes para o desenvolvimento de boas práticas no seio da BE e da
própria escola.

Sandra Santos ________________________________________________________________


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Tarefa 2 (parte I)

De facto, um dos elementos que assume papel preponderante na escola actual é a forma
como os alunos acedem e tratam a informação de que necessitam. Neste caso, as novas
literacias de informação revestem-se de uma importância fundamental porquanto o seu principal
objectivo passa pelo desenvolvimento de “a knowledgeable and knowing person, one who is able
to engage effectively with a rich and complex information world, and who is able to develop new
understandings, insights and ideas.” (Todd 2002: 6).
Esta perspectiva do aluno que se envolve na construção do seu próprio conhecimento,
com a qual concordo em pleno, devo confessar, está subjacente ao próprio modelo de auto-
avaliação. Dos muitos exemplos que poderiam ser dados, e que constam do domínio A.2
“Promoção das Literacias da Informação, Tecnológica e Digital”, saliento apenas os seguintes, por
me parecerem fundamentais:
• Os alunos utilizam, de acordo com o seu ano/ciclo de escolaridade, linguagens, suportes,
modalidades de recepção e de produção de informação e formas de comunicação variados, entre
os quais se destaca o uso de ferramentas e media digitais.
• Os alunos incorporam no seu trabalho, de acordo com o ano/ciclo de escolaridade que
frequentam, as diferentes fases do processo de pesquisa e tratamento de informação […].”
• Os alunos demonstram, de acordo com o seu ano/ciclo de escolaridade, compreensão sobre os
problemas éticos, legais e de responsabilidade social associados ao acesso, avaliação e uso da
informação e das novas tecnologias.
• Os alunos revelam em cada ano e ao longo de cada ciclo de escolaridade, progressos no uso de
competências tecnológicas, digitais e de informação nas diferentes disciplinas e áreas curriculares.
(Modelo: 14, 15)

Neste modelo de perspectiva construtivista, defende-se uma intervenção e práticas que permitam
ao aluno envolver-se no seu próprio processo de aprendizagem, de construir o seu próprio
conhecimento, pelo que as ofertas da BE deverão, forçosamente, passar por iniciativas que
permitam que a informação seja transformada em conhecimento.
Ao incluir os pressupostos nos domínios A e B, o modelo de auto-avaliação
prevê/incentiva/remete para a criação/desenvolvimento de bibliotecas escolares que sejam
elementos fulcrais no desenvolvimento de competências de literacia uma vez que providenciam os
recursos de informação e deve providenciar as ferramentas necessárias à transformação dessa
informação em conhecimento. “Empowerment, connectivity, engagement, and interactivity define
the actions and practices of the school library, and their outcome is knowledge construction: new
meanings, new understandings, new perspectives.” (Todd 2002: 6)

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Tarefa 2 (parte I)

2. Pertinência da existência de um Modelo de Avaliação para as bibliotecas escolares.

“Torna-se de facto relevante objectivar a forma como se está a concretizar o trabalho das
bibliotecas escolares, tendo como pano de fundo essencial o seu contributo para as
aprendizagens, para o sucesso educativo e para a promoção da aprendizagem ao longo da vida.”
(Modelo: 1)
Este pressuposto do Modelo de Auto-Avaliação só faz sentido se a BE conhecer a fundo o
seu papel na estrutura da escola e souber da importância do impacto que os seus serviços e
actividades poderão ter na vida escolar dos alunos. Ao ser implementado, o Modelo permite
conhecer a BE, através da recolha de evidência pertinentes e válidas para a avaliação da eficácia
dos serviços prestados e das actividades desenvolvidas. Além disso, qualquer instrumento de
avaliação se reveste de um carácter que visa a reflexão sobre as práticas, uma perspectiva de
melhoria e, em última análise, uma inflexão de metodologias e de percurso. Dada a crescente
exposição da escola à sociedade e a crescente atenção que a sociedade tem em relação à
escola, torna-se vital existência de um processo de avaliação que afira critérios, regulamente
práticas e avalie resultados, de forma a envolver, e responsabilizar, não só a Equipa da BE, mas
também o Órgão de Gestão da escola e todos os envolvidos no processo educativo.
Através da implementação do Modelo, poder-se-ão recolher evidências que permitam aferir
o grau de qualidade dos serviços prestados, o nível de satisfação dos utilizadores e os aspectos a
melhorar para que a BE se afirme como central e fundamental na vida da escola e dos seus
alunos.

