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A CAUDA DESAPARECIDA

18-11-2007

+ Marcelo Gleiser

A cauda desaparecida

MARCELO GLEISER,
é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover
(EUA) e autor do livro "A Harmonia do Mundo"

Cometas são como lagartixas: o rabo cortado cresce de novo

No dia 20 de Abril, um astrônomo amador assistia calmamente aos


vídeos produzidos por dois satélites (chamados STEREO)
dedicados a observar o Sol. Num deles, viu um cometa, chamado
romanticamente de 2P/Encke, ter sua cauda devorada. Devorada?
E quem ou o que poderia comer a cauda de um cometa?

Assustado, o astrônomo comunicou-se com Angelos Vourlidas, um


astrônomo do Laboratório de Pesquisas Navais norte-americano.
Vourlidas e seus colegas assistiram ao vídeo boquiabertos. O que
estaria acontecendo nos céus naquele momento?

É sabido que, ao se aproximarem do Sol, cometas desenvolvem


duas caudas: uma, mais brilhante, formada por partículas de poeira
liberadas devido ao calor; outra, mais fraca, é a cauda iônica. Esta
última é formada por partículas eletricamente carregadas (os íons)
que são literalmente varridas do cometa pelo vento solar, um fluxo
de partículas que vem do próprio Sol.

Uma imagem sugestiva é a de uma pessoa de cabelos longos em


frente a um ventilador: o vento vindo do ventilador (o vento solar)
sopra os cabelos (os íons e os grãos de poeira) para longe. Tal
como com cabelos, a cauda do cometa sempre aponta na direção
oposta à do vento solar. O que os astrônomos viram seria
equivalente aos cabelos da pessoa desaparecerem de repente, sem
razão aparente.

Como a cauda é criada devido à proximidade do cometa com o Sol,


a resposta tinha de estar por lá. Repassando o vídeo várias vezes,
a equipe descobriu que, pouco antes de a cauda desaparecer, o Sol
sofreu uma crise magnética, que resultou na expulsão de uma
gigantesca bolha de plasma chamada ejeção coronal de massa (do
inglês "coronal mass ejection", ou CME). Essas ejeções,
gigantescos distúrbios magnéticos solares, são bastante comuns,
ocorrem com freqüência no Universo.

Elas causam, entre outras coisas, as auroras boreais e austrais


mais espetaculares. (Nem todas as auroras são causadas por
ejeções coronais de massa.) Nesse caso, partículas vindas do Sol
penetram pelo campo magnético terrestre, emitindo radiação visível.

O agravante das CMEs é que elas carregam consigo pedaços de


campos magnéticos que, ao interagir com campos magnéticos
terrestres ou cometários, podem gerar efeitos bem dramáticos. No
caso específico dos cometas, eles podem até agir como uma
espécie de tesoura cósmica, cortando a sua cauda iônica.

O efeito se deve à superposição dos campos magnéticos do cometa


e da CME. Para visualizar o que ocorre, imagine um campo
magnético como uma espécie de rio fluindo de uma fonte. Só que,
ao contrário de um rio comum, um campo magnético pode fluir em
duas direções: da fonte para fora, como no caso da água, ou na
direção da fonte. Quando dois campos magnéticos em direções
opostas se aproximam, eles se atraem. Foi isso o que ocorreu com
o cometa.

O campo oriundo da CME encontrou-se com o campo causado


pelas partículas iônicas do cometa. O encontro liberou energia de
forma explosiva, cortando a cauda do cometa. Tudo isso os
astrônomos deduziram reconstruindo os eventos a partir dos
vídeos. Outro satélite mostrou que a mesma erupção solar danificou
a cauda de dois outros cometas.

