Você está na página 1de 3

RELATÓRIO FINAL

A acção de formação que agora termina, designada “Práticas e Modelos de


Auto-Avaliação das Bibliotecas Escolares”, realizada on-line sob a orientação da
Direcção Regional de Educação do Norte (DREN), com o N.º DREN 3 / Região
DREN, teve um total de 78 horas (com trabalho presencial e autónomo). Estes
considerandos servem, desde já, para a assunção de uma posição inequívoca: o
tempo disponível foi manifestamente exíguo para a vastidão das tarefas propostas
aos formandos.
O Modelo de Auto-Avaliação das Bibliotecas Escolares é complexo e
burocrático, fazendo lembrar alguns dos processos já abandonados da malfadada
ADD. Adivinha-se que os professores bibliotecários vão perder grande parte das
suas energias em tarefas administrativas, inquéritos, registos e estatísticas. Não
está em questão discordar das virtualidades do modelo: ele é, sem dúvida,
necessário, mas um “Modelo de Auto-Avaliação” com um suporte teórico de
quarenta e duas páginas, mais vinte e oito páginas de “Instrumentos de Recolha
de Dados”, mais dezanove páginas para apresentar grelhas do “Modelo de
Relatório de Auto-Avaliação”… é capaz de ser excessivo. Por outro lado, a
necessidade de fazer formação (que assumo ser manifestamente exígua) para
aplicar este modelo é capaz de fazer pensar na complexidade do processo. Não
terá sido por acaso que a Dr.ª Teresa Calçada, no Porto, no dia 24 de Novembro,
em reunião com Professores Bibliotecários e Coordenadores do Plano Tecnológico
da Educação, afirmou: “A formação que está a ser dada aos coordenadores é uma
brutidade”.
Importava que a RBE clarificasse expressamente que o Modelo de Auto-
Avaliação das Bibliotecas Escolares deve ser um modelo de correcção de
processos e de práticas e não de avaliação. Mas a verdade é que há uma escala
de avaliação muito rígida, em quatro patamares e, pelo menos à primeira vista,
parece não ser tarefa fácil alcançar as duas melhores posições, tal a abrangência
e o purismo dos indicadores em análise. O MABE é um excelente documento de
trabalho, mas deveria ser dada aos órgãos de gestão das escolas autonomia para
o adaptar à sua realidade – desde logo porque a Biblioteca Escolar não é ainda,

1/3
seguramente, uma entidade uniforme em todo o território nacional, de modo a
poder ser avaliada em função dos mesmos pressupostos.
Centremo-nos um pouco mais na formação propriamente dita. Creio ter
havido alguns aspectos discutíveis, eventualmente passíveis de serem
considerados pontos fracos, de que destaco: o pouco tempo de formação, a
oficialização do desempenho de tarefas para as quais os coordenadores não foram
avisados antes do concurso para professores bibliotecários, a ausência de troca de
experiências entre os formandos, a obsessiva imposição de bibliografia em língua
inglesa, etc. Parece-me útil focar a atenção nos dois últimos aspectos.
Relativamente à troca de experiências entre formandos, talvez só quem está no
terreno tem consciência da falta de tempo para realizar essa actividade nuclear.
Sem querer fulanizar demasiado este relatório (mas a verdade é que ele é
individual), devo dizer que as funções que desempenho na escola (não me refiro
apenas àquelas que me vinculam à Biblioteca Escolar) não me deixam margem
para aliviar o cumprimento de um horário diário entre as 08:15 e as 18:30 horas,
com intervalo para almoço. Quanto à bibliografia em língua inglesa, devo dizer que
não acredito que uma percentagem razoável de professores bibliotecários estejam
preparados (nem têm de estar!) para trabalhar e citar textos técnicos de uma
qualquer língua estrangeira. Claro que hoje todos devemos ter conhecimentos de
língua inglesa, tal a sua generalização. No entanto, sejamos realistas! E, já agora,
dizer que não há nada escrito em língua portuguesa pode ser um bom motivo para
o escrever, primeiro. Talvez fosse interessante indagar os motivos das
desistências ocorridas nesta formação…
Os pontos fortes superaram claramente os pontos mais discutíveis desta
formação. Creio dever salientar três virtualidades, todas elas intimamente
interligadas: familiarização com o MABE, facilitação da aplicação do MABE e
aplicação de uma avaliação rigorosa. A questão nuclear tangente a toda a
formação foi a ideia de que a Biblioteca tem de mostrar à evidência que contribui
para o sucesso escolar dos alunos, através do desenvolvimento de literacias
transversais a todos os saberes. O professor bibliotecário tem de ser o primeiro a
explicitar a toda a comunidade escolar que a Biblioteca é uma mais-valia e é
imperioso aferir o seu impacto nas aprendizagens - daí a necessidade da auto-
avaliação, fundada na gestão de um Plano de Acção para quatro anos e em
Planos Anuais de Actividades.
A intervenção dos professores bibliotecários passa hoje pelos seguintes
desafios-chave que não podem, de modo algum, alhear-se do cruzamento e da

2/3
interacção de três estruturas pedagógicas que têm de assumir as suas
responsabilidades de motor e catalisador das sinergias da escola: a Biblioteca
Escolar, o Plano Nacional de Leitura e o Plano Tecnológico da Educação:
- Como se passa da informação ao conhecimento?
- Como se orienta uma prática baseada em evidências?
- Como se constroem equipas e de parcerias?
- Como se integram os instrumentos da Web 2.0 para desenvolver uma
pesquisa mais profunda?
- Como se pode re-imaginar a Biblioteca Escolar?
As respostas a estas questões far-nos-ão equacionar a BE como uma
oportunidade para a mudança, como uma oportunidade de construirmos
conhecimento através do acesso à informação (que é, por norma, escrita – daí a
necessidade da formação de leitores). Neste contexto, citando de novo a Dr.ª
Teresa Calçada, “a nossa função é fazer leitores. Ponto final”.
Em síntese e para clarificar posições: apesar das considerações algo
tensas que acima proferi, não tenho qualquer dúvida de que esta formação foi para
mim muitíssimo proveitosa, porque me permitiu ter uma visão muito mais global e
integradora da MABE, me permitiu perspectivar a BE como um espaço
determinante para o sucesso educativo e me forneceu orientações precisas para a
minha actividade de Coordenador da Biblioteca, que assumi por convicção e
mesmo por paixão. Ou seja: esta formação, orientada numa cuidadosa linha de
sequencialidade, desenvolveu um trabalho que é nuclear no meu desempenho
quotidiano - fazer esta formação foi antecipar e prevenir o trabalho que terei de pôr
em prática nos próximos quatro anos.
Uma palavra final para a minha coordenadora, a Dr. ª Regina Campos: à
sua inexcedível dedicação, disponibilidade e afabilidade se deve a fantástica rede
de relações, de compromissos profissionais e de afectos que caracterizam o grupo
de professores bibliotecários por si coordenados. A RBE e cada uma das escolas
devem-lhe este tributo.

Fernando Augusto Braga Fernandes, formando

3/3

Você também pode gostar