3. Organização estrutural e funcional. Adequação e constrangimentos.

O Modelo de Auto-Avaliação de Bibliotecas Escolares está estruturado em 4 domínios, sendo que


três destes se subdividem em dois ou três subdomínios. Apenas o domínio “B. Leitura e
Literacias” não se encontra subdividido. Para uma análise mais clara, remete-se para a estrutura
do modelo:

A. Apoio ao Desenvolvimento Curricular


A.1 Articulação Curricular da BE com as Estruturas de Coordenação Educativa e Supervisão
Pedagógica e os Docentes;
A. 2 Promoção das Literacias da Informação, Tecnológica e Digital.

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Tarefa 2 (parte I)

B. Leitura e Literacia

C. Projectos, Parcerias e Actividades Livres e de abertura à comunidade


C.1 Apoio a actividades livres, extra-curriculares e de enriquecimento curricular;
C.2 Projectos e parcerias.

D. Gestão da Biblioteca Escolar


D.1 Articulação da BE com a Escola/ Agrupamento. Acesso e serviços prestados pela BE;
D.2 Condições humanas e materiais para a prestação dos serviços;
D.3 Gestão da colecção/da informação;

Cada um destes subdomínios está estruturado de acordo com indicadores associados a “Factores
críticos de Sucesso”, “Evidências” e “Acções para a melhoria”.
No global, creio que a estrutura do modelo é clara e eficaz na apresentação dos
indicadores a ter em conta aquando da análise/avaliação dos serviços prestados pela BE. A
subdivisão em domínios é uma forma mais ou menos simples de focar todos os factores a avaliar
e, apesar das subdivisões, parece-me claro que todos os domínios se cruzam, se complementam
e se relacionam de uma maneira que quase coloca em causa esta subdivisão (algo espartilhada e
fechada). Nenhum dos domínios pode ser visto isoladamente uma vez que toca, de forma
transversal, toda a actividade da Biblioteca. E este parece-me ser uma das dificuldades em aplicar
este modelo. Ao querer isolar um domínio para intervenção, como fazê-lo sem que se tenham em
conta factores que dizem respeito a qualquer um dos outros domínios?
Por exemplo, como podemos aferir a qualidade dos serviços prestados em termos de
disponibilização de recursos se não houver um catálogo devidamente informatizado? Se um aluno
ou professor quiser saber da existência de determinado título, teremos de recorrer à memória,
sempre eficiente e confiável, das funcionárias que conhecem o Fundo Documental como a palma
das suas mãos. Isto no meu caso, que não consigo, ainda, ter um conhecimento aprofundado
sobre o FD da Biblioteca da minha escola.
Uma outra situação tem a ver com o domínio "B. Leitura e Literacia”. Confesso que este é
um domínio que me agrada, por ser dos que mais permite o contacto com os alunos, com os seus
anseios e expectativas em relação à BE e pela possibilidade que dá a nós, Professores
Bibliotecários a tempo inteiro, de irmos escondendo e matando as saudades que temos das
nossas turmas. Este domínio, como todos os outros, aliás, dá “pano para mangas”, passo a
expressão, mas gostaria de salientar apenas alguns aspectos.
Um desses aspectos está relacionado com a possibilidade que este domínio
especificamente tem de oferecer aos alunos o “empowerment” necessário à construção do seu
próprio conhecimento ao permitir-lhes o contacto com as mais diversas formas de acesso à

