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dignidade do preso no se discute. uma necessidade para ontem no Brasil.
Mas da a propor que seria ela a priso capaz de devolver um homem
melhor para a sociedade um acinte inteligncia de qualquer um. A priso
legitimada como resposta pelo crime praticado, mas no deixa de ser um ato
de violncia estatal, pois retira um atributo essencial ao homem, a sua
liberdade, e jamais ser instrumento apto a fazer desse mesmo homem algum
melhor.
certo que h outros fatores inerentes ao tema e que so tambm
importantes como, por exemplo, a atuao seletiva do sistema punitivo e a
contnua violao dos direitos humanos em diversos campos. Entretanto,
destaco aqui o papel da mdia, que normalmente limita-se a reproduzir o
imaginrio do senso comum, de que preciso prender mais e mais, o que
acaba reforando a ideia de que a priso a melhor, seno a nica, resposta
para o fenmeno da violncia. Com esse suporte miditico poderoso, prevalece
o discurso populista-punitivista nas polticas pblicas e o encarceramento em
massa prossegue, o que nos mantm nessa espiral de violncia que parece
no ter soluo no horizonte prximo.
Restringir a priso essencial se pretendemos reduzir os ndices
de violncia. Parece paradoxal, mas no . Acontece que nos acostumamos a
no pensar sobre o assunto e partimos de um conceito preestabelecido,
segundo o qual a priso seria uma espcie de resposta automtica para
qualquer tipo de violncia. Para uma melhor qualidade de vida e para a
segurana de toda a populao, o crcere deveria ser reservado
exclusivamente para as pessoas envolvidas em crimes muito graves, para
aqueles homens e mulheres que no apresentam mnimas condies de viver
em sociedade.
Passa da hora de compreender um pouco mais profundamente o
fenmeno da violncia e sua relao com a priso. E pensar seriamente a
respeito.
HAROLDO CAETANO DA SILVA
Mestre em Cincias Penais e Promotor de Justia
Artigo publicado no jornal O Popular de 9/12/2014