Felizmente, cometas são como lagartixas; uma vez cortado, após


algum tempo o rabo cresce de novo. Apesar de não ter uma cauda
magnética, a Terra tem um campo magnético que é afetado por
CMEs. Sem esse campo protetor, estaríamos sujeitos a toda
espécie de radiação vinda do Sol. Nossa ligação solar vai muito
além da luz e do calor que recebemos.
MARCELO GLEISER é professor de física teórica no Dartmouth
College, em Hanover (EUA) e autor do livro "A Harmonia do Mundo"
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe1811200702.htm

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Outros textos:

Simples e complexos
Destrinchando a história dos números primos, Marcus de
Sautoy mostra como um problema simples de formular
atormenta matemáticos há milênios
Biblioteca Dibner da História da Ciência e Tecnologia

Carl Friedrich Gauss (1777-1855), um dos grandes estudiosos da teoria dos


números

TIAGO TRANJAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O alemão Carl Friedrich Gauss (1777-1855), uma das mentes


matemáticas mais agudas já nascidas, costumava observar que "a
matemática é a rainha das ciências, e a teoria dos números, a
rainha da matemática". Afirmação momentosa, que suscita
imediatamente a pergunta: o que conferiria posição tão especial à
teoria dos números? Trata-se da disciplina que busca desvendar a
estrutura mais fundamental da matemática: os números naturais.
Isso só já bastaria para colocá-la em lugar de destaque entre as
grandes realizações intelectuais humanas.

Acontece, além disso, que os números naturais revelam-se


surpreendentemente evasivos. Por um lado, sua progressão tão
simples e ordenada (1, 2, 3...) parece fornecer, talvez, o único
modelo do infinito ao alcance dos seres finitos que nós somos. Por
outro lado, no entanto, essa mesma simplicidade, que quase os
coloca sob nosso completo domínio, esconde dificuldades abissais.
Em "A Música dos números Primos", Marcus du Sautoy, professor
da Universidade de Oxford, tenta conduzir o leitor por esse ramo
profundo e elegante da matemática a partir de um de seus
problemas mais intrigantes: os números primos, aqueles que só
podem ser divididos por si mesmos e por 1. Por exemplo, 7 é primo
(só é divisível por 7 e por 1). Já 15, divisível por 3 e 5, não é primo.
Dois resultados conhecidos desde a Grécia Antiga conferem aos
primos uma posição singular na matemática. Em primeiro lugar,
todos os números naturais podem ser escritos como um produto de
números primos. Por exemplo, 15 = 3 x 5 (3 e 5 são primos). Em
segundo lugar, os números primos são inesgotáveis. Pode-se
mostrar que, por mais que avancemos no universo dos números,
nunca encontraremos o último número primo, maior do que todos os
outros, depois do qual só existam números compostos.

Blocos de construção

Os primos, portanto, são os blocos básicos de construção do


mundo numérico. São também infinitos -e muito estranhos.
Considere os primeiros primos: 1, 2, 3, 5, 7, 11, 13... Você consegue
encontrar alguma ordem no aparente caos dessa seqüência?

Se não consegue, não se preocupe. Você está bem acompanhado.


Os matemáticos vêm tentando, por milênios, decifrar o segredo por
trás da distribuição dos primos, sem jamais obter uma explicação
satisfatória para seu comportamento. Trata-se de uma situação
curiosa. A matemática é a ciência da ordem e dos padrões. Não
conseguir encontrar a ordem que rege os blocos de construção de
sua estrutura mais básica -os números naturais- chega a ser
embaraçoso.

Muita gente pensa na matemática como a ciência dos números.


Isso é apenas parcialmente correto. A partir da consideração de
conjuntos numéricos cada vez mais distantes da experiência
cotidiana, o estudo da matemática atingiu um surpreendente grau
de abstração. Hoje, os "números" (naturais, racionais, reais,
imaginários...) são apenas a ponta do iceberg.

A busca do segredo dos primos revela bem esse aspecto. Para


tentar entendê-los, os matemáticos acabaram por submergi-los em
estruturas extremamente sofisticadas, distantes da intuição comum.
Assim é que surgiu a chamada hipótese de Riemann: uma ousada
suposição acerca de uma função, cuja prova é aguardada com
ansiedade há mais de um século.

Formulada pelo matemático alemão Bernhard Riemann (1826-


1866), ela fornece até hoje nossa melhor esperança de
compreender o comportamento dos primos. É justamente a história
dessa luta com os primos, e em particular com a hipótese de
Riemann, que Sautoy conta em seu livro.