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informação e a possibilidade de participarem em actividades de diferentes tipos. O modelo


construtivista pode ser aqui incluído. Contudo, o mesmo acontece com os indicadores que são
referenciados nos domínios A e C. A meu ver, a transversalidade do domínio B não pode ser
contida, fechada e avaliada separadamente porquanto tem de ter em conta outros aspectos
disseminados por outros domínios do modelo. Esta questão pode, na minha perspectiva, criar
alguns constrangimentos à avaliação do domínio em causa uma vez que poderá ser complicado
“separar águas”. O cruzamento e transversalidade de todos os domínios, que se implicam e
complementam, podem criar algumas dificuldades a essa tarefa.
Em jeito de conclusão para este ponto, refiro apenas que um dos aspectos fortes do
Modelo creio ser a estrutura, simples e eficaz, em que é apresentado. As preocupações iniciais e,
se me permitem a franqueza, o pânico inicial de quem não conhece o Modelo vão sendo anulados
à medida que se lê e conhece o mesmo. Os principais constrangimentos têm a ver com o facto de
o Modelo prever a abertura de estruturas (ainda) muito fechadas sobre si mesmas, apelando ao
trabalho colaborativo que poderá criar a sensação de um acréscimo de trabalho para professores
que têm já a sua quota de tarefas. A abertura da sala de aula ao professor bibliotecário, embora
seja para o sucesso dos alunos, também será um desafio, entre tantos outros, a cumprir.

4. Integração/ Aplicação à realidade da escola.

“Pretende-se que a aplicação do modelo de auto-avaliação seja exequível e facilmente


integrável nas práticas de gestão da equipa da biblioteca. Não deve, portanto, representar uma
excessiva sobrecarga de trabalho, na qual se consomem grande parte das energias da equipa.
Isto implica, por exemplo, que alguns procedimentos deverão ser formalizados e implementados
de forma a criar algumas rotinas de funcionamento, tornando-se práticas habituais e não apenas
com vista à avaliação.” (Modelo: 2)
O modelo recentemente reformulado pela RBE terá tanto mais sucesso na escola quanto
se conseguir o envolvimento de todos os intervenientes no processo de ensino e aprendizagem.
Os pressupostos em que assenta só parecem ter alguma exequibilidade se existir um trabalho
colaborativo entre a Biblioteca Escolar e toda a comunidade escolar. As práticas/tarefas escolares
têm sofrido uma alteração de paradigma nos últimos anos, em tentativas sucessivas de alterar
modelos ultrapassados e vícios que o tempo, e os interesses instalados, insistem em perpetuar.
Numa sociedade cada vez mais competitiva e individualista, parece existir uma
necessidade, quase uma obrigatoriedade, na inflexão de metodologias que encerram as
instituições sobre si próprias e, dentro destas, as estruturas que a compõem. Na Biblioteca
Escolar, como na própria Escola enquanto instituição, a abertura das estruturas e a
implementação de atitudes colaborativas revestem-se de um papel vital para o sucesso e para a

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consecução de objectivos, leia-se “sucesso educativo”. Como é salientado na introdução do


Modelo de Auto-Avaliação, entre os factores que contribuem para esse sucesso contam-se “os
níveis de colaboração entre o professor bibliotecário e os restantes docentes na identificação de
recursos e no desenvolvimento de actividades conjuntas orientadas para o sucesso do aluno; a
acessibilidade e a qualidade dos serviços prestados; a adequação da colecção e dos recursos
tecnológicos.” (Modelo: 1)
Ao interagir com Alunos, Professores, Órgão de Gestão, Assistentes Operacionais,
Encarregados de Educação e Elementos de instituições externas à escola, a BE terá de ter uma
atitude pró-activa e tentar envolver todos estes agentes no processo/sucesso educativo. Contudo,
esta atitude pró-activa será tanto mais eficaz quanto maior for o envolvimento dos outros agentes
e intervenientes no processo educativo. Como refere Ross Todd, “the support of the principals and
teachers is essential, as well as the availability of support staff […]” (2002: 4).

