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Vereação do Partido Socialista

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PROPOSTA DE RECOMENDAÇÃO

A proposta que aqui apresentamos resulta de um esforço de discussão


interna e de auscultação da sociedade civil orientado pelo ensejo único de
servir a Covilhã e as suas populações. Não partimos de nenhum raciocínio
prévio eivado pelo preconceito conservador e memorialista. Escutámos
formal e informalmente especialistas, populações e agentes directamente
interessados, e, assim o asseguramos, escutámos, sem paixão e com atento
respeito, as vozes que acompanharam a proposta formulada pela maioria da
Câmara.
Após este trabalho de auscultação, que encetámos com a declaração
de voto apresentada aquando da deliberação aqui tomada, de submeter o
assunto a discussão pública, concluímos, com base no que consideramos
serem os melhores argumentos e de uma forma construtiva, que a solução
apresentada de construção de um Mercado Municipal no Campo das Festas
nos merece e deve merecer dos covilhanenses as mais sérias reservas e
fundadas preocupações.
Importa referir, desde logo, que o actual edifício do Mercado Municipal
possui, apesar da sua filiação no estilo geral conhecido por arquitectura do
Estado Novo, uma qualidade ímpar que lhe foi conferida pelo Arquitecto
Almeida Araújo. Para várias vozes que participaram na discussão (escassa)
verificada na cidade, essa dignidade é melhor preservada ao manter-se
adstrita à função para a qual o edifício foi concebido.
Acresce a este facto que, o edifício do Mercado Municipal é,
simultaneamente, um espaço privilegiado de dinamização da vida social e
comercial de uma zona particularmente sensível da Covilhã, sob o ponto de
vista do seu tecido social e económico.
O Mercado Municipal é uma «âncora» para toda uma área de
comércio tradicional, profundamente imbricada no tecido habitacional daquela
zona, ao longo da Rua de Olivença, nas Ruas que conduzem à Igreja de
Nossa Senhora de Fátima (São Martinho), em direcção à UBI, e na própria
Rua António Augusto de Aguiar em direcção ao Pelourinho.

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Câmara Municipal da Covilhã -1-
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Neste sentido, a modificação do uso conferido àquele edifício constitui,
a concretizar-se, uma alteração profunda nas rotinas sociais e económicas
envolventes daquela parte da zona histórica da cidade. Esta alteração
profunda pode transportar consigo consequências ruinosas e devastadoras
para as dinâmicas de vida das populações residentes, que foram
insuficientemente avaliadas, ponderadas e discutidas.
Há um sentido de “património vivo” intrínseco às actividades humanas
e às tradições que manifestamente escapou à visão dos autores da proposta.
De resto, se a decisão da maioria prevalecer constituirá uma machadada
adicional na identidade do Centro Histórico.
Entendemos ainda que, apesar de o edifício não possuir a qualidade
desejada e exigida para servir condignamente a população em geral, atentas
as desadequadas e deficientes instalações, bem como os problemas de
estacionamento e o congestionamento de trânsito, tais problemas têm,
todavia, possibilidades de solução, certamente mais barata do que a
construção de um novo mercado.
Em vez de ponderar a construção de um novo Mercado, a Câmara
devia ter olhado para os problemas que rodeiam o actual mercado,
encarando-os como pretexto para uma intervenção que não resolvesse
apenas as deficiências do velho edifício, como inclusive contribuísse para
uma intervenção que ajudasse a requalificar a malha urbana envolvente.
Por outro lado, neste processo, a Câmara Municipal revelou mais uma
vez a dificuldade de estruturar um amplo debate público, democrático e
participado sobre uma grande opção de natureza urbanística com
consequências, mais uma vez, de forte impacto no Centro Histórico da
Cidade.
A apresentação de um power point na Assembleia Municipal é um
momento importante mas que, só por si, não substitui a auscultação das
populações directamente interessadas.
A Câmara Municipal da Covilhã decide muito mas delibera pouco. Pois
que, a deliberação, no seu sentido mais nobre, significa o debate no espaço
público em volta da formação de consensos participados.
Sendo embora certo que, sob o ponto de vista formal, se trata de uma
decisão democraticamente legítima, também não pode deixar de se referir
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Câmara Municipal da Covilhã -2-
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que se trata de uma decisão unilateral de uma maioria absoluta que não
escuta a sociedade civil, nem promove as discussões necessárias.
Consideramos, pois, que a discussão foi insuficientemente alargada e
escassamente participada. Cremos que aquela zona merece mais: inclusive
um concurso de ideias que ajude a pensar de modo integrado o edifício na
sua zona envolvente.
É assim, em nome da memória da Covilhã, da preservação da
identidade viva do centro histórico, da racionalidade económica, mas
sobretudo, com as nossas preocupações dirigidas para a vida das pessoas
que habitam aquela zona envolvente, que recomendamos o prolongamento
da “discussão pública”, abrindo um amplo e profundo debate sobre o
Mercado Municipal, que vá para além dos Paços do Concelho e das paredes
da Assembleia Municipal e suscite a intervenção e a participação activa da
sociedade civil covilhanense.

Covilhã, 5 de Março de 2010

Os Vereadores do Partido Socialista,

Vitor Pereira,

Graça Sardinha,

João Correia,

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