A obra possui três aspectos distintos. Sendo um livro sobre


matemática, o autor não pode se furtar a explicar certas
complicações matemáticas ao leitor. Tarefa das mais difíceis.
Sautoy recorre aqui a uma série de imagens e analogias (quase
sempre extraídas da música), algumas bastante felizes, outras de
eficácia incerta, para explicar tecnicalidades da hipótese de
Riemann.

A maior parte do livro, porém, centra-se no enredo humano da


busca pelo "cálice sagrado da matemática". Uma impressionante
galeria de personagens desfila à nossa frente. Matemáticos de
diferentes épocas são revelados em suas motivações pessoais,
sem descuidar do contexto social e intelectual em que viveram.
Casos saborosos são narrados em detalhe.

Ao fazer isso, finalmente, Sautoy tem também oportunidade de


discutir como os matemáticos vêem a própria disciplina a que
dedicam suas vidas. Interessantes questões filosóficas estão
sempre à espreita: Quais os objetos de que se ocupa a
matemática? Que tipo de existência devemos atribuir a eles? Como
alcançá-los?

Matemática e filosofia

Entre erros e acertos, o livro de Sautoy tem dois importantes


méritos. Para a maioria dos leitores, poderá oferecer uma leitura
agradável devido à sua narrativa quase sempre ágil e ao material
histórico selecionado. Para outros, pode conseguir também
despertar uma curiosidade sincera a respeito de algumas das
questões mais interessantes e profundas ao alcance da mente
humana, relativas à matemática e a sua filosofia.
LIVRO - "A Música dos Números Primos"
Marcus du Sautoy; Jorge Zahar Ed.; 352 págs.; R$ 59,00

+ Marcelo Leite

Clones mais perto de nós

Uso em grande escala para terapia é "impraticável"

C omo a notícia saiu na véspera do feriado, é bom repetir: o dia em


que serão produzidos clones de gente está um pouco mais perto.
Só um pouco. E não há garantia alguma de que o feito obtido por
pesquisadores americanos com macacos resos (Macaca mulatta)
poderá ser um dia reproduzido com seres humanos.

Para começo de conversa, o grupo de Oregon, Nebraska e


Massachusetts liderado por Shoukhrat Mitalipov não chegou ao
ponto de fazer uma macaca de aluguel parir clone algum. Os que
eles obtiveram só se desenvolveram, em placas de laboratório, até
o estágio de blastocisto. Isso já tinha sido feito por outros cientistas,
porém.

O pulo do gato (se tolerada a incongruência animal) da pesquisa,


publicada eletronicamente pelo periódico "Nature" na quarta-feira,
foi ter obtido células-tronco embrionárias (CTEs) desses embriões
com uma centena de células cada um. Para ser preciso: duas
únicas linhagens de CTEs, uma delas com anomalias genéticas, de
um total de mais de 300 blastocistos usados na pesquisa. Tal é a
eficiência da técnica de clonagem usada, a transferência nuclear de
célula somática (SCNT, na sigla em inglês, como é mais conhecida).

O mesmo método foi empregado uma década atrás para fabricar


Dolly, primeiro clone de um mamífero adulto: retira-se o núcleo de
um óvulo e injeta-se no que sobra o material genético de uma célula
adulta (no caso dos macacos, células da pele, chamadas pelos
pesquisadores de fibroblastos). Com algum estímulo e muita sorte,
a construção começa a dividir-se como um embrião de verdade,
produzido pelo bom e velho método de deixar um espermatozóide
penetrar o óvulo. Alcançado o estágio de blastocisto, sua destruição
dará acesso à massa celular interna usada para derivar linhagens
de CTEs.

CTEs são entidades polivalentes, mestres em se transformar


noutros tipos de células. Os cientistas sonham em montar com elas
tecidos e órgãos sobressalentes para tratar pessoas com doenças
degenerativas ou traumas de medula espinhal. Por enquanto,
apenas sonhavam. A tecnologia só vinha avançando com
camundongos. Agora, chegou um pouco mais perto dos homens,
graças a inovações de Mitalipov no método SCNT (como dispensar
corantes e luz ultravioleta para localizar e extrair o núcleo do óvulo).