5. Competências do professor bibliotecário e estratégias implicadas na sua aplicação.


No paradigma educativo actual, a Biblioteca escolar é apresentada como valor pedagógico,
uma estrutura central capaz de fornecer serviços que permitam aos alunos desenvolver
competências em diversas áreas e, consequentemente, melhorar o seu desempenho escolar.
Por consequência, o perfil do Professor Bibliotecário assume novas características,
certamente novas exigências. Este profissional da educação terá de possuir, desenvolver ou
adquirir competências a nível das literacias da informação; da gestão estratégica e operacional; do
trabalho colaborativo (que passa pela planificação, ensino e avaliação das suas práticas) e da
avaliação de resultados e de impactos.
Michael Eisenberg e Danielle Miller referem-se às competências e perfil do Professor
Bibliotecário de uma forma inequívoca, deixando sugestões para que se possam transformar os
programas/planos das Bibliotecas Escolares: “be active and engaged: you are an information
literacy teacher, reading advocate, and chief information officer. Think strategically and politically.”
(2002)
Esta atitude pró-activa deve ser uma atitude de iniciativa, de antecipação de problemas e
necessidades, de busca de formas/soluções para melhorar as suas práticas, melhorar os serviços
prestados pela BE e, consequentemente, melhorar os níveis de literacia dos alunos. Nessa busca
de soluções para melhoria de práticas, a auto-formação deve assumir um papel importante, sob
pena de o Professor Bibliotecário impedir/limitar o seu próprio crescimento enquanto profissional
se a não procurar. Como refere Todd Ross, a falta de tempo, argumento muitas vezes utilizado
tanto por profissionais da educação como de outras áreas, não pode ser usado para justificar uma
atitude que não contemple a auto-fomação: “such an attitude devalues both the profession as a

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thinking and informed profession, and cuts off the profession from advance in knowledge which
shapes sound practice.” (2002: 4)
Ao prever que “[o] professor bibliotecário afecto possui formação e competências
adequadas ao seu conteúdo funcional, nos termos da legislação vigente.” (Modelo de
Auto-Avaliação: pp 42), o modelo reforçar a necessidade de formação do Professor
Bibliotecário. Em muitos casos, essa formação deverá ser auto-formação, característica
importante para que o Professor Bibliotecário a valorização do seu papel tanto na BE como na
Escola. No fundo, este modelo de auto-avaliação prevê um Professor Bibliotecário que se afirme
como “school library media specialist”, expressão tantas vezes usada em literatura de investigação
sobre o tema, e que assuma funções de professor; parceiro no processo educativo; seja
especialista em informação e seja também gestor, características subjacentes às tarefas
elencadas nos diferentes domínios.
Numa altura em que os olhos da sociedade estão postos na Escola, creio que este novo
paradigma de Biblioteca Escolar e Professor bibliotecário acresce as responsabilidades e
exigências e visa pôr cobro a anos sucessivos de más práticas (não tão longínquos quanto se
possa pensar). Quanto tempo nos vão dar, a nós, Professores Bibliotecários, para
desenvolvermos todas as competências exigidas e termos, de facto, consequência directas no
processo educativo e na melhoria dos resultados dos alunos é a questão que me preocupa e mais
directamente inquieta. Papel tão exigente e ambicioso não pode, nunca, esgotar-se num ano, ou
em quatro sequer. Ao prever que se pode avaliar todos os domínios em quatro anos, o modelo de
auto-avaliação parece colocar, uma vez mais, a fasquia demasiado elevada e demasiada pressão
e exigência na figura do Professor Bibliotecário.

Bibliografia:
Eisenberg, Michael & Miller, Danielle (2002) “This Man Wants to Change Your Job”, School Library
Journal. <http://www.schoollibraryjournal.com/article/CA240047.html> [Acedido em 10 de
Novembro de 2009].

Gabinete da Rede de Bibliotecas Escolares (2009). Modelo de Auto-Avaliação.


<http://www.rbe.min-edu.pt/np4/?newsId=31&fileName=mod_auto_avaliacao.pdf> [Acedido em 10
de Novembro de 2009].

Texto da sessão, disponibilizado na plataforma.

Todd, Ross (2002) “School librarian as teachers: learning outcomes and evidence-based practice”.
68th IFLA Council and General Conference August 2002.
<http://archive.ifla.org/IV/ifla68/papers/084-119e.pdf > [Acedido em 10 de Novembro de 2009].

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