Até então, os primatas mostravam-se refratários à clonagem. Nem


em laboratório parecia possível manter vivos os blastocistos
construídos, menos ainda implantá-los num útero para fazer nascer
algum clone. O mais próximo do primeiro passo que se chegara
havia sido em 2004, quando Hwang Woo-suk anunciou ter obtidos
CTEs humanas na Coréia do Sul. Depois se revelou que era uma
fraude. Foi um golpe duro, para a biotecnologia e para a esperança
desmesurada nela (há males que vêm para bem).

Agora todo mundo fica cheio de dedos para tratar de feitos de


pesquisa nessa seara. A "Nature", por exemplo, exigiu confirmação
independente de que os embriões eram de fato clones dos animais
adultos dos quais haviam sido extraídas as células de pele usadas
como matéria-prima genética.

Além disso, a revista também encomendou a Ian Wilmut -que se


apresentou em 1997 como o pai de Dolly- um comentário sobre a
pesquisa de Mitalipov. Wilmut providenciou um banho de água fria:
"Realisticamente, um exame cuidadoso dos recursos e do tempo
requeridos para produzir células diferenciadas para propósito de
tratamento sugere que o uso em grande escala de células-tronco
seria impraticável".
MARCELO LEITE é autor de "Promessas do Genoma" (Editora da
Unesp, 2007) e de "Clones Demais" e "O Resgate das Cobaias", da
série de ficção infanto-juvenil Ciência em Dia (Editora Ática, 2007).
Blog: Ciência em Dia (www.cienciaemdia.zip.net). E-mail:
cienciaemdia@uol.com.br
Aquecimento é o maior desafio da nossa era, diz Ban

Secretário da ONU cobra resposta de governos a dados


científicos sobre clima

Coreano lançou ontem síntese de relatório do IPCC sobre o


clima e disse que Amazônia "está sufocando" e pode virar uma
savana

DA REDAÇÃO

O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, classificou


ontem o aquecimento global como "o desafio que definirá nossa
era" e cobrou de governos de países ricos e pobres ação imediata
para minimizar suas conseqüências.

Ban lançou ontem em Valencia, Espanha, a síntese do AR4, o


Quarto Relatório de Avaliação do IPCC, o painel do clima da ONU.
O documento, de 23 páginas, resume o estado-da-arte do
conhecimento humano sobre o efeito estufa.

Destinado a líderes políticos, ele deve guiar as negociações a


serem iniciadas no mês que vem em Bali, Indonésia, sobre o acordo
para reduzir emissões que substituirá o Protocolo de Kyoto, que
vence em 2012.

Embora não traga muitas novidades científicas em relação aos três


sumários executivos que o IPCC lançou ao longo deste ano, o
relatório-síntese pode ser considerado um alerta mais duro. Ele
admite, por exemplo, que o aquecimento acelerado traz o risco de
"singularidades de grande escala".

A principal delas é o aumento do nível do mar muito além dos 59 cm


esperados para 2100 em decorrência do degelo polar. "Processos
dinâmicos do gelo vistos em observações recentes mas não
incluídos totalmente no AR4 poderiam aumentar a taxa de perda",
diz a síntese.

"Os cientistas determinaram, em uníssono, que a mudança


climática é inequívoca. Agora eu preciso de respostas políticas dos
líderes políticos", declarou Ban à imprensa.
Testemunha ocular

Antes, em discurso a delegados de cerca de 130 países, o coreano


afirmou que pôde testemunhar nos últimos dias os efeitos da
mudança climática, como o rompimento de plataformas de gelo na
Antártida.

"A Amazônia, o pulmão da Terra [sic], está sufocando", afirmou. (A


floresta consome quase todo o oxigênio que produz, portanto, a
imagem de "pulmão" não é adequada.)

Declarou em seguida que Brasil tem se esforçado para reduzir o


desmatamento e promover o manejo sustentável da floresta, mas
que o governo teme que o aquecimento global já esteja minando
esses esforços.

"Se as projeções mais graves se concretizarem, boa parte da


Amazônia se transformará em uma savana."

"Essas cenas são tão assustadoras quanto um filme de ficção


científica. Mas são ainda mais terríveis por serem reais."

Ban destacou, no entanto, que o relatório do IPCC mostra que há


meios reais e economicamente viáveis de enfrentar a mudança
climática, e que uma ação coordenada pode evitar o desastre.

"Nós estamos abordando a ciência de uma maneira muito objetiva.


Se isso não der base para a ação política, eu não posso pensar em
nada melhor", afirmou o presidente do IPCC, o indiano Rajendra
Pachauri.

O relatório acrescenta impulso técnico e político à conferência de


Bali, que começa daqui a duas semanas e tem o objetivo de definir
o calendário de negociações do futuro regime de redução de
emissões, a ser adotado em 2009.

Ban voltou a enfatizar que "não podemos nos permitir não obter um
avanço real em Bali" e que "não se alcançará um acordo" se os
países em desenvolvimento não se comprometerem a reduzir suas
emissões.
Pelo acordo de Kyoto, somente os países industrializados,
agrupados no chamado Anexo 1, têm metas obrigatórias de
redução a cumprir. Acontece que nações do Terceiro Mundo, como
a China, têm tido um crescimento enorme de suas emissões. O
sucesso da conferência de Bali depende do papel que China e
Estados Unidos desempenharão.
Com agências internacionais

Para MCT, América Latina quase foi esquecida

EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

Como nenhum pesquisador brasileiro participou do grupo de 40


pessoas que redigiu o quarto relatório síntese do IPCC (Painel
Intergovernamental da Mudança do Clima) - da América Latina
participaram apenas dois argentinos-, representantes do governo
federal tiveram de intervir para que a região fosse lembrada, de
alguma forma, no texto final.

"A ênfase do sumário acabou sendo muito sobre os países do


Norte, por causa dos autores, que fizeram o texto muito sob a
perspectiva deles", disse à Folha José Miguez, coordenador geral
de Mudanças Globais de Clima do MCT (Ministério da Ciência e
Tecnologia). Ele foi um dos representantes brasileiros na reunião de
Valencia.

Um dos problemas enfrentados na negociação do texto final,


segundo Miguez, foi em relação ao desmatamento da Amazônia. "O
documento estava dando uma visão distorcida. A questão do
desmatamento das florestas, por exemplo, estava aparecendo com
o mesmo peso que a queima dos combustíveis fósseis", por
pressão dos países petroleiros.

"Em termos de grandes setores, a área energética que queima


combustíveis fósseis é a grande vilã. Mas os países da Opep
(Organização dos Países Exportadores de Petróleo) sempre tentam
levar o foco para outras questões, como para o desmatamento. Mas
cada vez mais isso tem ficado mais claro", comentou.

Em uma das tabelas apresentadas no próprio documento divulgado


ontem na Espanha a questão fica elucidada: em termos de
emissões totais de gases que contribuem para o efeito estufa,
segundo números de 2004, a queima dos combustíveis fósseis
representa 56,6% do total, enquanto desmatamento e queimadas
respondem por 17,4%. Apesar da diferença, o setor florestal é a
terceira maior fonte de emissões.

Se não entraram como vilãs, as florestas tropicais brasileiras


tampouco aparecem com destaque entre as vítimas do
aquecimento. A Amazônia não está no relatório como um dos
ecossistemas mais frágeis do planeta. O risco de savanização é
mencionado apenas como eventual impacto regional. Mais
destaque mereceu o semi-árido, citado especificamente como uma
das regiões do globo mais sensíveis à seca.

Com Kyoto até o fim

Miguez também delineou a posição que o Brasil deverá adotar na


conferência de Bali: o país é favorável ao aprofundamento do
Protocolo de Kyoto, não à adoção de metas obrigatórias de redução
de emissões em um outro acordo, que englobasse todos os países.
Para ele, o debate sobre corte de emissões deverá acontecer em
dois "trilhos", com os países ricos adotando metas obrigatórias mais
rígidas em uma extensão do acordo atual e os países em
desenvolvimento contribuindo com reduções voluntárias, já
preconizadas pela Convenção do Clima da ONU. As nações
industriais devem se opor a isso em Bali.

Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/inde18112007.htm

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